La Casa de Papel 3: desafiando o Sistema

Compartilhe este conteúdo:

As duas primeiras temporadas influenciaram o povo a ir às ruas lutar contra o sistema, prova disto são manifestações reais em  que o povo vestiu o macacão vermelho

A série da Netflix La Casa de Papel (3ª temporada) pode ser classificada como uma ficção ou se trata de um retrato dos Grupos de Resistência espalhados pelo mundo? Além da qualidade técnica melhorada, La Casa de Papel aborda tantos temas que as vezes é preciso parar, respirar fundo e só depois continuar. É uma temporada que aborda política, psicologia, irmandade, feminismo, tecnologia, relação interpessoal e arte.

A temporada inicia com um dos reféns do assalto a Casa da Moeda da Espanha palestrando para milhares de pessoas, como um best seller, e já mostrando a capacidade que o homem tem de tirar proveito de qualquer situação. Até então, em duplas, a equipe se espalha por diferentes partes do mundo, mas através do erro de ´´Rio“, o mesmo é capturado e a equipe resolve se unir, não só para salvar Rio, mas para desafiar e demonstrar resistência ao Sistema.

Logo no início o poder do dinheiro é destacado, assim como a identificação de ideais. É distribuído ao povo milhões de euros, acompanhado de um discurso de persuasão, anunciando que farão um novo assalto, mas este terá um significado ainda maior, já que alegam resistência contra o Estado, favorecendo o povo, deixando a mensagem principal: um governo contra um povo e um povo contra o Governo. Dessa forma, a população vai às ruas em manifestação.

Fonte: encurtador.com.br/ruFI2

Um fato importante é sobre como as duas primeiras temporadas influenciaram o povo a ir às ruas lutar contra o sistema, prova disto são manifestações reais em  que o povo vestiu o macacão vermelho, colocou a máscara e tomou conta das ruas. O diretor aproveitou registros destas manifestações, e usou cenas reais, inclusive do Brasil. Isto só confirma o impacto da série no cenário político e social.

Através da capturação de Rio, o tema de Direitos Humanos é abordado. No regime militar a tortura foi um dos meios que serviu para o governo alcançar os seus interesses políticos. Mas, através da Declaração dos Direitos Humanos, Artigo V, a mesma é banida: “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Diante de tal cenário, na série é feito o questionamento: em pleno século XXI o Sistema ainda faz uso de tortura para conseguir informações de pessoas que apresentam conduta negativa em relação ao regime?

Apesar da equipe se mostrar, muitas vezes, totalmente perdida, os temas ´´companheirismo, irmandade, fidelidade e lealdade“ são abordados, até mesmo com os antepassados. No novo plano de assalto o alvo agora é o Banco da Espanha e uma cena marcante é o momento em que o líder (dentro do banco)  Palermo diz a um dos guardas costas do Presidente do Banco: eu sou o sul-americano que veio buscar o ouro que vocês, europeus, nos roubaram. Um ato de justiça ou de vingança? Eis a questão.

Ao ser solto, Rio é ovacionado pelo público que cerca o Banco. É atribuído a ele uma cena com temática heróica por ter sobrevivido a tortura. Ao adentrar ao banco, o ex prisioneiro do Estado faz um discurso de gratidão pelo fato da equipe ter abdicado da liberdade para ir salvá-lo. Diante disto é abordado o amor sexual, mostrando, também, que vilões têm sentimentos, ou poderia ser uma tentativa de confundir ainda mais os fãs de La Casa de Papel? São vilões ou mocinhos?

Outro tópico de resistência é a homessexualidade. É mostrado romance entre dois integrantes do grupo comandado pelo professor, frisando a representatividade e desconstruindo a estereotipação ao apresentar um homem grande, robusto, assaltante, romântico e sentimental. Enquanto o outro se apresenta como opressor e tóxico, justificando seu comportamento como regra da equipe para que o plano funcione, no entanto a temporada é cheia de sentimentalismo do início ao fim.

Outro assunto em evidência é o feminismo. Tóquio, Nairóbi e Estocolmo (o novo nome de Monica) são expostas as cenas em que a mulher é humilhada, subjugada e sexualizada. As personagens se apresentam empoderadas, enfrentam os ataques machistas e ocupam papel de liderança dentro da equipe. Além disso, Lisboa (o novo nome da inspetora Raquel) e a nova inspetora Sierra também ganham papel de destaque acompanhadas de sentimentalismo, pulso firme e humor. É importante frisar, que mesmo grávida e prestes a parir, Sierra comanda a operação.

Fonte: encurtador.com.br/eoyA1

Se nas duas primeiras temporadas a música ´´Bella Ciao“ era a trilha sonora, nesta temporada a música é outra, mas apresenta características em comum. A primeira trilha sonora aborda resistência, sendo uma canção da representação da Guerra Italiana: “E se eu morrer como um membro da Resistência, querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!”. A nova trilha sonora “Guantanamera” também aborda coragem e luta pelos ideais: “Eu sou um homem verdadeiro desta terra de palmeiras. Antes de morrer eu quero compartilhar esses poemas da minha alma”.

O roubo também ganha uma característica poética maior, além da temporada ser gravada em diferentes cenários paradisíacos, citações filosóficas também fazem parte do roteiro. O ato de roubar é romantizado e fica evidente no momento em que Berlim cita Michelangelo para representar o plano ´´impossível“ de se assaltar o Banco Europeu: “continue cultivando a beleza.. esse golpe é a nossa beleza. É a nossa obra prima”.

Por fim é mostrado como o fator psicológico é importante e pode ser peça chave para se ganhar uma guerra. Em alguns momentos é mostrado Sierra frisando a importância  de analisar o perfil psicológico de cada assaltante, e declara: Nós temos que atacar, ir direto pro coração. Quebrá-los por dentro. Sierra consegue desestabilizar toda a equipe, inclusive o professor, que cai em sua própria armadilha. O que valida a fala  de Tóquio no início da temporada: “Esta é a missão. Nada é de graça, tudo que se faz tem consequência”.

