A importância de cuidar de quem cuida considerando o envelhecimento populacional

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Com o direito ao acesso à saúde a partir de 1988, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), reforça esse direito à saúde sendo assegurado pela Constituição Federal e dever do Estado. Desse modo, tem como objetivo proporcionar saúde de qualidade ao Cidadão, além disso, tem a função de regular, fiscalizar, controlar e executar ações públicas de saúde. As ações públicas, também chamadas de Políticas Públicas, são ações e planos do governo para proporcionar o bem-estar da sociedade, buscando a solução dos problemas de interesse público. Apesar de serem campos próximos, se distinguem quanto ao seu enfoque. (CARVALHO, 2013; OLIVEIRA, 2016).

Nesse contexto, a implantação da Unidade de Saúde da Família (USF), prevê a atenção contínua nas especialidades básicas e constitui o primeiro contato do usuário com o sistema de saúde, ou seja, “porta de entrada” do sistema. Ela tem que ser resolutiva, com profissionais capazes de assistir aos problemas de saúde mais comuns e de manejar novos saberes que, por meio de processos educativos, promovam a saúde e previnam doenças em geral (SOUSA; NETO, 2000). 

Em decorrência da expectativa de vida, o envelhecimento do ser humano aumenta os encargos sobre os sistemas de saúde, pois a incidência de doenças aumenta e a autonomia diminui. O alto número de ocorrências de multimorbidades é um problema que vem sendo estudado no Brasil, sendo caracterizado como um problema emergente. Isso mostra que um idoso vivendo muito tempo com multimorbidades é um problema para a saúde pública, pois o SUS não está sendo suficiente para proporcionar um envelhecimento saudável (ANDRADE; GUIMARÃES, 2013).

O envelhecimento populacional, processo natural da vida, é uma realidade no mundo inteiro, principalmente no Brasil, onde estima-se que nos próximos anos seja o sexto maior país do mundo com população idosa. As pessoas dessa faixa etária de 60 anos ou mais se tornam mais vulneráveis a desenvolverem doenças cardiovasculares, AVC, Alzheimer, entre outras. Isso é preocupante, pois necessitam ser assistidas e cuidadas quando ocorrem casos mais graves. (DA CONCEIÇÃO, 2010; CALDAS e MOREIRA, 2007).

Diante disso, a Política Nacional do Idoso prevê a promoção do envelhecimento saudável e digno, com a prevenção de doenças, cuidados para recuperação e reabilitação dos que adoecem. Mas, na realidade, quando se pensa na saúde e bem-estar destes idosos, o SUS, que é carente de recursos e políticas sociais, designa aos familiares os cuidados de apoio social (BRÊTAS, 2003)

E diante desse cenário, alguns dos idosos necessitam de cuidados e acabam recebendo estes cuidados por um cuidador de idosos, sejam eles formais ou informais, com conhecimento especializado ou um familiar leigo. Essas pessoas que se dispõe a cuidar de um idoso dependente ou semi-dependente, que na maioria das vezes são esquecidos pelo sistema de saúde e tendo o seu trabalho como foco principal na sua vida. O cuidador formal é um profissional capacitado e treinado para auxiliar o idoso, ou seja, é um terceiro que realiza o seu trabalho diante das instruções que lhes foi dado (CONCEIÇÃO, 2010).

Quando envolve um familiar, passa-se a chamar cuidador informal ou familiar. É aquele filho ou filha, que na maioria dos casos é eleito pela família a ser o único e exclusivo, denominado cuidador principal. Além de não ser um serviço remunerado, o cuidador familiar, na maioria das vezes, não tem capacitação, conhecimento e orientações de como ser um cuidador, o que piora e dobra as chances de afetar a integridade da sua saúde (CALDAS; MOREIRA, 2007).

Em suma, o cuidador é aquele que, diariamente alimenta, cuida da higiene pessoal, dá medicamentos e faz companhia ao seu dependente. Esse intenso trabalho pode, futuramente, trazer consequências como problemas de saúde, tanto física quanto mental. Focar nos problemas dos cuidadores dos idosos, que sofrem por estafa mental, são mais estressados, deprimidos, que possuem níveis menores de bem-estar subjetivo e de senso de autoeficácia, intervindo com ações que minimizem esses efeitos seria de grande valia para a saúde pública (SOUSA; NETO, 2000).

Portanto, a existência de serviços de apoio educativo, psicológico e social é essencial para reduzir as consequências advindas do ato de cuidar. A intervenção psicoeducacional pode contribuir significativamente para a melhora do bem-estar, para a aquisição de estratégias de enfrentamento da situação de cuidado, diminuição de sentimentos e pensamentos disfuncionais, melhora no senso de autoeficácia, entre outros benefícios. Contudo, há necessidade de uma padronização da abordagem em termos de estrutura, duração e conteúdos abordados, para que se obtenham informações mais precisas sobre o efeito desse tipo de intervenção (SOUSA; NETO, 2000; LOPES; CACHIONI; 2012).

Coautores:

  • Bruno Soares Oliveira
  • Juliano Martins Moreira
  • Jackson Nunes Cardoso
  • Lívia de Souza Caixeta
  • Nicole Deiss 
  • Sara Regina Batista da Silva. 

REFERÊNCIAS 

BRÊTAS, Ana Cristina Passarella. Cuidadores de idosos e o Sistema Único de Saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56, p. 298-301, 2003. 

CARVALHO, Gilson. A saúde pública no Brasil. Estudos avançados, v. 27, p. 7-26, 2013. 

CERQUEIRA, Ana Teresa de Abreu Ramos; OLIVEIRA, Nair Isabel Lapenta de. Programa de apoio a cuidadores: uma ação terapêutica e preventiva na atenção à saúde dos idosos. Psicologia Usp, v. 13, p. 133-150, 2002.

CONCEIÇÃO, Luiz Fabiano Soriano. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado. Rev Med Minas Gerais, v. 20, n. 1, p. 81-91, 2010. 

GUIMARÃES, Raphael Mendonça; ANDRADE, Flavia Cristina Drumond. Expectativa de vida com e sem multimorbidade entre idosos brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 37, 2020. 

LOPES, Lais de Oliveira; CACHIONI, Meire. Intervenções psicoeducacionais para cuidadores de idosos com demência: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 61, p. 252-261, 2012.

MOREIRA, Marcia Duarte; CALDAS, Célia Pereira. A importância do cuidador no contexto da saúde do idoso. Escola Anna Nery, v. 11, p. 520-525, 2007. 

OLIVEIRA, Vanessa Elias de. Saúde Pública e Políticas Públicas: campos próximos, porém distantes. Saúde e Sociedade, v. 25, p. 880-894, 2016. 

SOUSA, M F; NETO, M M da C. Cadernos de atenção básica: programa da saúde da família. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. 

 

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Plasticidade cerebral na velhice à luz da vivência de Édson Gambuggi

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O envelhecimento é um processo natural que pode ser encarado como uma fase de desenvolvimento humano rica e significativa. Este insight, fundamentado no documentário “Envelhescência”, gravado em 2015, destaca a história inspiradora de Édson Gambuggi, um médico que iniciou seus estudos de medicina aos 76 anos e concluiu o curso aos 82 anos.

Enfrentando desafios como a adaptação a um novo ambiente acadêmico e uma rotina de estudos intensa, Édson personifica a capacidade do cérebro humano de se adaptar e se regenerar, um fenômeno conhecido como plasticidade cerebral. Tal conceito é respaldado por teorias que indicam que o cérebro é capaz de reorganizar suas conexões e até mesmo criar novos neurônios, independentemente da idade.

A jornada de Édson ilustra vividamente como a plasticidade cerebral pode ser acionada mesmo em idades avançadas, permitindo que indivíduos continuem aprendendo, crescendo e se desenvolvendo ao longo da vida. Esse fenômeno é explorado aqui à luz dos estudos de Papalia e Feldman (2012), que abordam o envelhecimento do cérebro e os mecanismos envolvidos na sua adaptação às novas experiências e desafios.

