O Homem Não é uma Máquina!

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Comumente ouvimos frases como “Homem que é homem é forte’’, “Faça isso igual um homem”, “Faltou um homem para colocar ordem aqui” e por último uma das frases mais famosas “Homem não chora”, conceitos como este externalizados através da fala se tornaram regras extensamente difundidas na sociedade, indicando que o homem deve seguir um padrão de comportamento estando sua conduta pré-definida em conceitos culturais que a sociedade criou.

Apesar de essas referências terem evoluído ao longo do tempo, diversas culturas ainda seguem estritamente a regra que diferencia o comportamento de homens e mulheres pelo conceito da racionalidade e emoção. Dessa forma, infelizmente, homens e mulheres ainda são educados de forma diferente. Como resultado, muitos homens têm dificuldade em expressar sentimentos e emoções.

Santos (2015) acrescenta que a sociedade confere maior emoção às mulheres e maior racionalidade aos homens. Ao analisar a dicotomia entre racionalidade e emoção relacionada à identidade de gênero, enfatizou que expressões de determinadas emoções, como medo e vulnerabilidade, estão mais fortemente associadas às mulheres. Em vez disso, emoções como raiva ou agressão estão associadas aos homens. De uma perspectiva de tipologia emocional potencialmente relacionada ao gênero, espera-se que as mulheres experimentem uma variedade de emoções consideradas mais positivas, enquanto os homens as emoções negativas.

Fonte: encr.pw/NMDWu

Ao mesmo tempo, essa lógica binária tem efeitos colaterais para todos, com algumas pessoas ou grupos sociais defendendo a lógica da sensibilidade feminina e da racionalidade masculina. Portanto, é importante enfatizar que os homens têm sentimentos e que também são racionais. No entanto, ambos os sexos são ensinados a processar sentimentos por meio de regras sociais. Ou seja, os métodos de lidar com tais sentimentos geralmente são aprendidos por homens e mulheres com base nas consequências de tais atitudes para aqueles que ousam tentar.

Garcia et.al (2019) aponta que a masculinidade ainda é atrelada à cultura machista patriarcal.  Assim, as condutas desta cultura, impõe as regras da forma que um homem deve agir, dando a entender que ele é capaz de realizar todas as coisas sem passar por nenhum tipo de sofrimento. E aquele que requer um acolhimento de uma escuta, a sociedade não o deixa ter, transformando-o e exigindo que este seja uma máquina indestrutível, que não admite que entre em contato com suas emoções, com suas dores e com seus limites.

Pode não ser novidade pensar que porque sempre (embora menos hoje), muitos meninos são punidos e envergonhados socialmente por demonstrarem aquilo que sentem. Penalizar a demonstração de sentimentos de um homem pode ocasionar comportamentos evitativos relacionados à expressão de suas emoções, o que pode ocasionar sofrimento psíquico entre outras consequências.

É indiscutível que a polarização de gênero é ruim para todos. É fato que as mulheres são prejudicadas e estigmatizadas. Ao mesmo tempo, porém, a rigidez que a sociedade impõe aos papéis masculinos não abre espaço para que os homens expressem plenamente seus sentimentos e emoções.

Como resultado, eles se sentem culpados e punidos socialmente quando expressam seus sentimentos. Por esse motivo, é mais comum que os homens apresentem níveis mais elevados de estresse e sofram de transtornos relacionados à ansiedade, dificuldades nos relacionamentos sociais e românticos.

Em conformidade com Silva (2021), ao analisar índices relacionados à saúde mental, é identificado que há uma prevalência de transtornos mentais em mulheres, no entanto é observado que homens têm mais tendências suicidas que as mulheres, estando outros tipos de transtornos ligados. Uma causa associada a este fenómeno pode estar ligada a tendência que o homem possui em atrelar doença a fraqueza, além de possuírem maior dificuldade em expor suas ansiedades e sentimentos de tristeza.

