Vestimenta, comida, saúde mental e os perigos do “fast-food”

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Passamos a vida apressados! E como a grande parte do que já é tendência, pegamos dos EUA. Estamos na época do fast-food. Ao pé da letra “acelerado, ligeiro”, um adjetivo para instituir qualquer coisa que seja elaborada de maneira frenética e de custo momentâneo. Há o fast food, o fast fashion, o fast friend e até as fast News — sínteses breves e de assimilação acessível.

A sugestão era incluir, na heterogeneidade da nossa vivência, algo agradável e momentâneo, um espaço e uma pausa. O pensamento não é maléfico, a controvérsia é que a comida rápida virou parte do dia-a-dia. Sustentando a premissa de que não existe nada mais duradouro do que o momentâneo, o fast estabeleceu-se. E os contratempos estão diante dos nossos olhos.

O pioneiro dessa dinâmica foi o fast food. Começou de maneira acanhada. Era meramente uma escolha alimentar para no momento em que não temos tempo de nos alimentar direito. Parou de constituir uma prerrogativa eventual, cresceu-se a frequência, transformou um hábito, o hábito converteu-se agora em cultura e nesta ocasião o que fazer. O total de adultos com excesso de peso no Brasil teve um aumento de 67,8% entre 2006 e 2018.

Fonte: encurtador.com.br/dnvwL

O fast food, ou junk food, produziu um dano similar na cultura que o criou, os EUA. As comidas preparadas de maneiras vertiginosas e manuseadas por conveniência, como sanduíches e pizzas, converteram-se em um subsidio cultural que mudou os costumes — e a saúde — dos indivíduos que moram nos EUA.

A consequência é que as pessoas que moram nos EUA detêm a população de obesos maior do mundo. Não é um contrassenso: uma especifica comida de fast food — sanduíche, refrigerante e batatas fritas — contem cerca de 1500 calorias. Nesta ocasião, literalmente é a quantidade de calorias de necessitaríamos consumir em um dia inteiro. E com um agravante: como é carente em nutrientes, não oferta os nutrientes essenciais que o organismo precisa, prontamente, após de duas horas, a fome retorna.

Uma alimentação salutar, que é igual em calorias, a carência por alimentação só virá depois de cinco horas. Se fosse apenas a obesidade já seria estarrecedor, visto que ela é o acesso para inúmeras doenças. Contudo, com mais intensidade. O fast food tem grande quantidade de gorduras más, açúcar, sal e múltiplos condimentos que podem provocar doenças como diabetes, gastrite, hipertensão, colesterol elevado.

Fonte: encurtador.com.br/uzAMV

E o perigo não está limitado às grades de fast-food, esse perigo está também nos supermercados. Os alimentos processados, refinados e enlatados contemporizam os mesmos danos. Não só no Brasil; no fundamento da globalização, o fast food se deslocou dos EUA e desbravou o mundo. A cifra de crianças obesas no Brasil tem estágios crescentes e até países com hábitos alimentares saudáveis, como a França, também já tem sinais da obesidade. E como se não bastasse, atualmente, surgiu mais um artefato para burlar corações e mentes: o hambúrguer gourmet. As hamburguerias contemporâneas já são um feito pelo mundo e vieram para ficar.

Depois da estrutura física, olhe para a sua vestimenta. comenta-se na socialização da moda. A liquidação é grande. Todos festejam e consomem — mais ou menos que toda semana. Para sustentar o capitalismo girando, os estilistas de moda lançam todo dia novos modelos e eles são elaboradas para não durarem, porque na semana seguinte tem mais modelos.

O engenho da indústria têxtil não pode parar. O conceito da fast fashion são vestimentas Semi descartáveis. Após um mês já podem ser descartadas — ou o modelo não está mais na moda ou o tecido já não aguenta mais lavagens. O produto é que a indústria do vestuário é uma das mais competitivas e agressivas do mundo e as suas malevolências não são limitadas ao bolso de quem consome.

Fonte: encurtador.com.br/hvyMZ
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A Psicologia através do Homem-Aranha

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A tríade do Homem-Aranha, de Sam Raimi, bem como a nova série “O Espetacular Homem-Aranha”, se refere ao processo de desenvolvimento de Peter Parker, e também da nossa diferenciação, enquanto heróis da nossa própria vida. O primeiro filme aborda a aflição que origina o herói: o remorso pela morte do tio Ben. O segundo filme se trata sobre a insegurança de Peter se ele deve continuar sua trajetória de herói ou não. O terceiro é a resolução dessa dúvida, pois Peter se identifica com sua função de herói, o que distingui sua sombra: Venon, que terá que confrontar para o bem de sua integridade anímica. A série atual já modifica a ferida do herói para o abandono dos pais, fato que irá refletir em todos os filmes, principalmente na inseguridade e no sentimento de solidão de Peter. Um estudo mais categórico dessa série só é provável ao seu término, para encaixar um filme ao outro e verificar para onde a aventura está caminhando.

Peter, coerentemente, é um pesquisador, mas tem que responsabilizar-se de seus sentimentos, processos opostos às ideias. Enquanto aranha, ele “flutua” de um oposto anímico para outro, a fim de alcançar a condição de equilíbrio, sem se caracterizar com um ou outro, uma vez que ambos fazem parte da vida e da mente. O azul caracteriza-se à tranquilidade, à pureza, à exatidão, ao frio, à imaterialidade e à espiritualidade. O vermelho é associado à vida, aos instintos, à vigilância, à inquietude. Perceber-se com um deles, sejam eles quais forem, é querer tornar-se um deus, resolver tudo de uma só maneira, como em uma “receita de bolo”, o que nos torna impiedosos para com aqueles que se identificam com o lado oposto. Isso é bem ilustrado no Homem-Aranha 3, na forma como é cruel com Mary Jane e seu amigo. Por isso a aranha, que possui oito patas, faz uma mandala no peito do herói, um símbolo de integridade, de dimensão dos opostos.

