Doze anos sem Amy Winehouse

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Ela só queria cantar

Sônia Cecília Rocha – soniacecirocha@gmail.com.

Imagem de depexel por Pixabay

De volta para a escuridão

“Nós apenas dissemos adeus com palavras.     Eu morri umas cem vezes. Você volta pra ela. E eu volto para… eu volto pra nós. Te amo tanto. Mas isso não é suficiente. E a vida é como um cano.  Eu sou uma moeda insignificante rolando sem rumo lá dentro.” (Amy Winehouse, 2006)

Brigas, traições, inverdades, e o divórcio dos pais, marcaram o início de vida de Amy Winehouse, e este cenário desafiador pode ter afetado severamente o aspecto psicológico da cantora, já que sua família não lhe gerava conforto e nem segurança. Ela sonhava em ser garçonete de patins, mas a voz diferente e única a impelia para algo a mais. Sua influência com a música era grande, pois sua família era quase toda formada de músicos profissionais do jazz. Cantava muito com o pai, o que a tornou uma amante da música. Aos dez anos já tinha uma banda de rock, era irreverente para sua idade, porém era tímida e achava que não teria talento para alcançar público. Aos treze anos ganha sua primeira guitarra. Tudo era só um hobby para Amy. Aos olhos de alguns bem próximos e de uma forma desconcertante, tilintavam cifrões. Ela não percebeu, porque ela só queria cantar.

Começou a se apresentar em pubs, gravou uma fita e a enviou a um produtor, ele viu ali um grande talento, foi o início de seu calvário, ela estourou em todas as paradas musicais, as turnês começaram, os assédios, a vida era louca, precisava de algo que a ajudasse neste intenso burburinho. Teria sido tudo um acaso, ou a predestinação estaria ali presente? Segundo Schopenhauer, o acaso é um poder maligno, no qual se deve confiar o menos possível. Dizem que o acaso não se importa em nada com nossos destinos.

Pouco tempo depois começava ali sua dependência ao álcool e outras substâncias, posteriormente uso de drogas muito pesadas.  Entre enfisema pulmonar, transtornos alimentares, Amy foi se perdendo, apaixonou-se perdidamente, isso também contribuiu e muito para sua derrocada, e nunca um autor esteve tão próximo às verdades de Amy quando diz que “Estar apaixonado é estar mais próximo da insanidade do que da razão.” (Sigmund Freud). E com este amor a insanidade se instalou na vida desta garota, de deusa da música, passou a ser vaiada, não se lembrava das letras das músicas e sua presença já não tinha mais tanto glamour. E ela despretensiosamente só queria cantar.

Pois bem, todos sabem destes percalços e por todos os outros pelos quais Amy passou, a contextualização se fez necessária para que possamos através de um olhar psicológico e de alguma forma tentar percorrer os mundos que nos fazem sucumbir dentro de nossas sombras, dos nossos medos, nos tornando frágeis e sem forças para lutar. O que aconteceu com Amy, onde morava sua fragilidade, o que a fez desistir de viver, o que a fez desistir de um talento tão sublime e raro, o que a fez desistir de si mesma, o que a desassociou, onde morava este fantasma de destruição? A pressão social a esmagou, os deslumbramentos da fama sobrepujaram os cuidados que deveriam ter tido com sua trajetória, as estruturas emocionais foram frágeis? Este é um texto de perguntas, embora saibamos que suas respostas se foram, basta a nós a triste suposição do que teria ocorrido em seu mundo interno.

Imagem de Shrooomy por Pixabay 

Amy perdeu-se, e seu coração também.

Se formos adentrar no conceito de Sombra de Jung, poderíamos supor que pelo lado obscuro da mente de Amy haveria sentimentos que ela reprimia e dos quais ela ao amadurecer não os enfrentou e esta mesma repressão sugere um mergulho nos mais fundos abismos, um lugar onde ela talvez não desse conta de acessar e por isso teria sucumbido na escuridão?  Quem era esta menina na verdade, era um duplo, misto de estrela e de criança ferida? Segundo Stevenson, 2008 o que escondemos nos faz duplos. “escondi meus prazeres e “já estou comprometido com uma profunda duplicidade de vida” (Stevenson, 2008, s.p.) Poderíamos supor que calando o duplo ele poderia ter maior alcance sobre nós, talvez até mesmo pela ordem do ego, tornar-se nosso maior inimigo?

Amy certa vez disse que “não era uma garota tentando ser uma estrela, que era apenas uma garota que cantava”, ou seja, para ela não havia duplicidade, ou ela não a enxergava, seu mundo ainda era só o canto pelo canto. Mas tanto sucesso num tempo recorde a levou a consequências tais, que a garota que apenas queria cantar se viu consumida e enquanto era consumida pelas drogas, Amy vivia lidando com as estranhezas do mundo adulto , construindo ficções, perdendo aos poucos os sentidos que a norteava, a sensibilidade de perceber-se, deixou-se consumir pela perversão dos momentos que a engoliram, dando a ela a figura da decadência, do descaso consigo mesma. Dizem que a arte em si é uma força tão suprema que às vezes destrói as coisas que toca e rompe com quem não é capaz de entendê-la.

Imagem de Hasty Words por Pixabay 

Seus vícios, seu mundo.

Sabemos que por trás do mundo das artes e dos holofotes existe uma grande pressão por performance, a exposição é extrema, não se tem mais vida privada, rotina é um luxo que muitas vezes o dinheiro não pode comprar. A ansiedade e as tensões fazem parte corriqueira deste contexto, o que a longo prazo ocasionam mudanças de comportamento, transtornos. Nestes momentos podem surgir busca de uma válvula de escape que os faça suportar tanta sobrecarga de tensões: Os problemas começaram ali? A pergunta é, as demandas da fama por si só acarretam tantas privações de felicidade, ou as sombras ocultas, as que Amy não resolveu antes ofuscaram seu discernimento para viver o que tanto queria?

A necessidade de fuga de uma vida aflitiva e desgastante podem ser decorrentes de depressões e irrealizações afetivas internas, e são muitas vezes causadoras de quedas vertiginosas em paraísos sem sol. Nas aparições de Amy, podíamos notar pelos seus gestos o encolhimento do seu eu, por fim era um descompasso de “não sei onde estou, não sei o que estou fazendo, nem sentindo, não sei mais quem eu sou”. Seria a causa disso uma incapacidade de resistir ao vício, e isso a tolhia a ponto de limitar seu verdadeiro eu?

Teria sido ela impelida por esta força estranha que move os artistas em direção ao caos, porque essa conduta persistente rumo ao nada? São tantas perguntas sem respostas, e tantos lágrimas sem lenços à mão; talvez, só talvez ela não tenha tido a capacidade de lidar com a sua realidade concreta, buscando refúgio no que lhe parecia seguro, o abster-se de sua consciência, o que podia lhe trazer certo alívio para as disfuncionalidades e o caos que se tornou seu mundo.

Imagem de Piyapong Saydaung por Pixabay

Ela só queria cantar.

Nunca saberemos o que Amy pensava, sentia ou temia, ela não está aqui para nos contar, ela se foi junto às suas verdades ocultas, junto às suas sombras. Segundo Jung sobre a sombra, “quanto mais escondida ela está da vida consciente do indivíduo, mais escura e densa ela se tornará. De qualquer forma, é um dos nossos piores obstáculos, já que frustra as nossas ações bem intencionadas.” (Carl Jung). No documentário da vida da cantora, percebe-se o quanto ela foi engolida, arrastada, para onde visivelmente ela não queria estar, era notório o desconforto de Amy nos palcos, embora ela fosse uma estrela de grandeza suprema, notava-se em seu olhar o vazio de quem precisa de algo mais, de algo que não lhe deram, ou que ela própria se negou.

Diziam de Amy que sua carência afetiva era muito grande, e isso transparece em suas músicas, em sua voz, em seus vícios. Sua dor infantil cresceu junto a ela e não mais soltou suas mãos, nem tão pouco sua alma que incessantemente buscou abrigo, sem jamais encontra-lo. Seu pai e seu marido foram figuras bastante pernósticas, colocando várias pás de cal nos buracos do mundo de Amy, ela foi usada por eles, pela voracidade dos fãs e por sua total falta de ânimo para lutar contra os demônios deles e os seus próprios. E assim se foi Amy, em meio aos flashs, sucesso, aplausos, ganância, ela se foi de um mundo que não a compreendia, num mundo onde ela não cabia. A realidade crua e nua se tornou insuportável ou até mesmo intolerável, até que ela criou um mundo só dela, desejando ardentemente que este novo mundo se tornasse um refúgio para seus pesares?

Imagem de Dieterich01 por Pixabay

Calou-se a voz…

Calou-se a voz. Calou-se a voz, calou-se o canto, deixando-nos órfãos da beleza de seus acordes, da sinceridade de suas letras, do sofrer sem entender, do pesar de não poder ajudar. Não deu tempo de trabalhar suas sombras, eram muitas e elas venceram, estavam nela, estavam nos seus pares, elas a invadiram, a engoliram. Seus demônios eram ferozes demais para sua parca luta, ela não soube, ela não pôde, ela calou-se. Junto a ela calamos todos e ficou aquele vazio de tudo um pouco, ficou a mudez de quem pouco entende dos que sofrem do mal de não saber dar limite ao outro, de não saber dizer não, ela foi um pouco mais, um pouco mais, se esticou demais, se partiu, se fragmentou, se dissolveu. E ela só queria, cantar. Fica em nós o dever de buscar o que cala o outro, que fio tênue é este que devora a vida, como resgata-lo, como fazer as perguntas certas nas horas incertas, como ouvir o silêncio de um grito?

