O que se quer dizer com desigualdades sociais em saúde?

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A redução das desigualdades sociais em saúde não é uma tarefa fácil, nem sempre as boas intenções resultam em intervenções com o impacto esperado. A relação existente entre a divisão social e a desigualdade em saúde foi analisada considerando as consequências da distribuição e controle desigual dos recursos socioeconômicos dos grupos na população, sem reduzir essa compreensão apenas no processo de produção da saúde.

Quando falamos em igualdade ou desigualdade, estamos comparando situações sociais que vem sendo documentadas há muito tempo, a partir do século XIX. No Brasil, a saúde é um direito de todos e que deve ser garantido mediante ações de política pública, quando os diferenciais em mortalidade geral ou específica são apresentados, é que o acesso aos serviços de saúde é diferenciado para vários grupos, os efeitos são decorrentes de problemas na utilização dos recursos disponíveis por incapacidade do indivíduo ou por características de organizações dos próprios serviços, onde afetam mais os pobres, marginalizados e muitos deles são incapacitantes.

Fonte encurtador.com.br/pCIMO

Podemos identificar teorias que fornecem elementos para a compreensão do processo de produção da saúde e seus reflexos sobre a distribuição do estado de saúde na população. A estruturalista, com maior importância à estrutura econômica da sociedade, capaz de explicar grande parte das desigualdades. A psicossocial que dá mais importância à percepção da desvantagem social como fonte de estresse e desencadeadora de doenças predomina a privação relativa, uma vez ultrapassado o limiar de atendimento das necessidades básicas.

A versão brasileira da determinação social do processo saúde dá maior ênfase explicativa ao modo de vida, características sociais de produção, distribuição e consumo. A teoria ecossocial representa o esforço de articular, no sentido forte do tempo, pelos organismos humanos aspectos sociais e psíquicos nos quais os indivíduos vivem e trabalham. Há diferentes eixos de análise possíveis no estudo das desigualdades sociais, essa discussão dá maior destaque a posição de classe social, a renda, o gênero e a etnia.

A posição social e seus reflexos sobre a saúde

A saúde de uma sociedade é resultado de um processo histórico de organização e reprodução social, que pode ser analisado partindo de diferentes domínios da vida. Características da espécie biológica, das relações ecológicas do grupo e sua cultura delinearão ao longo do tempo, sistemas de reprodução social que perpetuaram processos mantenedores ou deletérios à saúde.  Segundo Barata (2009) “tal conceito torna falha a tentativa de estabelecer relações lineares de causa-efeito entre indicadores sociais e problemas de saúde”.

O conceito Marxista de classe social é definido por posições no processo de produção. Visto na relação de dominação e exploração por parte da burguesia (donos dos meios de produção) com o proletariado, (operários) que vendem sua força de trabalho. Esse conceito inclui as dimensões sociais, jurídicas, ideológicas e demais aspectos. Tal desigualdade só seria desfeita através do que Marx chamou de ditadura do proletariado ou sociedade comunista que acabaria com o sistema de classes.

Nesta perspectiva, o status de saúde do indivíduo está diretamente ligado à classe social a que pertence. Segundo o que busca explicar o levantamento do departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, em 1992, que demonstrou que a prevalência de baixo peso em filhos de mães não fumantes do proletariado era maior que a prevalência de baixo peso em filhos de mães fumantes da burguesia. Este estudo demonstrou que a determinação da classe social é mais significativa do que o tabagismo, já conhecido fator de risco para tal condição.

Fonte: encurtador.com.br/muGWZ

Já na conceituação de Weber a classificação social ocorre nas esferas econômica (ocupação), prestígio social, (ligada à escolaridade) e poder político (poder ou riqueza renda). Ficando assim a sociedade dividida em camadas de acordo com as condições socioeconômicas correlacionando novamente a qualidade de saúde e as desigualdades sociais à classe social de cada indivíduo, sendo a ocupação a variável mais utilizada nos países europeus como medida de classe social, os Ingleses assim a fazem em cinco classes: profissionais (formação universitária) técnicos (form. Técnica) trabalhadores qualificados manuais e não manuais, trabalhadores semiqualificados e não qualificados.

Outra variável bastante usada é o nível de escolaridade, associada ou não a ocupação. A escolaridade materna, por exemplo, interfere diretamente na maioria dos problemas de saúde infantil, sendo um indicador do nível de compreensão para colocar em prática as orientações de cuidados com a criança. As desigualdades sociais refletem não apenas no estado de saúde, mas também em relação ao acesso e uso do serviço de saúde.

No Brasil, a Pesquisa Mundial de Saúde, constatou que a autoavaliação de saúde, a prevalência de doenças crônicas e o uso de serviços de saúde, sobretudo preventivos, possuem forte relação com a escolaridade. Exemplificando, Novas e Braga em 2003 demonstram que uma parcela de 75% das mulheres brasileiras com mais de 25 anos fez exame Papanicolau, a maioria possuía melhor grau de escolaridade.

Fonte: encurtador.com.br/apyZ5

Diversos estudos comparativos tais como indicadores socioeconômicos e impactos sobre a saúde em países selecionados- 2006, PIB per capta e mortalidade infantil em cinco capitais brasileiras mostram que quanto maior o IDH, investimento em tecnologia e saúde, melhores os níveis de saúde e de expectativa de vida, menor a taxa de mortalidade infantil e melhores as condições de vida.

Conforme Barata (2009, p. 39):

A posição social dos indivíduos e grupos sociais, medida por indicadores de classe social, variáveis isoladas como escolaridade e classes ocupacionais, ou a partir das condições de vida em determinados espaços geográficos, é um poderoso determinante do estado de saúde das populações. Atuando sobre os perfis de morbidade e mortalidade bem como sobre o acesso e utilização dos serviços de saúde.

 

Ser rico faz bem à saúde?

O conceito de riqueza é relativo e não varia apenas entre as pessoas de diferentes países, mas entre pessoas de um mesmo país, a riqueza é algo completamente relativo e insatisfatório, tem uma definição particular de cada um, o que pensamos ou sentimos sobre riqueza, vem permeado pela nossa cultura, o que aprendemos socialmente e psiquicamente através de nossas relações.

O indivíduo de países mais ricos consegue garantir atendimento das necessidades básicas essenciais para saúde, moradia, alimentação, trabalho, educação. Não se observa uma relação do tipo quanto mais rico um país mais saudável sua população, a partir de certo limiar os aumentos na riqueza não se traduzem em mais saúde. Estudos que buscam explorar a relação entre nível de riqueza, distribuição de renda e satisfação com a vida, embora o nível geral de satisfação e bem-estar aumente com o crescimento de riqueza, o mesmo são maiores nos países que apresentam menor desigualdade na distribuição da renda.

Fonte: encurtador.com.br/bglBI

A esperança de vida com qualquer uma das medidas de concentração de renda, os impostos das desigualdades na qualidade de vida são diretos sobre os países mais pobres, mas afetam as demais camadas da sociedade porque provocam deterioração da vida pública, perda do senso de comunidade, aumento da criminalidade e da violência. A vida em sociedade com grandes desigualdades sociais parece menos civilizada, o combate à essa desigualdade pode vir a melhorar na distribuição desigual de poder e propriedade nas sociedades modernas.

As desigualdades étnicas necessariamente significam racismo?

A desigualdade racial é o resultado de distinções sociais hierárquica entre grupos étnicos. Parte desses tipos de práticas discriminatórias resultam de estereótipos como xenofobia e outras formas de discriminação. Isso continua a ocorrer nas sociedades com o aumento da globalização. Para Karl Marx existem duas classes sociais com desigualdades significativas (proletariado e burguesia). Nas ciências biológicas raças e sinônimo de uma divisão dentro de uma mesma espécie. Já entre nós os humanos a noção de raça aparece como construção ideológica de certos grupos. A desigualdade social e a pobreza são problemas sociais que afetam a maioria dos países na atualidade.

O termo racismo refere-se a uma ideologia social de inferioridade, que é usado para justificar o tratamento dado a membro de grupos raciais ou étnicos, acompanhado de atitudes negativas e depreciação. Uma sociedade racista acaba produzindo a discriminação em toda a estrutura social. Alguns problemas de saúde, comportamento apresentam maior associação com a exposição a situação de discriminação e racismo, os efeitos do racismo e da discriminação a saúde podem ser agudos ou crônicos, agindo provavelmente através dos mecanismos fisiopatológicos do estresse, baixa autoestima, doenças físicas, doença do sono e tentativas suicidas.

Fonte: encurtador.com.br/svwAH

Para que haja uma melhora nas desigualdades sociais em relação a saúde, dependem de políticas-públicas capazes de modificar os determinantes sociais entre outros motivos, pela má distribuição de renda em uma população, onde se concentra a maioria dos recursos nas mãos de uma minoria. A desigualdade social e a pobreza são problemas que afetam uma grande parte da população. É verdade que as desigualdades sociais são em grande parte gerados pelos jogos do mercado e do capital. De acordo com a sociologia, a saúde perdeu seu status de direito tornando-se um investimento na qualificação dos indivíduos.

Embora comecem a haver estudos de desigualdades sociais em saúde, enfocando especificamente os efeitos deletérios das situações em que a distribuição de poder é assimétrica entre diferentes grupos sociais, seja por questões relacionadas à idade, gênero, etnia, religião, seja por questões relacionadas à classe social ou às condições materiais de vida, ainda há um longo caminho a percorrer na compreensão de fenômenos com essa complexidade (BARATA, 2009, p. 71).