Fonte: encurtador.com.br/dhFI4

No primeiro filme, Peter assume o arquétipo de herói, simbolizada pelo uniforme, e tem a identificação com esse arquétipo. No segundo, sente necessidade de coibir a vida de herói, pois acabou deixando outras carências de lado, como a paixão por Mary Jane. Com isso perde seus poderes e fica novamente uma pessoa ignorante e difícil de lidar. Mas a solução para saber conciliar a vida de herói e com as necessidades humanas é a disciplina, e não a repressão. Esta é utilizada pelo sentimento de medo de usar de maneira compulsória seus poderes. Isso só ocorre quando de forma inconsciente de possuir as qualidades opostas, devido à repressão de um dos privilégios. Porém, o Aranha só vai perceber isso no 3º filme, quando descobre o tamanho que pode ser sua maldade.

Os vilões que o Aranha desafia configuram obstáculos em seu psiquismo que ele precisa dominar. Todos eles podem ser classificados em duas categorias: ou são cientistas, ou são objeto/produtos de estudo científico avançado. De alguma forma estão relacionados à atividade intelectual, e acabam por sucumbir ao poder. Os vilões dos dois primeiros filmes e de “O Espetacular Homem-Aranha” são admiradores da performance intelectual de Peter, como que denunciando o perigo de se fixar apenas em uma função ou qualidade psíquica. As quatro funções psíquicas (pensamento e sentimento, sensação e intuição) são formas de orientação da consciência para adaptação à vida. Elas formam pares em oposição, e não podem se desenvolver sem prejuízo da função oposta, pois uma interfere no funcionamento da outra. Por isso, quando o sentimento se desenvolve, a função intelectual não progride, e vice-versa.

As funções que não progridem. alcançam uma feição inferior, primitiva. Caem totalmente ou em parte no inconsciente e a partir daí operam através do indivíduo de forma involuntária, podendo ocasionar acidentes e todo tipo de erro. Isso está explicado de maneira mais extensa na monografia “A intuição e a sensação em dependentes de droga na perspectiva da psicologia analítica”, onde os opostos intuição e sensação são explicados com mais propriedade. Como Peter desenvolveu mais a função pensamento, e é do tipo psicológico intelectual, mas ao mesmo tempo sente necessidade de evoluir seu sentimento, pois percebe que não consegue lidar muito bem com pessoas caras em sua vida. Harry e Marko parecem ser do tipo sentimento, e são os únicos vilões que Peter perdoa.

Fonte: encurtador.com.br/vBHNV

Além do mais (Norman, Otto, Curt e Max) morrem no final, pois configuram diretamente o uso descomedido da inteligência que precisa cessar da vida de Peter. É como se estes representassem personificações de seu intelecto que precisava ser mais objetivo para que ele pudesse perceber seu intelecto melhor.

A expressão do desfecho, é oportuno fazer um link das aventuras do Homem-Aranha com a ordenação das fabulas dos heróis em geral. O herói quase sempre é vencido pelo monstro na batalha final, o que acontece com Peter quando é “devorado” pelo Simbionte, que encobre seu corpo com a indumentária negra. Isso acontece com Jonas, profeta da bíblia. É no interior da baleia que este começa a ajustar contas com ela, que nada na direção do nascer do sol (JUNG, 1991d, §160). No caso, o Aranha ajustou contas com a sombra coletiva na igreja, e depois ao explodi-la, quando o sol desponta. Somente assim Peter perdoa o Homem-Areia, uma menção há renascença.

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Cobra Kai – A omissão de uma vitória

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Em nosso mundo, o gênero e a honra masculina estão muito atrelados a competitividade em competições esportivas. Isto é muitas vezes indicativo de a versão contemporânea da Jornada do Herói, ajustada para tempos fleumáticos e sem territórios inexplorados para ir em descoberta. Em Karatê Kid, filme lançado em 1984, temos um exemplo característico desse fenômeno: Daniel, um jovem que tem dificuldade de adaptação que sofre com a violência dos pais, é salvo por um especialista em artes marciais e este o subordina a um árduo treinamento. Como desfecho, ele se fortalece fisicamente e mentalmente, ganhando o torneio local contra quem o agredia, e para valorizar suas vitórias pessoais, ganha o afeto da garota por quem se apaixonou. Contudo, de modo diferente dos mitos, competições e contos de fada, a vida tem que continuar requerendo atitudes menos heroicas dos homens, tais como pagar contas, procurar um emprego e constituir uma família.

Deste modo a série Cobra Kai presente na Netflix e Youtube, segue contando a história do filme 34 anos depois, porém com os mesmos autores, com base na história de vida de Johnny, o vilão da história é derrotado da competição. Este é o primeiro inconveniente da crônica, transparecer que o vilão não simplesmente desaparece com o fim da crônica. Ele de maneira simplória continua sendo a mesma pessoa. Tendo uma vida de adulto para levar. E essa, porventura, não é das mais agradáveis: subsistindo por meio de trabalhos informais, morando em uma casa desarrumada, tendo que enfrentar o alcoolismo, sem amizade e sem ninguém para pedir um abraço e um beijo, esse vilão não dá sinais de aprendizado com suas dificuldades, continuando sendo uma pessoa arrogante que te proporcionava popularidade na adolescência, porém agora de forma totalmente desajustada.

