Comportamento agressivo e os transtornos psicopatológicos em crianças e adolescentes

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O comportamento agressivo pode ser expresso fisicamente por meio de luta e fuga; emocionalmente por raiva e ódio; fisiologicamente com taquicardia, face rubra; cognitivamente através da crença na conquista independentemente dos meios, também envolve manipulação; e verbalmente com o uso da palavra para controle expresso. A agressão apresenta uma função dentro do ambiente em que está sendo utilizada e a raiz do comportamento ofensivo pode ser ligada por fatores neurobiológicos, mas também pode ser fornecida e mantida pelo meio ambiente.

É comum que crianças e adolescentes apresentem comportamentos agressivos no decorrer de seu desenvolvimento, porém deve-se atentar a condutas frequentes e intensas, pois podem indicar sinais de psicopatologia. Dois aspectos importantes foram observados em relação a esses sinais de psicopatologia, a percepção que esses indivíduos têm do ambiente, se mostrando hipervigilantes e hiporresponsivos consigo mesmo e com os outros; e alteração no processo de solução de problemas, apresentando menos soluções verbais e mais respostas não-verbais.

O desenvolvimento sócio-emocional diz respeito à construção das habilidades sociais, em relação a agressividade tem-se por base o temperamento humano. O estudo de Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993) aponta as seguintes dimensões para o temperamento: busca por novidades e sensações; evitação de dano e perigo; necessidade de contato e aprovação social; persistência. Chegou-se à conclusão de que os tipos de temperamento não constitui comportamento como bom ou ruim, é necessário entender todos os temperamentos, se são adaptativos ou desadaptativos e a situação/ ambiente que se apresentam.

O Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) é caracterizado pelos sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Os sintomas de desatenção são descritos pelo DSM-IV-TR (APA, 2002) como dificuldades de prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido; dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.

Fonte: encurtador.com.br/kqESU

Os sintomas de hiperatividade resumem-se à agitação das mãos ou dos pés; abandonar a cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; correr ou escalar em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado. O DSM-IV-TR (APA, 2002) divide o TDAH em três subtipos: predominantemente desatento, em que predominam os sintomas da desatenção (seis ou mais deles), predominantemente hiperativo/impulsivo, destacando-se os sintomas de hiperatividade e impulsividade.

Barkley (2002) afirma que TDAH não é sinônimo de conduta agressiva e que a presença desse tipo de comportamento está mais vinculada às condutas parentais do que necessariamente ao transtorno. Em um de seus estudos ele dividiu a amostra em dois grupos: crianças com TDAH (subdivididas em crianças com e sem comportamento agressivo) e crianças normais, fazendo com que cada uma delas interage com seus pais. Os resultados apontaram que as interações de crianças TDAH não agressivas com suas famílias eram bastante parecidas com as de crianças normais. Em contrapartida, no grupo TDAH agressivo, as interações eram mais negativas, com a presença de insultos e respostas impertinentes uns contra os outros.

O comportamento agressivo e as condutas anti sociais costumam estar profundamente relacionados. A definição de comportamento anti social compreende qualquer conduta que reflita a violação das regras sociais ou atos contra os outros, incluindo comportamentos como roubo, mentiras, vandalismo e fugas. Desta forma, pode-se sugerir que uma criança que apresenta comportamentos agressivos, tenderá, com maior probabilidade, a evoluir para práticas antissociais.

Os principais transtornos envolvidos com a expressão de comportamentos antissociais ou desafiadores são o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC). O TOD caracteriza-se especialmente pela presença de condutas de oposição, desobediência e desafio. Os comportamentos opositivos e desobedientes podem ser “passivos”, uma vez que a criança pode não responder ao pedido, mas pode apenas permanecer inativa.

Fonte: encurtador.com.br/rvyBM

O Transtorno Opositivo Desafiador em geral se manifesta antes dos oito anos de idade e tem pouca probabilidade de se iniciar depois do início da adolescência. Os sinais positivos frequentemente emergem no contexto doméstico, mas é comum estender-se a outras situações (APA, 2002). Um terceiro fator diz respeito às características de frequência, intensidade e diversidade dos comportamentos antissociais. Quanto maior o número, a gravidade e a complexidade dos atos, maior é a chance do Transtorno evoluir para a idade adulta (Robbins, Tipp & Przybeck, 1991).

Transtornos neuropsiquiátricos infanto-juvenis e comportamento agressivo geralmente ocorrem por razões muito afastadas da esfera dos transtornos psicológicos. Porém alguns comportamentos agressivos estão associados a uma série de transtornos neuropsiquiátricos. Tais problemas dessa natureza envolvem a agressividade física e/ou verbal, comportamentos opositores, desafiadores e anti-sociais, além de condutas de risco e impulsivas, podendo ser considerado como diagnósticos de Transtorno Bipolar do Humor (TBH), no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e nos Transtornos de Conduta (TC) na infância e adolescência.

O Transtorno Bipolar do Humor (TBH) caracteriza-se pela alternância de duas fases distintas:a maníaca (ou hipomaníaca) e a depressiva. Os critérios diagnósticos para um episódio maníaco incluem um período distinto de humor anormalmente elevado, expansivo ou irritável acompanhado de pelo menos três dos seguintes sintomas: auto-estima inflada, necessidade de sono diminuída, pressão para falar, fuga de idéias, distração, aumento de atividade dirigida ao objetivo e excessivo envolvimento em atividades prazerosas que tenham conseqüências negativas (APA, 2002).

O Transtorno de Conduta (TC) na infância e adolescência, é comportamento anti-social que compreende qualquer conduta que reflita a violação das regras sociais ou atos contra os outros, incluindo comportamentos como roubo, mentiras, vandalismo e fugas. Os principais transtornos envolvidos com a expressão de comportamentos anti-sociais ou desafiadores são o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o Transtorno de Conduta (TC).

Fonte: encurtador.com.br/oqvyJ

TBH, TDAH e Transtornos de Conduta têm pontos comuns entre eles, presença de comportamento agressivo, e outros sintomas comuns dentre eles. Apesar de considerarem a possibilidade do diagnóstico diferencial entre tais transtornos, alguns estudos sugerem que a equação TBH + TDAH + Transtornos de Conduta pode formar uma entidade diagnóstica com fenótipo específico (Papolos & Papolos, 1999; Papolos, 2003).

O comportamento agressivo constitui-se de uma gama de atitudes sociais inábeis, a expressão agressiva frequente e intensa na infância e na adolescência apresenta inúmeras consequências desfavoráveis a curto, médio e longo prazo. Desta forma a compreensão do desenvolvimento infanto-juvenil parece conceder padrões mais amplos para o entendimento do comportamento agressivo. Devendo ser uma investigação mais criteriosa e com mais estudos, especialmente aqueles que se detenham às questões sobre classificação nosológica na infância e adolescência.

REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais . Porto Alegre: ArtMed, 2014.

Barkley, R. (2002). Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed

Cloninger, C. R.; Svrakic, D. M. & Przybeck, T. R. (1993). A psychological model of temperament and character. Archives General Psychiatry, 50 (12), 975-990

Robbins, L. N.; Tipp, J. & Przybeck, T. (1991). Antisocial personality. Em: L. N. Robins & D. A. Reegier (Orgs.). Psychiatric disorders in America (pp.51-59). Nova York: The Free Press.

Papolos, D. & Papolos, J. (1999). The bipolar child: the definitive and reassuring guide to childhood’s most misunderstood disorder. New York: Broadway Books.

Papolos, D. (2003). Bipolar disorder and comorbid disorders: the case for a dimensional nosology. Em: B. Geller& M. DelBelo (Orgs.). Bipolar Disorder in Childhood and early adolescence (pp. 76-106). New York: The Guildford Press.

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O exíguo espaço da pessoa com deficiência na vivência da sexualidade na Sociedade Capacitista

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O normal ou anormal é encarado, portanto, como uma variação do modelo médico, colocando a deficiência como um desvio de normalidade, ao qual se faz necessária correção, para ser considerado humano, havendo assim a aproximação do padrão […] Compreende-se, na necessidade de se fazer uma sociedade para os deficientes para além da responsabilidade do modelo médico, e focar nas formas de conceber o incabível na vivência capitalista.

No dia 14/11/2020, houve o encontro com a Psicóloga Clínica Laureane Marília, abarcando sobre o tema “Sexualidade da pessoa com Deficiência”, como parte da disciplina de Psicologia da Sexualidade Humana, do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA de Palmas-TO, mediada pela professora da instituição de ensino, Ruth Cabral, ao qual a convidada, trouxe através da narrativa de sua experiência clinicando sobre a importância de se criar contextos de proteção ao suicídio, refletindo sobre a sociedade homofóbia e transfóbica como fomentadora do sofrimento emocional; trouxe em suma, a importância de ater-se para questões sociais, que atravessam a atuação clínica, com enfoque sobre as vivências da pessoa com deficiência na sexualidade, e seus entraves. A conversa abriu espaço para a reflexão dos alunos presentes, assim como abertura para dúvidas e considerações. Laureane pôde trazer através da sua vivência enquanto pessoa com deficiência, e psicóloga um diálogo engrandecedor para os estudantes, com seu lugar de fala, e com sua bagagem enquanto profissional.

