A psicologia hospitalar é uma área de atuação da psicologia que busca entender e tratar o indivíduo e sua relação com o adoecimento, levando em conta os aspectos psicológicos que envolvem o adoecer sendo eles físicos, biológicos, psíquicos e subjetivos. O aspecto subjetivo pode ser expresso em sentimentos, pensamentos, falas e etc, o que pode reverberar em efeitos também nas suas relações com família, amigos íntimos e a equipe médica. A psicologia hospitalar fala sobre o adoecer subjetivo, tendo em vista que o biológico já está em evidência nos tratamentos de outras áreas da saúde como por exemplo a medicina e a enfermagem (TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).
A psicologia hospitalar tem como seus clientes o paciente que está relacionado ao adoecimento, a família e os amigos íntimos desse indivíduo, e a equipe médica. O psicólogo hospitalar deve se atentar às demandas que podem surgir com o enfrentamento da doença no caso do indivíduo e de sua família, comportamentos alterados, emoções e sentimentos exacerbados, frustração, estresse, lidar com possíveis sequelas de tratamentos ou da doença, relacionamentos fragilizados e etc. Na equipe médica seu atendimento pode ocorrer em situações de sobrecarga, estresse ou mesmo sobre questões sobre como lidar com as escolhas do paciente ou de sua família. Ressalta-se ainda que o atendimento pode acontecer por uma solicitação ou quando o profissional perceber a necessidade de atender a alguma demanda (SIMONETTI, 2004).
O setting terapêutico do psicólogo hospitalar é dinâmico e exige manejo do profissional para lidar com as interferências e particularidades, pois o mesmo pode se encontrar em qualquer lugar dentro de um hospital, o atendimento ocorre quando necessário e no momento em que surge a demanda pois as mesmas são mutáveis e estão relacionadas aos acontecimentos ou a própria relação com a doença, levando em conta a necessidade por parte do paciente, família ou equipe médica. Preferencialmente o melhor horário para os atendimentos são durante o período vespertino devido a rotina hospitalar agitada durante a manhã, e respeitando o período de descanso e visitas à noite. A alta psicológica ocorre apenas quando não há mais demanda, ou quando o paciente recebe alta médica (SIMONETTI, 2004; TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).
O adoecimento pode afetar o psicológico desencadeando doenças, inseguranças, medos, fragilidades, podendo também agravar situações que já estavam presentes como baixa auto-estima, depressão, ansiedade, crenças de valor. O campo psíquico também pode ser a causa da doença, como no caso das doenças psicossomáticas. Apesar disso, a doença também pode causar no psicológico a manutenção de pensamentos e enfrentamentos, pode tornar o indivíduo resiliente, e mudar seu modo de agir e suas perspectivas tanto nas suas relações, como sobre si e sua relação com todas as áreas da sua vida, e ser assim consequência de mudanças boas ou ruins (TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).
O papel do profissional da psicologia hospitalar é auxiliar o indivíduo no processo do adoecimento, atendendo as demandas que surgem, podendo usar técnicas e estratégias a fim de promover a compreensão, o enfrentamento, ressignificar ou dar significados ao que se sente diante ao adoecer, trabalhando tanto com o sujeito como com as pessoas envolvidas nesse processo, com uma prática que evidencia o sujeito que está passando por um momento da sua vida e não o despersonaliza perante sua doença (SIMONETTI, 2004).
REFERÊNCIAS
SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar: O mapa da doença. Casa do Psicólogo, São Paulo, 2004.
TRUCHARTE, F.A.R.; KNIJNIK, R.B.; SEBASTIANI, R.W. Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática. Augusto Angerami – Camon (org.), Pioneira Thomson Learning, São Paulo, 2003.
“…Só de pensar em sair de casa você já começa a ficar apavorado, confuso, tenso, angustiado e pode chegar até a sentir seu coração disparar. Mesmo sem ameaças imediatas, você não se sente mais seguro fora do seu lar. Sua casa é o único lugar que lhe proporciona segurança e proteção. Esse medo, após longos períodos de isolamento, é justamente o que define a Síndrome da Cabana”
Talvez você nunca tenha ouvido falar na Síndrome da Cabana. Realmente, este termo, apesar de ter surgido em 1900, não é muito conhecido atualmente. No entanto, você, seu vizinho, sua filha, seu amigo, podem estar passando por esta síndrome neste exato momento sem perceber. Como assim? Afinal, o que é a Síndrome da Cabana?
Imagine que a quarentena terminou. Já existe uma vacina para o Covid-19. Não há mais motivos para temer as ruas. No entanto, só de pensar em sair de casa você já começa a ficar apavorado, confuso, tenso, angustiado e pode chegar até a sentir seu coração disparar. Mesmo sem ameaças imediatas, você não se sente mais seguro fora do seu lar. Sua casa é o único lugar que lhe proporciona segurança e proteção. Esse medo, após longos períodos de isolamento, é justamente o que define a Síndrome da Cabana. Este nome foi dado em função dos trabalhadores norte-americanos que se refugiavam em suas cabanas quando o inverno chegava e, depois, tinham receio de voltar à civilização quando o frio terminava.
O mesmo já está acontecendo atualmente, devido à quarentena que nos confinou em nossos lares desde março deste ano. Hoje, algumas pessoas já estão entrando em desespero com a abertura de shoppings, lojas e relaxamento de alguns com relação ao isolamento. Não querem, de modo algum, que a quarentena termine. Obviamente, esse medo pode vir da possibilidade de serem contaminados. Porém, a Síndrome da cabana, ainda que não aja como fator principal, desempenha um papel importante na resistência em voltar à vida normal.
