O evento acontece no dia 14 de novembro às 17h no CEULP
“Que droga de vida é essa?: a psicologia em um CAPS AD”será tema de discussão no “Psicologia em Debate”, que acontecerá no próximo dia 14 de novembro na sala 203, a partir das 17h. O tema será apresentado pelas acadêmicas Gleycielle Silva Magalhães e Sandra Regina Vieira da Silva, do CEULP/ULBRA.
“Psicologia em Debate” é um espaço permanente para apresentação de trabalho de pesquisa e extensão, TCC, entre outros, dos acadêmicos e egressos do CEULP/ULBRA, dando oportunidade de divulgação das atividades desenvolvidas no curso. Entre os objetivos do projeto está a instrumentalização dos alunos e o estímulo para que mais acadêmicos se envolvam em atividades científicas. O evento acontece desde fevereiro de 2016 no CEULP. A atividade é gratuita e vale horas complementares.
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Os comportamentos de risco na adolescência: Aos Treze
Aos Treze (2003) dirigido por Catherine Hardwicke conta a história de uma típica adolescente de treze anos de idade, Tracy (Evan Rachel Wood)é como qualquer outra garota tem suas atividades escolares, boa aluna de notas altas, monstra uma facilidade em escrever poemas e tem seu círculo de amizades condizentes com seus gostos e sua personalidade.
Ao entrar no colegial se encontra em posição de fraqueza ao ver que não se identifica com o grupo mais popular da escola liderado pela menina Evie (Nikki Reed) que é desejada por todos os meninos e centro das atenções de todos. Tracy então acaba passando por uma ‘’crise de identidade’’ em que não se vê mais uma garota e já se vê como mulher querendo ter atitudes como tal, o que não condiz com sua idade querendo levar a vida da garota mais popular da escola.
O processo da adolescência não depende de forma isolada ao próprio adolescente, ou seja, a constelação familiar é a primeira expressão da sociedade que influiu e determina parte da conduta dos adolescentes (ABERASTURY e KNOBEL, 1970).
Tracy leva uma vida de classe média, sustentada apenas pela mãe que tem um salão de beleza em casa para que consiga sustentar a adolescente e seu irmão mais velho Mason (Brady Corbet), o pai da menina é ausente o que ocasiona a liberdade excessiva na vida de Tracy. Sua mãe leva um relacionamento com um ex-dependente químico o que acaba piorando a relação das duas fazendo com que Tracy pense que sua atenção será reduzida e a menina ‘’perderia’’ sua mãe assim como perdeu seu pai.
Observa-se claramente em que o grupo das garotas populares influencia Tracy a experimentar o que chamamos de comportamentos de risco como: drogas, álcool e as relações sexuais desprotegidas, como justificam Lacerda e Lacerda, “O grupo exerce pressão muito forte, porque o adolescente se identifica com ele e com a maioria dos seus membros” (1998, p. 49).
Vários são os fatores que poderão levar o adolescente a usar drogas: genericamente podemos considerar os aspectos (1) sociais, incluindo neste grupo a sociedade e a cultura, a família e o grupo de amigos e colegas e (2) individuais (aspectos inatos e adquiridos, particularmente as vivências infantis) (2003, p. 41). No filme vemos que Tracy já é influenciada dentro de sua própria casa tendo em vista que a mãe e o irmão fumam e o parceiro de sua mãe era viciado em drogas que tinha acabado de voltar da reabilitação.
Tracy é uma garota exageradamente ansiosa o que a leva a automutilação, mais um comportamento de risco que infelizmente em nossa sociedade vem aumentando. Porém quando sua mãe entendeu o que realmente sua filha passava, ofereceu o suporte que realmente precisava e a amparou incondicionalmente.
O filme nos mostra as condutas normalmente realizadas pelos adolescentes, tornando a fase de reconhecer quem se é, ou seja, a busca pela identidade muito mais difícil. As palavras de Aberastury e Knobel se fazem necessárias, pois “A criança entra na adolescência com dificuldades, conflitos e incertezas que se magnificam neste momento vital, para sair em seguida à maturidade estabilizada com determinado caráter e personalidade adultos” (1970, p.30).
A obra cinematográfica leva-nos a uma profunda reflexão sobre esta fase da vida onde se evidenciam muitos enfretamentos sobre a existência pessoal, e ser aceito a qualquer custo por determinados em que estamos inseridos socialmente que nem sempre representam segurança, bem como um desejo de “saber os porquês” de nossas vidas e que no final das contas, o afeto estabelecido com a família é fundamental para que as novas experiências sejam vividas com superação, mesmo depois das dificuldades.
A vida sempre foi um tema complicado, não é de hoje que se analisa o valor de tudo que cerca o ser humano, qual o sentido de existir e se há algum objetivo em viver o ciclo eterno de prazer e desprazer que dá significado a passagem do tempo. A maioria das respostas para essas perguntas giram em torno de algo para conquistar, o sentido é chegar a algum lugar, atingir um objetivo, dependendo do subdesenvolvimento do raciocínio, até provar algo a alguém. Independente da resposta, a conclusão é que vale a pena, apesar do ônus, desistir por conta própria da vida é algo impensável.
