“ALIKE”: a importância da criatividade na formação dos indivíduos
25 de fevereiro de 2022 Fabiola Bocchi Barbosa
Filme
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Alike é um curta-metragem que ganhou inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio Goya de melhor curta-metragem de animação em 2016. Dos criadores Daniel Martinez e Rafa cano Mèndez, traz uma pauta sobre criatividade e imaginação, e como o sistema que a nossa sociedade está inserida sufoca ou desconsidera estas virtudes. A historinha demonstra o relacionamento entre um pai e seu filho, cujo pai, que já foi afetado pelo sistema, que não dá espaço para a criatividade, não explora os potenciais do indivíduo mas visa colocar o indivíduo em “caixas”, padrões, não respeitando a sua individualidade.
O filme não tem diálogo, mas é tão bom que nem precisa de palavras. Ele mostra a mudança de sentimentos com a ajuda de cores, o pai é identificado com a cor azul e o filho com amarelo. No desenrolar da história, fica evidente a sociedade triste e entediante na qual estamos inseridos, (indivíduos azuis) e que muitas vezes simplesmente cumprimos a rotina estabelecida sem nem saber o porquê, e como isso às vezes pode nos entorpecer um pouco. O pequeno protagonista da história tenta não seguir essa vida cinzenta e monótona, mas a sua maneira de entender o mundo não combina com a dos demais, pois andam como “zumbis”, no automáticos, alienados de suas próprias vidas.
Assistindo o filme, não têm como não fazer um paralelo com a Psicologia Social o tempo todo, pois mostra claramente a tentativa de suprimir a criatividade do pequeno, fazendo ele perder sua subjetividade, suas esperanças e sonhos, e começando a aceitar as regras e normas impostas pela sociedade onde está inserido.
Entende-se como Psicologia Social o estudo da experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive.
É a ciência que procura compreender os “como” e “porquês” do comportamento social, a interação social e a interdependência entre os indivíduos.
De acordo com Silvia Lane (1981), o enfoque da Psicologia Social é estudar o comportamento dos indivíduos e como ele é influenciado socialmente. Desde o momento em que nascemos, ou até antes disso, já somos influenciados histórico e socialmente. A cultura na qual estamos inseridos e o nosso grupo social são determinantes na formação da nossa visão de mundo, no nosso sistema de valores, e consequentemente nas nossas ações, sentimentos e emoções. Somos determinados a agir de acordo com o que as pessoas ao nosso redor julgam adequado, e nesta convivência, vamos definindo nossa identidade social.
Daí a importância da família no processo de formação das crianças para que não sejam meros reprodutores dos seus comportamentos, mas que respeitem a individualidade, os desejos e sonhos de cada um, e que incentivem a busca de sua própria identidade.
No filme mostra como o pai desse menino percebe que seu filho não está mais tão animado e alegre como antes, que está perdendo a sua cor, e assim ele leva o menino de volta para ver o violinista, ou seja, expõe ele à criatividade, a arte, para a cor e a alegria dele voltarem, pois dentro da rotina diária, por mais conturbada que seja, precisa haver um espaço para contemplação do mundo, da arte, da vida em suas diversas formas, para não cairmos neste marasmo de fazer o que nos é exigido, executar várias tarefas diárias no automático e quando percebemos o tempo passou e você percebe que você não estava presente em sua própria existência.
Além dessa relação entre grupos e família, o filme traz também uma reflexão acerca do processo de ensino aprendizagem, e a relação professor – aluno, e como faz falta no âmbito escolar o não vislumbramento do fator afetivo – emocional, pois o vínculo e as relações de afeto também são fundamentais para a aprendizagem, e também a importância do papel do professor para a não reprodução da alienação, para que seus alunos deem espaço à criatividade e à fantasia infantil, e possam se tornar adultos saudáveis e sujeitos autônomos, e protegê-los do ambiente massificador que a escola pode se tornar.
Finalizando já minha contribuição acerta deste filminho, ele nos faz pensar na criatividade, na imaginação e no afeto como caminhos para uma vida mais colorida. Nos transporta para a rotina de um pai e seu filho, parecidos demais um com o outro, mas com visões de mundo que estão se distanciando, trazendo de forma simples, mas poderosa, o nosso cotidiano da vida moderna: a rotina e a falta de cor no dia a dia, a forma como encaramos o mundo ao nosso redor, muitas vezes intoxicados pelos afazeres que nos cercam, vamos perdendo nossa essência , deixando de lado a imaginação e o afeto…
? Vale a pena assistir e gastar 7 minutinhos com essa reflexão lindinha que aquece o ?
FICHA TÉCNICA
Título: Alike (Original)
Ano produção: 2015
Dirigido por: Daniel Martínez Lara Rafa Cano Méndez
Estreia: 6 de Novembro de 2015 (Mundial)
Duração: 8 minutos
Classificação: L – Livre para todos os públicos
Gênero: Animação; Drama; Família
Países de Origem: Espanha
REFERÊNCIAS:
Lane, S. T. M. (1981). O que é Psicologia Social? São Paulo, SP, Editora Brasiliense.
Psicologia Social, Wikipedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_social. Acesso em 10/12/2021.
Animação tocante mostra como a sociedade mata nossa criatividade e imaginação, Hypeness, 2017. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2017/04/animacao-espanhola-nos-lembra-o-quanto-a-sociedade-pode-acabar-com-nossa-criatividade-e-imaginacao/. Acesso em 10/12/2021.
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Dificuldades de aprendizagem na Educação Infantil do Povo Akwê-Xerente
O processo educacional nos anos iniciais de escolarização é o desafio da maioria das crianças, em que muitos encontram dificuldades de aprendizagem nas escolas, no qual as estruturas oferecidas, a tendência é de maior dificuldade. Com isso surgem questões a saber: O que fazer para ajudar crianças com dificuldades de aprendizagem? Como devem ser as infraestruturas das escolas que recebem as crianças com dificuldades de aprendizagem? As diferenças entre as crianças que não apresenta dificuldades e aquelas com dificuldades de aprendizagem?
