Imersão ao máximo: Cultura Xerente

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Dr. Rogério deu uma volta por todo o espaço da aldeia e contando um pouco de como foi fazer sua pesquisa em torno daquela comunidade.

Aos onze dias do mês de maio, em um sábado, os acadêmicos de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas, das turmas de Estágio Básico 1 realizaram uma visita a Aldeia da etnia Xerente, com a supervisão das professoras Ana Letícia Covre, Muriel Rodrigues e o Dr. Rogério Marquezan. Tendo o objetivo de: conhecer uma nova cultura, seus costumes e fazer com que os alunos ‘’saiam de dentro da caixa’’ e assim experimentassem uma vivência única e inesquecível.

Ao chegarmos fomos recebidos pelo cacique que salientou que gosta muito de receber pessoas na comunidade pois ocorre uma troca de conhecimentos, o que na minha cabeça fez total diferença, pois para eles um simples lanche ofertado significa muita coisa, que vai muito além do que apenas comer e infelizmente nós não damos esse devido valor.

As primeiras impressões que tive ao chegar na aldeia foram que apesar das limitações da individualidade tudo se é resolvido na base do diálogo, quando chegamos os moradores estavam quase começando uma reunião para debater um tema que estava causando certa crise nos demais.

Fonte: Acervo Pessoal

O método utilizado durante a visita foi a típica aula dialogada, o que estamos habituados a assistir; durante a aula Dr. Rogério deu uma volta por todo o espaço da aldeia e contando um pouco de como foi fazer sua pesquisa em torno daquela comunidade.

Fomos recebidos pela professora Maria Helena, uma historiadora formada pela UFG que possui livros e artigos publicados. Ela cantou para todos ali presentes e expressou que estava muito feliz em receber alunos que se interessavam em conhecer a cultura daquela comunidade.

Após a cantoria Maria Helena e sua filha tiveram o prazer de nos pintar e nos inserir em suas ‘’famílias’’, elas eram Kubasi e Kuzê logo após o Dr nos levou para conhecer o riacho e alguns alunos tiveram o prazer de se refrescar na água e brincar junto com as crianças.

Fonte: Acervo Pessoal

Por vir de um município que matem contato direto com as comunidades tracionais eu já sabia como era toda a organização de moradia e um pouco de como eles resolvem seus ‘’problemas’’, então cheguei com a visão da aldeia bem desconstruída.

A experiência com certeza mexeu muito comigo pois notei que apesar de ter interesse o diálogo e a nossa inserção nas comunidades tradicionais é pouco e isso me despertou interesse em trabalhar nessa área, posso dizer com todas as palavras que me tornei uma pessoa melhor após essa visita.

Fonte: Acervo Pessoal
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Em contato com o povo Xerente

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Durante a manhã do dia 11 de maio de 2019, a turma de Estágio básico 1 do CEULP/Ulbra juntamente com a equipe de estagiários do portal (En)Cena – Saúde Mental em movimento, foram em uma visita à aldeia Salto – Xerente, em Tocantínia-TO, sendo guiados pelas professoras Ana Letícia Odorizzi e Muriel Rodrigues com a participação especial do psicólogo Rogério Marquezan, que realizou pesquisas na mesma comunidade e é bem aceito por eles; que anteriormente nos proporcionou um momento de esclarecimento no qual ideias equivocadas sobre como é o modo de vida indígena foram extinguidas.

Ao chegar fomos muito bem recebidos, como devolutiva a sua calorosa recepção ofertamos o café-da-manhã e depois fomos conhecer a aldeia, repleta de casas de tijolos e barro, campo de futebol, muitas crianças que nos olhavam com curiosidade e simpatia. A professora de cultura indígena Maria Helena cantou uma música em homenagem ao dia das mães na língua nativa da tribo: Macro Jê, contou um pouco sobre dons e espíritos em que acreditam, foi uma ótima oportunidade para conhecer sua cultura entrando diretamente em contato.

Conhecer pessoalmente a forma que eles vivem foi uma quebra de estereótipos (por exemplo: “cultura ultrapassada, índio não trabalha”) que só incentiva a invisibilidade e desprezo a esses povos. E como é importante trabalhar o olhar através do relativismo cultural onde não há cultura melhor que a outra, respeitar a cosmologia dos povos indígenas que lutam desde a colonização até hoje por seu direito de existir, reconhecer e preservar sua cultura sendo tão complexa e bem construída, revelando a essência da natureza e do ser humano original, e que foi o ponto de partida do Brasil que hoje conhecemos.