Então por que cometer suicídio? Por que desistir de algo que apesar da cultura, da religião ou da localização geográfica, é certo que vale a pena? A resposta não reside em apenas um fator, ou uma ideologia, um acontecimento traumático. É preciso considerar o grupo social, o passado, a cultura, as maneiras de se relacionar com o meio, genética em certa proporção.
Fonte: http://zip.net/bwtKZl
Cerca de nove a cada 10 pessoas que cometem suicídio sofrem de alguma patologia de ordem mental, as que figuram com mais frequência nesses casos são os transtornos de humor, os transtornos de personalidade e a dependência de substâncias químicas. A partir destes dados, é completamente derrubada a ideia de que quem comete suicídio, o faz no pleno controle de suas faculdades mentais e no exercício de seu livre arbítrio.
Isolamento social também tem uma parcela de culpa considerável pela decisão de autoextermínio. O homem é um ser social e isso não vai mudar tão cedo, a interação saudável com o grupo e com o meio são necessidades que não podem de maneira alguma ser negadas, uma vez que isso acontece a pessoa se sente deslocada, e aos poucos, suas ideias do sentido ou objetivo da vida começam a ser alteradas. A certeza de que o bônus é maior que o ônus começa a desmoronar, contribuindo imensamente para o surgimento de ideias suicidas.
Fonte: https://4.bp.blogspot.com
É impressionante o fato de o grupo com maior índice de suicídios ser o de jovens de 15 a 29 anos. Parece contraditório que o suicídio, um impulso originado de sensações de impotência, insatisfação com o próprio corpo ou personalidade, possa atingir com mais frequência quem passa pela época da vida tida como o auge da disposição e felicidade. O jovem tem energia para tudo, trabalha, estuda, sai aos finais de semana com os amigos, chega em casa depois do amanhecer. No entanto, estas mesmas pessoas são cercadas de responsabilidades e expectativas que excedem em muito o tolerável para um ser humano saudável.
O que dizem as estatísticas
Segundo a Organização Mundial da Saúde, dependências química ou psicológica, abusos, acontecimentos traumáticos e transtornos mentais, são os maiores contribuintes para os altos índices de suicídio entre os jovens. Ainda segundo a OMS, mais 800 mil pessoas no mundo morrem vítimas de suicídio todos os anos, o que resulta em uma média de 11,4 suicídios a cada 100 mil habitantes. O Brasil por sua vez tem índices bem mais baixos do que a média mundial, 6 para cada 100 mil habitantes, no entanto antes de comemorar é necessário lembrar que aqui os dados são mais incertos. No Brasil ainda há casos em que a certidão de óbito de um suicida é preenchida constando acidente de trabalho ou doméstico, até mesmo homicídio em alguns casos. Em algumas regiões o corpo é velado sem sequer um médico legista para assinar a certidão de óbito.
Fonte: http://zip.net/bptL42
O suicídio representa 1,4% das mortes no mundo, mas lidera o ranking de mortes violentas com 56% do total. Apesar de atingir com mais frequências pessoas acima de 70 anos, é com preocupação que se constata que essa é a causa de morte de 8,5% das pessoas que tem de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas de mortes no trânsito, o que representa 6 vezes a média de todas as faixas etárias. Para ter uma noção mais clara de como o suicídio se distribui e preciso olhar para números absolutos e proporções. 75,5% dos suicídios registrados ocorrem em países de renda média ou baixa, porém em países de renda alta, o suicídio representa 81% das mortes violentas.
O sociólogo polonês Zygmund Bauman traz em seus livros “Amor Líquido” e “Modernidade Líquida”, um conceito que define segundo ele a instabilidade da sociedade pós-guerra fria. Onde os valores adquirem uma plasticidade cada vez maior, e as relações seguem este mesmo caminho, se tornando algo mais adaptável e ao mesmo tempo superficial. É uma época de imediatismo, trocas rápidas, relacionamentos do tipo “macarrão instantâneo” (rápido para fazer, rápido para consumir, rápido para jogar fora). Há uma ausência de padrões nos quais as pessoas possam se apoiar, e o gozo desse novo nível de liberdade traz consigo a insegurança e o vazio de não ter nada sólido para recorrer em tempos de crise. Mas este estilo de vida é necessário para que a máquina capitalista funcione a todo vapor.
Os jovens indígenas
Segundo uma pesquisa do Estadão de 07/06/2014, “nos últimos dez anos, entre 2002 e 2012, o Amazonas foi o estado onde o suicídio de jovens mais cresceu (134%)”. No Amazonas a população indígena segundo as pesquisas da folha representa 4,9% da população em geral, ou seja, 20,9% dos suicídios foram praticamente indígenas, a folha ressalta que no Mato Grosso do Sul a situação não é diferente, afirma que “onde a proporção de índios entre os que se mataram é sete vezes maior do que a fatia deles na população”. Mas porque isso acontece? Infelizmente, em muitos países a população indígena esta desgarrada, afastada de sua cultura, pois não possui espaços ou terra para praticar seus costumes e ritos, um grande exemplo é os Estados Unidos, por conta do progresso acabou matando e expulsando os índios de suas terras.