Referências

BARROS, Karin. 2015. Documentário sobre a vida de Amy Winehouse tem última exibição em Florianópolis nesta terça. Disponível em: https://ndmais.com.br/cinema/documentario-sobre-a-vida-de-amy-winehouse-tem-ultima-exibicao-em-florianopolis-nesta-terca/. Acesso em 06/03/2023

Quem é Amy Winehouse? Disponível em:https://www.mensagenscomamor.com/mensagem/111551. Acesso em 22/02/2023

RAMOS, F. Karin. 2014. O CONCEITO DE SOMBRA E O AVESSO DA REALIDADE: UMA ANÁLISE HISTÓRICA E LITERARIA DE SUAS REPRESENTATIVIDADES. Disponível em: https://anais.unicentro.br/proic/pdf/xixv2n1/255.pdf. Acesso em 22/02/2023.

ROZA, Thais. 2015. Freud Explica. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4501572. Acesso em 07/03/2023

SABATER, Valéria. 2022. Arquétipo da sombra: o lado escuro da nossa psique. Disponível em: https://amenteemaravilhosa.com.br/arquetipo-da-sombra/. Acesso em 22/02/2023

Tradução Back to black de Amy Winehouse. Disponível em: https://www.vagalume.com.br/amy-winehouse/back-to-black-traducao.html. Acesso em 06/03/2023

TRINDADE, Rafael. 2023. Schopenhauer – Nossa conduta para com o destino do mundo. Dsponível em: https://razaoinadequada.com/2020/03/15/schopenhauer-nossa-conduta-para-com-o-destino-do-mundo/. Acesso em 06/03/2023.

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MOM – A determinação de uma mãe

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Nunca subestime o amor de uma mãe

Fonte: encr.pw/lQdby

Devkay (Sridevi Kapoor), está brilhante neste papel de mãe absolutamente apaixonada pelos filhos. Sua filha Arya (Sajal Aly), vai a uma festa e na saída é estuprada por quatro criminosos, levando-a quase à morte. Por não conseguirem justiça Devkay começa a urdir uma vingança, pois sua alma ferida de morte não aceita que a filha seja injustiçada. Por si só esta narrativa seria muito interessante de discorrer, pelos seus altos e baixos, pela dor da filha agredida, a dor dos pais pela impotência, os vários desdobramentos psicológicos aos quais à família passa a viver. O filme chama a atenção do público para o problema social em que vivem as mulheres na índia, deixando em evidência os estupros coletivos, segundo Fundação Thomson Reuters, a Índia liderou o ranking de violência contra a mulher e foi considerado o país mais perigoso do mundo para elas viverem.  Segundo a entidade, os estupros registrados pela polícia aumentaram em 83% entre 2007 e 2016, entre muitos outros fatores sociais. Mas vamos nos ater à vingança. Depois do episódio ocorrido, gera na família uma grande angústia deixando os dias serem arrastados num conflito interior que chega ser visível aos olhos de quem assiste. Teríamos material para discorrer também neste tocante por várias laudas, mas o que desejo tratar aqui é sobre a vingança, articulada, planejada e executada. 

Devkay se une ao detetive particular Daya Shankar (Nawazuddin Siddiqui), em sua vingança
Fonte: encr.pw/w6XTl

Pois bem, ao ver que a justiça não será feita e que os algozes sairão pela porta da frente dos tribunais tendo uma vida normal, e que sua filha talvez nunca mais se recuperasse dos danos físicos e morais a que foi exposta, Devkay resolve fazer justiça com as próprias mãos.  Talvez nem ela soubesse a força que teria para pouco a pouco ir dizimando os culpados pelos padecimentos que ora passa sua família. O mais atraente nesta película é que não se trata de uma vingança qualquer, a mãe articula seus passos de uma forma organizada, pensada, coloca todo o peso de seu coração, da sua emoção esmagada pelo constrangimento do ocorrido. Devkay sem cismar assumiu dentro de si a síndrome de Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, bastava saber qual deles ela alimentaria mais. Podemos até vislumbrar Devkay em sua luta, pensando encimesmada como o Mr.Hyde, ou nós apenas supomos que ela teria esta luta moral dentro de si e por isso pensaria após cada ato de vingança: vi-me diante da encruzilhada fatal, poderia ter me tornado um anjo, ao invés de um monstro, doravante terei duas personalidades. Não me pareceu que ela hesitasse.

Primeiramente Devkay se une a Daya, detetive particular que a ajudou investigando os passos dos meliantes, pois a polícia nada pôde fazer diante do poderio dos acusados. A vingança começa. O primeiro estando muito bêbado foi atraído por uma mulher em um bar, e ao acordar, se viu sem seu pênis, havia literalmente sido castrado; horrorizado com o acontecido, entrou em desespero, caiu no banheiro e veio a óbito. Por sua vez, ela mantém suas funções normais de mãe, dona de casa e professora, se mantém impassível, como se existisse ela, a família e o drama particular que os acometia. Como Devkay era bióloga tinha grandes conhecimentos nesta área e usou disso para sua segunda vingança que alcançaria dois acusados, ela fez cianeto de sementes de maça na casa do acusado, colocou em seu suplemento alimentar e fez parecer que tinha sido o amigo. Ele não morreu, mas se tornou incapaz, e o outro foi preso suspeito de cometer o ato criminoso. Segundo estudiosos do assunto, ingerir duas chávenas de sementes de maçã moídas pode ser fatal. Um grama de sementes de maçã finamente esmagadas ou mastigadas pode fornecer até 0,06-0,24 mg de cianeto, alerta um nutricionista.

A máxima da época da babilônia “olho por olho, dente por dente” estava prevalecendo na trama. Esta máxima servia para descrever a lei de talião (ou lei da “retaliação”) como maneiras de “acerto de contas, o agressor sendo punido em igual medida do delito cometido. A mãe não se dava por vencida, cada vez mais seus esforços se multiplicavam em prol da punição dos malfeitores, não ficamos felizes quando descobrem que é ela e ainda por cima , ainda matam seu marido; embora no final o último acusado tenha sido morto por suas mãos. A vingança como povoa nosso imaginário, pensar nela como uma forma de restabelecimento de danos que ficaram com as aparas soltas, assim como se fosse um equilíbrio morno dos danos sofridos. Como nossa mente vagueia junto a esta mãe, como se estivéssemos dando-lhe asas, infringindo-lhe forças para que continue, para que não pare, sentimos juntos a sua dor, sua revolta e queremos junto a ela que se faça justiça.  E junto a ela assumimos também nossa porção Mr. Hyde.

Mom no auge de seus pensamentos de vingança.
Fonte: encr.pw/lQdby

É um filme notável e instigante do começo ao fim, nos coloca dentro da trama, nos coloca sendo essa mesma mãe querendo vingança, é inteligente com atuações dignas de nota. Pelo lado da vingança em si, notamos que a medida que trama e a vingança vai acontecendo,  Dvekay vai se tornando arredia, triste, nada abala seus propósitos, mas seu viço aos poucos vai sumindo, se extinguindo, talvez pela  sombra que já ameaça extinguir com sua luz interna, que se perdeu naquele fatídico dia nos tribunais. Segundo a dra. Gwen Adshead (2022, s.p.) “todos nós temos a capacidade de produzir muita maldade, embora a maioria de nós felizmente nunca o fará, a maioria de nós temos demônios que precisam ser explorados”. Será que foram estes demônios que sobrepujaram o raciocínio de Devkay, ou o nosso quando nos sentimos impelidos a desejar o mau do outro? Ou foi realmente só o amor pura e simplesmente, querendo reparos para suprir a dor da pessoa amada que foi atingida, são tantos questionamentos, acerca do filme e de nós mesmos.

Podemos crer também em alguns estudiosos que nos garantem que somos ao mesmo tempo luz e sombra, e que quando nos deixamos levar por nossas emoções em descontrole a sombra prevalece. É assustador pensar que existe tanta sombra dentro de nós que nos faça ser maus, mas deixando a moral estética de lado, por que nos sentimos tão fascinados com filmes como este, qual a mola que nos movimenta quando torcemos por Devkay, será que nossas sombras, ou seja, tudo que nós negamos ou reprimimos pode se expressar de forma negativa? A psicanalista Andréa Ladislau salienta que “A sombra é um ‘eu escondido’ cujas manifestações são rejeitadas por nós a todo o tempo”. será que se tivéssemos condições que favorecem maus comportamentos, usaríamos a barra da moral como intervenção como cura interna?  é melhor que saibamos, pois de uma coisa temos certeza, de médicos e monstros todos temos um pouco. Assistam, super recomendo, e questionem-se, quem é você diante desta história?

DETALHES TÉCNICOS                      

Nacionalidade Índia

Ano de produção 2017

Tipo de filme longa-metragem

Idiomas Hindi.

MOM

Diretor: Ravi Udyawar

Elenco: Sajal Aly, Sridevi Kapoor, Nawazuddin Siddiqui

Referências

Biblioteca Pública do ParanáCândido 134 — janeiro de 2023. Romance gráfico – O médico e o monstro. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Romance-Grafico-O-Medico-e-o-monstro#:~:text=Jekyll%2C%20um%20respeitado%20m%C3%A9dico%20ingl%C3%AAs,XIX%2C%20um%20amigo%20do%20Dr.. Acesso em 28/02/2023

CANDIDO, Isabella. 2020. Disponível em: https://contrapontodigital.pucsp.br/noticias/onda-de-estupros-coletivos-faz-da-india-o-pais-mais-perigoso-para-mulheres-viverem. Acesso em 28/02/2023

Como extrair o cianeto da maçã? 2020/2023. Disponível em: https://treinamento24.com/library/lecture/read/702069-como-extrair-o-cianeto-da-maca. Acesso em 28/02/2023.

NABUCO, Cristiano. 2019. A psicologia da vingança: o outro lado da moeda. Disponível em: https://www.fasdapsicanalise.com.br/a-psicologia-da-vinganca-o-outro-lado-da-moeda/. Acesso em 27/02/2023

SERRANO, Carlos. 2022. ‘Todos temos potencial para virar monstros’, diz especialista em serial killers. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-61310756. Acesso em 27/02/2023

Todos temos um “lado sombra” da personalidade: o que é e como lidar com ele. Portal de Divulgação Científica do IPUSP-Instituto de Psicologia da USP. Disponível em: https://sites.usp.br/psicousp/todos-temos-um-lado-sombra-da-personalidade-o-que-e-e-como-lidar-com-ele/. Acesso em 28/02/2023

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A importância das lendas para a formação sociocultural

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A história é a verdade que se deforma, a lenda é a falsidade que se encarna – Jean Cocteau

Curupira, o grande protetor das florestas; Fonte: Imagem de Alieide por Pixabay.

