A construção social do amor e do casamento para as mulheres

Compartilhe este conteúdo:

Casamento é o destino tradicionalmente oferecido às mulheres pela sociedade. Também é verdade que a maioria delas é casada, ou já foi, ou planeja ser, ou sofre por não ser — Simone de Beauvoir.

A promessa dos felizes para sempre em duas alianças.
Fonte: Quimono / Pixabay

Se entrelaçando entre as relações humanas, o amor romântico e o casamento foram apresentados às mulheres como algo primordial em suas vidas, ainda que o conceito tenha perdido fôlego nos últimos anos, atualmente a felicidade e completude de uma mulher ainda se encontra associada ao papel de esposa e mãe, aos homens são apresentados outros sonhos na infância, já para as mulheres, até mesmo com as brincadeiras vemos um padrão de fantasiar, quando criança, em ser dona de casa e mãe. 

Ao longo da vida as mulheres são ensinadas a sonharem e desejarem uma grande história de amor, o encontro da alma gêmea, o casamento e a maternidade como a descoberta da felicidade, o patriarcado implantou a ideia de que, para as mulheres o amor é o principal, e tópicos como casamento e maternidade foram romantizados ao longo dos anos, disseminando a mensagem de que mulheres são seres sensíveis e amorosos, com necessidade de amar e se tornar cuidadora, se completando dentro de uma relação romântica. Simone de Beauvoir escreveu em seu livro O Segundo Sexo (1949):

Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade. 

Desde a infância, em filmes direcionados para o público infantil, como os clássicos da Disney, contos de fadas protagonizados por figuras femininas, o feliz para sempre da heroína era o encontro do amor e o matrimônio, essas imagens por vezes são enraizadas nas cabeças de meninas, que sonham com o dia que vão vivenciar a fantasia dos filmes, encontrando o príncipe perfeito, o homem ideal, mas diferente dos filmes, na vida real nem sempre o casamento é o final feliz da história.

Durante a infância as crianças são bombardeadas com contos de fada. São geralmente histórias para dormir extremamente machistas, que reforçam a ideia de que a mulher é inferior. Enquanto as crianças crescem, suas opções literárias evoluem para outros gêneros narrativos que comumente trazem o mesmo conceito de subalternidade. (ACOSTA, 2009). 

No entanto essa imposição tem a tendência de gerar infelicidade e frustração, pois agora a felicidade tem um padrão previamente estabelecido, é necessário que o encontro com a pessoa que será o complemento perfeito, e quando se tem a sorte de achar o seu par, o aprendizado sobre o amor ofertado às mulheres diz que como mulheres são seres emocionais, a reflexão sobre o amor não é válida, ele deve ser sentido, e o amor é uma coisa linda, que a tudo tolera, aceita e consente. 

Fonte: DWilliam / Pixabay

Era uma vez uma princesa que conseguiu o seu felizes para sempre, mas a vida de casada ironicamente não era um “conto de fadas”, ser uma esposa influencia em sua identidade e modifica a sua vida, ela percebe que em nome do amor e por convenções sociais, ela deve abandonar os seus planos individuais, e que a conjugalidade é cansativa, trazendo a perda de si própria, e até mesmo desgaste físico e mental, no entanto ela deve resistir pois esse é o papel para o qual a mulher foi historicamente designada.  

Esses contos ao refletirem a realidade histórica e cultural da época, por diversas vezes colocavam a figura feminina com um objeto para o matrimônio, com a função de auxiliar o homem. Ainda na contemporaneidade a vida cotidiana não se distanciou desse fato, pois a figura masculina ainda é supervalorizada, constantemente colocada em uma posição de superioridade em relação à mulher. Histórias como essas transmitem a mensagem de que o casamento é a principal etapa na vida de uma mulher, diminuindo ou não valorizando outras conquistas, esse estereótipo conclui que o casamento é primordial se ter felicidade e sucesso. 

Tal ideia foi difundida por inúmeras obras literárias e audiovisuais no decorrer dos anos, com um destaque expressivo em obras destinadas para um público infantil, sendo assim o contexto que foi criado a mulher ainda pode ser vista com atribuições de serventia para os homens, e esses conceitos são propagados de uma forma que não é incomum que muitas mulheres reproduzam esse ponto de vista em seus posicionamentos.

A mulher sempre esteve inserida dentro de uma estrutura patriarcal, na qual seu destino era marcado pela submissão e direcionado ao casamento. Era uma figura emudecida e marginalizada em vários aspectos, por exemplo, como filha ou esposa, não podia opinar em nada que se referisse a outro universo que não o lar, o enxoval, o noivo/marido e o bem-estar da família, restringindo-se a obedecer aos homens da casa. (PIMENTA; DAL CORTIVO, 2012). 

As histórias que são apresentadas em filmes geralmente refletem o imaginário de amor romântico, o sofrimento é o aprendizado que o amor traz, a jornada do herói da maioria das protagonistas femininas é a busca pelo amor, de acordo com Anthony Giddens (2001, p. 28) o amor foi definido por alguém como “[…] uma conspiração engendrada pelos homens contra as mulheres para lhes encher a cabeça com sonhos tontos e impossíveis”. 

Fonte: Olessya / Pixabay

Por muitas vezes o casamento se compõe em uma elaborada armadilha para as mulheres, pois para elas, em concordância com Simone de Beauvoir (1976, p. 498): “o amor foi apontado à mulher como uma suprema vocação e, quando se dedica a um homem vê nele um deus […]”. A forma que homens e mulheres aprendem a amar e se comportar em um relacionamento é divergente, em uma sociedade patriarcal que se centraliza na figura masculina, ao homem cabe “sustentar” seu lar, a mulher é imposto o papel de cuidadora, a responsável de manter o casamento mesmo com dificuldade, a culpada se essa relação fracassar, o casamento e as relações amorosas podem no final ser um fator que traga mais sofrimento que alegria, diferente da promessa vendida ao longo da vida para as mulheres.    

Referências: 

ACOSTA, Rossana Paiva. Personagens femininas da literatura e seu impacto nas gerações. 2019. Disponivel em: https://www.redeicm.org.br/revista/wp-content/uploads/sites/36/2019/10/Personagens-femininas-da-literatura_ok.pdf. Acesso em: 24 de Fev. 2023. 

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Venda Nova: Bertrand, 1976.

GIDDENS, Anthony. Transformações da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Oeiras: Celta Editora, 2001.

PIMENTA, Luciana Mendes; DAL CORTIVO, Raquel Aparecida. A representação da mulher nos contos de fadas tradicionais e contemporâneos nas obras cinderela e procurando firme. 2012. Disponivel em: https://edoc.ufam.edu.br/retrieve/12c3a303-bcba-440e-8d1a-d7145924352c/TCC-Letras-2012-Arquivo.013.pdf. Acesso em: 27 de Fev. 2023.  