Fonte: encurtador.com.br/biFU7
Antes da quarentena, antes do Covid-19, já havia pessoas que não saíam mais de casa. Trabalhavam em home office, faziam as compras pela internet e passavam períodos muito longos sem colocar os pés na rua. Nosso cérebro se ajusta à nova rotina e o confinamento passa a ser normal e necessário.
Mesmo prisioneiros, após um longo período encarcerados, podem sentir medo de voltar à civilização e, muitas vezes, podem cometer crimes tão logo saiam da cadeia, para poderem voltar à vida a qual já estavam acostumados. A mudança nos tira da zona de conforto, ainda que, para muitos, aquela zona de conforto pareça uma opção ruim.
Mas o que é o medo mesmo?
O medo é uma sensação provocada pelo cérebro que auxilia o indivíduo em sua sobrevivência e adaptação. Se não sentíssemos medo de nada, não teríamos como nos defender e provavelmente morreríamos rapidamente.
Este mecanismo de sobrevivência ocorre a partir do Sistema Nervoso Central. Por exemplo, quando avistamos uma serpente, esta informação é levada ao SNC e passa pelo hipocampo (sede das memórias) que vai conferir se aquela informação já existe. Em seguida, o hipotálamo vai interpretar o que recebeu e relacioná-lo ao perigo. Ao receber essa interpretação, a amígdala (responsável pelas emoções) alerta o organismo na forma de medo. Imaginem uma criança que nunca viu uma cobra nem ouviu nada sobre ela. Ao se deparar com a serpente, não sentirá medo e provavelmente será picada.
Fonte: encurtador.com.br/fnxMN
Assim, sentir medo é não só normal, como necessário. No entanto, há muito medo. O medo pode ser real, como o medo de um assaltante; o medo pode ser imaginário, ou seja, não há nada acontecendo de fato, mas sentimos medo de alguma coisa que não conseguimos definir; o medo pode ser futuro, como o medo da morte; e o medo pode ser desproporcional ao objeto que o causou.
Quando o medo não é específico e dura longos períodos, então ele passa a ser chamado de ansiedade. A ansiedade não tratada e persistente pode levar ao pavor. A síndrome do pânico, por exemplo, e as fobias, quando atrapalham nossa vida, causam muto sofrimento e precisam de ajuda profissional.
O processo da quarentena
Quando a quarentena começou, sentimos muita dificuldade de adaptação. Nossa rotina mudou. Pais que só conviviam com os filhos nos fins de semana, de repente se sentiram perdidos e muito estressados. Marido e mulher começaram a brigar incessantemente. Chegaram a pensar em divórcio. Viajar? Impossível! Hotéis e passagens aéreas canceladas ou perdidas. Os estudos passaram a ser realizados por computador ou celular. Aplicativos, antes desconhecidos, tornaram-se fundamentais.
Muitos sentiram falta dos almoços de domingo na casa dos familiares. Páscoa, aniversários, qualquer atividade festiva precisou ser feita à distância. Abraços e beijos foram proibidos. Pessoas encheram suas casas de produtos não perecíveis com medo de não ter o que comer no futuro. Trabalhar em home office se tornou um desafio. O cachorro late, a criança chora, o prédio ao lado está em construção (e os trabalhadores não entraram em quarentena), o ônibus passa, o calor se torna insuportável e não se pode abrir a janela por causa do barulho, enfim, um caos.
Fonte: encurtador.com.br/AFHT7
Sem falar nos que têm (ou tinham) negócio próprio. Lojas fecharam, diversos trabalhadores passaram a buscar outras atividades para sobreviver, quem tinha pé de meia começou a ver seu dinheiro indo embora, quem não tinha, precisou contar com a ajuda do governo.
Mas, de repente, tudo começou a entrar nos eixos. Amigos passaram a fazer reuniões semanais por vídeo. Pais começaram a valorizar mais tempo com os filhos. Descobrimos que podemos achar de tudo pela internet. Ganhamos mais tempo para ler, estudar, refletir. O casal conseguiu se entender e agora não pensa mais em se divorciar. Parentes que raramente se viam passam a se ver semanalmente em reuniões da família. O pôr do sol ficou mais bonito sem tanta poluição. Psicólogos e Coachings se viram com mais atendimentos. A lista de filmes para serem vistos um dia começou a diminuir. Enfim, tudo o que era muito difícil no começo, passa a ser o certo, o bom, o confortável. Pelo menos, para grande parte da população.
Agora, com a possibilidade de a quarentena terminar, torna-se necessária uma nova adaptação. Começar tudo de novo. Ainda existe o medo do vírus, mas mesmo que não mais existisse, haveria resistência para voltar à vida anterior. Nosso cérebro passou a entender que somente em casa estamos seguros, protegidos. Fora de casa, estamos na selva, estamos na guerra. São os efeitos da síndrome.
Fonte: encurtador.com.br/ipJOY
Então estamos doentes?
A Síndrome da cabana não é uma doença, é um fenômeno natural, diante das circunstâncias. Apesar do nome, não é um transtorno mental, embora possa precisar dos cuidados de um profissional da mesma forma.
Quem sofre desse fenômeno pode sentir muita angústia, muita ansiedade, perder a concentração, perder a memória, passar a comer muito e a dormir muito, embora possa acontecer de o indivíduo perder o apetite e o sono, e alguns sintomas físicos também podem se manifestar, como taquicardia, sudorese, tonturas.
Os sintomas da síndrome podem lembrar a Síndrome do pânico. A diferença é que esta leva o indivíduo ao isolamento, enquanto na Síndrome da cabana acontece o contrário. O isolamento leva o indivíduo ao pânico.