Relações de gêneros e saúde: desigualdade ou discriminação

Gênero possui inúmeros sentidos. Na biologia, refere-se à categoria taxonômica que agrupa espécies relacionadas filogeneticamente. Na gramatica, estabelece dentro da classe de palavras o contraste entre masculino e feminino. E na saúde esse conceito mescla algumas das características dos anteriores, ou seja, o termo gênero aqui é utilizado para marcar características próprias aos comportamentos de grupos de sujeitos sociais e assim diferenciar o masculino do feminino, porém com o enfoque aos serviços de saúde. Contudo, segundo Barata (2009, p. 73) “gênero significa o conjunto de seres ou objetos que possuem mesma origem ou que se acham ligados pela similitude de uma ou mais particularidades”.

Há uma grande confusão entre os termos sexo e gênero, como ao utilizar gênero como sinônimo de sexo ou utilizar o conceito para relacionar aos problemas referentes as mulheres, principalmente ligados a reprodução. Mas, antes de tudo, confusão no grave erro conceitual, principalmente na área da saúde. Pois o termo gênero só passou a ser utilizado no ressurgimento do movimento feminista para clarear esse pensamento e romper com as desigualdades em saúde.

Portanto, para esclarecer esses termos Krieger (2009, p. 74) afirma que: “Temos um sexo, biologicamente determinado, que influencia algumas das nossas condições de saúde, mas também somos gênero, isto é, produto do processo sociocultural que molda na sociedade os papeis femininos e masculinos e defini as pautas de relação entre homens e mulheres”.

É na segunda metade do século XX que surge a emergência de movimentos sociais diversos. E é nesse novo contexto que o movimento feminista ressurge e com ele manifesta-se as questões de gênero. Onde parte dos integrantes desse movimento considera que as determinações de gênero são mais importantes do que a posição do indivíduo na estrutura social. Alguns argumentam então que, ao nascer o indivíduo já passa a ter toda sua existência determinada pelas relações de gênero que moldam o seu perfil epidemiológico. Outros, dão maior peso aos determinantes de inserção social dos indivíduos, às classes sociais.

Fonte: encurtador.com.br/hrDJU

Contudo, as relações de gênero são independentes de outros processos sociais e são marcados pelo antagonismo na relação de dominação das mulheres pelos homens. Barata diz que, é muito difícil desembaraçar as diferentes dimensões de determinação e mediação presentes nos processos sociais, como as relações sociais na divisão sexual do trabalho, a divisão sexual do poder na sociedade, e a construção do feminino e do masculino na organização social e na divisão de papeis.

Todavia, a estrutura social tem sua importância, pois se esta for ignorada gera um enfraquecimento do poder explicativo da categoria gênero e impede a compreensão dos seus diversos fenômenos. Não há como estabelecer uma hierarquia rígida entre as diferentes categorias de determinação desse processo saúde-doença, pois a categoria gênero pode tanto ocupar a posição de determinação como de mediação dentro dos diferentes aspectos da organização social. Assim, “gênero é uma construção social baseada nas diferenças de sexo, mas cujo alcance ultrapassa largamente os aspectos exclusivamente biológicos” (BARATA, 2009, p. 78).

A mortalidade, para boa parte da população, é maior entre homens, desde o seu nascimento. Isso devido a sua exposição a fatores e situações de risco ao longo da vida, como a exposição a situações insalubres de trabalho, o consumo exagerado do álcool, cigarro e outras drogas, e a frequente situação de risco para acidentes e violências. Assim, para chegar nessa conclusão foi feita uma classificação por sexo dos indivíduos afetados, mas podem ser indicadas diferenças de gênero, ou seja, esses “homens” podem ser biologicamente do sexo masculino, mas não ter o mesmo gênero.

Em contrapartida, a maior parte das mulheres têm a pior avaliação de estado de saúde e maior frequência de morbidade. Isso partindo do ponto de vista biológico e parte sendo relacionado com as características do trabalho feminino, uma vez que as condições de trabalho atribuídas a elas são relevantes para seu estado de saúde. Segundo Barata (2009, p. 86), “As mulheres apresentam maior proporção de saúde regular ou ruim, em todos os grupos de idade, estratos de renda e níveis de escolaridade”.

Fonte: encurtador.com.br/oIX05

A violência é um problema de saúde com importância crescente e no qual a determinação das relações de gênero ocupa uma posição central. E dentre os diversos tipos de violência, destaca-se a violência urbana que têm os homens como alvo, onde a mortalidade por homicídio representa uma das facetas do crescimento dessa violência e que se compara aos acidentes de transito em seus números alarmante de mortos; e a violência doméstica que afeta as mulheres. E ainda tem os comportamentos violentos das camadas da população vivendo em condições de exclusão social, comportamentos esses que servem para reafirmar sua identidade, e é nessas áreas que os homicídios ocorrem majoritariamente no espaço público.

A utilização dos serviços de saúde se dá pela necessidade de cuidado com a saúde ou com a existência de um problema de saúde. Segundo Barata, os serviços de saúde são mais utilizados pelas mulheres, em consultas medicas; as consultas médicas aumentam proporcionalmente de acordo com a renda familiar, nos dois sexos; e nos últimos anos essas consultas aumentaram com a idade e o nível de escolaridade. Mas percebeu, desigualdade de gênero entre pessoas com bom estado de saúde, na utilização preferencial de consultas preventivas; pouca desigualdade entre gêneros, em pessoas com estado de saúde regular ou ruim; e nenhuma desigualdade nos grupos de maior renda.

Através de dados do inquérito nacional de saúde do Canadá, Barata reforçou a concepção de gênero como uma construção social. Pois diferentes sociedades produzem diferentes graus de desigualdade entre homens e mulheres. Não se pode generalizar essas evidências. Contudo, Barata (2009, p. 94), diz: “Gênero, como construção social, consiste em um sistema multinível, incluindo arranjos econômicos e políticos e crenças culturais na dimensão macrossocial, padrões de comportamento na dimensão intermediária e aspectos ligados a identidade individual na dimensão microssocial”.

Políticas para o enfrentamento das desigualdades

De acordo com Rita, a abordagem coletiva ou populacional do processo saúde-doença na perspectiva da epidemiologia social resulta em fazer perguntas, tais como as doenças se produzem, como chegam a diversas populações, por que somente uns adoecem e não todos, e quais medidas as políticas públicas podem interferir diante disso.

Para compreender de que forma as doenças são determinadas e como intervir, BARATA (2009, p. 95) diz que “é necessário inicialmente tratar dos modelos de causalidade em uso pela epidemiologia”. Com a abordagem convencional dos modelos multicausais, a variável ou fator de risco é analisado de início associado com a doença ou problema de saúde estudada. Rita cita exemplos de fatores de risco para baixo peso ao nascer, a idade materna, hábito de fumar das mães e a classe social ao qual pertencem. Levando em consideração os exemplos citados, Barata (2009, p. 96) conclui:

Consequentemente, se a idade materna é um fator de risco, as políticas para redução do baixo peso ao nascer devem incluir ações visando a diminuir a gravidez na adolescência. Do mesmo modo, se o hábito de fumar é um fator de risco, será necessário que as mães deixem de fumar para reduzir a incidência de baixo peso e, finalmente, se a pobreza também está relacionada, será preciso usar políticas compensatórias que possibilitem melhor alimentação durante a gestação para evitar o baixo peso. Teríamos assim um conjunto de intervenções educativas, de controle da gravidez na adolescência, redução do hábito de fumar e de suplementação alimentar para enfrentar o problema.

Rita cita que de acordo com Leonard Syme, existe três problemas na prática da saúde pública. A primeira seria que se perde bastante tempo ao tentar identificar quais são os fatores de risco. Em segundo, não se imagina que seja possível a promoção da saúde quando a atenção estiver totalmente no fator de risco e na doença. E por último, o mais importante é a identificação das determinantes de saúde, e o principal é a classe social.

Fonte: encurtador.com.br/knAMZ

Segundo Barata, há duas formulações que se destacam devido a abordagem complexa dos diferentes níveis da organização da vida social, são eles: o modelo do modo de vida elaborado por Naomar de Almeida Filho e o da comissão de Determinantes Sociais em saúde da Organização Mundial da Saúde.

O primeiro modelo reúne as esferas de produção e da reprodução material e simbólica da sociedade, o modo de vida dos grupos sociais, o processo de trabalho, a estrutura de classes, as práticas cotidianas e a construção cultural como determinantes das configurações de risco que se acoplam ao perfil de saúde-doença-cuidado no âmbito populacional. O segundo modelo destaca cada um dos aspectos mais relevantes das dimensões apontadas no modelo do modo de vida, visando a facilitar a identificação de possíveis áreas de intervenção para as políticas sociais que busquem a redução das desigualdades (BARATA, 2009, p. 99).

Rita diz que o contexto social é o que determina a cada sujeito sua posição e esta, determina as oportunidades de saúde. Segundo Rita, há pelo menos três níveis distintos de ação política com finalidade na redução das desigualdades. “Tais como políticas econômicas e sociais que modifiquem a estratificação social; políticas que modifiquem as condições de exposição e vulnerabilidade dos grupos sociais; ou políticas de saúde que atuem sobre as consequências negativas das desigualdades, buscando minimizar o impacto de seus efeitos” (BARATA, 2009, p. 99 e 100).

Além do sistema nacional de saúde com acesso universal, é preciso que exista distribuição adequada de serviços e de equipamentos no território, para que os mesmos possam ser utilizados pelos indivíduos que deles necessitam independentemente das condições socioeconômicas, gênero, etnia e outras particularidades. Os profissionais de saúde precisam estar adequadamente habilitados para garantir a qualidade técnica e humana do atendimento, e os serviços precisam estar organizados para responder às necessidades de saúde (BARATA, 2009, p. 107).