Fonte: Arquivo Pessoal

A respeito da atuação da psicologia no contexto da saúde indígena, infelizmente o psicólogo não compõe a equipe multidisciplinar que os atende, então ainda tem um longo caminho a trilhar para a inclusão dessa profissão. Ademais, ao pensar em psicologia indígena tendemos a imaginar atendimento clínico devido ao modelo biomédico que nos persegue, entretanto, inicialmente a psicologia indígena propõe a superação de preconceitos, criação de políticas públicas que incluem a diversidade e igualdade, promoção de diálogos, e claro suporte emocional e mental tanto aos indígenas, dentro do seu contexto sociocultural, como aos membros que prestam serviços.

Sou grata por ter aprendido tanto em tão pouco tempo, admiro esse povo que apesar do genocídio, discriminação, falta de reconhecimento e suporte, continua resistindo, mas é tempo de mudar a história, seguir e alcançar seus direitos, suas terras, seu valor e legado perante todos.

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Uma experiência marcante numa comunidade Xerente

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No dia 11 de maio ocorreu uma visita a tribo indígena Xerente, localizada na cidade de Tocantínia na região central do Tocantins, pelos alunos do Estágio Básico I, e o grupo do programa de extensão do site (EN)cena Saúde Mental em Movimento. Os respectivos alunos da instituição de ensino CEULP/ULBRA tiveram anteriormente uma aula para entenderem teoricamente a forma de organização desse povo, e suas visões de mundo como seres culturais.

As ideias apresentadas foram ministradas pelo psicólogo Dr. Rogério Marquezan, baseando-se na sua pesquisa de campo que abarca profundamente a estrutura Xerente, que se agrupa por ter o mesmo tronco linguístico Macro-jê, subdividindo-se em diferentes clãs em uma mesma tribo, sendo este, um mapeamento extenso e bastante complexo, entretanto, visto de forma simplista para nossa compreensão prévia, com objetivo primordial de quebrar estigmas relacionados à visão eurocêntrica sobre os indígenas, conjuntamente ao entendimento de que nossa profissão ainda não se encontra sendo valorizada, pois ainda se restringe a ideia biológica dentro da equipe multidisciplinar com foco em promover saúde dentro das tribos.

Entretanto, o “auxílio” da psicologia nesse âmbito multiprofissional é garantir que os costumes da aldeia não sejam alterados pela tentativa falha de promoção da saúde física, pois por vezes o profissional não se inteira ou não tem molejo para lidar com culturas que irão interferir diretamente no modo de atuação, afinal a forma de entendimento de gravidade, necessidade, e saúde são diferenciadas, e são influenciados pela sua religiosidade e costumes.

Fonte: Arquivo Pessoal

 

No ambiente indígena o psicólogo acaba se “infiltrando”, tornando-se necessário nesse espaço, uma ferramenta cujo papel é ajudar a promover o que necessita ser feito para promover saúde, com a sensibilidade de se misturar, compreendendo de forma ampla o contexto da tribo. Só assim é possível encontrar maneiras de ter acesso a essas pessoas, em busca de adesão, diálogo e acordos. O grande ponto é que, enquanto os profissionais estiverem com o posicionamento de detentores do saber, e impondo a esses o que aprenderam na academia, não estarão preparados para atuar com pessoas, muito menos com pessoas com culturas divergentes.

As relações de poder interferem todos os contextos, como psicólogos em formação fomos esclarecidos sobre a necessidade de saber nosso local de fala, compreendendo os fatores históricos dos motivos dessa população se encontrarem hoje, em maior parte, nas regiões do norte, sendo essencialmente pela peregrinação que ocorreu com o passar do tempo, por suas sobrevivências, pelas suas vidas; grande parte já havia sido dizimada ou pelas doenças que o branco trouxe, ou em decorrência da ideia eurocêntrica, sobre a necessidade civilizatória e impositiva do “ideal”.

O descaso que essa população vive não vem de agora, foram empurrados aos cantos do Brasil no entendimento que seriam extintos assim como os animais, enquanto a exploração de recursos reinava, e ainda reina. O psicólogo tem um papel extremamente importante de manter a integridade dessas pessoas, se comprometendo para que todos tenham acesso a saúde, mas que para isso, sua cultura não seja corrompida mais uma vez por  nós, brancos, a mercê do que é o “certo”; temos que ocupar espaços a fim de garantir que o respeito seja antemão das atuações.