As dificuldades de aprendizagem nas series iniciais torna-se para as crianças indígenas como desafio a ser enfrentado na escola. Onde a criança indígena tem o seu contato com a realidade totalmente diferente do que antes já vivido, com isso, pode ocorrer da criança indígena enfrentar barreiras com contato direto dentro de uma sala de aula. As dificuldades que podem levar as crianças a terem menos rendimento na escola são constatadas quando elas apresentam o desempenho baixo diante das tarefas exigidas. O processo de ensino e aprendizado envolve toda a sociedade, tanto a rural quanto a urbana.
Diante desse exposto, é importante identificar que dificuldades são estas e como os professores que atuam na educação escolar indígena pode se posicionar a fim de amenizar os impactos sentidos por crianças ao terem contato com novos elementos de ensino até então nunca vistos na cultura tradicional indígena.
Esses desafios encontrados por crianças indígenas, geralmente aparecem quando elas têm o contato direto com outra cultura diferente da sua, esse contato, por sua vez, pode acabar influenciando no desempenho dentro da sala de aula, desencadeando em problemas de aprendizagem.
Conforme a pesquisa realizada por Melo e Giraldin (2012) as crianças indígenas têm mais de dificuldades de aprendizagem em língua portuguesa, pois estas são alfabetizadas na língua materna, uma criança da sociedade urbana tem mais facilidade por que já aprende desde pequeno a sua língua, já as crianças indígenas não, o primeiro ensinamento que elas recebem, vem dos pais, que são ensinamentos da própria cultura, passado de geração a geração. Durante cinco anos a criança indígena não recebe o conhecimento de fora, elas são livres, esses anos as crianças não têm contato com a escola. Melo e Giraldin (2012) afirmam ainda que as escolas indígenas xerente tende mais na valorização da cultura, da identidade cultural, na conservação da língua e ensinamentos ligados à sua cultura.
Um aspecto peculiar que Melo e Giraldin (2012) enfatiza é o fato das escolas xerente reelaboram constantemente o cotidiano dos moradores, pois os afazeres domésticos, as incursões no cerrado, a confecção de artesanato, o trabalho na roça, são mais privilegiados que os afazeres escolares em determinados períodos do ano.
Corrêa e Sarmento (2015) destacam que a educação assume um papel importantíssimo na vida da criança, sendo um dos maiores desafios de educadores e pais. Porém a mesmas autoras propõem que têm a possibilidade de tornar esta criança um sujeito autônomo, adquirindo sua liberdade moral e intelectual, isto é possível por meio da criatividade o que torna suas experiências significativas de satisfação, de autoria de pensamento e de fala, sendo sujeitos autores das suas próprias produções e personalidades.
Corrêa e Sarmento (2015) dizem que “a criança precisa encontrar significados e o porquê aprender a ler e escrever, sendo o princípio norteador para ocorrer esta aprendizagem” o professor deve auxiliar no encontro com esse sentido, para que o aprendizado não seja apenas algo imposto e uma prática vazia.
CORRÊA, Juliana Queiroz Matos. SARMENTO, Tatiane Da Silva. Dificuldades de aprendizagem no processo de Alfabetização. Rio Grande do Sul: Revista pós-graduação: desafios contemporâneos v.2, n. 2. 2015.
GIRALDIN, Odair e MELO, Valéria M. C. de. Os Akwe-Xerente e a busca pela domesticação da escola. Campo Grande, MS: Tellus, 2012.
Mini Currículo: MAILSON WAIKAZATE XERENTE, acadêmico de pedagogia na Universidade Federal do Tocantins – UFT.
John Stuart Mill nasceu em Londres, e é filho de James Mill, um filósofo e historiador indiano, considerado, juntamente de Jeremy Bentham, um dos fundadores do utilitarismo. Mill, desde a infância, era influenciado pelos projetos educacionais do pai, que, com o auxílio de Jeremy Bentham, colocou em prática um rígido plano pedagógico com a intenção de garantir o sucesso intelectual do filho. Aos três anos, então, Mill iniciou suas leituras do grego. Mais tarde, aprendeu latim e logo após já havia entrado em contato com muitas obras do pensamento clássico. Nos anos seguintes, se dedicou ao estudo da história, psicologia, filosofia e lógica. (CLUBE ON LIBERTY, 2012).
Segundo Dos Santos (2013), aos 11 anos, Mill ajudou seu pai na revisão de uma obra importante sobre a Índia, e aos 13, iniciou estudos em economia. Apesar de nunca ter frequentado uma universidade, Mill já tinha uma capacidade intelectual muito presente desde a infância. (CLUBE ON LIBERTY, 2012). Em 1823, conseguiu um emprego na East India Company. Em 1826, entrou em uma profunda depressão, e atribuiu isso ao fato de ter recebido uma educação rígida. (ARCOS).
Em 1830, conhece Harriet Taylor, o amor de sua vida. Sendo ela casada, Mill nutria um amor platônico. Entretanto, os dois desenvolveram uma amizade muito forte e sólida. Após 25 anos, estando Harriet Taylor viúva, casam-se. Quando ela morre, Mill fica bastante abalado, pois foi nítida a importância e a influência da mulher na vida do filósofo. (ARCOS).
Mill ganhou popularidade como escritor político. E, com isso, foi eleito representante por Westminster para o Parlamento. Entretanto, teve uma carreira política breve. Nasceu em 8 de maio de 1806 e morreu em 16 de maio de 1873. Ao longo de sua vida, foi testemunha de grandes e importantes mudanças no cenário político, social e econômico de seu país, a Inglaterra. (CLUBE ON LIBERTY, 2012).
