Fogueiras medicalizantes

No dia 14 de março de 2018, ocorreu no Ceulp Ulbra mais uma edição do Psicologia em Debate, que trouxe discussões promovidas por alunos e egressos. O tema apresentado pela psicóloga egressa Gythãna Merigui foi “Medicalização na Educação sob a perspectiva da Análise do Comportamento”.  A Psicóloga apontou pesquisas que favorecem tendências patologizantes, que favorecem apenas causas biológicas do não aprender, procurando discutir em sua pesquisa as contingências que envolvem a medicalização envolvendo a educação.

Medicalização configura-se como a tendência a acreditar que comportamentos são advindos de ordem biológica e física. Tal fenômeno é favorecido pela tradição Biomédica, que através da psiquiatria atual aliada à indústria farmacêutica, torna “fácil convencer pessoas a tomar remédios pra doenças que não têm”.

Fonte: https://goo.gl/mjy1An

À luz da Análise do Comportamento, a pesquisa considerou aspectos felogênicos e ontogênicos pessoais e culturais, de modo que os transtornos são vistos como dificuldades específicas de cada pessoa em seu contexto de vida. A Psicóloga inspira-se em Skinner para elucidar que a educação deve ser um processo estruturado de compreensão de comportamentos, de modo que com essa dinâmica os professores possam fazer diferença na vida dos alunos.

Dados foram trazidos, alegando que a indústria farmacêutica é a segunda em faturamento no mundo, perdendo apenas para a indústria bélica, e que a mesma interferiria até nas matérias do curso de Psiquiatria. Em países pobres onde não há recursos para psicotrópicos e usa-se alternativas de tratamento, os resultados seriam surpreendentemente positivos. As consultas psiquiátricas seriam portanto, cada vez menos psicoterapia e mais prescrição de medicamentos.

Fonte: https://goo.gl/V34DAf

Gythãna questiona a tradição biologicista, alegando que se o desequilíbrio químico é a causa das  patologias e ela pode ser alterada por fatores externos, logo, certos comportamentos poderiam favorecer a melhora, derrubando o argumento médico. Os vínculos afetivos postulado por Skinner seriam pouco favorecidos na educação atual, sendo substituídos pelas medicações. Para tanto, faz-se necessária uma concepção que se contrapõe a ideia de soluções medicalizantes, com uma alternativa envolvendo estímulos melhores e reforçadores para a aprendizagem.

As discussões do Psicologia em Debate sempre trazem boas reflexões, mas esse tema em especial causa grande impacto. Os números de pesquisas sobre medicalização são alarmantes, e somados ao fracasso das relações no ambiente escolar mostram a importância de se falar sobre esse fenômeno. A “religião” biomédica promove uma caça às bruxas. A fogueira da medicalização passa então a queimar os desajustados. Cada indivíduo rotulado e medicado, vê sua saúde mental carbonizada.

Psicóloga egressa do CEULP/ULBRA, especialista em Saúde da Família e Comunidade pela FESP.