A invisibilização de mulheres lésbicas pela heterossexualidade compulsória

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A heterossexualidade compulsória refere-se a uma série de comportamentos, regras coletivas e imposições determinadas por papéis sociais estabelecidos historicamente para os indivíduos, estes atrelados à heteronormatividade. Historicamente, esses padrões apresentam-se como regras sociais em que o gênero e a sexualidade são direcionados para a heterossexualidade como a única forma possível de existência para a manutenção desse sistema heteronormativo.

Louro (2009) descreve que a heterossexualidade é uma construção social que exige investimentos e esforços criteriosamente elaborados para colocar em funcionamento sua normatização. As forças regulatórias que produzem as masculinidades e feminilidades sob a ótica heteronormativa afirmam que a única forma de atração sexual legítima é entre um homem (pênis/masculino) e uma mulher (vagina/feminino).

Fonte: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

23ª Parada do Orgulho LGBT em Brasília.

Enraizada, a heteronormatividade é indutiva ao pensamento de que somente o relacionamento heterossexual, entre um homem e uma mulher cisgêneros, é considerado correto e normal, portanto estabelece-se como norma social que impacta de forma biopsicossocial os seres humanos que estão em contrapartida a essa norma. Nesse sentido, a sociedade compreende a heterossexualidade como superior e, em consequência, ocorre a marginalização de outras orientações sexuais.

Como consequência, estar fora desse padrão acarreta na construção histórica e fomento da homofobia, forma de preconceito que inferioriza homossexuais e a lesbofobia, que violenta mulheres lésbicas de diversas formas, desde agressões verbais, psicológicas, até violências físicas e homicídios.

A heterossexualidade é uma imposição social submetida através de diversas maneiras para influenciar e determinar que os seres humanos sejam obrigados a serem heterossexuais por ser percebida como a única forma correta de relação amorosa. Conforme Miskolci (2011), a diretriz heteronormativa induz que todos os sujeitos, independente da orientação sexual, adotem o modelo hegemônico da heterossexualidade supostamente por ser uma ordem social do que é correto e natural do que se espera ao curso da vida.

            Esse modelo é organizacional, político, imposto e naturalizado historicamente e violenta todas as mulheres, pois determina desde o que deve-se vestir até comportamentos de supervalorização dos homens e relacionamentos com eles com o intuito servi-los, satisfazê-los e de invisibilizar quem não seguem esse padrão, a exemplo das mulheres lésbicas cisgênero e transsexuais, bissexuais ou que não performam feminilidade. Nesse contexto, as mulheres lésbicas são violentadas de forma biopsicossocial ao longo de toda a vida e não possuem espaço para existir, sendo silenciadas em todos os espaços sociais.

  A heteronormatividade é um sistema mantido por padrões sociais embasada em um discurso evolutivo de possibilidade de procriação, na instituição do casamento, na submissão da mulher, o que contribui para que sua essência seja apagada e ela não tenha propriedade do seu corpo, sendo uma forma evidente de controle. Pode-se perceber que seu intuito, em suma, resulta na apropriação pessoal e coletiva pelos homens em quesito de gênero, sexualidade e existência das mulheres.

            De acordo com Butler, 1994:36-37 […} o que a pessoa sente, como age e como expressa sua sexualidade em articulação e consonância com o gênero. Há uma causalidade e identidade particulares que se estabelecem na coerência do gênero, ligada à heterossexualidade compulsória.

Entendendo a sociedade de forma sociocultural hétero-cis normativa, com padrões de comportamentos, identidades e performances de gênero e sexualidade pré-determinados antes mesmo do nascimento dos seres humanos, a influência que a heterossexualidade compulsória atinge na vida das mulheres lésbicas é contínua e resulta em um sofrimento infindável gerado pelo sentimento de não pertencimento e invisibilização do existir.

Portanto, ainda que menos discutida do que deveria, a imposição da heterossexualidade compulsória e opressões e violências ocasionadas por ela na vida de mulheres lésbicas está presente em um contexto histórico-político em que a ideia da heterossexualidade retira o poder existir e também a liberdade das mulheres de forma estrutural.

REFERÊNCIAS

BUTLER, Judith .1994. Gender as Performance. Radical Philosophy, a Journal of socialist & feminist philosophy, 67, Summer, p.32/39.