Fonte: l1nq.com/V5sVT

Somos todos seres humanos independentemente do gênero e, em muitos casos, somos castrados e limitados por dogmas socialmente construídos. Portanto, não faz sentido distinguir entre comportamento masculino e feminino, especialmente quando se trata da expressão de sentimentos e emoções.

Assim, é importante estar ciente de que muitas vezes um amigo, colega de trabalho, namorado ou marido pode estar em grande desespero emocional. Muitos deles sofrem e escondem seus sentimentos por causa de habilidades comportamentais subdesenvolvidas. Além disso, pode até explicar o comportamento suicida de muitos homens que vivenciaram algum fracasso ou foram estigmatizados socialmente ao falar sobre suas emoções e não podem arcar com tal punição pública. Desse modo, é compreensível que os homens tenham mais dificuldade em se expressar. Talvez isso mostre a necessidade de mais troca e desconstrução de regras socialmente impostas.

REFERÊNCIAS

SANTOS, Luís Homens e expressão emocional e afetiva: vozes de desconforto associadas a uma herança instituída, Revista Ciências Sociais, São Paulo, v 40, n.1,p 1-14, Setembro de 2015, acessado em 11 março de 2022. URL: http://journals.openedition.org/configuracoes/2593.

GARCIA, L. H. C.; CARDOSO, N. DE O. BERNARDI, C. M. C. DO N. Autocuidado e Adoecimento dos Homens: Uma Revisão Integrativa Nacional. Revista Psicologia e Saúde, v. 11, n. 3, p. 19-33, 9 out. 2019.

Silva, Rafael Pereira e Melo, Eduardo Alves Masculinidades e sofrimento mental: do cuidado singular ao enfrentamento do machismo. Ciência & Saúde Coletiva [online]. v. 26, n. 10 [Acessado 11 Março 2022], pp. 4613-4622. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-812320212610.10612021>. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/1413-812320212610.10612021.

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Alienação parental e o idoso

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O termo alienação parental geralmente é relacionado aos filhos, normalmente crianças ou adolescentes, em que um dos pais, após a separação, causa um afastamento intencional do filho com o ex-parceiro. Mas a alienação parental também acontece com os idosos. Isso ocorre quando existe uma disputa pela herança. 

Muitas vezes o idoso não percebe que está sofrendo alienação ou ele pode estar em uma situação em que é considerado incapaz. Normalmente, o alienador é alguém próximo e que o idoso confia, normalmente um filho, que acaba isolando o idoso do convívio com outros parentes. Ao sofrer alienação, ele demonstra desinteresse pela vida. Isso afeta a qualidade de vida, pois ele perde o interesse por diversão, alimentação e deixa de ter uma vida prazerosa. 

Com esse desinteresse, podem surgir doenças emocionais como solidão, depressão, ansiedade entre outras. Ele acaba nutrindo um sentimento de abandono. E a solidão é um dos ingredientes da depressão e traz, inclusive, dor física. 

Fonte: encurtador.com.br/quQTY

O tratamento dessa alienação é a busca da ajuda psicológica, psiquiátrica, nutricionista, terapeuta ocupacional, ou seja, um tratamento interdisciplinar. Os profissionais devem trabalhar em conjunto para tratar as doenças emocionais que esse indivíduo pode estar sofrendo. É indicado que ele faça sessões de terapia e uso de medicamentos adequados e prescritos por um psiquiatra. 

Ressalto que o Estatuto do Idoso visa, em primeiro lugar, regular os direitos assegurados de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. As pessoas não devem se omitir ao ver que um idoso está sofrendo.  Os familiares deveriam tratar seus idosos com respeito e dignidade, pois eles trabalharam a vida inteira em prol de uma vida melhor para os filhos, e quando chegam à velhice, muitos se encontram solitários e desamparados. 

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CFP se posiciona a favor da descriminalização e legalização do aborto no Brasil

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STF discute liberação do aborto até a 12ª semana de gestação

O Supremo Tribunal de justiça (STJ) intensifica debate sobre a descriminalização e legalização do aborto no Brasil. O Debate é construído por pessoas favoráveis e contrárias a legalização. O aborto é proibido no Brasil respaldado pelo artigo 128, incisos I e II do Código Penal Brasileiro. Hoje o aborto só é permitido em três casos: feto anencéfalo, estupro e/ou que cause risco à vida da mulher.