 

Compartilhe este conteúdo:

O casamento não vem pronto, casamento se constrói!

Compartilhe este conteúdo:

Soraia Fernandes – soraiafernandes.fm@gmail.com

(En) Cena entrevista a Psicóloga Ana Caroline, especialista em autoestima e relacionamento, 30 anos, esposa e egressa do Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra. No contexto profissional, atualmente Ana Caroline atua como psicóloga clínica,  com ênfase em terapia individual e  Terapia de Casal.

(En) Cena- Ana Caroline, conta pra gente como foi a sua escolha em trabalhar na aréa de relacionamentos.

– Então, há cinco anos tomei essa missão para mim, de ajudar mulheres a viverem um casamento inabalável. Antes disso passei mais de 10 anos tentando viver feliz com relacionamento amoroso e fracassei. Fracassei por querer algo que eu não sabia como conquistar e ainda assim insisti. Afinal, sempre foi o meu sonho ser BEM CASADA e construir uma FAMÍLIA, mas não tinha conhecimento para isso. Já vivi um relacionamento amoroso abusivo, já passei por um namoro em que fui traída, já fui ciumenta ao ponto de pegar o celular dele e sair do carro em movimento para ver mensagens, já aceitei migalhas e fui desrespeitada dentro de uma relação.

É, eu já passei por tudo isso e foi horrível, mas como toda situação ruim se tira lições de aprendizado, EU TIREI AS MINHAS. Hoje vivo o melhor que uma relação conjugal pode me proporcionar. Mas, não caiu do céu, pois casamento não vem pronto. Casamento se constrói.

(En) Cena- Como você define o casamento e qual é a sua visão de um casamento Inabalável?

Para mim o casamento é considerado uma relação entre duas pessoas que se caracteriza como uma convivência pública, contínua e duradoura e que tem o objetivo constituir família.

Na minha atuação profissional trago a possibilidade da pessoa e do casal poder construir um casamento inabalável que é considerado um casamento fortalecido/apoiado/firme que não é abalado facilmente com os desafios encontrados na convivência a dois, e também diante de crenças negativas causadas pela sociedade atual, onde muitas levam o casamento há uma relação enfraquecida ocorrendo a separação.

(En) Cena- Como o casal pode lidar com conflitos em um relacionamento?

Dominando a comunicação que é um dos quatro pilares do casamento inabalável. Quando o casal aprende a se comunicar de forma não acusadora, sem ironia, ofensas e chantagens, é possível lidar melhor com os conflitos conjugais.

(En) Cena- Qual é a sua visão sobre a divisão de responsabilidades e tarefas no casamento?

A mulher é mais propicia a acolher, nutrir e embelezar. O homem está mais enveredado a trazer segurança, proteção e provisão. É muito importante que cada um exerça o seu papel na relação e que haja o equilíbrio dessa estrutura, até para que nenhum dos lados se sinta sobrecarregado com toda a rotina do casamento, pois o prazer está em construir uma família e de forma mais leve.

(En) Cena- Como melhorar a comunicação no casamento e quais estratégias para uma comunicação não violenta?

Desenvolvendo uma comunicação não acusadora, sem ironia, ofensas e chantagens. Falando mais através dos seus sentimentos.

Ex: Hoje fiquei muito triste quando cheguei e a casa estava bagunçada. Me sinto como se você não valorizasse o meu esforço no nosso casamento.

Sempre digo que comunicação é treinamento. Quanto mais você treina, mais você a domina. O que pode ajudar é leitura de livros sobre comunicação, vídeos, conteúdos na internet e a terapia também é uma ótima ferramenta diante dessa dificuldade de comunicação no casamento, pois fala muito sobre como o seu EU é acostumado a tratar o outro.

O que eu como psicóloga desenvolvo com os meus pacientes é a dominação dessa comunicação, tendo controle no momento do conflito, saber o que falar, como falar e a hora certa de falar. São estratégias que funcionam muito bem na resolução de um conflito e na convivência explorando cada vez mais esse formato de se comunicar. Além de ser necessário também ter conversas consideradas difíceis na relação para se construir um casamento inabalável. Pois, casamento não vem pronto. Casamento se constrói e a comunicação é a chave para uma relação saudável.

(En) Cena- Como não cair na rotina no casamento?

Na verdade, o mais saudável para uma família é viver bem uma rotina. Desde que essa rotina seja considerada saudável para os membros da casa, assim como para o casal. O ser humano precisa de rotina. O sair sempre da rotina deixa a vida confusa, bagunçada e sem ordens. O mesmo é para o casamento. O interessante é estruturar uma rotina que o casal tenha um bom vinculo, intimidade e comunicação. Assim a relação permanece fortalecida mesmo que em rotina. Mas, é claro que pode ser inserido algo novo como um jantar em casal, uma viagem ou até mesmo um café da manhã mais elaborado. O importante é o casal se preocupar com o outro e querer agrada-lo. Isso deixará o homem e a mulher conscientes dos momentos em que se deve inserir algo novo na relação que por sinal fortalece ainda mais o vínculo afetivo.

(En) Cena- Os filhos podem ameaçar a relação conjugal?

Sim, se o casal não estiver se preparando para a chegada dos filhos pode sim ser uma ameaça para a relação. Para que isso não aconteça é interessante o casal ter um bom vinculo e uma boa comunicação, firmados na responsabilidade e no compromisso do casamento. Assim, vão conseguir cumprir bem o papel de estarem formando uma família e desenvolvendo maturidade para seguir com a criação e educação dos filhos, além de continuar buscando o fortalecimento da relação, cumprindo suas responsabilidades de casal.

(En) Cena- Como o casal pode lidar com as diferenças culturais ou religiosas em um relacionamento?

Quando se decide casar a decisão é de fazer o outro feliz dentro dessa relação. E isso inclui aceitar as diferenças e saber lidar com questões que são muito importantes para o cônjuge. Agora caso essas questões estejam atrapalhando o vínculo e convivência entre casal o ideal é conversarem sobre isso e ver o que o casal consegue alinhar para que a relação permaneça saudável. Pois é importante que objetivos, planos e sonhos sejam na mesma linha para que o casal não se perca como pessoa ou se distancie um do outro.

(En) Cena- Quais estratégias podem ser utilizadas para equilibrar as necessidades do casal com as necessidades de uma carreira ou outros compromissos?

Dentro do casamento deve-se sonhar juntos, inclusive quando se trata de carreira profissional. Um dos questionamentos que devem surgir na hora de executar algo é: Diante desse compromisso cabe o meu parceiro? Isso fará bem para o meu marido/Esposa? É algo que está me afastando da minha missão de construir uma família? E buscar ter cuidado nessas questões, pois aqui pode colocar a perder toda a relação. Por isso a importância de ter maturidade em um relacionamento. E se não tiver, buscar essa estrutura já que viver um casamento inabalável é o seu sonho.

(En) Cena- Ana Caroline, conta pra gente como foi a sua escolha em trabalhar na aréa de relacionamentos.

– Então, há cinco anos tomei essa missão para mim, de ajudar mulheres a viverem um casamento inabalável. Antes disso passei mais de 10 anos tentando viver feliz com relacionamento amoroso e fracassei. Fracassei por querer algo que eu não sabia como conquistar e ainda assim insisti. Afinal, sempre foi o meu sonho ser BEM CASADA e construir uma FAMÍLIA, mas não tinha conhecimento para isso. Já vivi um relacionamento amoroso abusivo, já passei por um namoro em que fui traída, já fui ciumenta ao ponto de pegar o celular dele e sair do carro em movimento para ver mensagens, já aceitei migalhas e fui desrespeitada dentro de uma relação.

É, eu já passei por tudo isso e foi horrível, mas como toda situação ruim se tira lições de aprendizado, EU TIREI AS MINHAS. Hoje vivo o melhor que uma relação conjugal pode me proporcionar. Mas, não caiu do céu, pois casamento não vem pronto. Casamento se constrói.

(En) Cena- Como você define o casamento e qual é a sua visão de um casamento Inabalável?

Para mim o casamento é considerado uma relação entre duas pessoas que se caracteriza como uma convivência pública, contínua e duradoura e que tem o objetivo constituir família.

Na minha atuação profissional trago a possibilidade da pessoa e do casal poder construir um casamento inabalável que é considerado um casamento fortalecido/apoiado/firme que não é abalado facilmente com os desafios encontrados na convivência a dois, e também diante de crenças negativas causadas pela sociedade atual, onde muitas levam o casamento há uma relação enfraquecida ocorrendo a separação.

(En) Cena- Como o casal pode lidar com conflitos em um relacionamento?

Dominando a comunicação que é um dos quatro pilares do casamento inabalável. Quando o casal aprende a se comunicar de forma não acusadora, sem ironia, ofensas e chantagens, é possível lidar melhor com os conflitos conjugais.

(En) Cena- Qual é a sua visão sobre a divisão de responsabilidades e tarefas no casamento?

A mulher é mais propicia a acolher, nutrir e embelezar. O homem está mais enveredado a trazer segurança, proteção e provisão. É muito importante que cada um exerça o seu papel na relação e que haja o equilíbrio dessa estrutura, até para que nenhum dos lados se sinta sobrecarregado com toda a rotina do casamento, pois o prazer está em construir uma família e de forma mais leve.

(En) Cena- Como melhorar a comunicação no casamento e quais estratégias para uma comunicação não violenta?

Desenvolvendo uma comunicação não acusadora, sem ironia, ofensas e chantagens. Falando mais através dos seus sentimentos.

Ex: Hoje fiquei muito triste quando cheguei e a casa estava bagunçada. Me sinto como se você não valorizasse o meu esforço no nosso casamento.

Sempre digo que comunicação é treinamento. Quanto mais você treina, mais você a domina. O que pode ajudar é leitura de livros sobre comunicação, vídeos, conteúdos na internet e a terapia também é uma ótima ferramenta diante dessa dificuldade de comunicação no casamento, pois fala muito sobre como o seu EU é acostumado a tratar o outro.

O que eu como psicóloga desenvolvo com os meus pacientes é a dominação dessa comunicação, tendo controle no momento do conflito, saber o que falar, como falar e a hora certa de falar. São estratégias que funcionam muito bem na resolução de um conflito e na convivência explorando cada vez mais esse formato de se comunicar. Além de ser necessário também ter conversas consideradas difíceis na relação para se construir um casamento inabalável. Pois, casamento não vem pronto. Casamento se constrói e a comunicação é a chave para uma relação saudável.

(En) Cena- Como não cair na rotina no casamento?

Na verdade, o mais saudável para uma família é viver bem uma rotina. Desde que essa rotina seja considerada saudável para os membros da casa, assim como para o casal. O ser humano precisa de rotina. O sair sempre da rotina deixa a vida confusa, bagunçada e sem ordens. O mesmo é para o casamento. O interessante é estruturar uma rotina que o casal tenha um bom vinculo, intimidade e comunicação. Assim a relação permanece fortalecida mesmo que em rotina. Mas, é claro que pode ser inserido algo novo como um jantar em casal, uma viagem ou até mesmo um café da manhã mais elaborado. O importante é o casal se preocupar com o outro e querer agrada-lo. Isso deixará o homem e a mulher conscientes dos momentos em que se deve inserir algo novo na relação que por sinal fortalece ainda mais o vínculo afetivo.

(En) Cena- Os filhos podem ameaçar a relação conjugal?

Sim, se o casal não estiver se preparando para a chegada dos filhos pode sim ser uma ameaça para a relação. Para que isso não aconteça é interessante o casal ter um bom vinculo e uma boa comunicação, firmados na responsabilidade e no compromisso do casamento. Assim, vão conseguir cumprir bem o papel de estarem formando uma família e desenvolvendo maturidade para seguir com a criação e educação dos filhos, além de continuar buscando o fortalecimento da relação, cumprindo suas responsabilidades de casal.

(En) Cena- Como o casal pode lidar com as diferenças culturais ou religiosas em um relacionamento?

Quando se decide casar a decisão é de fazer o outro feliz dentro dessa relação. E isso inclui aceitar as diferenças e saber lidar com questões que são muito importantes para o cônjuge. Agora caso essas questões estejam atrapalhando o vínculo e convivência entre casal o ideal é conversarem sobre isso e ver o que o casal consegue alinhar para que a relação permaneça saudável. Pois é importante que objetivos, planos e sonhos sejam na mesma linha para que o casal não se perca como pessoa ou se distancie um do outro.

(En) Cena- Quais estratégias podem ser utilizadas para equilibrar as necessidades do casal com as necessidades de uma carreira ou outros compromissos?

Dentro do casamento deve-se sonhar juntos, inclusive quando se trata de carreira profissional. Um dos questionamentos que devem surgir na hora de executar algo é: Diante desse compromisso cabe o meu parceiro? Isso fará bem para o meu marido/Esposa? É algo que está me afastando da minha missão de construir uma família? E buscar ter cuidado nessas questões, pois aqui pode colocar a perder toda a relação. Por isso a importância de ter maturidade em um relacionamento. E se não tiver, buscar essa estrutura já que viver um casamento inabalável é o seu sonho.

(En) Cena- Como lidar com traição ou infidelidade em um relacionamento?

Buscando fortalecer e proteger a relação, pois isso trará ainda mais confiança no casamento. Geralmente a traição/infidelidade acontece por egoísmo e imaturidade. Pontos que dificultam o indivíduo de seguir os princípios do casamento.

Cada pessoa sabe o seu limite depois de uma traição. Limite de ficar, perdoar e ressignificar a relação buscando mudar a estrutura do casamento em prol da família. E o limite de não suportar passar por isso e decidir pela separação, por decidir não conviver mais com a pessoa. Muitos casais buscam a terapia diante desse grande desafio, pois sozinhos é difícil passar por esse episódio de sofrimento, pois afeta muito a estrutura da família e o emocional do casal.

(En) Cena- É possível manter a paixão e o romance em um casamento de longo prazo?

A paixão não é possível manter por muito tempo, pois existem estudos que relatam que a paixão tem até dois anos de duração dentro de uma relação. Agora o romance possível, tendo o amor como base da relação, o cuidado, respeito e confiança.

(En) Cena- Qual segredo para viver uma relação conjugal feliz e duradoura?

Buscar conhecimento sobre isso. Pois, ninguém nos ensina esse trajeto na vida. E não dá para ter algo duradouro se não for conquistado com esforço e dedicação.

(En) Cena- Qual a importância da terapia de casal e aconselhamento matrimonial?

Orientar o casal em um caminho que eles nunca seguiram e é bem natural se perder. Em momento algum de nossas vidas somos ensinados a viver uma relação saudável, onde a pouca referencia de casal que temos é a dos nossos pais e que na maioria das vezes não é muito boa para poder construir uma família feliz.

Além da área afetiva ser uma das áreas mais importantes na vida do indivíduo, pois se ele não está bem nela pode afetar todas as outras áreas e trazer prejuízos emocionais e até transtornos psicológicos.

Instagram – anacarolinepsicologa

Compartilhe este conteúdo:

“Uma questão de vida e morte”: a dança finita da vida

Compartilhe este conteúdo:

O casal americano Irvin D. Yalom e Marilyn Yalom escrevem, juntos, essa magnífica obra retratando os últimos momentos de uma vida compartilhada embasada em um amor incondicional.  Ambos os escritores, já renomados e reconhecidos mundialmente, decidem redigir juntos um livro impactante, abarcando os seus sentimentos mais profundos e reais, tornando-os palpáveis para nós, leitores. O título por si só já nos impulsiona a refletir: “Uma questão de vida e morte: Amor, perda e o que realmente importa no final”, publicado pela editora Paidós.

Fonte: encurtador.com.br/ijlyL

Essas figuras emblemáticas, sustentadas de muita coragem e sinceridade, nos convidam a entrar na dança de suas vivências mais difíceis, porém mais humanas também. Relatam as experiências e lembranças de mais de 60 anos de matrimônio com muito afinco. No meio de uma situação complicada, decidem iniciar o registro escrito, para servir como fonte de inspiração; para deixar que o livro em si perdure contando essa história, mesmo após suas vozes se silenciarem – após o fim. E claro que conseguiram tal objetivo, com maestria. É um livro para ser lido e guardado na prateleira com um zelo especial. É uma leitura inesquecível que merece ser lida ativamente, sublinhando as partes comoventes e que tanto ensinam sobre uma vida bem vivida, as relações, as adversidades que chegam e o arsenal de sentimentos que advém de cada episódio.

Após Marilyn ser diagnosticada com uma doença terminal que coloca em risco a continuação de sua existência, os dois começam a jornada de detalhar os passos seguintes e cada sensação que surgem nos dias subsequentes, bem como os pensamentos, memórias e questionamentos que vão surgindo a cada consulta médica, nos diálogos compartilhados e nos momentos finais divididos com a família e amigos.

Fonte: encurtador.com.br/JKYZ1

A cada novo capítulo mergulhamos em palavras que conseguem elucidar as emoções mais complexas que um ser humano pode chegar a experienciar. Deparamos-nos com duas perspectivas distintas inteiramente conectadas pelo amor dos dois, que se completam e dão uma força inesgotável ao relato: de um lado temos Irvin, perdendo sua esposa; e do outro, temos Marilyn, sobrevivendo – e vivendo! – os seus últimos meses ao lado do seu marido e outras pessoas importantes.

Apesar de não ser uma leitura fácil, pode ser considerada necessária, pois entramos em contato com temas que na rotina trivial, temos o hábito de ignorar e evitar. Realmente é um assunto que pode alimentar certos medos e receios, mas a finitude é uma certeza implacável que temo. Mesmo que insistamos em carrega-la em absoluto silêncio, fugir pode ser uma opção inapropriada. É fato que iremos nos deparar com um fim, então por que não nos preparamos aprendendo a desfrutar uma vida com mais significado? Esse livro, com certeza, abre nossos olhos e acalenta o coração, servindo como um meio para se encontrar respostas à questionamentos que não ousamos dizer em voz alta.

De alguma maneira, todos nós passaremos por momentos assim. Sentiremos as mesmas dúvidas, os mesmos temores, as mesmas dores, os mesmos sentimentos de gratidão, as mesmas alegrias… Então talvez, após finalizarmos a leitura, estaremos mais preparados para viver a vida até o último suspiro – seja o nosso ou de alguém especial. Estaremos preparados para dançar no ritmo da vida até a última música tocar e as cortinas se fecharem. E então conseguir estar presente, seguir existindo, nas memórias daqueles que ficam, nas fotografias guardadas com carinhos, nas palavras que ousamos escrever ainda respirando…

Por fim, um trecho do livro, para avivar a curiosidade de leitura: “Quanto estamos dispostos a suportar para permanecer vivos? Como podemos terminar nossos dias da forma mais indolor possível? Como podemos delicadamente deixar este mundo para a próxima geração? (…) Escreveremos este diário do que está por vir na esperança de que nossas experiências e observações forneçam significado e socorro não apenas para nós, mas para nossos leitores.”

REFERÊNCIAS

YALOM, I. D.; YALOM, M. Uma questão de vida e morte. São Paulo: Planeta, 2021.

Compartilhe este conteúdo:

A importância do psicólogo em processos de divórcio e guarda

Compartilhe este conteúdo:

No mundo jurídico é comum ser dito que uma das formas mais antigas de contrato é a marital, a união de pessoas para a constituição de uma família e um novo lar é algo tão antigo quanto à própria humanidade. Um ponto importante é que desde o início deste tipo de relacionamento, a intenção era que durasse para toda vida – seja de forma monogâmica ou poligâmica – e aqueles seres ficariam unidos até suas respectivas mortes.

Fonte: l1nq.com/HIkz1

Porém, mesmo na antiguidade já existia a figura do divórcio, apesar de ser uma prática pouco apoiada pelos povos de outrora.

Nos tempos modernos, tanto o conceito de família quanto da própria sociedade sofreu alterações, descobriu-se um vasto campo do saber e dos cuidados mental, e, dentro destas descobertas, notou-se que nas situações de divórcios, o emocional daqueles envolvidos sofria drasticamente com a separação consensual e litigiosa.

É de amplo conhecimento social que o estado emocional de um indivíduo é capaz de ditar os rumos de sua sociabilidade, impactar o seu desempenho profissional, podendo chegar aos extremos de causar danos a sua integridade física se não for devidamente acompanhada e tratada por profissional capacitado.

Fonte: l1nq.com/OvuoU

Nos casos de divórcios há o rompimento afetuoso, há o desgaste do próprio litigio, há ainda toda aquela “lavação de roupa” entre os envolvidos, isso quando não há a presença de filhos no processo.

Infelizmente, os processos que envolvem divórcio e guarda de filhos menores são compostos por fatídicos episódios de alienação parental, agressões, abusos físicos e psicológicos.

Fonte: l1nq.com/G2ogQ

Com isto, além de um excelente profissional do direito, é necessário escolher, para um prosseguimento sadio da vida, um psicólogo capacitado no desenvolvimento de seu trabalho para amenizar e tornar suportável e sem traumas profundos esse momento tão angustiante que é o divórcio.

Um divórcio humanizado, com apoio emocional capacitado, pode evitar traumas e tragédias na vida dos envolvidos, bem como proporcionar um desenvolvimento saudável, mesmo com a separação dos pais, para o filho do ex-casal.

Compartilhe este conteúdo:

Juntos pela conveniência?

Compartilhe este conteúdo:

Estima-se que as pessoas buscam a felicidade e fazem escolhas de forma que contribuem para chegar a esse destino. Mas por que um casal que não consegue se dar bem insiste em continuar a relação? É comum que as pessoas próximas parem de perguntar se estão juntos ou separados, porque o vai e vem se torna tão rotineiro que quase ninguém mais leva a sério as dificuldades conjugais que o casal vivencia.

Nesse tipo de configuração de relacionamento algo pode estar faltando como o sentimento do amor, vínculo afetivo ou até mesmo um senso de dignidade. Pode se ter perdido a consciência do relacionamento e o equilíbrio que é necessário para manter ele. Outro ponto que pode também ocorrer é a perda da noção de identidade, pois suas personalidades podem se emaranhar uma com a outra 1.

Por vezes a irracionalidade toma conta do casal, que fica à mercê de suas particularidades ou disfunções. Assim ambos perdem sua conjuntura de indivíduos que têm poder sobre sua própria história, e permanecem em um estado de inconsciência sobre o seu relacionamento. Algumas vezes na relação pode alternar momentos de equilíbrio, no entanto esse período torna-se passageiro e logo volta a configuração de antes 2.

Alguns sujeitos que estão inseridos nesse tipo de relação, às vezes permanecem por considerar que fará bem ao seu parceiro, mesmo que se sinta desprezado por ele. A noção de que o rompimento pode ocasionar um grande sofrimento emocional pode ser uma grande influência no momento de não optar pelo término do relacionamento2.

Ainda assim, alguns especialistas acreditam que o principal motivo para evitar rompimentos é o medo de ficar sozinho. Muitas pessoas relutam em admitir que existem problemas insolúveis, ou preferem ignorar que seu parceiro é a verdadeira fonte de infortúnio. Outra razão pode ser que algumas pessoas pensam que, se terminarem o relacionamento, serão vistas como uns perdedores sociais, por não conseguir manter um relacionamento1.

Fonte: Pixabay

A separação em sua maioria vem seguida de sofrimento psíquico, mesmo que o sentimento do amor tenha acabado e não haja mais motivos para manter o relacionamento. É por isso que muitos casais insistem em tentar manter um relacionamento que acabam ficando juntos (as) porque, emocionalmente, não conseguem ficar sozinhos (as). É necessário o amadurecimento, mas passar por esse processo pode ser doloroso, e necessita de esforço1.

O benefício de manter a relação e que com isso não é necessário aplicar esforço devido ao processo de individualização que pode ser evitado. Renunciar um relacionamento é abrir mão de seus sonhos e planos com a outra pessoa. A viagem do ano que vem, a casa que vão comprar, o negócio que vão abrir depois da aposentadoria. Tudo desmorona quando a união declara seu fim. Para quem está separando, deve cancelar todos os planos para o futuro e recomeçar. Ter filhos é ainda mais difícil. Além de começar uma nova vida sozinho, você também deve conviver com seu ex-parceiro, além disso quando um dos parceiros depende economicamente do outro parceiro, tem se o medo de diminuir o padrão de vida 2.

 Há muitas razões para permanecer em um relacionamento que terminou. No entanto, manter uma união sem sentimentos pode ter consequências negativas, a começar por viver em constante insatisfação. Compartilhar a vida, inclusive renunciar a alguns desejos, só é possível com sentimentos mútuos um para com outro e desejo de permanecer juntos. Viver juntos pode se tornar um sacrifício quando um relacionamento termina. A insatisfação afeta o relacionamento e a vida familiar. Se não for tratada, ambos ficam em sofrimento e afetam aqueles ao seu redor.

Por outro lado, é preciso avaliar se a relação realmente acabou. Se ainda há sentimentos, pode ser viável tentar encontrar uma solução. A distância que os casais constroem pode ser resultado de falta de comunicação, expectativas irreais um do outro e conflitos não resolvidos. Dê atenção especial a essas questões e, em alguns casos, pode ser possível reconstruir o relacionamento. O companheirismo e a amizade podem até sustentar um relacionamento. Mas depende de qual é a expectativa de vida de cada um que está inserido no relacionamento.

No entanto, se todas as tentativas de construir a felicidade e a convivência agradável falharem, talvez o melhor a fazer é enfrentar a mudança, apesar de o fim de um relacionamento ser em sua maioria um momento de sofrimento, posteriormente pode ser o recomeço de muitas de possibilidades, e se colocar como prioridade pode ser essencial.

Referências

JABLONSKI, B. Até que a vida nos separe: a crise do casamento contemporâneo. Rio de Janeiro: Agir, 1991.

KASLOW, F.; SCHWARTZ, L. As dinâmicas do divórcio: uma perspectiva do ciclo vital. Campinas: Editora Psy, 1995.