COUTO JUNIOR, D. R. “Aí que acaba meu mar de rosas e começa o meu calvário: gênero, sexualidade e o aprendizado com a diferença. Periferia, vol. 9, núm. 2, pp. 59-79, 2017. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

MISKOLCI, R. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

 

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Em pesquisa inédita do IBGE, 7 mil adultos se declararam homossexuais ou bissexuais em 2019 no TO

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Cerca de 7 mil pessoas se declararam homossexuais ou bissexuais, no Tocantins, em 2019, o que correspondia a 0,6% da população adulta, maior de 18 anos. Os dados divulgados nesta quarta-feira, 25, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – Quesito Orientação Sexual, que investigou pela primeira vez essa característica da população brasileira, em caráter experimental.

Em 2019, havia cerca de 1,1 milhão de pessoas de 18 anos ou mais no estado do Tocantins. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde, desse total, 96,3% se declararam heterossexuais; 0,6% homossexuais ou bissexuais e 3,0% não sabiam sua orientação sexual ou não quiseram responder, correspondendo a um total de 34 mil tocantinenses.

“O número de pessoas que não quiseram responder pode estar relacionado ao receio do entrevistado de se autoidentificar como homossexual ou bissexual e informar para outra pessoa sua orientação sexual”, analisa a coordenadora da pesquisa, Maria Lúcia Vieira.

Na Capital, Palmas, havia aproximadamente 213 mil adultos, em 2019. Conforme a pesquisa, 96,4% (206 mil) se declararam heterossexuais, 1,6% (3 mil) homossexuais ou bissexuais e 1,9% (4 mil) se recusaram a responder ou não sabiam sua orientação sexual.

Fonte: encurtador.com.br/aiqIS

Cenário nacional
No país, 2,9 milhões de pessoas se declararam homossexuais ou bissexuais, o que correspondia a 1,8% da população adulta, maior de 18 anos. No Sudeste o percentual foi de 2,1%, no Norte e no Sul 1,9%, no Centro-Oeste 1,7% e no Nordeste 1,5%. Entre as Unidades da Federação, o percentual chegou a 2,9% no Distrito Federal, 2,8% no Amapá e 2,3% no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Amazonas.

Conforme a pesquisa, 94,8% dos brasileiros adultos se declararam heterossexuais; 1,2% homossexuais; 0,7% bissexuais; 1,1% não sabiam sua orientação sexual; 2,3% não quiseram responder; e 0,1% declararam outra orientação sexual.

Os percentuais obtidos para os estados e as capitais não devem ser comparados, pois não são considerados significativamente diferentes entre si em função do intervalo de confiança dessas estimativas.

Fonte: encurtador.com.br/irtK2

Censo 2022
Perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero não foram incluídas nos questionários do Censo Demográfico 2022, porque a metodologia de captação das informações permite que um morador possa responder por ele e pelos demais residentes do domicílio. “Pelo caráter sensível e privado da informação, as perguntas sobre a orientação sexual de um determinado morador devem ser respondidas por ele mesmo”, explica o diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo.

Cimar destaca que o IBGE entende a importância do tema e está atento à demanda da sociedade por esses dados. Por isso, desenvolveu na PNS, uma das maiores e mais importantes pesquisas de saúde no Brasil, questão específica sobre a orientação sexual. A metodologia da PNS viabiliza o estudo desse tipo de dado.

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Homofobia e Reorientação Sexual é tema de palestra de encerramento do CAOS

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Ocorreu na última sexta-feira (24) a palestra de encerramento do CAOS, no Auditório Central do Ceulp, mediada pelo Dr. Em Ciências do Comportamento (UNB) Fábio Henrique Baía. A palestra fechou o evento com chave de ouro e teve como tema ‘Homofobia e Reorientação Sexual: o que a ciência diz?’.

Fábio iniciou explicando o ´´biscoito sexual“: o sexo biológico é o sexo cromossomático ou o sexo genital, automaticamente interligado a reprodução. A identidade de gênero é o sentir-se feminino ou masculino, independente da anatomia, um exemplo são os trans. Expressão de gênero está relacionado a forma como a pessoa se veste, se apresenta e age, um exemplo são os andrógenos. E por fim, a orientação sexual se refere ao que a pessoa sente e pensa sobre si, assim como sua afetividade e sexualidade, podendo ser heterossexual, homossexual e/ou bissexual.