Por mais que haja boas intenções em tentar resolver as desigualdades, não há resultados com o impacto esperado. É necessário que haja o reconhecimento dessas desigualdades sociais em relação a saúde, para que possa achar meios de bani-las. É preciso buscar a compreensão dos processos que a produzem e identificar os diferentes grupos sociais. São vários desafios enfrentados sobre a desigualdade social em saúde, isso requer um conjunto de políticas públicas, exemplo é o SUS, que tem como finalidade amparar aqueles que não possuem renda, trazendo consigo uma equidade na sociedade, embora na grande maioria seja um sistema falho.

REFERÊNCIAS:

BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. 2ª. Reimpressão. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2016.

* Trabalho elaborado na disciplina de Antropologia, ministrada pelo prof. Sonielson Luciano de Sousa.

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O que você sabe sobre os feminismos?

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O feminismo, de modo geral, é um movimento não apenas social, mas também político de caráter intelectual e filosófico que prega a igualdade de direitos entre homens e mulheres.  Seu objetivo é uma sociedade sem hierarquia de gênero, isto é, o gênero não sendo utilizado para conceder privilégios ou legitimar opressões (RIBEIRO, 2014). Há um consenso geral de que o feminismo, na dita primeira onda, teve início formal no século XIX, quando mulheres lutaram pelo direito ao voto e à vida pública, benefício conhecido como sufrágio.

Fonte: encurtador.com.br/qNW09

A segunda onda do feminismo se consolida nos anos 1970, na busca pela valorização do trabalho, pelo direito ao prazer e contra a violência sexual. No Brasil, além desses aspectos, as mulheres também lutaram contra a ditadura militar. Em 1972, foi formado o primeiro grupo de feministas encabeçado por professoras universitárias. Ainda no mesmo ano foi lançado o jornal Brasil Mulher, que circulou até meados de 1980 (RIBEIRO, 2014).

A terceira onda do feminismo data dos anos 1990 e teve como premissa a análise histórica do que se tinha como definição do movimento até então. Foram discutidas novas formas de combate à opressão de gênero e, para além, colocadas em xeque ideias de comunhão de causas. Neste momento, são reconhecidas as lutas plurais dentro do movimento como um todo, que reivindicam as idiossincrasias de cada grupo de mulheres e procura tirar da invisibilidade os discursos de mulheres negras, indígenas, lésbicas, dentre outras.

Fonte: encurtador.com.br/HKPR1

Apesar de muitas mulheres lutarem por causas específicas desde muito antes, ainda não exerciam protagonismo, fato este que a terceira onda buscou minimizar, sendo influenciada por uma concepção pré-estruturalista, refletindo sobre abordagens micropolíticas preocupadas em responder o que é e o que não é bom para cada mulher (GASPARETTO JUNIOR, 2013). Protagonizam neste contexto e com maior impacto, as vertentes do feminismo, que são uma alternativa ao feminismo hegemônico, constituído por mulheres brancas, de classe média, cisgênero e que não abarca as especificidades de outros grupos.

As críticas trazidas por algumas feministas dessa terceira onda […] vêm no sentido de mostrar que o discurso universal é excludente porque as opressões atingem as mulheres de modos diferentes, seria necessário discutir gênero com recorte de classe e raça, levar em conta as especificidades das mulheres. Por exemplo, trabalhar fora sem a autorização do marido, jamais foi uma reivindicação das mulheres negras/pobres, assim como a universalização da categoria mulheres tendo em vista a representação política, foi feita tendo como base a mulher branca, de classe média. Além disso, propõe, como era feito até então, a desconstrução da teorias feministas e representações que pensam a categoria de gênero de modo binário, masculino/feminino (RIBEIRO, 2014).

Fonte: encurtador.com.br/AP078

Há quem diga que levantar bandeiras dentro do feminismo torna o movimento enfraquecido. Mas a verdade é que um movimento tão plural não pode ser contemplado por apenas uma perspectiva. A multiplicidade de mulheres e suas distintas necessidades devem ser observadas, reconhecidas e sanadas. Cabe dizer então, que não falamos de um feminismo singular. Falamos de feminismos, múltiplos e complexos, que convergem na necessidade de emancipação da mulher e podem divergir no que se refere aos meios para alcançá-la.

Atualmente, os movimentos mais populares são: feminismo liberal, radical, interseccional  e negro. Também abordaremos o feminismo indígena, que invisibilizado por questões culturais e sociais, requer ser conhecido e estudado.

FEMINISMO LIBERAL: é fortemente influenciado pelo neoliberalismo e por ideais empreendedores. Defende a autonomia e individualidade. Sendo uma das principais portas de entrada de mulheres no feminismo, afirma que a sociedade é feita de indivíduos e a mudança parte de cada um deles em particular. Desta maneira, se mudo meus ideais e luto por eles, posso fazer diferença na sociedade. É um dos principais responsáveis pelo uso recorrente da palavra empoderamento. O empoderamento é o processo de dar-se o poder, munir-se de poder para enfrentar o status quo. Este feminismo vê o machismo como opressão de gênero. Apoia as questões QUEER e LGBTQIA+ e pede pela igualdade de gênero. O feminismo liberal não é anticapitalista. Deseja assegurar a igualdade por meio de reformas legais e políticas e inclui homens na luta pela igualdade de gênero.

Fonte: encurtador.com.br/ivwKX

FEMINISMO RADICAL: é fortemente influenciado pelo materialismo dialético marxista. Dessa forma, fundamenta sua teoria e luta numa análise estrutural da sociedade. Portanto, para essa vertente, o empoderamento individual não vai alterar a sociedade que estava aqui, antes que cada uma de nós nascêssemos. Ao nascer numa sociedade patriarcal, os indivíduos já são moldados por ela antes que comecem a perguntar e se questionar o porquê de tantas diferenças entre os sexos. Nesta vertente, entende-se o pessoal como político, visto que cada atitude do ser humano é moldada pelo coletivo.

O feminismo radical entende que a opressão exercida pelo patriarcado é baseada no sexo e não na identidade de gênero. Luta não pela igualdade de gênero, mas pela abolição deste. Uma de suas maiores expoentes é Simone de Beauvoir, com o famoso livro “ O segundo sexo” (1949). O feminismo radical é famoso por entender a prostituição como violência e não como exercício de autonomia. De acordo com Sheila Jeffreys, em Unpacking Queer Politics:

Os gêneros continuam dois. A abordagem queer que celebra a “performance” de gênero e sua diversidade, necessariamente mantém os dois gêneros em circulação. Invés de eliminar comportamentos dominante e submissos, ela os reproduz (2003, p. 44, tradução nossa).

Fonte: encurtador.com.br/erzH1

Logo, o feminismo radical difere de outras vertentes, e com mais acentuada diferença, do feminismo liberal, ao descartar a noção de identidade de gênero como fundamental para a luta contra a opressão patriarcal.

FEMINISMO NEGRO: ganha força nas décadas de 1960 e 1980, com a fundação da organização National Black Feminist, nos Estados Unidos da América, em 1973. Neste momento, as mulheres negras começaram a escrever sobre o tema, criando uma literatura feminista negra. A premissa dessa vertente, é a luta contra o sexismo dentro do próprio movimento negro, onde homens negros oprimiam as mulheres negras, além da luta anti-racista e a busca por melhoria na qualidade de vida, equiparação salarial, direito à saúde, escolarização dos filhos e contra o genocídio da população negra, além da violência policial e também sexual. No Brasil, o feminismo negro toma forma  no fim da década de 1970 e início da década de 1980 e para além dos aspectos acima citados, luta contra a ditadura e na busca de afirmação da mulher negra como sujeito político (RIBEIRO, 2014).

Fonte: encurtador.com.br/flK18

O problema da mulher negra se encontrava na falta de representação pelos movimentos sociais hegemônicos. Enquanto as mulheres brancas buscavam equiparar direitos civis com os homens brancos, mulheres negras carregavam nas costas o peso da escravatura, ainda relegadas à posição de subordinadas; porém, essa subordinação não se limitava à figura masculina, pois a mulher negra também estava em posição servil perante a mulher branca. A partir dessa percepção, a conscientização a respeito das diferenças femininas foi ganhando cada vez mais corpo (GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA, 2016).

É importante afirmar que dentro dessa vertente, existe a luta contra  a intolerância religiosa, visto que a cultura negra tem em suas bases, religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, assunto este que não é abordado em outros feminismos e que causa grande impacto na vida de pessoas negras seguidoras. Debates mais profundos acerca das questões de gênero, raça e classe são primazia dentro do feminismo negro.

FEMINISMO INTERSECCIONAL: a principal característica desse movimento é a tentativa de conciliação das questões de gênero com as demandas de outras minorias, como por exemplo, classe social, raça, deficiência física, dentre outras. Existe grande receptividade no que se refere à participação masculina, aspecto que o feminismo radical condena veementemente por crer que o homem por si só, é naturalmente opressor. Dentro dessa vertente, fazem parte o Transfeminismo, que lida com as questões de sofridas pelas mulheres trans, o Feminismo Lésbico, o Feminismo Negro, dentre outros movimentos.

Fonte: encurtador.com.br/fhzN3

FEMINISMO INDÍGENA: tem origem entre as décadas de 1970 e 1980 com a fundação da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AMARN) e a Associação de Mulheres Indígenas do Distrito de Taracuá, Rio Uaupés e Tiguié (AMITRUT). Nesta vertente, é preconizado o direito à terra, a luta contra a violência policial dos latifundiários e o genocídio da população indígena em conflitos, além da luta contra a violência sexual e a busca pela emancipação feminina dentro das aldeias. Além dessas questões, também existem as violências externas que foram incorporadas nas aldeias, como o abuso do álcool e a violência doméstica que muitas vezes decorre disto (GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA, 2017).