A temporada termina cheia de drama e suspense. Ao final o professor declara: isto não é mais um roubo. É um desafio ao sistema. É uma guerra. Diante de tal final, com gostinho de quero mais, fica entendido que a 4º temporada está a caminho.

Ficha Técnica

Título Original: La Casa de Papel

Duração: 376 minutos

Ano produção: 2019

Distribuidora: Netflix

Gênero: Suspense

Elenco: Úrsula Corberó, Itziar Ituño, Álvaro Morte, Pedro Alonso, Paco Tous, Alba Flores, Miguel Herrán, Jaime Lorente, Esther Acebo, Enrique Arce, María Pedraza, Darko Peric

 

Compartilhe este conteúdo:

Stranger Things: uma temporada sobre MUDANÇAS

Compartilhe este conteúdo:

A terceira temporada não deixou a desejar, pelo contrário, superou as expectativas dos fãs da série. Isso aconteceu pelo fato de a trama ter conseguido abordar um leque muito amplo de assuntos

Se precisasse definir a essência da terceira temporada de Stranger Things (Netflix) numa única palavra, essa palavra seria “mudanças”. Passando pelas três temporadas da série, esta foi a que mais se aprofundou nas relações sociais estabelecidas entre os personagens. Dessa forma, o Devorador de Mentes protagonizou como coadjuvante, dando lugar de destaque para a intensa influência das mudanças sociais na vida de cada personagem.

Mas quais mudanças são essas? Como elas afetaram toda a trama e colaboraram para a evolução dos personagens? A primeira mudança, e a que se torna mais nítida, é a passagem dos integrantes do grupo (Eleven, Mike, Max, Dustin, Will, Lucas)  da infância para a adolescência. Essa transição faz com que o grupo se distancie um pouco nos primeiros episódios, uma vez que os interesses que antes tinham em comum, passaram a ser ocupados por novos projetos.

Portanto, os hobbies que se constituíam em jogar Dungeons and Dragons, andar de bicicleta e estarem em constante comunicação através dos walkie talks, foram aos poucos sendo substituídos por sentimentos amorosos, bem como por maior interesse nas questões relacionadas à identidade sexual e orientação sexual, numa tentativa de entender mais sobre essa nova fase do ciclo vital, a adolescência.

Fonte: encurtador.com.br/fruV5

Almeida e Cunha (2003) apud Dellazzana-Zanon e Freitas (2015, p. 282) trazem que “a adolescência é considerada como uma fase de transição, a qual inclui reconstruir aspectos do passado e elaborar projetos de futuro.” Desse modo, o ingresso nessa nova forma de existir, muitas vezes provoca medos e resistências em alguns adolescentes, que relutam em deixar o conhecido, para experimentar o desconhecido. Na trama, Will representa esse adolescente, se sentindo extremamente irritado e triste com as mudanças que estão ocorrendo no grupo e nas suas formas de funcionar, pedindo por várias vezes que as coisas voltem a ser como antes.

A segunda mudança trazida pela terceira temporada foi o estabelecimento de uma relação de amizade e sororidade entre Max e Eleven, que antes se viam como inimigas tendo como causa Mike. Nesse ponto, a série incorporou os ideais feministas que tem empoderado a união das mulheres e tomado conta das produções cinematográficas recorrentemente. Nesse novo cenário, tramas conjugais que colocavam duas mulheres lutando entre si para obter a atenção de um homem, estão sendo cada vez mais deixadas de lado, para que haja um aprofundamento das personagens femininas, desvinculando-as da imagem de um homem.

A união de Max e Eleven demonstra pontos importantes do ser mulher e da necessidade de que estas saibam constituir sua identidade e seus gostos, sem que precisem necessariamente se atrelarem a um relacionamento amoroso ou a um homem. Na série, elas começam a passar mais tempo juntas e Max ajuda Eleven a conhecer várias coisas novas, que vão desde roupas até livros, revistas, filmes e músicas que ela não conhecia pelo fato de só conviver com Mike.

Fonte: encurtador.com.br/bekm8

Ainda sobre El, a terceira temporada aborda o luto pela perda do filho da infância e a nova adaptação ao filho adolescente que Hopper experimenta em relação a sua filha adotiva. Sobre isso, Matos e Lemgruber (2017, p. 136) explica que “os  pais  ficam  numa  posição  em  que  necessitam  também  de  entrar  em  um processo  de  luto  pelo  corpo  do  filho,  pela  sua  identidade  de  criança,  e  por  sua  relação  de dependência  infantil.”

Hopper se sente bastante perdido quando Eleven começa a namorar com Mike e perde o interesse pelos jogos e programas de TV que eles experimentavam juntos. Tal sentimento é externalizado na carta em que ele escreve para a filha, onde ele relata o quanto sentia falta das noites de jogos e de fazer waffles para ela comer e o quanto desejava que tudo isso voltasse a ser como era antes. Contudo, ele consegue passar por esse processo de luto com a ajuda de Joyce, que o aconselha em quais atitudes seriam melhores para lidar com essa nova fase de El.

Portanto, a terceira temporada não deixou a desejar, pelo contrário, superou as expectativas dos fãs da série. Isso aconteceu pelo fato da trama ter conseguido abordar um leque muito amplo de assuntos, que foram para além dos Devoradores de Mente, fazendo com que a continuação da história brilhasse a cada episódio. Quando o telespectador vê a temporada e os episódios passando na frente dos seus olhos, é como se visse o seu próprio crescimento e a sua própria transição da infância para a adolescência, despertando um sentimento de nostalgia que é intensificado pelo cenário vintage da época.

Fonte: encurtador.com.br/jAJUW

Por fim, segue a carta escrita por Hopper que resume perfeitamente o espírito que essa terceira temporada desejou despertar nos fãs da série:

“Tem uma coisa que eu estava esperando para contar a vocês – e eu sei que isso é difícil de dizer. Mas eu me importo muito com vocês. E eu sei que vocês se importam muito um com o outro e é por isso que é importante definirmos esses limites para que possamos construir um ambiente onde nós TODOS nos sintamos confortáveis, confiáveis e abertos para compartilhar nossos sentimentos. Sentimentos. Jesus. A verdade é que, por muito tempo, eu esqueci o que eles eram. Eu fiquei preso em um lugar – em uma caverna, você poderia dizer. Uma caverna escura e profunda. E aí, eu deixei alguns waffles na floresta e você entrou na minha vida e… pela primeira vez em muito tempo, eu comecei a sentir coisas de novo. Eu comecei a me sentir feliz.
Mas, ultimamente, eu acho que estou me sentindo… distante de você. Como se você estivesse se afastando de mim ou alguma coisa assim. Sinto falta de jogar jogos de tabuleiro todas as noites, fazendo extravagantes waffles de três andares quando amanhecia, assistindo a faroestes juntos até dormirmos.