Fonte: encurtador.com.br/bfmWZ

O psicólogo informou sobre o perigo de pesquisas com intuito de reorientação sexual, visto que os danos são maiores que os benefícios. E frisou a importância da atuação do psicólogo, visto que é comum demandas relacionadas a sexualidade. Logo, a psicologia ´´deve contribuir com seu conhecimento para esclarecimento sobre questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações“, afirmou.

Outro ponto importante foi a explanação de características de pessoas homofóbicas, pesquisa realizada por Herek (1984). Algumas delas são: geralmente frequentam igreja regularmente e aderem à ideologias conservadoras; em geral são mais velhos e com menor educação; são menos capazes de identificar atitudes negativas (preconceituosas) em seus amigos, especialmente se forem homens; são menos permissivos sexualmente ou manifestam culpa ou negatividade sobre sexo.

Por fim, Fábio terminou com a seguinte frase de Pirula e Lopes (2019): ´´ou seja, quanto menos a população for seduzida a acreditar nesses tratamentos, melhor para gays, lésbicas, transgêneros e outras variantes, pois menor o risco de esses procedimentos serem oficializados por governantes mirando a opinião pública em busca de votos. Por isso, é bom que as pessoas saibam o que a ciência diz sobre homossexuais.“

Fonte: Acervo Pessoal
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Homofobia e Reorientação Sexual é tema de palestra de encerramento do CAOS

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Ocorreu na última sexta-feira (24) a palestra de encerramento do CAOS, no Auditório Central do Ceulp, mediada pelo Dr. Em Ciências do Comportamento (UNB) Fábio Henrique Baía. A palestra fechou o evento com chave de ouro e teve como tema ‘Homofobia e Reorientação Sexual: o que a ciência diz?’.

Fábio iniciou explicando o ´´biscoito sexual“: o sexo biológico é o sexo cromossomático ou o sexo genital, automaticamente interligado a reprodução. A identidade de gênero é o sentir-se feminino ou masculino, independente da anatomia, um exemplo são os trans. Expressão de gênero está relacionado a forma como a pessoa se veste, se apresenta e age, um exemplo são os andrógenos. E por fim, a orientação sexual se refere ao que a pessoa sente e pensa sobre si, assim como sua afetividade e sexualidade, podendo ser heterossexual, homossexual e/ou bissexual.

Fonte: encurtador.com.br/xyGM4

O psicólogo informou sobre o perigo de pesquisas com intuito de reorientação sexual, visto que os danos são maiores que os benefícios. E frisou a importância da atuação do psicólogo, visto que é comum demandas relacionadas a sexualidade. Logo, a psicologia ´´deve contribuir com seu conhecimento para esclarecimento sobre questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações“, afirmou.

Outro ponto importante foi a explanação de características de pessoas homofóbicas, pesquisa realizada por Herek (1984). Algumas delas são: geralmente frequentam igreja regularmente e aderem à ideologias conservadoras; em geral são mais velhos e com menor educação; são menos capazes de identificar atitudes negativas (preconceituosas) em seus amigos, especialmente se forem homens; são menos permissivos sexualmente ou manifestam culpa ou negatividade sobre sexo.

Por fim, Fábio terminou com a seguinte frase de Pirula e Lopes (2019): ´´ou seja, quanto menos a população for seduzida a acreditar nesses tratamentos, melhor para gays, lésbicas, transgêneros e outras variantes, pois menor o risco de esses procedimentos serem oficializados por governantes mirando a opinião pública em busca de votos. Por isso, é bom que as pessoas saibam o que a ciência diz sobre homossexuais.“

 

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Azul é a cor mais quente?

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O que “Azul é a Cor Mais Quente” tem a oferecer para se pensar os discursos de gênero e sexualidade que perpassam a homossexualidade feminina?