Desde que o mundo é mundo compartilhamos inúmeras histórias, advindas de vários povos cada um em seu canto, e essas histórias perpassam as pessoas, fazendo delas o que são; a história de cada povo, sua cor, sua linguagem, suas crenças e valores, o que comem, suas vestimentas, suas preferências musicais, suas expressões artísticas, como se manifestam no amor, na guerra ou na dor. Isto tudo nos faze únicos e diversos em nossas culturas e o que comumente chamamos de diversidade cultural. Além destes elementos que são inúmeros, é esta dita diversidade que nos denomina. Ela pode dizer das diferenças, da pluralidade e da multiplicidade, ou seja, é a diferenciação dos indivíduos e de suas várias formas de ser no mundo.

Dentre os tipos mais importantes de diversidade, podemos destacar as étnicas, socioeconômicas, biológicas, cultural, religiosa e social. O Brasil é tido como destaque em diversidade étnica, somos uma grande explosão de indivíduos que fazem de nós uma variedade de povos, variedade esta pouco encontrada em outros lugares. Acompanhando nossas inúmeras diferenças de crenças, culturas e costumes, temos também um arcabouço enorme de folclore do nosso povo e que são de uma riqueza sem igual, são manifestadas através de histórias narradas (lendas), danças típicas, linguagens, superstições, catira, crenças, culinária, dentre outras.

E é sobre estas lendas que o texto tem intenção de dissertar, procurando levar ao leitor a importância que elas carregam, bem como a relevância de passarmos às gerações futuras o conhecimento das mesmas, pois esquecê-las, seria perder nossas memórias, nossas tradições e nossa identidade. Além disso, é uma forma rica de as crianças e ou/adultos, fazerem descobertas através da imaginação e ir construindo o seu nicho de realidade dentro das histórias. Estarmos inteirados do mundo que nos cerca de uma forma lúdica, também nos aproxima da construção do mundo real. O ato de imaginar nos possibilita criar formas onde no mais recôndito do nosso ser, floresça o melhor que há em nós.

Saci, o rei das travessuras; Fonte: Imagem de dinhochiz por Commons.wikimedia

Nossas lendas são histórias narradas que tem como propósito explicar eventos místicos e de onde eles surgiram, elas expressam nossos valores históricos, nos transportando para além da narrativa, causando em nossa imaginação o poder de estar naquele momento do acontecido. Os povos mudam, o tempo passa, mas nossas lendas permanecem (ou deveriam permanecer), e são passadas de pais para filhos, numa eterna e prazerosa reedição, passando assim como um telefone sem fio, com algumas mudanças aqui e ali, mas sem jamais perder a sua essência primeira, se tornando parte do enriquecimento de nossa cultura.

Clarice Lispector em sua riqueza literária faz os seguintes questionamentos:

Uma lenda é verossímil? Sim, porque assim o povo quer que seja. De pai para filho, de mãe para crianças, é transmitida uma fabulação de maravilhas que estão atrás da História. Como ao redor de uma fogueira em noite escura, conta-se em voz sussurrante um ao outro o que, se não aconteceu, poderia muito bem ter acontecido nesse imaginoso mundo de Deus. E assim oralmente se escreve uma literatura plena e suculenta, em que o espírito secreto de todo um povo vira criança e brinca e “faz de conta”. Brinca? Não, é muito a sério. Pois o que é que pode mais do que um sonho? (…) […]. As lendas são uma potência. Elas procuram nos transmitir alguma coisa importante que se passa na zona penumbrosa e criativa popular. E o que não existe passa a existir por força mesmo de seu encantatório enredo. Nos grandes centros culturais brasileiros, as lendas infelizmente se perdem, menosprezadas por uma civilização que luta pela vida real. (LISPECTOR, 2015, p. 3-4)

Sim, Clarice está certa, o povo quer que suas histórias tenham um total cunho de verdade, e tem. Quem nunca viu um redemoinho que surge do nada, arrastando papeis, terra e poeira em seu movimento em espiral, e pensou: Olha o Saci com suas brincadeiras; se nossa imaginação for fértil, podemos até vislumbrá-lo em meio ao espiral de poeira.

Para os que não têm conhecimento, o Saci Pererê é uma lenda que surgiu no Sul do Brasil, entre os índios Tupi-Guarani por volta do século XVIII. Trata-se de um menino negro de uma perna só, que faz arruaça por onde passa e não era um só, existiam mais versões do moleque, sendo elas: Saci-Cererê, Matimpererê, Matita Perê, Saci-Saçurá e Saci-Trique, todas as versões usavam um short vermelho e um gorro da mesma cor. Após sua morte, ele virava um cogumelo venenoso.

O Saci ganhou grande fama ao ser agraciado pela escrita de Monteiro Lobato, dando-lhe visibilidade no mundo inteiro. Além de tudo isto ele tem seu próprio dia, 31 de outubro. A data é fruto do Projeto de Lei Federal n.º 2.479, que foi elaborado pela Comissão de Educação e Cultura, em novembro de 2013, pelo deputado federal Chico Alencar e pela vereadora Ângela Guadagnin. A intenção é a valorização de nossa cultura e se justifica da seguinte forma,

Entendemos que a comemoração anual do “Dia do Saci” permitirá um contato sistemático com a variedade e a beleza das tradições do País, de modo a fortalecer o processo de consolidação da identidade nacional bem como a autoestima do povo brasileiro. (Projeto de Lei Federal n.º 2.479, 2013.).

Podemos através deste projeto de lei vislumbrar a importância que nossas raízes tem para todos nós, e o quanto precisamos, todos, resgatar essa fonte inesgotável de criatividade, do fazer refletir acerca de nossos valores e tradições. Repassar essas tradições é uma forma de perpetuar nossa cultura. É isso que continuaremos a fazer por este mágico passeio pelas lendas e entendê-las um pouco mais.

Em algum momento vocês já vislumbraram um moço bonito saindo de um rio a noite (pois sim, o Boto tem hábitos noturnos), e pensaram, que quem sabe aquele maroto garoto, poderia ser um boto disfarçado de moço, que saiu para encantar alguma bela donzela? O Boto é tido na lenda como um vilão, pois sua magia encanta as jovens que se entregam a ele, e ele as abandona. Dizem as más línguas, que as mães solteiras foram visitadas pelo Boto. Esta lenda tem origem no Norte do Brasil.

Boto em forma humana seduzindo uma bela donzela; Fonte: Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

Há um canto sereno e profundo que encanta os pescadores, quem conhece sabe que é de Iara, a linda moça das águas que seduz e leva os homens para o fundo do rio. Esta moça é de rara beleza, metade mulher e metade peixe, é rica, linda e dona de uma voz encantadora. Por ser muito bonita, seus irmãos tinham inveja dela e a tentaram matar, mas ao contrário disso, ela que matou seus irmãos; como castigo seu pai a jogou no rio negro, e os peixes a salvaram e ela se transformou em sereia. Apesar de ser grandemente propagada por todos nós, esta lenda tem origem europeia, e foi espalhada entre nós através dos índios, que a tem como a mãe d’água.

Iara atraindo os navegantes com seu canto; Fonte: Sergei Tokmakov, Esq. https://Terms.Law

E para não perdermos o fio da meada, que moça não teria medo de encantar-se por um lindo padre (Hoje em dia temos uns belíssimos) e virar uma mula sem cabeça, em alguns casos será que valeria o risco? Na lenda reza que a moça que se encantava por um padre e acabava cedendo aos desejos carnais, fatalmente virava uma mula sem cabeça e saía louca e desvairada agredindo a quem passasse. O padre? Não, ele não era castigado, diziam que o castigo deles seria no plano divino. Acredita-se que esta lenda era contada como um sossega leão para as moçoilas mais afoitas, tipo um reforço para a prevalência dos “costumes morais”.

Invariavelmente as mães cantam para seus bebês dormirem, apesar do carinho na voz, soa como uma ameaça: Dorme neném que a Cuca vem pegar. Quase todas as crianças têm certa intimidade com a Cuca, com o boi da cara preta, o bicho-papão, o Tutu marambá. Deste jeito de carinho em forma de monstros imaginários as crianças foram cristalizando em si, as histórias de nosso povo. São tantas as manifestações culturais em forma de lendas que elas se tornam primordiais no resgate de nossas raízes a fim de tornar robusta nossa identidade. É necessário e urgente falar, contar, incentivar nossas crianças no contato com este acervo riquíssimo, para não incorrermos no risco de perdermos nossa origem cultural, como salienta Clarice no final de sua citação, seria um prejuízo enorme, seria o fim do diálogo com nossa ancestralidade. Segundo Roque Laraia (2001), antropólogo, “A cultura é uma lente através da qual a gente vê o mundo”.

Seria interessante que o folclore fosse uma matéria obrigatória para nossas crianças, com o intuito do desenvolvimento de espírito de nacionalidade, de pertencimento, uma maneira de descobrir-se como alguém dentro do universo, mais que isso, um cidadão do mundo, um conhecedor de suas raízes, identificando-se dentro de seu grupo, dentro de sua comunidade. Além do respeito às diversidades, o que indubitavelmente o faria um cidadão cônscio de seus direitos e deveres, um cidadão empático, tolerante e acima de tudo, respeitando a si mesmo e as pessoas que o cerca. Convido-os a saber mais sobre os personagens que não me aprofundei em suas histórias. Vale a pena passear por este mundo místico e encantado, sempre é tempo de libertarmos esta criança que existe dentro de todos nós. Permita-se.

Podemos começar assim: Era uma vez…Quanta imaginação cabe nesta simples frase, através dela podemos criar o que quisermos, deixar fluir nossa criatividade e revisitar todas estas histórias; e replicá-las aos nossos pequenos, para que eles não percam a magia e dentro dela se faça tão repleto de beleza, que sinta a necessidade de replicar e replicar, sem que nunca se perca essa linda forma de perpetuar nossos contos.