 Mas eu sei que você está envelhecendo, crescendo, mudando. E eu acho… se eu for realmente honesto, que é isso o que me assusta. Eu não quero que as coisas mudem. Então, eu acho que talvez seja por isso que eu vim aqui, para tentar talvez… parar com essa mudança. Voltar o relógio. Fazer as coisas voltarem a como eram.
Mas eu sei que isso é uma ingenuidade. Apenas… não é como a vida funciona. Ela está em movimento. Sempre se movendo, quer você goste ou não. E sim, às vezes dói. Às vezes é triste e às vezes é surpreendente. Feliz.

Então, quer saber? Continue crescendo, garota. Não me deixe impedí-la. Cometa erros, aprenda com eles e, quando a vida lhe machucar – porque ela vai – lembre-se da dor. A dor é boa. Significa que você está fora daquela caverna.

Mas, por favor, se você não se importar, pelo bem do seu pobre e velho pai, mantenha a porta aberta oito centímetros” – Jim Hopper.

REFERÊNCIAS:

DELLAZZANA-ZANON, Letícia Lovato; FREITAS, Lia Beatriz de Lucca. Uma Revisão de Literatura sobre a Definição de Projeto de Vida na Adolescência. Interação Psicol., Curitiba, v. 19, n. 2, p.281-292, ago. 2015. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/35218/29361>. Acesso em: 12 jul. 2019.

MATOS, Laydiane Pereira de; LEMGRUBER, Karla Priscilla. A ADOLESCÊNCIA SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA: sobre o luto adolescente e de seus pais. Psicologia e Saúde em Debate, [s.l.], v. 2, n. 2, p.124-145, 10 fev. 2017. Psicologia e Saude em Debate. http://dx.doi.org/10.22289/2446-922x.v2n2a8. Disponível em: <http://psicodebate.dpgpsifpm.com.br/index.php/periodico/article/view/40>. Acesso em: 12 jul. 2019.

Compartilhe este conteúdo:

Sessões Técnicas abordam a Violência Conjugal no CAOS 2019

Compartilhe este conteúdo:

Nesta quinta-feira (23) aconteceu a apresentação dos artigos científicos submetidos ao CAOS 2019. A programação chamada de Sessões Técnicas, contou com quatro grandes temas que foram mediados pelos professores de Psicologia: Cristina Filipakis, Sonielson Luciano de Sousa, Thaís Monteiro e Irenides Teixeira.

A acadêmica de Psicologia Josiane Ribeiro Freitas apresentou o artigo “A violência conjugal e o discurso das vítimas sob a ótica da perspectiva sistêmica”, que foi escrito juntamente com a acadêmica Keila Ferreira da Silva sob supervisão da professora Cristina.

Fonte: Arquivo Pessoal

Josiane explanou sobre os tipos de violência que as mulheres sofrem por parte dos seus companheiros, abordando a violência física, patrimonial, psicológica e moral. Além disso, ela chamou atenção para como os padrões de violência são passados de geração para geração, num processo conhecido como transmissão transgeracional, caso não sejam resolvidos e ressignificados.

Em conclusão, a acadêmica levou o público a refletir sobre como a violência contra a mulher ainda está muito presente nos dias atuais, suscitando a necessidade de que as formas de se relacionar baseadas no machismo sejam repensadas e reformuladas.

 

Compartilhe este conteúdo:

Saúde mental de mulheres feministas é foco de debate no Caos 2019

Compartilhe este conteúdo:

O trabalho aborda os impactos do discurso de equidade de gênero na saúde mental de feministas militantes.

A psicóloga egressa do Ceulp/Ulbra Talita dos Anjos Lima retorna à instituição no Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS) 2019 para ministrar no Psicologia em Debate Especial: Saúde e sexualidade, com o tema “A saúde mental de mulheres feministas: um olhar pela psicologia discursiva”.

O trabalho aborda os impactos do discurso de equidade de gênero na saúde mental de feministas militantes, já que apesar de possuir direitos na lei brasileira voltados para as mulheres, eles não fazem parte do olhar social, e ao defender publicamente seus direitos são retaliadas e intimidadas através das redes sociais e até fisicamente.

Fonte: Arquivo Pessoal

Visto isso, Talita dos Anjos realizou uma pesquisa qualitativa em Palmas que registra mudanças pessoais no olhar sobre si e sobre a sociedade a partir das pautas feministas, que apesar de ser um processo doloroso, há o desenvolvimento de resiliência, sentimento de liberdade de escolha e melhoria da saúde mental.

Compartilhe este conteúdo:

De pernas pro ar 3 sob a perspectiva da Psicologia Feminista

Compartilhe este conteúdo:

 

 

 

 

 

O filme traz a reflexão sobre como o papel de cuidar dos filhos ainda é visto pela sociedade como único, exclusivo e obrigatório da mulher

De pernas pro ar 3 é um filme brasileiro lançado em 2019, com direção de Julia Rezende, estrelado por Ingrid Guimarães e Bruno Garcia. O longa retrata a continuação da história da dona de sexy shop Alice, no ramo da indústria do prazer, abordando novas temáticas como: conflitos entre diferentes gerações, feminismo e trabalho.

Alice é uma empresária de sucesso, dona de uma das maiores empresas de produtos sexuais, a “Sexy Delícia”. Devido a essa influência de mercado, ela tem viajado o mundo todo levando seus produtos para os mais diferentes públicos, o que acaba por consumir todo o seu tempo, fazendo com que a convivência com seu marido João (Bruno Garcia) e seus filhos Paulinho (Eduardo Mello) e Clarinha (Duda Batista) seja mínima ou porque não dizer nula.