O filme, produzido por Abdellatif Kechiche e protagonizado, principalmente, por Léa Seydoux (Emma) e Adèle Exarchopoulos (Adele) foi inspirado em uma HQ chamado “Le bleu est une couler chaude” (Azul é uma cor quente) da escritora Julie Maroh. Tanto o longa quanto a história em quadrinhos tem como foco o encontro entre Adèle (que na HQ chama-se Clémentine) e Emma.

Porém, no desenrolar da história, percebe-se inúmeras diferenças na perspectiva entre as duas narrativas, o que posteriormente ao lançamento do filme, Julie Maroh considerou algo normal, já que ela não participou das filmagens e alega que o filme se trata de uma adaptação livre (MAROH, 2013).

Resumindo (e muito) o longa que tem uma duração de quase 3 horas, Adèle é uma garota de 15 anos que está descobrindo sua sexualidade e se divide entre completar o ensino médio e dar aulas para crianças. Já Emma, a jovem adulta de cabelos azuis (motivo pelo o qual se deu o nome do filme), é uma artista plástica, tem sua sexualidade resolvida e namora uma menina.

Enquanto Emma sonha em ser uma artista e frequenta vários ambientes, desfrutando de oportunidades e certos privilégios por participar de uma estrutura familiar com padrões considerados altos, Adèle é uma jovem do interior, de poucas ambições, possui pais mais simples e que são bem objetivos quando pensam no futuro.

Fonte: encurtador.com.br/ptFP1

As duas começam a se conhecer e percebem o quanto suas vidas são diferentes, mas inicialmente, isso não as impedem de iniciar um relacionamento intenso. Muito influenciadas pelos distintos contextos que estão inseridas, assumem posturas diferentes, Emma assume publicamente seu novo relacionamento e Adele permanece no “armário”.

O filme recebeu muitos elogios, teve várias premiações, tendo como uma das mais ilustre, a Palma de Ouro em 2013. Mas, um olhar mais crítico traz a tona reflexões e questionamentos que, a primeira vista, são ignorados pelo grande público e até mesmo, pelos públicos pertencentes às temáticas tratadas no longa. Um dos grandes questionamentos que surgem é sobre os discursos de gêneros e sobre as diferentes formas de se pensar a sexualidade.

A sexualidade dentro das diversas formas de expressão e a identidade de gênero, são temas que vem aparecendo com bastante recorrência na mídia. Contudo, devemos ficar atentos e nos questionarmos como essa vinculação está sendo feita, pois, muitas vezes, há uma clara reprodução das práticas heteronormativas. Portanto, mais especificamente, o que “Azul é a Cor Mais Quente” tem a oferecer para se pensar os discursos de gênero e sexualidade que perpassam as homossexualidades femininas?

A maneira que o longa foi dirigido e a forma que narra a história, possibilita ao público a (re)afirmação e uma nova (re)constituição da construção normativa e limitada das homossexualidades femininas (BATISTA, 2014), nos levando a identificar “aspectos permeados por relações de sexualidade e gênero envoltas pela dominação masculina e por um ideal heterossexista” (CAPRONI NETO, H. L.; SILVA, A. N.; SARAIVA, L. A. S, 2014, p. 247).

Fonte: encurtador.com.br/ipwES

A relação amorosa das personagens pode ser identificada como uma relação de poder que permeia a visão heterosexista, pois a trama se baseia no envolvimento de Emma, a lésbica mais masculinizada, e Adele, a garota que está descobrindo sua sexualidade e se porta na sociedade de forma mais feminina. O desfecho do filme foca, principalmente, no impacto que a primeira (Emma) causa na vida da segunda (Adele).

Pino (2007) fez pontuações importantes sobre os marcadores de gêneros supracitados e define que há um “enquadramento de todas as relações mesmo as supostamente inaceitáveis entre pessoas do mesmo sexo em um binarismo de gênero que organiza suas práticas, atos e desejos a partir do modelo do casal heterossexual reprodutivo” (PINO, 2007, p. 160).

Esse binarismo pode ser identificado novamente quando Adele e Emma vão morar juntas, e, então, a primeira passa a sentir-se insegura em relação à segunda, e acaba se envolvendo com seu colega de trabalho. Quando descobriu a traição, Emma expulsa Adéle de casa, e a partir disto, até o fim do filme, Adele se sente culpada e tenta viver sua vida sem “a menina do cabelo azul”. Depois disse, Adele mostra-se infeliz e tentar reconquistar Emma, mas sem sucesso, pois a mesma já começa a se envolver com outra mulher.