De acordo com a Folha de São Paulo, em dez anos, o Brasil teve entre 9,5 e 12 milhões de abortos provocados. Sendo estimado que exista meio milhão de abortos clandestinos por ano no país e que provavelmente 50% tem complicações. Resultando em um gasto de R$ 500 milhões, pelo SUS, em uma década.

Diante do cenário, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da descriminalização e legalização do aborto no Brasil. Em carta o CFP se posiciona: ‘A autonomia das mulheres sobre seus corpos deve ser ampliada para que as mesmas tenham condições de decidir ou não interromper uma gravidez. A Psicologia deve se posicionar agindo sobre as situações que favorecem situações de vulnerabilidade social e psicológica, que provocam intensas situações de sofrimento psíquico, como é o caso da manutenção de uma gravidez que não foi escolhida pela gestante’. A carta aberta pode ser lida na integra no endereço https://site.cfp.org.br/cfp-defende-descriminalizacao-legalizacao-aborto-brasil/ .

Fonte: encurtador.com.br/mopvC

Joice Reitz, acadêmica de Psicologia do CEULP – ULBRA, se posiciona: ‘Sou a favor da legalização do aborto por que percebo, com o estudo que tenho do assunto, que temos muito mais a ganhar com isso. Entendo o choque inicial que a proposta pode causar na população, mas basta parar um pouco para pensar e perceber que, além de maior autonomia feminina, a prática legalizada vem para melhorar questões de saúde pública, uma vez que a mesma permite toda uma estrutura para a mulher que deseja o aborto, com apoio médico (não de açougueiros clandestinos), psicológico e social. Não dá mais para fechar os olhos para este assunto. Todos sabem que a prática ocorre a todo o momento e em todo lugar. A legalização dessa prática não se trata de uma ação “demoníaca” e “pecadora” como muitos alegam (e cabe aqui ressaltar que o Estado é laico), mas se trata de uma ação que dá visibilidade para uma realidade triste, dura e camuflada. Nosso país precisa de representantes políticos e cidadãos que tomem decisões e tenham posturas e atitudes livres de suas crenças pessoais, que sejam capazes de pensar no todo, no coletivo, e não somente no próprio umbigo.“

REFERÊNCIAS

TUROLLO, Reynaldo. STF começa debate sobre legalização do aborto até 12ª semana de gravidez. Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/stf-comeca-debate-sobre-legalizacao-do-aborto-ate-12a-semana-de-gravidez.shtml > acessado em 03/08/2018.

COLLUCCI,Cláudia. FARIA, Flávia. SUS gasta R$ 500 milhões com complicações por aborto em uma década. Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/07/sus-gasta-r-500-milhoes-com-complicacoes-por-aborto-em-uma-decada.shtml acessado em 03/08/2018.

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Jogo Baleia Azul: o desafio do suicídio

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A evolução da tecnologia é responsável por diversas mudanças ocorridas nas últimas décadas. Galli (2002, p. 1) afirma que “uma das marcas da globalização é a velocidade com que evolui a tecnologia”, e nesse processo, a internet tem espaço essencial na comunicação e processamento de informações (GALIL, 2002).

Ribeiro, Leite e Sousa (2009, p. 187) defendem que

As tecnologias móveis de comunicação, sobretudo o celular, sofisticam-se e ampliam cada vez mais suas funcionalidades. Em paralelo, desenvolvem-se novas formas de experienciar as diversas situações sociais através destes equipamentos, principalmente entre os adolescentes. Neste caso, o dispositivo funciona como forma de suprir demandas de comunicação cada vez mais imediatas e complexas.

Fonte: http://zip.net/bqtJRd

Apesar de diversos aspectos positivos serem possibilitados por meio da tecnologia, há relatos a respeito de dependência comportamental, indicando que muitas pessoas fazem uso patológico da internet (FORTIM; ARAÚJO, 2013). A troca do mundo real pelo mundo virtual, em busca de apoio e aceitação, principalmente por crianças e adolescentes, tem gerado várias situações que aumentam os fatores de risco e comprometem a segurança.