Fonte: encurtador.com.br/AMXZ1
Como voltar à vida normal
Algumas dicas podem ajudar quem está (ou estará) sofrendo dessa síndrome.
1 – Respeite o seu tempo. Não se obrigue, não se cobre, não se culpe. Cada um tem um ritmo diferente e o sentimento é totalmente válido. O importante é não desistir.
2 – Estabeleça uma rotina. Por que isso é importante? Porque na rotina você se sente no controle e se você está no controle, pode controlar os seus pensamentos, portanto, pode controlar seu medo.
3 – Comece aos poucos, devagar, e recompense cada passo, cada progresso. Por exemplo, no primeiro dia, simplesmente abra a porta de sua casa e fique ali, olhando para fora. Avalie como está se sentindo. Se puder, dê alguns passos. Senão, feche a porta e se recompense pela sua coragem. No dia seguinte, tente dar alguns passos para fora. Continue enquanto se sentir confortável. Senão volte. Continue insistindo todos os dias até conseguir ir até a esquina e voltar. Não tem problema retroceder. Não tem problema dar um tempo. Apenas tente. Acredite que você pode. Mas não force. Aumente as recompensas conforme for progredindo.
4 – Lembre-se de todas as coisas boas que você tinha e fazia ao sair de casa. Lembre-se de seus familiares, do churrasco na casa dos amigos, do cinema, dos restaurantes, dos parques, da cervejinha gelada no bar, do sol acariciando sua pele, do vento bagunçando seus cabelos, das viagens divertidas, enfim, comece a condicionar seu cérebro para que ele diminua progressivamente a resposta do medo.
5 – Nada disso está adiantando? Então, procure ajuda de um profissional. Você não precisa sofrer sozinho nem mais do que o necessário. A Síndrome da cabana, quando longa e não monitorada, pode desencadear um quadro depressivo grave.
Fonte: encurtador.com.br/rEP48
Mas a quarentena já acabou?
Não. Ainda é preciso tomar muito cuidado ao sair de casa e, de preferência, não sair. Mas por que já não nos munirmos de todas as informações necessárias para quando essa hora chegar? Quanto maior o nosso conhecimento, mais protegidos e seguros estaremos, agora ou no futuro
Além disso, se pensarmos bem, a tendência é nos isolarmos cada vez mais, com todos trabalhando em home office, lojas físicas se transformando em lojas virtuais e sites de relacionamento indicando que hoje os encontros virtuais são cada vez mais comuns e práticos. Enfim, tudo parece caminhar para que a Síndrome da cabana se torne um fenômeno menos raro e desconhecido.
Portanto, que tal começarmos a praticar desde hoje? Vamos começar desde já a enumerar todas as coisas boas que estão nos esperando lá fora. Vamos escrever todos os dias, mesmo que a informação se repita. Vamos condicionar o nosso cérebro a sentir cada vez mais vontade de sair. Um dia a quarentena acabará. Isso é fato. Então vamos nos preparar para uma nova vida antiga.
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Governo sanciona lei que cria Dia de Conscientização e Enfrentamento da Fibromialgia
5 de agosto de 2019 Maria Eduarda Oliveira
Notícias
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O Governo do Estado do Tocantins sancionou no último dia 1° a Lei nº 122, que institui o Dia Estadual de Conscientização e Enfretamento a Fibromialgia. A proposta é de autoria do Deputado Estadual Ricardo Ayres (PSB) e foi aprovada, por unanimidade, na Assembleia Legislativa no início do mês de julho. A fibromialgia é uma síndrome que atinge cerca de 3% da população brasileira, que provoca dores por todo corpo, de difícil diagnóstico e que ainda não existe cura, essas são algumas das razões da importância da conscientização dessa doença.
encurtador.com.br/dyzAV
Pela Lei, a data será celebrada todo dia 12 de maio e tem por objetivo dar informações à população sobre a doença, sintomas e tratamentos adequados, além de promover a troca de experiências entre pacientes, profissionais de saúde e sociedade em geral. “Essa é uma lei que busca abrir espaço para a construção de uma saber coletivo que busque amenizar a dor dessa doença crônica e trazer mais qualidade de vida para os portadores”, explicou Ricardo Ayres.
Tratamento e preconceito:
Gulnara Silva de Freitas, professora de Educação Física sofre há mais de 10 anos com a síndrome e destaca a importância da instituição desse dia: “Me alegra muito saber dessa lei no Tocantins. Somente em São Paulo que tive o diagnóstico, e mesmo assim, até acertar a medicação, ter o tratamento adequado e aprender a conviver com a síndrome é uma luta diária”, disse.
encurtador.com.br/cFKX5
Ainda segundo a paciente, é importante para Estado que haja essa conscientização. Ela argumenta que este é um marco, pois acredita que é preciso debater a síndrome e que ainda existe um preconceito muito grande.
Para ela, esclarecer pacientes, população, familiares e os profissionais da saúde é importante para que quem sofre da síndrome possa não ser tão estigmatizado e possa ter melhores cuidados e tratamentos. “As pessoas não tem esclarecimento quanto à síndrome, e como não há uma ferida aberta, não há algo que seja percebido pelos outros, imaginam como frescura, preguiça ou algo psicológico”, concluiu.
O trabalho, desde o início de suas configurações foi utilizado como forma de incitar o sentimento de pertencimento dos indivíduos. Tanto que diversas vezes as pessoas carregavam em seus próprios sobrenomes a profissão seguida por uma mesma família.