Era uma vez um gato xadrez que pelo simples fato de ler, de uma só vez levou cultura para mais de três. Seja como o gato Xadrez, replique de forma que as histórias se instalem de vez, porque alguns autores assim como Clarice, vê as lendas se extinguindo e junto a elas lá se vão nossas raízes, e nosso imaginário ficando mais pobre dia a dia. Replique.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Andréa. 2019. Personagem folclórico que vive na floresta. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/artes/saci-perere. Acesso em10/02/2023

BEZERRA, Juliana. 2011. Cantigas de ninar – Folclore. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/cantigas-de-ninar/. Acesso em 10/02/2023

SILVA, Santos Dias Filipe.2021. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS POPULARES. Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/602304/2/eBook_Manifestacoes_Culturais_Populares.pdf. Acesso em 10/02/2023

SILVA, N. Daniel. Boto-cor-de-rosa. (s.d.) Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/folclore/boto-corderosa.htm#:~:text=Trata%2Dse%20de%20um%20cet%C3%A1ceo,%C3%A0s%20festas%20para%20seduzir%20mulheres.. Acesso em 15/02/2023

WANDERLEY, Araújo Naelza. 2021. “Os adultos como eu, também criam lendas”: Clarice Lispector. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/view/116725. https://doi.org/10.22456/1981-4526.116725. Acesso em 08/02/2023

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Beverlei dos Reis Rocha: Nuances entre a escrita e as terapias integrativas

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Beverlei no Lançamento da Antologia Singularidade das Palavras, na Editora Scortecci, dezembro de 2019

Sônia Cecília Rocha – soniacecirocha@gmail.com

O Encena entrevista Beverlei dos Reis Rocha, 73 anos, Analista Administrativo do Conselho Regional de Psicologia de Goiás-CRP-09, há 16 anos, onde exerce a função de Coordenadora Administrativa.

Dentre suas atribuições está a realização de palestras aos discentes de Psicologia, sobre os procedimentos administrativos para início da carreira profissional.

Poetisa com poesias publicadas nas antologias poéticas: Poesia Livre (2019 e 2021), Sarau Brasil (2019, 2020 e 2021) e Poetize (2020, 2021 e 2022), pela Editora Vivara; Singularidade das Palavras (2019), Minuto de Tudo (2020), Esboços da Alma e Palavras do Cotidiano (2021), Scortecci 40 anos e Frações de Tudo (2022), pela Scortecci Editora; Poesia Agora – Primavera, pela Editora Trevo, e Coletânea poética nova poesia, pela Clipe Editora.

Estudiosa, está sempre buscando novos conhecimentos. Possui formação nas terapias Reiki, Floral de Bach, Radiestesia e Tarô.

(En)Cena: Beverlei, nos conte um pouco de sua trajetória, entre o trabalho, as terapias integrativas até o despertar pela escrita.

Sou de uma geração que começou a trabalhar muito jovem. Meu primeiro registro profissional formal se deu aos 14 anos (a famosa Carteira Profissional assinada), e continuo na ativa até o momento, sem previsão de parar.  Depois de tantos anos em intensa movimentação não consigo me ver num ritmo mais calmo.  As terapias integrativas entraram em minha vida a partir de 2014, quando minha filha caçula, já adulta e graduada, foi aprovada em concurso no Rio de Janeiro e o silêncio da casa vazia começou a incomodar. Como tinha várias amigas que sempre me convidavam para os cursos, resolvi experimentar e amei a experiência. Quanto à escrita, sempre fui uma leitora voraz desde a adolescência.  E desde lá, fazia algumas tentativas, porém, sem muito foco.  Quando veio o casamento e os filhos, a atividade foi esquecida. Com o fim do casamento e o voo dos três filhotes em busca de suas próprias jornadas, o desejo da escrita foi se intensificando.  Por incentivo da querida amiga jornalista Maria Cristina Furtado, hoje funcionária da rádio da Universidade Federal de Goiás, iniciei a publicação dos poemas em 2019.

(En)Cena: Qual foi o gatilho para que você entrasse no mundo da poesia, ou seja, qual foi o seu primeiro e decisivo ato literário?

Como disse, o desejo da escrita já existia, mas o gatilho para a concretização foi a necessidade de preencher as horas de silêncio que reinava no intervalo entre o jantar e a hora de dormir, pois nunca apreciei muito a TV e a música aguçava ainda mais a solidão; então, além de ler, comecei a escrever, e me apaixonei por este delicioso exercício. Foi assim como me apaixonar por alguém. Acabei descobrindo em mim e ao meu redor aspectos que me inspiravam, além de me ver vivenciando novas possibilidades. Estar à frente de algo desconhecido, mas ao mesmo tempo tão íntimo para mim, porque não me dar esta oportunidade de viver novas e inteiras paixões?

(En)Cena: Quando começou a escrever tinha algum escritor(a) que te inspirava, ou estes sentimentos narrados em escrita eram só seu eu ou algo implícito se expondo?

Sempre li bastante: romances, poemas e outros estilos. Penso que na experiência da leitura sempre ficamos com algumas notas de determinados autores. No meu caso, me identifico muito com autoras(es) que tocam a alma e os sentidos, sem receio de julgamentos. Impossível enumerar, aqui, todas as autoras e autores que aprecio, no entanto destaco Florbela Espanca, Gilka Machado, Lou Salomé, Clarice Lispector, Ligia Fagundes Teles, Adriana Calcanhoto, Charles Bukowskie, Caio Fernando Abreu, Zack Magiezi.

(En)Cena: Quando você começa a escrever precisa de um clima especial, um ambiente, ou em qualquer lugar ou estado de espírito lhe vem as inspirações?

As ideias podem até vir ao longo do dia, em qualquer lugar, mas só desenvolvo, em casa, à noite, em meu cantinho mais que especial, é neste cantinho que minha mente coloca em prática as ideias que me surgiram ao longo do dia, da semana. Vou juntando fragmentos dos pensamentos que povoam meu imaginário, ou minha realidade vivida.

(En)Cena: Qual o tema que fala mais alto em seus poemas e por quê?

A solidão e a saudade são temas sempre presentes, pois representam a realidade vivida.

Nem sempre é aquela solidão de sentimento de vazio, este sentimento não me pertence, estou sempre cheia de mim, das minhas ideias e sentimentos, é a solidão da saudade de um ente querido que se foi.  Nem tão pouco um sentimento de isolamento, nem de perdas emocionais, é uma aragem que passa e me traz inspirações. Minha solidão é livre, não é imposta e a saudade, áaaa a saudade, ela tanto dói, quanto inspira.

(En)Cena: Quando você está quase adormecendo lhe vem uma ideia, deixa para pensar no dia seguinte ou levanta-se imediatamente para escrever?

Deixo para a noite seguinte. Sou muito dorminhoca e depois de me deitar, não me levanto por nada, mas quando me levanto as ideias estão lá borbulhantes, doidas para sair da mente e ir para o papel.

Fontes de imagens próprias
(En)Cena: Você bebe de outras fontes de escrita que não sejam as suas próprias?

Sim, várias. Sou uma ávida leitora e entre tantos escritores brilhantes tem sempre algum que nos remete temas que gostaríamos de representar. Ouvir a voz dos seus personagens e deixar com que se misturem aos meus, porém com minhas conotações, com a minha maneira de ver e sentir algo ou alguém e que juntos se tornem uma multidão de personas falando por eles e por mim mesma.

(En)Cena: Você acha que Sentimentos negativos são motores bem regulados para a criação de uma obra? Caso seja nos conte como usa-los sem que a obra fique pesada.

Existem autores que possuem obras magistrais inserindo sentimentos como o ódio, a inveja, a cobiça, a avareza, a maldade. Eu, portanto, não os uso com frequência, a bem da verdade quase nunca. Por esta razão não me vejo capacitada para indicar o caminho.

(En)Cena: Quando você lê um romance, vê um filme, tem uma tendência de mudar o final?

Não. Sou profundamente respeitosa com o ato da escrita de alguém. Escrever, embora romantizado, é um ato de sofrimento, pois até chegar ao final desejado, você acorda e adormece vários dias remoendo as ideias. Nunca permiti que meus filhos chegassem em casa com cópias de livros. Pedia até empréstimo bancário para adquirir os originais solicitados pelos professore

Fontes de imagens próprias

(En)Cena: Como é seu processo de escrita, vai amadurecendo a ideias, ou são rompantes de criação?

90% dos textos são frutos de amadurecimento de ideias; os demais, são inspiração única e instantânea. Eu já desisti de buscar uma resposta para minhas inspirações, é algo abstrato, que não se toca, não se define, apenas vem. Às vezes, ouvir alguém declamando uma poesia já é o bastante para fazer com que meu imaginário se encha de inspirações; em outros, basta que eu veja uma flor, um galho seco ou qualquer coisa sem sentido no meio da rua.

(En)Cena: Suas poesias tem sentidos implícitos, se tem são perceptíveis? Seu talento mora nas entrelinhas?

Algumas têm. Acredito que são perceptíveis para um bom observador. Gosto de entrelinhas. Gosto desta brincadeira de construir sentidos, captar os sentimentos que não estão claramente expressos.

(En)Cena: Tem momentos da mais pura falta de imaginação, o que lhe ocorre quando isto acontece?

Sim. Quando ocorre, simplesmente me dedico à leitura e outras atividades, e fico tranquila.

(En)Cena: Qual a importância que você vê nas poesias no mundo contemporâneo?

Vejo a poesia como uma grande aliada das atividades de resgate da alegria e da autoestima. Às vezes sou convidada para palestras no encontro mensal do Death Café e outras instituições, com grupos de pessoas que estão vivenciando perdas graves, seja de familiares ou do estado de saúde. Quando encerro a apresentação, as pessoas estão alegres, motivadas, desejosas de também expressar seu sentimento e esquecidas dos motivos que as levaram ali.