Em 2016, o mundo presenciou vários suicídios ocorridos durante o jogo da asfixia, ou brincadeira do desmaio (The Choking Game). O jogo é um desafio que utiliza “técnicas de apneia, de estrangulação ou de compressão a fim de obter um breve estado de euforia, podendo conduzir a um desmaio voluntário ou acidental, às vezes letal” (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017, p. 869). São autoinfligidos, geralmente transmitidos online, como forma de comprovar que a tarefa está de fato sendo realizada, podendo estar ou não vinculados a algum jogo online (League of legends, por exemplo). Há relatos de jogos de desmaio nos EUA datados de 1995.

Fonte: http://zip.net/bgtHSV

No entanto, a brincadeira começou a ganhar notoriedade mundial em 2007, se tornando um problema de saúde pública, principalmente na França. No Brasil, é a partir de 2011 que ocorre aumento considerável dos relatos de asfixia com crianças e adolescentes (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017). O jogo da asfixia tem como objetivo principal o desafio à capacidade e coragem do jogador, além da busca por um estado de euforia momentânea, que pode ou não levar à morte. O jogo no qual iremos focar nossos esforços tem um caráter mais profundo, baseado num contrato entre o jogador e seu “orientador” e com diferentes níveis de evolução.

O jogo Baleia Azul (Blue Whale) é uma nova modalidade de desafio que apareceu recentemente nos meios de comunicação, portanto não há artigos ou estudos mais aprofundados. As informações que se têm a respeito desse assunto são baseadas apenas em matérias de jornais que relatam mortes de adolescentes, principalmente na Rússia, ou em vídeos explicativos criados por participantes ou ex-participantes do jogo.

Conforme veículos de comunicação online, a maioria baseados no jornal Novaya Gazeta, da Rússia (The Sun Gazeta Online, Dailymail, R7, Blastingnews Brasil, 2017) há relatos de grupos criados em 2013. Mas a primeira suspeita de morte vinculada ao jogo é de 2016. O jogo foi criado na Rússia, e atualmente as investigações apontam que pelo menos 130 jovens do país que eram participantes dos grupos deste jogo tenham se suicidado.

O jogo Baleia Azul acontece em um grupo fechado nas redes sociais, sendo o Facebook (ou VK na Rússia) uma das mais utilizadas. Os grupos normalmente são nomeados de “Jogo Baleia Azul” (Game Blue Whale), “acorde-me às 04:20h”, “casa silenciosa” e “estou no jogo”. Pesquisas rápidas mostram que no Brasil já existem grupos Baleia Azul, com a finalidade de unir jogadores que desejam ser desafiados.

Fonte: http://zip.net/bdtJnD

A pessoa que deseja participar envia uma solicitação, e o “líder” do grupo, chamado de baleia, inicia o contato. A partir do início do contrato, o participante receberá 50 desafios diferentes, que devem ser realizados durante 50 dias, geralmente às 04:20h da manhã. Os primeiros desafios são mais simples e o risco aumenta gradativamente no decorrer dos dias. Os desafios são baseados principalmente em automutilação em diferentes níveis, assistir filmes de terror e ouvir músicas melancólicas, subir em locais altos, como prédios e pontes e conversar com um “baleia” (um dos administradores do grupo).

O 50º desafio é suicidar-se do modo à sua escolha (enforcado, pulando de um prédio, pulando em frente a um trem, utilizando comprimidos ou veneno). Alguns vídeos detalham tarefas mais específicas, tais como não falar sobre o jogo, superar medos pessoais, dizer a data da morte, que deverá acontecer no 50º dia de jogo, e aceitar a morte (The Sun Gazeta Online, dailymail, R7, blastingnews Brasil, 2017).

