Pelé: o jogador

encena em campo

Falar de Pelé sem cair em clichês como “Rei do Futebol”, ou “Atleta do Século”, não é tarefa fácil. E não é tarefa fácil porque dentro das quatro linhas Pelé foi simplesmente “O Cara”. Era de fato um verdadeiro atleta, na exata concepção da palavra.

Sua capacidade técnica, física, tática e psicológica, características estas que formam as verdadeiras sumidades do esporte, eram e ainda hoje são elogiadas pelos conhecedores e especialistas do futebol ao redor do mundo.

Basta ver algumas declarações de colegas de profissão:

“O maior jogador de futebol do mundo foi Di Stefano. Eu me recuso a classificar Pelé como jogador. Ele está acima de tudo.” – Ferenc Puskas, craque da Hungria e do Real Madrid na década de 50.

“Subimos juntos, fora do tempo, para cabecear uma bola. Eu era mais alto e tinha mais impulsão. Quando desci ao chão, olhei pra cima, perplexo. Pelé ainda estava lá, no alto, cabeceando a bola. Parecia que podia ficar no ar o tempo que quisesse.” – Fachetti, zagueiro italiano na Copa do México, em 70.

“Jogava com grande objetividade. Seu futebol não admitia excessos, enfeites nem faltas. Ele quase não fazia embaixadas, não driblava para os lados, mas sempre em direção ao gol. Quando tentavam derrubá-lo, não caía, devido à sua estupenda massa muscular e equilíbrio.” – Tostão, companheiro de ataque na Copa de 1970.

Fonte: Revista Placar.

Pelé tinha velocidade de Hermes, preparo físico invejável, capacidade pulmonar muito acima da média, era “A Fera” em todos os fundamentos do esporte. O passe, o chute, o drible, a cabeçada, a matada no peito, habilidades na condução da pelota, visão de jogo, enfim, tinha inteligência futebolística e atributos fora do comum.

Todas estas qualidades fizeram de Pelé um dos futebolistas, senão, “o futebolista”, mais famoso de todos os tempos. A popularidade que Pelé atingiu limites incomparáveis em sua época.

Pelé nasceu Edson Arantes do Nascimento. É natural de Três Corações, cidade de porte médio, ao sul de Minas Gerais, em 23 de outubro de 1940, conforme informações de seu site oficial. Poderia ter iniciado sua carreira no Atlético Mineiro, ou no Cruzeiro, mas o destino quis que ele surgisse como profissional no Santos Futebol Clube. O motivo: ele mudou-se com sua família para Bauru, em São Paulo.

Começou então a jogar em times infantis e juvenis locais, sendo sempre precoce em relação aos companheiros, e de lá o passo seguinte foi ingressar no Peixe, o glorioso alvinegro praiano. Pelé simplesmente imortalizou o Santos Futebol Clube. Logicamente existiam outros craques no elenco, mas nenhum deles com a capacidade de Pelé. “Criou”, com suas jogadas magníficas gerações de santistas. Muitos são aqueles que torcem pelo Santos por causa do Pelé. Aliás, todo mundo conhece alguém que torce pelo Santos por causa do Pelé.

Diz a história oficial, que fora descoberto por outro craque, Waldemar de Brito. Pelé iniciou sua carreira de profissional muito novo, apenas aos 15 anos, fato que por si já demonstra sua genialidade. Com 16 foi escalado para a Seleção Brasileira. Como se não bastasse, aos 17 já estava disputando uma final de Copa do Mundo, e não apenas disputando, estava vencendo sua primeira Copa do Mundo fazendo gol de placa numa final com direito a chapéu em zagueiro sueco.

Aliás, “gol de placa” surgiu por conta de um de seus maravilhosos gols. Conta a história que ao fazer um gol passando aos dribles magníficos por uma fila de jogadores do time adversário, o narrador da partida teria dito de forma eufórica que o gol havia sido tão lindo que mereceria uma placa para seu registro. A placa de fato foi feita, encontra-se no Maracanã até hoje, e a partir dali, os gols majestosos são apelidados de “gol de placa”. Várias e várias vezes foi artilheiro de campeonatos nacionais e internacionais. Projetou o alvinegro praiano mundialmente.