Somando mais características do longa ao que as heteronormatividades e as homonormatividades ponderam, percebemos a repetição da regra que dita que a mulher lésbica sempre deverá experimentar sexo com pelo menos um homem na sua vida. Batista (2007) argumenta que os produtos midiáticos não retratam a necessidade do contrário, ou seja mulheres héteros não demonstram, com frequência, a necessidade de se relacionarem sexualmente com outras mulheres para ter certeza da sua heterosexualidade.

Fonte: encurtador.com.br/guY28

Essa “regra” é percebida nos comportamentos de Adele mais especificamente em dois momentos, no início do filme quando a protagonista se ver interessada por mulher e ao sentir desconforto com esse desejo, se submete há experienciar uma relação com o sexo oposto, e no desenrolar da trama, quando Emma e Adele já morando juntas, entram em um conflito e a sexualidade de Adele também, e a mesma acaba se relacionado com um homem.

Outra “regra” percebida é a “descoberta” de Adele da sua sexualidade. O Filme expõe isso como um momento bastante conturbado e confuso, no qual é comum ser experienciada uma tristeza e um momento de difíceis conflitos em não se identificar como heterossexual.

Portanto, ao firmarem constantemente somente essa maneira de se vivenciar a sexualidade, os produtos midiáticos como o filme “Azul é a Cor Mais Quente” passam a sensação que não existe a exceção, de que não há a possibilidade de se perceber homossexual sem passar por uma série de traumas, tristezas e sem experimentar o sexo com um homem (BATISTA, 2007).

Smigay (2002, p.35) argumenta que “apenas um pensamento antissexista é capaz de airmar o direito a diferenças individuais, entre gêneros e intragêneros, descolados da biologia, rompendo com a perspectiva essencialista”, mas que isso somente será capaz se houver uma ampliação na perspectiva, entendo os seres para além do olhar biologicista, reconhecendo o peso da cultura e considerando a alteridade como condição básica de respeito à pluralidade, ao multiculturalismo, às múltiplas expressões eróticas, sociais, sexuais (SMIGAY, 2002).

Fonte: encurtador.com.br/muBJ9

Dessa maneira, se tratando das diversas formas de expressão da homossexualidade feminina, dentro do filme, pouco é percebido em relação a superação do preconceito. Através dessa análise, um sutil caminho para tentar dar visibilidade para o tema foi traçado, mas que ainda, muitas temáticas tem que ser trabalhadas na questão de representação, tanto de gênero quanto de sexualidade. Há uma urgência de um desprender desse padrão heteronormativo se faz presente.

É necessário ter um olhar mais atento a esses tipos de violências e ao que aparenta ser um olhar descuidado sobre essas temáticas. Estas transgressões, para além do sucesso midiático do longa, reafirmam uma série de discursos e “regras” com valores e verdades sobre gêneros, sexos e sexualidades, muitas vezes, não condizentes com a realidade.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

AZUL É A COR MAIS QUENTE

Título original: La Vie d’Adèle – Chapitres 1 et 2
Direção:  Abdellatif Kechiche
Elenco: Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos, Salim Kechiouche
País:  França
Ano: 2013
Gênero: Drama, Romance

REFERÊNCIAS

BATISTA, D. C. . SERIA AZUL A COR MAIS QUENTE? Reflexões sobre hetero e homonormatividades no filme de Abdellatif Kechiche. In: X ANPED Sul, 2014, Florianópolis. -, 2014. Disponível em: <http://xanpedsul.faed.udesc.br/publicacao/caderno_resumos.php>. Acesso em: 11 maio 2019.

CAPRONI NETO, Henrique Luiz; SILVA, Alexsandra Nascimento; SARAIVA, Luiz Alex Silva. Desenhando o Mundo Ideal e Mundo Real: um estudo sobre lésbicas, trabalho e inserção social. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 48, n. 2, p. 247, dez. 2014. ISSN 2178-4582. Disponível em:<https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-4582.2014v48n2p247/28508>. Acesso em: 10 maio 2019.