Arquivo Pessoal

Problematizando a vivência da pessoa deficiente, Laureane na presente aula revisou sobre “O termo “Capacitismo”, que está para as pessoas com deficiência assim como o machismo está para a mulheres, o racismo para pessoas negras, a homofobia para as pessoas homossexuais, e a transfobia para a pessoa trans […] É um conjunto de regras que estabelecem qual é o corpo típico da espécie […] qual é anatomia, qual a fisiologia para ser, humano” então, aquelas pessoas que fogem dessa aliciação dos corpos, é dispensável, hierarquizando-as em níveis de capacidade, enquanto socialmente, estabelece-se possibilidades para o desenvolvimento de habilidade de algumas pessoas enquanto que para outras não, marginalizando a pessoa com deficiência, a mercê da sociedade capacitista.

encurtador.com.br/kpGHP

Durante a trajetória nazista, existiram os assassinatos em massa das pessoas com deficiência, nos campos de concentração, por serem desperdício de investimento, em uma tentativa de um futuro próspero, e sem deficiência, além disso, existiu em paralelo a esterilização involuntária, principalmente nas mulheres cuja as causas da deficiência é genética. Hoje tal prática é proibida, entretanto, ainda existem casos em que mulheres com deficiência foram esterilizadas via SUS, ao qual, tais profissionais violaram um direito humano; profissionais de psicologia também aturam em incentivo de tais ações, por exemplo, em uma mulher com deficiência intelectual. Então, qual seria o papel de psicologia nestes recortes?

encurtador.com.br/hknx6

É necessária a compreensão dos motivadores que fazem os familiares acreditarem que a esterilização é mais viável. Enquanto compromisso ético, cabe agir de forma a auxiliar o diálogo da mulher com deficiência e sua família, ajudando em conjunto na quebra dos estigmas relacionados as pessoas com deficiência intelectual, enquanto irresponsáveis em relação ao casamento e constituição familiar, sendo esta uma inverdade, pois, através de uma educação sexual, e explicação dos papéis dos pais, a compreensão desta pessoa se assemelha a de um outro, sem deficiência de mesma idade. É importante compreender também os recortes de classe, e as diferentes dificuldades de enfrentamento, dá-se devida importância a um governo que priorize as necessidades desse indivíduo para ter uma vida digna, dando assistências suficientes para tais fins; o que difere de um modelo neoliberal, que não dá meios para a conquista emancipatória de direitos, como única alternativa a competitividade, e meritocracia.

encurtador.com.br/fsIMY

Cabe ao psicólogo, orientações, mapeamento das possibilidades com a pessoa com deficiência e sua família quando inseridos em um recorte de linha da pobreza, como a procura da defensoria pública, investigação dos mecanismos legais na convenção da ONU, quais as leis brasileiras de inclusão, e se apesar de tudo, não houver respaldo, abrir liminar na justiça de recursos que não foram disponibilizados voluntariamente. Pontuando a necessidade de fazer psicologia não elitista, voltado ao sujeito de acordo com a realidade social vivenciada. Lembrando que: Deficiência não deve ser sinônimo de doença, principalmente quando saúde é entendido como questão biopsicossocial.

encurtador.com.br/hjJKU

Pontuou-se sobre a diferença das vivências da mulher com deficiência e do homem com deficiência, ao qual os estereótipos do gênero feminino se entrelaçam com os entendimentos de pessoas frágeis, passíveis, enquanto os homens, são vistos como fortes proativos, colocando então essa mulher no lugar de passividade/submissão ainda maior, dificultando sua autonomia, enquanto o homem deficiente, é posto em um lugar de incompatibilidade de gênero, ao qual se encontra em desajuste ao entendimento do homem, viril e forte. Mostrando o quão essas relações de gênero também afetam o sujeito, produzindo sofrimento, desajustamentos, e mais vulnerabilidades.

Entende-se, dessa forma, a importância das universidades enquanto espaços de reflexão sobre os aspectos culturais que nos atravessam e constituem nossa subjetividade, a fim de conhecer intimamente as limitações pessoais, assim como nos pondo a disposição de sermos passíveis a mudança. Lembrando sobre a falácia da neutralidade, pois uma vez inseridos no mundo, somos influenciados e influenciadores, então é cabível o entendimento das coisas que atravessam, e nos constitui enquanto sujeito.

Foi discutido sobre as questões de normalidade e anormalidade, a problematização das parafilias, e dos conceitos gerados no DSM como uma cartilha de construção do que se inscreve como “normal”, em uma realidade que está em constante desdobramento e mudanças. Nesta perspectiva foi mencionado a questão do prazer ou desejos voltados aos corpos com deficiência, pessoas denominadas – devotee – que por vezes sofrem retaliações à mercê deste desejo, socialmente falando.

encurtador.com.br/fiqtK

Por conta dos estigmas para esse recorte da fantasia, os devottes por vezes aproximam-se de pessoas deficientes pela internet, causando prejuízo pois pode haver um envolvimento sentimental por parte desse homem/mulher, entretanto, essa relação não será assumida. Então percebe-se uma vivência de retaliação do que deveria ser naturalizado, pois assim como os homossexuais, transexuais, já estiveram nesse lugar de patologização do desejo, o mesmo têm ocorrido com os devottes, que extravasam de forma nociva, em decorrência de uma supressão, medo do julgamento social. Apesar de tudo, são nesses contextos, em que muitas mulheres com deficiência, descobrem que seu corpo é feito para prazer sexual próprio, e que ela é desejável por outro.

Mulheres devotees, por sua vez, são mais facilmente aceitas, uma vez que existe a naturalização da mulher como cuidadora, então se torna mais passível de uma vivência que não a rotule, enquanto existe a concretude desse prazer específico pelas pessoas com deficiência. Enquanto a mulher com deficiência é colocada por vezes como um ser puro, assexual, na perspectiva de que o desejo sexual seria o desvio, o pecado, então o homem devotee é visto como alguém perverso, pois não considera essa mulher deficiente como portadora de desejos.

encurtador.com.br/xLN08

O normal ou anormal é encarado, portanto, como uma variação do modelo médico, colocando a deficiência como um desvio de normalidade, ao qual se faz necessária correção, para ser considerado humano, havendo assim a aproximação do padrão. Em contrapartida, existem pessoas que tem desejo de ter deficiência, o que se torna inconcebível um procedimento cirúrgico de transdeficiencia, e uma vez que se recebe essa recusa esse sujeito por vezes se lesiona, a fim de ter prejuízo em alguma parte do corpo, em que por fim possa ser concedido a amputação, ou outro procedimento de supressão. O que pode ser encarado como inadmissível pois se perde força de trabalho, dando a essa pessoa alguma deficiência. Em contrapartida, procedimentos que colocam em risco a vida de mulheres em cirurgias estéticas são facilmente acolhidos, por se aproximar dos padrões normativos, enquanto transdeficiencia, seria compreendido como “loucura”, por parte de quem têm tal desejo.

Durante a participação com a psicóloga, também foi apontado como as pessoas idosas impreterivelmente terão algum tipo de deficiência, portanto um futuro sem deficiência é uma grande ilusão. A aposentaria por invalidez, mostra um pouco sobre como se vê a pessoa com deficiência, ela é inválida, improdutiva, inoperante. Se a mesma comercializar algo, por exemplo, estaria cometendo um crime, tirando dela o direito da aposentadoria por invalidez. Então esse ato, sugere total desvinculação do ser com alguma incapacidade, por conseguir fazer algo. Sendo mais fácil também, estabelecer menos políticas públicas, pois interditar e rotular uma pessoa enquanto inválida é mais fácil e causa menos gastos que investir para que ela supra suas necessidades de forma plena.

encurtador.com.br/kpGHP

A contraposição do modelo médico vem com ascensão do modelo social (a partir da década de 60) com a luta por direitos civis, abertura política, e no final dos anos 70 veio o movimento pelo fim da ditadura. E a luta pelo direito das pessoas com deficiência esteve neste meio. No Reino Unido homens com deficiência denunciaram situação de vulnerabilidade e condições desumanas, um pontapé para o início de uma trajetória de conscientização e lutas.

Compreende-se, portanto, na necessidade de se fazer uma sociedade para os deficientes para além da responsabilidade do modelo médico, e focar nas formas de conceber o incabível na vivência capitalista, onde essa pessoa com deficiência poderia trabalhar menos de 08 horas por dia, onde houvesse respeito pelas limitações e exaltação de potencialidades, na existência de políticas públicas suficientes e eficazes. E construir a subjetividade de maneira menos evasiva, ao qual você é um sujeito dotado, fugindo do contexto da produtividade, onde há necessidade de uma constância para provar valor, que por vezes não respeita as limitações de pessoas não deficientes, muito menos, dá espaço para novas formas de se inserir como sujeito no mundo.

encurtador.com.br/jstBP

A deficiência, assim como tudo existente, é uma construção histórica. E é nítido que o mundo foi construído para privilegiar alguns tipos de corpos em específico. Uma escada é uma construção histórica, e no lugar dela poderiam existir rampas, assim como os assentos são produções culturais, pois poderiam ser maiores para caber pessoas gordas. Nos fazendo refletir na necessidade de ser fazer um mundo onde a diversidade possa existir de forma integra e natural.

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Garota Interrompida: transtornos da personalidade antissocial e borderline

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As particularidades e manifestações de ambos os transtornos vivenciados pelas duas jovens emergem no convívio dentro do manicômio, gerando atritos em relacionamentos e dificuldades interpessoais.