Fonte: http://zip.net/bxtMjs
No Brasil ainda não chegamos a essa realidade, mas há várias notícias de confronto entre fazendeiros e índios pela posse de terra. Os jovens indígenas muitas vezes optam por uma vida urbana, longe de suas aldeias, pois muitas vezes ficam encantados com as cidades, quando isso a aldeia passa a vê-los como não-índios, como alguém que cresceu e participou de sua cultura, mas a população urbana não é dessa forma, muitas pessoas discriminam esse “ex-indígena” e por consequência ele mesmo acaba tendo um pensamento de não pertencer a lugar algum.
Influência do sistema socioeconômico no suicídio
Hoje em dia, sabemos que o sistema geopolítico e socioeconômico hegemônico no mundo, é baseado no acúmulo gradativo de capital e no consumo das massas, ele é chamado de neoliberal. Por mais que muitos teóricos defendam que este modelo garanta liberdade individual, vemos que cada vez mais os indivíduos se prendem a valores e práticas superficiais para preencherem seus vazios existenciais ou para se sentirem aceitos: uso de drogas, o consumismo e adesão aos padrões estéticos, são exemplos de comportamentos que podem levar os sujeitos a sentimentos depressivos.
Fonte: http://zip.net/bqtMq5
Segundo o banco Credit Suisse, em 2015, 1% da população mais rica do mundo concentrou metade de toda riqueza do planeta. Tal fato só se tornou possível graças ao modelo de consumo desenfreado que sustenta a economia. As pessoas procuram no ato de comprar uma alegria rasa e momentânea. Para aqueles que transferem aos objetos a condição para serem felizes, isso é extremamente perigoso, pois nunca irão se sentir saciados e plenos. Além disso, os meios de publicidade bombardeiam pessoas de todas as idades com ideias superficiais sobre o sentido da vida, restringindo seus horizontes e determinando o modelo de que nosso valor é medido pelo que possuímos. Numa sociedade onde se vale o que se tem, quem tem pouco tende a se sentir inferiorizado.
A publicidade influencia a vida dos indivíduos em sociedade de várias formas, tudo para leva-los a consumir os milhões de produtos disponíveis no mercado. No que se trata de estética, a padronização de modelos de beleza determina que tipos de pessoas sejam mais aceitas, com seus rostos ou corpos. Acontece que a grande maioria da população não atende a esses quesitos e então, procuram formas de se moldarem nos padrões, comprando produtos que se dizem milagrosos e regulando suas práticas de alimentação e exercícios. Cuidar da saúde e do corpo não é algo negativo, o problema é que existem aqueles que se sentem extremamente tristes por não atenderem aos valores estéticos e a não aceitação em sociedade pode levar á casos mais graves, como a depressão e até mesmo ao suicídio.
As drogas são um dos fatores que também aumentam a chance de suicídio na vida de alguém, boa parte dos países possuem políticas de proibição e repressão a alguns tipos destas, acontece que as legalizadas também contribuem para este fator, por exemplo, o álcool. 15 a 25% dos suicídios no mundo são causados por esta droga, porém as políticas de controle são mínimas por parte dos governos, mesmo que seja sabido que 11,2% da população mundial é alcoólatra. Antidepressivos e tranquilizantes não ficam de fora, pois alteram comportamento, humor e cognição dos usuários, tornando-os dependentes químicos e agravando seus quadros depressivos.
Fonte: http://zip.net/bmtLl2
Vimos exemplos de problemas que contribuem para ansiedade, depressão e sentimentos autodestrutivos, os pilares que sustentam um possível suicídio. Todos eles possuem raízes na dinâmica econômica e social do sistema capitalista neoliberal, nos mostrando que por mais que hoje tenhamos avanços tecnológicos e conforto para viver nossas vidas, é necessário também que se rompam os agentes de controle que afastam o ser humano de sua plenitude existencial e o mergulham numa ilusória e superficial realidade.
Considerações Finais
A partir deste estudo foi possível analisar a amplitude do suicídio, e como se torna complexo estudá-lo, principalmente tratando-se do adolescente. Trabalhar o suicídio é um assunto delicado, já que a temática é um tabu e desperta medo nas pessoas. Ao estudar os livros “Amor e sobrevivência”, “Viver é a melhor opção” e “O suicídio”, ampliamos nossos conhecimentos sobre a temática e compreendemos que é necessário amparar a saúde mental nas pessoas com profissionais que possuam mais capacitação para esse cuidado.
Fonte: http://zip.net/bstLN5
As internações com os profissionais de saúde, considerando a importância da enfermagem em saúde mental, são cruciais, para proporcionar o cuidado ao ser humano e atender suas necessidades psicossociais, servem como uma ferramenta para disseminar informações aos pacientes e também aos familiares e agir na sociedade, fornecendo orientações sobre o suicídio e assim poder identificar riscos e preveni-los. Para que isso ocorra, é necessário não somente estar baseado nos recursos técnicos e teóricos, mas sensibilizar e humanizar nossos sentidos. Os preconceitos e até mesmo as dificuldades pessoais fazem com que o profissional da área da saúde, apresente dificuldades em manejar estes casos. Ocorrendo com certa frequência até menosprezo para com o jovem suicida.