Não bastassem as violações de direito que são frutos das intervenções da sociedade sobre o modo de vida dessas populações, também precisamos refletir sobre a violência sofrida pelas mulheres indígenas no seio de suas próprias comunidades. As indígenas reconhecem e  denunciam inúmeras práticas discriminatórias que sofrem: casamentos forçados, violência doméstica, estupros, limitações de acesso à terra, limitações para organização e participação política e outras formas de dificuldade enfrentadas em consequência do patriarcalismo presente em suas comunidades. Embora esse seja um campo delicado de tratar, devido ao enfoque específico e multicultural que precisa ser dado, é necessário ouvir o que as organizações de mulheres indígenas estão reivindicando (MELO, 2011).

Fonte: encurtador.com.br/elxBP

As mulheres indígenas são as que mais sofrem com as mudanças climáticas e pelo modelo de desenvolvimento econômico imposto no Brasil, visto que quando a comunidade perde o acesso à terra e recursos naturais, as mulheres arcam com as penalizações pela falta de alimento, pois geralmente ficam encarregadas dessa tarefa nas comunidades. Portanto, a luta da mulher indígena sempre existiu, o que não há é a visibilidade às suas causas e a afirmação dos seus direitos dentro e fora de suas aldeias.

 

REFERÊNCIAS:

GASPARETTO JUNIOR, Antonio. Terceira Onda Feminista. 2013. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/terceira-onda-feminista/>. Acesso em: 04 out. 2017.

GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA (Brasil). Conheça um pouco sobre feminismo indígena no Brasil e sua importância. 2017. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/conheca-um-pouco-sobre-feminismo-indigena-no-brasil-e-sua-importancia/>. Acesso em: 04 out. 2017.

GELEDÉS: INSTITUTO MULHER NEGRA (Brasil). Feminismo Negro: sobre minorias dentro da minoria. 2016. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/feminismo-negro-sobre-minorias-dentro-da-minoria/>. Acesso em: 04 out. 2017.

JEFFREYS, Sheila. Unpacking Queer Politics: A lesbian feminist perspective. Malden: Polity Press, 2003.

MELO, Mayara. Mulheres Indígenas: violência, opressão e resistência. 2011. Disponível em: <https://mayroses.wordpress.com/2011/11/25/mulheres-indigenas-violencia-opressao-e-resistencia/>. Acesso em: 05 out. 2017.

RIBEIRO, Djamila. As diversas ondas do feminismo acadêmico. 2014. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/feminismo-academico-9622.html>. Acesso em: 05 out. 2017.

 

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Impactos políticos e psicológicos do discurso feminista

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Recente palestra apresentada pela egressa do curso de Psicologia Lilian Julian da Silva Guimarães abordou a temática do Movimento Feminista, citando inicialmente as três e importantes Ondas que deram origem e força ao Movimento histórico, na qual cada fase termina sendo marcado por conquistas no âmbito intelectual, político e filosófico que compõem o Movimento, em um panorama de lutas. Assim, entre outros assuntos pertinentes a temática proposta, justifica como chegou a uma escolha pelo tema e ainda a influência da filósofa, escritora, professora e militante feminista brasileira Marcia Tiburi, que norteou seu Trabalho de Conclusão de Curso, além é claro de Beauvoir e Betty Friedan.

No livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, principal obra que marca a revolucionária caminhada rumo aos libertários direitos femininos, aos quais nós enquanto mulheres somos gratas a essa inquietante filósofa e escritora, as importantes conquistas para o nosso atual protagonismo feminino; ainda que seja necessário muitos avanços. De certa forma, enquanto mulher podemos nos sentir amparadas, e até mesmo reconhecidas em nossas angústias, ao nos deparamos com a célebre frase: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Nesse sentido, a palestra em sua maioria assistida por mulheres conseguiu trazer como pano de fundo o papel da mulher na atualidade e acirrar um debate sobre as disparidades, violência e desigualdades ainda presentes em uma sociedade impregnada pelo machismo.

Fonte: https://goo.gl/PFK2DC

Falou por exemplo que a primeira onda possui como marco a Revolução Francesa e a extensão do direito de voto. Na segunda onda, aparecem nomes importantes como Simone de Beauvoir (1908-1986) e Betty Friedan (1921-2006). Na terceira onda, historicamente reconhecida na década de 1990, marcada por questionamentos dentro do próprio movimento que permitiu uma importante redefinição das falhas dos movimentos anteriores, argumentando as diferenças e as condições étnicas e sociais, com intuito de negociar espaços e direitos de forma detalhada.

Além disso, adentrou assuntos como o protagonismo da mulher negra e lésbica, que não se sentiam contempladas no Movimento Feminista das primeiras fases, ou Ondas. Além disso, outra problemática apontada foi a influência desse movimento na vida do homem, como por exemplo, a perda de identidade e as vantagens desse movimento na vida deles. Importante lembrar que o movimento foi amplamente criticado por representar mulheres brancas e de classe alta, havendo de certa forma uma divisão dentro do próprio Movimento.

Foram ressaltados também aspectos culturais envolvidos nas questões de gênero, como a visão da mulher como o “sexo frágil”, a inversão objetal e as críticas ao feminismo. Ademais foram relatados aspectos que evolvem a mulher, seu corpo, o aborto, o mito da maternidade. Citando ainda Butler sobre as complexas estruturas que normatizam e reproduzem as questões de gênero que escreve em nossos corpos um discurso politico marcadamente violento e excludente de ser mulher.

Fonte: https://goo.gl/HYGKq1

O feminismo é um movimento político que tem buscado desde sempre, direitos iguais entre os gêneros; nesse contexto torna-se necessário trazer a tona um debate essencial para o entendimento de que vivemos numa sociedade patriarcal, ao qual Marcia Tiburi muito bem nos lembra, sobre o machismo presente nas mais simples e cotidianas relações às quais é marcadamente imposto pelas diferenças entre os gêneros, segundo ela, derivadas das crenças e também da cultura que é impregnada na história por um cenário discursivo e simbólico desse patriarcado, um legado que traz como centro o gênero masculino em detrimento do gênero feminino como segundo plano. Nesse ponto, incentivando para que a mulher tenha um lugar politico e de criação, sujeito histórico.

Marcia Tiburi apresenta o Feminismo como revolucionário, e nos alerta que a classe conservadora, os que têm medo da mudança, é essa sim que dizem que o feminismo é ultrapassado. Ela aponta o movimento como uma constante dialética, uma prática que é uma teoria e vice versa, sempre em voga e as pessoas devem se apropriar dele, nos fazendo pensar como uma grande questão que nos move. O feminismo é plural, e segundo ela, são muitos escapes que trazem à tona temas como gênero que hoje em dia de certa forma o sistema ainda esconde para que a mulher não perceba seu verdadeiro papel nesse contexto histórico.

Fonte: https://goo.gl/FpVMD5

O Feminismo é uma pergunta que devemos nos fazer: o porquê de tantos privilégios? E o porquê de manter uma sociedade de privilégios? Assim, Tiburi adentra a filosofia de Marx que aponta, sobre como percebeu as mulheres como sendo os proletários do proletário, observando no cerne da classe operária e proletária, o lugar que a mulher operária ocupava como subalterna, sofrendo mais que o homem operário. Devemos quebrar com essa opressão, e o Movimento é forte por lutar pela quebra do domínio patriarcado, e a lógica do machismo é sempre atacar o feminismo.

Dessa forma, foi um debate rico em questões atuais que envolvem a realidade que as mulheres vivenciam na sociedade. O debate contribuiu de forma significativa para o entendimento das questões de gênero, pois proporcionou um momento de reflexão sobre a temática. O Feminismo é uma ética, e historicamente todos os movimentos sociais estão de certa forma, interligados ao Movimento Feminista e suas reivindicações por direitos iguais entre os gêneros. Quando a mulher se auto-proclama feminista ela está marcando sua causa, seu lugar de criação que marca sua territorialidade, sua liberdade, e principalmente pela luta de tantas mulheres que foram e ainda são mortas todos os dias, nesse sistema institucional patriarcal.

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Sexualidade trans e identidade de gênero

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Nota: Relato de Experiência elaborado como parte das atividades da disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, sob supervisão do prof. Sonielson Sousa.

Recente Psicologia em Debate discorreu sobre Sexualidade trans e identidade de gênero, a partir de pesquisa realizada pela acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra Fernanda Bonfim. O transgênero é o indivíduo que não se identifica com seu sexo biológico. A identidade seria, neste caso, de como essa pessoa se vê, se sente, se percebe e é percebida.

Os transgêneros podem ser homossexuais ou heterossexuais. São considerados homossexuais quando se relacionam com o mesmo gênero de sua escolha de identidade (quando uma pessoa é biologicamente mulher, mas sua identidade de gênero é homem e este se relaciona com um homem). E são transgêneros heterossexuais quando se relacionam com o sexo oposto a sua identidade de escolha (quando uma pessoa biologicamente é mulher, com identidade de gênero sendo de homem e se relaciona com uma mulher). É possível observar a manifestação da transgeneridade bem cedo na vida de um sujeito, através das escolhas que essa pessoa faz por suas roupas, seus interesses e desejos por temas e objetos que seriam “comuns” ao sexo biológico oposto ao seu.

Fonte: http://zip.net/bbtKMx

A cirurgia para adaptar o corpo é realizada depois que um diagnóstico é fechado por vários profissionais, que incluem psiquiatras, psicólogos, entre outros. No Brasil, o Sistema Único de Saúde, pela portaria Nº 457, autoriza que a partir dos 18 anos de idade a pessoa pode dar início ao tratamento para adequação de sexo, que dura dois anos, até que o diagnóstico seja concluído. Porém a cirurgia só pode ser realizada a partir dos 21 anos de idade (BRASIL, 2008). Até o ano de 1985 a homossexualidade era considerada um transtorno mental pelo Conselho Federal de Medicina, e no final dos anos 80 vários organizações iniciam um amplo processo de despatologização desta orientação, que passa a ser considerada dentro da diversidade humana.