Ao chegar na casa dos 40 anos Alice decide se aposentar para poder passar mais tempo com sua família, e entrega o comando da empresa à sua mãe Marion. A partir desse dia a protagonista decide que será uma nova mulher e que exercerá apenas os papéis de mãe e esposa, iniciando sua saga de reclusão ao lar.

Fonte: encurtador.com.br/tHLZ6

Contudo essa nova jornada não se mostra nada fácil para a rainha do sexy shop, que se sente inapta em diversos momentos no que se refere a educação dos filhos e ao próprio conhecimento sobre os gostos de cada um. Além disso, a tarefa de ficar quieta em casa, sem um ofício para exercer, faz com que ela experimente um sentimento de extrema inutilidade e inquietação.

Nesse cenário de dificuldade surge mais um “contratempo”, Leona. Leona é uma jovem que trabalha com Tecnologia da Informação (T.I) e desenvolve um aplicativo de realidade virtual para que as pessoas possam fazer sexo a distância. Tal invenção concede a essa menina o status de mais nova sensação da indústria do prazer, despertando em Alice muita inveja e uma intensa vontade de voltar a trabalhar para não perder seu posto de rainha do sexy shop.

Ao observar as formas de trabalhar e perceber o mundo de Leona e Alice é possível identificar a diferença marcante em suas posturas. A primeira se enquadra no grupo da geração Y, que nas palavras de Fantini e Souza (2015, pág. 128) “é formada por jovens acostumados com as tecnologias de entretenimento e comunicação, são desestruturados, contestadores, imediatistas, inovadores e não gostam de hierarquia.”

Fonte: encurtador.com.br/pHRU6

Já Alice faz parte da geração X (OLIVEIRA, 2012), se apresentando bem menos antenada as tecnologias, dando mais valor na estabilidade de mercado personificada na crença de trabalhar por muitos anos na mesma empresa, além de ser viciada em trabalho.

De pernas pro ar 3 seria mais um filme clichê se tivesse investido na rivalidade entre as duas personagens e reproduzido a disputa entre o sexo feminino reforçada pela sociedade machista (SILVEIRA; ALDA, 2018). No entanto isso não acontece, já que o ápice da produção se dá quando ambas percebem que podem unir suas diferentes formas de trabalhar para atingirem mais sucesso juntas.

Além dessa demonstração de sororidade feminina, o filme traz a reflexão sobre como o papel de cuidar dos filhos ainda é visto pela sociedade como único, exclusivo e obrigatório da mulher. Ao retratar a indignação de João (esposo) quando este reclama que a esposa nunca esteve em casa para cuidar dos filhos cabendo a ele essa atividade, numa postura de culpabilização de Alice.

Fonte: encurtador.com.br/jlqz6

Contudo esse fato não anula o vício por trabalho da rainha do prazer. Alice pode ser considerada uma workaholic, postura de trabalhadores muito comum na sociedade pós moderna. Serva e Ferreira (2006, p. 181) definem workaholic como o indivíduo que está “absorvido de forma intensa com o trabalho, com longas jornadas diárias, excesso de carga de trabalho, ritmo acelerado de trabalhar e busca desenfreada por resultados.”

Estes indivíduos comumente não conseguem administrar as outras áreas de suas vidas, sendo de costume que tenham suas relações interpessoais (família, amigos, relacionamentos afetivos) prejudicadas. Além disso, é normal que não deem tanta atenção a atividades de lazer, negligenciando até mesmo os cuidados com a saúde física e mental. Goldberg (1980) cita alguns tipos de doenças que normalmente acometem os workaholics, sendo elas: distúrbios do sistema imunológico, úlcera, gastrite, ataque cardíaco, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares.

No filme, o vício por trabalho é tratado de forma cômica, no entanto, é preciso se atentar a esse fenômeno. Em 2016, a revista Forbes realizou uma pesquisa que constatou uma maior incidência de transtornos psiquiátricos nesse grupo, identificando 33% com déficit de atenção, 26% com distúrbio compulsivo, 34% com ansiedade e 9% com depressão.

Diante disso, é válido o questionamento de como as pessoas estão vendo o mundo do trabalho e a sua inserção nele. Lembrando sempre que a instância do trabalho, para que seja saudável e satisfatória, precisa ter sentido e não ser fonte de sofrimento e adoecimento.

FICHA TÉCNICA DO FILME

Fonte: encurtador.com.br/ckHMR

DE PERNAS PRO AR 3

Título original: De pernas pro ar 3
Direção:  Julia Rezende
Elenco: Ingrid Guimarães,Maria Paula,Bruno Garcia
País: Brasil
Ano:2019
Gênero:  Comédia

REFERÊNCIAS:

FANTINI, Carolina Aude; SOUZA, Naiara Célida dos Santos de. Análise dos fatores motivacionais das gerações baby boomers, X, Y e Z e as suas expectativas sobre carreira profissional. Revista Ipecege, [s.l.], v. 1, n. 3/4, p.126-145, 28 mar. 2016. I-PECEGE. http://dx.doi.org/10.22167/r.ipecege.2015.3-4.126.

MORIM, Estelle M.. OS SENTIDOS DO TRABALHO. Recursos Humanos, São Paulo, v. 41, n. 3, p.8-19, out. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v41n3/v41n3a02.pdf>. Acesso em: 04 maio 2019.

REDAÇÃO. Estudo mostra que workaholics têm mais problemas psiquiátricos. 2016. Disponível em: <https://forbes.uol.com.br/carreira/2016/06/estudo-mostra-que-workaholics-tem-mais-problemas-psiquiatricos/#foto4>. Acesso em: 04 maio 2019.

SEMINÁRIO CORPO, GêNERO E SEXUALIDADE, 7., 2018, Rio Grande. NÓS, MULHERES: A IMPORTÂNCIA DA SORORIDADE E DO EMPODERAMENTO FEMININO. Rio Grande: Furg, 2018. 5 p. Disponível em: <https://7seminario.furg.br/images/arquivo/160.pdf>. Acesso em: 04 maio 2019.