Fonte: http://zip.net/bctHPc

Além de incentivar a coragem e autonomia do participante, o jogador recebe suporte constante dos “baleias”, que são os administradores do grupo. Os administradores são pessoas mais velhas, que geralmente possuem capacidade de argumentar, persuadir e envolver os participantes. A cada desafio realizado, aumentam os sentimentos de força, coragem, capacidade de automutilação e pertencimento ao grupo. “Esse sentimento de onipotência pessoal e de pertença ao grupo é reforçado quando o jovem partilha vídeos na internet, ganhando notoriedade entre os colegas” (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017, p. 874). O objetivo principal é que, ao final do jogo, o participante seja capaz de tirar a própria vida. Sair do jogo simboliza falha ou fraqueza. De acordo com os jornais, há também relatos de ameaças à família do jogador, caso ele queira desistir.

Fonte: http://zip.net/bxtJKW

Os participantes são principalmente crianças e adolescentes vulneráveis, que se sentem sozinhos ou isolados. São pessoas que têm ideação suicida ou já fizeram alguma tentativa de suicídio sem sucesso. O jogo Baleia Azul vai gradualmente ensinando ao participante que ele é capaz de sair do sofrimento, proporcionando pequenos prazeres, como a automutilação e a sensação de liberdade ao subir em locais altos. A automutilação ocorre com mais frequência na fase da adolescência, sendo que há “correlação com as frustrações relativas ao universo das descobertas dos adolescentes, envolvendo uso de drogas, intrigas escolares, isolamento social, crises familiares e as primeiras decepções amorosas” (CEDARO; NASCIMENTO, 2013, p. 205).

Fonte: http://zip.net/bstJbt

Ainda de acordo com os autores, a automutilação, apesar de retratar um comportamento auto agressivo, é uma tentativa de sentir-se “vivo”, de lidar com emoções e buscar alívio imediato. O jogador de Baleia Azul se sente apoiado pelos administradores e pelo grupo, e acredita que vai conseguir se libertar de qualquer sofrimento ao final dos 50 (cinquenta) dias de desafio.

Apesar das inúmeras tentativas de denunciar os grupos e impedir a disseminação do “desafio da morte”, o jogo Baleia Azul é mais um artifício utilizado nas redes sociais, entre tantos outros massivamente divulgados pela internet, para identificar crianças e adolescentes vulneráveis, e incentivá-los a colocar-se em risco. Precisamos estar alerta porque ações como essa, que promovem o incentivo ao suicídio e risco a segurança, não podem ser negligenciadas.

Fonte: http://zip.net/brtHTt

Família, escola, comunidade e governo precisam desenvolver uma rede de proteção para crianças e adolescentes, a fim de evitar o aumento de casos de suicídio. As pessoas mais próximas precisam estar atentas “aos sinais físicos, psicológicos e comportamentais a fim de orientá-los adequadamente: realizar sensibilização sobre a periculosidade do ato, levar à consulta médica ou psicológica, agendar reunião com os responsáveis escolares, entre outros” (GUILHERI; ANDRONIKOF; YAZIGI, 2017, p. 875).

Além disso, informação e sensibilização são essenciais nesse processo de fortalecimento e encorajamento de crianças e adolescentes. Guilheri, Andronikof e Yazigi, (2017, p. 875) afirmam que

trabalho de informação e prevenção deve ser realizado em ação conjunta das áreas da saúde e da educação, formando profissionais capacitados para a sensibilização de adultos, pais, professores e corpo médico. Estes, por sua vez, devem agir para sensibilizarem jovens e crianças alertando-os dos reais perigos dos quais nem sempre têm consciência.

Fonte: http://zip.net/bwtHpM

Nesse sentido, Sapienza e Pedromônico (2005, p. 215) acreditam que “agora seja o momento de colocar em prática o que já se sabe sobre a resiliência, a fim de promover condições para que cada vez mais crianças e adolescentes possam se tornar resilientes”. Precisamos aprender a ouvir e entender as crianças e adolescentes, e principalmente, perceber os sinais que indicam isolamento, tristeza, angústia, frustração, ansiedade ou problemas emocionais.