Sampaio e Coelho (2013) ao citar Harper e Scneider (2003), afirmam ser este grupo marginalizado pela discriminação, violência sofrida principalmente em seu convívio familiar e social em algum momento, geralmente na adolescência, ao qual a pessoa se encontra em maior fragilidade, o que pode dificultar o acesso a educação, melhores vagas de emprego e moradia. A estimativa de vida para os transsexuais é de no máximo 35 anos de idade, pelas violências acometidas a eles, sendo que 20% dos crimes são cometidos contra jovens com menos de 18 anos. Somente 10% dos crimes viram processo e 31% das vítimas são alvejadas com arma de fogo.

Fonte: http://zip.net/bqtLSC

Algumas ponderações podem ser observadas a partir da palestra, sobretudo ao ter feito a analogia de “ser cristão e por isso preconceituoso”, “gays perseguidos por pessoas cristãs”. Como se, no fritar dos ovos, a culpa fosse de Cristo. Das duas uma, ou há ensinos errôneos sobre o que o Evangelho realmente ensina sobre ser cristão, ou ouvintes relapsos que dão sua própria interpretação. E, ainda, a soma dessas duas ações que criam generalizações de fontes interpretativas erradas. Se Jesus Cristo fosse preconceituoso, ele não teria estado no meio de todos os tipos de sujeitos – os marginalizados da época.

Em nenhum momento Jesus desprezou, julgou, condenou ou incitou algum tipo de violência a quem quer que seja. Aliás, Ele acolhia, recebia e era recebido por pessoas que também eram desprezadas ou criticadas. Jesus confrontou “os seus”, os escribas e fariseus, como diz o texto em Jo1:11, “Veio para o que era seu e os seus não o receberam.” Se Jesus se apresentasse na contemporaneidade, é com estas pessoas que ele estaria.

REFERÊNCIA:

BÍBLIA. Português. Bíblia On-line. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/1>. Acesso em: 06 jun. 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cirurgias de Mudança de Sexo são Realizadas pelo SUS desde 2008. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/cirurgias-de-mudanca-de-sexo-sao-realizadas-pelo-sus-desde-2008>. Acesso em: 05 jun. 2017.

SAMPAIO, Liliana Lopes Pedral; COELHO, Maria AThereza Ávila Dantas. A TRANSEXUALIDADE NA ATUALIDADE: DISCURSO CIENTÍFICO, POLÍTICO E HISTÓRIAS DE VIDA. Ufba, Bahia, v. 1, n. 1, p.1-12, 13 jun. 2013.

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Um Senhor Estagiário: inserção da mulher no mercado de trabalho e os novos modelos familiares

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Um Senhor Estagiário “The Intern”, longa metragem lançado em 2015, dirigido e roteirizado por Nancy Meyers, seu enredo é ambientado numa sucedida “loja” de vendas online, contudo tal ambiência é apenas pano de fundo para temáticas que estão intrínsecas aos modos de ser e viver contemporâneo que suscitam discussões. Dentre os quais se destaca a inserção da mulher no mercado de trabalho, este que é objeto de estudo deste trabalho.

Contudo, para que a imersão ao tema seja agradável se faz necessário mergulhar na história de Bem Whitaker, viúvo, 70 anos, aposentado, e que trabalhava em uma gráfica de lista telefônicas. Após a aposentadoria o personagem embarcou em diversas “aventuras”, contudo os momentos felizes se tornam fugasses, e a cada partida ele volta ainda mais vazio. E  justamente com o intuito de vivenciar novos horizontes, novas oportunidades que o faça se sentir ativo/vivo acaba encontrando essa oportunidade em um panfleto que informa vaga de estagiário sênior em um site de vendas de roupas online.

Jules Ostin, criadora de um site conseguiu expandir e destacar seus negócios obtendo um grande sucesso rapidamente, por ser a autora de tamanho resultado, ela faz parte de todos os setores da empresa e evidentemente encontra-se sobrecarregada. No processo seletivo, Ben consegue preencher uma das vagas e se torna o estagiário pessoal de Jules. Ao longo do enredo foi possível notar a importância dos laços afetivos que foram estabelecidos entre estes personagens, onde a experiência profissional e pessoal do sênior estagiário pode agregar inúmeros valores positivos na evolução da gestora.

O contexto histórico da inserção da mulher no mercado de trabalho

O filme destaca a mulher como papel central na organização, contudo este lugar que a personagem ocupa foi anos lugar comum do gênero masculino. Neste interim, se faz relevante diferenciar sexo e gênero, já que estes são frequentemente confundidos. Nas palavras de Cabral e Diaz (1998) sexo refere-se às diferenças biológicas entre homem e mulher, seus aparelhos reprodutores, suas funções diferenciadas decorrentes de seus hormônios. Gênero refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres que são o resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais.

O papel do homem e da mulher é culturalmente constituído e muda conforme a evolução da sociedade. As relações de gênero são efeito de um processo que se inicia no berço e continua ao longo de toda a vida, sendo reforçadas diariamente pela desigualdade existente entre homem e mulher, principalmente em torno a quatro eixos: a sexualidade, a reprodução, o âmbito público/cidadania e a divisão sexual do trabalho, sendo esse último o mais aprofundado aqui. No Artigo 113, inciso 1 da Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei”. Contudo, desde o século XVII, período em que o movimento feminista começou a crescer, as mulheres vêm tentando colocar em prática essa lei.

Segundo Querino, Domingues e Luz (2013), a inserção da mulher ao mercado de trabalho, consolidou-se durante as I e II Guerras Mundiais (1914 – 1918 e 1939 – 1945, respectivamente), quando os homens se deslocavam para as frentes de batalha e as mulheres assumiam os negócios da família e a posição dos homens no mercado de trabalho. Ao retornarem, muitos deles encontravam-se impossibilitados de retornar ao trabalho, com isso, as mulheres sentiam-se na obrigação de deixar a casa e os filhos para levar adiante os projetos e o trabalho que eram realizados pelos seus maridos.

No século XIX, conforme denota Schlickmann e Pizarro (2013), com o desenvolvimento tecnológico e o intenso crescimento das maquinas, boa parte da mão-de-obra feminina foi transferida para as fábricas. Desde então, algumas leis passaram a beneficiar as mulheres. Ficou estabelecido na Constituição de 32 benefícios como a não distinção dos sexos em relação ao valor salarial, ficava vedado o trabalho feminino das 22 horas às 5 da manhã, além da proibição do trabalho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois.

De acordo com Probst (2005), embora tenha tido conquistas, algumas formas de exploração continuaram durante muito tempo. Jornadas entre 14 e 18 horas e diferenças salariais acentuadas eram comuns. A justificativa desse ato estava centrada no fato de o homem trabalhar e sustentar a mulher. Desse modo, não havia necessidade de a mulher ganhar um salário equivalente ou superior ao do homem.

Pelo fator biológico que a mulher é quem engravida e dá de mamar, foi atribuído a ela a totalidade do trabalho reprodutivo, bem como ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o trabalho doméstico. A situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior de mulheres está saindo do lar e estão ingressando no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades ainda permanecem.

Probst (2005) descreve que no Brasil, 41% da força de trabalho é exercida por mulheres, no entanto apenas 24% dos cargos de gerência são ocupados por elas. A parcela de mulheres nos cargos executivos das 300 maiores empresas brasileiras subiu de 8%, em 1990, para 13%, em 2000. De forma geral, as mulheres brasileiras recebem, em média, o correspondente a 71% do salário dos homens, ou seja, ganham cerca de 30% a menos mesmo exercendo a mesma função. E entre os que recebem mais de vinte salários, apenas 19,3% são mulheres.

Sob a ótica do contexto histórico, observa-se que o trabalho da mulher sempre foi menos remunerado do que o do homem. Seja por produzirem menos no início da industrialização, por trabalharem com bens de menor valor no mercado, por trabalharem em empregos que exigem menor qualificação ou por terem uma menor jornada de trabalho. O fato é que tais diferenças salariais ainda persistem até hoje.

Essa busca pela superação empreendida pelas mulheres tem se refletido em taxas de atividade, ocupação escolaridade crescentes e, muitas vezes, com aceleração superior às masculinas, apesar dos homens ainda serem superiores quantitativamente e apresentarem menores índices de desemprego. As mulheres têm marcado as últimas décadas mostrando autoridade no trabalho desenvolvido e força para encarar os desafios apresentados por um mercado de trabalho tradicionalmente dominado e direcionado por homens, transmitindo essa mudança de hábitos com a clareza e sensibilidade necessárias e explicitando o erro de descriminar e diminuir o sexo feminino privando-o as tarefas, primordialmente domésticas.

A mulher na organização e os novos moldes familiares

Viver uma vida familiar harmoniosa na contemporaneidade não é uma tarefa fácil e quando se trata de educar os filhos fica mais complexa ainda para os pais. Embora isso não signifique que tais responsabilidades sejam compartilhadas de forma igualitária entre o casal. Diversas pesquisas apontam que as mães têm a tendência a envolver-se mais do que os pais na rotina da criança e, geralmente, estão à frente do planejamento educacional de seus filhos (Gauvin & Huard, 1999; Stright & Bales, 2003).

Porém, observa-se um número crescente de pais que também compartilham com a esposa ou até mesmo assumem as tarefas educativas e a responsabilidade de educar os filhos, buscando adequarem-se às demandas da realidade atual. Essas situações parecem refletir aspectos do processo histórico que se sucedeu no decorrer do século XX provocando transformações no exercício da tarefa educativa nas famílias. Durante a década de 1930 até meados da década de 1980, os pais, geralmente, desempenhavam suas tarefas educativas baseados na tradicional divisão de papéis segundo o gênero (Biasoli-Alves, Caldana & Dias da Silva, 1997).