MAROH, Julie. Le bleu d’Adèle. [S. l.], 27 maio 2013. Disponível em:<http://www.juliemaroh.com/2013/05/27/le-bleu-dadele/>. Acesso em: 10 maio 2019.

PINO, Nádia Perez. A teoria queer e os intersex: experiências invisíveis de corpos des-feitos. Cadernos Pagu, v. 28, p. 160, jan./jun, 2007. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332007000100008>. Acesso em: 11 de maio de 2019.

SMIGAY, Karin Ellen Von. Sexismo, homofobia e outras expressões correlatas de violência: desaios para a psicologia política. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 8, n. 11, p. 35, jun. 2002. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/psicologiaemrevista/article/view/136>. Acesso em: 11 de maio de 2019.

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Professor da Psicologia fala sobre diversidade sexual e gênero

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O professor do curso de Psicologia, Sonielson Luciano de Sousa, participou nesta segunda, 07, de uma roda de conversa com acadêmicos de diversos cursos do Ceulp/Ulbra matriculados na disciplina de Sociedade e Contemporaneidade. Na pauta estava “sexualidade, gênero e diversidade sexual”.

Fonte: encurtador.com.br/aevU8

A ação faz parte do projeto de extensão “Roda de Conversa”, promovido pela professora Dra. Valdirene Cássia, cujo objetivo é dinamizar as estratégias metodológicas usadas para envolver os acadêmicos no que se refere aos principais temas sociais da contemporaneidade.

Fonte: encurtador.com.br/HLQT9

Durante o evento o prof. Sonielson fez uma trilha histórica da diferença de gênero, das relações entre o patriarcado e o matriarcado, além de abordar aspectos como misoginia, homossexualidade masculina e movimento feminista. Os acadêmicos participaram de modo ativo com várias perguntas no decorrer da explanação

De acordo com a profa. Valdirene Cássia, a ação possibilita uma ampliação do olhar do acadêmico sobre temas cruciais para a formação universitária, além de propiciar novos espaços para a construção do saber, muito além da sala de aula. O “Roda de Conversa” segue nas próximas semanas com mais dois temas contemporâneos: cidade e territorialidade, além de abordar o racismo.

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Relato de experiência: homossexualidade ainda não é tema superado

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Recentemente o egresso do Ceulp/Ulbra e psicólogo Ulisses Franklin Carvalho da Cunha abordou o tema “A experiência materna diante da relação homossexual masculina: um estudo de caso”. A apresentação ocorreu durante uma edição do Psicologia em Debate.

Por ser um tema considerado tabu, é pouco discutido nas escolas, comunidade e principalmente nas famílias, onde nunca estamos preparados para receber esse tipo de notícia; justamente por não sabermos como reagir, o egresso compara a compreensão da notícia como as fases do luto descrita pela psiquiatra Elizabeth Kubler Ross.

De acordo com o Dicionário Aurélio, homossexual caracteriza-se como: ‘’Que ou quem sente atração sexual por pessoas do mesmo sexo ou tem relações sexuais ou afetivas com pessoas do mesmo sexo’’. Tendo o direito de ter um relacionamento saudável como qualquer outra pessoa, sem se limitar por optar em ter outra preferência afetiva. Uma das maiores dificuldades que uma pessoa que pertença ao grupo dos LGBT’S possa experimentar é chegar ao momento da revelação para seus amigos e sua família que por ser um grande tabu acaba tornando a jornada maior e mais complicada, pois quando uma pessoa que se encontra nessa situação toma a iniciativa de dar o passo inicial seu interior fica conturbado; é na compreensão dos parentes que se busca alento.

Fonte: goo.gl/f6J1KD

Outro ponto importante abordado foi o índice de violência contra o público LGBT, que de acordo com o Jornal GLOBO “a cada 19 horas um LGBT é assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia”.

O egresso comparou a experiência da mãe entrevistada em seu Trabalho de Conclusão de Curso com as fases do luto explicadas por Elizabeth Kubler Ross, que seriam: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Podendo ou não a entrevistada ter passado necessariamente por todas essas fases muito menos ter seguido sua ordem.