O caso de Édson Gambuggi não apenas demonstra a capacidade de superação e resiliência dos idosos, mas também destaca a importância de reconhecer o potencial de crescimento e aprendizado em todas as fases da vida. O envelhecimento, longe de ser um declínio inevitável, pode ser uma jornada de descobertas e realizações profundamente enriquecedoras.

Plasticidade cerebral

A plasticidade cerebral encontra-se na possibilidade e capacidade do cérebro de se adaptar e remodelar ao longo da vida em resposta às experiências vivenciadas. Quando ocorre uma nova aprendizagem, os neurônios cerebrais estabelecem conexões entre si, formando uma rede neural que registra essa informação. Com cerca de 86 bilhões de neurônios, o cérebro humano é composto por células nervosas que captam, processam e transmitem informações aprendidas ao longo das experiências. Essas conexões entre os neurônios, chamadas sinapses, apresentam-se como fundamentais à comunicação no cérebro, e são fortalecidas através da prática repetida de uma atividade, o que significa que quanto mais uma habilidade é exercitada, mais intensas e consolidadas se tornam as sinapses relacionadas a ela. Por outro lado, comportamentos pouco frequentes não estabelecem conexões fortes e não solidificam hábitos.

A plasticidade cerebral ocorre de forma dinâmica e adaptativa. Quando uma parte do cérebro é afetada por um trauma externo, como lesão ou doença, o mesmo se reorganiza para compensar as funções prejudicadas, redistribuindo tarefas entre outras áreas saudáveis. Essa capacidade de reorganização contribui para a recuperação e adaptação do cérebro diante de desafios e mudanças ao longo da vida.

De acordo com Papalia e Feldman (2012, p.582), “as mudanças que ocorrem com o envelhecimento do cérebro de pessoas saudáveis são sutis e fazem pouca diferença em seu funcionamento.” Além disso, a plasticidade cerebral pode “reorganizar os circuitos neuronais para responder ao desafio do envelhecimento neurobiológico” (Park e Gutchess, 2006, p.107). É comum ao cérebro em envelhecimento que diminua de tamanho e perca parte de suas células nervosas. Todavia, “a perda neuronal não é substancial e não afeta a cognição” (Burke e Barnes, 2006; Finch e Zelinsky, 2005).

Apesar da realidade advinda do envelhecimento natural do ser, o caso de Édson demonstrou de forma impressionante o que Brayne (2007) afirmou: a deterioração cerebral não é inevitável e nem todas as mudanças são destrutivas. Conforme Papalia e Feldman (2012), cérebros mais velhos têm a capacidade de criar novas células nervosas a partir de células-tronco, e evidências de divisão celular foram encontradas no hipocampo, região relacionada à aprendizagem e memória.

Durante sua vida, Édson Gambuggi cultivou sinapses fortes, fortalecendo seus hábitos de estudo e trabalho. Após concluir sua segunda graduação e trabalhar por anos na área do Direito, Édson se aposentou conforme o prazo estabelecido. Sua esposa relatou:

“Quando ele se aposentou, eu nunca imaginei que ele fosse ficar sentado dentro de casa lendo jornal, porque ele nunca foi disso, nunca foi de ficar parado. Aí ele começou a correr atrás do sonho dele de fazer medicina, ele não parou. Eu nunca nem pensei que ele se aposentando fosse ficar em casa sem fazer nada.” (Arthemis Gambuggi, 2015).

Mesmo diante dos desafios impostos pelo envelhecimento natural do cérebro, que podem resultar em uma diminuição na rapidez da transmissão dos impulsos neuronais e afetar as funções cognitivas e motoras, Édson não experimentou danos significativos em suas habilidades executivas e sua idade avançada não o impediu de embarcar e concluir sua jornada acadêmica na Medicina, mesmo aos 76 anos. A dedicação contínua aos hábitos de estudo ao longo da vida, juntamente com sua boa saúde física e mental, mitigaram as limitações associadas à idade, permitindo que ele ampliasse suas capacidades e habilidades nesse período de sua vida.

Plasticidade cerebral no envelhecimento

Antigamente, a biologia afirmava que apenas o cérebro ainda em desenvolvimento teria capacidade de remodelação através da plasticidade – o adulto e o idoso estariam fadados aos eventuais desgastes cerebrais ocorridos no decorrer de sua vida. Todavia, o próprio Édson é um argumento vivo de que isso não procede. A plasticidade cerebral não é interrompida pela idade – é continuada enquanto hajam estímulos capazes de promover novas sinapses entre os neurônios. Muito embora o cérebro não seja capaz de se regenerar, ele possui a habilidade de reorganização, adaptação e modificação no processamento de informações. Este rearranjo forma novas sinapses forçadas.

“Assim, múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis, pois o cérebro é altamente maleável e com os estímulos adequados e intensos pode-se modificar a estrutura cerebral desenvolvendo habilidades e retardando o próprio envelhecimento natural.” (ABREU, 2020)

A história de Édson nos mostra como ele se afastou da rotina monótona e automática, buscando constantemente novos desafios para alimentar sua motivação. Seu desejo persistente de cursar medicina o levou a explorar oportunidades no Brasil, na Bolívia e na Argentina, mesmo enquanto equilibrava suas responsabilidades familiares e profissionais. Ao longo dos anos continuou a fortalecer essa motivação, independentemente do tempo necessário para realizar seu sonho. Assim como um músculo que é exercitado regularmente, sua determinação foi alimentada por suas experiências de vida. Seu cérebro se adaptou às mudanças e desafios do novo caminho que escolheu, desenvolvendo alterações funcionais para enfrentar os obstáculos que surgiam em sua jornada.

Aspectos cognitivos de Édson

“Declínios na força e na energia muscular resultam de uma combinação do envelhecimento natural, diminuição da atividade e doença.” (PAPALIA; FELDMAN. 2012, p.584).

 À medida que envelhecemos, é natural que ocorra um declínio no funcionamento do cérebro, resultando em uma diminuição na sua capacidade e proporção. No entanto, evidências científicas mostram que ainda é possível a divisão celular no hipocampo, uma região crucial para a aprendizagem e memória (Eriksson et al., 1998; Van Praag et al., 2002). Édson teve que encontrar novas estratégias para estimular seu cérebro e absorver as informações durante seus estudos na faculdade. Uma dessas estratégias foi o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais com os jovens ao seu redor, que compartilhavam de seu sonho e experiências de vida.

Contextualizando Papalia e Feldman (2012, p. 584), a idade funcional destaca-se pela habilidade de se relacionar com pessoas de diferentes idades e adaptar-se a diferentes ambientes. A conexão entre o idoso e o jovem proporciona crescimento mútuo. Através desses vínculos, Édson teve a oportunidade de compartilhar conhecimentos e habilidades, o que resultou em um aumento de sua autoestima e crenças fortalecidas em sua capacidade de enfrentar desafios.

“O começo das aulas foi meio cansativo, mas a todo instante a graça da garotada enriquecia o meu espírito, (…) e acabei levando as coisas de maneira que, no fim fui sendo absorvido por tudo aquilo, sem me perceber que eu sou tão velho em relação a isso.” (Edson Gambuggi, 2015).

 

Retornar aos estudos na velhice trouxe a Édson um renovado sentimento de autoconfiança, experiência compartilhada por muitos idosos na mesma situação. Tal exemplo inspirador nos lembra que a idade não precisa ser vista como um obstáculo para alcançar nossos objetivos. A vida plena pode ser desfrutada em qualquer fase, e a velhice não tem que representar um caminho para a solidão ou desânimo – ela pode ser uma oportunidade de aproveitar o tempo de forma significativa. É um período de maturidade, libertação de amarras sociais e realização de sonhos adiados. A respeito, a plasticidade cerebral vem como potencializadora da capacidade do cérebro de se adaptar e aprender ao longo da vida, reforçando a ideia de que o tempo restante pode ser dedicado ao que antes era deixado de lado pela falta de tempo. A consciência da finitude da vida deve nos motivar a buscar o que realmente importa, vivendo com propósito, prazer e compromisso com nossa própria felicidade.