Principalmente, a partir da década de 1980 os papéis parentais passaram por transformações mais consistentes, apesar de suas representações ainda estarem relativamente marcadas por modelos tradicionais de parentalidade e paternidade (Trindade, Andrade & Souza, 1997). Importantes fenômenos e movimentos sociais, tais como, a entrada das mulheres no mercado de trabalho e sua maior participação no sistema financeiro familiar acabaram por imprimir um novo perfil à família contemporânea.

Tem-se visto que a estrutura familiar tradicional, com o pai como único provedor e a mãe como única responsável pelas tarefas domésticas e cuidado dos filhos, o que vêm ocorrendo na maioria das famílias brasileiras de nível sócio-econômico médio é um processo de transição. Atualmente, em muitas famílias já se percebe uma relativa divisão de tarefas, na qual pais e mães compartilham aspectos referentes às tarefas educativas e organização do dia-a-dia da família.

Diante deste recorte histórico, o longa aborda bem esta transição para novas concepções do modelo familiar contemporâneo, onde o esposo se torna pai em tempo integral, responsável pelas atividades domésticas e a esposa que trabalha fora, no caso é empreendedora, tem seu próprio negócio. O casal possui uma filha de 6 anos, e por falta de ajustes na relação, entra em crise. Por um lado, a esposa que é bem-sucedida na profissão, torna-se workaholic, esquecendo-se, muitas vezes, de seus outros papeis. Do outro lado, está o esposo acomodado ao papel de pai integral e insatisfeito com o casamento, trai a esposa.

Neste contexto, por meio da observação, o estagiário sênior, faz a leitura exata do prejuízo que está ocorrendo com a família de sua chefe. Escuta, reflete, opina e a ajuda a tomar algumas decisões importantes. Ela ao perceber que está sendo traída, resolve buscar alternativa de contratar um CEO, que é um supervisor que ficará à frente da empresa, contudo no fundo não é o seu desejo, pois ela gosta de estar próxima aos seus funcionários, afinal foi por meio do esforço e dedicação dela e da equipe que a empresa cresceu tão rápido.

No final do terceiro ato, o casal se entende, por meio do pedido de perdão do marido e reconhecimento dele da importância da empresa para a esposa e entram em um consenso, percebem que através do equilíbrio e da parceria, podem ser felizes. Percebe-se então, que independente do modelo familiar escolhido, o segredo para o sucesso familiar chama-se ajustes na relação, por meio do diálogo, conforme se vê no filme citado. Além disto, o fato de ambos quererem ver o projeto familiar dar certo, se esforçam mutuamente para que esta parceria perdure por muito tempo.

A duplicação da mulher para harmonizar-se sua dupla/ tripla jornada de trabalho é um trabalho laboriosa, por que além de trabalhar fora, ainda necessita exercer sua função de esposa, mãe e dona de casa. Consequentemente, as dinâmicas familiares intervêm na vida profissional, contudo, o que se observa é que a acontece intercessão da vida familiar por cauda do emprego. Portanto, o bem estar da família arrisca-se estar mais prejudicado do que a capacidade do desempenho profissional, segundo Simões (2010) segundo Faria e Barham (2004).

O modo de vivenciar o trabalho influência as relações familiares, e isso ficou muito nítido no longa-metragem, o quanto Jules Ostin tem seus momentos absorvidos no trabalho e sua dinâmica familiar tem se tornado insignificante. Atualmente, isso é um assunto que aflige especialmente as mulheres, as mães, que quando são bem resolvidas e sucessivamente bem sucedidas em relação ao trabalho, causando uma má interpretação da sociedade, que ainda tem resistências em conformar-se que as mulheres tornaram-se responsáveis por sua escolha e podem conciliar a vida com mãe, esposa e ser uma boa profissional.

REFERÊNCIAS:

FRANÇA, A. L. de; SCHIMANSKI, É. Mulher, trabalho e família: uma análise da dupla jornada de trabalho feminina e seus reflexos no âmbito familiar. Ponta Grossa: Emancipação, 2009.

SIMÕES, F. I. W; HASHIMOTO, F. Mulher, mercado de trabalho e as configurações familiares do século XX. Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas: Universidade Federal dos Vales dos Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais, ano 1, n. 2, Outubro. 2012.

PROBST, E. R. A evolução da mulher no mercado de trabalho. Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Santa Catarina: 2005 Disponíveis em: http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev02-05.pdf.

 QUERINO, L. C. S; DOMINGUES, M. D. S; LUZ, R. C, A evolução da mulher no mercado de trabalho. Revista E-FACEQ:, Ano 2, número 2, agosto de 2013. Disponível em: http://e-faceq.blogspot.com.br/.

 CABRAL, F.; DÍAZ, M. Relações de gênero. In: Secretaria municipal de educação de belo horizonte; fundação Odebrecht. Cadernos afetividade e sexualidade na educação: um novo olhar. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Rona Ltda, 1998. p. 142-150.

SCHLICKMANN, E; PIZARRO, D. A evolução da mulher no trabalho: uma abordagem sob a ótica da liderança Revista Borges, ISSN 2179-4308, Vol. 03, N. 01, 2013.

WAGNER, A.  et al, Compartilhar tarefas? papéis e funções de pai e mãe na família contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Mai-Ago 2005, Vol. 21 n. 2, pp. 181-186.

FICHA TÉCNICA DO FILME: 

UM SENHOR ESTAGIÁRIO

Diretor: Nancy Meyers
Elenco: Robert De Niro, Anne Hathaway, Rene Russo, Andrew Rannells;
País: EUA
Ano: 2015
Classificação: 10

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O Feminino na era Vitoriana na Fotografia de Julia Cameron

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Julia Margaret Cameron recebeu sua primeira câmera aos 48 anos de sua filha e de seu genro para poder se ocupar e distrair enquanto seu marido viajava. É assim que começam todas as narrativas encontradas sobre a fotógrafa. O que torna meio frustrante, pois apesar de diversas fontes nacionais e internacionais pesquisadas, parece que nenhuma realmente mostrou quem essa fotógrafa foi, somente um emaranhado de informações sobre sua primeira câmera, a época em que começou a fotografar e suas fotos borradas.

Fonte: https://goo.gl/pvyVdi

Reconheço que cada indivíduo é construído pela sua história e é isso que me traz mais frustração ao pesquisar sobre a vida dessa fotógrafa por quem criei grande admiração, informações gerais não são a história de alguém. Informações gerais não representam a vida e as vivências obtidas por essa pessoa, mas as complementam. Sendo assim, irei compartilhar a falsa história de informações gerais sobre Julia M. Cameron, mas também o que eu conheci sobre ela através de suas fotografias. Por sua história ser narrada mais comumente em blogs, sites de pessoas interessadas na arte da fotografia, sites de museus e livros de difícil acesso, será difícil colocar cada referência nas informações que irei fornecer, mas todos os links estarão disponíveis no final desse trabalho para melhores esclarecimentos.

Fonte: https://goo.gl/XrHqY8

Julia nasceu em Calcutá, 1815 e faleceu em Ceilão, 1879. Ela foi uma mulher britânica que tomou a fotografia como uma aventura pessoal. Dizem que ela era a irmã solteira de uma família de seis meninas lindas, porém o seu charme e inteligência a destacava entre as irmãs. Seu marido era um grande funcionário britânico, o que os fez ter amizades com grandes personalidades da era vitoriana, dentre eles Charles Darwin, o poeta Henry Taylor, sir John Herschel, entre outros. Consequentemente, ela retratou cada um deles e essas foram algumas de suas fotografias mais famosas. Após receber sua câmera, Julia se dedicou inesgotavelmente a fotografia. Na era vitoriana, seus retratos saíam do convencional e chegou a ser criticada por isso, mas com dois anos fotografando já havia vendido algumas de suas obras e doadas outras para o South Kesington Museum, atualmente conhecido como Victoria and Albert Museum.

No site do Victoria and Albert Museum (V&A), é relatado que apesar das críticas por suas técnicas não convencionais, a beleza de suas composições era comemorada o que mostrava que para ela a fotografia era claramente uma forma de arte. Julia transformou o quarto que abrigada o carvão de sua casa em seu quarto escuro e a sua casa de aveia se tornou um estúdio.

Ainda no site do V&A Museum vemos que a história de Julia com a fotografia começou antes dela ganhar a sua câmera. Ela já havia compilado álbuns e impresso fotografias. Realizou um trabalho híbrido entre uma imagem fotográfica com uma técnica sem câmera. Ao revelar um negativo o envolveu com samambaias, assim criou uma moldura de fotograma ao redor da foto. A fotografia que Cameron considerou seu primeiro sucesso foi um retrato de Annie Philpot e mesmo assim, ela atribuiu o mérito a garota, pois acreditava que ela havia feito a maior parte do trabalho.

Julia Cameron Fotografias

https://goo.gl/3W5ELs

Cameron não possuía interesse em estabelecer um estúdio comercial e também nunca fez retratos comissionados, ela sempre gostou de fotografar amigos e família. Suas fotografias, marcadas pela subjetividade, tem a característica de sempre estar representando algo. Ela chegou a construir personagens para encarnar figuras clássicas, modernas, religiosas e literárias. Para realizar a arte da fotografia ela se envolvia na arte do teatro, assim seus retratos eram compostos.

Fonte: https://goo.gl/akzhaz

Transformou crianças em Cristo, Cupido e anjo representando a Madonna Sistina de Raphael. Ela nunca pretendeu realizar fotografias formais de estúdio muito menos retratos comerciais, sua aspiração era enobrecer a fotografia, assim assegurando-a o caráter do uso de altas artes, trabalhando o real e o ideal, mostrando o verdadeiro e sendo devota a poesia e à beleza. A sua meticulosidade em montar os seus retratos muitas vezes cansava os seus modelos, porém mesmo com a sua suposta falta de técnica e o cansaço dos modelos, suas fotos são extremamente lindas e significantes. Nas imagens apresentadas conseguimos ver as duas características principais das fotografias de Cameron, a representatividade do poético e religioso, e a técnica peculiar utilizada pela fotógrafa.