Fonte: Arquivo Pessoal

A visita

Às 07 horas da manhã, os alunos da Ulbra saíram de Palmas e pegaram estrada em direção Tocantínia. Eu nunca tive contato com tribos anteriormente, foi minha primeira experiência nesse espaço, mas que me despertou muita curiosidade e admiração. Estavam todos reunidos quando chegamos, pois sabiam sobre nossa visita, o Cacique da tribo se apresentou e nos falou que também era professor, nos deixou claro que estavam abertos para encontros como aquele, que era focado aos estudos e pesquisas.

Os traços marcantes da tribo, a cor, os cabelos, suas características tão próximas eram evidentes. Após as breves apresentações do Dr. Rogério que já era conhecido e batizado pela tribo, tivemos de sair, nos dispersamos para outros ambientes pois eles estavam em reunião, conversando sobre alguma divergência entre os clãs. Durante esse espaço de tempo olhamos o ambiente, algumas casas eram feitas de madeira, outras de barro, outras de tijolo, havia um espaço livre com um campo de futebol, pois é costume que aconteça jogos ali.

As crianças estavam correndo e sempre brincando, ou nos observando; é cultural que elas saibam primeiramente a língua Macro-jê, e depois, aprendam o português. Não conversavam diretamente conosco por conta disso, mas muitos brincaram e interagiram com os alunos.

Fonte: Arquivo Pessoal

Conversamos diretamente com Maria Helena que cantou para nós música para o dia das mães na língua vigente da tribo (acompanhada do instrumento maracá de coité), falou um pouco de suas vivências, nos mostrou sua visão sobre nossa presença, que vê como importante os estudos de seu povo, para que sua cultura seja preservada, conhecida e respeitada pelos outros. Ela é uma mulher indígena que teve de passar por diversas dificuldades para conseguir se graduar, barreiras essas que foram superadas, também com ajuda da Funai, que segundo ela possibilitou que tivesse realizado seus desejos.

Pudemos nos banhar no mesmo rio em que eles tomam banho, foi um dia de aproximação, que me trouxe também muitas inquietações e medos, pois conhecendo a dívida histórica que temos, era delicado ter no braço a marca de um clã de uma tribo, assim como registrar esse momento, ou pagar pelos artesanatos, pois essa troca é algo extremamente arraigado que ultrapassou os tempos na época da colonização.

Além disso, ter de ver a realidade, de que eles precisam vender artesanatos, abrir suas portas, porque suas vozes por si só não são respeitadas, e o solo apenas não os sustentam é algo que me traz muito incômodo, eles estão presos na sociedade capitalista mesmo não tendo optado por isso. A troca é uma forma de sobreviver ao contexto, assim como fizeram por toda a história. A terra que eles têm por direito, é a forma mais concreta de ter autonomia, de ter poder sobre suas escolhas; quanto mais se afastam de seu terreno, mais estariam fadados a ter que ceder a uma cultura que não os compete. Não ter respeito em todos os âmbitos é uma das marcas sociais da visão branca, etnocêntrica.

Fonte: Arquivo Pessoal

A vivência me despertou sobre qual seria o papel do psicólogo, como seria a inserção assídua e com visibilidade e respeito ao nosso trabalho de mediação na atuação multi. E o mais importante, como chegaríamos a ir além das relações biológicas e medicamentosas e trabalhar com a ideias do âmbito psicológico nesse contexto? São questões que evidentemente não há respostas breves, pois cada tribo é um mundo, é um contexto único, e nos traz à tona a necessidade de sempre estarmos completamente ligados na desconstrução muito mais que na construção, pois poderíamos cair sobre a errônea ideia do “branco salvador”, ou conhecedor. Para conseguir evoluir e obter resoluções, teríamos de nos desprender de nossos óculos, e assumir que nossa ciência é útil, entretanto não é a única resposta para soluções.

Pude me visualizar nessa atuação, com certeza poder experimentar das fontes me traz a oportunidade e ampliação do meu futuro profissional, além de viabilizar esse ser humano em construção com menos achismos e preconceitos, afinal, estou inserida em um mundo assim, e é importante que eu tome consciência destes fatos, vislumbrando realidades divergentes, e percebendo minha pequenez diante de tantas formas de se viver.