SERVA, Maurício; FERREIRA, Joel Lincoln Oliveira. O fenômeno workaholic na gestão de empresas. Revista de Administração Pública, Salvador, v. 40, n. 2, p.179-200, out. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n2/v40n2a02.pdf>. Acesso em: 04 maio 2019.

Compartilhe este conteúdo:

A esposa: o retrato da desvalorização do feminino

Compartilhe este conteúdo:

Concorre com 1 indicação ao Oscar:

Melhor Atriz

‘A esposa’ é um filme de drama, lançado em 2017, dirigido por Björ Runge, estrelado por Jonathan Pryce e Glenn Close. O longa foi indicado ao Globo de Ouro na categoria melhor atriz em filme de drama, pela interpretação de Glenn Close.

Joan Castleman e Joe Castleman são casados a mais de 30 anos, e em um dia comum, enquanto dormiam, recebem uma ligação para avisar o senhor Joe que ele era o escolhido do prêmio Nobel de Literatura daquele ano. A felicidade é imensa para Joe, que comemora aos pulos em cima da cama juntamente com sua esposa.

Joe era professor de universidade antes de casar-se com Joan, e foi na universidade que eles se conheceram, quando ela mostrou a ele um de seus escritos na tentativa de futuramente publicá-lo. Na época da academia Joan escrevia muito, no entanto, ela sabia que uma mulher não faria sucesso como escritora naquele período onde apenas os homens tinham créditos por escreverem, e eram os seus livros que saíam das prateleiras para as mãos dos leitores.

Casados, Joe e Joan precisavam arranjar seu sustento, e apostaram na escrita de Joe para a produção de livros. Joan trabalhava em uma editora e ouvindo seu chefe dizer que precisa de um escritor judeu, ofereceu a obra de seu marido. Ao chegar em casa Joan passa a notícia para o esposo, e ele pede que ela dê uma olhada nos seus escritos . E é aqui onde toda a magia acontece!

Fonte: encurtador.com.br/kqKNX

A primeira obra de Joe Castleman é publicada e alcança um grande sucesso! O casal então consegue ganhar dinheiro para comprar uma casa a beira do mar e suas vidas deslancham. Em seguida, eles têm dois filhos, e aparentemente parece ser essa a história comum que o filme irá retratar ao telespectador. Mas não se engane, porque o sucesso que se sucede a partir daqui é fruto de grandes injustiças e humilhações resultantes do machismo e opressão que Joan Castleman sofre por parte do seu esposo.

A personagem Joan interpretada pela atriz Glenn Close, é a chave central do filme e é ao seu entorno que o enredo circula. Joan é a verdadeira escritora de todas as obras de sucesso de seu marido, e nunca recebeu os créditos por elas porque não fariam sucesso usando o nome de uma mulher. Então, a verdadeira história é que era ela quem sentava todos os dias, 8h por dia, em frente a máquina de escrever, e usava o seu “toque de ouro” e transformava as palavras em obra de arte.

Quem dera fosse apenas essa injustiça, mas não. Joe traía Joan com outras mulheres, incluindo as babás dos seus filhos, e quando ela descobria as traições ele aos prantos pedia desculpa e dizia “Use isso Joan, use isso!”, o que significava usar suas traições como inspiração para os personagens dos próximos livros.

Joan permaneceu nesse casamento até o dia da notícia do prêmio Nobel, e é no caminho para Estocolmo que a escritora inicia sua jornada de reflexão e melancolia sobre quem era ela, e o que deixou de ser, por causa do seu casamento e das estruturas do patriarcado e do machismo que a amedrontaram e fizeram desistir do sonho de ser uma escritora reconhecida.

Fonte: encurtador.com.br/ioy45

É angustiante e revoltante ver a atuação de Glenn Close, porque ela leva você a experimentar o sentimento de desvalorização e exclusão apenas por ser mulher, de forma muito autêntica. O desejo que a telespectadora sente a todo tempo é o de livrá-la daquele sofrimento e tirá-la de dentro do filme, e ao mesmo tempo de dizer a cada homem e mulher presente na premiação do Nobel, que ela, Joan Castleman, é a verdadeira escritora e vencedora daquele prêmio. A maneira como a personagem lida com todos os acontecimentos é assustadoramente calma, mantendo uma aparência de serenidade intensa a todos os que a cercam, mas o telespectador consegue ver o grito de sofrimento que se esconde dentro de sua alma.

O ápice do filme que se mostra já ao final da produção, que é marcado por uma cena em que Joan decide abandonar esse casamento que por tantos anos aprisionou a sua alma, e aqui ela diz para Joe tudo aquilo que abdicou e aceitou em prol desse casamento:

“Não, você teve casos. Isso, você chorava no meu colo, implorava por perdão, e eu sempre perdoava, porque, você sabe, de algum modo você me convencia que meu talento causava tudo. E quando estava com muita raiva, furiosa ou magoada para escrever, você largava a famosa mensagem “Use isso, Joan, use”. Por sorte eu achava um lugar para colocar, os críticos adoravam as imagens de Sylvia Fry, derramando lágrimas sobre seu vestido. Eles adoravam! “Outra obra-prima de Catleman”. Seu peito inflava quando lia aquelas resenhas. Inflava… E em vez de me sentir ultrajada, pensar no efeito sobre as crianças, eu observava e dizia: “Meu Deus, como posso captar esse comportamento? Como posso por isso em palavras?” Eu pus. Eu pus bem aqui. Outra obra-prima de Castleman. E…vamos ver. E este eu escrevi depois de você fuder…quem era? Já sei, nossa terceira babá. Minhas palavras, minha dor, horas sozinha naquela sala, transformando seu comportamento vil, literalmente em ouro.”

Fonte: encurtador.com.br/elqGK

A relação conjugal de Joe e Joan configura o típico casal que faz da esposa a cuidadora mor de todos os problemas e necessidades que perpassam a família (esposo e filhos). É ela quem assume o papel de apaziguadora de conflitos e estabelece formas de se relacionar que ajudem todos a conviverem bem. Diante disso, o esposo se isenta de qualquer tipo de postura de responsabilidade por si mesmo e por suas ações, assumindo o característico personagem do “homem isentão”.