Referências

ALTMAN, Miriam. Envelhescência: um fenômeno da modernidade à luz da Psicanálise. Rev. bras. psicanál, São Paulo, v. 48, n. 1, p. 203-206, abr. 2014.

Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-

641X2014000100018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 21/03/2024

PAPALIA, D. E. e FELDMAN, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed, 12ª ed.

ENVELHESCÊNCIA. Direção: Gabriel Martinez. Produção: Samarah Kojima.

São Paulo: Proac SP, 2015. 1 DVD (84 min). Disponível em: <https://goo.gl/YN2zQO>. Acesso em: 10/10/2021.

GAMBUGGI, Edson. Aos 82 anos, paulista realiza sonho e se forma médico, entrevista concedida a Giovana Sanchesz, G1, em São Paulo. 15/07/09-12h56.

GOLEMAN, Daniel,ph.D.Inteligência Emocional:Rio de Janeiro:Objetiva,2011.

MINOZZO, Leandro. Um novo envelhecer: Tempo de ser feliz. Porto Alegre: WS editor, 2012.

 

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Passa amanhã

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66 anos, já estou velha, cadê a sabedoria?

Isso realmente me incomoda, pois me dou conta de que das duas coisas, não conquistei nada ainda; sim, porque a velhice não é uma conquista, a despeito da “nobreza” que se possa emanar disso, é apenas uma (con)sequência da vida; e a sabedoria, por mais que eu abra e feche os olhos, por mais que eu me belisque, não sinto em mim os eflúvios da danada.

Aliás, até por não ser uma sábia (ainda), preciso pesquisar um modelo ideal para mim. Hoje é bem mais fácil, com o advento da tecnologia, posso em segundos, estar ao lado do velho pescador que apenas do soprar do vento sabe o custo benefício de se colocar a jangada na água. Ou estar entre os monges tibetanos para conhecer a retumbância do silêncio, em horas incontáveis de concentração.

Resolvi seguir os passos de alguém a quem me serve de modelo, pela simplicidade e verdade que carrega em seus ensaios; Este modelo é Michel de Montaigne (1533-1592), pois bem, ele afirma que “É necessário conhecer a ti mesmo”, Reitera ainda que “É preciso que cada um construa uma sabedoria à sua própria medida. Cada um só pode ser sábio de sua própria sabedoria”.

Sobre sua primeira fala me parece uma tarefa que conseguiria fazer.  Sem querer fazer apologia a cerca dos meus saberes, penso que ao longo do tempo acumulei alguns poucos conhecimentos, mas seria o caminho certo e o suficiente?

“Sobre os saberes Montaigne escreve: “[c] proclamai a nosso povo, sobre um passante: ‘Oh, que homem sábio!’ e sobre outro: ‘Oh, que homem bom!’ […] Seria preciso perguntar quem sabe melhor, e não quem sabe mais.” (MONTAIGNE, 2002, p. 203).

Fonte: Imagem de Nato Pereira por Pixabay

É uma baita reflexão para mim e para quem está nesta busca em saber o quanto e como quer ser sábio. Eu sei, melhor, ou sei mais? Confesso que está questão é inacabada em meu pensar. Um dos grandes problemas que enfrentei foi me debruçar na compreensão desta construção da sábia que quero ser, como poderia eu, separar-me de mim e me ver dentro da sabedoria que doravante ousaria perseguir.

Adentrando mais no mundo deste notável homem, busco através dele salientar o quanto de sabedoria preciso, e se realmente preciso. É certo que alguma preciso, mas para me tornar sábia, daqueles de renome, tal qual o meu modelo, o que seria necessário?

Minhas indagações chegaram ao modelo de sábio para Montaigne. Sim, ele também o tinha, um sábio senhor de alcunha Sêneca um importante escritor e filósofo do Império Romano. Pois bem, conforme ele a  sabedoria carece de alma plena, e sobre isto ele afirma que,

“A alma do sábio é semelhante à do mundo supralunar: uma perpétua serenidade. Aqui tens mais um motivo para desejares a sabedoria: alcançar um estado a que nunca falta a alegria. Uma alegria assim só pode vir da consciência das próprias virtudes: apenas o homem forte, o homem justo, o homem moderado podem ter alegrias” (SÊNECA, 2009, Carta 59, p. 215).

Achei de extrema relevância, porém um tanto quanto profundo para uma iniciante. Porém ainda me acho inacabada em tanta virtude.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Quero  ser uma sábia contente, satisfeita, feliz, mesmo sem os atributos que Sêneca propõe e também,  não que eu não veja isso no modelo de sábio que citei acima,  mas já que me ocorreu escolher, vou me preparar bem.

Escolha. Aí que tá, sinto que lá na frente isso pode ser um complicador do quadro final; isso para a sábia que quero para mim.

Veja bem, na música, por exemplo, não me machuca ouvir uma música erudita, mas e o sambinha, será que embaça a estirpe?

O jejum… Ih meu, e o xtudo, o escaldado com dois ovos, o mocotó, o pão com salame? É, sinto que aí vai dar problema.

A festa com os amigos, as madrugadas, isso tem que ser negociado.

O futebol, o desfraldar das bandeiras, o grito de gol, nada disso?

Sei que não é sábio criticar tudo, mas é muito importante botar as cartas na mesa; que tipo de sabedoria me compraz?

Algum lampejo de sabedoria eu já tenho adquirido, por exemplo, nos vários momentos em que me sentei nas escadarias da praça, em aruanã, e vi a majestosa descida do rio Araguaia, acompanhado de arabescos avermelhados do sol se pondo; aprendi que beleza é unguento para a alma.

Aprendi que o mais gigantesco dos gestos é o perdão; talvez por isso, tantos sentem dificuldades em praticá-lo. Inclusive eu mesma.

Por outro lado, todo meu conhecimento (deveras pouco) de aritmética, matemática, física, não me permite calcular a intensidade de dor, no suspiro de uma mãe velando um filho.

Pronto, feito meu esqueleto de sábia, posso sentir que ainda estou muito presa aos velhos costumes (graças a deus!). De antemão já peço desculpas a Montaigne e Sêneca, os ensinamentos foram de grande valia, com certeza me servirão para o meu modelo; mas meu pão com salame, meu samba e, sobretudo meu futebol, no momento em que meu porco (Palmeiras) é tão soberano, trazem a resposta que preciso caso seja perguntado: “quer ser sábia hoje?”, ao que placidamente responderei:

Passa amanhã!

Referências

MELO, Wanderson Alves. (2009). A visão de Montaigne sobre o homem no mundo. Disponível em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=100. Acesso em 26/08/2022

THEOBALDO, M.C. Sêneca, Montaigne e a utilidade dos saberes. In: PINTO, F.M., and BENEVENUTO, F., comps. Filosofia, política e cosmologia: ensaios sobre o renascimento [online]. São Bernardo do Campo, SP: Editora UFABC, 2017, pp. 199-225. ISBN: 978-85-68576-93-9. https://doi.org/10.7476/9788568576939.0011.Acesso em 26/08/2022.

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Velhice, uma das principais fases da vida

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Os desafios da terceira idade estão longe de acabar. Em especial, em países em desenvolvimento, onde o idoso precisa de políticas públicas mais eficientes para ter uma qualidade de vida. Sobre o assunto, a Organização Das Nações Unidas – ONU, em Assembleia Geral, decidiu que o período de 2021 a 2030 será conhecido, como a década do Envelhecimento Saudável. O objetivo da iniciativa é fazer com que a sociedade mude sua forma de pensar e agir em relação ao idoso.