O indivíduo acabou por se tornar resultante de uma relação indissociável entre o ser humano e o trabalho. Hoje em dia, ainda se carrega essa liga entre os termos; de forma que inconscientemente ao conhecer alguém, pergunta-se, “Qual seu nome? O que você faz?”na busca de tentar classificar o indivíduo no meio social, associando-o de alguma maneira em uma hierarquia de acordo com suas respostas.
Deduz-se e analisa-se todos que os cercam a partir do que é mostrado. Sabendo que o ser confere outros, também há necessidade de ser conferido. E apesar de todo narcisismo voltado ao trabalho, com o objetivo do ter para que se possa ser, que as ações acabam por se verticalizarem. Sendo a necessidade do ter, uma criação conjunta, afinal, os indivíduos são sociais. Movimentação essa, que só faz sentido pois há alguém para ‘espetaculariza-la’.
Link: http://twixar.me/CnZ3
A dinâmica trabalhista acontece por conta da necessidade do outro, já que normalmente alguém se especializa, em suma, as relações interpessoais fazem dele algo possível e em eterna construção. Sabe-se também que é a partir da incapacidade alheia que há a exaltação de alguma área. É nesse contexto que nascem os competentes e vitoriosos, sobre as custas de outros não tão capacitados aos olhos de um todo. Mas esse, não existiria caso não houvesse uma base onde pudesse pousar tais privilegiados pés.
A ambiguidade pertinente no ato do trabalho ainda se insere na contemporaneidade, já que ao mesmo tempo que constrói o indivíduo e o dá a sensação de duo, também é visto como algo demasiadamente massivo.
De forma sucinta e significativa, o termo trabalho é originário do latim tripalium: instrumento de tortura romano (no qual eram suplicados os escravos). Não se pode dizer que a era de exploração foi anulada, já que na formulação atual, não se tem senhores que prendem, mas vende-se a falsa ideia de liberdade.
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Um exemplo disso são as jornadas exaustivas, que roubam mais que às 8 horas de trabalho por dia, com auxílio da flexibilidade (que leva o trabalho até o lar). Ao passo que se tem o trabalho intensivo, no qual o ‘eu’ torna-se o próprio senhor, que se chicoteia sucessivamente para uma produção adoecera a custo de metas e uma felicidade futura que mal poderá ser vivida, pois todo o vigor está sendo gasto nessa corrida para o seu próprio abismo. A custa de que?
A terceirização do trabalho é uma nova forma de escravizar. O fato é demonstrado a partir das pessoas que tornaram-se descartáveis, sendo facilmente manipuladas pela recompensa da “liberdade” e o poder de suas próprias escolhas a partir da remuneração aquisitiva. Há uma grande demanda de pessoas capacitadas no mercado de trabalho, dessa forma, apenas o curso superior tornou-se supérfluo. A medida que a venda das capacitações dos indivíduos são compradas (por um valor mínimo) as custas de pessoas adoecidas, apáticas, desmotivadas, dentro da realidade vigente no mercado de trabalho, vemos que de fato: tornaram-se meras mercadorias substituíveis, onde sinais de fragilidade as torna dispensáveis sobre alguma medida.
Link: http://twixar.me/5nZ3
As crianças desde o início da escolarização, são de alguma forma excitadas para a competitividade, pois é esta a realidade que as espera. Pequenas máquinas de trabalho que são aquecidas desde muito cedo para não questionarem esse formato de vida, tornando o ciclo vicioso entre os indivíduos. Afinal, ninguém quer o título de fracassado, é o poder que manda. Não é incitado o autoconhecimento. Se soubéssemos quem somos, qualquer resultante que fosse imposta não seria o suficiente, pois se traçaria um caminho alternativo a se seguir.
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A consequência do indivíduo pouco crítico, diante dessa realidade, poderá causar uma culpabilização, pelo fato de não atingir o êxtase em alguma área da sua vida, pondo-se em comparação ao outro. Junto ao discurso da meritocracia vigente, que não analisa o ser e suas circunstâncias pouco favoráveis ao crescimento pessoal. Igualando todos, quando na verdade não existem circunstâncias igualitárias.
Link: http://twixar.me/xnZ3
As pessoas estão cansadas e não podem dizer-se cansadas. Seria esse ato como assinar a própria incompetência, ou o momento oportuno para serem substituídas. Essa repressão de sentimentos, a falta de tempo para si, para as relações afetivas, o desequilíbrio, desregulam o psicológico, biológico e dificultam as relações sociais, tornando-as cada vez mais rasas, acompanhado do corpo cada dia mais adoecido.
Estão todos prestes a infartos psíquicos. “Ficou doido”, “muita frescura”, “preguiçoso demais”, “fracassado, levante-se”, são estes, indivíduos comuns que simplesmente adoeceram, ou permitiram-se enxergar, pois, a sociedade é doentia, e os sensatos são aqueles que não respondem bem a essa escravidão em massa. Tiram um tempo para falar de suas dores, para cuidar de algo palpável, para serem humanos e verem no outro tamanha desumanidade. Objetificaram seres, por notas. Mas fica o questionamento; quanto custa sua saúde? Será se coisas reais têm preço? Talvez, a preguiça não seja a vilã da história (…)
As indústrias almejam o controle sobre o corpo do trabalhador, seu intelecto e seu psiquismo.
Tempos Modernos (1936), dirigido e protagonizado por Charlie Chaplin, é um filme de comédia dramática e romântica. O enredo é uma crítica à modernidade e ao capitalismo exercido pelo modelo de industrialização, no qual o operário é absorvido pelo poder do capital e supliciado por suas idéias insurgentes. Enfatiza a vida no contexto industrial, retratando a linha de produção baseado no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho.