Fonte: https://goo.gl/YJaEh6

Basicamente todas as suas fotos tem o que era considerado problemas com a iluminação e manchas, representando a suposta ausência de técnica. Para mim, Julia nunca teve ausência de técnica, apenas não se manteve presa a técnica comum da época, se permitiu ser conduzida pela arte, sem barreiras, isso fez com que surgisse a sua técnica em particular. É claro que essas características das fotos de Cameron não eram acidentes, eram propositais e para conseguir reproduzi-las dessa forma ela criou sua própria técnica e a manteve.

Fonte: https://goo.gl/G2xNEL

O que eu conheci de Julia pelas suas fotografias e a sua história superficial é que ela era uma mulher independente, criativa, e que mesmo com as críticas sofridas na época, como não ser aceita na sociedade dos fotógrafos, não se deixou abater e muito menos mudou o seu jeito de fotografar. Manteve o seu olhar, manteve as suas ideias, manteve os seus princípios. Julia Cameron é um símbolo ímpar feminino na era vitoriana e infelizmente não tem a sua história contada. Sua personalidade parece ser fantástica, afinal poucas mulheres do século XIX conseguiram receber o reconhecimento e ser respeitada por pessoas ilustres como ela foi. Julia Margaret Cameron é inspiração.

REFERÊNCIAS:

VICTORIA AND ALBERT MUSEUM. Julia Margaret Cameron: Working Methods. 2016. Disponível em: <http://www.vam.ac.uk/content/articles/j/julia-margaret-cameron-working-methods/>. Acesso em: 10 mai. 2017.

SZARKOWSKI, John. Julia Margaret Cameron. 2016. Disponível em: <http://www.atgetphotography.com/The-Photographers/Julia-Margaret-Cameron.html>. Acesso em: 10 mai. 2017.

REVISTA LA FUNDACIÓN. Julia Margaret Cameron: Pioneira do Reconhecimento da Fotografia como Arte. 2016. Disponível em: <https://revistalafundacion.com/marzo2016/pt-pt/exposicao/>. Acesso em: 10 mai. 2017.

THE MET. Julia Margaret Cameron. 2015. Disponível em: <http://www.metmuseum.org/toah/hd/camr/hd_camr.htm>. Acesso em: 10 mai. 2017.

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Famílias, Gêneros e Violências

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Em “Famílias, Gêneros e Violências”, as autoras Narvaz e Koller discutem a transmissão transgeracional da violência de gênero intrafamiliar. Ou seja, elas trazem a afirmativa de que a violência de gênero, principalmente para com as mulheres, é algo passado de geração para geração, dentro do seio familiar. Assim, as mulheres não reescrevem apenas sua história individual, mas também a história coletiva de todas as mulheres.

Segundo as autoras, cada família possui histórias, romances e segredos que são contados e recontados de geração em geração. Entre estes, há segredos que geram grande medo em serem revelados. A relação de dominação e submissão é um deles. Para que a revelação desses segredos ou o recontar de histórias sejam saudáveis. ou contribuam para a promoção de saúde, é necessário que a própria família se torne espaço confiável de compartilhamento, encontrando-se disponível à mudanças, transformando alguns percursos históricos e tradicionais.

A violência intrafamiliar não é algo de hoje, ela tem fundamento histórico. O que se vê hoje em um grande número de famílias, no que tange à violência de gênero, observa-se desde tempos remotos, em que a mulher possuía o papel de cuidar da prole e da casa, servindo sempre ao “macho alfa”, e sendo submissa a ele. Isso deixou um legado histórico, incrustrado na mentalidade de todos, refletidos no machismo e na sociedade falocêntrica existentes ainda nos dias atuais.

Fonte: http://zip.net/bhtJqC

Muito já foi conquistado pelas mulheres, graças ao movimento do Feminismo. Porém, parece sempre haver um pensamento primeiro de que a mulher é submissa, e fim de papo. Para que a mudança desse pensamento também ocorra, talvez ainda leve muito tempo, pois esse teve início também há muito tempo, agarrando-se com unhas e dentes e de modo coletivo no interior de cada um.

Essa mudança caminha a passos lentos, mas a família, que fora a própria causadora dessa submissão transgeracional de gênero, é o órgão capaz de começar a transformação. É como curar uma picada de cobra com o veneno da mesma cobra. Ou seja, é no seio familiar que pode ocorrer uma mudança de rota, sendo os homens os principais guias, percebendo suas mulheres não como alguém abaixo ou atrás de si, mas ao seu lado. Dessa forma, caminhando juntos para a construção de um lar, e de uma família, em que o respeito e a paz reinam no dia a dia.

Referência

NARVAZ, M. G.; KOLLER, S. H. Famílias, Gêneros e Violências: Desvelando as tramas da transmissão transgeracional da violência de gênero. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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Kassandra Valduga: a mulher, a aparência e a feminilidade

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Kassandra-26

Assim como a preocupação excessiva com a aparência pode denotar uma fragilidade psíquica, o total desapego também é reflexo de um desinvestimento em si mesmo.

Em entrevista ao portal (En)Cena, a jornalista e consultora de imagem Kassandra Valduga demonstra que trabalhar com moda exige bem mais que estar antenada com as tendências ou seguindo-as. O que importa, ao final, é o bem estar do cliente, e para isso sua personalidade deve ser investigada a fundo antes de se identificar a vestimenta mais adequada. Dentre outras coisas, também tratamos dos conceitos de mulher, feminilidade, vantagens e desvantagens do gênero, dentre outros assuntos.

(En)Cena – Para iniciar nossa conversa: o que é ser mulher e o que é ser feminina?

Kassandra Valduga – Ser mulher é ser especial, é ser habilidosa de forma genuína, com charme e graça. É um ser humano com plus, é ter a possibilidade de encantar, em qualquer coisa que faça. E muito disso se expressa através da feminilidade, que pede doçura, delicadeza. Ser feminina é saber explorar o que é ser mulher.

(En)Cena – Então, ser mulher implica em ser feminina para você? Como atender uma cliente não feminina, por exemplo, se tivesse que atender uma homossexual que não gosta muito de feminilidade mas também não é uma transgênero que quer parecer muito masculina. Já pegou um trabalho assim?

Kassandra Valduga – Ser mulher não implica só em ser feminina, mas acho que a feminilidade pode ser encarada como um ponto positivo e não como fraqueza. Seria interessante fazer consultoria para uma homossexual. Tentaria entender o quem ela é como o de qualquer outra cliente. Pessoalmente nunca peguei um caso assim, mas virtualmente sim. Fiz uma consultoria express para duas mulheres que iam se casar e não sabiam o que usar porque não queriam usar vestido, mas também não queriam parecer masculinas. E postei as sugestões no Super Combina. Foi uma matéria que teve muita repercussão e acredito que tenha ajudado as noivas  em questão pelos depoimentos que recebi. Homossexualidade não é um tabu para mim.

(En)Cena – Se não todos, mas a maioria de seus clientes são mulheres. Quando você é chamada para uma consultoria de imagem, qual a sua principal preocupação, o que norteia seu trabalho?

Kassandra Valduga – Quase 100% são mulheres, até porque tenho voltado meu trabalho cada vez mais para elas. Não tem como fazer consultoria dissociada do emocional da mulher e tenho focado muito nisso, em trabalhar o emocional com a imagem. Mas minha maior preocupação é conseguir adentrar o mundo dessa pessoa, é fazê-la entender o que ela gosta de usar, qual sua essência e como transformar isso em uma boa imagem. Porque elas pensam que a consultoria pessoal obedece a regras de certo e errado, de pode e não pode, como a consultoria corporativa, mas não tem nada a ver com isso.

(En)Cena – A partir da sua experiência com suas clientes, o que você diria que são as principais preocupações e angústias dessas mulheres ao te chamarem?

Kassandra Valduga – Aparentemente é de não saber fazer combinações, de não conseguir explorar o que tem no guarda-roupa. Mas na verdade é insegurança com a própria imagem, é falta de conhecimento do próprio estilo, baixa autoestima com a aparência e falta de informação sobre moda. É não saber se estão adequadas para o ambiente de trabalho, para a idade, para o próprio corpo, ou para uma nova fase como o casamento ou maternidade.

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(En)Cena – Como você trabalha os conflitos entre a imagem X identidade de alguém?

Kassandra Valduga – Não dá para construir uma “nova” imagem de alguém sem ter como pilar a sua identidade. Caso contrário, ela não conseguiria se vestir sozinha. Você constrói uma imagem quando trabalha um personagem, um artista no palco, mas no dia a dia, ninguém mantém. Muitas vezes acontece da pessoa projetar uma imagem que ela consideraria ideal e querer ser aquilo, mas se não estiver na essência dela não se sustenta. Procuro mostrar o que a pessoa tem de melhor e que ela pode fazer milagres pelo próprio visual com um pouco de dedicação.

(En)Cena – Qual o trabalho mais difícil que você já encarou e por que ele foi considerado difícil?

Kassandra Valduga – Em consultoria de imagem e moda foi atender políticos para produção de material de campanha. Porque mal dá tempo para conhecer a pessoa, e ter que criar um diferencial, colocar a pessoa com uma boa imagem, selecionar cores que combinem com ela é um desafio. Além disso, tem toda uma equipe opinando. Em trabalhos como este, onde vai sobressair uma foto ou 30 segundos de TV, um brinco ou uma gola que não caiu legal pode comprometer tudo.

(En)Cena – No mundo da moda, como você percebe a mulher frente ao mercado. Há mais homens ou mulheres em destaque, que leitura você faz dessa situação?