Utilitarismo
É uma escola filosófica que nasceu no Século XVII, na Inglaterra. Ela estabelece a prática das ações de acordo com sua utilidade. Assim, uma atitude só deve ser concretizada se for para a tranquilidade de um grande número de pessoas. Portanto, antes da efetivação de uma ação, ela deve ser avaliada de acordo com os seus resultados. (SANTANA)
Segundo Santana, o utilitarismo tem um aspecto moral que procura entender a natureza do homem, e para isso leva em conta o fato de que o indivíduo está sempre em busca do prazer, ao mesmo tempo em que tenta fugir da dor. É neste ponto que esta doutrina intervém, pois, sua função é propiciar às pessoas o máximo de satisfação e alegria, e por outro lado impedir o sofrimento. Portanto, ser útil é o valor moral mais elevado.
Fonte: https://goo.gl/gfBAaK
A expressão ‘’utilitarismo’’ foi inicialmente consolidada por Jeremy Bentham, porém Stuart Mill estendeu os usos dessa filosofia a aspectos como política, legislação, justiça, liberdade sexual, etc. De acordo com Cobra (2001), mesmo tendo sido elaborado na modernidade, alguns dos elementos do conceito de utilitarismo já eram encontrados na filosofia da Antiguidade, em obras de Aristóteles e Epicuro, por exemplo.
Há vários de utilitarismo. Um deles é o utilitarismo hedonista, defendido por Bentham. Ele se aproxima do epicurismo e afirma que somos governados pelo prazer e a dor. Além de concordar que o prazer é um padrão para definir se uma ação é correta ou não, um utilitarista hedonista também procura formas de mensurar o prazer. (BORGES; DALL´AGNOL; DUTRA, 2002).
Mill introduziu o utilitarismo eudaimonista, que realçava a importância do caráter e das virtudes, e não apenas do prazer, para se alcançar a felicidade. Além disso, de acordo com Borges, Dall´Agnol e Dutra (2002), alegava que alguns tipos de prazer são mais desejáveis e valorosos que outros. Criava certa ‘’hierarquia do prazer’’, colocando prazeres afetivos e intelectuais acima de outros.
Há uma diferença entre os pensamentos de Bentham e Stuart Mill. O primeiro propõe uma visão quantificada das ações, cabendo a seus agentes medir a quantidade de prazer que pode resultar delas, para então decidir se as atitudes devem ou não ser concretizadas. Já Stuart Mill não concorda com esta racionalização, apostando por sua vez na qualidade, tanto quanto na quantidade. (BORGES; DALL´AGNOL; DUTRA, 2002).
Apesar das diferenças entre os tipos de utilitarismo, todos eles apresentam pelo menos cinco traços básicos. São eles, segundo Borges, Dall´Agnol e Dutra (2002): a consideração das consequências das ações para estabelecer se elas são corretas ou não, a função maximizadora daquilo que é considerado valioso em si, a visão igualitária dos agentes morais, a tentativa de universalização na distribuição de bens e a concepção natural sobre o bem-estar.
A influência do Stuart Mill no utilitarismo.
Fonte: https://goo.gl/z4gYk9
Stuart Mill contribuiu de forma significativa ao utilitarismo, seus pensamentos e obras marcaram o movimento dando ênfase ao homem, sua liberdade, seus direitos fundamentais, defendo assim, que cada indivíduo se encontra constantemente em processo de evolução. Mill passa a valorizar a influência dos sentimentos ligados aos espíritos, as formas de prazer as amizades a honestidade o amor, entre outros. Segundo o filósofo inglês “sentimentos de sociabilidade, o desejo de estar em união com as demais criaturas” (MILL 1971, p.34 apud CRUZ CORREIA, 2011, p. 8)
Mill estabelece uma ideia de que os interesses individuais desse de edificar um problema quando se percebe que os interesses particulares estão relacionados com os interesses da sociedade. Os sentimentos então são tomados como princípios da nossa natureza e são determinados quanto aos nossos impulsos antissociais (CORREIA, 2011) que buscam acima de tudo o princípio da maior felicidade, mas toda via, esses princípios acabam chocando com o princípio da felicidade da sociedade, portanto, o indivíduo ideal e aquele que consegue alcançar seus interesses em detrimento do interesse coletivo. De acordo com a ética utilitarista o princípio da maior felicidade estabelece que as ações praticadas devem ser capazes de trazer felicidade a um número maior de indivíduos.
Mas para o indivíduo saber diferencias as boas das más ações e saber justificá-las e preciso encontrar um critério geral da moralidade que foi apresentado da seguinte forma por Stuart Mill:
“O credo que aceita a utilidade, ou Princípio da Maior Felicidade, como fundamento da moralidade, defende que as ações estão certas na medida em que tendem a promover a felicidade, e erradas na medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade. Por felicidade, entende-se o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a privação de prazer. ” (MILL, 1871)
Esse trecho fica claro o princípio de utilidade definido por Mill, saber que prazer e ausência de dor são as únicas coisas desejáveis como fins. Apesar dos seus pensamentos utilitaristas terem como base Jeremy Bentham (1748-1832) Mill continua na tradição hedonista e introduz um novo elemento em seu utilitarismo denominado natureza do prazer, afirma q essa qualidade é relevante e decisiva na vida do ser e que as ações são corretas na proporção em que elas tendem a promover a felicidade e erradas quando tendem a produzir o reverso da felicidade. A base utilitarista defendida por mil e o princípio da moral e da utilidade.
Liberalismo
Segundo Santiago (2016), liberalismo consiste na defesa da liberdade política e econômica. Dessa forma, as pessoas de visão liberal são contrárias ao forte controle do estado na economia e na vida da população. Em outras palavras, ele prega a ideia de que o Estado deve dar liberdade ao povo, e deve agir apenas se alguém afetar (de forma negativa) o próximo (conhecido como Princípio do Dano). Fora isso, em boa parte do tempo, as pessoas são livres para fazer o que quiserem, trazendo também a ideia de livre mercado.
Fonte: https://goo.gl/2vLNF8
O liberalismo surgiu por volta dos séculos XVII e XVIII, através de um grupo de pensadores que viviam a realidade europeia. O pensamento liberal teve sua origem através dos trabalhos sobre política publicados pelo filósofo inglês John Locke. Já no século XVIII, o liberalismo econômico se fortaleceu com as ideias defendidas pelo filósofo e economista escocês Adam Smith.