Além disso, pode-se perceber a existência de um relacionamento abusivo, que apesar de não conter agressões físicas, existem agressões psicológicas e morais, levando em consideração os casos de traições de Joe que acabavam sendo delegados por ele como culpa de Joan, por causa do seu talento para escrever. Esse comportamento é muito citado entre as publicações feministas, como um meio que o homem encontra para assegurar sua masculinidade diante de uma mulher que é mais talentosa do que ele. Tais meios vão desde agressão física até tentativas de culpabilizar a mulher, humilhá-la, proibi-la em algumas coisas (CORTEZ e SOUZA, 2008).

Para tentar explicar o porquê do permanecimento de Joan nesse relacionamento amoroso que tanto lhe prejudicou Cortez e Souza (2008, p.) trazem que “(…) a figura da mulher heroína/sofredora imperou em relação à da mulher infeliz, prevalecendo o sacrifício pelo bem-estar dos filhos e pelo bem maior que a instituição familiar representa.” Ao final, a sensação que fica é de injustiça pela personagem, e é difícil para as telespectadoras que partem de um pressuposto feminino de igualdade, entenderem as escolhas feitas pela esposa.

Fonte: encurtador.com.br/jkAU0

A atriz Glenn Close foi indicada ao prêmio de melhor atriz em filme de Drama, e recebeu o Globo de Ouro em 2019, por sua interpretação no filme ‘A esposa’. Nada mais merecido…

FICHA TÉCNICA:

A ESPOSA

Título original: The Wife
Direção: Björn Runge
Elenco:
Glenn Close,Jonathan Pryce,Max Irons
Países: Suécia, EUA
Ano:
2017
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS:

CATANI, Letícia Oliveira; SILVA, Juvêncio Borges. POLÍTICAS PÚBLICAS CONTRA O MACHISMO COMO INSTRUMENTO VIABILIZADOR DE RECONHECIMENTO E EFETIVAÇÃO DA CIDADANIA FEMININA. Revista Húmus, São Paulo, v. 7, n. 20, p.33-54, jan. 2017. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahumus/article/view/6756/4835>. Acesso em: 10 jan. 2019.

CORTEZ, Mirian Béccheri; SOUZA, Lídio de. Mulheres (in)Subordinadas: o Empoderamento Feminino e suas Repercussões nas Ocorrências de Violência Conjugal. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Vitória, v. 24, n. 2, p.171-180, mar. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v24n2/05>. Acesso em: 10 jan. 2019.

Compartilhe este conteúdo:

Ascensão feminina e a escada do conhecimento: Simone de Beauvouir

Compartilhe este conteúdo:

Simone de Beauvouir, importante filósofa, escritora, professora, ativista, é uma grande pensadora do século XX, por ter posicionamentos extremamente futuristas e avançados para a mentalidade de sua época vigente (arrisco-me em dizer que os temas considerados por ela, são ainda hoje pesados para boa parte das pessoas). Nascida em Paris em 09 de janeiro de 1908, teve uma família rica, que apesar de vigorosa e tradicional, teve a sorte de ter espaço e possibilidade de estar em uma academia, que se opunha ao comum: era possível dialogar intelectualmente, sem que o sexo fosse um pressuposto.

Diante dessa possibilidade de crescimento, pôde enxergar a sociedade por diversos prismas, resultando em seus livros, pelos quais escrevia com letras grafais para que seus leitores gravassem suas linhas, que apontavam o caminho torto de uma sociedade machista e patriarcal que nela se inscrevia. Colocou-se como voz e tornou-se visível, não só na literatura, mas para toda uma sociedade, e claro, a todos os incomodados com sua visão de mundo; sendo em sua maioria homens, que recusavam-se em sair de suas redomas de pensamento, e suas posições privilegiadas para olhar para baixo, e assim, enxergar ‘o lugar das mulheres’.

Suas obras de cunho social são até hoje de grande respaldo positivo por ter grande embasamento teórico em temas que abrangem liberdade e igualdade de gênero, sendo assim, ela continua sendo um marco para o crescimento do feminismo. Mas nem sempre foi assim, suas escritas pareciam amargas para a sociedade que naturalizava adoçavam a condição feminina. Trouxe então à tona o desconforto de suas críticas, que mostravam a partir de livros como “O segundo sexo” a posição secundária da mulher diante da humanidade.

Em uma entrevista dada na televisão “Questionnaire” um programa de Jean-Louis Servan- Shchreiber, ela diz que causou grande escândalo intelectual. Relata que a reação a sua obra na França foi de grande fúria, homens completamente “azedados”; até mesmo aqueles que imaginava serem liberais, de esquerda e igualitários. O motivo, segunda ela, é o fato de que o livro questionava a supremacia masculina. Tais diziam que sua obra os ridicularizavam. Em geral, mulheres receberam bem, não de imediato, mas aos poucos o sentido do livro foi aprofundado, e por conseguinte, aceito e acolhido, recebendo de suas leitoras confidências sobre reflexões diante de suas próprias realidades.

Para compreender o pensamento de Beauvouir, é importante saber que sua linha de pensamento também se baseia no existencialismo de Satre, com quem estabeleceu uma relação afetiva até sua morte. De forma simplista, podemos dizer que esse viés ideológico não acredita na existência de uma essência inicial, e sim de uma construção. Defendendo o fato de que as coisas estão em constante movimento, nunca são, sempre estão. O homem criando-se, a partir do que ele tem como repertório, inventa-se, e depois disso, cria sua essência. Produzir-se como ser, é de fato uma ideia angustiante, pois dá a responsabilidade das escolhas, dos valores, objetivos (…) logo, a liberdade é uma angústia.

Dentro desse gancho, vem parte do posicionamento da obra “O segundo sexo”, divido em dois volumes, o primeiro chamado: fatos e mitos. Que procura desmistificar a essência feminina trazida para a situação de subordinação em que se encontram. Já no segundo, denominado: Experiência vivida; relata as experiências das mulheres, mostrando a construção/condição juntamente as motivações arreigadas para que fossem construídas de tal maneira. Além disso, traz questionamentos importantíssimos como “O que é feminilidade? O que é ser mulher?”, dentre outros pontos, mas claro, não menos importantes.