Kassandra Valduga – A mulher domina o mercado da moda. Se falarmos em estilismo, as grifes internacionais tem muitos homens à frente, mas o restante da cadeia é toda dominada por mulheres. No Brasil elas ditam moda, sejam estilistas, empreendedoras, jornalistas, editoras, blogueiras, modelos, produtoras, enfim… O peso do homem nessa área é tímido, tomou um pouco mais de corpo de 2010 para cá.

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(En)Cena – Você já encontrou alguma dificuldade por ser mulher, ou esse fato já te favoreceu em algum momento?

Kassandra Valduga – Eu encontro as mesmas dificuldades que todas as mulheres no mercado de trabalho, com a família, com a sociedade, nos relacionamentos. Claro que são dificuldades inerentes ao gênero. Antes de trabalhar com moda, como assessora de imprensa e gestora de comunicação na área pública, o ambiente era mais hostil. Hoje tenho mais fluidez no trabalho, embora ainda sinta alguma dificuldade nos trâmites burocráticos. Por exemplo, o Super Combina foi o único projeto inscrito por uma mulher, selecionado para o Programa de Aceleração de Startups do Sebrae em 2017, em um universo de 20 empresas. Participando do programa tem eu e 19 homens.

(En)Cena – Qual a principal vantagem em ser mulher?

Kassandra Valduga – Hoje em dia, é poder fazer as próprias escolhas e viver os sabores e dissabores disso, e ainda assim segurar a maior onda, ter jornada dupla e ser linda.

(En)Cena – Entrando um pouquinho na sua vida pessoal, ao logo da sua história em que te favoreceu o fato de ser mulher com seus parentes, amigos, amores, na fase escolar ou profissionalmente?

Kassandra Valduga – Sempre amei ser mulher e me sinto especial por isso. Fui a primeira neta do lado materno, em uma família onde só tinham mulheres (minha avó e três filhas), então eu já comecei recebendo todos os mimos e completamente inserida no universo feminino. No interior do Rio Grande do Sul, para uma família pobre, o melhor que uma mulher podia ter era casar. Embora meus pais tenham vivido essa geração, fui criada para ser independente. Isso não significa que não desejo formar uma família. Piloto bem um fogão muito bem, mas por opção, não por obrigação. Então eu usei tudo que sabia como mulher, toda a graciosidade e coloquei isso na minha vida profissional. Hoje eu oriento mulheres a serem mais mulheres, a se amar mais, a aprender a valorizar sua beleza, sua imagem, a aproveitar a moda a favor delas.

(En)Cena – Houve algum momento na vida em que ser mulher representou uma dificuldade para você?

Kassandra Valduga – Dificuldade propriamente não, mas em muitas situações o fato de ser mulher se sobressaiu mais que o meu conteúdo, o meu conhecimento, e isso me constrangia. Mas aprendi a tirar proveito disso. Se a mulher se sobressai, chego como mulher primeiro e depois mostro minhas competências como profissional e minhas qualidades como pessoa. Não só para mim, mas para todo mundo, a imagem vem primeiro.

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(En)Cena – Para finalizar, vamos falar do Super Combina, como nasceu esse projeto?

Kassandra Valduga – O Super Combina é um site que virou uma empresa com outros serviços agregados. Ele nasceu de um sonho antigo de ser editora de moda e com muito incentivo dos amigos para que eu fizesse algo na área. Dividi a ideia com a Agência Public e eles abraçaram o projeto. Comecei o site em 2015 para divulgar informações de moda, beleza e lifestyle que tivessem a ver com nossa realidade. Hoje o Super Combina é uma empresa que agrega os serviços de consultoria, palestras, treinamentos de imagem pessoal e corporativa e o curso Tire o vestir do automático, que faço em parceria com psicóloga Karina Leiko.

(En)Cena – Desmistificando a moda como algo superficial e fútil, de acordo com a visão de algumas pessoas, como você diria que a partir da moda as pessoas são ajudadas? E como você usa seu site para fazer esse trabalho?

Kassandra Valduga – Moda é uma forma de expressão. O vestir passa pela personalidade. Você externa o que é por dentro. O fútil é você querer a qualquer custo obedecer a um padrão, a um estilo só porque você quer ser aceita socialmente, quer se destacar de alguma forma. Quando você usa o que você ama, o que te deixa feliz, você fica muito mais bonita. As pessoas começam a ser ajudadas a partir do momento que elas entendem o que elas gostam de vestir, e usam a moda como fonte de informação para aprimorar seu visual. No supercombina.com.br tento fazer isso. Mostrar o que é legal pra quem. Como você pode usar uma t-shirt com jeans e no trabalho.

(En)Cena – Só mais uma pergunta: sobre a obsessão pelo corpo magro. Você observa isso entre as suas clientes? Como trata dessa questão de aceitação pessoal?

Kassandra Valduga – Hoje, muito mais que a magreza, o que as mulheres buscam é o corpo gostoso. Acreditam que só vão vencer a concorrência com coxas grossas, barriga sequinha e bumbum empinado. A mídia continua insistindo no padrão de beleza magro, especialmente as blogueiras que já acordam maquiadas e escovadas. Eu brinco que mulheres da vida real são diferentes, o que não impede, claro, da gente se cuidar. Passar uma maquiagem, ter um cabelo hidratado, emagrecer, se o peso é um incômodo. Mas a necessidade de estar no padrão deixa muitas mulheres infelizes e as fazem buscar cada vez mais cirurgias estéticas. Tudo é motivo para uma lipo. Conheço gente que já fez duas. Não adianta nada se você não muda seus hábitos de vida. Aceitar suas peculiaridades, mesmo que a seus olhos pareçam “defeitos”, e aprender a valorizar seus pontos fortes é a chave para a felicidade quando se fala em imagem pessoal.

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O mito do Sexo segundo Márcia Tiburi

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Em uma participação no programa Café Filosófico, Márcia Tiburi [1] nos traz uma excelente reflexão sobre a condição de ser mulher e a construção de ser feminina, bem como esses fatores se relacionam com o sexo e o poder. O mito é uma narrativa explicativa criada para esclarecer algo que não é explicado pela lógica. O interessante é que mesmo havendo uma elucidação racional para os fatos, o mito não foi eliminado, ele continua tendo sua função na subjetividade humana.

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O sexo, no sentido do feminino e do masculino, também é um mito, são papeis criados para definir aspectos do homem e da mulher que não necessariamente fazem parte daquilo que eles são naturalmente, mas que ajudam na definição da identidade do ser. Considerando que historicamente os homens implantaram seu território de domínio na esfera pública e a mulher, talvez por sua condição reprodutiva, não teve tanta possibilidade de ocupar com tanta veemência o mesmo espaço, o papel do masculino acabou se fixando fortemente como aquele que detém o poder fora da casa, enquanto que para elas foi bastante limitado o papel de cuidar das crias e garantir o equilíbrio do lar.

Esses papeis delimitados por uma sociedade onde quem faz as leis são os homens, obviamente favorece quem cria as regras e não pode deixar de conter traços patriarcais. A essa criação sobre o como deve ser ou comportar uma mulher e um homem, a filosofia coloca na condição de mito.

Márcia Tiburi comenta sobre a questão da força e do poder atribuídos à imagem masculina, dizendo que “o poder” (enquanto substantivo) jamais será feminino, visto que é forte e a força é masculina (obviamente uma referência à aspectos físicos biológicos e não a aspectos emocionais subjetivos). Ela também fala sobre como “a delicadeza” é atribuída à imagem feminina, tanto que se um homem é um pouco mais delicado atribuímos a ele certa feminilidade.

O discurso patriarcal sobre o feminino está em todos os lugares, nem há como fazer uma genealogia que nos leve a origem do patriarcado, toda a nossa história, linguagem e racionalidade é patriarcal, não há como escapar disso, mas esse patriarcado precisa ser reconstruído a partir de uma crítica consistente a essa construção. Muitos autores defendem que o feminino é uma essência, uma natureza que precede a construções sociais e históricas que precedem o patriarcado. Mas, o feminino é mais amplo que a natureza, é também uma construção opositora ao paradigma do que é masculino, e a construção dos gêneros foi feita tendo o masculino como referência.

Márcia Tiburi. Fonte: http://zip.net/bmtFDg
Márcia Tiburi. Fonte: http://zip.net/bmtFDg

Entretanto, desde sempre as mulheres tiveram os mesmos desejos e potencialidades dos homens, mas a elas foi limitado o poder exercê-las e, apesar do mito do sexo e da construção paternalista das ideias de masculino e feminino, o homem e a mulher estão condicionados ao corpo em que nasceram, e no sentido biológico, o corpo nos é inexorável, somos aquilo a nossa condição, temos corpo de homem ou de mulher, hormônios de homem ou de mulher, a força física e a forma de homem ou de mulher e uma série de aspectos que também podem ser flexibilizados de acordo com a quantidade de hormônio que cada um tem, mas que não podem ser negados como características. Quando a anatomia não combina com o desejo iremos experimentar o conflito, mesmo que este possa ser superado. A pergunta a se fazer é como experimentamos o nosso corpo sendo este inexorável?

O sexo, portanto, não pode ser o sentido, mas sim a relação com o outro e isso está no sentido político como relação com o poder. A relação com o sexo pode ser construtiva ou destrutiva, produtiva ou não. Uma vida justa, boa e descente deve ser a busca, e o sexo apenas faz parte disso, mas não pode ser o foco do nosso sentido. O sentido está no todo, na complexidade e na totalidade do ser. Assim, fica lançada a reflexão: Qual a função do feminino para a própria mulher, não apenas para a sociedade?

REFERÊNCIAS:

[1] https://www.youtube.com/watch?v=6JNnFRf87DI

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