O filme “Girl, Interrupted”, “Garota, Interrompida”, em português, dirigido por James Mangold e lançado em 1999, narra a trajetória de Susanna Kaysen, uma jovem de 18 anos em conflito existencial e posteriormente diagnosticada com transtorno de personalidade limitante (atualmente, mais conhecido como transtorno limítrofe ou borderline). Após tentar suicídio, durante uma conversa com seu psiquiatra, Susanna assina seu protocolo de internação e passa meses sob cuidados profissionais em uma instituição manicomial.

No local, conhece várias outras mulheres que também tiveram o curso de suas vidas interrompido por um transtorno, entre elas Lisa, uma jovem diagnosticada como sociopata. Oscilando entre momentos de extrema angústia e satisfação, Susanna constrói vínculos no lugar e vive as dificuldades de seu transtorno, além de se envolver em diversas situações conflituosas durante seu tempo de internação.

Focado na percepção da jovem em relação ao mundo, o filme aborda as peculiaridades de uma personalidade afetada por um transtorno, as dificuldades e especificidades das relações interpessoais do sujeito diagnosticado e também traz reflexões sobre os tratamentos manicomiais e psiquiátricos, conforme o contexto histórico da trama, que se passa nos anos 60, perpassando o conceito de loucura vigente na época e ainda hoje reforçado.

Susanna, interpretada pela atriz Winona Ryder, tem 18 anos e mora com seus pais. Contando apenas com o seu diário para externalizar seus pensamentos e emoções, a jovem, no auge de seus conflitos internos, desconhecendo as motivações de suas tristezas e inquietações, tenta suicídio ingerindo diversas pílulas. O incidente a leva a consultar um psiquiatra, que propõe a ela que tire um tempo de sua vida para descansar afastada do convívio social dentro de uma casa de repouso, ou seja, em uma instituição psiquiátrica. Alencar, Rolim e Leite (2013), numa revisão histórica sobre o conceito de loucura, falam sobre as primeiras práticas asilares pensadas para tratar o que viria a ser chamado de transtorno ou disfunção mental, logo durante o surgimento da psiquiatria (alienismo) no século XVIII.

Fonte: encurtador.com.br/rtBGT

É exposto pelas autoras que, com o advento dessa área, o conceito de loucura/doença mental sofreu várias alterações. Entre elas, trazendo uma contribuição positiva, pode-se ressaltar o distanciamento entre a instância psíquica e questões espirituais, algo defendido pela sociedade como um todo. Explicações metafísicas sobre a doença mental foram sendo substituídas por estudos científicos, e o fenômeno passou a ser visto como uma condição médica passível de cura. Entretanto, de acordo com Júnior e Medeiros (2007), muitos teóricos de saúde mental alegam que as contribuições da psiquiatria para o entendimento dos transtornos mentais são reducionistas e biologicistas, colaborando para, muitas vezes, intensificar no indivíduo o que é chamado pela sociedade de loucura.

Os autores afirmam que esse conceito, analisado pelas lentes dos estudos em psicologia e saúde mental, é mais abrangente e engloba uma série de condicionantes sociais e culturais, indo além de explicações meramente orgânicas. A estigmatização social imposta ao indivíduo considerado louco, para essas abordagens teóricas, constitui a própria condição mantenedora do transtorno, que é carregado de rótulos e estigmas legitimados pela prática da psiquiatria (JÚNIOR e MEDEIROS, 2007). Apesar das concepções acerca do conceito de loucura e doença mental terem sofrido alterações durante os séculos e as discussões e práticas direcionadas a cura de pacientes psiquiátricos terem ganhado força, o modelo de internação, ao longo da história, assumiu como principal finalidade retirar do convívio social o indivíduo considerado louco, não chegando, muitas vezes, a adotar uma perspectiva terapêutica propriamente dita. Essa dinâmica foi sendo modificada com o tempo, mas a segregação social promovida pelos manicômios e asilos continuou constituindo um pré-requisito para o tratamento da loucura, conforme exposto na trama.

O psiquiatra de Susanna adota esse modelo de tratamento, trazendo atrelado a ele uma série de problemas que serão observados ao longo da trama, no que se refere ao modo como o transtorno mental é concebido dentro da instituição e como as práticas terapêuticas são conduzidas e aplicadas. Como uma dessas problemáticas, pode-se citar o fato da própria jovem desconhecer seu diagnóstico, somente entrando em contato com ele na metade do filme, quando ela e as outras garotas invadem a sala do psiquiatra e leem as pastas referentes ao caso de cada uma. Susanna passa meses de sua internação sendo submetida aos tratamentos de rotina sem de fato entender os motivos de estar tomando os remédios e estar frequentando as sessões, assim como o resto das pacientes.

As práticas dentro do manicômio da trama tornam-se, assim, mecânicas e vazias de sentido, privilegiando um modelo de assistência pautado na hegemonia e superioridade do profissional de saúde, que detém todo o conhecimento sobre a condição dos pacientes e segura em suas mãos o destino dessas pessoas. As garotas do filme, dessa forma, mostram-se totalmente alienadas quanto às suas condições de saúde, e possuem pouco ou nenhum controle do processo terapêutico que estão vivenciando. O engajamento nas atividades propostas pelos profissionais do local é incentivado e até mesmo exigido, entretanto, mesmo quando esse engajamento existe, as pacientes contribuem com o processo tendo em mente uma possibilidade de sair do local e serem curadas de uma condição que nem mesmo as próprias entendem ou conhecem.

Fonte: encurtador.com.br/iuyLX

Apesar dos inúmeros aspectos negativos inerentes às próprias práticas manicomiais presentes no filme, é preciso levar em consideração o contexto histórico em que se passa a trama. As discussões a respeito de saúde mental, nos anos 60, ainda eram frágeis e muito pautadas no discurso biologicista, e as contribuições da psiquiatria ajudavam, como já discutido anteriormente, a legitimar práticas desumanas. É possível também, olhando por outra perspectiva, observar vários pontos positivos no que tange ao manejo e cuidado das pacientes durante o filme.

Como uma prática que foge aos modelos de internação em que as pessoas são isoladas da sociedade, durante o filme, pode-se citar uma atividade promovida pela enfermeira Valerie, em que as pacientes saem do encarceramento e vivem uma espécie de dia de lazer fora das dependências do manicômio. Apesar de em alguns pontos perderem a sensibilidade com as mulheres, a maioria dos funcionários do local são colaborativos e desenvolvem afetividade pelas pacientes, como é o caso de Valerie, que, em várias cenas do filme, demonstra um enorme carinho tanto por Susanna quanto pelas outras garotas, até mesmo pelas consideradas mais problemáticas, como Lisa.

A partir dessas considerações, pensando também no contexto histórico e social do que é considerado loucura e como essa condição tem sido tratada ao longo dos séculos, podem ser tecidas algumas discussões a respeito dos transtornos de Susanna e Lisa.

Reflexões sobre saúde mental

Susanna e Lisa, vivida por Angelina Jolie, são as personagens principais do filme, ambas diagnosticadas com transtornos de personalidade distintos. Numa das primeiras aparições de Lisa no filme, ela é apresentada como sociopata, uma das categorizações dentro do chamado transtorno de personalidade antissocial. Já Susanna, alheia às motivações de seus sentimentos e comportamentos, só descobre seu diagnóstico quando acessa a sua pasta no consultório psiquiátrico.

Fonte: encurtador.com.br/adrtA

As particularidades e manifestações de ambos os transtornos vivenciados pelas duas jovens emergem no convívio dentro do manicômio, gerando atritos em relacionamentos e dificuldades interpessoais. Retomando as discussões anteriores, é possível afirmar, principalmente no caso de Susanna, que tanto a maneira como seus pais, a sociedade e os profissionais do manicômio encaram o seu transtorno é rotuladora, visto que seus conflitos poderiam ser abordados de outra maneira que não através da internação psiquiátrica.

O estigma de “louca” recai sobre a personagem como um peso, agravando, pode-se inferir, sua condição. Para entender o funcionamento das duas personagens no mundo e o modo como ambas interagem com este, com as pessoas e consigo mesmas, faz-se necessário tecer algumas reflexões a respeito dos dois transtornos e seus respectivos contextos históricos.

Atualmente, tanto o transtorno de personalidade borderline como o antissocial estão presentes no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), encaixados na categoria dos transtornos de personalidade. Entretanto, as concepções e nomenclaturas a respeito dos transtornos psicológicos nem sempre foram bem definidas como na última década. O diagnóstico de borderline, por exemplo, foi estruturado apenas em 1980, na publicação do DSM-III (DALGALARRONDO & VILELA, 1999). A utilização do termo borderline pela primeira vez se deu em uma publicação de um autor chamado Stern, em 1938.

O transtorno era tido como uma espécie de esquizofrenia latente, onde haveria uma flutuação entre o estado de psicose e neurose. A categorização desse conjunto de sintomas como borderline se deu, definitivamente, pelos estudos de Robert Knight, em 1953, o que permitiu o surgimento das primeiras classificações desse transtorno nas edições do DSM e sua consequente desvinculação com a esquizofrenia, sendo tratado como um transtorno de personalidade (DALGALARRONDO & VILELA, 1999). A edição mais recente do DSM cita como uma das características próprias do transtorno de personalidade borderline a instabilidade nas relações, na autoimagem e uma impulsividade acentuada.