Família, escola, comunidade e governo têm um papel primordial nesse processo. Por serem as crianças e adolescentes os mais atingidos com jogos e brincadeiras virtuais que atentam contra a vida, são eles que devem ser o principal meio de sensibilização, apoiados, é claro, pelos grupos sociais que compõem a rede de apoio. É de extrema importância que as situações e mortes ocorridas não sejam negligenciadas, que estejamos alerta a toda e qualquer situação de risco.

REFERÊNCIAS:

BARNES, Luke. Are your children playing the Blue Whale challenge? Police warn British parents over ‘suicide game behind hundreds of Russian teen deaths’. Dailymail Online. 2017. Disponível em: <http://www.dailymail.co.uk/news/article-4302338/Police-warn-parents-Blue-Whale-suicide-game.html>. Acesso em: 07/04/2017.

BLASTINGNEWS. Conheça o desafio suicida baleia azul que atrai jovens na internet. 2017. Blastingnews Brasil. Disponível em: <http://br.blastingnews.com/mundo/2017/04/conheca-o-desafio-suicida-baleia-azul-que-atrai-muitos-jovens-na-internet-001599997.html>; <http://br.blastingnews.com/mundo/2017/03/adolescentes-cometem-suicidio-ao-participarem-de-jogo-doentio-na-web-001517511.html>. Acesso em: 07/04/2017.

CEDARO, Jóse Juliano. NASCIMENTO, Josiana Paula Gomes do. Dor e Gozo: relatos de mulheres jovens sobre automutilação. P. 203-223 24(2). São Paulo: Psicologia USP, 2013.

EURONEWS. Jogo na internet leva centenas ao suicídio. Euronews Brasil. 2017. Disponível em: <http://pt.euronews.com/2017/03/30/russia-jogo-na-internet-leva-centenas-de-jovens-ao-suicidio>. Acesso em: 07/04/2017.

FORTIM, Ivelise. ARAUJO, Ceres Alvez de. Aspectos psicológicos do uso patológico de internet. Bol. – Acad. Paul. Psicol. vol.33 no.85. São Paulo, 2013.

GALIL, Fernanda Correa Silveira. Linguagem da internet: um meio de comunicação global. UNESP, 2002.

GUILHERI, JulianaANDRONIKOF, AnneYAZIGI, Latife. “Brincadeira do desmaio”: uma nova moda mortal entre crianças e adolescentes. Características psicofisiológicas, comportamentais e epidemiologia dos ‘jogos de asfixia’. Ciênc. saúde coletiva [online]., vol.22, n.3, pp.867-878. ISSN 1413-8123.  http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017223.14532016. Rio de Janeiro, 2017.

MULLIN, Gemma. What is the Blue Whale online suicide game and how many teenage deaths has it been linked to in Russia? “The Sun” Gazeta Online. London, 2017. Disponível em: <https://www.thesun.co.uk/tech/3003805/blue-whale-suicide-game-online-russia-victims/>. Acesso em: 07/04/2017. Acesso em: 07/04/2017.

NASCIMENTO, AD., and HETKOWSKI, TM., orgs. Educação e contemporaneidade: pesquisas científicas e tecnológicas [online]. Salvador: EDUFBA, 2009, 400 p. ISBN 978-85-232-0565-2.

R7. Jogo em rede social russa leva centenas de jovens ao suicídio. R7 Online. 2017. Disponível em: <http://noticias.r7.com/internacional/jogo-em-rede-social-russa-leva-centenas-de-jovens-ao-suicidio-segundo-suspeita-da-policia-31032017>. Acesso em: 07/04/2017.

RIBEIRO, José Carlos; LEITE, Luciana; SOUSA, Samille. Notas sobre aspectos sociais presentes no uso das tecnologias comunicacionais móveis contemporâneas.

SAPIENZA, Graziela. PEDRÔMONICO, Márcia Regina Marcondes. Risco, Proteção E Resiliência no Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. Rev. Psicologia em Estudo, v. 10, n. 2, p. 209-216, mai./ago. Maringá, 2005.