Podemos citar como princípios básicos do liberalismo:
Defesa da propriedade privada;
Liberdade econômica (livre mercado);
Mínima participação do Estado nos assuntos econômicos da nação (governo limitado);
Igualdade perante a lei (estado de direito).
Reinava ainda a filosofia do absolutismo em praticamente todos os governos europeus, pois o rei, como legítimo representante de Deus na terra, teria natural domínio sobre todos os assuntos que envolvessem a nação. As ideias iluministas vão gradualmente desfazer tal sistema de excessiva intervenção do estado, auxiliadas pelo espírito empreendedor e autônomo da burguesia, claro, abrindo espaço para outras possibilidades na relação entre os homens e o mundo.
Então, de acordo com Montaner (2013), como uma reação natural à ordem anterior de coisas, vários pensadores se mobilizam no esforço de dar sentido àquele mundo que se transformava. Surge um ponto fundamental do pensamento liberal quando é concebida a ideia de que o homem tinha toda sua individualidade formada antes de perceber sua existência em sociedade. Para o liberalismo, o indivíduo estabelecia uma relação entre seus valores próprios e a sociedade.
Além de construir uma imagem positiva do indivíduo, o liberalismo vai defender a ideia de igualdade entre todos. O direito que o homem tem de agir pelo uso da sua própria razão, segundo o liberalismo, só poderia garantir-se pela defesa das liberdades. No aspecto político, o liberalismo vai demonstrar que um regime monárquico, comandado pelas vontades individuais de um rei, não pode colaborar na garantia à liberdade, pois a vontade do rei subjuga o interesse social, indo contra os princípios de liberdade e igualdade.
O pensamento liberal se sobressaiu de forma homogênea até o início do século XX. As mudanças trazidas pelas duas revoluções industriais, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa de 1917, e mais tarde, da quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, fizeram com que a doutrina liberal entrasse em declínio. Mais recentemente, na década de 90, surge o neoliberalismo, resgatando boa parte do ideal liberal clássico.
Fonte: https://goo.gl/JY1Vvv
Conceitos de individualidade
“No dicionário filosofia, consta o termo indivíduo como sendo: em sentido físico: o indivisível, o que não pode ser mais reduzido pelo procedimento de análise. Em sentido lógico: o que não pode servir de predicado” (ABBAGNANO, 1998, p. 567-568).
“A liberdade é, escreve Mill, ‘agir à nossa própria maneira’. Esta é a prova de que a liberdade, para Mill, não pode ser compreendida pela parte exterior” (SIMÕES, 2003, p.28).
E esse agir a nossa própria maneira está ligada ao nosso conceito de indivíduo, no qual temos o poder de tomar atitudes diante daquilo que acreditamos ser o certo ou aquilo que queremos fazer, executando assim liberdade individual. Contudo ela também pode ser influenciada pelo meio externo, mas enquanto liberdade o meio não poder intervir na decisão, sendo assim restrita somente ao indivíduo.
Ferreira (2014), em dissertação baseado nos conceitos de Mill apresenta “[…] o conceito de individualidade é reafirmado como sendo de importância ímpar para Mill, pois além de servir como referência para a liberdade é também 21 um dos ingredientes na composição do bem-estar. ”
O fato de viver podendo se expressar, fazer suas próprias vontades sem precisar de alguém que lhe permita isso ou presos ao medo do que possa acontecer irá proporcionar ao indivíduo diferentes experiências, o que lhe trará consequentemente uma grande sensação de bem-estar.
Fonte: https://goo.gl/tJ3Z23
“A liberdade do indivíduo deve ser, assim, em grande parte, limitada e ele não deve tornar-se prejudicial aos outros” (MILL, 1859).
Ou seja, mesmo que individual, ela deve respeitar os limites do outro, ser conduzida de forma consciente sem trazer danos ao próximo, pois cada tem o seu conceito de liberdade, suas opiniões e diante disso ela deve se limitar somente a estas, sem que parta para as ações. Atos não justificáveis caracterizados por Mill que prejudica a outrem. Pois vale destacar que mesmo no indivíduo e sua liberdade a sociedade está presente, e participa deste processo.
Referencias
ABBAGNANO, N. DICIONÁRIO DE FILOSOFIA. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
John Stuart Mill – Biografia.Disponível em: <http://www.arcos.org.br/cursos/teoria-politica-moderna/mill/john-stuart-mill-biografia>. Acesso em: 26 abr. 2016.
BORGES, Maria de Lourdes; DALL´AGNOL, Darlei; DUTRA, Delamar Volpato.Ética.Rio de Janeiro: Dp&a Editora, 2002. 144 p.
LIBERTY, Clube On.Stuart Mil: Sobre seu corpo e mente o indivíduo é soberano.Disponível em: <http://clubeonliberty.blogspot.com.br/2012/07/stuart-mill-sobre-seu-corpo-e-mente-o.html>. Acesso em: 26 abr. 2016.
MILL, John Stuart.Ensaio sobre a liberdade. ed. Reino Unido: Escala, 1859. 158 p. Disponível em: <https://direitasja.files.wordpress.com/2013/09/mill-john-stuart-ensaio-sobre-a-liberdade.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2016.
MONTANER, Carlos Alberto.O que é o liberalismo? Disponível em: <http://www.institutomillenium.org.br/artigos/o-que-liberalismo/>. Acesso em: 4 abr. 2016.
Q.COBRA.TEMAS DA FILOSOFIA: resumos.Disponível em: <http://www.cobra.pages.nom.br/ft-utilitarismo.html>. Acesso em: 23 mar. 2016.
SANTANA, Ana Lucia.Disponível em: <http://www.infoescola.com/etica/utilitarismo/>. Acesso em: 26 abr. 2016.
SANTIAGO, Emerson.Liberalismo econômico.Disponível em: <http://www.infoescola.com/economia/liberalismo-economico/>. Acesso em: 26 mar. 2016.
SIMÕES, M. C. JOHN STUART MILL & A LIBERDADE. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2003.