Fonte: encurtador.com.br/buFIT

A narrativa demonstra como os torneios esportivos tem muita autoridade sobre a masculinidade atual. Onde podemos observar como o resultado de uma competição desagregou duas vidas, aonde uma levou o troféu de vencedora e a outra levou o título de derrotada, deixando a vida adulta em segundo plano diante dos defeitos da adolescência. Isto nos mostra o mal-estar e uma vida sem sentido que muitos sendo ao longo de sua trajetória vital.

Todo o enredo da série se aplica ao reencontro entre os dois personagens, ocasionado por um acidente no qual a filha de um dos personagens estava envolvida. Metaforicamente, podemos sugestionar que a rivalidade era uma questão a ser solucionada em suas vidas, e por mais que tentassem esquecer essa rixa, alguma hora ela iria ser colocada à tona diante deles, por meio de muitas coincidências, submetendo-os a lidar com isso.

Fonte: encurtador.com.br/biGV2

Evidente que este conflito leva os personagens de volta ao caratê, o que acaba levando suas vidas de volta a realidade.  Se tradando de Johnny, ele passa a ter atitudes que quebram uma inércia de décadas, colocando força e ressignificação a uma vida que parecia perdida. Já pelo lado de Daniel, entendemos um vazio que sempre esteve consigo, embora ele seja orgulhoso. Ele tentava de maneira aflita colocar regras e doutrinas do caratê em sua vida de comerciante, o que era visto de modo excêntrico. Agora ele percebe uma oportunidade perfeita para colocá-los em prática.

Neste regresso às artes marciais, uma nova chance aparece aos personagens que é: qual os papeis eles devem desempenhar em seus estágios atuais de vida, já que não podem simplesmente competir em torneios como no passado. Para isso, o quesito fundamental é o relacionamento com as novas gerações, o que se confronta os valores enraizados e os leva a importante desenvolvimento interno.

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Amor, Sexo e Tragédia: somos mesmo originais?

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A forma como o Estilita Simeão viveu, em austeras penitências corporais, retrata a vida dos anacoretas de sua época. Seu biógrafo conta-nos que seus atos de sacrifício, eram de castigar seu próprio corpo, com um desejo de assemelhar-se à paixão de Cristo. Dava-se ao jejum de alimentos e água e se expunha ao calor, e ao frio exposto a “uma coluna de pouco mais de 18 metros em vigília continua; uma imagem viva do Cristo crucificado” (GOLDHILL, 2007, p. 97).

Ainda de acordo com seu biógrafo as torturas vividas por Simeão eram uma forma de chamar a atenção do mundo, despertando-o para existência de Deus. O mosteiro onde Simeão morava era cercado de pessoas que viam nele um homem santo e todos o admiravam e gostavam de ouvi-lo. “Por vezes ele realizava papel de juiz especial diante de alguma disputa” (GOLDHILL, 2007, p. 98).

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Simeão vivenciou um êxtase espiritual profundamente marcado pelo amor a Deus. Deu-se aos sacrifícios corporais até sua morte e ainda que seu corpo se esvanecesse pelas torturas, sentia-se fortalecido pela presença de Deus.

Simeão faleceu no ano 459. Ele foi uma superestrela no rol dos homens santos, todos grandes sofredores pela qual a Síria era especialmente famosa. Esses santos representavam o pináculo da nova atitude cristã relacionada ao corpo (GOLDHILL, 2007, p. 99).

Pregou e viveu um cristianismo que era contrário à cultura clássica. Para ele, ser cristão era ser capaz de penitências, asceses e renúncias; viver a negação dos laços sociais e dos prazeres que este oferece. E o monge deve retirar-se para o deserto, orar sozinho e viver em austeras penitências e jejuns. “Uma maneira dos cristãos mostrarem publicamente a sua crença era a recusa de participar de sacrifícios. Por vontade própria eles excluíam-se obstinadamente da comunidade” (GOLDHILL, 2007, p. 100). Alimentar-se para Simeão era algo confortável, de certa forma até de luxo, pois a sociedade do seu tempo vivia em penúria e até passavam fome.

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Para o pensamento grego um cidadão clássico tinha que trazer em si característica “de soldado, orador, homem do bem” (GOLDHILL, 2007, p. 100), versado em filosofia, e dado aos prazeres e alimentação farta. “Comer bem significava o triunfo da civilização, uma combinação do trabalho árduo do lavrador e da graça dos deuses” (GOLDHILL, 2007, p. 101). Porém os cristãos se contrapunham a essa realidade e se retiravam ao deserto para se desafiarem nessa civilização. “O calendário do cristão comum podia se alternar entre o jejum e o banquete, Quaresma e Páscoa” (GOLDHILL, 2007, p. 101).

Em síntese, os superestrelas da carne, mostra que o jejum deveria ser praticado e ajudaria os cristãos a refrear as paixões e a refrear os impulsos sexuais, como um combate ao pecado e a busca de santidade, uma vez que a defesa da castidade de monge era exercício disciplinar constante. “Toda história requer heróis, e, para o início do cristianismo eles são os ascetas e os mártires” (GOLDHILL, 2007, p. 103). O cristão era chamado a ser mártir e o martírio se tornava exemplo de vida virtuosa revelando a forma mais refinada de transcender a dor. E isso Simeão legou aos cristãos do seu tempo.

Essa forma de vida de martírio era inaceitável para os gregos e romanos, pois para eles “o corpo do cidadão devia ser inviolável” (GOLDHILL, 2007, p. 104), ainda que os escravos fossem submetidos à tortura. O orador clássico, cidadão herói grego, deve ser ereto, altivo e exibicionista. O cristão devia ser simples, modesto desprovido de vaidades. Apropriados dos seus próprios corpos, os cristãos deveriam apenas ser agradáveis a Deus.