Fonte: encurtador.com.br/koqAL

Essas características são observadas no comportamento de Susanna ao longo do filme, principalmente durante suas explosões de raiva ou angústia movidas por impulsos. Como um exemplo da sua instabilidade nas relações, é possível citar seus padrões de relacionamentos amorosos, que são de curto prazo e desprovidos de apego emocional significativo. A impulsividade da jovem se manifesta em seus comportamentos autodestrutivos, como a tentativa de suicídio, que, inclusive, configura como um critério para o diagnóstico do transtorno, conforme o DSM-V. Também há prevalência de instabilidade no humor, o que é observado durante as explosões de raiva, tristeza e euforia da personagem.

Apesar de todas essas características, que certamente reúnem dados o bastante para ser firmado um diagnóstico, o próprio DSM-V alega que há um contexto cultural influente sobre indivíduos diagnosticados com borderline (principalmente adolescentes e adultos jovens), onde existe a presença de atitudes e vivências inerentes a questões existenciais experienciadas por esses indivíduos que são percebidas como possíveis sintomas de um transtorno, e assim patologizadas e tratadas. Como discutido anteriormente, no contexto histórico da trama, os conflitos e questões de ordem psicológica, ainda mais do que atualmente, eram diagnosticados e trabalhados a partir de um viés estigmatizador, reforçando a perspectiva manicomial, farmacológica e psiquiátrica, sem considerar a subjetividade do sujeito no processo.

Abrangendo esses fatores, pode-se então levantar a hipótese de que Susanna foi inserida nessa dinâmica, sendo rotulada e tratada como uma paciente psiquiátrica, ainda que não se encaixasse nessa classificação. Carneiro (2004) aponta para alguns problemas referentes a práticas que promovem o isolamento de pessoas com uma possível sintomatologia e diagnóstico de borderline, visto que o encarceramento de pessoas nessa condição pode reforçar crenças e pensamentos autodestrutivos além de problemas com a autoimagem, aproximando-as do “limite da loucura”. A autora classifica o transtorno como um estado transitório entre a loucura e a razão, sendo assim, tais práticas levariam o paciente a apresentar com mais frequências os sintomas (CARNEIRO, 2004). Isso é observado durante os primeiros momentos de Susanna na instituição, mas, com seus próprios esforços e com o apoio de colegas e funcionários, a jovem consegue reverter o contexto de seu transtorno e sair do isolamento manicomial, no final do filme.

Por outro lado, como antagonista da trama, há Lisa, uma jovem diagnosticada como sociopata. Susanna, antes mesmo de conhecê-la, descobre sobre sua enorme influência dentro da instituição, entrando em contato com o fato de que até mesmo uma ex-paciente do local havia cometido suicídio devido a ausência de Lisa (que, como fez anteriormente e continuou fazendo ao longo do filme, havia fugido da instituição). Conforme Hodara, a sociopatia é um dos vários desvios de personalidade incluídos dentro da classificação de Transtorno de Personalidade Antissocial. Como uma das características desse transtorno, pode-se citar o desprezo pelo sentimento dos outros (redução ou ausência de empatia) e por regras e normas da sociedade. (HODARA). O DSM-V aponta ainda, como um critério próprio do transtorno, a recorrência de episódios em que a agressividade é manifestada fisicamente e/ou verbalmente.

Fonte: encurtador.com.br/iwPY0

Lisa, durante todo o filme, demonstra o seu descaso para com todas as pessoas de seu convívio, sejam elas suas colegas da instituição ou os funcionários. Em uma das cenas mais fortes do filme, a personagem chega a servir de gatilho para que uma jovem, ex-paciente da instituição, cometa suicídio em sua própria casa, após desmoralizá-la verbalmente. O acontecimento se deu quando a personagem fugiu do manicômio e se hospedou na casa da jovem, levando com ela Susanna.

Sua reação ao suicídio da garota foi de total indiferença, enquanto Susanna se desestabilizava e chorava diante da cena. Em várias outras ocasiões, a personagem agiu com extrema crueldade e frieza ao tratar-se com os outros. Não só agressiva no sentido verbal, Lisa também mostrou ser capaz de usar da agressividade física, como quando os funcionários a trouxeram de volta para a instituição após uma de suas fugas. Os autores Pereira e Biasus ressaltam que, apesar dos aspectos de sociopatia e psicopatia estarem sob o prisma dos Transtornos de Personalidade Antissocial, nem todos os indivíduos diagnosticados com Transtorno de Personalidade Antissocial são necessariamente psicopatas ou sociopatas.

O que determina essa diferenciação, ainda de acordo com os autores, é a capacidade de controlar ou não os impulsos para a agressividade e hostilidade. Diagnosticada como sociopata, Lisa apresenta, como já discutido, uma grande tendência a manifestar em seus comportamentos traços das características citadas, sendo, de fato, relacionada às condutas referentes à psicopatia e sociopatia. Entretanto, uma das características mais marcantes da personagem, e também algo bastante manifestado em seu comportamento, citada também como uma das características próprias de indivíduos diagnosticados com TPAS, é sua capacidade de manipulação. Visando os próprios interesses, Lisa com frequência influencia as colegas de convívio a fazerem o que ela deseja. Até mesmo Susanna acaba sendo vítima dessa manipulação quando decide fugir da instituição junto da personagem. Em outra situação, quase no final do filme, Susanna recebe alta.

A informação chega a Lisa, que, buscando um meio de manter a colega no local provocando nela uma crise, expõe o diário da jovem às outras mulheres do local, cheio de desabafos e ofensas direcionadas às pacientes. Várias das mulheres, guiadas por Lisa, se juntam para intimidar Susanna. A personagem chega a se sentir mal e fica perto de ter uma crise, mas consegue devolver para Lisa todo o ódio destilado por ela. Assim, pela primeira vez, a antagonista sente na pele o peso das ofensas e humilhações, entrando em crise ao invés de Susanna. A cena revela um lado sensível da personagem, mantido em segredo atrás de muros de hostilidade construídos com o intuito de protegê-la do mundo (ou de si mesma). Nessa situação específica, Lisa utiliza seu poder de manipulação para um propósito bem mais abrangente do que apenas humilhar a colega. A intenção da personagem, pode-se afirmar, era manter Susanna na instituição, visto que a jovem havia construído com ela um vínculo, ainda que abusivo e mantido por relações de poder.

Fonte: encurtador.com.br/uyDNS

Conclusão

Garota, Interrompida” passa longe de ser um filme em que os transtornos mentais são estereotipados e banalizados. Apesar de nem todos os distúrbios apresentados pelas várias personagens serem trabalhados a fundo, há no filme um grande foco nas relações interpessoais desenvolvidas por indivíduos diagnosticados com um transtorno, principalmente os que se enquadram na categoria de desvio de personalidade.

Algo observado na trama, bastante pertinente para futuras discussões a respeito das psicopatologias, é a subjetividade dos sujeitos implicada em seus respectivos adoecimentos. Um exemplo disso se expressa por Lisa, que, apesar de ser diagnosticada com um transtorno cujas características são a falta de empatia e sensibilidade, consegue construir um vínculo interpessoal, ainda que frágil e sabotado, além de demonstrar momentos de vulnerabilidade emocional.

Susanna, apesar de sua condição existencial limitante, consegue reverter muitos de seus impasses e se direciona à autorrealização. A mensagem final, e talvez a mais importante, consiste em olhar para o indivíduo não como um depósito de sintomas e rótulos psicopatológicos, mas como um sujeito além de estereótipos, dotado de uma subjetividade capaz de proporcionar mudanças. Para que esse entendimento de ser humano seja alcançado, ainda é necessário um longo e árduo trabalho de conscientização, lutando contra os conceitos generalizantes de loucura e normalidade e as perspectivas manicomiais de internação. É um caminho a ser trilhado e um desafio a ser abraçado pelos profissionais de saúde mental e pela sociedade como um todo.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

GAROTA INTERROMPIDA

Título original: Girl, Interrupted
Direção: James Mangold
Elenco: Winona Ryder, Elisabeth Moss, Angelina Jolie
País: EUA, Alemanha
Ano: 2000
Gênero: Drama,Biografia

Referências

ALENCAR, A.V. ROLIM, S.A.; LEITE, P.N.B. A história da loucura. Revista de Psicologia, novembro de 2013, vol.1, n.21, p. 15-24. ISSN 1981-1189.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (2013).
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition. Arlinton, VA: American Psychiatric Association.
CARNEIRO, Lígia.
Borderlineno limite entre a loucura e a razão. Ciências & Cognição, 2004; Vol 03: 66-68.
DALGALARRONDO, Paulo; VILELA, Wolgrand.
Transtorno borderline: história e atualidade. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., II, 2, 52-71, 1999.
HODARA, Ricardo.
Sociopatia.
JÚNIOR, Francisco; MEDEIROS, Marcelo.
Alguns conceitos de loucura entre a psiquiatria e a saúde mental: diálogos entre os opostos? Psicologia USP, 2007, 18(1), 57-82.
PEREIRA, Lucas; BIASUS, Felipe.
Transtorno de personalidade antissocial: um estudo do estado da arte.

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O luto mal-resolvido em ‘O Justiceiro’

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‘O Justiceiro’ não é uma produção destinada apenas aos amantes de quadrinhos, mas também retrata os desafios existenciais que cada personagem carrega dentro de si.  

O Justiceiro, série originada da história em quadrinho da gigante Marvel, retrata a história de um ex-fuzileiro do exército, que busca implacavelmente fazer justiça com as próprias mãos com aqueles que aos seus olhos merecem ser punidos. Este texto contem spoiler, já que é necessário se debruçar sobre as narrativas centrais para associá-las aos processos psicológicos.

Frank Castle não é um homem que se derruba com um simples tiro, já que as duas temporadas da série servem de amostra à força e resistência física que ele possui. Contando eventos nos quais ele enfrentou vários homens de uma só vez e saiu vivo. Frank Castle é imbatível.

A primeira temporada conta o acontecimento mais importante da vida de Castle, evento este que seria responsável por traçar o seu destino para sempre. Frank teve sua família assassinada (Esposa e filhos) sob os comandos de seu melhor amigo e companheiro de guerra Billy Russo.

Fonte: encurtador.com.br/bfmJT

Billy era considerado parte da família e tinha a total confiança dos mesmos, o que colaborou ainda mais para o sofrimento de Castle, que se sentiu profundamente traído pelo seu melhor amigo. Em resposta a essa traição, ele perseguiu Russo e no desfecho da primeira temporada, provocou grandes ferimentos no rosto dele, deixando-o em estado de trauma e com muitas cicatrizes.

O destino da vida de Frank não seria mais o mesmo depois da morte de sua família. Ele não conseguiu mais investir afeto em nenhuma área de sua existência e se manteve num processo constante de não aceitação desse acontecimento traumático. Conforme PARKES (2009 apud HABEKOSTE E AREOSA, 2011, pág. 189) “o luto pode ser definido como um conjunto de reações diante de uma perda. É um processo e não um estado, sendo uma vivência que deve ser devidamente valorizada e acompanhada, fazendo parte da saúde emocional, caso contrário, se não for vivenciada retornará para ser trabalhado”.

O retorno desse luto que não foi vivenciado adequadamente é o que mantém a fúria e o desejo de Castle de sempre envolver-se com situações de violência e justiça. O que se percebe nas decisões de Frank, é que ele busca nesse estilo de viver uma forma de conseguir suportar a dor da perda de seus entes queridos.

Fonte: encurtador.com.br/fgC24

A segunda temporada inicia-se com ele em um bar conhecendo uma mulher, com a qual pela primeira vez depois de muito tempo, ele se relaciona. Tudo poderia mudar a partir daquele momento, no entanto, ele avista uma jovem em apuros, e escolhe aquela oportunidade para voltar ao personagem do Justiceiro.

O intrigante é que ele poderia optar por não se envolver, visto que a garota não tinha nenhuma ligação com ele. Porém, ele mata todos os que a perseguiam naquela ocasião, e ainda não a deixa ir embora, alegando que mais pessoas viriam. Ela tenta fugir dele diversas vezes, mas não consegue. Frank vê na moça o seu “amuleto de fazer justiça”, e ele não deixaria esse amuleto ir embora.

O possível envolvimento amoroso que poderia ter acontecido seria uma das formas de começar o processo de elaboração do luto, no entanto, Castle o negou, numa tentativa de não entrar em contato com esse sofrimento. Para Santos (2009 apud HABEKOSTE E AREOSA, 2011, pág.190) “é a negação, que aparece na forma de evitação do fato que provoca sofrimento mental, ou seja, o sujeito se defende, adiando o processo de elaboração e reestruturação de vida.”

A frequência e a intensidade com que Castle se lembra de sua família, diz muito a respeito do tipo de apego estabelecido entre eles. Para Bowlby (1985) quanto maior a intensidade do apego maior a influência direta no processo de elaboração do luto, fazendo com que o sujeito enlutado tenha muito mais dificuldade em aceitar/ressignificar a perda.

Fonte: encurtador.com.br/suwN7

A jornada que se traça durante a segunda temporada traz Frank tentando livrar Amy de um influente casal de religiosos, que estão atrás de um conjunto de fotos de seu filho beijando outro rapaz. Esse casal contrata um de seus fiéis, chamado John Pilgrim, para encontrar Frank e a garota, e recuperar as fotos.

A dupla formada pelos dois traz benefícios para ambos, que encontram um no outro figuras expressivas que faziam falta em suas vidas. Frank enxerga Amy como sua filha e assim sendo estabelece um instinto de cuidado e proteção para com ela. Já Amy encontrou a representação de uma figura paterna para si, recebendo apoio em meio ao caos de ter perdido todos os seus amigos assassinados pelo grupo de religiosos. Caso o telespectador olhe atentamente perceberá a importância do vínculo desenvolvido para o processo de cura de Castle.

Billy Russo e o peso do Transtorno de Estresse Pós-Traumático

A segunda temporada traz o personagem de Billy Russo como uma vítima do trauma, ocasionado pela agressão que ele sofreu nas mãos de Frank Castle. No entanto, ele não se recorda do que aconteceu, e revive esse trauma todos os dias através de sonhos, nos quais ele consegue ver apenas imagens de uma caveira que sempre o persegue.

Russo está passando por um processo denominado Transtorno de Estresse Pós-Traumático. O DSM-IV define duas características para a ocorrência do TEPT, que são “1- A pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram ameaça de morte ou de grave ferimento físico, ou ameaça a sua integridade física ou à de outros;” e “2- A pessoa reagiu com intenso medo, impotência ou horror;”. Além disso, Billy passa por um processo de intensa confusão por não entender a reação de ódio de Frank para com ele, uma vez que ele não se lembra da traição realizada.

Fonte: encurtador.com.br/iuxI9

Ao contrário da primeira temporada que retrata Castle a procura de Billy, a segunda retrata Billy a procura de Castle, porém não no campo físico mas no campo psicológico. Para isso ele conta com a ajuda de Krista Dumont, a Psicóloga que lhe acompanha desde o seu retorno do coma. Krista é no momento a única pessoa em que ele confia, sendo ela seu continente terapêutico. Para Zimmerman (2007, pág. 74) “a função de continente é um processo ativo, no qual o analista participa intensamente, acolhendo, contendo, decodificando, transformando, significando, nomeando e devolvendo de forma desintoxicada tudo aquilo que nele foi projetado dentro dele.”

Apesar desse vínculo saudável estabelecido no início, Krista acaba se apaixonando por Russo, e abandonando o papel único de psicoterapeuta para assumir o papel de companheira.

 O desfecho

O cenário de sangue e violência toma a maior parte dos episódios da série que traz por final, a vitória de Frank e Amy, esta que por sua vez recebe a oportunidade de um recomeço, longe do mundo do crime e mais perto da vida de uma jovem comum.

Fonte: encurtador.com.br/sFTU8

Já Frank acaba optando por continuar seu caminho de Justiceiro, acabando com gangues responsáveis por grandes crimes. Billy acaba por descobrir que Castle era o seu agressor e tenta matá-lo, numa investida frustrada, que acaba resultando na sua própria morte.

Contudo, ‘O Justiceiro’ não é uma produção destinada apenas aos amantes de quadrinhos, visto que não se trata somente de poder, lutas e ferocidade, mas também retrata os desafios existenciais que cada personagem carrega dentro de si.

REFERÊNCIAS:

JORNADA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA, 4., 2011, Santa Cruz do Sul. O luto inesperado. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2011. 15 p. Disponível em: <http://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/jornada_psicologia/article/view/10197/18>. Acesso em: 26 jan. 2019.

FIGUEIRA, Ivan; MENDLOWICZ, Mauro. Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático. Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 6, n. 12, p.12-16, dez. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbp/v25s1/a04v25s1.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2019.

Zimerman, D. (2007). Uma Ampliação da Aplicação, na Prática Psicanalítica, da Noção de Continente em Bion. Interações: Sociedade E As Novas Modernidades, 7(13). Acesso em: 26 jan. 2019.

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Autismo e Síndrome de Asperger – como compreender e agir

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O Autismo e a síndrome de Asperger são os mais conhecidos entre os transtornos invasivos do desenvolvimento das habilidades sociais e comunicativas do indivíduo. Em entrevista ao Portal (En)cena, a psicóloga Lauriane dos Santos Moreira explica detalhadamente as principais característica destes transtornos, bem como as formas de tratamento e outras orientações.

Lauriane dos Santos Moreira é Psicóloga, professora do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, mestranda em Desenvolvimento Regional (UFT), especialista em Saúde Pública (ITOP) e em Análise Comportamental Clínica (IBAC).

(En)Cena – O que é o Autismo e a Síndrome de Asperger?

Lauriane Moreira – Autismo e Asperger até pouco tempo atrás faziam parte dos chamados Transtornos Globais do Desenvolvimento, o que abarcava outras problemáticas como Transtorno de Rett, por exemplo, tendo como elo unificador problemas na comunicação, interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento. Em 2013, com a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V (DSM V) pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), asperger e autismo deixaram de ser considerados transtornos distintos para comporem o que atualmente se chama de Transtorno do Espectro Autista (TEA), com níveis variados de gravidade. Apesar da mudança de nomenclatura pelo referido manual de classificação, os sintomas permanecem como antes, mas foram agrupados de modo que, ao invés de três características básicas, agora temos duas: problemas de interação social, essa permeada pela comunicação e os problemas acerca de comportamentos repetitivos e estereotipados.

(En)Cena – Em que idade estes transtornos costumam se manifestar?