REFERÊNCIAS:
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 513 p., il.
MENDES, André Trigueiro. Viver é a melhor opção. 3. ed. São Bernardo do Campo, SP: Correio Fraterno, 2017. 190 p., il.
ORNISH, Dean. Amor & sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 263 p., il.
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Redução de Danos: repensando preconceitos e influências sociais
Ao final de 2016, ocorreu no Ceulp/Ulbra a Roda de Conversa: Promoção de Saúde na Perspectiva da Redução de Danos, promovida pelo (En)Cena em parceria com alunos da disciplina de Psicologia da Saúde. O convidado foi o Psicólogo Bruno Logan Azevedo, que possui Pós-graduação em Psicopatologia e Dependência Química, e atuou como redutor de danos no Centro de Convivência É de Lei e no projeto Respire Redução de Danos.
Por meio da conversa, os participantes puderam ter contato com informações diferentes das transmitidas pelas mídias, por vezes tendenciosas e carregadas de preconceito. Expondo sua visão antiproibicionista quanto ao uso de drogas, Bruno compartilhou suas experiências atuando com Redução de Danos de maneira honesta e realista, promovendo discussão e reflexão sobre questões como políticas públicas, leis e aspectos sociais que permeiam o tema.
A abordagem de Redução de Danos busca minimizar condições relacionadas ao uso de psicoativos que sejam degradantes aos âmbitos social e de saúde física e psicológica no indivíduo. Segundo Xavier (2014), “Redução de Danos é o conjunto de estratégias que se ensina aos usuários de droga, para minimizar os riscos relacionados ao consumo dessas substâncias”. Para Bruno é necessário, a priori, que o individuo deseje por opção própria traçar as medidas redutivas, para que posteriormente estratégias sejam criadas em conjunto, de modo que faça sentido ao usuário, buscando reduzir situações de risco.
Entre os fatores de exclusão e vulnerabilidade social que corroboram para o uso de drogas, estão: Políticas públicas ineficazes, rompimento de laços sociais, exclusão do mercado formal de trabalho, problemas com a lei, estigmatização dos usuários e manifestações midiáticas. Na opinião de Bruno, é fundamental que o significado do consumo, o contexto e o tipo de substância sejam relevados e analisados para que se pensem políticas públicas, uma vez que se percebe a associação dessas políticas não aos riscos provocados pelas drogas, mas ao público que as consome, transformando a “guerra às drogas” em uma guerra contra pessoas.
Deve-se pensar também que o consumo de psicoativos é indissociável ao estilo de vida do usuário, podendo a droga agir como um atenuante para problemas em outros âmbitos na vida do indivíduo, como nas relações sociais. Segundo Jacques (1998), é do contexto histórico e social em que o homem vive que decorrem as possibilidades e impossibilidades e, portanto, as alternativas de sua identidade, que por sua vez é composta de múltiplos personagens ocupando papéis sociais, representando assim a identidade coletiva associada a eles, construída e mediada socialmente. Dessa maneira compreende-se a identidade pessoal e social como fundidas e inseparáveis.
Fonte: http://zip.net/bjtC5Z
A proibição de determinados psicoativos em detrimento de outros que são legalizados, se apresenta de maneira contraditória uma vez que na intenção de diminuição do consumo, as leis proibitivas acabam direcionando usuários a outras situações de risco, como aproximação do tráfico, compartilhamento de insumos contaminantes, acesso drogas de baixa qualidade, entre outros muitos fatores. Desse modo, a proibição apresenta uma eficácia questionável quanto à inibição do uso, agindo como catalisador para outras maneiras de consumo, e juntamente com a mídia direcionado o consumo para outras drogas legalizadas.
As manifestações midiáticas não só conduzem o indivíduo a opções de drogas representadas como “positivas”, como também contribuem para o retrato dos usuários de maneira estigmatizada, propiciando a formação de estereótipos. De acordo com Myers (2014), o preconceito é uma atitude negativa preconcebida, envolvendo afetos, intenção comportamental e crenças, constantemente permeada pelo uso de estereótipos, que são pré-categorizações negativas, generalistas e simplistas resistentes a novas informações.
A discussão de temas como o da referida Roda de Conversa é fundamental não só para a Psicologia, mas também para o fomento de um senso crítico na população em geral, uma vez que o consumo de drogas é algo cada vez mais comum na atualidade. A política de Redução de Danos promove a ampliação do debate e das perspectivas sobre a temática do uso de drogas, buscando a mudança de políticas públicas, leis e condições sociais, aspectos que devem ser constantemente questionados para a promoção de saúde mental.
JACQUES, M. G. C. Psicologia Social Contemporânea. 2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
MYERS, D. G. Psicologia Social. 10. ed. Porto Alegre: Amgh Editora, 2014.
O QUE É Redução de Danos?. Centro de Convivência É de Lei. Dartiu Xavier (0:10s). São Paulo: 2014. Disponível em: < http://edelei.org/pag/reducao-danos>. Acesso em: 29 de nov. de 2016.
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Redução de Danos: Psicólogo Bruno Logan fala sobre seu trabalho no canal “RD com Logan”
O psicólogo e redutor de danos (no contexto de uso de drogas) Bruno Logan Azevedo esteve no final de 2016 com os acadêmicos de Psicologia do Ceulp/Ulbra para compartilhar parte de um trabalho que vem ganhando grande projeção pelo Brasil. Bruno mantém um canal no youtube chamado “RD com Logan”, que dispõe de mais de 4 mil inscritos e uma dezena de vídeos cujo objetivo é discutir o uso de drogas, através da ótica da Redução de Danos.
Na descrição do canal, Logan explica que o espaço é para falar sobre diversas substâncias, seu uso, cultura, sobre os efeitos esperados, adversos, dosagens e o acúmulo das estratégias que a Redução de Danos possui sobre cada substância, dentre outras coisas. “A ideia é trazer informações de forma clara, simples e sem tabu, para os usuários e profissionais que atuam de forma direta e indireta com esta temática e pessoas que tenham interesse de ter mais informações sobre o assunto”, comenta o psicólogo.
Abaixo, confira uma rápida entrevista concedida por Bruno Logan ao portal (En)Cena.
(En)Cena – Como se deu o seu envolvimento com a Redução de Danos?
Bruno Logan – Minha relação com a RD se deu através da minha militância sobre uma mudança da lei de drogas no Brasil, para além de achar que nossa atual lei de drogas é ruim, me surgiu uma questão: “como os usuários de drogas são tratados?”. E aí que a RD me aparece, trazendo algumas respostas e muitas perguntas.
(En)Cena – O que te levou a fazer o canal no Youtube sobre Redução de Danos?
Bruno Logan – Criei um aplicativo de celular para usuários de drogas e por conta da falta de dinheiro para manter este aplicativo no ar, pensei em alguma outra plataforma que pudesse transferir as informações do App sem ter que pagar nada. Eu acompanhava muito um canal chamado “Mundo Molusco”, e aí veio a ideia de fazer o canal do YouTube.
(En)Cena – Qual o público almejado com o canal RD com Logan?
Bruno Logan – Prioritariamente os usuários de drogas. Mas, não tenho dúvidas, com o canal muitos profissionais que atuam de forma direta e indireta com as questões das drogas, assistem e me trazem bastantes feedbacks interessantes.
(En)Cena – Qual a importância de levar a Redução de Danos para o contexto da internet?
Bruno Logan – Na verdade, eu tenho dúvidas se faço Redução de Danos na internet, pois, para se fazer Redução de Danos é preciso estar junto com o usuário e criar vínculos, para que as estratégias façam sentido para o usuário, e é impossível fazer isso pela internet. Por outro lado, percebo o quanto este canal pode servir como uma ponte, na qual este acúmulo de informações obtidas com os usuários, pode ser transmitido por este canal, podendo fazer sentido ou não, para outros usuários, e isso é bem interessante.
(En)Cena – Como a RD se articula com a luta pela descriminalização e legalização das drogas? E como isso contribui para a qualidade de vida e autonomia do usuário?
Bruno Logan – No meu 7º vídeo falo sobre isso. A ideia de existir um controle do Estado sobre todas as drogas, faz com que os danos associados com o uso de drogas, por si só, contribua para a melhoria da qualidade de vida do usuário. Pois, ao consumir a substancia, o mesmo saberá exatamente o que esta consumindo, outra questão é que o usuário rompe com o comercio ilegal de drogas e com a violência que esta associada a este comércio.
(En)Cena – Você acredita que os avanços do conservadorismo na política brasileira colocam a Redução de Danos em risco?
Bruno Logan – Eu não acredito que exista um avanço no conservadorismo na política brasileira A meu ver, ela é a mesma desde a época da Ditadura Militar. A Redução de Danos vem sobrevivendo a isto há anos, não por conta de políticas públicas, mas por conta de pessoas que acreditam neste modelo e fazem esta discussão politicamente e em suas atuações. Temos muito que discutir e cobrar estas políticas públicas, porque a RD está prevista por lei, não é um favor.
.5 Motivos pela legalização de todas as drogas
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Liberar, Descriminalizar ou Legalizar?
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Miracema do Tocantins sediará Seminário de Políticas Públicas sobre Drogas
Ocorrerá nos dias 28 e 29 de novembro em Miracema do Tocantins, o Seminário de Políticas Públicas Sobre Drogas com o tema Ampliando a Diversidade, no auditório do Campus da UFT – Miracema.
PROGRAMAÇÃO:
ABERTURA – 28 de novembro às 19h30min.
Mesa inaugural do evento: Cristiane Roque – Cientista Social, mestre em Sociologia. Professora do Colegiado do Curso de Direito da UFT e Coordenadora do CRR/UFT/Centro-sul. Vice-líder do Grupo de Estudos dobre Drogas – GED/UFT/CNpq.
Tema: “A atuação do CRR no Tocantins”.
Palestrante: Hermógenes Moura – Antropólogo, Licenciado e Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Pernambuco. Colegiado de Ciências Sociais Coordenador da Licenciatura em Ciências Sociais PRONERA/UNIVASF. Coordenador do Subprojeto PIBID Interdisciplinar “Drogas na Escola e a Prevenção de Danos”. Pesquisador do Laboratório de Pesquisas Interdisciplinares sobre o uso de Substâncias Psicoativas Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.
Tema: “Drogas na Escola e a Prevenção de Danos: (des)construção de estigmas”.
Mediador: César Gustavo Moraes Ramos – Psicólogo, Mestre em Ciências Criminais pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Interlocutor do Projeto Redes, Programa Institucional Álcool, Crack e outras drogas FIOCRUZ. Formador no CRR/UFT/Centro-sul.
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29 de novembro de 2016
MATUTINO- às 8h30min.
Rafael Leal Matos – Cientista Social e Antropólogo. Mestre em Antropologia Social pela UFRN. Graduado em Ciências Sociais pela UFGC. Professor Substituto na UFT, Campus de Miracema do Tocantins.
Oficina: “O Consumo de Bebidas Alcoólicas na Perspectiva Antropológica”.
.VESPERTINO – às 14h30min.
Bruno Logan Azevedo – Graduado em Psicologia e pós-graduado em Psicopatologia e Dependência Química. Atuou como redutor de danos – Centro de Convivência É de Lei. Atualmente é Redutor de Danos no Projeto Respire, Gerente do Consultório de Rua de Mauá e apresentador do canal do YouTube “RD com Logan”.
Oficina: “Redução de danos: contextos e desfios”.
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ENCERRAMENTO – 29 de novembro às 19h30min.
Mauricio Fiore – Mestre em Antropologia pela USP e Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. Pesquisador e Diretor do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e Coordenador científico de Plataforma Brasileira de Política de Drogas. Autor e Organizador de trabalhos sobre diversos aspectos da questão do uso de drogas, entre os quais os livros “Uso de ‘drogas’: controvérsias médicas e o debate público” e “Drogas e Cultura: novas perspectivas”.
Tema: “Política de drogas: qual o lugar do Estado?”.
Mediadora: Janaina Alexandra Capistrano da Costa – Doutora em Ciências Sociais pela UFRN, Mestre em Sociologia pela UNESP, Especialista em Ciência Política pela UChile, Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela UNESP. Professora do curso de Ciências Sociais na UFT, onde pesquisa cultura política na América Latina, história e memória, interfaces entre religião e política de drogas. Líder do Grupo de Estudo sobre Drogas – GED/UFT/CNpq.
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Inscrições podem ser realizadas pelo link. Para mais informações: crr@uft.edu.br ou PROEX- (63) 3232 8064.
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Congresso discutirá reflexos do álcool na sociedade
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas promove congresso nacional em Campos do Jordão, em setembro
Discutir o papel do álcool na sociedade, tendo em vista seu impacto em função das políticas vigentes, este é o objetivo do XXIII Congresso Brasileiro de Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas, que será realizado de 23 a 26 de setembro, no Campos do Jordão Convention Center, em Campos do Jordão (SP).
Com o tema Álcool e suas interfaces: muitos temas, pouco debate, o XXIII Congresso Brasileiro da ABEAD abordará os seguintes assuntos: Álcool antes e durante a gestação, Álcool e infância, Álcool na adolescência, Álcool e mulheres, Álcool e trânsito, Álcool e os diferentes tipos de violência, Álcool e propaganda, Álcool e drogas ilícitas, Álcool e tabaco, Álcool e saúde mental, Álcool e saúde física, Álcool e genética, Álcool na mídia, Álcool e suas leis, Álcool e prevenção, Álcool e a comunidade, Álcool e a dependência, Álcool e o controle da oferta, Álcool e custo e Álcool e políticas.
Convidados
Entre os profissionais convidados que participarão da programação está o psicólogo e professor associado do Departamento de Psicologia da Universidade do Texas, Craig A. Field. Além do psiquiatra e pesquisador senior do Instituto para Pesquisa e Avaliação do Pacífico em Oakland (Califórnia), Raul Caetano.
Também é convidada médica especialista em psicofarmacologia Maristela Goldnadel Monteiro, que atualmente é pesquisadora associada do departamento de psiquiatria da Universidade de San Diego, California e Conselheira da OPAS (Organização Panamericana de Saúde). Por fim, também estará presente o psiquiatra, diretor do Instituto de Dependência Química de Nova York, Petros Levounis.
Inscrições
Os estudantes e pesquisadores interessados em inscrever trabalhos científicos têm até o dia 20 de julho para submetê-los. As obras serão avaliadas entre o dia 21 de julho e 16 de agosto, sendo que o resultado será divulgado no dia 20 de agosto. Os melhores trabalhos serão premiados pela organização do evento com um certificado de reconhecimento do mérito e R$ 1.000,00.