Pelé jogou em apenas dois clubes em sua carreira, coisa difícil de se ver hoje em dia no futebol. Jogou no Santos Futebol Clube e, retornou após sua primeira tentativa de aposentadoria para jogar no New York Cosmos dos Estados Unidos da América.

As estatísticas de Pelé não deixam dúvida que ele foi e sempre será um dos maiores atletas de todos os tempos. Não somente um dos maiores futebolistas, mas um dos maiores atletas. Pelé é o maior artilheiro de todos os tempos da seleção brasileira. Ao todo foram 95 gols. É o único jogador de futebol da história a conquistar três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970). Pelé fez quase 1.300 gols em sua carreira, marca incrível, com uma média de aproximadamente 0,93 gols por partida.

São de Pelé os títulos de Atleta do Século de todos os esportes pelo jornal L’Equipe, e “Atleta do Século” pelo Comitê Olímpico Internacional (informação do site oficial de Pelé), e de “Jogador de Futebol do Século XX” pela FIFA. Pelé foi e ainda é cultuado por muitos como herói, por seus feitos ao futebol.

Uma das histórias mais conhecidas e notáveis da história de Pelé refere-se a sua passagem pela África no final da década de 60. Naquela época, o Santos Futebol Clube fazia uma série de amistosos pelo mundo e em plena guerra Congo Belva houve uma trégua entre os rivais para que Santos de Pelé pudesse transitar e jogar dois amistosos no país africano. O episódio ficou marcado como o momento em que “Pelé parou a guerra”.

Houve outra oportunidade, menos importante do ponto de vistahistórico político, mas não menos interessante e até engraçada, quando um juiz foi expulso de campo por causa de Pelé. Ocorre que o referido juiz aplicou cartão vermelho em Pelé, mas todos no campo (era um jogo amistoso) foram ao jogo para ver o rei. Resultado: Pelé voltou aos gramados e o juiz foi substituído para que pudesse ser dada continuidade à partida.

O esporte desde a sua aposentadoria evoluiu muito. Evolui não no sentido de melhora, mas no sentido de adaptação. Como se fosse um darwinismo futebolístico… Logicamente não se deve cometer o pecado da comparação de jogadores atuais com os de outras épocas. Seria injusto, pois os recursos são outros, o momento é outro, todo o contexto é diferente. Mas mesmo cometendo este sacrilégio da comparação, e observando as suas jogadas mais famosas, como, por exemplo, “o gol que Pelé não fez”, lance protagonizado na final da Copa do Mundo de 1970 vencida pelo Brasil, pode-se com certeza dizer que Pelé tem espaço em qualquer time de qualquer época. Sobre este lance em especial foram realizadas análises técnicas profundas, que culminaram inclusive em livros técnicos sobre o assunto.

Pelé teve sua despedida definitiva como atleta em 1977 em partida disputada entre New York Cosmos e Santos Futebol Clube. A festa teve participação do mundialmente famoso boxeador Muhammad Ali. O jogo se deu nos Estados Unidos da América, sendo que Pelé, na oportunidade, jogou um tempo por cada time, marcando1 dos 2 gols do New York Cosmos, que venceu a partida pelo placar de 2 tentos a 1.

Anteriormente Pelé havia anunciado uma primeira despedida, em terras brasileiras, quando ainda jogava pelo Santos. Foi no ano de 1974, mas retornou aos gramados em campos americanos e fez lá contribuição semelhante ao que Zico fez ao Japão na década de 90.

Se dentro das quatro linhas Pelé é uma unanimidade, fora dos gramados sua conduta já foi por vezes contestada. Após aaposentadoria Pelé teve atuação na música, uma de suas paixões, no cinema, atuando no filme “Fuga para a Vitória”, o qual teve no elenco o ator americano Sylvester Stallone, e ainda participação em telenovela na TV aberta brasileira. Envolveu-se algumas vezes em sua vida pessoal em situações que repercutiram em certo escândalo público, como por exemplo, quando namorou a apresentadora Xuxa, e principalmente no episódio da prisão de seu filho, o também jogador de futebol Edinho, que atuava como goleirodo Santos Futebol Clube, por envolvimento com tráfico de drogas.

