Ciência e Comportamento Humano de B. F. Skinner

O livro Ciência e Comportamento Humano (com a primeira edição brasileira feita em 1979 pela EDART e posteriormente, em 1981, pela editora Martins Fontes, de São Paulo) teve a tradução feita por João Cláudio Todorov e Ricardo Azzi. Esse livro, escrito por Skinner, é um dos mais importantes de sua carreira acadêmica, onde são expostos conceitos e premissas do Behaviorismo Radical de maneira muito clara e detalhada, fazendo correlações entre o comportamento humano e a maneira como ele pode ser estudado e entendido cientificamente.

A obra descreve o que a filosofia da ciência do comportamento entende como comportamento humano, como ele se forma, as diferentes topografias em que ele aparece, seja em paradigmas respondentes ou operantes. Além disso, Skinner aborda temas concernentes ao comportamento como as emoções, pensamento, dando exemplos cotidianos e também expondo estudos laboratoriais. Também traz à baila as concepções de controle que são exercidas sobre o comportamento humano, contemplando desde o ambiente, num modo mais amplo, até agências controladoras do comportamento (religião, psicoterapia, família etc) e a cultura em que o sujeito que está inserido se comporta.

O Ciência e Comportamento Humano possui com XXIX capítulos, divididos em seis seções pertinentes aos assuntos tratados por Skinner, que são ligados de forma temática. Por exemplo, a primeira seção trata de capítulos que abordam a possibilidade de uma ciência do comportamento, a segunda seção já abrange temas concernentes à própria Análise do Comportamento. A terceira e quarta seções contemplam o indivíduo visto como um todo e o comportamento dos indivíduos quando inseridos em grupos, respectivamente. A quinta e a sexta seções já tratam das agências controladoras do comportamento e da cultura que o homem está inserido e como elas refletem na maneira como ele se comporta. Todas as seções e capítulos estão nas 489 páginas que compõem a obra.

Skinner, logo na primeira seção do livro, faz reflexões do que é uma ciência, como ela pode ser usada, suas práticas, suas principais características, além de fazer inferências de como o comportamento humano pode ser estudado por uma ciência, apontando que o homem é, de fato, um ser passível de ser estudado de uma maneira mais científica do que proposta por outras linhas teórico-filosóficas da Psicologia. Para se fazer compreensível tal ponto de vista, o autor explana como o homem se comporta e quais são as possíveis causas de seu comportamento.

No decorrer do livro, o autor explica princípios básicos do Behaviorismo (num paradigma Estímulo-Resposta) e de sua teoria, o Behaviorismo Radical, como comportamentos respondente e operante, modelagem e manutenção de um novo comportamento, discriminação operante, dando exemplos até de como o ser humano consegue desenhar, cantar (e emitir outros comportamentos) a partir de um campo discriminativo; o controle do comportamento pelo ambiente em que o sujeito está inserido, ou seja, como se dá a seleção do comportamento através das consequências obtidas e produzidas no meio, as quais afetam o comportamento de quem as produziu. Também fala dos princípios de privação e saciação como operações estabelecedoras para a ocorrência de comportamentos.

Outro ponto importante que Skinner destaca são as emoções e seus papéis como um comportamento, bem como a relação entre aversão e os comportamentos de esquiva e fuga. A punição também é outro tema em que um só capítulo é dedicado, devido à sua importância. Nesse capítulo, Skinner indaga se a punição realmente funciona, quais os efeitos que ela causa enquanto consequenciação de comportamentos ditos indesejáveis ou desadaptativos, além de apontar os efeitos “colaterais” dessa operação e também as alternativas a essa prática, o que é muito marcado em toda a obra skinneriana, uma vez que o autor não gosta do controle aversivo do comportamento.

Quando Skinner começa a escrever a terceira seção de seu livro, abordando o homem como um todo, explana sobre temas que, para leigos, o Behaviorismo Radical negligencia. Entre eles estão o autocontrole, o pensamento e eventos privados numa ciência natural, vistos como comportamentos assim como eventos abertos, além de dar uma interpretação singular do que é entendido como “o eu” para o comportamentalismo.

Após isso, Skinner analisa o comportamento dos indivíduos que vivem em grupo, abordando o comportamento social, o controle pessoal e o controle do grupo, já puxando para assuntos pertinentes ao tema como agências controladoras do comportamento, onde se encaixam análises do controle exercido pela religião, família, educação, economia e até mesmo a psicoterapia, abordando também as formas de controle que essas instituições utilizam e as maneiras evidentes de contracontrole decorrentes das práticas dessas agências. Ao fim do livro, Skinner continua a falar do controle, porém relacionando este conceito às práticas culturais de uma sociedade, dando especial atenção ao modo como sobrevive uma cultura e como ela pode ser mudada, falando do problema que o controle excessivo causa, de modo a inferir maneiras como o homem pode viver melhor em seu ambiente.

Essa obra é extremamente rica e traz uma compreensão melhor acerca do comportamento humano enquanto passível de estudo científico, em todos os seus âmbitos: seja aberto, seja encoberto, isto é, seja em comportamentos diretamente observáveis ou em comportamentos que ocorrem “dentro da pele”, como as emoções, os sentimentos e os pensamentos. Skinner, nesse livro, de maneira direta, consegue responder muitas críticas feitas por outros teóricos da Psicologia, mesmo que o principal objetivo do livro talvez não tenha sido esse. Isso é de grande valia para aqueles que se interessam por estudar o Behaviorismo Skinneriano e se iludem com críticas feitas por teóricos que não se preocupam em entender o que Skinner realmente diz em sua obra.

O Ciência e Comportamento Humano poderia ser considerado um livro “básico”, com algumas ressalvas, por ser um livro denso para quem começa a se interessar por Análise do Comportamento ou pela filosofia do Behaviorismo Radical. E o seria por abordar de maneira clara (o que não deixa de demandar uma atenção especial por parte do leitor) conceitos simples (porém descritos com completude inigualável) e complexos da teoria comportamentalista radical. Estudantes de Psicologia, a partir do 2º ano de graduação, já podem se debruçar sobre a leitura desse livro que é um dos mais importantes para se compreender não só a obra, mas toda a teoria Skinneriana.

B. F. Skinner foi um psicólogo americano, nascido em 1904, que, influenciado por outros autores como o fisiólogo russo Ivan P. Pavlov, Edward L. Thorndike e o psicólogo e fundador do movimento behaviorista, John B. Watson, deu início a uma nova visão de homem para a Psicologia: a visão do Behaviorismo Radical, sendo considerado um revolucionário entre os teóricos que propõem uma nova visão de homem, mais compreensível e cientificamente válida de comportamento (em todos os seus âmbitos). Entre suas principais obras, além desta resenhada, encontram-se O Comportamento Verbal (Ed. Cultrix e Editora da Universidade de São Paulo), Sobre o Behaviorismo (Ed. Cultrix) e O Mito da Liberdade (Summus Editorial). Além das obras mais técnico-científicas, Skinner escreve uma novela utópica, baseada nos princípios da ciência do comportamento, chamada Walden II: uma sociedade do futuro (Editora Pedagógica e Universitária). B. F. Skinner manteve-se academicamente ativo até a sua morte, ocorrida em 18 de agosto de 1990, decorrente de leucemia.

Psicólogo pelo Centro Universitário de Maringá (CESUMAR) e pós-graduando em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e Análise do Comportamento pelo Núcleo de Educação Continuada do Paraná (NECPAR).