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O sexo e a cidade – A carne e o mundo

Em “O sexo e a cidade”, Goldhill (2007) traz considerações acerca dos desejos da carne x cristianismo. O autor ressalta que com o Império Romano, tonando-se cristão, houve uma série de conflitos em relação à sexualidade e os valores cristãos. E esse fato repercute até hoje nas escolhas e formas de vida familiar. Para tanto, sendo o casamento “o alicerce da sociedade”, a concepção que temos dele é, também, a forma como nos percebemos na sociedade (GOLDHILL, 2007). O autor aponta, ainda, que o casamento cristão trazia algumas atitudes, consideradas estranhas, de como se deveria levar a vida, pois teve sua formação contra a cultura greco romana e organizada limitadamente pelo Império Romano.

Paulo recomenda, nas Sagradas Escrituras, que o casamento seja honrado pelos homens e, com isso, traça um conjunto de leis que, em suma, resulta em um tipo de casamento patriarcal, no qual a mulher deve ser subordinada ao homem. Por outro lado, há outro conselho deixado por ele, no qual ele ressalta que o homem deve se comprometer com o celibato e a mulher deveria permanecer virgem e cuidar das coisas do Senhor. Com isso, o casamento fica em segundo plano (GOLDHILL, 2007).

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Nesses parâmetros o autor adverte que: de fato, Paulo recomenda o casamento, mas o faz somente para evitar que aqueles que não conseguem suportar o celibato sejam queimados no inferno por cometerem o pecado do sexo ilícito. É isso que faz do casamento algo “honrado” (GOLDHILL, 2007 p. 107). Nesse ínterim Goldhill (2007), relata a história de duas mulheres que buscaram seguir o conselho de Paulo. Tecla e Maximila são duas mulheres que abriram mão de uma vida matrimonial para viver o celibato.

Tecla era uma jovem que estava noiva e após escutar as pregações de Paulo sobre castidade começa a sentir um novo desejo, o que deixa sua família e o noivo aflitos. Desse modo, Paulo é considerado como alguém que leva as mulheres para um mau caminho e destrói a vida dos casais. Com isso, Paulo é preso. Porém Tecla aumenta, ainda mais sua fé e devoção. Tecla é condenada a morte, porém “ela é sempre salva pelo milagre divino” (GOLDHILL, 2007 p. 108). Dessa forma, “Tecla tornou-se uma santa para a adoração cristã, um modelo para as virgens que evitam o casamento. Ela figura como heroína e inspiração em diversas histórias de vida de muitas moças” (GOLDHILL, 2007, p. 109).

Maximila é uma mulher casada que, ao escutar as palavras de Santo André: “ofereça-se a Deus” (p. 110), converte-se ao cristianismo e começa a fazer orações para que Deus a afaste do próprio marido e a mantenha casta. Dessa forma, para se privar de relações com o marido, ela coloca uma escrava para satisfazê-lo, sem que ele saiba. Porém, ao descobrir ele fica arrasado por ter sido enganado por ela. Maximila, então, confessa seu amor pelo Divino e deixa seu marido para se dedicar às obras de Deus (GOLDHILL, 2007).

E assim, Goldhill (2007), afirma que o cristianismo gera um declínio social, pois as pessoas deixam de viver muitas coisas por causa do Divino, impedido, dessa forma, a continuidade de uma família. Com isso, o autor acredita que: “o cristianismo requer um compromisso individual ‘com o mundo por vir’ – um sendo radicalmente diferente de futuro” (GOLDHILL, 2007 p. 110). 

Virgindade, Celibato ou Casamento?

Durante a Idade Média, quando o Cristianismo se instaura na Europa, as mulheres deveriam fazer a escolha entre o celibato ou o casamento. O celibato trazia grandes honras para a família, as “virgens de Deus” ou “noivas de Cristo” dedicavam sua vida a uma eterna virgindade, se dedicavam à igreja e a Deus. A virgindade era exaltada, a igreja considerava o desejo e a sexualidade como pecados, fontes de fraqueza humana.

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De acordo com Goldhill (2007) a reclusão, jejum e orações constantes eram necessárias como suportes contra a fraqueza. A mulher podia demonstrar sua fé e devoção na igreja e no lar por meio de uma dedicada virgindade, a mulher que optava por esse estilo de vida deveria se afastar do modo de vida convencional por vontade própria, sendo veneradas pela igreja. O casamento era considerado honrado contanto que um homem e uma mulher mantivesse relações sexuais com seus cônjuges e após o casamento, se não seria perversão. O divórcio e a oportunidade de um novo casamento era condenado pela sociedade, o sexo associado à culpa e à sujeira.

Por muito tempo foi discutido questões sobre virgindade, santidade, sexo e casamento, sendo temas polêmicos até os dia atuais, sendo que, muitas das incertezas sexuais vivida pela sociedade atual provêm do que foi imposto pela igreja católica, uma vez que o compromisso com valores tradicionais não avaliam a própria historia. A crise ainda compartilhada pelo corpo social moderno ocorre, pois todos participam das discussões sobre como deve funcionar um casamento, relações sexuais extraconjugais, relações sexuais com múltiplos parceiros e relações homossexuais são ditas como erradas. Entretanto, não cabe a sociedade como um todo, formular uma resposta. Goldhill (2007, p.116) cita que:

(…) está claro que sem uma compreensão histórica de como esses temas se tornaram as questões que hoje preocupam o Ocidente Moderno, qualquer resposta que dermos a essas perguntas será superficial. Se quisermos entender as tensões com as quais o casamento moderno se debate, precisamos compreender que a “tradição” é uma longa história de revolução, conflito e mudança, uma história que produz tais tensões.

O que é Atenas para Jerusalém?

Os valores humanos podem ter criado sua própria crença através da derrubada dos valores cristãos, mas foi muito difícil tirar os valores cristãos das mentes e dos corações dos cidadãos do Império Romano do que o planejado. Os cristãos continuaram vivendo dentro de sua cultura por mais que fosse combatida e assimilaram rotineiramente as ideias e o raciocínio do mundo grego-romano que os rodeava (GOLDHILL, 2007).

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Mas o cristianismo também tinha outra maneira de falar. Particularmente nas cidades, homens e mulheres cristãos precisavam manter um diálogo com os gregos e romanos entre os quais viviam e os homens e mulheres cristãos mal podiam evitar serem influenciados pela cultura que os circundava, mesmo que tivessem a intenção de rejeitá-la (GOLDHILL, 2007, p.118). A imagem de Jesus, não importa o quanto era importante para os cristãos, também foi incorporado aos modelos da sociedade grega e romana (GOLDHILL, 2007).

Filósofos e homens santos

Goldhill (2007), sugere a existência de um diálogo entre a filosofia e a cultura greco-romana, que se evidencia historicamente nas características da interação social. No cristianismo e na cultura greco-romana, homens se tornaram santos e heróis culturais, conhecidos como mártires e sábios. Caracterizados pela abdicação dos bens materiais, luxos, prazeres, optavam por uma vida de sacrifício, abstinência, jejuns, utilizando somente o necessário para vida. O autor cita Diógenes, um filósofo cínico, que optou por se desfazer de tudo, mantendo “apenas uma tanga e uma tigela- e quando viu um jovem pastor beber água de um rio usando apenas as mãos, jogou fora também a tigela” (GOLDHILL, 2007, p.123).

Jesus, a figura de fundamental importância para o cristianismo, também foi assimilada as características da sociedade grega e romana. De forma semelhante, o cristianismo recebeu influências filosóficas, pois a filosofia orientava para uma vida espiritualizada e de autorreflexão.

O poder dessa imagem do antigo filósofo é ainda hoje fortemente sentido. Uma avaliação serena, e a rejeição do tumulto da ambição, da cobiça e da avareza são como um negativo fotográfico da imagem da sociedade moderna apresentada pelos jornais, pelos filmes, pela televisão. Era um estilo de vida que foi facilmente incorporado ao desejo cristão por uma existência mais elevada, contrária ao Império deste mundo (GOLDHILL, 2007, p.125).

Assim, o cristianismo se desenvolve tanto por meio da rejeição como da negociação com a cultura grega e romana. E a cultura ocidental moderna se forma por essa mescla de tradições. Mesmo vivendo em uma sociedade moderna é impossível não dar uma grande importância para a religião, pois a mesma traz grande influência para o nosso dia a dia querendo ou não ao longo da nossa construção como ser humano carregamos princípios da religião e todos nossos clichês do certo ou errado e estilo de vida traz um pouco de algo que aprendemos através da nossa cultura religiosa. Até mesmo se somos desacreditados da religião temos que reconhecer que em tudo tem algo da Bíblia e que essa cultura religiosa está presente. Enfim, todos nós temos uma história cristã clássica dentro de nós.

http://zip.net/bbtHj2

Segundo Goldhill (2007, p.94) “Devemos também reconhecer e não distanciar a civilização cristã como estudo do clássico”. O qual seu estabelecimento ocorreu durante o Império Romano não diferenciando assim o estudo do clássico e o estudo do período inicial da igreja sabendo assim que o Império Romano de tornou cristão, mas o cristianismo por sua vez tomou a forma do Império Romano.

O cristianismo tem grande envolvimento com a cultura grega tendo grandes influências da mesma. Porque o veículo para o transição de ensinamentos da Bíblia é a língua grega por isso podemos afirmar que a civilização ocidental não é apenas judaico-cristã, mas sim uma civilização grego-judaica – cristã (MURACHO, 2002, p.10). Não podemos esquecer as raízes do cristianismo e assim reconhecer que a tradição religiosa presente no ocidente se formou no mundo clássico. Se deixarmos toda essa cultura para trás seremos apenas turistas, e o importante é vivê-la.

REFERÊNCIAS:

GOLDHILL, Simon. Amor, sexo e tragédia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

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Afinal, o que é beleza?

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A partir de Platão surge um esboço de conceito de subjetividade. Onde ele nos apresenta o conceito de alma tripartite (Razão, Emoções e Desejos). A filosofia vai racionalizar o discurso. É uma tentativa de racionalizar as narrativas para que as pessoas superem as crenças míticas. Para Platão a razão é que nos diferencia dos animais. A razão vem acima das emoções e desejos. De acordo com Platão, se não nutrirmos a razão as pessoas ficam reféns de outros aspectos do seu corpo. Com isso, estudar a Beleza através da contribuição de Platão dentro da sua visão idealista do mundo e do homem, é diz que a beleza de um ser material no mundo real vai depender de quão próximo chega a Beleza Absoluta do mundo ideal (matriz). Nesse mundo matriz a Verdade, a Beleza e o Bem são essências superiores. Para o filosofo espanhol José Ortega y Gasset, esse era o mundo em forma visto por Platão.

Platão entendia o universo dividido em dois mundos. O mundo que enxergamos, ou seja, o mundo real é o mundo que ele define como uma copia de um mundo ideal. Sendo que, o mundo real, ou seja, o mundo sensível que temos diante de nossos olhos é denominado por ele como um campo da ruína, das imperfeições, da feiura, da decadência. Para o filosofo espanhol José Ortega y Gasset, esse era o mundo em ruína visto por Platão. O nosso mundo real só recebe existência e significação por causa da pré-existência de um mundo Autêntico, o mundo das ideias puras e verdadeiras.

Para Platão a alma tem como seu habitat natural o mundo das Essências, e sendo o mundo real uma cópia fiel do mundo das essências; a alma fica presa no nosso plano real como se estivesse sempre em busca de encontrar a Beleza Absoluta de onde ela veio. Em busca de algo perfeito que ela conheceu, mas não pudesse voltar. Nos textos sobre a Reminiscência de Platão, ele relata que a alma morre e nasce várias vezes, a alma é imortal; por isso é detentora de um vasto saber e conhecimento de tudo existente. Não existe nada que ela não conheça. A alma por ter vindo do mundo ideal, um mundo perfeito, faz com que a ela seja uma sábia detentora do conhecimento, ou seja, ela sabe tudo.

Diante disso, a alma é vista como algo sublime por Platão, pois ela já veio do mundo das Essências, da Verdade Absoluta. Quando a alma vem para o mundo material e se encontra com o corpo material é como se ela, por ter conhecimento absoluto, entrasse em decadência e vivesse sempre com saudades em busca da perfeição do mundo ideal do qual ela veio.  Segundo a Teoria da Reminiscência de Platão, a alma por ter contemplado a Verdade, a Beleza e o Bem Absoluto, ela sempre vai recordar-se do mundo das essências como se ela estivesse em busca de algo daquilo que ela já experimentou antes de unir-se a matéria, ou seja, de unir-se ao corpo.

O corpo por ser definido por Platão como algo decadente e grosseiro; quando se prende a ele faz como que se esqueça da vasta sabedoria da alma; não possibilitando acompanhar essa amplitude de conhecimento absoluto. Com isso, algumas pessoas do mundo Real que valorizam a alma, são consideradas pessoas mais aptas que outras a se lembrarem das Verdades e Belezas contempladas anteriormente. Essas pessoas vão recordar, mas nunca vão ser detentoras da Beleza e da Verdade Absoluta, pois essas só existem no plano das Essências; onde é inatingível pela matéria que é mera cópia. Por isso para Platão, não adianta ficar perdendo muito tempo com a matéria, já que ela é uma cópia prefeita do Ideal.

O filósofo grego Sócrates relata, de acordo com as anotações de Platão, em o livro “Fredo”, um mito da “parelha alada”, que narra de uma forma muito interessante a respeito do ser e da morte. Ele representa o pensamento e ideias sob uma forma figurada de como alcançar o mundo superior para aqueles que conseguiram purificar o seu corpo espiritual. Para Platão o caminho da alma que se quer elevar é o amor. Na concepção de Platão os seres humanos eram andróginos, ou seja, num mesmo corpo têm-se características masculinas e femininas.

Ao separar as duas metades são como se cada alma ficasse em busca da outra cara metade dela, ou, em busca de encontrar sua parelha. Com isso, o caminho místico para elevarmos nossos espíritos ao plano superior se aproxima mais para aqueles que compreenderem que a Beleza da alma é algo superior à beleza corporal. Aqueles que se prenderem mais ao plano físico estão sujeitos a perecer (a ruínas) assim como o corpo, se estabelecendo como seres inferiores presos no plano material.

Dentro do que é possível aqui na terra, àqueles detentores do saber que mais se aproximam da luminosidade do mundo das essências, adquiridas através das recordações da alma; são os que conseguirão ter uma contemplação mais elevada da Beleza. A sabedoria estaria em saber desfrutar a Beleza e não meramente conhece-la, isso despertaria amores intensos.

A respeito da deleitação da Beleza exposta por Platão, o filosofo Francês Jacques Maritain afirma: “a beleza é essencialmente deleitável: por isso, por sua própria essência e enquanto beleza move o desejo e produz o amor, enquanto que a verdade, como tal, faz somente iluminar.”. Vale ressaltar que para Platão, a contemplação da Beleza era uma recordação (de acordo com a teoria da reminiscência), que informaria todo o pensamento Platônico, não só quanto à contemplação da Beleza, da Verdade e do Bem, como a respeito dos métodos e processos criadores da Arte.

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Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dor%C3%ADforo

Teoria Aristotélica da Beleza

Aristóteles é um discípulo de Platão, e ele vem colocar sua visão não para subestimar Platão, pois sabe da sua importância para contribuição da Beleza; porém ele vai se opor inteiramente ao idealismo Platônico. Aristóteles vai usar da lógica, da matemática, da estatística para derruba a teoria de Platão. Para Aristóteles é impossível que exista uma matriz no mundo das ideias.  Pela lógica, se nós somos cópias imperfeitas de algo, essa matriz já tem que ser a cópia de outra coisa; ficando assim impossível existir uma cópia perfeita, sem ser cópia de outra coisa perfeita.

Conforme citado a seguir por Ariano Suassuna, em seu livro Iniciação À Estética, a respeito do conceito de beleza para Aristóteles; podemos dizer que para esse grande pensador ao contrário de Platão, não é que exista uma cópia perfeita, simplesmente existem determinadas características que denominam uma espécie. Ou seja, um conjunto de características comuns que se enquadra em determinado objeto ou espécie. A verdade é vista a partir das evidências do mundo. A Beleza vem apenas de certa harmonia ou ordenação, existente entre as partes desse objeto entre si e em relação ao todo. Quanto àquela forma especial de Beleza que mais interessava aos gregos, o Belo, exigia ele, ainda, outras características, entre as quais as mais importantes eram certa grandeza, o imponência, e, ao mesmo tempo, proporção e medida nessa grandeza.