Conforme a ONU (2020), a humanidade está envelhecendo, em todos os quatro cantos do mundo, e por isso é preciso na elaboração de políticas públicas que auxiliem nessa fase, que segundo a entidade, afeta o sistema de saúde. De acordo com a resolução elaborada em Assembleia, junto aos países membros, o mundo não está preparado por contribuir e responder com eficiência aos direitos e necessidades da pessoa idosa. (ONU, 2020). Para é necessário o engajamento da sociedade civil junto, setor privado e público para a promoção de um envelhecimento saudável reiterou a organização internacional.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que a proposta em promover uma década saudável para os idosos, a partir deste ano, 2021, é melhorar a qualidade de vida deles, bem como acrescentar anos à vida de cada um.   Dados coletados pela ONU, afirmam que existem 962 milhões de pessoas espalhados pelo mundo com mais de 60 anos de idade, sendo que em 2030 serão mais de 1,4 bilhões de idosos. Nesse sentido, a ação vai ao encontro dos números que confirmam o envelhecimento da população mundial.

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que houve um aumento considerável da população idosa brasileira, nas últimas décadas.  A coleta foi feita, em 2020, e informa que o número da população brasileira com 60 anos de idade aumentou para 29,9 milhões e se continuar nesse ritmo deve subir para 72,4 milhões em 2100. Comparada a população idosa, da década de 50, que era 2,6 milhões, ocorreu um aumento de 8,2% nos últimos setenta anos.

Fonte: Freepik

Ainda de acordo com o IBGE (2020), o número de idosos com mais de 65 anos de idade passou para 9,2 milhões em 2020 e que a previsão para daqui a 100 anos é alcançar 61, 5 milhões de brasileiros. Já a quantidade de brasileiros idosos com mais de 80 anos passou 4,2 milhões, em 2020, sendo que em 2100 será de 28,2 milhões.  Ou seja, a população brasileira envelheceu e vai continuar no processo de envelhecimento, por isso é importante o engajamento dos setores públicos e privados, bem como a população em busca de melhoria de vida para o idoso, como pontou a Assembleia Geral da ONU realizada o ano passado.

Veras (2007) comemora que, o envelhecimento populacional constitui um substancial conquista da humanidade, mas adverte que o novo cenário demográfico e epidemiológico precisa exigir novos olhares, concepções, políticas, tecnologias e modelos de atenção que possibilitem um envelhecimento saudável. Para isso, propõe a análise das desigualdades sociais entre as pessoas da terceira idade para a elaboração de políticas para o brasileiro com mais de 60 anos.

Para assegurar os direitos do idoso, no Brasil, foi elaborada a Lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, em 2003. Entre suas atribuições estão atendimento individualizado e especial junto aos órgãos públicos e entidades privadas, preferência na elaboração de políticas públicas, além de sua execução.  No entanto, apesar dessas diretrizes, a qualidade de vida do idoso brasileiro, precisa ser revista e melhorada, em especial no mercado de trabalho, é o que em Lopes e Burgadt (2013).

Para Lopes e Burgadt (2013) o idoso que deseja voltar ao trabalho precisa competir com concorrentes mais jovens, geralmente preferidos pelo devido ao seu maior grau de qualificação. “O preconceito que existe com relação à terceira idade faz com que a sociedade naturalmente ignore o idoso, visto que uma das grandes dificuldades quanto à inclusão dessa parte da população no mercado de trabalho” Lopes e Burgadt (2013). Nesse sentido, é preciso mudar o olhar sobre a população idoso, que vem aumentando consideravelmente, por isso é importante sua reinserção no mercado de trabalho de forma digna. Isto é, se a população tende ao envelhecimento, o mercado precisa se adaptar à nova realidade. Além disso, o jovem cheio de oportunidades hoje, é o idoso de amanhã.

REFERÊNCIAS

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020). Disponível em <https://www.ibge.gov.br/> Acesso 02, de nov, de 2021

ONU- Organizações das Nações Unidas (2020) -Assembleia Geral da ONU(2020). Disponível em < https://brasil.un.org/pt-br/about/about-the-un > Acesso. 02, de nov de 2021

 Lopes APN, Burgardt VM. Idoso: um perfil de alunos na EJA e no mercado de trabalho. Estudo Interdisciplinar Envelhecer (2013).

Planato, Estatuto do Idoso. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>

Veras R. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. (2007).

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CAOS 2021 – Promoção da Saúde Mental do Idoso em Tempos de Pandemia

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No segundo dia do congresso, quinta-feira, 04 de novembro, aconteceu diversas atividades no decorrer do dia, dentre elas os minicursos e sessões técnicas. No período noturno, às 19h, ocorreu o minicurso com a temática “Promoção da Saúde Mental do Idoso em Tempos de Pandemia”, tendo como convidada a psicóloga Isabela Aires De Melo, o mesmo fora mediado pelas acadêmicas de psicologia, Ludimylla Sousa e Izabela Fernandes, o evento foi transmitido através da plataforma digital Google Meet, contando com cerca de 30 participantes.

O evento teve início com a apresentação curricular da convidada, no qual fora realizada pelas mediadoras. Assim que a psicóloga recebeu a palavra, estabeleceu abertura para os participantes, de forma dinâmica, em que permitiu que os mesmos se apresentassem e relatasse de forma breve o interesse pelo tema. Em seguida concedeu aos alunos que construíssem uma nuvem de palavras que representasse para cada um o conceito de “velhice”. A partir dessa atividade, a psicóloga iniciou a contextualização a respeito do tema proposto.

Fonte: Divulgação CAOS

Conforme as discussões trazidas durante o minicurso, a convidada instigou os participantes a refletirem sobre o processo de envelhecimento, como também na estigmatização do mesmo e em como podem gerar sofrimento aos indivíduos, nos quais esses reflexos podem expressar de forma comportamental e emocional. Diante do cenário atual, percebe-se que em grande parcela houve intensificação do estresse diário, devido à privação da vida social, assim contribuindo para adoecimento psicológico. Portanto, encontra-se a necessidade de buscar a promoção e autonomia desses velhos.

Por fim, o minicurso contribuiu para a concretização de conhecimentos a respeito do processo de envelhecimento, entendendo que esse ocorre de forma biopsicossocial, além de compreender que a velhice é um resultado de uma construção cultural e temporal. A partir de tais pontuações foram percebidos, através das diversas participações dos acadêmicos, como o engajamento dos mesmos puderam contribuir para o enriquecimento da atividade.

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Resistência, coragem e amor

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Particularmente em relação ao idoso percebo maior gravidade (dos desafios de saúde mental na pandemia), pois nem todos tem o privilégio de ter uma família que cuida e proporciona conforto nesse momento, em que os idosos obrigatoriamente ficam reclusos e mesmo assim, muitos são alvo fácil do vírus, pois nem todos têm a preocupação em mantê-los em segurança”.

O Portal (En)Cena entrevista a diretora de Recursos Humanos do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, estudante de psicologia do Ceulp/Ulbra, Osmarina Rodrigues Andrade, para entender sua perspectiva acerca dos desafios que o Brasil da pandemia impõem à  mulher idosa, profissional e líder de equipe, esposa, mãe e cuidadora da irmã super idosa de 88 anos.

Em sua fala, Osmarina Rodrigues Andrade indica a interconexão entre os saberes e os desafios dos vários papéis exercidos por enquanto mulher, profissional, idosa e cuidadora durante a pandemia. Segundo ela, as tarefas se completam e se apoiam pois “ser mulher é resistir com coragem e sobretudo amor”.  Em seguida, a entrevistada aponta sua visão de idosa e cuidadora de idosos, acerca dos efeitos da pandemia na saúde mental das pessoas nessa faixa etária e indica a importância da presença da família e da garantia de condições para que mesmo recluso, durante a pandemia, a pessoa idosa se mantenha ativa. Como Diretora de Recursos Humanos responsável por cerca de 500 servidores públicos, Osmaria Rodrigues entende ser possível e necessário pensar em produtividade, mesmo ante a calamidade, contudo aponta a importância de que sejam criados indicadores assertivos para a apuração dos resultados dos profissionais, além de adaptar a pesquisa de clima organizacional para a nova realidade e colher subsídios para o desenvolvimento de programas que mantenham a qualidade de vida dos servidores e empregados.