Já as inscrições para o congresso estão disponíveis em quatro modalidades e variam de R$ 200 (estudante) a R$ 2,800 (grupo de dez profissionais), até o dia 20 de julho. Os valores aumentam também conforme a data de inscrição.
Além de participar da programação do congresso, os inscritos também poderão escolher um curso gratuito do pré-congresso, que acontecerá no dia 23 de setembro. A programação completa e todas as informações sobre inscrição estão disponíveis no http://abead.com.br/cbabead2015.
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“Boa Sorte” aborda o Isolamento e a Morte da Identidade de uma portadora de HIV
“A escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher.
Eu posso sempre escolher, mas devo estar ciente de que,
se não escolher, assim mesmo estarei escolhendo” – Jean-Paul Sartre
O filme “Boa Sorte”, que é inspirado no conto “Frontal com Fanta”, de Jorge Furtado, recebeu várias referências positivas da crítica tupiniquim. Estrelado por Débora Secco e João Pedro Zappa, e sob a direção de Carolina Jabor, o longa aborda a conflituosa existência de uma portadora de HIV e usuária de drogas, Judite, que se envolve emocionalmente com o adolescente João, um garoto diagnosticado com “distúrbios de comportamento” e em contratempo com a família. Eles se conhecem durante um período em que ficaram internados juntos numa clínica psiquiátrica de uma região degradada do Rio.
Minuto a minuto, Débora Secco se agiganta na atuação. Como Judite, faz o papel de uma mulher que demonstra se recusar a enfrentar o mundo (e que sintetiza as agonias e sofrimentos de muitos); Já os pais de João reconheceram na clínica “uma boa alternativa para se livrar de um problema dentro de casa”. A opção mais cômoda, então, foi terceirizar o enfrentamento do problema.
A partir desta dinâmica, percebe-se nos personagens uma tendência para a auto-exclusão, para a autossabotagem e para a negação da interioridade (identidade). Como diria Antoine de Saint-Exupéry, autor de “O Pequeno Príncipe” e amplamente utilizado como “pano de fundo” na estória, “se a vida não tem preço, nós comportamo-nos sempre como se alguma coisa ultrapassasse, em valor, a vida humana… Mas o quê?”. A resposta parece vir de outro trecho da obra do francês: “A ordem não cria a vida”. Por mais que a vida seja sabotada, ou que se tente “ordená-la” através do convencionalismo, é na contingência e na angústia que ela se expressa com grande força e esteticidade. Secco “encarnou” bem esta personagem, alguém que busca transcender pelos extremos, e que ao mesmo tempo – pelas limitações comuns inerentes ao corpo – não suporta as demandas decorrentes de suas escolhas (ou ausência delas).
Além deste viés parcialmente existencialista, o filme “denuncia” uma situação corriqueira impingida às comunidades minoritárias/estigmatizadas do país, como os portadores de HIV e usuários de drogas. No caso específico dos portadores do HIV, o longa parece indicar para um ponto amplamente debatido pelo professor Bernardino Geraldo Alves Souto, que pesquisa sobre o impacto do diagnóstico de tal infecção e sua “carga” nas representações internas e na temporalidade existencial (os portadores, no início do diagnóstico, tendem a perder a perspectiva de futuro) e, por fim, a forma como o estado e a sociedade tentam manter o “controle” sobre os infectados, diferenciando-os e isolando-os dos demais pacientes de doenças crônicas.
Ao separar os locais de tratamento de HIV/Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis das unidades gerais de saúde (hospitais, clínicas e afins), o portador é inserido numa esfera psicológica que, num primeiro momento, reforça o estigma e pode passar a impressão de que há, no fundo, uma punição pelo diagnóstico recebido.
Alguns pesquisadores destacam que o desnudamento comportamental da pessoa provocado pela revelação do diagnóstico, especialmente na esfera sexual, e a perspectiva da morte têm caráter extremamente estigmatizante, tanto por parte da sociedade em relação à pessoa infectada quanto por parte do indivíduo infectado em relação a si próprio. […] A morte então é vista como algo repulsável, assim como o é quem e/ou aquilo que a representa, da mesma forma que são rejeitados determinados padrões de comportamento tido como anticulturais, os quais conjectura-se que fizeram parte das atitudes que levaram o indivíduo a contrair o HIV. (SOUTO, Bernardino apud FERRAZ & STEFANELLI, 2001; NETO, VILLWOCK & WIEHE, 1996).
Haveria na personagem Judite, portanto, traços de isolamento deliberado e de supressão da identidade, numa espécie de “indisposição para a vida”. Além da falta de perspectiva de futuro, “a experiência psicológica da morte vem como uma consequência do isolamento social do indivíduo, criando um senso de ser invisível, excluído do interesse alheio, desprezado e descartado socialmente”, no entanto sob o paradoxo de estar sendo “observado e vigiado” [Souto et al. (2008)].
Ainda assim, a pulsão pela vida “reclama” o seu espaço. Ela se revela numa espécie de “ética estética” ao estilo foucaultiano, e que na estória se apresenta no romance entre os protagonistas. Os afetos são “aquecidos” pela energia do sexo, e o filme além de conter traços cortantes e obscuros, passa a expressar que, mesmo sob as mais difíceis circunstâncias, é possível vislumbrar o poder criador do indivíduo. Naquela casa psiquiátrica, Judite e João cunharam suas próprias regras. Há, portanto, uma afirmação da vida, ainda que diante de um panorama que exala a morte. Mas isso não foi muito longe!
A ambiguidade de sentimentos desestrutura o bem-estar da pessoa. […] ela passa a conviver com um misto de desespero e esperança, (com) as preocupações existenciais diante do significado e dos projetos da vida, a ansiedade em face da perspectiva consciente da morte e do isolamento, a sensação de estar entre a doença crônica e a doença terminal, entre o sentimento de culpa e de inocência. (SOUTO, Bernardino. 2008)
Não por menos, apesar dos avanços no tratamento da AIDS com o uso dos superpotentes medicamentos de última geração (e a cada período, novas descobertas e novos medicamentos são incorporados ao tratamento), ainda assim cerca de 11,5 mil brasileiros morrem por ano em decorrência de complicações promovidas pela AIDS. Boa parte dos problemas é decorrente da falta de adesão ao tratamento. No filme, no entanto, não se aborda esta faceta.
Por fim, Débora Secco quis entender a fundo este universo ainda mal compreendido. Além de ter vivenciado fortes marcas corporais, já que emagreceu 11kg para atuar, disse em entrevistas que o longa foi uma divisão de águas em sua carreira, com marcas também na sua forma de enxergar o mundo.
Para Bernardino Alves Souto, um diagnóstico de HIV/AIDS modifica a pessoa de dentro para fora, alterando a forma como ela se percebe, como percebe os outros e como os outros a percebem. Em súmula, o diagnóstico de infecção pelo HIV, “por suas implicações orgânicas, existenciais e socioculturais, transforma o indivíduo em outra pessoa, mesmo que ela não queira”. Judite (Débora Secco) parece ter representado muito bem esta metamorfose.
REFERÊNCIAS:
COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. São Paulo: WMF, 2011;
O Livro da Filosofia(Vários autores) / [tradução Douglas Kim]. – São Paulo: Globo, 2011;
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2001;
SOUTO, Bernardino Geraldo Alves. O HIV, seu portador e o tratamento anti-retroviral: implicações existenciais. São Carlos: EdUFSCar, 2008;
Resenha do livro “O HIV, seu portador e o tratamento anti-retroviral: implicações existenciais”.Disponível em < http://www.editora.ufscar.br/ > – Acesso em 21/04/2015;
O HIV, seu portador e o tratamento anti-retroviral: implicações existenciais. (Bernardino Geraldo Alves Souto – EdUFSCcar)
Além do filme “Boa Sorte”, há uma completa pesquisa compilada em um livro e publicada pelo EdUFSCar. Voltado para psicólogos, médicos, enfermeiros e qualquer outro profissional da saúde que lida com portadores de HIV, “O HIV, seu portador e o tratamento antirretroviral: implicações existenciais” é uma das melhores obras já lançadas sobre o assunto no Brasil.
No livro, Bernardino Alves Souto diz que a infecção pelo HIV é um fenômeno existencial. Ultrapassa questões de ordem biológica, tecnológica ou epidemiológica para envolver aspectos políticos, sociais, culturais e antropológicos que estão além da nossa compreensão contemporânea. Afeta não só os infectados, rompendo-lhes a linha da vida, mas mexe com nossos valores e tradições ao interferir na forma como vivemos e convivemos. Para nos explicar sobre isso, ninguém melhor que os portadores do HIV. Quem já recebeu um diagnóstico de infecção por esse vírus tem um saber a mais sobre a existência, o qual lhe serve de instrumento para administrar a ruptura provocada pelo próprio diagnóstico. Essas pessoas adquirem tal saber porque a ruptura que vivenciam faz com que experimentem simultaneamente, tanto no corpo quanto na alma, o conflito entre a vida e a morte, assim como a significação do bem e do mal. Quem presta assistência a pessoas infectadas pelo HIV precisa se aproximar desse saber para oferecê-las um cuidado centrado nelas mesmas e, portanto, mais humanizado e mais eficaz. Tal aproximação nos oferece subsídios para apoiar esses indivíduos em seu processo de reajustamento existencial a partir do impacto do diagnóstico e, consequentemente, ajudá-los no processo de adesão ao tratamento antirretroviral.
Este livro expõe e discute as percepções de um conjunto de portadores do HIV sobre os significados e as representações da infecção por esse vírus e do tratamento antirretroviral, e sobre a forma como enfrentam esses fenômenos.
FICHA TÉCNICA
BOA SORTE
Dirigido por Carolina Jabor Elenco: Deborah Secco, João Pedro Zappa, Pablo Sanábio e outros. Gênero: Drama, Romance Nacionalidade: Brasil Ano: 2014
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