Suassuna, ressalta que para Aristóteles as características essenciais da Beleza seriam a ordem ou a harmonia, e a grandeza; assim como também a medida e a proporção de acordo com influência do conceito grego de Beleza. Outro fato importante a observar é o de que, por ele ser considerado patrono de todo pensamento realista e objetivista ocidental (rompeu com o idealismo Platônico e trouxe um ponto de vista realista sem recorrer a outras coisas para explicar o próprio objeto); não faz com que ele se descuide do sujeito como agente contemplador da Arte e da Beleza. Ele leva em consideração os aspectos psicológicos do sujeito para uma contemplação plena de espirito da Beleza.

      Diante de tantos aspectos vistos por Aristóteles contributivos para o campo da Estética e da Beleza, podemos dizer que as três características principais da Beleza são: harmonia, grandeza e proporção. O que nos leva a ancorar na célebre fórmula dos aristotélicos: “A Beleza consiste em unidade na variedade”.

Teoria Plotínica da Beleza

A teoria de Plotino possui semelhança com a visão de Platão. Faz-se uma crítica ao conceito de Beleza de Aristóteles, onde esse acredita que a beleza é harmonia das partes de um todo. Para Plotino, a beleza não pode ser a harmonia das partes do objeto estético, pois com esse pensamento, as coisas mais simples da vida deixam de ser consideradas belas. Segundo Plotino, a apreciação dos sons musicais, por exemplo, ocorre não somente no conjunto da obra, mais em cada composição dela. O exemplo disso é o som de sinfonia ou sonata, o todo nos agrada, como também o som isolado de cada instrumento é belo.

 Segundo Suassuna, Plotino classificou Artes em dois sentidos estéticos por excelência, sendo esse a visão e audição. Para ele a pintura só pode ser apreciada pelo contato visual, ou seja, uma pessoa que sofre de cegueira, não pode conceber a beleza de um quadro. Como também, alguém que sofra de surdez, jamais poderá sentir a beleza da música. Porém essa classificação, não fale para um poema ou romance, que está ligado ao comportamento e atos humanos. Suassuna afirma que Plotino, era atendo essa questão.

Ariano traz a concepção de beleza de outros pensadores, para dialogar com a teoria de Plotino. Um destes filósofos é o Kant, do qual fala sobre juízo de gosto, e sensação de prazer e desprazer. Do qual Plotino faz relação entre Beleza e o Bem, o Feio e o Mal. Dando maior importância a Beleza e o Bem, mas sem deixar de lado a importância de estudar o Feio e o Mal. O pensamento primitivo e escolástico; Santo Agostinho e Santo Tomaz tiveram grande remanência das ideias de estéticos de Plotino. A partir de toda essa contextualização pensante, surge à teoria do conceito de Beleza, para Plotino, “a beleza não é a harmonia, é uma luz que dança sobre a harmonia”, contraposição à teoria Aristotélica.

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Fonte: http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/11/07/980321/conheca-negra-tarsila-do-amaral.html

Teoria Kantiana da Beleza

De acordo com Kant os juízos de conhecimento emitem conceitos que possuem validez geral, por se basearem em propriedades do objeto. Com isso pode analisar que dentro dos juízos estéticos não conceitos; decorrem simplesmente de reação pessoal do contemplador diante do objeto. Os juízos estéticos e o juízo sobre o agradável é devido à primeira distinção de gosto que tem um princípio determinado puramente subjetivo, e o juízo de conhecimento fornece conceitos de validade geral. Assim sabendo que é preciso distinguir ainda, dentro do pensamento Kantiano o juízo estético e o juízo sobre o agradável, onde, por exemplo, “o agradável é aquilo que agrada aos sentidos, na sensação”.

Devido ao conteúdo da iniciação estética nota se que dentro deste parâmetro, existe algum paradoxo Kantiano sobre a beleza, onde pode notar que o juízo estético é assim ambíguo, comparado com os outros dois. O segundo paradoxo kantiano da beleza vem mostrar a característica da beleza, isto é “universal sem conceito”, onde por tanto se viu um paradoxo que é quando o sujeito emite um juízo estético e não está exprimindo um conceito decorrente das propriedades do objeto, mas apenas uma sensação de prazer que ele experimentou diante do objeto. A segunda característica, aparentemente ambígua e paradoxal, da beleza da satisfação determinada pelo juízo de gosto; “é uma necessidade subjetiva que nos aparece como objetiva”. Tendo todos os homens, necessariamente essas faculdades, cujo jogo, não ligados a conceitos, mas livres, produz a sensação de prazer ou desprazer.

Para bem entender o terceiro paradoxo sobre a beleza, temos que voltar a refletir sobre a diferença entre o juízo estético e sobre o agradável. Pois é preciso entender que quando uma pessoa se alimenta, tem um interesse físico a satisfazer de modo que o prazer causado por esta sensação é um prazer interessado. Nota- se que o sentimento da beleza não procura satisfazer nenhuma inclinação, pelo menos diretamente; é um sentimento puramente contemplativo; não é turvado por nenhum desejo, é um prazer sem interesse.

Kant acha que, quando olhamos para uma locomotiva, não podemos nunca ver ela desinteressadamente, porque temos sempre em vista o fim útil ao qual ela se destina. Conforme os conceitos do qual Kant relata pode então observar de forma que a beleza livre não supõe, portanto, nenhum conceito do que seja o objeto; a Beleza ardente, não só supõe tal conceito, mas supõe ainda a perfeição do objeto em relação a esse conceito. A concepção Kantiana do prazer desinteressado, assim como a satisfação determinada pela Beleza. Resumidamente, Kant considera que belo é o que simplesmente não tem conceito, que é impossível conceitua-lo, na verdade, ao tentarmos conceituar, toda a beleza pode ser perdida. Longe de ser lógico ou racional, o belo é algo subjetivo, sua atração exercida se deve ao sujeito contemplador.