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala, mulher, mãe, avó, profissional que assume cargo de chefia de equipe e trabalha em tempo integral, cuidadora, idosa e ainda estudante de psicologia: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Osmarina Rodrigues – É interessante essa pergunta porque neste momento passa um filme na minha cabeça de todas essas vivência e experiências em diferentes papéis, mas que estão em confluência o tempo todo, porque não há como dividir.

Agora sou apenas mãe ou agora sou apenas profissional e por aí vai. Uma experiência serve de âncora para outra, não sei se posso dizer assim, mas, é assim que sinto. O fato de ser mãe e avó muitas vezes traz compreensão e ternura em momentos em que outros papéis estão em evidência, no ambiente de trabalho por exemplo, onde lido principalmente com questões relacionadas à vida de outros profissionais. A idade é um marcador do tempo que se refere a nossa primeira casa, o nosso corpo, que na minha crença abriga o ser imortal, o espírito. Então ser idosa para mim é compreender que o meu corpo precisa de cuidados constantes nesse processo natural de envelhecimento. Processo que só percebo e sempre levo um susto, quando me vejo no espelho.  Por isso continuo a estudar, trabalhar, cantar e muitas outras coisas para vencer as minhas dificuldades que também são muitas. A psicologia me possibilita compreender melhor o ser humano em toda a sua grandeza e complexidade, me permitindo enxergar que somos únicos, embora com semelhanças. Isso me faz a cada dia respeitar mais o outro em suas diferenças. Então para mim ser mulher no Brasil em tempos de pandemia é cuidar de si mesma e dos que estão sob sua responsabilidade é também, ter o direito de decidir o que fazer, o que expressar, é enfim não se submeter à violência, seja ela de que natureza for, nem tampouco ao preconceito que infelizmente ainda permanece. A pandemia da COVID 19 impôs uma reclusão física obrigando a convivência de pessoas por longos períodos e aflorando divergências que antes eram amenizadas nas conversas no ambiente de trabalho, nos happy our entre colegas, nos templos religiosos…e talvez por isso, a voz soou mais alta para evidenciar as dores de quem vive a margem e sem voz. Ser mulher é resistir com coragem e sobretudo amor.

Fonte: encurtador.com.br/qBOT9

(En)Cena – Como pessoa idosa e como cuidadora de idosos, como você percebe os efeitos da pandemia na saúde mental dos idosos?

Osmarina Rodrigues – É inegável os efeitos da pandemia na saúde mental de qualquer pessoa em qualquer faixa etária.  Os pediatras por exemplo, aconselham aos pais redobrarem a atenção com as crianças neste período tão difícil da nossa vida.        Particularmente em relação ao idoso percebo maior gravidade, pois nem todos tem o privilégio de ter uma família que cuida e proporciona conforto nesse momento, em que os idosos obrigatoriamente ficam reclusos e mesmo assim, muitos são alvo fácil do vírus, pois nem todos têm a preocupação em mantê-los em segurança.  É preciso que seja proporcionado ao idoso condições para que mesmo recluso realize atividades que o mantenha ativo: leitura, atividade física, trabalhos manuais, ouvir música etc. Também, a atenção destinada ao idoso é primordial. Uma boa conversa, paciência e carinho, fazem toda a diferença.

Fonte: encurtador.com.br/xKQS0

(En)Cena – Como Diretora de Recursos Humanos do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins você tem acompanhado de perto o desenvolvimento do trabalho de mais de 500 servidores, muitos deles mulheres e cuidadoras, durante a pandemia.  Diante da sua experiência, como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres interfere na rotina de casa e do trabalho?

Osmarina Rodrigues – A pandemia deixou tudo revirado em nossas vidas. Trouxe medo, insegurança, perdas.  A frase que mais ouço e repito é: quando tudo isto vai passar? Essa incerteza afeta a todos nós. Mas tenho percebido um movimento de aproximação nessa distância física, por parte de nós servidores. Uma necessidade de acolhimento bem maior. Recebo ligações constantes, por diversos motivos, dos servidores e sinto na maioria das vezes uma amorosidade na fala das pessoas. Externamos com mais facilidade nossos medos, nossas dificuldades e isto nos ajuda a nos mantermos bem mentalmente. Na Instituição existe um empenho para que cuidemos da nossa saúde mental que se manifesta nos novos projetos que serão implementados.

Fonte: encurtador.com.br/ckDST

(En)Cena – Na sua opinião, quais os desafios mais importantes da mulher trabalhadora durante a pandemia? E como os departamentos de gestão de pessoas das empresas e das instituições públicas podem colaborar para minimizar as dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras?

Osmarina Rodrigues – O maior desafio na minha opinião é compreender esse processo de mudança na pandemia. Não sabemos até quando vai perdurar. Estamos passando por ondas, variantes, cepas diferentes. São termos que escutamos a todo instante e que nos mostram que ainda não é o momento de relaxar os cuidados. Penso que uma decisão muito importante já foi tomada. A maioria das pessoas, cuja profissão se encaixa na modalidade home office estão trabalhando de casa. Existe uma flexibilidade maior para o desenvolvimento do trabalho. Mas, vejo como grande necessidade compreender os limites para o trabalho remoto. Não fazia parte da nossa realidade e talvez por isso, tenhamos dificuldade de estabelecer limites. Uma preocupação é adaptar a pesquisa de clima organizacional para essa nova realidade e colher subsídios para que desenvolvamos programas que mantenham a qualidade de vida dos servidores.

Fonte: encurtador.com.br/jwMR1

(En)Cena – É possível falar em mensuração da produtividade dos trabalhadores, durante a pandemia? Como fazer isso?

Osmarina Rodrigues – Considero não só possível como necessário. Aliás é uma exigência para a implantação do trabalho remoto. Sabe-se que o um dos critérios para o trabalho remoto é o aumento da produtividade em mais ou menos 30%, e que os processos destinados aos servidores em trabalho remoto, sejam também os mais complexos.  O que é necessário é que se estabeleça as métricas adequadas para medir o desempenho, considerando quais resultados a Instituição propõem alcançar, tendo preocupação com a saúde física e mental dos servidores e consequentemente com a qualidade de vida de todos nós.

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Osmarina Rodrigues – Acredito que precisamos nos manter abertas para compreender as mudanças e acreditar sempre no ser humano. Penso na poesia de Cora Coralina que me inspira sempre.

“Penso no que faço com fé, faço o que devo fazer com amor.

Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar,

Ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri no caminho incerto da vida,

Que o mais importante é o decidir.” Cora Coralina

Fonte: encurtador.com.br/dnqxG
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Puella Aeterna: consequências da fixação feminina na eterna juventude

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Ao longo da história e dos mitos que a humanidade traz consigo, muito se foi dito acerca da eternidade, da beleza e da juventude do ser humano, que em tantas histórias e contos se referenciou nos deuses, comumente representados como figuras eternas e que na psicologia analítica são vistos como arquétipos.

Os arquétipos são figuras que remetem a um conteúdo específico, uma forma, como por exemplo, o arquétipo materno representado por a grande deusa, a virgem, a esposa, a vó e também pode ser atribuída à lua e a terra, dentre tantas outras representações que são formadas no inconsciente (JUNG, 2002).

O arquétipo do Puer Aeternus se construiu em várias culturas através dos mitos, tanto orientais como ocidentais, sendo associado à beleza, juventude e eternidade, retratado em diversos deuses; sua maior associação é com o arquétipo do deus menino, sendo comumente atribuído aos deuses gregos Dionísio e Eros, seu significado é descrito como “juventude eterna” enquanto que na psicologia analítica pode ser também atribuído ao jovem que tem algum complexo materno incomum (VON FRANZ, 1992).

Portanto o indivíduo que se vê tomado pelo arquétipo do Puer Aeternus é retratado da seguinte maneira:

Em geral, o homem que se identifica com o arquétipo do puer aeternus permanece durante muito tempo como adolescente, isto é, todas aquelas características que são normais em um jovem de dezessete ou dezoito anos continuam na vida adulta, juntamente com uma grande dependência da mãe, na maioria dos casos (VON FRANZ, 1992, p. 3-4).