É justo dizer que Pelé tem certo reconhecimento por suas realizações fora de campo, destacando-se em ações de cunho filantrópico. Na marca de seu milésimo gol Pelé se atirou às redes, pegou a gol em mãos, beijou-a e disse a seguinte frase:

“Neste momento afirmo que devo tudo ao povo brasileiro. E faço um apelo para que nunca se esqueçam das crianças pobres, dos necessitados e das casas de caridade!”.

Ainda assim, a frase soou para alguns na época como demagogia.

Pelé foi ainda Ministro dos Esportes entre os anos de 1995 e 1998 sendo sua maior contribuição no período a criação da chamada “Lei Pelé”, a Lei n° 9615 de 24 de março de 1998, a qual dentre outras situações determinou a obrigatoriedade da transformação dos clubes em empresas.

Desde sua aposentadoria Pelé vem se dedicando principalmente a causas ligadas ao futebol, sendo embaixador mundial do esporte pela FIFA.

Foi por vezes acolhidopor diversos chefes de estado tendo inclusive recebido prêmio por seus feitos em carreira das mãos do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, além de ser recebido na Casa Branca pelo presidente Ronald Reagan e laureado com medalha de honra do império britânico pela Rainha Elizabeth II, sendo o único brasileiro a receber tal condecoração.

A mais recente honraria recebida foi o prêmio FIFA Ballon d’Or em 2014.

Em tempos de Copa do Mundo Pelé não se envolveu tão a fundo no evento como outros ex-atletas, seja na organização, a exemplo de Ronaldo Nazário, ou mesmo sendo um crítico do evento, como o caso do baixinho agora deputado Romário.

Talvez o rei, como a maioria de nós, esteja um tanto quanto decepcionado com aquilo em que se transformou este evento tão grandioso. As promessas de melhorias pelo Brasil afora em nada se concretizaram, sendo que até mesmo alguns estádios, faltando um mês para a Copa, não se encontram prontos.

Os gastos astronômicos com as arenas poderiam ser utilizados para resolverem muitos dos problemas de infraestrutura de que a nação tanto precisa. Somente o que foi gasto no Estádio Nacional de Brasília, o popular Mané Garrincha, daria para se ter construído cerca de 150 mil casas populares segundo informações passadas pela Assessoria de Imprensa do ex-jogador Romário.Isto sem comentar o fato de que vários estádios, como o próprio Mané Garrincha, assim como a Arena da Amazônia e outros tantos, muito possivelmente virarão grandes elefantes brancos por não se ter tradição futebolística nestas regiões.

Estes fatos acabam por tirar em muito o brilho da Copa.

O próprio Pelé em entrevista a revista Lance citou a questão dos estádios “superfaturados”, mas, segundo site da revista, pediu que eventuais manifestações acontecessem somente após a Copa, para fins de não estragar a festa. Pelé foi bastante criticado por isso, recebendo o que a revista Exame chamou de “vaia virtual”, onde milhares de pessoas nas redes sociais, responderam às declarações recordando uma fase dita por Romário em 2005: “Pelé calado é um poeta”.

Mas enfim, esta é outra história…

O fato é que Pelé, dentro do palco verde, deixou sua marca indelével na história do futebol. As frases de Armando Nogueira ilustram bem o que representou a carreira do rei:

“Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.“.

“Até a bola do jogo pedia autógrafo a Pelé.”.

Armando Nogueira.

Podemos até esperar que surja algum jogador parecido, mas igual ao rei, este seria um anseio inalcançável.

Natural de Florianópolis, a bela Ilha de Santa Catarina. Nascido em 1981, é casado com Marcele Andrade e juntos têm um filho, o Mateus, de quase dois anos. É engenheiro de formação, mora atualmente em Joinville e tem como principais lazeres a leitura, estudos, esportes, viagens e curtir a família. E-mail: felipe_deluca@yahoo.com.br