Lauriane Moreira – Em geral os sintomas aparecem nos primeiros anos de vida, antes dos cinco anos de idade. Uma criança precisa comunicar-se, interagir socialmente e aprender uma série de comportamentos para se desenvolver de modo integral e, quando estamos lidando com uma criança que apresenta dificuldades bem marcadas nessas áreas, logo seu desenvolvimento fica prejudicado e os pais e/ou cuidadores costumam perceber isso bem cedo. Por exemplo, o costumeiro interesse de crianças de um ou dois anos de idade de explorar o ambiente e buscar a atenção das outras pessoas para brincadeiras ocorre sumariamente em algumas formas do espectro autista, em especial as mais graves, com uma tendência a preferir ficar sozinha e em locais com pouca estimulação sensorial.

(En)Cena – Quais as suas principais características?

Lauriane Moreira – Como já citado, as pessoas com autismo tem dificuldade em interagir com outras pessoas e em comunicar-se. Contudo, esse primeiro conjunto de sintomas não pode ser confundido com timidez ou fobia social. Nos graus variados em que o espectro se apresenta, temos desde pessoas que ignoram a presença dos outros, tratando-os como se fossem objetos, até casos em que a pessoa costuma se comunicar, mas com extrema dificuldade em compreender as regras sociais e o uso simbólico da linguagem. No que se refere aos comportamentos repetitivos, fixos e estereotipados, notamos nessas pessoas uma rigidez na rotina e interesses incomuns, como passar demasiado tempo olhando para um ventilador ligado. Além disso, muitos casos apresentam ecolalia e hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Importante lembrar que é comum também verificar a existência de retardo mental associado, costumeiramente com alterações neurológicas, mas não são todos os casos.

(En)Cena – Como é feito o diagnóstico?

Lauriane Moreira – O diagnóstico é feito de forma multidisciplinar, em geral por psicólogo, psiquiatra, pediatra e neurologista, e tem cunho clínico, ou seja, é a partir da presença dos sintomas citados acima que se confirmará o transtorno do espectro autista, já que os exames de imagem e laboratoriais não mostram nenhum padrão que esteja presente em todos os casos. No entanto, tais exames costumam ser feitos para descartar outros diagnósticos prováveis, então sempre são requeridos. Obviamente, o diagnóstico deve ser rigoroso porque muitas crianças apresentam ao longo do seu desenvolvimento dificuldades em alguma das esferas citadas, o que é comum e esperado, então, somente um profissional da área tem condições de avaliar o caso, tendo em vista, por exemplo, a intensidade dos sintomas, desde quando eles estão presentes e a forma como afeta a rotina da criança e daqueles que com ela convivem.

(En)Cena – E quanto ao tratamento? Como ele deve ocorrer?

Lauriane Moreira – As terapias tradicionais direcionadas ao TEA tinham como objetivo eliminação ou redução de comportamentos inapropriados, seja via psicoterapia ou medicação. Atualmente, elas buscam também, e principalmente, ensinar novas habilidades para promover certo grau de independência e controle do ambiente pelo autista. Por exemplo, temos o Método TEACCH (da sigla em inglês, Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Desvantagens na Comunicação), que é uma estratégia de educação individual em que, a partir de uma série de imagens, ensinam-se tarefas como usar o banheiro, alimentar-se, vestir-se, além de outras mais complexas como leitura e escrita, objetivando a organização do cotidiano dentro da realidade do autista e de sua família.

Outro método, elaborado por analistas do comportamento, é o chamado ABA (da sigla em inglês, Análise Comportamental Aplicada), que visa diminuir a frequência de comportamentos inapropriados ao mesmo tempo em que ensina novos comportamentos, a partir das especificidades, necessidades e interesses da pessoa com TEA e daqueles que convivem com ela. Além desses, as psicoterapias de um modo geral tem sido amplamente utilizadas nesses casos, com diferentes técnicas. Alguns casos, em especial aqueles que apresentam problemas neurológicos, costumam se valer de terapia medicamentosa. Além disso, a área da educação tem trabalhos excelentes na alfabetização de autistas, no entanto, ainda são experiências tímidas já que as escolas, em geral, carecem de profissionais que compreendam essa condição e as necessidades específicas que apresentam.

(En)Cena – Quais os principais cuidados que a família deve ter em relação ao acompanhamento  em casa de um paciente em tratamento?

Lauriane Moreira – A família tem papel fundamental no tratamento de pessoas com TEA. Quanto antes a criança receber o diagnóstico, melhor prognóstico terá, e isso só é possível se os familiares forem observadores e buscarem um profissional logo que notarem algum dos sintomas. Algumas famílias, mesmo percebendo que há características pouco comuns na sua criança, esquivam-se de procurar um profissional por receio do diagnóstico. Outras, a qualquer sinal de comportamento não esperado, preocupam-se demasiadamente e buscam ajuda. A orientação é que, em caso de dúvida, não hesite em realizar uma consulta, seja para iniciar o tratamento, seja para livrar-se da preocupação.

Outro ponto importante é que, caso seja confirmado o TEA, a família deve informar-se sobre as características dessa condição para saber como lidar, pois não se trata de um, mas de vários problemas que a família precisa mediar, e desconhecendo o transtorno ficaria mais difícil. No entanto, a educação e o tratamento são possíveis, devendo a família auxiliar a “equipar” seu filho para conviver na sociedade e desfrutar de seus direitos, como educação, saúde e lazer.

(En)Cena – Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos pacientes em seu convívio social?

Lauriane Moreira – Um dos principais sintomas do TEA é justamente a dificuldade no convívio social. Tal dificuldade permeia inclusive a relação com pessoas do seu ciclo doméstico, como pais e irmãos, podendo ser desde uma postura de total indiferença à simples dificuldade em manter contato visual. Nesse ínterim, uma série de situações podem ser listadas, como resistir ao contato físico, não se misturar com outras pessoas, tratar os outros como ferramentas, apresentar risos e movimentos “inapropriados” ou descontextualizados, agir como se fosse surdo, dentre outras características. Por exemplo, estudar numa sala de aula com 30 alunos pode ser uma situação suportada com muito sofrimento por pessoas com TEA. Pela dificuldade em compreender regras sociais e realizar abstração, o convívio social precisa ser mediado por outra pessoa que lhe ensine como se portar de modo o mais prático e concreto possível.

(En)Cena – As síndromes acompanham o paciente ao longo de sua vida sendo remediada, ou há uma cura definitiva?

Lauriane Moreira – A literatura não aponta casos de “cura” do TEA, até porque não se sabe ainda o que gera essa condição. Muitas teorias foram desenvolvidas ao longo de pouco mais de 60 anos em que o autismo tem sido estudado com mais afinco, desde que o médico austríaco Kanner em 1944 divulgou estudo realizado com onze crianças que apresentavam os sintomas de TEA. No entanto, apesar de não conhecermos casos de “cura”, existem muitos relatos de desenvolvimento importante, como o de Temple Grandi, americana que foi educada formalmente, sendo PhD em zootecnia. Ela relata que ainda tem dificuldade em olhar nos olhos dos outros, mas compreendeu como o mundo funciona e não se sente mais como um “E.T.” num planeta desconhecido.

A história de Grandi é um exemplo de TEA que foi diagnosticado e tratado desde muito cedo, mostrando que avanços enormes podem ser atingidos, como proporcionar independência. Casos de TEA com retardo mental grave associado são mais complicados, mas ainda assim possíveis de serem tratados com alcance de melhorias, em especial se a estratégia for interdisciplinar e com apoio e cuidado da família.

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O Suicídio, adentrando ao mar e ao não há mar

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Imagem publicada – a capa do filme Mar Adentro com o rosto do ator Javier Bardem, usando uma blusa de lã de gola alta, e com um leve sorriso nos lábios. Ele está interpretando o marinheiro Ramón Sampedro, no filme de Alejandro Almenábar. Ramón (Javier Bardem) é um tetraplégico que está preso a uma cama há trinta anos. A sua única janela para o mundo é a do seu quarto, perto do mar, mar em que tanto viajou. O mar onde teve o acidente que lhe roubou a juventude e a vida. Desde então que Ramón luta pelo direito a pôr termo à vida dignamente, luta pelo direito à eutanásia através de um suicídio assistido. Uma história verídica que nos instiga à reflexão sobre o viver e sobre o morrer, com dignidade.

Texto para os seres humanos que se cansam de esperar outro diálogo com a Senhora Vida… Outro encontro acolhedor… Outra saída para a Dor.

Em 2005, exatamente no dia 18 de fevereiro, me afetei e “assisti” um suicídio assistido. Não, não estava presente a este ato. Estive, para além da identificação projetiva, é vendo-o através do magnífico filme: Mar Adentro. Estive intensamente presente sim ao ver Ramón San Pedro sair voando pela janela, como seu desejo e sobrevoar, imaginariamente, até praias e um possível amor.

Ramón Sampedro é uma boa referência para este momento onde o tema do suicidar-se retorna às manchetes e à hipermidiatização. Estes dias o ator Robin Williams e seu suicídio, levou-nos à manifestações sobre o tema e o ato. Esse ato que nos obriga a pensar sobre a finitude do viver e/ou desejo dela. Um tema ao qual negamos a devida atenção e reflexão. Estaria eu e nós todos/todas pensando sobre o assunto sem o nosso ‘professor’ que nos estimulava para o Carpe Diem?

O assunto sempre me foi importante, e se tornou mais ainda quando conheci a vida e obra deFlorbela Espanca. É dela uma das mais contundentes afirmações sobre quem escolhe morrer por suas convicções ou dores profundas. A poetisa que se suicidou aos 36 anos, quem sabe por profundo amor, nos disse: “Quem foi que um dia ousou lançar a um papel as letras ultrajantes da palavra covardia, essa suprema afronta, esse insultante escarro, à face dos que querem morrer!?…”. Ela também se despediu de nós, em 07 de dezembro de 1930, desejando repousar perto do oceano.

Ela nos diz também da ‘coragem desdenhosa’, da ‘altiva serenidade’, do ‘profundíssimo desprezo’, às ‘almas que partiram por querer’. E sabemos que qualquer morte nos assusta, surpreende e desgosta.

A Dona Morta que vive passeando em nossas varandas da morada do corpo, sempre fiel e presente, só entra em nossos mais íntimos sótãos ou cama se a convidarmos, insistentemente. Vivemos negando a sua convivência e coexistência com a Senhora Vida.

O espanhol Ramón ficou paraplégico ao mergulhar no mar. Era o dia de maré baixa. Ele passou então, aos 25 anos, a lutar pelo direito à própria morte. Enfrentou todas as instituições, pois depois de 30 anos utilizando-se de sua boca deixou-nos também poesia e indignação em seu livro Cartas do Inferno.

Somente 30 anos depois em 1993, com auxílio de amigos e amigas, conseguiu um suicídio assistido. O que ele acreditava como dignidade para o morrer era o protesto contra sua forma de viver, e o cineasta Alejandro Amenábar o imortalizou, através de Javier Bardem, com o cinema e para além deste.

Ao assistir o filme, lá em 2005, fui mais uma vez lançado ao angustiante tema bioético do direito à morte com dignidade. Propus-me, então, uma metáfora com o título do filme: adentrando no mar, Morto! Muitas vezes é possível que ao se matar o sujeito já se considere ou se sinta de modo fúnebre, já falecido. E esquecido…

Esta metáfora é porque creio que estamos vivendo, todos, na chamada modernidade líquida e aniquiladora, a viver em estados quase paralisados, um tempo de alta salinidade de desamor, com uma dose de estagnação afetiva. Estamos imersos no novo e global mundo Mar Morto. Sobrenadamos, boiamos e continuamos superficiais, inclusive sobre o suicídio.

Pior ainda é quando o banalizamos e o ridicularizamos temerosos, usando discursos fanáticos para apressadamente o conectarmos com um desapego à Vida. Não podemos reduzir esse ato de tanta ousadia ou desespero ao modelo sociológico de Durkeim, apenas à anomia. Precisamos ir além da psiquiatria, da psicologia ou da psicanálise. Precisamos encará-lo como uma questão de saúde e bioética.

O século XXI, assim como o que passou, provocou enormes buracos negros em nossas singularidades. Disse-me em 2005 e repito: estamos em um mar sem ondas, sem pedras ou areias no percurso, um mar onde não pudéssemos ou poderemos nos suicidar pelo afogamento, pois, como já disse, nele boiamos e persistimos superficiais eternamente.

A palavra, e não apenas o ato, ”suicídio” ainda continua um tabu, um dogma ou uma ameaça. Temos de direito e também o dever de ampliar nossas visões, ideias, convicções ou conhecimentos sobre o suicidar-se. Temos de ir além, buscar, além do coletivo, o que faz o sujeito buscar seu próprio assujeitamento à Dona Morte. Quais são os diálogos possíveis com a Senhora Vida que nos levariam a seu pré-conhecimento e, quiçá, novos afetos que não deixariam secar o desejo de viver em nós? Há o direito de sua versão eutanásia?

As estatísticas de ocorrência de suicídios no Brasil dizem ser uma média de 25 pessoas por dia, há, então, alguma outra causa mortis tão presente ao mesmo tempo em que tão invisível? Podemos dizer que o tema é mais grave do que o número de pessoas com chamados transtornos mentais?

Estas são as pessoas que estão, na maioria dos casos, em situação de vulneração e vulnerabilidade para as tentativas e para o suicídio. Entretanto, não devemos ter como principal causa apenas as depressões graves ou persistentes. Há outras situações que nos empurram para a varanda, para convidar a Dona Morte, como solução ou resposta, por exemplo, às desilusões em nossos amores e outros dissabores do viver com intensidade ou tensão.

Há ainda que discuti-lo quando a terminalidade do viver está no ápice do sofrimento e da dor, seja ela psíquica ou física. Os estados terminais, onde os cuidados paliativos não mais aliviam, podem nos tornar ainda mais próximos do que chamo da “visitante da varanda”.

O morrer e a morte não devem ter o mesmo significado, muito embora esteja transversalizados ou subjacentes, um ao outro. Compreendemos e aceitamos os testamentos vitais dos nossos moribundos? Os náufragos sem nenhuma tábua ou resto de seus navios, aqueles que onde não há mais o mar e nem o amar?

Não tenho estas respostas, como não acho que nenhum filósofo já as tenha como certeza, mesmo concordando com Albert Camus. Podemos nos afogar em imensos oceanos de debates sobre Thanatós, Eutanásia, Ortotanásia ou Distanásia. Só não podemos fugir da perspectiva e expectativa de que a Dona Morte ainda é o mais “democrático” de todos os acontecimentos, escapando, como areia no mar, de todas nossas explicações ou teorias.

Para alguns deixo a provoca-ação de vida e ideias de Deleuze, para quem nada há para interpretar ou compreender, mas sim para experimentar, intensamente viver, deixando-se no “mar à deriva”, novos argonautas Pessoanos que se indagam: “Se queres te matar, porque não te queres matar?”.

Então vejamos que ‘Pontes’ para o futuro estamos construindo para os que se suicidam ou tentam morrer. Vejamos nossas multiplicidades, bem como as singularidades. Aquelas que o Mar Adentro pode provocar diferente e multiculturalmente, pois até o Gilles também escolheu se despedir de nós, após lenta e sofrida escalada de sua doença e sofrimento, assim como o fez Freud, que pediu ao seu médico, Max Schur, um único e último alívio. Ambos podem ser tomados como suicídio, os meios e métodos é que foram diferentes: um solitário e o outro assistido.

O SUICÍDIO NÃO É UM FIM,NEM PRECISARIA SER, SÓ QUANDO NEGADO, INVISIBILIZADO NATURALIZADO.

 

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O uso de psicofármacos no campo da saúde mental

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Muito se tem debatido acerca do tema Medicalização e Uso de Psicofármacos, e após pesquisa foi possível encontrar diversos textos que abarcam o assunto e trazem críticas pertinentes ao campo da saúde mental. A banalização dos psicofármacos evidenciou-se na contemporaneidade, no qual a felicidade é vendida em embalagens plastificadas e coloridas, com rótulo vermelho ou preto, que são fortemente reforçadas pela sociedade capitalista que lhe impõem o modelo de normalidade, que busca transformá-los em indivíduos domesticados para consumir e aprisionar no padrão pré-estabelecido. Reduzimo-nos ao neurobiológico, deixamos de ser indivíduos biopsicossociais e tornamo-nos bipolares, depressivos, neuróticos, e outros. E, para transtornos/doenças, medicam-se remédios.

O problema reside na prescrição indiscriminada e precoce de medicamentos para soluções rápidas de patologias ou de sentimentos que por nós são vistos como “ruins” e esquecemo-nos de que faz parte do processo natural do homo sapiens, de sentir e viver.E quando o remédio torna-se ou produz o problema? Ora, sua principal função é solucionar os males que ameaçam nosso organismo a nível psico-biológico. Estamos marcados constantemente pela terrível ideiado adoecer, o que consequentemente ocasiona o uso abusivo de medicamentos.

Na geração em que vivemos, no qual os transtornos psíquicos são diagnosticados indiscriminadamente, tendemos a fazer uso dos psicofármacos de maneira abusiva, podendo assim, chamá-los literalmente de drogas.Conforme explicitado por Oliveira (2013) necessitamos “entender até que ponto a vida humana deixa de ser natural e passa a ser controlada por substâncias que prometem uma paz e um conforto que acaba em questão de horas, caso a medicação não seja novamente administrada”.

A promessa de findar nossos problemas através de medicamentos é tentadora e somos acometidos por uma insegurança ao fim de seu efeito, partindo da lógica que nossa saúde deriva-se do efeito daquele que fizemos uso.Por outro lado, podemos concordar com o inferido pela autora quando diz que “não se pretende a abolição dos medicamentos, uma vez que é de extrema importância o uso de remédios como fator benéfico e auxiliar na qualidade de vida do indivíduo” (OLIVEIRA, 2013).

Nota-se, ainda, que as propagandas e mídias que prometem fórmulas milagrosas para combater ansiedade, insônia, hábitos indesejáveis entre uma infinidade de problemas, são inúmeras. Um exemplo pode ser encontrado em uma matéria de capa da revista veja de 2004 que promete remédios para conter esses indesejáveis problemas.

As pessoas hoje já chegam a um consultório do médico ou do psicólogo com o nome do medicamento que elas querem e que acreditam ser a solução de seus problemas. Com as indústrias farmacêuticas cada vez mais crescentes e a influência cada vez maior dos recursos da mídia que alcançam mais pessoas a cada dia,criou-se uma geração que precisa de um medicamento para todo tipo de angústia, ou seja, uma geração incapaz de suportar sofrimentos.