Compartilhe este conteúdo:

Em meio à pandemia, registros de divórcios no Tocantins caem 28,8%

Compartilhe este conteúdo:
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o número de divórcios concedidos no Tocantins caiu 28,8%, em 2020, na comparação com o ano anterior. Em 2019, essa queda havia sido de 5,8%, interrompendo dois anos consecutivos de crescimento. Com a retração, foram realizados 2.362 divórcios no estado, o menor número da série história desde 2010. O levantamento divulgado nesta sexta-feira, 18, faz parte das Estatísticas do Registro Civil e complementa as informações publicadas em novembro do ano passado.
No Brasil, 331,2 mil divórcios foram concedidos em 2020, uma queda de 13,6% na comparação com o ano anterior. “Essa queda expressiva pode ser explicada pelas dificuldades na coleta dos dados por causa do sistema de trabalho remoto adotado durante a pandemia. Também não há certeza de que a produção de sentenças dentro das varas continuou a mesma com o isolamento social. Muitos processos podem ter sofrido atrasos nesse período, o que pode ter ajudado a reduzir o número de divórcios em 2020. Foi um ano atípico”, explicou a gerente das Estatísticas do Registro Civil, Klívia Brayner. As dificuldades na coleta também justificam o adiamento da divulgação dos dados relativos aos divórcios.
Do total de 2.362 divórcios registrados no Tocantins, em 2020, 1.702 foram concedidos por via judicial e 660, por via extrajudicial. Enquanto os divórcios judiciais tiveram queda de 34% em um ano, os extrajudiciais, ou seja, aqueles feitos em cartórios, recuaram apenas 9,7%. Para a gerente da pesquisa, algumas pessoas podem ter procurado os cartórios pelas dificuldades no acesso às varas judiciais durante a pandemia. Mas nem todos os divórcios podem ser feitos pela via administrativa. Há critérios para que as separações extrajudiciais aconteçam.
Fonte: encr.pw/Er5qM
De acordo com a pesquisa, no Tocantins, a idade média do homem ao se divorciar era de 43.7 anos e das mulheres 39.6 anos. Quase metade (48,9%) dos casamentos que acabaram em divórcio em 2020 tinha menos de dez anos. É um aumento significativo em relação a 2010, quando essa proporção era de 29,9%. “Isso indica que os casamentos têm durado menos. Em alguns lugares duram mais, como no Sul. Mas na maioria das regiões, observando-se pela série histórica, é perceptível o aumento do percentual dos casamentos que acabam antes dos dez anos. É uma mudança cultural, de costumes e de valores”, observou Klívia.
Além da diminuição no tempo entre a data do casamento e a da separação, o percentual de divórcios entre pessoas com filhos menores de idade tem crescido. Em 2020, mais da metade dos divórcios judiciais (55,8%) ocorreu entre pessoas que tinham filhos menores. Já o percentual de divórcios entre cônjuges sem filhos aumentou de 19,5%, em 2010, para 26,7%, em 2020.
A responsabilidade pela guarda dos filhos é outro ponto levantado pela pesquisa.  Entre 2014 e 2020, houve aumento de 7,6% para 31,9% na proporção de divórcios com a guarda compartilhada, no Tocantins. Em 2014, a lei 13.058 determinou que essa modalidade de guarda deve ser padrão, a menos que um dos pais abra mão ou que não tenha condições de exercê-la.
Cenário nacional
O estado de São Paulo (30,8%), seguido por Minas Gerais (12%) e Rio de Janeiro (9,5%) registraram os maiores números de divórcios concedidos em primeira instância ou por escritura, em 2020. Tocantins apresentou o quinto menor índice (0,7%). No ranking da Região Norte, o estado ficou em quarto lugar.
Compartilhe este conteúdo:

Esforço e incerteza – (En)Cena entrevista Raianne Silva

Compartilhe este conteúdo:

“Um homem deixar a sua casa e cruzar o país, buscando a melhoria da família, é normal. Afinal de contas ele é pai de família: o provedor. Mas quando nós tomamos esse papel para nós, quem não tem força e não se impõe desiste na primeira crítica”.
Raianne de Nazaré Silva e Silva

O Portal (En)Cena conversa com Raianne de Nazaré Silva e Silva, para entender sua perspectiva acerca dos desafios de mulher, migrante econômica do Estado do Pará para o Tocantins (em 2019), mãe de três crianças entre 3 e 9 anos alunos da escola pública municipal de Palmas-TO e sem aulas desde março de 2020 no Brasil da pandemia. A entrevistada destaca os desafios de ser migrante econômica e sair do seu estado deixando a casa, a família e os filhos para buscar oportunidades de trabalho em outro estado, aponta o sofrimento psíquico agudo causado pelas inseguranças vividas durante a pandemia, especialmente, por de saber que os filhos não estão estudando como deveriam e, por fim, indica a importância de ter empatia e de “ouvir” suas dores e cargas emocionais como meio para buscar saúde mental no pós-pandemia.

Raianne de Nazaré Silva e Silva. Foto: arquivo pessoal

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, de mulher, esposa, mãe de três crianças, migrante, profissional de marketing, responsável por seleção de outras mulheres para o cargo de promotora de vendas da empresa NATUMIX e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?

Raianne Silva – Posso dizer com firmeza que é ser resiliente. É buscar forças de onde a gente acha que não tem mais para fazer dar certo. Nós não podemos nos dar ao luxo de não tentar, ou aceitarmos a falha. É buscar constantemente o equilíbrio entre ser uma boa profissional, uma excelente mãe e, ainda, buscar um espaço para se enxergar como mulher.

(En)Cena – Para você, como a pandemia impacta a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres?  E qual é o efeito deste impacto na rotina de casa e do trabalho?

Raianne Silva – A pandemia veio como sinônimo de incerteza, né? A incerteza é devastadora.  Não saber quando tudo isso acaba. Quando teremos efetivamente um dia normal, em que eu possa trabalhar sem estar preocupada em como os meus filhos estarão passando, em casa. Quando eu possa ter certeza de que eles possam estar sendo bem instruídos, em relação a ensino. É muito preocupante este cenário. E ao mesmo tempo, um sentimento de impotência toma conta da gente. Principalmente porque isso não é algo que esteja ao nosso alcance para ser controlado. Então é triste ver que os meus filhos não estão sendo as crianças que eles deveriam ser agora. É triste acordar e deixar tudo pronto, enquanto eles ficam mais um dia sem aula, enquanto eu saio para trazer o sustento. E mais triste ainda é saber que eles têm essa noção e compreendem algo que não deveria atingir eles, mas atinge. E o sentimento resumidamente é esse: impotência.

Figura 1 pixbay

(En)Cena – O Ministério da Saúde do Brasil [1] apresenta a migração como um dos fatores de risco para o adoecimento psíquico. Estar em trânsito, exilado ou asilado é uma ameaça para a saúde mental do migrante que sofre de solidão, luto e perseguição velada ou explicita, e um desafio para os agentes do cuidado humano que é confrontado pelas leis em geral e pela sociedade em particular. Depois de ter vivido a experiência de ser migrante, deixando família e amigos no Pará para vir, inicialmente sozinha, buscar trabalho no Tocantins: na sua opinião, como podemos compreender o sofrimento emocional das mulheres migrantes econômicas, durante a pandemia?

Raianne Silva – É muito louco quando a gente fala de mulher migrante. Porque quando você ouve histórias de mulheres que deixaram suas casas e foram em busca de uma melhoria de vida para si e para os seus, é emocionante. Normalmente, as pessoas falam como um exemplo a ser seguido. Mas, na prática nós somos muito julgadas. Um homem deixar a sua casa e cruzar o país, buscando a melhoria da família, é normal. Afinal de contas ele é pai de família: o provedor. Mas, quando nós tomamos esse papel para nós, quem não tem força e não se impõe desiste na primeira crítica.

– Ah! Você vai deixar seus filhos.

– E se não der certo?

– Vai para um lugar onde ninguém te conhece? Onde você não conhece ninguém te conhece?

– Vai viver longe da família?

Isso é um pouco do que a gente ouve. Além de ser taxada de louca. Pouco é o apoio, o incentivo. E é triste. Porque a gente enfrenta uma jornada terrível de desligamento, de distanciamento dos filhos, de saudade e de tristeza. Acho que o apoio é muito importante para que essa carga se torne um pouco mais tranquila de ser carregada.

Figura 2pixbay

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Raianne Silva – O caminho é ser empático e reconhecer o esforço do nosso trabalho. Buscar se colocar no nosso lugar (de mulher) para compreender um pouco, ou pelo menos ouvir mais das nossas dores e cargas emocionais. Todos nós estamos travando diariamente lutas internas. Tudo pode ser um pouco mais leve. A gente merece ser reconhecida pelo nosso esforço, pela nossa garra e pelas nossas vitórias.

Nota:

[1] FARBER, Sonia Sirtoli e outros. O sentido da vida e a depressão: uma reflexão sobre fluxo migratório e fatores preditivos de suicídio. https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2471/4735

Compartilhe este conteúdo:

As mulheres, a pandemia e o isolamento social

Compartilhe este conteúdo:

Com a pandemia da COVID-19, não apenas a saúde biológica da mulher foi afetada, mas também todas as suas relações, sejam elas relações de amizade, familiares ou conjugais. Pesquisas demonstram impactos relacionados ao aumento da violência doméstica, desemprego, isolamento social, luto entre outros fatores. Os impactos causados pela pandemia nos contextos econômicos e sociais podem impossibilitar o atendimento das necessidades básicas das mulheres no contexto familiar, o que é causado devido a fatores como desemprego, isolamento social e etc (SANTOS et al, 2020).

Segundo dados da OMS, com o isolamento social ocorrido devido a pandemia da COVID-19 houve um aumento de 22,2% nos casos de feminicídio entre os meses de março e abril de 2020 em alguns estados do Brasil no ano de 2020, comparado ao ano anterior, ligado a isso ainda foi verificado a diminuição do número de denúncias da violência doméstica (SANTOS et al, 2020). Ocorre ainda aumento na incidência da depressão e ansiedade na população brasileira, indicando maior prevalência em mulheres (SILVA et al, 2020).

Em uma pesquisa realizada com 200 mulheres por acadêmicas de psicologia, os pontos relatados como os que mais afetam as mulheres no processo da pandemia e do isolamento social são:  incertezas quanto a patologia (62,5%),  necessidade de isolamento social (57,5%), perder entes queridos (53,5%), as mídias sociais/informações (50,5%), a sobrecarga de tarefas (46%), falta de estabilidade financeira (32%), falta de rede de apoio (17,5%) e o cenário político (2%).

Fonte: encurtador.com.br/mCWZ9

Diante de um contexto onde percebem-se impactos sociais, econômicos e sociais, o contexto familiar e as relações conjugais podem também apresentar-se vulneráveis. Sobre o distanciamento social nas relações, 43,5% das mulheres dizem ter se sentido mais sozinhas do que de costume, 39% disseram estar distante de seus familiares, 24,5% relataram que apesar de não mudarem sua forma de se relacionar enfrentaram dificuldades e 15,5% informaram não terem enfrentado dificuldades e nem alterações em seus relacionamentos.

De acordo com Insfran e Muniz (2020), as mulheres têm enfrentado durante a pandemia dificuldade pelo distanciamento de redes de apoio como escolas, creches, babás, avós. Devido ao contexto pandêmico, a rede de apoio social como por exemplo, a rede familiar, foi fragilizada devido ao distanciamento social causando mudanças percebidas no enfrentamento do luto (SILVA et al, 2020). Alguns fatores citados pelas mulheres como origem do luto foram morte, desemprego, separação, isolamento social e adiamento/mudança de planos e sonhos.

Ainda de acordo com a pesquisa, 23,5% das mulheres afirmaram também que tiveram problemas em seus relacionamentos devido ao isolamento social. Alguns fatores apontados como origem dos problemas foram: problemas já existentes sem relação com o isolamento social (42,6%), distanciamento social (38,3%), problemas de ordem financeira (36,2%), violência doméstica (4,3%) e agravamento de questões relacionais que aconteciam antes (2,1%).

Fonte: encurtador.com.br/diBP1

Apesar de todos os impactos econômicos e sociais para as famílias e em especial as mulheres, ainda são encontrados relatos de famílias e casais que não sofreram com os efeitos da pandemia. Apontando não terem passado por maiores mudanças em suas rotinas ou suas relações sociais, ou que conseguiram desenvolver novas formas de relação e manejo dos problemas (SILVA et al, 2020).

Segundo a pesquisa, 83% das mulheres afirmaram não terem tido alterações em seu estado civil durante a pandemia, 76,5% dizem não terem tido problemas nos seus relacionamentos devido isolamento ou distanciamento social, 21,5% relatam se sentirem sempre amparadas em casa durante a pandemia.

REFERÊNCIAS

INSFRAN, Fernanda; MUNIZ, Ana Guimarães Correa Ramos. Maternagem e Covid-19: desigualdade de gênero sendo reafirmada na pandemia. Diversitates International Journal, v. 12, n. 2, p. 26-47, 2020.Disponível em:<http://www.diversitates.uff.br/index.php/1diversitates-uff1/article/view/314> Acesso em 26 mar. 2021.

SILVA, I.M. et al. As Relações Familiares diante da COVID-19: Recursos, Riscos e Implicações para a Prática da Terapia de Casal e Família, Pensando fam.,  Porto Alegre ,  v. 24, n. 1, p. 12-28, jun.  2020. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2020000100003> Acesso em 26 mar. 2021.

SANTOS, L.S.E. et al. Impactos da pandemia de COVID – 19 na violência contra a mulher: reflexões a partir da teoria da motivação humana de Abraham Maslow, 2020. Disponível em:<https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/pps-915> Acesso em 26 mar. 2021.

Compartilhe este conteúdo:

História de um casamento: uma análise psicanalítica

Compartilhe este conteúdo:

Concorre com 6 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora Original.

A maturidade de cada sujeito é que determina a capacidade de superação, onde devem separar os conflitos internos dos conflitos externos que foram compartilhados

O filme História de um casamento (Marriage Story) problematiza o fim do relacionamento e o processo de separação de um casal e a briga pela guarda do filho. Podemos ver Adam Driver como Charlie e Scarlett Johansson como Nicole dividindo cenas emocionantes de todo esse processo e o desgaste físico e emocional enfrentado pelo casal no decorrer do filme.

Texto contém SPOILERS!!!

Nicole, apesar de aparecer menos durante o filme, é a personagem que permite mais nos aproximar de sua história. Ela vem de uma família neurótica obsessiva que Freud (1907) define como pessoas que realizam algum tipo de ato obsessivo sem compreender o sentido principal ou mesmo sem perceber o que faz. Isso fica evidente na forma como a mãe é imparcial com suas regras, querendo impor sua visão sobre a filha. As duas filhas não ficam muito atrás, ambas têm dificuldade em mudar a forma como operam no mundo, um exemplo disso é quando Nicole pede a sua irmã que entregue o papel da intimação do divórcio ao Charlie, e elas acabam ensaiando a entrega desses documentos, mas acabam sendo interrompidas pela chegada dele na casa.

Ela diz no filme que se apaixonou por Charlie dois segundos após vê-lo e não deixaria de amá-lo mesmo que não fizesse sentido. Roudinesco (2000) fala que o sujeito contemporâneo busca de uma forma desesperada vencer o vazio sem tirar um tempo para refletir sobre a origem dele. E como no filme mostra que Nicole se sentiu bem inicialmente, mas ela passou a viver pelo Charlie, isso pode ser ligado a um medo de um abandono ou ansiedade de separação, que de acordo com a American Psychiatric Association (APA, 2000) essa ansiedade é algo exclusivo da infância e adolescência. É um estado de regressão em que ocorre uma ansiedade excessiva pelo afastamento de pessoas com quem existe um vínculo, ou alguém que represente essa figura.

A mãe de Nicole relata sobre brigas e a separação do marido, na tentativa de dar alguma dica para a filha, mas esta também parece viver um processo de preencher um vazio, pelo fato de manter amizade com ex-namorado da outra filha Cassie. Lemaire (2005) narra que alguns sujeitos buscam desesperadamente um modelo fusional presente nas primeiras etapas da vida, ou seja, manter-se unida as figuras que ocupam o lugar de cuidadores na nossa infância, para assim evita entrar em contato com o luto do rompimento.

Roudinesco (2000) relata também sobre um indivíduo depressivo, que faz de tudo para fugir do seu inconsciente e se preocupa em retirar de si a essência de qualquer conflito. Charlie se comporta assim em quase todo o filme, ele evita falar sobre a família, onde sabemos que existia violência e álcool. Há um comodismo da parte dele, uma zona de conforto que faz com que ele evite entrar em contato com conteúdos conflitantes. E ele dialoga se defendendo que tudo o que está fazendo é pelo bem do filho, enquanto mal houve o que a criança tem a dizer.

Fonte: encurtador.com.br/gkqIV

Durante o filme fica bem claro essa relação que Charlie tem com o filho, sempre distante, não sabe o que o filho gosta, o que ele quer, tomando decisões precipitadas. Por sua vez a criança apresenta diversas dificuldades, até mesmo a de ir ao banheiro. Mostrando que ele já vem herdando as neuroses familiares e como aponta Corrêa (2000) esses aspectos transgeracionais mostram a importância e o impacto da família na vida dos sujeitos. E de acordo com Granjon (2000) a transmissão psíquica transgeracional é a que apresenta aspectos traumáticos e sintomáticos, onde anteriormente não existiu uma chance de mudança, pois essas situações passadas foram ignoradas pelos pais.

A maioria das cenas em que foca o casal mostra uma distância e um vazio que ambos carregavam em si e o relacionamento aponta que era praticamente uma fonte de escape para isso. A cena em que eles estão conversando no novo apartamento parece ser uma crítica quanto a isso, pois as cores e a complexidade do ambiente são mínimas. O diálogo maior ocorre apenas no final do filme, onde eles saem das sombras de seus advogados e põem para fora tudo o que não colocaram antes, até a tensão do filme parece diminuir após isso.

Fonte: encurtador.com.br/jRUY2

O filme consegue nos levar para a pele do casal, onde quase sentimos como se vivêssemos uma separação. Além de diversas outras críticas, o filme mostra a importância do diálogo claro e aberto dentro do relacionamento. Segundo Cleavely (1994), a maturidade de cada sujeito é que determina a capacidade de superação, onde devem separar os conflitos internos dos conflitos externos que foram compartilhados.

O término de uma relação demanda uma grande energia psíquica, é como um processo de luto, e como tal deve ser enfrentado. Freud (1917) escreveu que o amor é o que faz os vivos se apegarem a vida, que uma pessoa se torna forte ao se sentir amada. Dessa forma, buscar se conhecer faz parte do processo de amar, pois assim deixamos de amar somente na fantasia para amar também no real. Para finalizar, Erich Fromm (1996) aponta que o amor verdadeiro tem por características o cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento, e somente pessoas maduras conseguem, de fato, amar.

FICHA TÉCNICA: 

Resultado de imagem para história de um casamento

HISTÓRIA DE UM CASAMENTO

Título original: Marriage Story
Direção: Noah Baumbach
Elenco: Scarlett Johansson, Adam Driver, Laura Dern, Merritt Wever, Azhy Robertson; 
Ano: 2019
País: EUA
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV-TR) (4a ed). Porto Alegre/RS: Artes Médicas, 2000.

CLEAVELY, E. Relationships: interaction, defences, and transformation. In: Ruszczynski, S. (org.). Psychotherapy with couples: theory and practice at the Tavistock Institute of Marital Studies (pp. 55-69). 2ªed. London: Karnac Books, 1994.

CORREA, O. B. R. (Org.). O legado familiar: a tecelagem grupal da transmissão psíquica. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2000.

FREUD, S. (2006). Atos obsessivos e práticas religiosas. Obras completas, ESB, v. IX. Rio de Janeiro: Imago Editora. (Trabalho original publicado em 1907).

_______. Luto e melancolia. Obras completas. São Paulo: Companhia das Letras, 1917.

FROMM, Erich. A Arte de Amar. Belo Horizonte: Itatiaia, 1996.

GRANJON, E. A elaboração do tempo genealógico no espaço do tratamento da terapia familiar psicanalítica. In: O. B. R. Correa (Org.), Os avatares da transmissão psíquica geracional (pp. 17-43). São Paulo: Escuta, 2000.

LEMAIRE, J.-G. Comment faire avec la passion. Paris: Payot & Rivages, 2005.

ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

Compartilhe este conteúdo: