Erika Hilton: a força e a representatividade da mulher trans e negra

Deputada Federal, Mulher negra e Transexual, com uma oratória que marca sua presença; filha de uma mãe evangélica que a expulsou de casa e depois a acolheu por amor.

Talita Marques Teixeira: talitampsi@rede.ulbra.br

Erika Hilton fez história ao se tornar a primeira Deputada Federal negra e trans eleita no Brasil. Sua expressiva conquista de 256.903 votos em São Paulo ressalta seu impacto. Já em 2020, ela se destacou como a vereadora mais votada do país e ocupou, durante dois anos consecutivos, a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo. Sua trajetória é marcada por uma luta incansável por representatividade e direitos humanos, tornando-se um símbolo inspirador de progresso e mudança.

Nascida no interior de São Paulo, de família religiosa e matriarcal como a mesma já citou em entrevistas, Erika viu na educação o caminho para sair da prostituição compulsória que se viu, após ser expulsa de casa, situação essa gatilhada pelo radicalismo religioso que sua família estava envolta, entretanto Erika não vê a religião como rival, hoje defende o direito de expressão de fé, alinhado com os Direitos Humanos e com foco nas minorias, cabendo destacar que se posiciona contra o uso da religião como mecanismo de invalidação de pessoas lgbtqia+, por ser uma mulher transexual em um ambiente de maioria masculina tem que lidar com a transfobia, racismo, sexismo e situações afins a crimes.

Em entrevista por meio de podcast ao jornalista Reinaldo Azevedo, Erika narrou sua vida, e iniciou citando Carolina de Jesus “O que levou a onde levou, não era sorte, era audácia e coragem”, assim a Deputada Federal também se definiu. Em continuação, Erika conta da infância, e de como saiu de sua cidade natal, e foi encaminhada para outra cidade, retirada do convívio de seus amigos e origens em Franco da Rocha – SP, após sua mãe se ver pressionada pelo sentimento de culpa por não ter “corrigido” sua sexualidade não normativa já existente, conta ela que isso se deu através do fundamentalismo religioso que afetou sua família, e destaca que nada disso teve haver com fé, é possível captar em suas falas o respeito pela diversidade religiosa, citando a mãe como referência.

Com 15 anos de idade se vê sem alternativas e sai de casa, ficando exposta às ruas, onde se encontra com as mazelas da prostituição, mas também se recorda da educação que teve na infância, pois já na escola sofria preconceito por não peformar o esperado, encontrou nos estudos a fuga das violências que era alvo, por volta de seus 20 anos sua mãe à busca nas ruas, Erika narra a mãe como sendo atravessada pela religiosidade, mas que à resgatou não por discurso ideológico ou religioso, mas por amor e questionamento, com isso ela vai para a faculdade incentivada pela mãe, cursou Gerontologia e Pedagogia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde além de começar a questionar a elite acadêmica, abre um cursinho para travestis e transexuais e por conta de ter seu nome social recusado em uma passagem de ônibus, ingressa de vez junto aos movimentos estudantis no ativismo que hoje a levou para a carreira política como Deputada Federal.

(Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=aT57A2FWlKc&t=159s)

Em entrevista no Podcast ReConversa. Erika Hilton fala sobre sua história e seu papel na Câmara dos Deputados

 

Cabe aqui destacar que no cenário brasileiro, travestis e mulheres trans, incluindo muitas de origem negra, têm se engajado em movimentos organizados e, nos últimos tempos, vêm ocupando cada vez mais espaços em ambientes universitários e pesquisas acadêmicas. Esse engajamento tem promovido a visibilidade do feminismo transexual, cujo objetivo é expor os impactos da transfobia, do racismo, do sexismo e do heteropatriarcado na vida das pessoas que se identificam como trans femininas. Além do mais, essa abordagem busca ressaltar a importância central das dinâmicas de construção e desconstrução de gênero no contexto das pessoas trans.

Diante dessa observação, Erika se destaca e personifica em (Oliveira, 2022) “quando se fala em travesti, muita gente escuta “perigosa, piranha, puta, criminosa, vulgar” e outros adjetivos negativos, que eu faço questão de demarcar e lembrar a essas pessoas que eu posso ser tudo isso, mas sou doutora e professora universitária, pesquisadora. Essa categoria precisa passar por um processo de ressignificação. […] Eu me recuso a pedir licença para ocupar o mundo, eu chego chegando, porque é assim que tem que ser”.

Fonte:https://revistaafirmativa.com.br/peticao-criada-por-erika-hilton-pela-cassacao-de-nikolas-ferreira-e-assinada-por-mais-de-200-mil-pessoas-em-24-horas/ )

Erika cria petição pela cassação de Nikolas Ferreira, após esse proferir comentários transfóbicos no plenário da Câmara.

Sua oratória, parece ser construída para sustentar respostas de todos os lados dentro da câmara dos Deputados Federais, além de contribuir com a acessibilidade ao conteúdo acadêmica para quem não tem acesso a ele, além de ser digna do questionamento provocador de Letícia Carolina Nascimento (2021), “Quem pode se tornar mulher?”.

A deputada por meio de seu ativismo, concisão nos discursos e coligações passíveis de diálogos, vem alcançando expressivos números de eleitores, mas não só isso, a sua existência vem quantificar e respaldar o básico na vida da comunidade lgbtqia+, além de buscar frear a violação de Direitos humanos básico, como o direito de ir e vir sem ser molestado, pois visto que ao tempo que se tem incerta informação de que o Brasil é o país que mais mata, informação essa vinda por meio do Dossiê dos Assassinatos e da Violência Contra Pessoas Trans Brasileiras da -Associação Nacional de Travestis e Transexuais- (Antra) percebesse que a figuras como Erika se faz necessário de quantificar e destacar, para que não seja mais necessário contabilizar mortes mas sim lugares na sociedade, e ao pontuar o números de mortes de pessoas travestis e transexuais como incerto é na certeza de que se não importar quantificar e qualificar em vida, irá importar menos ainda em morte.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Nascimento, S. de S.. (2022). EPISTEMOLOGIAS TRANSFEMINISTAS NEGRAS: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA MULHERIDADES MÚLTIPLAS. Estudos Históricos (rio De Janeiro), 35(77), 548–573. https://www.scielo.br/j/eh/a/DGJb8snh5xr44yXVwvgRDSB/