No filme, os operários tentam sobreviver se sujeitando a uma forma de produção mecânica que altera suas condições físicas e psicológicas, cujo pano de fundo é maior lucro para as empresas, independentemente das condições de seus trabalhadores.
Fonte: https://bit.ly/2QZkaZn
O sequestro da subjetividade refere-se à perda da capacidade de ser independente, onde o “sequestrador” determina o que a pessoa faz e a forma do trabalho, retirando sua independência. A empresa mostra isso quando apresenta uma linha de produção automatizada, impondo um ritmo de trabalho não natural, um exemplo clássico foi implantando uma “máquina de comer”, que é um modo de controle psicológico, condicionamento e robotização dos funcionários.
Esse contexto de radical mudança na ambiência funcional vai paulatinamente sendo absorvido, de tal modo que passa a ser aceito como prática comum e legítima no comportamento social.
Fonte: encurtador.com.br/ghiS7
Levando-se em conta os efeitos dessa nova arquitetura funcional, fica patente que afeta a subjetividade dos trabalhadores, causando patologias psíquicas e que se tornam cada vez mais frequentes nos ambientes laborais. É comum em tais casos a ocorrência de situações de ansiedade, síndrome do pânico, fobias, esgotamento profissional, somatizações e outras ocorrências, levando o indivíduo a modificar seus padrões de conduta, a fim de adequar-se à nova ordem estabelecida, causando uma doação forçada.
Na atualidade se observa que as clínicas do trabalho instituem um espaço de fala para o sujeito, ao mesmo tempo em que busca intervir de modo à ressignificar experiências, dar novos sentidos e causar uma reflexão. Essa postura propicia ao trabalhador a percepção da oportunidade de repensar seu meio social, a sensação de ser ouvido pelo outro, que se posiciona como escuta qualificada, construindo assim ressignificância da importância do indivíduo em relação a seu processo de saúde e adoecimento.
Fonte: encurtador.com.br/hqEPZ
Tempos modernos é um filme que faz uma crítica em relação á desigualdade entre as classes sociais. O trabalhador mesmo chegando a exaustão continua a produzir ignorando fatores psicológicos e orgânicos, que consequentemente afetam a sua saúde mental, principalmente. Pode ser visto como uma conjectura ao movimento que ficou famoso como Revolução Industrial, cuja idéia central era substituir o homem pela máquina e estabelecendo o conceito de linha de produção automatizada, um exemplo disto foi a indústria automobilística dos Estados Unidos, onde até se criou um conceito chamado de Fordismo, devido o surgimento das fábricas de carros Ford, que se encontrava em ascensão na época de produção desse filme. Ademais, causa a reflexão que o trabalhador era visto naquela época e até mesmo nos dias atuais pela indústria como mero objeto de uso das máquinas em que o objetivo central visa produzir em grande escala, no menor espaço de tempo e com maior lucro.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
MODERN TIMES
Direção: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin
Ano: 1936
Países : Estados Unidos
Gênero: Comédia/ Aventura/ Drama
Referência
MENDES, Ana Magnólia. Clínica psicodinâmica do trabalho: o sujeito em ação. / Ana Magnólia Mendes, Luciane Kozicz Reis Araujo. / Curitiba: Juruá, 2012.154p.
No dia 05 de maio de 2017 aconteceu na sala 203, a partir das 8h o Psicologia em Debate com o seguinte tema “Relações de trabalho e corrosão do caráter em Sennett” apresentado pelos acadêmicos de Psicologia do CEULP Erismar Araújo e Fabrício Veríssimo. A princípio foi abordada a definição de corrosão, ou seja, o ato ou efeito de corroer que segundo o dicionário genérico é o desgaste gradual de um corpo qualquer que sofre transformação química e/ou física, proveniente de uma interação com o meio ambiente. Foi abordada também a definição geológica: destruição de rochas devido à decomposição química realizada por água salina ou doce; química: transformação química de metais ou ligas em óxidos, hidróxidos etc., por processos de oxidação pelo contato com agentes como o oxigênio, umidade.
Fonte: http://zip.net/bstKtb
Em seguida foram explanadas questões biológicas, religiosas e psicológicas a cerca do caráter (formação moral) sendo respectivamente: aspecto morfológico ou fisiológico utilizado para distinguir indivíduos em uma espécie ou espécies entre si (marca a mesma espécie), indicadores gerais sobre condutas (deveres) e conjunto coerente de respostas dadas por um indivíduo a uma série de testes e que permite, por comparação estática, situá-la numa categoria determinada.
Adentrando mais ao tema vimos sobre a dinâmica entre capitalismo versus rotina versus natureza flexível, onde o trabalhador disciplinado é aquele que se preocupa com o trabalho, têm uma rotina a seguir, relações duráveis devido à maior estabilidade no ambiente de trabalho e gosta de estar inserido nesse meio, já o trabalhador flexível tem uma visão de articular melhor com o outro, diante das mudanças no mundo de trabalho, sendo passível de mudança e estabelecendo relações menos duráveis.
Assim, tal dinâmica remete a questão de como se podem buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? O que nos leva a seguinte conclusão, de que os dois modelos (disciplinado e flexível) se encaixam ao modelo de vida que levamos hoje (capitalismo). Ou seja, temos uma “certa” rotina, porém buscamos uma flexibilidade no trabalho, como por exemplo, o flexitempo, que é quando procuramos criar tempo e alimentar as demais áreas da nossa vida, criando assim uma dinâmica favorável.