(En)Cena: Beverlei, em sua opinião o mundo hoje em dia carece de mais cultura,

Porque e qual a função social da literatura?

Sim. Não somente da literatura, mas de todas as expressões da arte e da cultura, já que cada pessoa tem uma preferência artística. Como já disse, a arte nos motiva a vencer as dificuldades e as dores.  Acho que a poesia em especial dá mais riqueza às emoções, aguça nossa sensibilidade nossa percepção, precisamos de poesia para viver, se não á escrita, aquela que mora dentro de nós, sem poesia somos tristes, somos pobres.

(En)Cena: Você pretende algum dia viver só de poesia, ou você crê que as pessoas não dão o devido valor na cultura que elas carregam?

Nunca pensei em viver só da poesia.  Embora tenha havido um despertar para a literatura, principalmente nos últimos três anos, devido à reclusão vivida pela Pandemia, ainda acho o mercado literário pouco valorizado.

(En)Cena: Deixe sua mensagem aos que sonham, mas não realizam.

Recomendo que bebam na fonte de Gonzaguinha: “Viver…e não ter a vergonha de ser feliz…cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz…”.

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Anos nem tão dourados: a triste infância de Ciça

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“Enquanto fenômeno socialmente construído, incorporada como legítima e, mesmo, como imperativo, a violência prende-se às próprias condições de constituição e de funcionamento de uma sociedade de homens livres.” (ADORNO, 1988, p. 5).

No dia 15 de agosto de 1956 às 18 horas de um dia de sexta feira, nascia Ciça, um belo bebê saudável que pesava 4 kg. Ciça veio de uma gravidez não desejada, num lar disfuncional e muito, muito pobre de recursos materiais, bem como emocionais. O bebê era a quarta de uma família de seis agora, a mãe trabalhava dia e noite lavando trouxas enormes de roupas, que mal dava conta de carregá-las. Maria era linda e loira, olhos azuis da cor do mar em calmaria, só a cor que lembrava a calmaria. Sua pele muito branca fazia um contraste dolorido com o sol quente. As condições de trabalho eram precárias, três bacias, água tirada na cisterna puxada por uma corda, onde tinha um balde pendurado, (chamava-se sari). 

O sol castigava, pois não havia proteção, o trabalho era realizado durante o dia todo debaixo daquele sol escaldante, ou da chuva, tinha quatro filhos para alimentar. O pai de Ciça aparecia de vez em quando com um pacote de arroz, e por meses a fio não se ouvia falar dele. Na época pouco se sabia sobre a história deste moço, por onde andava, o que fazia, pensava na família? Pois bem, em meio a estes eventos, lá ficava o bebê, vez ou outra a mãe aparecia para amamenta-la, com pressa, o serviço urgia, se fez necessário estancar o leite e passar para a mamadeira, não havia tempo, assim o irmão mais velho poderia providenciar o mingau e ela estaria com mais tempo para as lidas do dia. Maria era uma mulher sisuda, de poucas palavras, sorrisos raros, quase inexistentes, e bastante violenta, Ciça saberia disso anos mais tarde.

Ciça cresceu e apesar dos pesares, cresceu saudável, aos cinco anos já tinha consciência do mundo ao seu redor e de seu lugar nele. Era uma garotinha linda; assim como a mãe, era sisuda, de poucas palavras, sem sorrisos, mas por motivos diferentes, achava ela.

Os dias eram sempre molhados, úmidos, assim como sua alma.
Imagem de Elisa Riva por Pixabay

A partir desta idade Ciça atesta se lembrar de cada detalhe de sua angustiante e melancólica vida. Ela já tinha obrigações dentro da minúscula casa, que contava com um cômodo e um puxadinho sem paredes para o fogão feito com seis tijolos, tinha também uma prateleira onde os alumínios brilhavam. Maria já introduziu Ciça no exercício de varrer, arrumar cama (só tinha uma para todos) e aos bofetões lhe ensinava a brilhar panelas, e como dizia ela, ensinava a ser “gente”.

Ciça sofria agressões por fazer e fazer mal feito, por não fazer, por chorar, por não chorar, ela era o pano de fundo das amarguras de Maria. Suas mãozinhas pequeninas não conseguiam segurar direito as coisas, portanto não tinha o domínio que Maria exigia dela, até aprender, seu corpo sofria, sua cabeça não entendia o ódio que aquela mulher nutria por ela. Por fim, foi se naturalizando, vai ver que a vida era aquilo mesmo. Por incrível que pareça Ciça amava aquela mulher, achava-a linda e como ela queria por um minuto sequer que ela a amasse, mas deveria ter algo torto com Ciça, algo com que fizesse que a Maria sentisse aversão por ela. Sim, a culpa era da Ciça. É evidente que era, ninguém morde uma criança até sangrar, sem que a criança seja torta.

Aos cinco anos e meio Ciça pegou um livro de sua irmã folheou e sem a menor dificuldade leu uma página, Maria não acreditou, julgou que a menina estivesse inventando e pegou o livro e leu a página, e não, Ciça não estava mentindo, e pela primeira vez em sua pobre vidinha ela ganhou um abraço da mãe que ficou maravilhada, pois a filha nunca havia ido à escola. Maria não sabia que a irmã mais velha sempre lia para Ciça, à luz de uma lamparina, ou à luz da lua, momentos em que Ciça poderia voar e sonhar. Nestes dias peculiares, sua irmã a introduziu no mundo das letras, era pouco, mas Ciça tinha avidez em aprender. E foi assim que se deu, foi um anjo que compadecido presenteou Ciça com este momento do qual ela se lembra até hoje.

A menina acordou no outro dia disposta, depois daquele abraço ela se encheu de esperança, com planos coloridos para um futuro melhor, embora ela não soubesse o que era futuro, pensou que as coisas seriam diferentes agora. Finalmente sua mãe a amaria, ora, porque não, afinal houve aquele delicioso abraço, não se pode agredir depois de um abraço, não tem como voltar atrás depois de amar. Ela descobriu que o mundo dos adultos, nem sempre tinha regras, continuidade, era como um filme com um roteirista macabro. Maria acordou e com a grosseria costumeira já colocou Ciça para brilhar as panelas e com promessas de muita surra caso não brilhassem. Ciça só a olhou desolada e uma lágrima furtiva rolou por sua face. Foi sua primeira grande decepção, mal ela sabia que viriam muitas outras.

Com o tempo as obrigações de Ciça aumentaram muito, com sete anos já haviam mudado de casa umas 10 vezes, sempre era no fundo de alguma casa, e as habitações eram sempre miseráveis. Nesta última casa em questão, havia um fogão a lenha e a menina foi presenteada com um banquinho, para que subisse e assim poder cozinhar. Sim, o almoço seria agora por sua conta. Maria explicou a Ciça como fazer arroz, foi rápido, e ela fez, da maneira que entendeu. As mãos tremiam, o pavor do insucesso era grande, pois as consequências seriam desastrosas. Pois bem, na medida em que o arroz foi cozinhando ele foi crescendo, crescendo, por fim derramou, era arroz demais para a panela. O desespero se instalou e se justificou, Maria entrou e quando viu aquilo, colocou a mão naquele arroz quente e numa fúria mortal, esfregou no rosto de Ciça, queimando todo seu rosto. Uma semana de babosa no rosto e uma tristeza de morte na alma.

Ciça aprendeu a dor de não ter sapatos.
Imagem de Azmy Talibi por Pixabay.

Ciça nesta época aprendeu a cozinhar, quando tinha algo para cozinhar, ela não sabia se ficava alegre quando não tinha, ou ficava triste por não ter, ela conhecia a fome de perto. Os sentimentos de Ciça eram confusos entre ser triste ou ter um alívio da tristeza, aliás, os únicos sentimentos aos quais ela tinha intimidade eram medo, vergonha, tristeza, angústia e um monte de porquês embolado em sua garganta. Neste período Ciça entra na escola, “Escola Estadual Professor Chaves”, era uma escola chique para a época, lá estudavam tanto ricos como pobres, isso também foi o calvário de Ciça. A menina não tinha calçados, ia com o uniforme limpo que brilhava, porém, descalça. Logo, virou chacota da turma. A segunda decepção, ela não pensava que crianças também poderiam ser cruéis.

Ciça frequentou a escola por um ano, saiu-se mal em todas as matérias, se sentia a pior das criaturas. Seu irmão Valmir que era seu único e melhor amigo, era mais inventivo e ousado, a vida dura o tinha tornado um mini adulto. Ele achou um pé de botinas, e no outro pé ele enfaixava com tiras de pano e mancava, fingindo estar machucado e assim rompeu o pré-primário. Ciça não, passou a se esconder no mato até a aula acabar, mas não era de todo perdido, estudava nos livros, neste ano, apesar dos parcos resultados, aprendeu a ler corretamente, fazia contas mais ou menos, mas adorava, como ela adorava o livro de histórias. Lia avidamente e com isso tomou gosto pela escrita, o que se tornou seu refúgio. Um dia desses de esconderijo, a menina se encontrava debaixo de uma árvore perto de uma cerca de arame, e chovia muito, caiu um raio que arrebentou a cerca, Ciça ficou intacta, se instalou nela uma esperança que ela seria um ser especial, isto passou a movê-la. 

O tempo passou, sua mãe nunca descobriu que ela não terminou os estudos, mesmo porque, não havia tempo para estes pormenores, a escola nunca a procurou, e com isso Ciça fez 10 anos. Tornou-se uma linda garota, de cabelos muito negros e longos, dignos de elogios de quem os visse. Ela não se dava conta disso. Mudou-se com a família para o estado de Goiás, onde a pobreza deu uma arrefecida, mas a fúria de Maria não. Nesta época, Maria teve mais dois filhos, mas Maria tinha que trabalhar, agora ganhando um pouco mais. Os cuidados com os irmãos eram por conta de Ciça, a menina lavava, passava, cozinhava e cuidava dos irmãozinhos, não havia tempo para estudos, a noite quando o pai aparecia, ele lhe dava algumas lições. Quando Maria chegava checava todo o serviço realizado, caso houvesse alguma coisa fora do lugar, ou mal feito ao seu olhar, o lindo cabelo de Ciça era usado como cordas enlaçando a mão de Maria que neste movimento arremessava a cabeça de Ciça nas paredes. Uma nova modalidade de violência se instalou.