Na clínica junguiana, muito se trabalha com os aspectos arquetípicos nos quais encontram-se no inconsciente coletivo e podem levar aos complexos a partir das experiências pessoais que são atribuídas ao inconsciente individual, sendo melhor explicados por Jung (2002, p. 53) da seguinte forma:

O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência pessoal, não sendo, portanto, uma aquisição pessoal. Enquanto o inconsciente pessoal é constituído essencialmente de conteúdos que já foram conscientes e no entanto desapareceram da consciência por terem sido esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência e, portanto, não foram adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à hereditariedade.

A partir da breve explicação, falaremos então acerca de um caso clínico relacionado ao Puer Aeternus, porém, aqui postularemos como a Puella Aeterna, ou a eterna menina, que é o aspecto feminino do Puer com algumas características que podem se diferenciar, sendo geralmente caracterizada como uma mulher que ainda vive com aspectos infantis, geralmente por consequência de pais passivos e em sua maioria por mães controladoras. Sendo assim Leonard (1998, p. 64) conclui:

[…] a eterna menina em geral adquire sua identidade a partir das projeções feitas pelos outros sobre ela, entre as quais: a mulher fatal, a boa filha, a esposa e anfitriã encantadora, a princesa maravilhosa, a musa inspiradora, e até mesmo a heroína trágica. Em lugar de assumir a força e o poder do potencial que lhe é inerente, e as responsabilidades que o acompanham, a eterna menina permanece frágil. Como uma boneca, permite aos outros fazerem de sua vida o que bem quiserem.

Fonte: encurtador.com.br/jlmW9

A partir de tal conceito, podemos seguir ao caso clínico que envolve uma paciente jovem de 18 anos na qual chamaremos de Hebe (nome fictício), que ao chegar no consultório se mostrou muito receptiva e falou acerca de seu acompanhamento clínico anterior, da sua vida familiar, um pouco da sua história, dos seus sentimentos e vivências, foi conversado com ela acerca da abordagem que seria utilizada na terapia (Psicologia Analítica), e questionamentos acerca de inclinações para artes e hobbies que a mesma poderia ter. A paciente relatou gostar de filmes “clichês” e também antigos. Outro aspecto relevante retratado foi acerca do gosto por desenhar, onde ela revelou gostar bastante, mas que não o fazia há algum tempo por receber críticas negativas da mãe acerca de alguns dos seus desenhos, que inclusive foram jogados fora por Hebe.

Podemos observar aqui um aspecto muito comum da Puella, onde a paciente demonstra reminiscências da infância tendo suas decisões tomadas a partir de influências dadas pela mãe, que notavelmente exerce um controle exacerbado sob a vida de Hebe, como citado por ela em um exemplo acerca de sua vontade de fazer uma faculdade fora, mas que não seguiu adiante com a ideia após sua mãe reforçar que ela não daria conta por ser uma pessoa de “mente frágil” para lidar com uma vida longe.

Hebe confirma verbalmente o que sua mãe disse a respeito dela, fala que se sente uma pessoa frágil emocionalmente e que sempre está sendo afetada por algo, portanto quando ocorre um evento que lhe afete negativamente ela costuma ir para um canto e ficar sozinha, ela relatou ser uma pessoa que não demonstra seus problemas, que geralmente se sente culpada em incomodar os outros e sente culpa até mesmo por problemas que são inevitáveis, como por exemplo uma doença recente que sua mãe passou, no qual Hebe disse de alguma forma sentir-se culpada por toda aquela situação. Acerca disso Leonard (1997, p. 81) nos traz que:

Um elemento comum a todos os padrões pueris é o apego a uma inocência ou uma culpa absolutizada que são os dois lados de uma moeda capaz de alimentar a dependência de outrem que reforce ou condene os atos. Existe em todos a relutância de responsabilizar-se pela própria existência, a ausência de tomada de decisões e discriminações; é o outro que se incube disso.

A paciente relata ter tido fortes crises de ansiedade e as situações nas quais teve, como por exemplo quando foi visitar sua mãe que estava internada e durante a crise que teve ela se viu tomada por um pânico que a deixou paralisada tendo inclusive que ser atendida por enfermeiras que estavam no local. Nesse momento ela diz ter tido muito medo de que sua mãe viesse a falecer. Esse aspecto muito nos fala acerca do medo terrível de separação da paciente com sua mãe, onde há visivelmente uma ausência de ruptura e o medo de encarar o mundo, sendo esse último aspecto relacionado à introversão.

Hebe diz que sua timidez é tamanha, que ela não costuma fazer amigos por dizer que não gosta de sair, tendo como explicação o fato de que todos que querem ser seus amigos sempre chamam para ir a festas e ela prefere não fazer amizades a ter que recusar os convites. Von Franz (1990, p.11) nos fala que:

No caso da atitude introvertida […] a pessoa tem a impressão de que um objeto opressor quer constantemente afetá-la, objeto do qual ela deve afastar-se de maneira contínua. Tudo se abate sobre a pessoa, que é constantemente oprimida por impressões, embora não perceba que secretamente está tomando energia psíquica do objeto e passando-a a ele através da sua extroversão inconsciente.

Fonte: encurtador.com.br/bemV8

A paciente relata que não costuma conversar muito com os irmãos, pois são pessoas que levam tudo na brincadeira, também não conversa muito com seus pais, porquê sua mãe é muito fechada e o seu pai, devido ao histórico do divórcio também não é muito amável. Segundo a paciente sua mãe passou a tratá-la de forma diferente após a separação dos pais, que as coisas ficaram diferentes, pois ela sente muita falta da época em que os pais moravam juntos.

O Pai de Hebe mora em outro estado, e por vezes abandonou a família sem dizer quaisquer coisa, isso, nas palavras da paciente, deixou-a insegura, e contou que certa vez o pai propôs que sua mãe, ela e os irmãos fossem morar com ele, ele deu o dinheiro para irem, porém, ao chegar lá ficaram cerca de dois meses e o pai os abandonara novamente em uma casa pequena sem dar quaisquer satisfações, deixando-os inclusive sem dinheiro algum até mesmo para voltar, e que apenas conseguiram voltar após contato com a família na cidade que moravam.

Essa história nos remete em partes ao que Leonard (1997) discorre acerca do padrão da Puella da “menina de vidro”, fazendo uma análise da peça “Zoológico de Vidro” de Tennessee Willians (1945) onde se observa a protagonista Laura, marcada por uma relação de um pai ausente que se mostra como uma garota de extrema timidez, com uma mãe que faz suas projeções nela tomando partido por suas decisões:

Para Laura, não existia relação com o masculino, não havia nenhuma influência ativa e consciente do pai, nenhum relacionamento com o mundo exterior […] Desprovida de projeções masculinas e de uma relação com o masculino, Laura cria seu próprio mundo, uma vida de fantasia que compensa seu isolamento em relação ao mundo exterior. (LEONARD, 1997, p.70)

Durante o atendimento com Hebe, ao mencionar que provavelmente falaríamos de sonhos, perguntei se ela costumava sonhar, e se recordar dos sonhos, ela mencionou que sim, logo após questionei se ela tinha algum sonho específico, logo ela me contou de um sonho que já se repetiu algumas vezes segundo ela, no qual ela se via em um apartamento que era somente dela, dado por sua mãe, com tudo para ela. Infelizmente não foi possível uma análise mais aprofundada do sonho, pois Hebe não pôde mais comparecer à terapia.

Portanto, após os relatos da paciente, podemos encontrar uma evidência no sonho de que o apartamento é a casa dela, representa seu ego. E apesar de ser algo próprio dela, quem deu foi sua mãe, isso pode nos revelar acerca da dependência materna por parte de Hebe, que demonstra fixação em uma fase anterior do desenvolvimento, na qual podemos novamente relacionar com a Puella.