Fonte: http://zip.net/bctJ3T
Por fim, entramos na ética do trabalho em que tal dinâmica: disciplina e flexibilidade diante do capitalismo podem levar a uma desorganização do tempo, o trabalho em equipe quando não bem estruturado é afetado, a autodisciplina e automodelação dentro das empresas acarretam na individualidade do sujeito e uma competição a fim de atingir metas impostas, o ambiente de trabalho visto como polivalentes e adaptáveis as circunstâncias (sujeito passivo) e a ética protestante levando o indivíduo a ter o trabalho como foco principal na sua vida. Logo, a relação de trabalho que é toda essa dinâmica vista, pode influenciar na corrosão do caráter do sujeito, moldando-o para operar junto ao capitalismo, toda essa corrosão pode levar o sujeito ao adoecimento psíquico, adquirindo algum tipo de psicopatologia ao longo da vida.
REFERÊNCIA:
SENNET Richard. A Corrosão do Caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.
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Síndrome de Burnout: fique atento aos sinais de esgotamento profissional
21 de março de 2017 Baronesa Relações Públicas
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De acordo com a International Stress Management Association (ISMA), esse mal atinge cerca de 4% da população mundial e 30% da população brasileira, sendo que o Brasil fica atrás somente do Japão no ranking geral
Diversos fatores da sociedade atual contribuem para que os níveis de stress e ansiedade aumentem consideravelmente. Dos avanços tecnológicos, que acarretam a substituição de mão de obra humana por softwares e máquinas, até a preocupação com a manutenção do emprego, devido à crise que vivemos no Brasil. O esgotamento profissional, gerado por situações de estresse, pode evoluir para a chamada Síndrome de Burnout. Apesar de ter sido descoberta há décadas, começou a ser discutida no Brasil há apenas alguns anos.
Fonte: http://zip.net/bhtGG4
O termo Burnout se aplica apenas ao ambiente corporativo e foi criado em 1974 pelo psicanalista americano Herbert Freundenberger, para descrever seu próprio adoecimento e de seus colegas. Essa síndrome ainda não possui um conceito definitivo e se caracteriza por um estado de exaustão emocional, mental e física do indivíduo. “As causas da Síndrome de Burnout são estresse excessivo e prolongado causado pelo trabalho. Ela engloba três vertentes: exaustão emocional, despersonalização e falta de envolvimento pessoal no trabalho”, explica Zora Viana, psicóloga e coach da Atitude Emocional.
O aumento na frequência de casos da síndrome, fez com que ela fosse registrada na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID – 10), conforme consta na Portaria nº 1339/99. “Apesar de todas as profissões estarem sujeitas à Síndrome de Burnout, as mais afetadas são as que exigem envolvimento interpessoal direto e intenso. São exemplos as áreas da saúde, educação, assistência social, bombeiros, policiais, entre outros”, relata Zora.
Fonte: http://zip.net/bstGRw
A Síndrome de Burnout é causada pela combinação de alguns fatores, quando eles se apresentam em excesso. Entre eles, estão a rotina de trabalho desgastante, falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, vício em trabalho, nível muito alto de exigência o tempo todo, problemas de relacionamento com superiores, colegas e clientes, falta de autonomia, sentimento de autossuficiência, negatividade, insatisfação, sentimento de exploração e desvalorização, sobrecarga e ausência de uma válvula de escape.
Os sintomas iniciais podem se confundir com depressão e podem variar de acordo com cada pessoa. Por isso, Zora alerta que é fundamental realizar um diagnóstico preciso com um profissional. “Em caráter emocional, o indivíduo que sofre da síndrome pode apresentar comportamentos como agressividade, isolamento, confusão interior, desânimo para o trabalho, atitudes negativas, monotonia e sensação de que não possui tempo suficiente para realizar as tarefas”, explica.
Fonte: http://zip.net/bktGzr
Além disso, é possível que apareçam sintomas físicos como dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma, distúrbios gastrointestinais e, em mulheres, é comum alteração no ciclo menstrual. Alguns sintomas disfuncionais também devem ser observados como falta de libido ou insatisfação sexual e insuficiência ou exagero do apetite e do sono.
A doença pode ser tratada com acompanhamento psicológico e em alguns casos, é necessária uso de medicamentos orientado por um psiquiatra, mas é essencial que ocorra uma mudança no estilo de vida. “Primeiro é importante que o psicólogo consiga identificar se é o comportamento do paciente ou o ambiente de trabalho que acarretam as situações de estresse. Também não adiantará fazer uso de medicamentos e continuar com a mesma rotina que o fez adoecer. É preciso uma mudança de posicionamento do indivíduo sobre o ambiente, as tarefas e a rotina de trabalho. Buscar qualidade de vida é o grande segredo para superar e restabelecer o equilíbrio pessoal”, finaliza Zora Viana.
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(En)Cena é parceiro em evento que discute relação entre trabalho e saúde
Evento acontece em Palmas e Araguaína e terá como palestrante a Profa Dra. Ana Magnólia Mendes
O trabalho tem uma relação direta com a saúde e a qualidade de vida. Afinal, é no local de trabalho que o trabalhador passa a maior parte do seu dia. Diante disto, o 1º Encontro de Trabalho e Saúde, que será realizado no próximo dia 23 de março em Palmas, se propõe a discutir as questões que envolvem o trabalhar e o sofrer, e consequentemente o adoecimento.
O evento terá como palestrante a professora Dra. Ana Magnolia Mendes, que possui formações na Inglaterra, França e Estados Unidos. A questão central é analisar as relações sujeito-organização do trabalho, visando a mobilização política do trabalhador e das organizações coletivas de trabalho. As inscrições são gratuitas e o interessado deve se inscrever no link: http://apps.ifto.edu.br/sge/. O número de vagas é limitado.