Voltando ao programa de TV mencionado, o entrevistador pede para que ela explique uma de suas frases famosas e impactantes: “Ninguém nasce mulher, torna-se”. Ela responde com excelência, da seguinte forma:

“É que ser mulher não é um dado natural, mas um resultado de uma história. Não há um destino biológico ou psicológico que defina a mulher como tal. Foi a história quem a fez… primeiro a história da civilização… que resultou em seu status atual. E depois, por cada mulher em particular, foi a história de sua vida, em especial de sua infância quem a determinou como mulher, e que criou nela algo que não é um dado, uma essência, mas que cria nela o chamado “eterno feminino”, feminilidade. E quanto mais se aprofundam estudos de psicologia infantil, mais ficamos sensíveis, mais vemos com obviedade que o bebê feminino é fabricado para se tornar mulher”.

Uma de suas importantes citações, que ela julga ser de importância, é o livro da escritora italiana, Elena Belotti, “Do lado das Meninas”, que diz demonstrar o fato de que, bem antes da criança ser consciente os pais a inscrevem em seus corpos, de tal modo que mais tarde pode parecer destino sua resultante, quando na verdade, foi um molde desde de seu princípio.

É possível ver a importância, que essa grande mulher, Beauvouir nos trouxe. Aprimorando nossos horizontes ao que compreendemos como “natural”, e buscando assim um embasamento lógico, que nos faz questionar “por qual motivo somos assim? Porque agimos como agimos? ”. Entender a base de nossos ímpetos é um assunto que engloba indispensavelmente a psicologia, possibilitando um entendimento profundo da maneira como nos inserimos como ser humano, em especial, como mulher. De fato, é tentador não procurar descobrir-se a partir de suas obras, e por fim, perceber a qual forma fomos encaminhadas assim que nos entendemos como do sexo feminino, e todas as coisas que veem juntas ao rótulo de ser.

Simone morreu dia 14 de abril de 1986, entretanto suas obras são a base para a luta por igualdade, e liberdade. Suas ideias são um legado imortal e atemporal para as inúmeras injustiças que ainda acometem nossa sociedade para com todas as mulheres. Suas obras marcam até hoje a luta e resistência feminina.

 

Referências:

Entrevista com Simone(1975): https://www.youtube.com/watch?v=J-F2bwGtsMM&t=6s

Explicação sobre suas obras: https://www.youtube.com/watch?v=zhaq6AqeS_o&t=940s

Compartilhe este conteúdo:

Mary Shelley: escritora, revolucionária e feminista

Compartilhe este conteúdo:

Mary Shelley é um filme de 2017, dirigido por Haifaa al-Mansour, interpretado por Elle Fanning. O longa conta a história real da escritora feminista Mary Shelley, retratando sua trajetória de vida desde o seu nascimento até a vida adulta.

Mary Shelley (Elle Fanning) sofreu bastante durante sua vida como mulher e escritora na Inglaterra de 1800. Estar à sombra de um homem, ver seu talento sendo atribuído à um homem e esperar seu trabalho ser reconhecido por homens, foram alguns dos infortúnios pelos quais ela passou.

Órfã de mãe, Mary morava com seu pai William Godwin (Stephen Dillane), sua madrasta, seu irmão e sua irmã Claire (Bel Powley). A família era dona de uma livraria, onde Mary encontrava refúgio aos seus anseios por livros e escrita. Sofrendo os preconceitos da sociedade patriarcal na época, ela não podia ler publicamente ,uma vez que tal feito não era permitido para mulheres, o que determinava à ida de Mary para o cemitério, a fim de poder fazer suas leituras em paz.

Fonte: encurtador.com.br/jAG03

A coerção de uma madrasta cruel, bem como, o cerceamento do seu espírito livre e destemido, provocava em Mary um desalento e angústia, na tentativa de avançar em sua vida como mulher escritora. Seu pai percebendo isso, lhe envia para a Escócia almejando que a filha encontre o seu caminho libertador.

Fonte: encurtador.com.br/oCH06

“Se liberte das idéias de outras pessoas Mary, e tenha suas próprias idéias!”
William Godwin

Ao se estabelecer em seu novo destino, ela se apaixona pelo poeta Percy Besshy Shelly (Douglas Booth), e cedendo aos desejos de seu coração decide unir-se amorosamente à ele. Mary via em Shelly todo o amor vibrante com que um dia sonhou, e embebida pela paixão não conseguiu ver que tal aventura romântica, não lhe traria apenas o amor que desejava, mas também a solidão que jamais pensará em vivenciar.

Shelly foi sim, o amante mais intenso e romântico. Escrevia poemas de amor para presentear sua amada todos os dias e dizia as palavras mais belas, que eram capazes de fazer uma jovem de 16 anos, derreter-se em gozo. Porém, Shelly era um amante de muitos amores, e assim sendo, não tinha apenas Mary como alvo do saciamento de suas paixões. Adepto de ideiais de grandeza, luxúria e revolucionismo, ofertou a sua amada uma vida de complexos extremos, que iam do deleite do mais alto luxo até a mais intensa miséria.

Nessa vida polarizada, Mary experimentou prazer em ser amada intensamente, mas também o peso da solidão de ver que o seu amado encontrava prazer em outras. Viveu a solidão de ser desprezada, mesmo fazendo grandes esforços para construir a mais linda história de amor. Viu sua irmã tendo com seu amado dentro da sua própria casa, mesmo depois de tê-la acolhido e cuidado com todo carinho. Sofreu a perda de uma filha, e viu seu pai, ensinar-lhe uma lição, a custo da inexistência de seu contato e afago. Mary Shelley, viu o que o abandono e a solidão significavam na própria pele.

Fonte: encurtador.com.br/tyCLY

Mas no que toda essa experiência de vida poderia resultar? Magnificamente, na escrita da obra Frankenstein ou O Prometeu Moderno. Nossa escritora, num dia de reflexão sobre si mesma e a sua situação de vida, percebeu e encontrou inspiração para transformar seus dilemas existenciais,  personificando-os na figura do personagem Frankenstein. Com esse ímpeto ela concluiu a obra mais famosa do Séc.19 , que foi considerada o primeiro livro de ficção científica da história.