A vida seguia, nesta época além de escrever Ciça adora cantar, e o fazia muito bem, cantava o dia todo naquela lida infernal que a deixava exausta. Um dia sua irmã ao chegar do trabalho, deparou-se com Ciça com os cabelos desgrenhados, perguntou o que houve, ele já sabia, mas queria saber dela. Ciça relatou e ela incontinente pegou Ciça pela mão e levou-a em um salão, sua irmã também tinha os cabelos longos e lindos. Sentaram as duas e ela disse: corte nossos cabelos curtinhos, e assim foi feito. Foi a maior prova de amor que alguém já havia dado a ela. Nunca mais a menina esqueceu, como também, nunca mais ela deixou o cabelo crescer, nunca mais conseguiu, foi como se quisesse cristalizar aquele momento de entrega genuína da irmã, bem como preservar dentro de si aquele sentimento de que alguém de verdade a amava.

Em tempos difíceis, ter com quem contar é um tesouro.
Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay

Ciça sempre pôde contar com sua irmã doravante, isso a fazia mais feliz, lhe dava um mínimo de segurança. A menina voltou a estudar, mas sempre fazia supletivos, cursos rápidos e sem embasamentos, mas aprendi muito, era uma devoradora de livros, ganhou prêmios de melhor redação, foi pro jornal e tudo; sempre passava nos testes de emprego, era dedicada em tudo que fazia, tornou-se uma adolescente sem problemas, educada e obediente. Porém com ela se arrastou pelo resto da vida, um sentimento enorme de baixa autoestima. Começou a trabalhar fora aos 12 anos de idade, todos em casa tinham que trabalhar, a vida já não era tão difícil, tinha comida na mesa. Maria era fria, porém, suas agressões haviam diminuído bastante, era quase uma mãe nesta época. Ciça se tornou especial? Não, não se tornou, o raio não fez efeito, mas se tornou um ser humano que não replicou a violência e está quase se formando aos 66 anos, acho que isso a torna quase normal, o que já é lucro para ela.

Referência

LONGO, S. Cristiano. (2005). ÉTICA DISCIPLINAR E PUNIÇÕES CORPORAIS NA INFÂNCIA. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusp/a/QxyYj3c7DdyV7WxxZMdsfYN/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 20/02/2023

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Felipe Ferreira: A cozinha como uma missão de vida

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O (En)Cena entrevista Felipe Ferreira, 35 anos, natural de Brasília-DF. Hoje é chef de cozinha.  Há cinco anos vive em  Florianópolis, onde atua como personal chef. É um incansável pesquisador de novos alimentos, sabores e novas formas de trabalhar. Trabalhar de uma forma que a criatividade seja a mola mestra de suas performances. Ou seja, a gastronomia como experiência de viver, numa constante metamorfose. Sua memória afetiva com a cozinha veio dos velhos tempos com a vovó e seus programas na TV, após assisti-los ia testar as receitas, é um amor antigo. Seus passos se seguiram pelo Rio de Janeiro, Flórida, Pirenópolis, entre outros. Estas experiências o levaram a se apaixonar cada vez mais, e dentro do seu universo, ele respeita cada minuto desta história e de todos que participaram dela. Foi fácil, claro que não, mas olhando antes e agora, a única opção que ele enxerga é seguir em frente e ser a sua melhor versão.

Vamos conhecer um pouco deste brilhante cozinheiro.

(En)Cena: Felipe, conta para nós porque a gastronomia, de onde surgiu esta paixão, quem te motivou a seguir esta carreira. Quanto conhecimento vem das escolas e quanto vem de casa?

Eu acho que a gastronomia faz parte de mim desde sempre, difícil dizer quando eu comecei a me interessar por ela, pois a minha vivência na cozinha vem desde muito pequeno. Eu costumo dizer que minha primeira escola foi agarrado na barra da saia da minha vó Lindaura. Venho de uma família muito grande e matriarcal, onde as reuniões eram sempre em volta de uma mesa ou no meio da cozinha. Então acho que vem daí minha paixão pelo universo da gastronomia, porque ele me reconecta com minha vó e me traz essa memória afetiva das nossas reuniões em família em volta dela. E respondendo sobre quem mais me motivou sem dúvida foi minha mãe, ela sempre foi a grande apoiadora e motivadora minha e dos meus irmãos para que a gente lutasse pelos nossos sonhos.

(En)Cena: Felipe, fala dos desafios que você encontrou para perseguir seus sonhos dentro da cozinha.

Eu lembro que decidi que seria gastronomia o que eu queria seguir profissionalmente com uns 15 anos. Minha mãe me mostrou que tinha o curso na Estácio de Sá. Na época, estávamos morando no Rio. O curso não era muito comum ou popular naquela época e não tinham muitas opções de instituições que possuíam. Mas com 18 anos, por conta da violência que estava no Rio naquela época, mudamos para o Tocantins. Meu primeiro desafio começou ali, pois eu não queria e podia me afastar da minha família; então só seis anos depois que pude começar a ir atrás de começar o curso de gastronomia e me dedicar a essa profissão. Acho que outro grande desafio foi ter que fazer a escolha de me manter no curso ou não. Eu sempre foquei desde os primeiros meses da faculdade a trabalhar na área já, para pegar experiência e para me manter financeiramente. Só que chegou um momento onde eu tive que escolher entre concluir a carreira acadêmica na gastronomia ou seguir aproveitando as experiências profissionais que também me davam uma formação na cozinha, pois era muito difícil conseguir conciliar as duas. Eu lembro que tinha uma época que morei no Rio e trabalhava e fazia faculdade, que pra conciliar eu tinha 3h de sono, porque eu precisava sair de casa no máximo 4h pra pegar o ônibus pro trabalho, saía do trabalho direto pra faculdade, quando conseguia chegar em casa já era 23h… 23h30. Foi um período complicado, mas não me arrependo, pois foram importantíssimas as experiências que peguei naquela época.

(En)Cena: Com tanta diversidade nos paladares e com a riqueza de ingredientes, como é cozinhar no Brasil?

Cozinhar no Brasil é um paraíso. Eu sou apaixonado pela diversidade de culturas gastronômicas, pelas diversas cozinhas que se formaram dentro do nosso país, mas principalmente pela variedade infinita de matéria prima que o Brasil oferece para a gente experimentar na cozinha. Eu costumo dizer que minha cozinha principal é a cozinha de útero, porque eu procuro resgatar e não deixar esquecer a nossa cozinha raiz, de essência. Aquela passada de geração em geração principalmente pelas mulheres nas nossas famílias, que sempre foram as maiores protetoras e detentoras dos conhecimentos dos saberes da cozinha. E a gente começou a perder isso tentando olhar muito para o que vinha de fora e desmerecendo a riqueza que tínhamos aqui dentro. Transformando em “chique e importante” aquilo que vinha de outros países e não valorizando nossa essência que é tão rica. Hoje fico muito feliz de ver que esse resgate está sendo cada vez mais forte, e admiro cada vez mais os profissionais que investem no que é nosso. 

(En)Cena: Antigamente a profissão do cozinheiro não tinha o destaque que tem agora, você acha que hoje em dia já chegamos em um patamar onde as pessoas valorizam mais, e mesmo os profissionais da cozinha se empenham em suas formações e em seus aprendizados para uma melhor qualidade na profissão?

Pergunta complexa. Por um lado, sim, hoje a profissão tem um destaque maior e por isso uma valorização um pouco melhor de certas carreiras. Mas estamos longe de uma valorização real de todos os profissionais da cozinha. Tentar explicar melhor. Eu acredito que por conta da mídia que se tem em cima da gastronomia hoje, com diversos programas de culinária e competições, que não estou criticando pois adoro também, mas isso criou sim um lado bom de valorização da área, mas trouxe também uma problemática a meu ver. Por isso digo que existe uma romanização do cargo Chefe de Cozinha, e esse estágio da carreira é sim mais valorizado hoje. Mas entenda, o Chef é um cargo hierárquico dentro da cozinha, estando chef ou não, primeiro de tudo eu sou cozinheiro. Se você me perguntar: qual a sua profissão? Eu não sou Chef, eu sou cozinheiro, eu estou Chef em certos momentos da minha vida. E aí está o contraponto, a profissão de cozinheiro em grande maioria ainda não é devidamente valorizada no nosso país. Temos uma carga horária e jornada de trabalho insana, trabalhamos muitas vezes em cozinhas que não são adequadas e se tornam locais quase insalubres e ainda somos mal remunerados. Fora muitos casos de exploração que nem vou entrar no caso no momento. Por isso acredito que não, ainda não estamos num patamar de valorização da profissão cozinheiro, mas seguimos lutando por isso.

(En)Cena: Ainda falando do passado, para se obter uma formação e renome o profissional cozinheiro tinha que buscar fora do país cursos que o colocasse em destaque, você acha que hoje em dia temos estas formações de excelência em nosso próprio país?

Com certeza. Hoje temos inúmeras opções de cursos de gastronomia muito bons em nosso país. Existia sim essa necessidade acredito de ter que buscar fora uma boa formação, mas creio que isso ficou no passado a um tempo já. Exemplo claro disso é que uma das mais antigas e conceituadas instituições de formação de profissionais de gastronomia, a Le Cordon Blue, hoje tem uma sede no Brasil. Fora que temos várias instituições de ensino com cursos excelentes. Mas se vale de conselho para quem quer procurar um curso de gastronomia, primeiro pense qual seu foco na profissão. Existem diversos caminhos que você pode seguir e focar, e pensando nisso você pode direcionar para um curso e uma formação mais adequada. Às vezes o seu foco pode ser só um curso profissionalizante, que o Senac por exemplo oferece de cozinheiro profissional, e ai entrar na formação superior pode desmotivar certas pessoas. Falo isso porque muita gente entra no curso, Tecnólogo superior em gastronomia, achando que vai ser muito mais prática e cozinha, mas o curso tem uma bagagem teórica muito grande também. Por isso acontece muita desistência, é normal turmas de primeiro semestre com 40 alunos e turmas de formandos com 10… 15.

(En)Cena: Em sua opinião, o que torna um profissional da cozinha capacitado, ter amor, conhecer o que está fazendo, ter curiosidades em relação a novos ingredientes, técnicas e práticas? Fale-nos de cada uma delas e mais alguma que julgue necessário.

Acredito que ter amor pelo que você faz é importante em qualquer área para qualquer profissional. Mas sim dentro da nossa profissão, assim como em muitas outras, se você pretende crescer e trilhar um bom caminho na cozinha, tem que ser apaixonado por ela, mesmo nas dificuldades. Se dedicar a aprender, experimentar e sempre buscar algo novo respeitando tudo aquilo que você já aprendeu e adquiriu. Fora que existe uma coisa que todo cozinheiro precisa ter se quiser evoluir, a memória gustativa. Você precisa conhecer sabores e texturas e para isso você tem que se aventurar. Quanto mais memórias de sabores você puder agregar, maior será seu conhecimento para trabalhar. E isso você só consegue com o tempo, se aventurando e experimentando. Nós construímos uma memória gustativa, um registro de paladar desde o momento que nascemos e começamos a comer. Na minha visão um bom cozinheiro não pára nunca de agregar ao seu acervo novas experiências e expandir essas memórias e conhecimentos.

 

(En)Cena: Você acha que no Brasil temos matéria prima de qualidade para se exerça a profissão de uma forma que agrade a todos? 

Claro. O Brasil é um país com dimensões continentais, riquíssimo em matéria prima para nossas cozinhas. Eu considero a comida brasileira uma das melhores do mundo, muita gente lá fora já sabe disso também, por isso a procura por nossos sabores variados crescem a cada dia. Não precisa nem procurar muito, a diversidade se descortina à nossa frente. Precisamos explorar essa diversidade, incentivar produtores locais, explorar sabores típicos regionais, também é uma forma de chegar mais perto do paladar e da qualidade dentro da cozinha.

(En)Cena: Conta para nós quais os chefs que te inspiraram desde o início até agora.

Acho que vários e em vários momentos isso muda. Mas acredito que hoje eu prefiro citar aqueles que levam nossas cozinhas em foco pelo Brasil, como Alex Atala, Helena Rizo, Leo Paixão, Katia Barbosa, Irina Cordeiro, Bela Gil e vários outros.

(En)Cena: Para conseguir ser um bom chef, é necessário passar anos dentro da cozinha como cozinheiro, o que é necessário para se obter uma performance de chef?

Como disse lá em cima vamos primeiro entender que você só poderá ser um grande Chef se você for e continuar sendo um bom cozinheiro. Porque você está Chef de cozinha, mas você sempre será um cozinheiro. O Chef dentro de uma brigada de cozinha ele é quem irá conduzir e ditar a dinâmica do trabalho. Então eu acredito que parecer um bom chefe de cozinha, além de ser um bom cozinheiro e conhecer o trabalho daqueles que você gerencia, é muito importante também entender o fator humano. Quando você entende que você precisa da sua equipe, desde o cominho até o se sou chef, e eles são de extrema importância para que uma cozinha funcione em harmonia, quando você entende isso e aprende a valorizar esses profissionais que estão do seu lado, aí você se torna um grande Chef. Infelizmente a nossa história na cozinha não trás uma bagagem boa nesse fator humano. Sempre foi uma formação dentro das cozinhas na base da humilhação, abuso e intolerâncias, mas isso vem mudando a um tempo e graças a Deus esse tipo de profissional e “chef” hoje começa a ser visto não com bons olhos.

(En)Cena: Neste período atual e político em que estamos passando, qual você julga ser o maior desafio para um chefs e donos de restaurantes?

Sem sombra de dúvidas a crise econômica. Os insumos estão cada dia subindo mais de preço, os valores dos produtos estão cada dia mais caros. E isso impacta instantaneamente nossas cozinhas. E a maior dificuldade é você repassar isso para os clientes que na maioria das vezes não entende ou aceita. Eu hoje trabalho mais com eventos, tivemos que segurar muito tempo até o máximo que conseguimos repassar esses aumentos para não perder cliente, mas chegou um momento que isso se tornou impossível, pois eu não posso absorver todos os aumentos de preço que impactam direto no meu lucro. Mas estamos na esperança que dias melhores virão e que nosso país vai voltar a crescer e ser a potência que pode ser.

(En)Cena: Como é o trabalho do Chef Felipe, quais são suas preferências, se as tem porque, ou é um incansável pesquisador de sabores?

Eu acho que sou um eterno aventureiro. (Rsrsrs) Sempre foi difícil pra mim essa pergunta de qual sua cozinha, qual sua linha e preferência. Eu gosto da cozinha raiz, da cozinha intuitiva e criativa. Gosto de ter a liberdade de poder estar sempre pesquisando, criando e me reinventando. Buscando sempre algo novo sem esquecer ou desrespeitar nosso passado e sua essência.

(En)Cena: Qual ingrediente não pode faltar de forma alguma em sua cozinha?

Sou Brasileiro do meio do país, do cerrado. Então o que não pode faltar na minha cozinha é alho e cebola, e de preferência bem refogado. (Rsrsr). Esses dois ingredientes nos falam muito do Brasil, é uma grande potência de sabores que realçam qualquer prato. Além de trazer um sabor para lá de característico às preparações, eles levam para dentro da receita propriedades nutricionais benéficas à saúde.

(En)Cena: Quando você observa cozinheiros atuando, quais os erros que aponta como sendo muito graves?

Acredito que falta de comprometimento com o que está fazendo, falta de respeito com os ingredientes que está usando, com o alimento. Cozinhar precisa ser um ato de respeito do início ao fim. Pensa assim, você recebe um insumo, um alimento seja qual for, você deve respeitar aquele produto e utilizar com consciência, evitando desperdício e tentando retirar tudo possível dele. E esse produto que você transformou vai virar alimento para outra pessoa, seu trabalho final é alimentar alguém, o cuidado e respeito nesse momento tem que ser redobrado.

(En)Cena: Conte-nos o que é para você uma refeição digna dos deuses, e ensine pra gente uma harmonização de cair o queixo.

Acho que aquela que aquece o seu coração, que acessa alguma memória boa, que te traz uma experiência nova, que mexe com você de alguma forma. Um bom prato tem que estimular todos os seus sentidos, não só o paladar.

(En)Cena: Você pretende parar onde está, ou tem planos para futuro, conta pra gente. Deixe uma mensagem para um futuro chef, quais passos ele terá que seguir para obter sucesso.

Acho que nunca vou saber parar onde estou. (Rsrsrs) Movimentar e estar em eterno processo de mudança acho que é o que mais me dá prazer. Eu quero sim continuar buscando trabalhar com cozinha de formas novas e diferentes sempre. Profissionalmente eu tenho meus projetos e sigo na busca, estamos em um momento complicado para investir ou tentar algo novo no nosso país, mas acho que isso vai mudar em breve, sigo confiante. Acho que vale de alguma coisa um conselho meu para quem quer se aventurar na gastronomia profissionalmente séria tenha certeza do que você quer. A cozinha profissional não é área fácil, vai exigir muita dedicação, doação, renúncia e constante busca por conhecimento, só gostar de cozinhar não é o suficiente, é uma parte importante, mas você precisa de muito mais força pra seguir na profissão. Mas se você tem certeza que é o que você quer, que gastronomia é a sua paixão, então se jogue de cabeça e se dedique e tenha humildade para aprender sempre, porque quem corre atrás do seu sonho não se cansa fácil.

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Dialogando com a história dos ditados populares

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Para que o leitor se inteire do assunto, faremos uma breve explanação do que se tratam os famosos ditos populares, mas se achegue fique à vontade, sente-se, tome um lanche, pois saco vazio não pára em pé.

Ditos populares é uma linguagem popular do senso comum que atravessam gerações, São expressões que muitas vezes falamos sem sequer nos darmos conta do que significam, são criados pelo povo, cada um em seu canto. Claro, uma andorinha sozinha não faz verão.

Eles atravessam nossa história e são datados de longo tempo, existem registros de ditados populares desde antes de Cristo. Uns são de lugares tão longínquos, que podemos dizer que foi lá onde Judas perdeu as botas.

Até hoje usamos em algumas situações e eles carregam em si traços de uma história, e por isso, podemos lhes inquerir sabedoria e reflexões para quem os ouve. Neste estágio por eles coloco minha mão no fogo.

Dizem por aí que os ditados populares teriam origem religiosa e foram se propagando conforme a cultura dos povos. Eles reúnem ideias sobre o convívio comunitário, carregando em si muitas vezes ensinamentos valiosos a respeito das relações entre as pessoas. E com este translado de lugar a lugar e de pessoa a pessoa, o hábito faz o monge.

Fonte: Fonte: encurtador.com.br/cnwH2

Talvez nunca tenhamos certeza de onde partem, pois a origem é incerta, não podemos atestar nada, estamos aqui na condição de aprendizes e não vamos colocar a carroça na frente dos bois. Mas podemos fazer questionamentos, aprender e traduzi-los à nossa maneira, obter deles o ensinamento que querem nos passar. Espero que sejam bons de interpretação, para um bom entendedor, meia palavra basta.

O que os ditados populares têm a nos ensinar, podemos levá-los ao pé da letra, ou vamos mais devagar? Afinal, O apressado come cru.

Cheguei aqui para descomplicar e explicar, respeitando a história de cada um, porque afinal, cada macaco no seu galho, e quem sou eu para meter a mão nesta cumbuca. Temos que reconhecer que existe muita cultura enraizada nestes ditos há que se respeitar, partindo do princípio de quem pode, pode, quem não pode se sacode.

Temos que ser coerentes em aceitar milênios de sabedorias, pois se você duvida posso te dizer meu amigo, quem semeia vento, poderá colher tempestade.

Embora não saibamos de onde vem, sempre podemos perguntar, pois quem tem boca vai a Roma.

É bem certo que esses ditados são nossos, embora que em casa de ferreiro o espeto é de pau, os usamos todos os dias, eles têm muito a nos dizer, valorizar é obter conhecimento, pois em terra de cego quem tem um olho é rei meu amigo.

Curioso é que será difícil encontrar uma pessoa que não saiba pelo menos cinco ditados. Cada país tem os seus, eles existem aos borbotões pela China, Índia, Japão, sendo os da China muito populares. Foram se espalhando e de grão em grão a galinha enche o papo.

O certo é que nunca saberemos quando e como começou quem é dono de qual, mas o que podemos atestar é que em algumas situações onde há fumaça há fogo, e isso nos dá uma vaga ideia de onde partem. Mas o fato é que os temos de graça e Cavalo dado não se olha os dentes.

O grande escritor Luís da Câmara Cascudo já dizia que: “os ditados populares sempre estiveram presentes ao longo de toda a História da humanidade”.

Outros escritores atestam que para um ditado popular ser validado, ele não pode ter dono, isso nos lembra de que focinho de porco não é tomada.

Com o passar do tempo eles vão se reproduzindo e ganhando uma nova roupagem com mudanças e adaptações, conforme a época e costumes. Logo, os costumes de casa vão à praça.

Nosso passeio se passou pelos mais populares pode-se questionar se são coerentes, se cabem em algumas situações, pois nem tudo que reluz é ouro.

Poderíamos justificar Cada um a ponto de que todos acreditem em suas veracidades apostando na máxima que Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura.

Espero nesta prosa ter levado ao leitor algum conhecimento que tenha valido a pena, é de grande valor sabermos da história ao nosso redor, ter um olhar diferenciado para a cultura dos povos, o senso comum, também nos garante conhecimento, não os podemos negar, pois o pior cego é aquele que não ver.

Despeço-me e agradeço pela atenção aos que tiveram. Leiam, se inspirem com os conteúdos do Encena, prestigiem o que é nosso, não fiquem pensando na morte da bezerra, pois eu lhes garanto que é dando que se recebe, e mais ainda, não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje.

Referências

CHÉROLET, Brenda.2019. Expressões populares utilizadas em diversas épocas. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/proverbios-e-ditados. Acesso em 11/10/2022

FUKS, Rebeca. (s.d). 69 ditados populares e seus significados. Disponível em: https://www.culturagenial.com/ditados-populares-e-seus-significados/. Acesso em 13/10/2022

TANCREDI, Silvia. “30 ditados populares e seus significados”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/30-ditados-populares-seus-significados.htm.  Acesso em 13 de outubro de 2022.

Tok de história. 2021.Ditados populares e seus significados – segundo cascudo. Disponível em: https://tokdehistoria.com.br/2021/05/27/ditados-populares-e-seus-significados-segundo-cascudo/. Acesso em 07/10/2022

 

 

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Caos 2022 – Psicologia em debate aborda o tema Síndrome de Burnout

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Aconteceu na manhã de quinta-feira dia 24/11/2022, as 09h0min, o psicologia em debate, como parte da programação da 70 edição do CAOS – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia, com o tema “Síndrome de Burnout”.

Em uma reunião via Meet que teve início as 09h00min, foi apresentado o tema síndrome de burnout pela estudante de psicologia do décimo período de psicologia, Danilla Façanha, Assistente social, Pedagoga, pós graduada em educação, pobreza e desigualdade social; Pós em Neuropsicopedagogia clínica e Instituicional e Análise do comportamento ABA.

O evento contou com a condução do mestre Sonielson Luciano de Souza, Mestre em Comunicação e Sociedade (UFT-2018 bacharel em Psicologia (Ceulp), bacharel em Comunicação Social (Publicidade – Ceulp/Ulbra); sócio-fundador do jornal e site O GIRASSOL (desde 1999) – http://ogirassol.com.br. É professor universitário (Ceulp/Ulbra); graduado em Psicologia pelo Ceulp/Ulbra. Pós-graduado (latu senso) em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias, com ênfase em Docência Universitária (Unitins/UFBA – 2006); Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (UCB); Pós-graduado em Psicologia Analítica (Unyleya-DF); É coordenador e colaborador do Portal (En)Cena (http://www.encenasaudemental.net).

A apresentação do assunto discorreu desde a metodologia até as evitações que é possível se ter pra evitar a síndrome. Na metodolgia, a mediadora trouxe dados siginificativos acerca do início da descoberta da síndrome, trazendo os pensamentos de seus percussores tais como, Grahan Greene, Maslach e trouxe também os pensamentos de Dejours que é o pai da psicodinâmica do trabalho, com uma apresentação rica em detalhes de modo a envolver os mais de cem participantes.

A apresentação de Danilla trouxe dados da síndrome de burnout sob o olhar da pesquisadora Christina Maslach, considerada a autoridade mundial sobre estresse e especialista em Burnout, que conceitua a síndrome como sendo: um fenômeno psicossocial que ocorre como resposta crônica os estressores interpessoais advindos da situação laboral, uma vez que o ambiente de trabalho e sua organização podem ser responsáveis pelo sofrimento e desgaste que acometem os trabalhadores. A mesma pesquisadora ainda caracteriza a Síndrome de Burnout em três dimensões ou subescalas: (i) Exaustão Emocional (EE) – quando o profissional experimenta sentimentos de esgotamento ou esgotamento de energia; (ii) Despersonalização (DE) – quando ocorre o aumento da distância mental do emprego, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho de alguém; (iii) reduzida Realização Profissional (RRP) – resultante da baixa redução da eficácia profissional.

Através de suas pesquisas, podemos observar que, que o trabalhador acometido da Síndrome de Burnout, possui menos interesse em práticas inovadoras e apresenta um desgaste físico e psicológico quando exigido o emprego de maior criatividade e comprometimento com o trabalho. Além de dados científicos relevantes, Danilla nos trouxe sua própria experiência em relação ao burnout, ela foi acometida pela síndrome e enriqueceu a apresentação com sua experiência pessoal.

Houve bastante interação do público com a mediadora, mostrando que a psicologia em debate superou as expectativas de público, apesar de uma manhã caótica de chuva torrencial. Saímos todos com mais saberes acerca das problemáticas que podemos enfrentar com o outro e entorno de nós mesmos.

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Caos 2022 – Psicologia em debate aborda o tema “Trabalho, esporte e saúde mental”

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Aconteceu na manhã de quinta-feira dia 24/11/2022, as 09h30min, o Psicologia em debate, como parte da programação da 70 edição do CAOS – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia, com o tema “Trabalho, esporte e saúde mental”

Em uma reunião via meet que teve início às 09h30min, foi apresentado o tema “Trabalho, esporte e saúde mental”,  pelo estudante de psicologia, José Eduardo Bispo que está na sua primeira graduação  e se mostra bastante comprometido a apresentar suas manifestações do que acredita que seja salutar para uma vida mais saudável e em consonância com o bem estar e uma mente mais sadia e próspera.

O evento teve como mediador o mestre Sonielson Luciano de souza mestre em Comunicação e Sociedade (UFT-2018 bacharel em Psicologia (Ceulp), bacharel em Comunicação Social (Publicidade – Ceulp/Ulbra); sócio-fundador do jornal e site O GIRASSOL (desde 1999) – http://ogirassol.com.br. É professor universitário (Ceulp/Ulbra); graduado em Psicologia pelo Ceulp/Ulbra. Pós-graduado (lato sensu) em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias, com ênfase em Docência Universitária (Unitins/UFBA – 2006); Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (UCB); Pós-graduado em Psicologia Analítica (Unyleya-DF); É coordenador e colaborador do Portal (En)Cena (http://www.encenasaudemental.net).

A apresentação nos presenteou com temas acerca da psicologia positiva-Flow, seus componentes principais, suas práticas nas áreas esportivas e a experiência humana quando envolvidos nesta temática. José falou com muita propriedade que o foco é tão grande que nada e ninguém te dispersa e, ao mesmo tempo você se sente bem e bastante produtivo. Parece que, simplesmente, tudo está “fluindo”, sem nenhum esforço e desgaste físico ou mental.  Tudo o que você sentiu não foi por acaso. Este é o estado de flow, em português “estado de fluxo”. Uma condição em que o seu corpo e a sua mente fluem em perfeita harmonia, te levando ao estado de excelência enquanto trabalha, estuda ou desenvolve um hobby.

LOW é um termo que vem do inglês Fluir e que pode ser traduzido como “experiências de fluxo”. O conceito de FLOW foi desenvolvido na década de 70 pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, PhD e professor da Universidade de Chicago, para designar as experiências ótimas de fluxo na consciência. É como um estado mental onde o corpo e a mente fluem em perfeita harmonia, é um estado de excelência caracterizado por alta motivação, alta concentração, alta energia e alto desempenho, por isso também chamado de experiência máxima ou experiência ótima. As experiências de FLOW muitas vezes são lembradas como os momentos mais felizes da vida da pessoa, os momentos onde ela se sentiu no seu melhor.

Dentro do esporte, quando em estado ‘flow’, atletas ficam totalmente focados no que estão fazendo. Quando um atleta está no estado ‘flow’, os padrões químicos e elétricos no cérebro mudam levando-o ao seu estado ideal. Alterações ocorrem no cérebro que aceleram a tomada de decisões complexas.

O reconhecimento de padrões e a criatividade são aprimorados e ocorre uma impressionante variedade de alterações neuroquímicas, neuroanatômicas e fisiológicas que permitem aos atletas fazer as coisas melhores e mais rápidas. O estado ‘flow’ é a porta de entrada para o “mais” que a maioria dos atletas procura.

O evento contou com mais de cem participantes, que interagiram e se mostraram bastante interessados na temática, o que tornou a psicologia em debate um sucesso, com muita adesão e interesse dos participantes bastante significativa.

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