VAZ, Faustino.A ética de John Stuart Mill. Disponível em: <http://criticanarede.com/eti_mill.html>. Acesso em: 1 mar. 2016.
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Transições nos papéis dos indivíduos em comunidades ao longo do desenvolvimento
O texto do qual estamos comentando – A Natureza Cultural Do Desenvolvimento Humano, de Rogoff – tem por objetivo nos orientar como se refere às transições de papéis dos indivíduos em suas comunidades ao longo do desenvolvimento. Uma questão central na psicologia do desenvolvimento tem sido identificar a natureza e o ritmo das pessoas, de uma etapa de desenvolvimento para a próxima, da primeira infância até a idade adulta.
As transições no desenvolvimento costumam ser retratadas pelos pesquisadores como algo que pertence aos indivíduos, como nos estágios de desenvolvimento cognitivo descritos por Piaget. Muitas vezes as etapas do desenvolvimento são identificadas em termos de desenvolvimento de papéis comunitários por parte da pessoa. Assim pode se ver como exemplo, o desenvolvimento até a maturidade no modelo navajo é um processo de aquisição de conhecimento para ser capaz de assumir responsabilidade por si e por outros.
Muitas comunidades marcam as transições no desenvolvimento com cerimônias. Algumas cerimônias de transição marcam eventos e realizações valorizados, tais como o primeiro sorriso, a primeira comunhão, a formatura ou inicio da menstruação. Já outros reconhecem essas passagens baseadas na idade. Essa pratica cultural explicitam muitas vezes o desenvolvimento individual em relação a expectativas sociais e culturais, marcando as transições, não apenas para os indivíduos, mas para gerações.
Fonte: http://googleshortener.com/W7UuGhIQ
Com tudo percebe-se que no desenvolvimento em algumas comunidades, as etapas não se baseiam em idade cronológica ou em mudanças físicas. Em lugar disso, são centradas em eventos socialmente reconhecíveis, tais como a identificação das coisas pelo nome. Assim como dar nome a uma criança marca o começo de sua condição de pessoa. As crianças cumprem uma função espiritual, estabelecendo ligação com ancestrais que deixaram o mundo dos vivos, mas não foram muito longe. É interessante como podemos analisar esse texto de forma ampla, pois dentro de cada cultura que é mostrada pode se observar como é visualizado o desenvolvimento de um individuo de maneiras distintas.
Em todo o mundo, as distinções nas etapas do desenvolvimento costumam ser definidas segundo o começo da participação da criança, de uma nova forma, na família ou na comunidade. Então são citadas como exemplo as famílias euro-americano de classe média, muitas vezes distinguem quando um bebê dá um sorriso social pela primeira vez, ou começa a falar, condições importantes em suas relações com seus cuida dores. Isso levando á uma grade percepção de que a interação da criança com o meio é muito importante onde às etapas do desenvolvimento também fazem referencia ás relações das crianças com outras pessoas e com a comunidade.
Atribuindo um status social único aos bebês
Em algumas comunidades, os bebês e as crianças pequenas tem atribuído a si um status social único, no qual seus atos e suas responsabilidades são considerados como sendo de um tipo diferente daqueles das crianças mais velhas e dos adultos. Assim fazendo com que vejamos a importância de cada individuo. O desenvolvimento de bebês e crianças pequenas é apoiado dirigindo-os ao comportamento adequado, de forma que entendam, pois a transição envolve descontinuidade nas normas especificas de compartilhamento, da primeira infância á infância, em contraste com a coerência da aplicação das regras a crianças pequenas e mais velhas que se encontra em comunidades euro-americano de classe média. “Supõe-se que as regras sociais não possam ser aplicadas a menos que a criança subjetivamente pronta para entendê-las e aceita- lãs, ou segui-las voluntariamente”.
Essa transição envolve descontinuidade nas normas específicas de compartilhamento, da primeira infância á infância, que é de onde se estabelece o desenvolvimento e em contraste a coerência da aplicação das regras desde então. Papéis responsáveis na infância vêm demonstrar qual a contribuição de cada criança em seu patrão de idade, em muitas partes do mundo entre os cinco e sete anos de idade é uma época importante de transição nas responsabilidades das crianças e em seus status na comunidade.
Fonte: http://googleshortener.com/V1449phb
Assim este texto vem também com o intuito de nos mostrar como outras culturas visam de forma diferente o desenvolvimento, como por exemplo, a sociedade ocidental burocrática muda seu tratamento das crianças nessa idade considerando as capazes de distinguir o certo e o errado, de participar de trabalhos e de começar uma educação seria em instituição fora de casa. A pesquisa sobre o desenvolvimento muitas vezes observa uma descontinuidade nas habilidades e no conhecimento em torno dos cinco e sete anos. Muito interessante percebermos como é a etnografias de 50 comunidades em todo o mundo onde indicam uma mudança muito difundida em torno dos cinco e sete anos, nas responsabilidades e expectativas com relação às crianças.
É importante que compreendamos assim como o texto mostra as diversidades da cultura no mundo com relação ao desenvolvimento e ainda mais com relação às crianças, pois as expectativas com relação às crianças de cinco e sete anos ou de qualquer outra idade tem alguma base geral, mas é importante não atribuir especificidade exagerada a expectativas de idade para atividades determinadas, pois ampla variação ocorre com relação à idade em que se espera que as crianças desenvolvam complexas e valorizadas.
Papeis de gênero
As amplas diferenças de crianças no mundo estão intimamente relacionadas aos papéis de gênero dos adultos em suas comunidades. Então vejamos que geralmente, à medida que os seres humanos continuam a transformar suas práticas culturais, os papéis de gênero mudam ao mesmo tempo em que se mantêm longas tradições. Então nota-se que os papéis de meninos e meninas são estabelecidos paralelamente aos de mulheres e homens em suas comunidades à medida que começam a seguir os padrões dos mais velhos.
Compreender as mudanças biológicas e culturais dos papeis de gênero ao longo de gerações pode nos ajudar a ir além das limitações das dicotomias, possibilitando-nos que determinamos nosso rumo. Não é de surpreender que as diferenças de gênero entre crianças sejam coerentes com os papéis. Muitos autores caracterizam as práticas culturais euro-americanas a partir de uma ênfase no individualismo e na independência. Entretanto, há amplas diferenças culturais na visão da maturidade como algo que leve á independência da família de origem ou vínculo e responsabilidade renovados com relação a essa família.
Fonte: http://googleshortener.com/0PSb
Na vida cotidiana, assim como na pesquisa cultural, as questões das relações sociais trazem a nossa atenção como às pessoas consideram que os interesses próprios coletivos operam. No processo, cada geração pode questionar e revisar as pratica de seus predecessores, especialmente quando praticas diferenciada de comunidade distinta.
Independência versus interdependência com autonomia
As práticas de educação de criança em muitos grupos culturais contrastam com a formação voltada à individualidade separada, privilegiada pela classe euro-americano. Em muitas comunidades, as crianças são socializadas para serem interdependentes. Assim são estimuladas a interagir de forma multidirecional com grupos de pessoas. Então o que podemos observar é que em algumas comunidades nos quais a interdependência é enfatizada, o contato físico próximo é necessariamente parte de envolvimento com o grupo com isso mostrando como é interessante como esse processo de interdependência ocorre de maneira natural em que o contato físico próximo, a interdependência implica estar voltado ao grupo.
Onde esse envolvimento, todavia, pode simultaneamente dar ênfase a autonomia individual, podendo ser baseada em escolha individual e voluntária. Em algumas comunidades, a provocação por parte de adultos ou pares é uma maneira de informar indiretamente as pessoas esta fora dos limites, ou indicar a elas a forma adequadas de agir, essa é uma forma de controle social que não exige forçar as pessoas a se adaptar a hábitos culturalmente adequados, especialmente em pequenas comunidades inter-relacionadas. Em algumas comunidades, o constrangimento é tanto um método para ajudar as crianças a aprender preceitos morais quanto uma virtude a ser desenvolvida.
Assim pode se ver que a pesquisa sobre o desenvolvimento moral em diferentes comunidades envolveu, muitas vezes testes de raciocínio moral. As respostas aos dilemas morais em diferentes comunidades se enquadram em várias posições nessa escala, com um desempenho “inferior” nas comunidades em que não aquelas em que a escala foi elaborada.
Alguns preceitos obrigatórios no código moral de qualquer sociedade, entre os quais a ideia de que obrigação de ordem mais elevada tem precedência à preferência individual ou o arranjo de grupo principia de se evitar danos e o principio da justiça, segundo o qual os casos devem ser tratados de forma semelhante. Ao mesmo tempo, certas características facultativas são afirmadas por algumas sociedades.
Fonte: http://googleshortener.com/B8TYi
Podemos ver que em muitas comunidades os pressupostos culturais com relação às prioridades individuais ou de comunidade, ou seu caráter mutua, são levados aos relacionamentos habituais da vida cotidiana. Então podemos concluir em nosso entendimento que as realizações individuais podem ser buscadas e reconhecidas de modo a priorizar a competição, ou podem ser apreciadas como contribuições ao funcionamento da comunidade. Por meio dessas questões nas relações sociais dos seres humanos, a autonomia e a interdependência são negociadas segundo tradições culturais e renegociadas á medida que novas gerações avaliam posturas alternativas.
REFERÊNCIAS:
ROGOFF, B. A Natureza Cultural Do Desenvolvimento Humano. 1 ed. Brasil: Artmed, 2005.
Nesse livro, Foucault analisa o dispositivo médico-jurídico, mais precisamente, a perícia psiquiátrica entranhada no sistema judiciário, pressupondo transformações consideráveis no regime de poder da sociedade contemporânea, pela engrenagem saber médico/sistema penal.
Então, no cerne desse novo funcionamento do poder, estão os indivíduos perigosos, loucos, criminosos, entre outros, cujos comportamentos e pensamentos são percebidos como atraso do desenvolvimento mental. Por conseguinte, o crime, por exemplo, é abordado pelo sistema penal, não somente como uma infração à lei, mas também, como sintoma de uma perturbação do desenvolvimento psicológico do indivíduo. Daí, a identificação entre crime e loucura, na medida em que são atribuídos ao indivíduo anormal.
De acordo com Foucault, o anormal é o indivíduo definido pela perícia médico/psicológica acerca de seupotencial de periculosidade, ou melhor, de criminalidade, indicado por seus traços psicológicos, tais como,<imaturidade psicológica>, <personalidade pouco estruturada>,<instabilidade emocional>, que “no discurso médico-psicológico, são apresentados como a causa, a origem, a motivação, o ponto de partida do delito” (FOUCAULT, 1999, p.15). Assim, o anormal é uma figura constituída a partir da articulação entre o saber médico e as práticas penais. Trata-se, nesse sentido, do objeto do conhecimento e, também, das práticas de regulação social a propósito do qual se estabelecem novas formas de relação entre o sujeito e seu delito.
Com efeito, o anormal, é a figura que do interior das instâncias de poder, tais como a família, escola e meio de trabalho, surge como problema do desenvolvimento humano, cognitivo e/ou moral. São os hábitos sexuais e sociais cotidianos que revelam o grau de anormalidade do indivíduo, assim, como por exemplo na atualidade, a desconcentração nas tarefas escolares revela a criança com déficit de atenção.
De fato, podemos assinalar, em conformidade com as análises foucaultianas, que nesse domínio médico/jurídico é o indivíduo anormal que se torna alvo das intervenções sociais, uma vez que não é pelo crime, como uma violação da lei, que o indivíduo é julgado pelo sistema penal, mas pela sua delinquência, quer dizer, nem doença nem delito, mas desenvolvimento incompleto e imperfeito, como por exemplo, a imaturidade emocional. Daí, as práticas normalizadoras operarem nas mais diversas instituições, como a família, escola, fábrica e prisões etc, visando a correção e a melhoria do desenvolvimento do indivíduo e não sua punição.
Para ilustrar a proposição foucaultiana sobre o anormal, como princípio das relações de poder, podemos usar, o caso policial da família Pesseghini, recentemente acontecido no Brasil, que foi amplamente divulgado pelas mídias e teve grande repercussão social. Tratam-se das mortes de 5 membros da família: o casal de policial, o filho, a avó e a tia-avó.
A tragicidade desse acontecimento se torna ainda mais aguda pelo fato das suspeitas policiais recaírem sobre o único filho adolescente do casal, Marcelo Pesseghini, que após a morte dos familiares foi à escola e ao retornar se matou. Vejamos a matéria publicada no Correio Popular, em 13/12/13:
Dois colegas do estudante Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, de 13 anos, disseram em depoimento ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) nesta terça-feira (20), que o adolescente teria matado os pais, a avó e a tia-avó. Ele teria revelado o fato aos amigos no último dia 5, minutos antes do início da aula. De acordo com as investigações da polícia, Marcelo foi à escola horas depois de matar a família, voltou para casa, na Brasilândia, na zona norte de São Paulo, e se suicidou.
(…) Os amigos de Marcelo disseram que ele criou um grupo de meninos chamado ‘Os Mercenários’, que também tinha o desejo de assassinar os pais, inspirado no jogo de videogame ‘Assassin’s Creed’.??Segundo a polícia, o depoimento de um dos amigos confirmou a suspeita de que Marcelo também pretendia matar a diretora do colégio. Ela teria percebido uma grande mudança no comportamento do adolescente – ele começou a usar um gorro até mesmo dentro da sala de aula –meses antes das mortes.??Para avaliar a mudança brusca no comportamento do menino, a polícia convocou o psiquiatra forense Guido Palomba para acompanhar as investigações.(http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/08/capa/nacional/92780-marcelo-pesseghini-disse-a-colegas-que-matou-a-familia.html)
Para o esclarecimento desse acontecido, esses testemunhos ainda não são suficientes para se declarar a culpabilidade de Marcelo, uma vez que no sistema judiciário, articulado ao saber médico, a condenação de um indivíduo, requer, como prova legal, não só a comprovação da autoria do crime, mas também, os modos de implicação do indivíduo no ato. Em outros termos, para o processo penal funcionar é preciso que se ateste a criminalidade do acusado, isto é, seu potencial para a “passagem ao ato” (como diríamos lacanianos). Daí a pujança do caso de Marcelo,que faz ecoar perguntas a respeito do caso de um menino de 13 anos que silenciosamente mata a família e vai à escolar: por que Marcelo matou o pai a mãe, a avó e a tia?
É a propósito desse questionamento sobre a crimininalidade de Marcelo, quer dizer, do grau de sua inclinação ao crime, que a perícia médico-legal investiga sua vida, buscando no seu dia a dia na família, na escola, na vizinhança os indícios da tragédia.Trata-se aí de traçar ao longo da vida de Marcelo uma série de atitudes, que se equivalem ao crime, na medida em que dizem respeito a um padrão regressivo do desenvolvimento psíquico, situando, assim, a anormalidade no lugar de destaque da cena do crime.
Ora, o comportamento de Marcelo de ir à escola após ter matado toda a família é vinculado pelos peritos, mas também, pelo senso comum, ao crime, ambos indicam o caráter regressivo de Marcelo em lidar com a realidade, quer dizer, referem-se às falhas do desenvolvimento das funções psicológicas de autoregulação/autocontrole em referência às interdições constitutivas das relações humanas.
Nessa perspectiva, conforme a leitura foucaultiana, é esse dado concreto, qual seja, a forma de vida do indivíduo, como índice da periculosidade, de Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, por exemplo, que certifica, para a perícia, a sua culpabilidade. Portanto, através dessa engrenagem medico/judiciário se cria uma relação de identidade entre indivíduo e crime, assim, por exemplo, no caso de Marcelo, o crime se relaciona a identificação do jovem ao “’Assassin’s Creed’.
Para Foucault, essa vinculação, estabelecida pela perícia médico/psicológica, entre indivíduo e delito se estende a outros aspectos da vida, como os modos de ser sexual, uma vez que aí também diz respeito ao processo de desenvolvimento físico e mental do indivíduo. Daí, as práticas de regulação dos hábitos sexuais, relacionando-os às psicopatologias, da atividade escolar, da vida cotidiana, ocorrendo, dessa maneira, uma extensão da norma em toda teia social.
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“Eu compro, Portanto eu Sou”: as Consequências Perversas do Consumismo
Consumo, compreendido em seu sentido mais simples, é condição sine qua non para a manutenção da vida. Pensar em consumo nestes termos leva diretamente a ideia de satisfação das necessidades, principalmente necessidades básicas, como segurança, alimentação e moradia. A partir da mínima garantia destas, surgem as necessidades sociais e de estima, chegando até a realização pessoal. De fato, para diferentes pensadores de diversas épocas e epistemologias, a teleologia humana, o grande motivo pelo qual estamos todos aqui reunidos vivendo nossas vidas, é a autorealização, ou a eudaimonia, conhecida hoje como felicidade.
Agora proponho um exercício mental. Imagine uma sociedade simples, que seria um tipo ideal de um local com a vida pouco sofisticada, uma vila no interior, um local ermo e ainda pouco tocado pela civilização moderna. Nessas condições, enquanto as necessidades básicas poderiam ser adquiridas de maneira privada ou providas pelo Estado (de acordo com o pressuposto ideológico do regime político vigente), as necessidades sociais, amizade, autoestima e autorealização dependeriam quase inteiramente do indivíduo, de sua própria força que vem da capacidade de relacionar-se de maneira satisfatória consigo mesmo e com o meio no qual se encontra inserido. Neste espaço não se espera encontrar uma grande oferta de socialização mercantilizada, pronta para ser consumida na forma de serviços. Vivendo assim, para sermos felizes dependeríamos muito mais de nossa racionalidade substantiva, da busca pelo próprio centro, do “torna-te quem tu és” Nietzschiano, do que da racionalidade instrumental voltada para cálculos meio-fim. Seria uma sociedade que tem na autorealização um caminho de busca interior de sentido para a vida, normalmente atrelado a um ideal de simplicidade.
Até aqui tudo bem. Mas e quanto às sociedades urbanas, racionais, científicas e complexas? Continuando a análise pelo mesmo caminho, rapidamente se torna evidente que muita coisa mudou. O mercado, esta entidade imanente e amoral que tende ao equilíbrio pelas livres trocas, é a mediação para a realização de praticamente qualquer necessidade ou desejo. Em todas as esferas da vontade surgem produtos e serviços correspondentes. De certa forma, a própria ideia de necessidade e desejo tornou-se um produto, obedecendo a lógica da obsolescência e da substituição. A regra é buscar a velocidade ótima do fluxo de mercadorias de maneira que o velho seja abandonado pelo novo o mais rápido possível. As estratégias utilizadas para este fim multiplicam-se como ideologias do consumo e do progresso caminhando de mãos dadas, escondidas como não ideologias e atendendo pelo nome geral de cultura. Vivemos imersos em uma cultura do consumo na qual a lógica da obsolescência é um imperativo. Produtos e pessoas tornam-se obsoletos, sendo manipulados a partir do desejo programado pela propaganda.
Nesta sociedade global do consumo programado, o mercado é do tamanho do planeta. Ninguém consegue impor limites à marcha do desenvolvimento que parece ter assumido vontade própria. Tudo é transformado em mercadorias. Desde relações sociais (facebook, twitter, sites de encontros), passando por estima (livros de autoajuda, roupas), até autorealização (automóveis, imóveis). Toda e qualquer necessidade é codificada na forma de produtos com o apoio do marketing. Consumimos signos acreditando na promessa de que eles podem trazer felicidade, entretanto, a materialidade não nos satisfaz, pois na prática um produto nunca estará à altura de uma simbologia exagerada para vender. Até mesmo estilos de vida são fabricados e comercializados no Shopping Center. Os códigos de vestimenta, o certo e o errado das revistas e das colunas de jornal, a televisão, as multimídias, tentam educar a manada de consumidores, direcionando o fluxo de investimento da próxima moda. “Eu sou aquilo que consumo”. A identidade de consumidor grudou-se a ideia de cidadania (compra consciente) e de família (basta ver a quantidade de propagandas com crianças). Antes de sermos pais, professores, pesquisadores, economistas, alunos, cidadãos e indivíduos, somos consumidores, portadores de signos de diferenciação e aproximação.
As consequências desta transformação histórica, resultado do crescimento populacional e do processo contínuo de ampliação da acumulação do capital, são inúmeras. Focaremos aqui nas que consideramos ser as mais perversas, a exclusão, o endividamento e a falta de sentido para a vida.
A exclusão é uma consequência social, entendida a partir da estrutura de classes. Quanto mais riqueza material produz e circula em uma determinada sociedade, mais marcantes são os traços de pobreza que levam a exclusão. Quanto mais pessoas tornam-se ávidos e peritos consumidores, mais fora e sem possibilidade de circulação ficam os que portam os signos da miséria. A maioria dos espaços da cidade são hoje espaços privados, restritos apenas para consumidores aptos.
O endividamento é outra face maligna do consumismo. Chegamos a um ponto no qual o endividamento das famílias brasileiras corresponde a cerca de 40% da renda anual da população. Segundo os dados de uma pesquisa sobre inadimplência da Confederação Nacional do Comércio, mais de 70% dos respondentes apontam o cartão de crédito como o seu principal tipo de dívida, permitindo inferir que o aumento do endividamento dos brasileiros tem relação com o aumento no consumo de bens supérfluos e não-duráveis. A pergunta é: quem vai pagar essa conta? A resposta: todos (claro, quem tem menos perde mais). Os movimentos tendenciais do capitalismo já ensinaram que uma nação endividada, crescendo financiada pela abundância de crédito propiciada pelo momento internacional que favorece sua posição como receptor do capital global, cedo ou tarde quebrará. A Europa e os EUA, por vias diferentes, chegaram ao mesmo resultado. Quem está pagando a conta? Todos nós, inclusive os países periféricos que financiam o resgate europeu a partir da extração e remessa de juros do sistema bancário, da exploração do trabalho e do extrativismo de matérias-primas, como o cobiçado ouro negro do petróleo. Esta é uma perspectiva que se desdobra distante, é assunto para outro ensaio, por hora basta sabermos que temos uma conta a ser paga e que ela está continuamente crescendo.
Qual o resultado de tudo isso? Para onde estamos indo enquanto civilização? Se realmente existimos para ser felizes e realizados, foi justamente aí que ocorreu o maior de todos os “golpes” da modernidade, um golpe histórico sem autoria determinada. Para uma completa e fluída ascensão da sociedade do consumo programado foi necessário reprogramar a noção de felicidade. Hoje, não é muito difícil perceber que ser feliz está diretamente atrelado á posse de bens materiais e a uma ideia de sucesso profissional. A ideologia do consumismo criou a falsa noção de que a felicidade pode ser atingida a partir da posse de bens. Muitos perseguem esta meta como cachorros de corrida tentando alcançar o coelho elétrico que sempre se distancia. A racionalidade substantiva, capaz de acessar o eu, foi impregnada pelo princípio da eficiência, sendo cada vez mais difícil separá-la da racionalidade instrumental. Assim, nos tornamos seres de essência calculista orientados pela máxima maquiavélica dos fins que justificam os meios. Como é possível ser mentalmente saudável e realizado estando preso a esta racionalidade artificial? É necessário e urgente desvelar e minar estas formas de pensar que nos limitam enquanto seres humanos, seja pela crítica, pela educação ou pela cultura (como manifestação popular). Quando nos tornarmos consumidores equilibrados atingiremos um grau maior de emancipação, dando um grande passo rumo a uma sociedade mais justa e livre.