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Da pompa à decadência, “Blue Jasmine” mostra a dificuldade de se encarar as mudanças

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Com duas indicações ao Oscar:

Melhor Atriz (Cate Blanchett) e Melhor Atriz Coadjuvante (Sally Hawkins)

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Depois de passar um bom período ambientando os seus filmes no Velho Continente, Wood Allen retoma a paisagem norte-americana com o provocante “Blue Jasmine”, o 49º longa-metragem de sua autoria, e que conta com uma atuação extraordinária da atriz Cate Blanchett (indicada ao Oscar de Melhor Atriz). A comédia dramática mostra uma dinâmica de vida que não observa a chamada complementaridade das oposições, ao estilo daoísta (o famoso “sobe e desce da vida”); assim, a “encruzilhada” em que cada personagem se mete – notadamente Jasmine – delineia, em alguma medida, a dificuldade de experimentar as mudanças que ocorrem no cotidiano. No filme, Allen destaca essas transformações ao retratar a crise estadunidense de 2008.

 

 

Blue Jasmine mostra o reencontro de duas irmãs separadas tanto pela distância continental entre Nova Yorque (costa leste) e São Francisco (Costa Oeste), quanto pelo (abissal) estilo de vida que levam. Jasmine (Cate Blanchett) é a personificação do americano “ressacado” com o estouro da bolha imobiliária, alguém que experimentou todas as benesses que o acúmulo de capital proporciona, e que mesmo na derrota ainda guarda alguma elegância. A irmã, Ginger (Sally Hawkins), representa a expressão proletária, “sem grandes ambições”, cujas preocupações orbitam em torno do namorado ciumento. Os conflitos decorrentes deste encontro mostram uma Jasmine que insiste em negar a própria decadência, e que busca um futuro calcado nas lembranças do passado.

 

 

Jasmine foi casada com o investidor Hal (Alec Baldwin), e também a última a perceber [se é que queria perceber] as gritantes mudanças que ocorreram no seu entorno; nos “tempos dourados”, o esposo lhe proporcionou joias e festas caras e o exagero nas compras, sem jamais contar com a possibilidade de que em algum momento tal circunstância se exauriria. Mas este dia chegou, e o ápice da derrocada vem com a prisão de Hal, acusado de fraude. Diante da trágica conjuntura, Jasmine é obrigada a iniciar um rápido e doloroso processo de mudança de vida, mas a resistência à alteridade realça uma personagem com traços neuróticos, que vai da simpatia e bom-tom ao desespero e desatino, o que agiganta ainda mais a atuação de Blanchett. Em certa medida, Allen também demonstra a situação de confusão de parte de uma sociedade que teve tudo, e que de repente se vê absolutamente tolhida.

 

 

Jasmine carrega consigo uma tristeza e uma vulnerabilidade que a desnuda e desnorteia. Há um esforço tremendo para seguir em frente, mas a aversão “ao rebaixamento” faz com que ela sucumba às próprias expectativas (frustradas); o desprezo ao outro (notadamente em relação à irmã e seu estilo) neutraliza qualquer possibilidade de dinamizar a “nova” vida. Incapaz de se reconhecer na diferença, Jasmine perde as bases da própria existência e mergulha numa tensão e conflito que prendem completamente o expectador.

Blue Jasmine mostra que, assim como os humores, atualmente a vida pode apresentar diferentes nuances em curtíssimos espaços de tempo. Estar atento às [inevitáveis] mudanças é uma forma e tanto de reconhecer que, no fundo, como bem pontuou Heráclito de Éfeso 2.540 anos atrás, “não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio”. Resistir às mudanças, portanto, é abrir caminho para a ampliação do sofrimento e do deslocamento. Blue Jasmine retrata bem esta dinâmica.

 

FICHA TÉCNICA:

BLUE JASMINE

Roteiro e Direção: Woody Allen
Elenco: Cate Blanchett, Joy Carlin, Richard Conti, Glen Caspillo, Alec Baldwin, Charlie Tahan
Duração: 1h38min
País: EUA
Ano: 2013

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