O 1º Encontro de Trabalho e Saúde acontecerá no dia 23 de março, em Palmas, e nos dias 24 e 25 em Araguaína. Em Palmas, a programação começa, a partir das 15 horas, com uma roda de conversa no auditório do Instituto Federal do Tocantins (IFTO). A atividade terá o tema: Meu trabalho me adoece? Mais tarde, a partir das 19h30, será realizada a conferência Trabalho e Sofrimento na Contemporaneidade, no Auditório Cuíca, na Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Em Araguaína, a programação começa no dia 24 de março, com a realização da conferência Trabalho e Sofrimento na Contemporaneidade. O evento acontecerá no anfiteatro do campus da UFT em Araguaína, a partir das 19 horas. Na quinta-feira, o IFTO receberá a roda de conversa Meu Trabalho me adoece?, às 9 horas, no Instituto Federal.
O portal (En)Cena e o curso de Psicologia do CEULP/ULBRA é parceiro no evento.
O menino Lorenzo levava uma vida tranquila e normal. Interagia com os pais, estudava, brincava, assim como todos os garotos de sua idade. Até os cinco anos seu desenvolvimento físico e cognitivo pareciam seguir normais. Até que, por volta dos seis anos, a criança começa apresentar uma disruptura de comportamento – social e físico -, tais como; dificuldades de se locomover e na fala. Após alguns exames e muitas observações médicas os pais de Lorenzo recebem a noticia de que a criança é portadora de ALD (Adrenoleucodistrofia), uma doença rara, degenerativa e que causava danos de ordem neurológica.
Segundo a literatura médica, a ALD é uma patologia genética, de caráter progressivo que acomete o cromossomo X. É transmitida por mulheres, afetando, assim, exclusivamente os homens. Dentre algumas formas da doença, podemos encontrar a forma neonatal, clássica e adulta. Na primeira, a doença manifesta-se logo nos primeiros anos de vida da criança, a expectativa de vida é de apenas cinco anos. Já na forma Clássica, considerada a mais severa, começa a se manifestar por volta do quarto ao décimo ano de vida.
A criança que desenvolve a doença a partir dos quatro anos de idade, geralmente, sofre uma série de complicações, como problemas de fala, demência, dificuldades de se locomover, perda de memória, audição, fala e visão. Na fase adulta, a doença é descoberta na adolescência, e é considerada uma forma leve da ALD. Segundo estudos, na forma adulta, o paciente pode viver algumas décadas com a doença. Os problemas mais comuns são; deterioração neurológica, impotência e incontinência urinária. Embora atinja, em sua maioria, o sexo masculino, há também algumas manifestações no sexo feminino, porém os sintomas são menos agressivos, geralmente apresentam paralisia nas pernas ou fraqueza nos músculos.
Todas essas informações hoje parecem simples, claras e objetivas. Sabe-se a causa, os efeitos e o tratamento, embora não exista um tratamento definitivo, mas existem formas de estabilizar a doença e evitar que a enfermidade seja rapidamente fatal.
Para os pais de Lorenzo nada era claro. Era tudo muito novo, sem uma explicação concreta e o mais difícil: sem um tratamento.
Com o adoecimento de Lorenzo, toda a família passa por um processo de luto, justamente pela perda de um filho saudável. Micaela, a mãe, não aceita o diagnóstico, resistindo ao máximo compreender sobre toda a situação que agora permeia o seio familiar. Já o senhor Augusto Odone, que também não aceita a condição de ver seu filho morrer aos poucos, começa uma luta interrupta atrás de tratamentos que possam reverter o caso ou amenizar o sofrimento de Lorenzo.
Após o diagnóstico e a posição da equipe médica, ao afirmar que a medicina não é uma ciência exata e que não se sabe se irão receber resultados precisos e decisivos, a estrutura familiar sofre mais um abalo. De um lado temos uma mãe desnorteada, sem esperança e que se recusa a aceitar que o filho possui uma doença grave, do outro lado temos um pai que não aceita a posição dos médicos e nem da ciência. Lorenzo não adoeceu sozinho, sua família também adoeceu com ele.
A Família é um grupo organizado, onde cada pessoa tem seu um papel estabelecido. No momento em que um dos componentes desse grupo adoece, todos os outros que pertencem a esse mesmo grupo também adoecem, portanto, ocorre uma desestruturação familiar, onde os papéis desses familiares terão de ser reorganizados. Andrade, Lustosa e Melo (2009) trazem como exemplo dessa reorganização, uma família onde o Pai adoece, ou seja, “o homem da casa”, com esse familiar doente, quem passa a ter papel de líder é a Mãe, portanto, os encargos e responsabilidades da casa se voltam todos, praticamente, para essa mulher. Agora ela é uma mãe solitária, sem o apoio do seu cônjuge.
Após o adoecimento de um ente querido, os familiares apresentam necessidades específicas que devem ser acompanhadas e apoiadas por uma equipe especializada. É comum apresentarem frequências elevadas de estresse, distúrbios do humor e ansiedade durante o conhecimento da doença e a internação desse ente, podendo, em muitos casos, persistirem após a morte do paciente (Soares, 2007).
Segundo Cirqueira e Rodrigues (s/d) o momento em que a família descobre a doença da criança é considerado como uma fase de maior desespero, pois não sabem sobre a doença, suas consequências, gravidade e nem entendem sobre o tratamento e as implicações que terão no dia-a-dia da criança e da própria família. Permanece um sentimento de inutilidade e/ou de incapacidade, não sabem se poderão confortar a criança ou se terão condições de ajudá-la durante todo esse processo.