Seu objetivo de estudo foi conhecer e compreender como funcionava a subjetividade da mãe naquele determinado momento, tanto emocional, social e principalmente em relação à sua saúde mental. No decorrer do debate, pudemos nos aprofundar mais no assunto com relatos de vida de alguns participantes presentes que mostraram que alguns pais podem ou não aceitar a orientação sexual do filho, deixando claro que devemos tratar da situação de uma maneira menos tensa, sabendo respeitar tanto o lado da mãe como do filho, que também sofrerá com a circunstância.

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A experiência materna diante da revelação homossexual masculina

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Recentemente foi apresentado no CEULP ULBRA um debate que abordou um tema por um ângulo diferente dos já comentados. Pudemos observar pelo estudo de caso elaborado por Ulisses Franklin Carvalho da Cunha, a questão da revelação homossexual de um filho para com a sua mãe. Foi levantado o porquê de ainda se falar sobre o assunto da homossexualidade que “ainda é objeto de violência, ainda não foi vencido”.

Ulisses começa o debate mostrando ao público a notícia de um caso que aconteceu em Janeiro de 2017, com a seguinte manchete “Prefiro um filho morto que um filho v*ado”, onde uma mãe homofóbica mata o próprio filho de 17 anos, levando o público presente a refletir se realmente existe o amor incondicional de uma mãe, ou se é apenas algo cultural. E em seguida mostrou dados que apontam a violência contra o grupo LGBTs em maior porcentagem no Brasil.

Fonte: https://goo.gl/PhzwAC

Usou em seu referencial teórico a questão da violência, o sofrimento, dúvidas, autoaceitação, preconceito, dor, discriminação etc. No problema da pesquisa o psicólogo buscou estabelecer correlação da mãe entrevistada para o caso com o modelo de Sofrimento de Kubler-Ross (1998), que basicamente consiste nos estágios de luto na perspectiva da psiquiatra Elizabeth Kubler Ross. São eles respectivamente: negação, a raiva, barganha, depressão e aceitação.

O objetivo do estudo de caso foi conhecer e compreender em que se constitui a experiência materna diante da revelação. Como sujeito de pesquisa usou apenas uma mãe e o local da usado foi o SEPSI (CEULP). A entrevista foi elaborada através da análise de conteúdo de Bardin. Vimos também que a homossexualidade foi de patologia mental à cidadania e respeito e, em 1985 no Brasil, através do Conselho Federal de Medicina (CFM) deixou de ser considerado desvio de sexualidade.

Fonte: https://goo.gl/tKfGyT

 Cunha abordou a relação de luto versus revelação e que, segundo a mãe entrevistada, teve que “viver uma espécie de luto”. Dentre os estágios de luto observados na mãe, o da raiva não foi observado.

Ela comentou sobre o receio da violência contra o filho pelo simples fato da orientação sexual dele, medo de não ter oportunidades de trabalho. Ficou visível também que não houve uma aceitação completa, visto que certos comportamentos do jovem no dia a dia ainda a incomoda, “eu não gosto de gayzisse”, brincou a mãe. Concluiu-se que os sentimentos, a aceitação e emoções da mãe são compatíveis com os estágios.

Ao final da exposição foram lançados comentários, relatos e perguntas dos espectadores, dentre elas se a mãe sabia ou quis se importar com o sofrimento do filho, que foi respondida que durante a entrevista não pôde observar, pois ela não deixou claro, e se ela algum dia poderá ter uma aceitação completa. Levantaram questões importantes, tais como até em que fato se aceita o outro plenamente, estigmas sociais, e uma finalização esperançosa de que não é impossível haver mudança, quando se virar essa página.

Como expectadora gostei bastante do debate e da pauta não tão comumente abordada, focada no lado materno. O condutor da pesquisa expôs todo o trabalho de forma tênue e agradável. Apresentou fatos, dados e comentários que fizeram todos ali presentes perceberem o quão importante é o assunto, e que deve sim, ser debatido, esmiuçado por várias vertentes, até se obter um resultado homogêneo e positivo por toda a sociedade.

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Sexualidade trans e identidade de gênero

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Nota: Relato de Experiência elaborado como parte das atividades da disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, sob supervisão do prof. Sonielson Sousa.

Recente Psicologia em Debate discorreu sobre Sexualidade trans e identidade de gênero, a partir de pesquisa realizada pela acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra Fernanda Bonfim. O transgênero é o indivíduo que não se identifica com seu sexo biológico. A identidade seria, neste caso, de como essa pessoa se vê, se sente, se percebe e é percebida.

Os transgêneros podem ser homossexuais ou heterossexuais. São considerados homossexuais quando se relacionam com o mesmo gênero de sua escolha de identidade (quando uma pessoa é biologicamente mulher, mas sua identidade de gênero é homem e este se relaciona com um homem). E são transgêneros heterossexuais quando se relacionam com o sexo oposto a sua identidade de escolha (quando uma pessoa biologicamente é mulher, com identidade de gênero sendo de homem e se relaciona com uma mulher). É possível observar a manifestação da transgeneridade bem cedo na vida de um sujeito, através das escolhas que essa pessoa faz por suas roupas, seus interesses e desejos por temas e objetos que seriam “comuns” ao sexo biológico oposto ao seu.

Fonte: http://zip.net/bbtKMx

A cirurgia para adaptar o corpo é realizada depois que um diagnóstico é fechado por vários profissionais, que incluem psiquiatras, psicólogos, entre outros. No Brasil, o Sistema Único de Saúde, pela portaria Nº 457, autoriza que a partir dos 18 anos de idade a pessoa pode dar início ao tratamento para adequação de sexo, que dura dois anos, até que o diagnóstico seja concluído. Porém a cirurgia só pode ser realizada a partir dos 21 anos de idade (BRASIL, 2008). Até o ano de 1985 a homossexualidade era considerada um transtorno mental pelo Conselho Federal de Medicina, e no final dos anos 80 vários organizações iniciam um amplo processo de despatologização desta orientação, que passa a ser considerada dentro da diversidade humana.

Sampaio e Coelho (2013) ao citar Harper e Scneider (2003), afirmam ser este grupo marginalizado pela discriminação, violência sofrida principalmente em seu convívio familiar e social em algum momento, geralmente na adolescência, ao qual a pessoa se encontra em maior fragilidade, o que pode dificultar o acesso a educação, melhores vagas de emprego e moradia. A estimativa de vida para os transsexuais é de no máximo 35 anos de idade, pelas violências acometidas a eles, sendo que 20% dos crimes são cometidos contra jovens com menos de 18 anos. Somente 10% dos crimes viram processo e 31% das vítimas são alvejadas com arma de fogo.

Fonte: http://zip.net/bqtLSC

Algumas ponderações podem ser observadas a partir da palestra, sobretudo ao ter feito a analogia de “ser cristão e por isso preconceituoso”, “gays perseguidos por pessoas cristãs”. Como se, no fritar dos ovos, a culpa fosse de Cristo. Das duas uma, ou há ensinos errôneos sobre o que o Evangelho realmente ensina sobre ser cristão, ou ouvintes relapsos que dão sua própria interpretação. E, ainda, a soma dessas duas ações que criam generalizações de fontes interpretativas erradas. Se Jesus Cristo fosse preconceituoso, ele não teria estado no meio de todos os tipos de sujeitos – os marginalizados da época.

Em nenhum momento Jesus desprezou, julgou, condenou ou incitou algum tipo de violência a quem quer que seja. Aliás, Ele acolhia, recebia e era recebido por pessoas que também eram desprezadas ou criticadas. Jesus confrontou “os seus”, os escribas e fariseus, como diz o texto em Jo1:11, “Veio para o que era seu e os seus não o receberam.” Se Jesus se apresentasse na contemporaneidade, é com estas pessoas que ele estaria.

REFERÊNCIA:

BÍBLIA. Português. Bíblia On-line. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/1>. Acesso em: 06 jun. 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cirurgias de Mudança de Sexo são Realizadas pelo SUS desde 2008. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/cirurgias-de-mudanca-de-sexo-sao-realizadas-pelo-sus-desde-2008>. Acesso em: 05 jun. 2017.

SAMPAIO, Liliana Lopes Pedral; COELHO, Maria AThereza Ávila Dantas. A TRANSEXUALIDADE NA ATUALIDADE: DISCURSO CIENTÍFICO, POLÍTICO E HISTÓRIAS DE VIDA. Ufba, Bahia, v. 1, n. 1, p.1-12, 13 jun. 2013.

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