Em decorrência do uso indiscriminado dos psicofármacos estão sendo criados trabalhos que buscam a conscientização tanto de profissionais da saúde quanto da população em geral. Como por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2006, o programa de saúde mental da SMS/ Rio de Janeiro que tem como objetivo o uso racional dos benzodiazepínicos.

Vale citar, também, o quanto é corriqueiro encontrar diversos pressupostos críticos, inclusive, relativo ao DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais), que se encontra na 5° edição. É interessante evidenciar que nesse manual estão listados os diversos transtornos psicológicos e suas sintomatologias, objetivando uniformizar a linguagem utilizada no que tange à classificação das perturbações mentais.

O DSM teve um papel importante ao tornar a linguagem referente à classificação dos transtornos mentais consensuais, a princípio  nos Estados Unidos e, por consequente, em outros países. No decorrer dos tempos ocorreram mudanças, pertinentes ao contexto histórico e transformações sociais, termos foram modificados ou retirados e diversas patologias pertinentes aos comportamentos foram acrescidas.

Os conflitos fundamentam-se no fato de comportamentos até então tido como “normais” tornarem-se patológicos e, por conseguinte, ser necessário o uso de psicofármacos. Nesse ínterim, questiona-se sobre o lobby da indústria farmacêutica que tem interesse nesse processo por ter um aumento na demanda do uso de medicações; há uma preocupação dos profissionais que trabalham com enfoque na Saúde Mental, em relação ao limite de enquadramento de comportamentos sendo anormal ou desviante, ocasionando assim, um aumento exacerbado no que é considerado transtorno. De acordo com (Martins, 1999) citado por (Burkle, 2009) qualquer sinal de dor é vista como ultrajante e, portanto, devendo ser aniquilado; qualquer diferença em relação a um ideal é vista como um desvio, um distanciamento maior, e insuportável, da perfeição colimada, devendo ser ‘corrigida’.

A título de exemplo do uso exacerbado de medicamentos, tem-se o pressuposto do sofrimento ocasionado pelo luto,um conflito pertinente à vida,ser diagnosticado como transtorno.A princípio o luto passa por diversos processos de elaboração de acordo com diversos estudiosos.Não há consenso com relação à sua duração, mas a partir dos comportamentos desencadeados é que se observa a necessidade ou não de uma atenção especializada, e o que preconiza o DSM V, é que a partir de três meses de sofrimento já se torne patológico. Segundo (Zisook; Shear, 2009), referenciado por (Manfrinato, 2011), o processo de reorganização do luto acontece de diferentes modos e intensidades a depender da pessoa e da cultura a qual ela pertence, não é apenas “aprender como” se separar da pessoa falecida; é também procurar maneiras novas de manter o laço que existia.

No que se referem aos benefícios do uso desses recursos bioquímicos, estes não isentam os efeitos colaterais, como dependências químicas, físicas bem como psicológicas. O que verifica é que os psicofármacos ora podem ajudar, ora atrapalhar as pessoas que necessitam fazer uso desse tipo de remédio. Logo, tudo dependerá de cada caso, tanto a necessidade do uso, bem como sua dosagem, ou seja, cada pessoa é um ser individual e traz consigo uma situação especifica.

Por fim, cabe ressaltar que há quem aprecie os efeitos dos psicofármacos e não leve tão em conta seus efeitos colaterais, o que seria importante, tendo em vista que o uso destes podem tanto ajudar como atrapalhar na recuperação de quem faz seu uso. É de grande valia levar em consideração se os diagnósticos foram feitos de maneira adequada e precisa, assim como se as prescrições dessas substâncias foram de maneira correta e ilesa. Devemos colocar na balança: o risco versus o benefício.

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Uma Mente Brilhante: a linha tênue que separa a loucura da sanidade

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“É somente nas mais misteriosas equações do amor que nenhuma lógica ou razão real podem ser encontradas
John Nash em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel

 

O filme Uma Mente Brilhante vem nos mostrar a linha tênue que separa a loucura da sanidade. Lançado em 2001, tem como ator principal Russel Crowe que interpreta o ilustre John Nash.

John Nash, um exímio matemático de pensamento não convencional que deixa a desejar em suas habilidades de interação social, consegue uma bolsa de estudos na Universidade de Princeton, em meados da década de 1940, onde trava uma constante busca por uma ideia original, que lhe rendesse prestígio e reconhecimento pela comunidade científica, e tem como conflito principal uma luta mental entre a fantasia e a realidade causada pela descoberta de seu quadro esquizofrênico.

O convívio social com os colegas de faculdade era mínimo, haja vista que John possuía delírio de grandeza, se julgando superior aos demais. A única pessoa com quem mantinha relação mais estreita era seu colega de quarto, e posteriormente amigo, Charles.

Em sua ânsia por provar sua genialidade, John deixa de frequentar as aulas, e consequentemente, apresentar resultados de sua pesquisa. É somente depois, em uma mesa de bar, que Nash encontra sua grande ideia: a teoria dos jogos não corporativos, contradizendo anos de economia moderna. Este insight lhe possibilitou investimentos em sua pesquisa e o reconhecimento tão esperado; é convidado para ministrar aulas na Universidade e possui papel fundamental no Pentágono, decifrando mensagens codificadas para o governo dos Estados Unidos.

Neste interím, John conhece William, militar do serviço secreto que delega a ele missões de cunho sigiloso que, segundo o agende, podem comprometer sua vida e de quem o rodeia. Por outro lado, Nash que antes não possuía talento algum para o contato social, se vê apaixonado por Alicia, então sua aluna na época. Ao se casarem, os grandes dramas da real condição de John vêm à tona. Os quadros alucinatórios, já existentes, começam a se revelar e tomar maiores proporções quando, a medida que Alicia toma conhecimento da situação patológica do marido, seus delírios já afetavam seu convívio com os demais, principalmente com a família.

Ao ministrar uma palestra na Universidade de Harvard onde, a propósito, conhece Marce, a sobrinha de Charles, John se vê “perseguido” por um grupo de homens que, em seu delírio, tratava-se dos militares russos que estavam caçando-o, nada mais eram do que um grupo de homens do hospital psiquiátrico acompanhados do médico que iria interná-lo a pedido de sua esposa.

É neste momento, então, que se inicia o verdadeiro drama do personagem que é diagnosticado com esquizofrenia e descobre, paulatinamente, que muitos momentos vividos e pessoas conhecidas nunca existiram, não eram reais. Valemo-nos de ressaltar a forma como o filme foi produzido, utilizando-se da cronologia para perpassar as fases e conflitos que o personagem experimentou, até nos ser apresentada a esquizofrenia paranoide. Ao tratar da psicopatologia em questão, concomitante aos tratamentos oferecidos em 1950, a saber: a internação, medicamentos e insulinoterapia, é cabível notar que estas formas de tratamento enfatizam a doença e culpabilizam o indivíduo, reduzindo-o a si, desconsiderando suas esferas psicossociais.

O uso da medicação e as sessões de insulinoterapia afetavam seu convívio com a esposa e o faziam sentir-se inferior.Apesar das teorias e abordagens psicológicas já existentes, não há relato de tratamento psicoterápico com John. Pela recente descoberta e utilização dos fármacos, acreditava-se que a internação e os medicamentos eram as melhores e mais eficazes intervenções para aquela época.

Não obstante, no momento que John expõe seu filho a uma situação de perigo surge-lhe um insight que o faz perceber que suas alucinações, as pessoas que acreditava ser reais, Charlie, Marce, William, não coabitavam no mundo real. Este momento foi crucial para John criar suas próprias estratégias de lidar com o surto psicótico, haja vista que os efeitos colaterais produzidos pelos medicamentos influenciavam diretamente em sua capacidade cognitiva e afetava seu relacionamento com a esposa. A partir de então, John volta a dedicar-se aos estudos, tornando-se professor e, desta forma, desenvolvendo sua capacidade, então escassa, em criar vínculos interpessoais, utilizando-se do diálogo para diferenciar o real do imaginário e, a posteriori, ganha o Prêmio Nobel da Economia.

É notório ressaltar que a participação de sua esposa Alicia foi fundamental para sua recuperação, pois foi com o apoio familiar que John propôs-se a superar seus monstros, quando a destruição de sua família, aquilo que conquistou, foi posto em cheque. Conforme supracitado anteriormente, ao falarmos dos métodos de tratamento da época, os quais colocavam em destaque o indivíduo unicamente, trazemos aqui a crítica a estas formas, haja vista que, tal como seres sociais que somos e, podemos inferir que as patologias surgem nas interações negativas que mantemos com outrem, é somente na relação com o outro que podemos encontrar a solução, é compreender a dinâmica e complexidade do ser humano, a nível biológico-psicológico-social, que poderemos auxiliá-lo em sua busca por ser completo.

FICHA TÉCNICA

UMA MENTE BRILHANTE

Gênero: Drama
Direção: Ron Howard
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Russell Crowe (John Forbes Nash Jr.), Ed Harris (William Parcher), Jennifer Connelly (Alicia Nash), Paul Bettany (Charles), Josh Lucas (Hansen), Christopher Plummer (Dr. Rosen)
País: EUA
Ano: 2001

 


Nota: Esse texto é resultado de um trabalho elaborado como demanda da turma de Psicofarmacologia do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, turma de 2014/1, sob a orientação Prof. MSc. Domingos de Oliveira.

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