No entanto, mais percalços surgiriam para ela, pois a obra não poderia ser publicada com seu nome por ser isso, inapropriado para uma jovem mulher, e ainda, cairia sobre si o julgo dos donos das editoras, que alegavam não ser a obra de sua autoria, mas sim do seu companheiro Shelly. Foi nesse momento, que Mary viu nitidamente o preconceito que o  seu gênero sofria, e sentiu o descrédito e a humilhação por não ter suas potencialidades/talentos reconhecidos, apenas por ser uma mulher.

A frustração foi grande e provocou fúria em seu espírito feminista, no entanto, como forma de ver seu trabalho publicado, ela acatou as condições impostas, permitindo que Shelly escreve uma introdução para o livro e aceitando que ele fosse publicado anonimamente, o que resultaria na concessão dos créditos da obra ao poeta.

Fonte: encurtador.com.br/ksJUX

A primeira edição do livro Frankeistein assumiu essa configuração, contudo, quando William seu pai, soube que a obra era de autoria de sua filha, ofertou uma festa de comemoração ao sucesso da estória. E foi nessa festa, que Mary teve sua autoria reconhecida pelo próprio Shelly, que inconformado com essa injustiça e admirado com o potencial de sua amada, confessa aos homens presentes que Frankenstein tinha por autora Mary Shelly. Anos depois, quando a segunda edição do livro foi lançada, Mary teve sua autoria reconhecida, sendo publicamente mostrada como a autora original.

Ao final da trama, em uma conversa com seu companheiro, sobre a inspiração para a escrita do livro, Mary pronuncia uma frase que tem o poder de levar o telespectador a reflexão. Ela diz: “Minhas escolhas me fizeram ser quem sou. E não me arrependo de nada!”.

Fonte: encurtador.com.br/glnwC

A personagem

Inconformada com a visão rasa e preconceituosa que a sociedade tem das mulheres, ela deixa claro diversas vezes que nunca deixará com que nada/ninguém dite como ela deve ser/fazer as coisas em sua existência. Mesmo tendo se submetido a um relacionamento amoroso cheio de infidelidade, Mary não deixou que seu espírito libertário fosse esmagado por uma paixão.

Mary provoca no telespectador, paixão e sede de viver. Todos os acontecimentos de sua vida são experimentados com intensidade e emoção. Sua postura era firme e ameaçadora para qualquer pessoa (homem ou mulher), que lhe confrontasse na tentativa de colocá-la no “ lugar” que se julgava adequado para uma mulher naquela época.

FICHA TÉCNICA

MARY SHELLEY

Título original: Mary Shelley
Direção: 
Haifaa Al Mansour
Elenco: 
Elle Fanning,Douglas Booth,Tom Sturridge
Ano:
2018
País: 
Gênero: DramaHistórico

Compartilhe este conteúdo:

Feminismo para todos

Compartilhe este conteúdo:

Livro de bell hooks que chega às livrarias em novembro pela Rosa dos Tempos é um compilado simples e acessível acerca dos conceitos sobre os quais se debruça o movimento feminista, especialmente o das mulheres negras

Intelectual e teórica feminista desde os anos 1970, bell hooks (assim mesmo, com minúsculas) vem, há anos, tentando desmistificar os conceitos errados relacionados ao feminismo nas conversas com quem encontra pela frente. Tudo que ela queria, diz, era um livrinho pequeno, simples e acessível que explicasse a homens e mulheres questões fundamentais do movimento, na intenção de popularizá-lo. Como a obra nunca vinha, coube a ela mesma escrever este O feminismo é para todo mundo, que chega às livrarias em novembro pela Rosa dos Tempos. Inédito no Brasil, o livro foi escrito em 2000 – com prefácio à edição mais recente nesta versão – mas segue atualíssimo.

“Quando falo do feminismo que conheço – bem de perto e com intimidade –, escutam com vontade, mas, quando nossa conversa termina, logo dizem que sou diferente, não como as feministas ‘de verdade’, que odeiam homens, que são bravas. Eu asseguro a essas pessoas que sou tão de verdade e tão radical quanto uma feminista pode ser, e que, se ousarem se aproximar do feminismo, verão que não é como haviam imaginado”, conta hooks na introdução do livro.

bell hooks. Fonte: https://goo.gl/3sMcZw

Além de elencar respostas para uma série de perguntas rotineiras sobre o feminismo, a autora fala do movimento sob a perspectiva das mulheres negras. hooks explica que o classismo e o racismo não podem ser deixados de lado na construção do feminismo. Mais do que uma defesa da igualdade entre homens e mulheres, para ela o feminismo pretende acabar com o sexismo, a exploração sexista e a opressão.

Tendo este norte, ela segue explicando ao leitor sobre a aplicação do feminismo nos mais diversos temas: da garantia dos direitos reprodutivos até a tirania dos padrões de beleza; de maternagem e paternagem a trabalho e violência; de casamento a liberdade sexual; de lesbianidade a espiritualidade. Com afeto, objetividade e muito embasamento teórico, hooks deixa claro que o feminismo é, sim, para todo mundo que acredita no fim das opressões e explorações de homens e mulheres.

bell hooks é uma aclamada intelectual negra, teórica feminista, crítica cultural, artista e escritora. Escreveu mais de 30 livros, de gêneros diversos, como teoria crítica, memórias, poemas e literatura para crianças. Em seus trabalhos, trata de temas como gênero, raça, classe, espiritualidade, ensino e o significado da mídia na cultura contemporânea. Em 2014, fundou o bell hooks Institute. Este é seu primeiro livro pela Rosa dos Tempos. Em 2019, o selo lança Eu não sou uma mulher?, outro importante livro da autora.

O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras
(Feminism is for everybody: Passionate politics)
bell hooks
175 páginas
R$ 37,90
Tradução: Ana Luiza Libânio
Rosa dos Tempos | Grupo Editorial Record

Compartilhe este conteúdo: