Aprendizagem na visão humanista rogeriana

O artigo “O fracasso escolar na pós-modernidade: uma perspectiva humanista”, originalmente escrito para a Revista de Psicologia, de autoria da estudante de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, Karin Santos Marra Kiefer, apresenta-se com o objetivo de ”investigar a relação entre o fracasso escolar e o ambiente familiar e escolar para subsidiar propostas de possíveis caminhos para a resolução de tal fenômeno patológico” (KIEFER, 2013, p. 75).

Inicialmente contextualizando e situando o fracasso escolar como uma patologia com origem no final do século XIX, momento em que a escolarização passa a ser obrigatória e determinados valores do desenvolvimento humano (entre os quais o êxito social) passam a vigorar, a autora problematiza que “A inserção social do sujeito que não cumpre esses novos paradigmas da modernidade e pós-modernidade fica comprometida, sendo, que sempre, excluído ou desvalorizado” (KIEFER, 2013, p. 75); e, justifica a importância de se buscar as contingências que a criança encontra nos espaços da sociedade, da comunidade escolar e da família, como forma de entender a questão do fracasso escolar (KIEFER, 2013).

Recorrendo à perspectiva humanista de Rogers, para este movimento de entender e explicar o fenômeno do fracasso escolar, a autora menciona que a aprendizagem significante “combina o lógico e o intuitivo, o intelecto e os sentimentos, o conceito e a experiência, a ideia e o significado” (ROGERS, 1985, p. 30-31 apud KIEFER, 2013, p. 75). A teoria da aprendizagem significante de Rogers é muito mais do que a acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação no comportamento do indivíduo, uma modificação na orientação da ação futura que escolhe e/ou nas suas atitudes e na sua personalidade. É uma aprendizagem que vai muito além do cognitivo, refere-se à significação pessoal. E nesse viés, pensando no aluno de maneira holística, o fracasso escolar pode denunciar uma idiossincrasia entre o seu self e suas experiências, fato muitas vezes ignorado pelo ambiente escolar.

 

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Cabe aqui dizer que, de acordo com a psicologia rogeriana, as pessoas têm dentro de si a capacidade de descobrir o que que as está tornando infelizes e de provocar mudanças em suas vidas. Acredita que o homem, em condições favoráveis, não ameaçadoras, procurará desenvolver suas potencialidades ao máximo, já que ele tende naturalmente à autorrealização.

Nesse contexto, destaca Kiefer (2013), é necessário que se alinhem conhecimentos e instituições (como escola e família) para que a incongruência não prejudique o funcionamento organísmico do aluno. Para Rogers o indivíduo é sempre visto como um todo, não só o intelecto e por isso frequentemente utiliza o termo organismo.

De acordo com Kiefer (2013, p. 75),

o ambiente escolar e o familiar são determinantes no rumo da trajetória que o aluno escolhe, pois o primeiro deve reforçar e estimular potenciais e habilidades do aluno, mostrando a ele as possibilidades de sucesso, com o despertar para a aprendizagem, e a segunda é vital para a potencialização e segurança à tendência atualizante.

Para Rogers (1985 apud KIEFER, 2013), o ambiente, quando em harmonia, promove uma congruência entre experiência e sentimentos do self da criança, propiciando o aparecimento de recursos que promovem processos de aproximação com o aprendizado. Atividades que sinalizam estabilidade na vida familiar e práticas parentais que promovem a ligação família-escola são fatores que propiciam um bom desempenho escolar e potencializam o mesmo na criança.

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Pensando no papel dos pais e da família, Maturana (2006 apud apud KIEFER, 2013), também destaca a sua importância na aprendizagem escolar das crianças, evidenciando que, no contexto da pós-modernidade, de transferência de responsabilidades à escola, de papéis que são dos pais, “muitos só tomam-se presentes com o fracasso  na aprendizagem do mesmo” (p. 76).

Por sua vez, a escola, despreparada para proceder tal acolhimento, também não fomenta a aprendizagem significante, não promovendo entre os professores espaço e condições para que se sintam seguros (internamente) e possam facilitar tal aprendizagem com os alunos. Para Kiefer (2013) quando esta segurança existe, o professor facilita a apren­dizagem, “compartilhando responsabilidades, explorando interes­ses, promovendo a organização do próprio aluno, promovendo a disciplina como consequência da tendência à aprendizagem de­senvolvida no aluno a partir dessa atmosfera instigadora na qual o aluno descobre a aprendizagem” (p.75).

Posto isso, numa concepção rogeriana, a facilitação da aprendizagem deve ser entendida como o maior objetivo da educação, e deve ter o foco centrado no aluno, confiando na potencialidade deste para aprender, criando condições favoráveis para o seu crescimento e sua autorrealização.

Referência:

KIEFER, Karin Santos Marra. O fracasso escolar na pós-modernidade: uma perspectiva humanista. Revista de Psicologia, 2013. Disponível em: < http://blog.newtonpaiva.br/psicologia/wp-content/uploads/2013/03/E1-24.pdf>. Acesso em: 20 de março de 2020.

Assistente Social, Cientista Social, Especialista em Gestão de Programas Sociais, Especialista em Gestão e Docência no Ensino Superior, Mestre em Serviço Social, Professor Universitário e Estudante de Psicologia.