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Fonte: http://deniseludwig.blogspot.com.br/2014/08/pinturas-e-esculturas-das-tres-gracas.html

Teoria Hegeliana da Beleza

A teoria Hegeliana possui uma semelhança com o fundamento platônico e fazendo uma crítica a visão kantiana. De acordo com Hegel o maior pensador idealista alemão do século XIX, onde deu importância de aprofundar e sistematizar com mais rigor o pensamento de Schelling. Hegel define a Beleza como a manifestação sensível da Ideia, assim a unidade da ideia e da aparência individual é a essência da beleza e de sua produção de arte. O autor distinguiu a Ideia e o Ideal, sendo assim a idéia é considerada enquanto em si mesma, é a verdade, e o Ideal que é a Beleza, a verdade exteriorizada no sensível e no concreto, a ideia é a própria realidade, a essência profunda da realidade.

Hegel considera a si mesma, é a verdade, considerada enquanto representada e exteriorizada no concreto, isto é sob seu aspecto estético, é a Beleza, ou Ideal, sendo assim Hegel segue os passos de Schelling a respeito da liberdade e a necessidade. Pode-se chamar, em resumo, liberdade àquilo que a subjetividade contém e pode captar em si mesma de mais elevado. A liberdade é a modalidade suprema do espírito. Ora enquanto a liberdade permanece puramente subjetiva e não se exterioriza, o sujeito se choca com o que não é livre, com o que é puramente objetivo, isto é, com a necessidade natural.

Para Hegel o estado do natural do homem é a contradição e o dilaceramento, não só perante a natureza, mas dentro de si mesmo, entre a parte mais alta e mais nobre de seu espirito e suas paixões, assim a suprema aspiração humana é superar tal contradição, o que só é possível pela comunhão com o absoluto e com a ideia. De acordo com a visão hegeliana do mundo, a Arte, a Religião e a Filosofia são as etapas fundamentais neste caminho do homem a procura do absoluto.

Afirma Hegel que tudo que é real é cognoscível, onde o mundo é dilacerado entre dois extremos: de um lado, as coisas, do outro, a ideia absoluta. Cabe ao homem o destino de ponte entre as coisas e o espírito, ele é uma espécie de campo de batalha entre a natureza e Deus, É ele um ser dividido, dilacerado, por ser um representante do espírito e da liberdade, colocado diante da necessidade da natureza, cega, brutal, indiferente e até hostil a ele. Sendo assim o homem tenta superar a contradição fundamental de seu destino sendo dividido por ser livre, criado para o espírito e a liberdade, vê-se arremessado diante da necessidade da natureza.

Teoria Agostiniana da Beleza

Santo Agostinho supunha que a beleza consistia na harmonia entre as partes, isso não estava relacionado às medidas e proporções do objeto artístico, mas na variedade expressa por ele, isso sim era o que tornava algo belo. Contrariando a concepção dos gregos, que relacionavam o Belo com a Beleza, “a única forma legítima de beleza”, Santo Agostinho diz que a variedade não abrange somente as partes belas, há também os contrários. Belo e Feio fazem parte da variedade, este último é um fator que causa a valorização do primeiro, assim sendo, esse contraste é essencial. A teoria agostiniana supõe que Feio e Mal são intrínsecos, assim como são Belo e Bem, trata-se de uma visão maniqueísta.

Teoria Tomista da Beleza

São Tomás de Aquino não acreditava que algo deveria ter determinadas medidas e proporções para ser considerado belo, como dizia Aristóteles, e também rejeitava os ideais platônicos, ou seja, não há regras que definam algo como belo ou feio. A teoria tomista supõe que para algo ser considerado belo basta um objeto causar deleite ao sujeito que o observa. Se alguém se agrada em ver algo ou ouvir, então esse “algo” é belo, e deve ser aprendido. Portanto, para Tomás de Aquino, o subjetivo do sujeito é que pode considerar algo bonito ou feio, basta que se harmonize com o objeto contemplado ou sinta repulsa.

Afinal, o que é beleza?

Essa pergunta parece longe de ter uma resposta consensual. Como vimos, diversos filósofos se empenharam em responde-la a seu modo. O professor de Estética pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) Celso Braidas esclarece: “Não há uma única definição de beleza que seja consenso entre os filósofos, muito menos entre os artistas. Sobretudo, não há uma única definição que se aplicaria a todas as coisas e acontecimentos que denominamos belos”. Mas o professor acredita que há algumas marcas perceptíveis que tornam algo especialmente atrativo aos sentidos. Se algo é belo, deve haver nele aspectos especiais. De modo geral, essa questão é subjetiva, o que explica tantas distintas respostas a ela.

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Fonte: http://www.infoescola.com/pintura/mona-lisa/

REFERÊNCIAS

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 1. Ed. São Paulo: José Olympio, 1975. 398 p.

 

Estética, Teoria Aristotélica da Beleza. Disponível em: <http: //www.coisasdeestetas.blogspot.com.br>. Acesso em 04 de setembro de 2016.

 

ZH, A Filosofia da Beleza. Disponível em: <www.zh.clicrbs.com.br>. Acesso em 04 de setembro de 2016.

 

Rua Direita, Conceito de beleza. Disponível em: <www.ruadireita.com>. Acesso em 05 de setembro de 2016.

 

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