Há também um constante medo inconsciente de encarar o mundo, uma necessidade de mudar a imagem amedrontadora que a paciente tem da mãe. Hebe demonstra uma recusa de buscar desenvolvimento de auto apoio para se tornar uma pessoa apta à vida adulta, é preciso dar-se conta de que esse trabalho não pode ser realizado por sua mãe, mas sim por ela mesma e para tanto a figura do terapeuta atua juntamente nesse processo.

Sendo assim para a transformação desse padrão de Puella, é interessante que o terapeuta convide à paciente, em primeiro passo, a tomar consciência de que está fora de contato com o self, ao reconhecer e sentir a existência da mais dimensões no próprio íntimo, um poder maior que a força dos impulsos do ego, onde ainda não se tem um vínculo, que pode ser revelado nos sonhos, essa conscientização gera sofrimento e então o segundo passo refere-se à aceitação desse sofrimento, tendo por fim o último passo, perceber que, apesar da nossa fraqueza há uma força interior que acessa esse poder superior, é uma aceitação do poder do self mas que parte das escolhas da própria paciente (LEONARD, 1998).

Vale ressaltar que na clínica Junguiana, o terapeuta irá atuar como aquele que estará ali para andar junto durante esse processo, vivenciar junto com o paciente e dar o suporte buscado na terapia para que o indivíduo possa lidar com as adversidades por si só, ou seja, até que o paciente possa caminhar sozinho. O analista por sua vez deve estar em constante aprimoramento, se possível, realizar também seu próprio processo terapêutico. Acerca disso Jung (1998, p. 6) discorre que “aquilo que não está claro para nós, porque não queremos reconhecer em nós mesmos, nos leva a impedir que se torne consciente no paciente, naturalmente em detrimento do mesmo.”

Podemos reafirmar então, que os arquétipos regem nossas vidas, mesmo que não tenhamos a consciência de sua existência, ainda assim, fazem parte do inconsciente coletivo, de uma forma ou outra, entram em contato com nosso inconsciente pessoal e acabam por interagir com os complexos pessoais. A terapia sob a luz da psicologia analítica nos ajuda a entender como funcionam os movimentos de nossa psique, nossa alma, e nos convida a nos compreender melhor e a trazer os aspectos inconscientes à consciência, com o intuito de auxiliar no processo de individuação e na busca do self que é pessoal à cada indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/jwABQ

REFERÊNCIAS

LEONARD, Linda Schierse. Mulher Ferida, a. 3ª edição. São Paulo: Summus, 1997.

JUNG, Carl Gustav. A Prática da Psicoterapia. 6ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

VON FRANZ, Marie-Louise; HILLMAN, James. A tipologia de Jung. São Paulo: Cultrix, 1990.

VON FRANZ, Marie-Louise. Puer aeternus: a luta do adulto contra o paraíso da infância. Paulinas, 1992.

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Dia do idoso: interface entre a velhice e a psicologia

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É possível perceber que demograficamente existe um processo de envelhecimento instaurado, e a ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que o período de 1975 a 2025 é a Era do Envelhecimento. No que tange o Brasil, o IBGE aponta que em 1970 por volta de 4,95% da população do Brasil era idosa, e em 1990 esse número cresceu para 8,47%, o que aponta para que em 2020 a 2025  expectativa de vida do brasileiro suba de 66 anos em 1990, para 77 (SIQUEIRA; BOTELHO; COELHO, 2002).

A velhice é percebida por alguns autores como um fenômeno natural e social, que se mostra sobre o ser humano com limitações de ordem biológica, econômica e sociocultural. Para Beauvoir (1976) a sociedade aponta diversos clichês sobre a velhice, onde o idoso é descrito por outras pessoas e não por ele mesmo, e a autora defende que o idoso é um indivíduo que interioriza a própria condição e a ela reage.

Erik Erikson aponta que de acordo com cada fase do desenvolvimento surgem outras necessidades e determinações que são de origem do próprio indivíduo ou também do ambiente no qual ele faz parte, o autor ainda denota que às exigências e incentivos que existem em cada período do ciclo vital são diferentes e se complementam no que são chamadas de crises virtuais, que provém da modificação substancial de perspectiva (FORTES, 2012)

De acordo com Papalia e Feldman (2013), a identidade se constrói para Erikson com base na formação do self, que é composto por crenças e valores, e possui grande importância no desenvolvimento da adolescência que em breve formará um adulto mais dotado de capacidade para o enfrentamento dos embates da vida. Diante disso, verificamos como cada estágio é importante e como cada crise é essencial para o estágio seguinte e para que o indivíduo consiga elevar seu nível de maturidade e ser capaz de lidar com outras questões que possam surgir nas próximas fases do desenvolvimento psicossocial.

Fonte: encurtador.com.br/eoDP6

Bordignon (2007, p.13) aponta que “cada estágio psicossocial traz consigo uma crise e um conflito centrado num conteúdo antropológico específico”, diante disso, a crise é uma chance que produz o desenvolvimento do indivíduo, uma situação que necessita tomada de decisão ou até mesmo uma situação de regresso e insucesso.

Conforme Fortes (2012), cada nova fase ou estágio do desenvolvimento, uma crise diferente surge para ser enfrentada e vencida pelo Ego que  está em processo evolutivo, e o desfecho para tal crise acarreta dois tipos que são o tipo positivo e negativo, que impactará na forma como a próxima fase será enfrentada, onde o indivíduo e o meio são fundamentais para solucionar às demandas que possam surgir.

Segundo Bordignon (2007),  no que tange o tipo positivo de resolver cada conflito ou crise entre as forças sintônicas e distônicas surge então uma força denominada como básica que origina uma potencialidade, que torna-se parte da vida do sujeito, porém quando não ocorre a solução da forma apropriada da crise surge uma patologia básica, que também passa a ser considerada como parte da vida do sujeito.

Quando após a finalização e quando a crise é entre a confiança e a desconfiança é resolvida, a consequência então é a esperança, e na crise entre autonomia e vergonha resulta na vontade, sucessivamente cada crise de cada estágio psicossocial consiste na sabedoria que surge através da resolução positiva entre a crise da integridade e o desespero (BORDIGNON, 2007).

Cada crise e cada conflito vivenciado em cada fase do desenvolvimento são fundamentais para que o sujeito consiga se desenvolver de uma forma mais apropriada, porém existem casos onde o insucesso em determinadas fases prejudica o andamento e a evolução das próximas fases. Todas as fases estão interligadas e co-dependem umas das outras.

Fonte: encurtador.com.br/erV27

De acordo com Carpigiani et al (2014), o papel do ego é organizar às memórias do indivíduo e sintetizar suas experiências vividas na esfera emocional, e a partir disso, teremos a garantia de uma vida psíquica estável e saudável, pois é importante e fundamental que às três dimensões estejam integradas, sendo elas: dimensão biológica, social e individual. A dimensão biológica se refere ao desenvolvimento biológico, e a social tange as relações culturais que possuem enorme influência na formação da personalidade do sujeito desde quando ele ainda é um bebê, e a dimensão individual que corresponde a forma individual e única de como o sujeito irá constituir sua identidade, estando totalmente atrelada ao ego e no acoplamento das memórias e das percepções do indivíduo em relação ao que é real, ao que é fantasia e que contribuem para a construção intersubjetiva do indivíduo.

Cada dimensão possui suas características próprias, porém para Erikson as três são extremamente importantes para a constituição e formação da identidade do indivíduo, dessa forma, as peculiaridades de cada dimensão possuem influência e importância nas outras, geram algum tipo de impacto nas outras dimensões.

Conforme a teoria psicossocial, o desenvolvimento do ego se dá a partir da relação de interdependência entre o interno e o social (CARPIGIANI et al, 2014). O meio social possui grande influência no desenvolvimento do indivíduo, visto que desde a infância ele sofre com estímulos externos provenientes da cultura e que impactam diretamente na formação da identidade e da subjetividade do indivíduo.