É importante o acompanhamento psicológico da família do paciente, uma vez que, durante esse processo de adoecimento e internação, os familiares exercem papel fundamental na vida do daquele familiar doente, pois as suas reações diante de toda essa situação também influencia nas reações do paciente (Andrade, Lustosa e Melo, 2009).
Os familiares merecem um cuidado especial, desde o instante da comunicação do diagnóstico, uma vez que esse momento tem um enorme impacto sobre eles, que veem seu mundo desabar após a descoberta de que uma doença potencialmente fatal atingiu um dos seus membros. Isso faz com que, em muitas circunstâncias, suas necessidades psicológicas excedam as do paciente e, dependendo da intensidade das reações emocionais desencadeadas, a ansiedade familiar torna-se um dos aspectos de mais difícil manejo. (Adrande, Lustosa e Melo, 2009. apud Oliveira, Voltarelli, Santos e Mastropietro, 2005).
Segundo Barreto e Amorim (s/d) a descoberta de uma doença desencadeia uma série de sentimentos, que variam de acordo com o grau de conhecimento e informações sobre a mesma, tanto para a pessoa que adoeceu quanto para sua família, além disso, as consequências de um tratamento demorado também influenciam nos sentimentos daqueles que estão envolvidos intimamente com a sujeito doente.
Portanto, é cada vez mais importante que os profissionais da área (equipe de médicos e psicólogos) acompanhem os familiares desde o momento da descoberta da doença e durante todo o processo de internação, reabilitação e/ou luto. Ajudando-os a extravasarem suas aflições e angustias, contribuindo para uma melhor compreensão da situação que estão presenciando.
Como mencionado na análise do filme 50%, o acompanhamento de um psicólogo hospitalar auxilia não só o paciente no enfrentamento de sua enfermidade como também auxilia os familiares desse paciente e presta assistência a equipe médica. “A medicina está voltada para curar a patologia, enquanto a psicologia hospitalar busca maneiras de ressignificar a posição do individuo frente à doença” (Rocha, 2014).
A falta de informação é uma das principais causas do desespero da família do paciente, sem uma resposta ou algo que possa diminuir as dúvidas dos familiares acerca da doença que atinge um ente querido, a aflição e angustia contribuem para um desequilíbrio na estrutura desse grupo.
As dificuldades da ciência em diagnosticar a doença de Lorenzo, a postura rígida e fria do médico ao dar o diagnóstico, com sua resposta direta ao afirmar que não havia nenhuma possibilidade de cura para Lorenzo, traz a tona as discussões acerca da “arrogância” da ciência frente ao sofrimento humano.
Muitos artigos relacionados ao filme O Óleo de Lorenzo trazem como ponto principal de discussão justamente esse termo: Arrogância Cientifica. Embora a presente análise não traz como objetivo principal a discussão dessa temática, é importante ressaltar a importância de se observar todas as reflexões que o filme nos instiga a fazer.
Como dito, a falta de informação e de atenção por parte da equipe médica responsável por Lorenzo, faz com que a família Odone’s atravesse uma linha tênue entre o desespero e a esperança de ver a doença do filho ao menos estabilizada. É então que o filme nos apresenta um tipo de desafio e de luta entre a Ciência, o saber mítico constituído x o Saber popular e a intuição.
Os pais de Lorenzo, com as informações obtidas através do médicos, e através dos inúmeros livros que passaram a ler, buscam a compreensão dessa doença rara que agora faz parte de suas vidas. Eles buscam principalmente compreender o fenômeno que interfere no processo bioquímico que causa a degeneração neurológica da criança. Com essa atitude os pais de Lorenzo são vistos como inimigos pelos representantes da ciência, pois deixam de se curvarem ao diagnóstico e passam a enfrentar diretamente a natureza, controlando, através de um óleo (mas especificamente uma mistura de óleo/azeite de oliva e colza) a, até então, incontrolável Licodistrofia.
A produção “O Óleo de Lorenzo” exibe a arrogância, dos guardiões do saber científico que não permitem concorrência, conduzindo o espectador a uma profunda reflexão acerca da contradição entre o saber científico acumulado pela academia e o saber não reconhecido no ambiente acadêmico (MARQUES, s/d).
Quando o óleo começa a apresentar os resultados positivos, estabilizando a doença de Lorenzo, os pais têm suas esperanças renovadas. Lorenzo tem melhoras significativas e junto com ele toda a família também estabiliza o sofrimento e a estrutura familiar é reconstruída.
O filme O óleo de Lorenzo, é uma história real, e que nos intiga a pensar sobre questões éticas profissionais e a importância do apoio familiar durante o processo de adoecimento e na recuperação de cura de um dos membros da família.
Lorenzo Odone faleceu aos 30 anos de idade, vinte anos a mais do que as especulações médicas, após complicações devido a uma pneumonia. Segundo seu pai, Augusto Odone, ele não havia recuperado a fala nem os movimentos, mas estava presente e não sofria, não reclamava de dores. Os pais de Lorenzo permanceram esperançosos até o fim.
Referências:
AMORIM, R.C; BARRETO, T.S. A Familia Frente ao Adoecer e ao Tratamento de um Familiar com Câncer. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://www.facenf.uerj.br/v18n3/v18n3a22.pdf
MENDES, J. A; LUSTOSA, M. A, e ANDRADE, M. C. M. Paciente terminal, família e equipe de saúde. Rev. SBPH [online]. 2009, vol.12, n.1, pp. 151-173. ISSN 1516-0858.