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Um dia de vivência na Aldeia Salto – Xerente

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No sábado, 11 de maio de 2019, a Equipe (En)cena acompanhou a Turma de Estágio Básico I em uma visita a aldeia Salto do povo Xerente, localizada em Tocantínia-TO. A visita foi conduzida pelas professoras Muriel e Ana Letícia e pelo professor Rogério Marquezan (UFT). A visita teve como objetivo: oportunizar os acadêmicos a entrar em contato com a dimensão social do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.  A Equipe (En)cena foi convidada a fazer a cobertura do evento, e desde então já fiquei bastante animada.

O que vem à sua cabeça quando você escuta as palavras “índio” e “aldeia”? Na minha sempre vinha o que eu vi representado na literatura e alguns filmes. Ou seja, já imaginava vários índios nus, todos bem pintados, uma aldeia cheia de ocas, um rio enorme como fonte de alimento, peixe assado, muitas penas, flechas, um cacique bem idoso e nada de tecnologia. E foi com este pensamento que fui a aldeia indígena Salto, do povo Xerente, e quando cheguei lá, foi um momento de reflexão e desconstrução.

Ao chegar na aldeia já dei de cara com várias crianças e adultos vestindo roupas comuns, um galpão enorme para realizar reuniões e festas, várias casas de tijolos, um enorme campo de futebol, banheiro, energia e água encanada. Fiquei por um tempo tentando avistar o cacique, e logo descubro que o cacique estava do meu lado. Nunca imaginei, pois o homem que estava ao meu lado era jovem. Me perguntei: mas caciques não são caciques justamente por que têm mais experiência? Então por que não um idoso? Diante disto tudo fiquei um pouco confusa, confesso.

Ao visitarmos a casa da Dona Maria Madalena, índia, historiadora, professora e autora de alguns livros indígenas meu coração saltitava de alegria. Ela cantou uma música indígena linda para nossa chegada e disse com alegria o quanto estava feliz com nossa presença. A historiadora contou que na cultura Xerente tudo tem dono, um espírito, desde a água até a folha da árvore. Ou seja, é costumeiro pedir permissão para fazer uso de qualquer coisa. Caso o espírito não permita o uso, as consequências podem ser doenças físicas ou psicológicas. E a cura ou o tratamento é feita pelo pajé, que é considerado o médico dos médicos.

Dona Maria nos contou também que o respeito às diferentes famílias é muito importante. Em momento de reunião política, cada família tem seu momento de fala sem interrupções. Os mais velhos são ouvidos atentamente, e isto é ensinado desde a infância. Assim como a língua indígena Macro Jê, é ensinada as crianças até os 5 anos, e só depois disso que elas aprendem o português.

No fim do passeio fomos conhecer o rio. Descemos uma ladeira cheia de obstáculos em meio a natureza, com vários indiozinhos nos guiando. Ao chegar no local, que maravilha, uma água maravilhosa, com uma brisa sem explicação. Eu só queria mergulhar. Eu e alguns colegas entramos com a roupa que estávamos no corpo. Que sensação incrível, que prazer entrar e me banhar na mesma água que este povo forte e guerreiro também faz o mesmo. Me senti tão viva e aproveitei cada momento.

Ao chegar em casa eu refleti bastante. Pensei em toda história do índio no Brasil, da forma que a terra foi tomada de suas mãos. Foram feitos de escravos. E mesmo séculos depois, com toda tecnologia, a aldeia Salto do povo Xerente continua praticando sua cultura, aprenderam a conviver com a cultura do homem branco sem perder a identidade indígena, encontraram equilíbrio nas duas coisas.

Diante de toda experiência vivida, carrego no peito um emaranhado de sentimentos um tanto quanto ambivalente. É um misto de alegria com tristeza, pois a tristeza me invade quando penso no sofrimento que a história do índio no Brasil é contada. Mas meu coração também se enche de alegria ao ver de perto que cada índio daquela aldeia vive a identidade indígena, independente de morar em uma oca ou em uma casa de tijolo.

A visita me fez refletir sobre minha própria história enquanto mulher negra, descendente de escravos. Me fez pensar nos meus antepassados e ao invés de olhar com pena, olhei com admiração. Que povo forte. Que mesmo com o passar do tempo, que jamais percamos nossas raízes. Que o respeito à diferença seja uma lei de todos, pois independentemente da cor, raça, cultura e status, ninguém é melhor do que ninguém. Hoje sigo fortalecida e com o coração cheio de gratidão por quem fui, por quem sou e por quem serei.

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