Conforme Rabello e Passos (2008), Erikson em sua teoria percebe o ser humano como um ser social, e esse ser social está inserido em grupos e está sujeito à influências destes grupos, e o desenvolvimento humano é dado por fases onde que ocorrem de maneira ininterrupta e as anteriores sempre impactam e influenciam nas outras fases, nas próximas fases. Quando o sujeito enfrenta as crises presentes em cada fase, ele irá se tornar mais fortalecido para conseguir enfrentar as próximas crises nas próximas fases que virão, ou também pode acontecer que o indivíduo se fragilize nessas fases e esteja mais enfraquecido e vulnerável nas próximas fases, diante disso, o desenvolvimento do sujeito possui ligação direta com o contexto social onde ele está inserido.

Com base no contexto do qual o indivíduo faz parte, ele sofrerá alguns impactos no seu processo de desenvolvimento, dessa forma, para Erikson, o contexto social possui uma forte influência na formação identitária do indivíduo, desde os grupos dos quais ele participa quanto da cultura como um todo, ambos possuem relação com a construção da identidade e com o desenvolvimento do indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/gSWY7

Segundo Nascimento et al (2016), as crises que o ego enfrenta levam à maturação no que tange o meio social, e esse processo está relacionado à determinantes culturais, às condições e à personalidade. De acordo com as vivências do ego, a maturação ocorrerá de modo diferente em cada sujeito, mas a influência da cultura e do meio social é de grande importância.

Ao decorrer do processo evolútico, a personalidade passa por transformações e modificações que visam a reestruturação e adaptação da mesma de acordo com as experiências passadas que ocorreram de forma adequada ou nos insucessos das fases antecedentes, e tal preceito qualifica-se como epigenético (FORTES, 2012).

Para Veríssimo (2002), a Velhice no desenvolvimento psicossocial de Eriksson corresponde a um momento de relações significativas, onde há a modalidade de relacionamento pautado em ser na medida em que se foi e o enfrentamento do não ser. Para o autor, existe também a crise psicossocial com a manifestação do sentimento de integridade x desesperança, onde pode haver a presença da virtude associada renúncia e sabedoria, e psicopatologias relacionadas como alienação extrema e desespero.

É na velhice que o indivíduo sente o final do ciclo vital se findando e sente não ter muitas coisas pela frente, é o momento onde ele se vê obrigado a olhar para o passado e orgulhar-se do que fez ou não, e não somente o que fez, mas como o seu próprio ego se constituiu ao longo da vida, e esse momento pode dar origem a um sentimento de integridade e satisfação, ou até mesmo amargura e inaceitação do confronto com a morte (VERÍSSIMO, 2002).

Conforme o modo como cada fase do desenvolvimento foi enfrentada e vivenciada pela pessoa idosa, a fase da velhice será um momento de pensamentos mais calmos e satisfatórios ou de dor, pois é bastante comum que o idoso passe bastante tempo rememorando suas vivências, e tais lembranças podem trazer o sentimento de dor ou de alegria, depende de como cada fase anterior foi enfrentada.

Na velhice é o momento de reflexão acerca do que se foi, acerca do que o indivíduo foi e fez durante a vida, pouco se é pensado sobre o que ainda fazer, geralmente não existem grandes planos a longo prazo nesse momento da vida. Se as crises ao longo da vida foram resolvidas, o saldo da reflexão será positivo. Para Erikson (1964, p. 133): “a sua preocupação face à morte vira-se para a vida em si mesma”.

Diante disso, as crises que não foram resolvidas nas fases anteriores podem se manifestar como amargura, visto que o tempo é menor e mais escasso agora para tentar novamente ou para começar do zero, pois o indivíduo vê-se sem alterativas ou possibilidades com tempo suficiente para refazer algumas coisas. É comum que a inevitabilidade da morte traga quadros oscilantes de depressão e agressividade deslocada.

Referências:

BEAUVOIR, Simone. A velhice: realidade incômoda. (2a ed.). DIFEL, São Paulo 339pp. 1976

BORDIGNON, Nelso AntonioO desenvolvimento psicossocial do jovem adulto em Erik Erikson, Revista Lasallista de Investigación, vol. 4, núm. 2, 2007, pp. 7-1

CARPIGIANI, Berenice. Erik H. Erikson – Teoria do Desenvolvimento Psicossocial. Disponível em: http://www.carpsi.com.br/Newsletter_7_ago-10.pdf. Acesso em: 28 nov. 2019.

ERIKSON, Erik. O ciclo de vida completo.(trad.) Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: artes Médicas, 1998.

NASCIMENTO, Isabela Ribeiro Villares; ALVES, Edvânia dos Santos, JÚNIOR, José Policarpo. Contribuições do pensamento de Erik Erikson à ideia de formação humana à educação. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV045_MD1_SA6_ID2022_0 9092015150858.pdf. Acesso em: 28 nov. 2019.

PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 12 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

RABELLO, Elaine. Personalidade: estrutura, dinâmica e formação – um recorte eriksoniano. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2001. (monografia).

VERISSÍMO, R. Desenvolvimento psicossocial (Erik Erikson). Porto: Faculdade de Medicina do Porto, 2002.

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Livro retrata histórias divertidas e sensíveis que vão do ódio ao amor na fase da menopausa

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Autora Leila Rodrigues compartilha com o leitor sobre como reagiu aos inúmeros sintomas dessa etapa que é pouco difundida.

A menopausa é a soma de duas palavras gregas que significam mês e fim. Depois de passar por um período de altos e baixos, a autora nascida no interior de Minas Gerais, Leila Rodrigues, decidiu compartilhar sobre este assunto pouco difundido: a menopausa e o climatério. Assim, por meio de crônicas, nasceu o livro Hormônios, me ouçam!, publicado pela Literare Books International.

O caso de amor e ódio que viveu durante oito anos com sintomas de enxaqueca, insônia, ganho de peso, calorão, “chororô”, e mau-humor, entre outros, fez Leila perceber que ninguém nos prepara para essa surpresa da vida, e que teve por si só entrar nesse mundo desconhecido e silencioso.

Na obra, aponta-se que 35% das mulheres têm vergonha de falar que estão na menopausa. Esse foi um dos fatores que fizeram com que a autora não só vivesse essa metamorfose, mas mergulhasse no mundo das palavras. Leila também explica a diferença entre dois termos: o climatério significa período crítico e abrange a partir do começo dos sintomas ao término definitivo. Enquanto a menopausa é classificada 12 meses após o cessar permanente da menstruação.

Fonte: encurtador.com.br/fCV27

Com essa bagagem de experiência de quem viveu na pele, a autora conta de maneira bem-humorada tudo o que sentiu, são crônicas para o leitor rir e se identificar, além de se informar sobre um universo que não deveria ser confidencial.

Em um dos capítulos, ressalta-se a importância de ter uma rede de apoio para esses momentos, que vão desde a família a amigas verdadeiras. Para Leila, “envelhecer não é uma escolha, ser feliz, sim”. Por isso, a autora abraçou a causa e ajuda mulheres a pensarem que a menopausa pode, sim, ser vivida com mais autoestima e qualidade de vida.

Sobre a autora

Leila Rodrigues é palestrante, escritora e desenvolveu sua carreira como empresária no segmento de tecnologia. Partindo da sua experiência pessoal com a menopausa precoce, Leila Rodrigues se tornou uma estudiosa do assunto e fez desse tema a sua causa. Colabora, por meio de palestras e orientações nas redes sociais, para que as mulheres passem pela menopausa com mais dignidade, qualidade de vida e alegria de viver! Atua também como cronista em jornais e revistas na sua região. Nascida no interior de Minas Gerais e criada junto aos três irmãos, Leila Rodrigues carrega nas suas crônicas a simplicidade de suas raízes e a força da sua própria trajetória. É casada, mãe de dois filhos e hoje vive em Divinópolis/MG com a família.

Fonte: Arquivo Pessoal

Mais informações:
Livro: Hormônios, me ouçam!
Autora: Leila Rodrigues
Disponível na versão física e digital pelo link. 

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