Na semana do Dia Internacional da Obesidade, especialista em Nutrição oferece vídeos gratuitos

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Entre 04 e 06 de março, Sophie Deram – PhD em Nutrição, especialista em distúrbios alimentares e autora
do best-seller “O Peso das Dietas”- libera gratuitamente vídeos do “Manifesto para o novo olhar sobre
a obesidade”, com palestrantes renomados; conteúdo pode ser 
acessado no site

São Paulo, fevereiro de 2020 – Além da pandemia do coronavírus, o mundo todo -inclusive o Brasil- vive uma outra pandemia crônica, a da obesidade, que prejudica a qualidade de vida e mata milhares de pessoas todos os anos. O dia 4 de março marca o Dia Mundial da Obesidade (World Obesity Day), data em que estudiosos do mundo todo se mobilizam pela conscientização contra a doença.

Pensando em ajudar no combate à obesidade, a PHD em nutrição Sophie Deram, autora do best-seller “O Peso das Dietas”, disponibilizará para o público em geral oito vídeos gratuitos do evento online “Manifesto para o novo olhar sobre a obesidade”, realizado em novembro de 2020. O conteúdo poderá ser acessado pelo site do Manifesto, de forma 100% gratuita, entre os dias 04 e 06 de março”.

“Vemos a data mundial (World Obesity Day) como uma oportunidade para chamar a atenção para a doença, além de promover a mudança no enfoque do tratamento dado aos obesos. Enquanto o foco principal for a perda de peso, o quadro de saúde da população tende a piorar. A saúde é um conceito que engloba o bem estar físico, mental e social da pessoa e sua qualidade de vida, não somente o seu peso”, explica Sophie.

Fonte: Arquivo Pessoal

Palestrantes

Além da idealizadora, o manifesto contou com a mediação da jornalista Fabíola Cidral e com as participações de palestrantes renomados: o sociólogo e antropologista francês Claude Fischler; o coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), o psiquiatra Táki Cordás; a médica Paula Teixeira, fundadora do centro brasileiro de Mindful Eating; e os pesquisadores e também nutricionistas Dennys Cintra e Maria Carolina Mendes, da UNICAMP.

O evento visa despertar a reflexão sobre como lidar de forma mais atualizada e humana com o tratamento da obesidade. Foram apresentadas alternativas para enfrentar a condição, que afeta 19,8% da população brasileira, segundo o Ministério da Saúde. Os convidados também apresentaram estudos científicos que apontam possíveis caminhos para tratar o obeso sem recorrer a dietas restritivas.

O encontro não teve fins lucrativos nem conflito de interesses com as indústrias alimentícia e farmacêutica.
“Com o ‘Manifesto’, vamos na contramão do discurso tradicional e do posicionamento da maioria dos profissionais da saúde, e pretendemos chamar a atenção das autoridades para o novo olhar sobre a obesidade. É necessário rever a abordagem com urgência, adotando um olhar novo e mais empático”, defende.

Serviço
Vídeos Gratuitos- “Manifesto para o novo olhar sobre a obesidade”
Quando: 04 a 06 de março
Como acessar: Pelo site 

Sobre Sophie Deram: Autora do livro “O Peso das Dietas”, é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM – Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM no laboratório de Neurociências.

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Tudo bem não ser normal: It’s Okay Not Be Okay

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“Quando você está cheio de emoções e você está perdendo o foco e você se sente exausto demais para respirar. Não se perca no momento ou desista quando estiver o mais perto. Tudo que você precisa é de alguém para dizer – “Tudo bem não estar bem” (Marshmellow feat Demi Lovato).

“Não se esqueça de nada. Lembre-se de tudo e supere. Se não superar, sempre será uma criança cuja alma nunca floresce.” (Ko Moon Young).

Essas duas frases nos levam a refletir que as pessoas nem sempre estão bem, elas em muitos momentos da vida irão se sentir péssimas por algum motivo. E tudo bem não se sentir bem, tudo bem não ser normal. O que precisamos é saber que não somos determinados por tudo que acontece conosco, somos sim influenciados por aspectos biopsicossociais e espirituais, mas até isso pode haver ou não relação com o que pode está acontecendo conosco. Não podemos mudar nosso passado, mas podemos aprender com ele, podemos utilizar as experiências complexas e difíceis para seguir em frente, para aprendermos a viver de outras formas, para que possamos vislumbrar dias melhores.

A canção do Marshmellow foi lançada em um período que as pessoas podem estar se questionando de como tem vivido a vida. Da mesma forma temos um Dorama que foi lançado nesse ano, mostrando pessoas diferentes, passando por momentos difíceis, sentindo-se desesperadas em suas vidas e não conseguindo até certo momento viver de outra forma. A música enfatiza bastante isso “Se sentindo perdido na ilusão, e ultimamente você está isolado pensando que você nunca terá sua chance, sentindo que você não tem solução, é só porque você é humano sem controle, está fora de suas mãos. Mesmo em situações angustiantes e que causem tamanho sofrimento, é possível pensar “Tudo bem não estar bem, tudo bem não estar bem, quando você está pra baixo e se sente envergonhado, tudo bem não estar bem”.

Para muitos a pandemia do Covid – 19 tem sido um divisor de água, muitos sobreviveram e outros mais irão sobreviver. Mas é possível mensurar todas as questões que atravessaram esse período de pandemia? Para Cepedes (2020) e Ornell, et al. (2020), em contextos de epidemia, muitas pessoas são afetadas psicologicamente e esse número costuma ser maior do que os atingidos pela enfermidade, podendo ainda haver mais da metade da população com consequências psicológicas.

Fonte: encurtador.com.br/EIT25

Revisão de estudos sobre situações de quarentena apontou alta prevalência de efeitos psicológicos negativos, especialmente humor rebaixado e irritabilidade, ao lado de raiva, medo e insônia, muitas vezes de longa duração (BROOKS et al., 2000). Contudo, dado o caráter inédito do distanciamento e isolamento sociais simultâneos de milhões de pessoas, o impacto da atual pandemia pode ser ainda maior, levando à hipótese de “pandemia de medo e estresse” (ORNELL et al., 2020). O que sabemos que as pessoas já viviam como podia, em contextos de crise, algumas conseguem acessar reservas emocionais que transpõem certas questões. Porém outras infelizmente são transbordadas de tal forma que podem piorar quadros clínicos já existentes ou manifestar outros jamais concebidos.

Uma forma positiva de ver situações complicadas com outra perspectiva é entrando em contato com outras realidades, mesmo aquelas às vezes fictícias. No drama “Tudo bem não ser normal” é contada a história de uma escritora de livros infantis com problemas de socialização e um enfermeiro que trabalha em hospitais psiquiátricos. Ko Mun Yeong é a típica narcisista, que faz tudo o que quer e sempre que quer algo vai atrás sem medir esforços. Já Moon Gang-Tae é um rapaz que vive para cuidar do irmão mais velho que apresenta diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), por terem que se mudar regularmente Gang-Tae não tem muitos amigos e se isola de quase tudo, trabalha com doentes mentais e prioriza seu irmão, ao invés si mesmo.

Os dois se cruzam depois de muitos anos, ambos vivem realidades muito diferentes, mas por conta do acaso passam a conviver novamente na pequena cidade onde moravam quando crianças. Época essa que marcou de forma terrível a vida dos protagonistas, os irmãos Moon tiveram que ir embora às presas, pois a mãe foi vítima de assassinato e a mãe de Mun Yeong desapareceu de forma misteriosa. Depois de muitos anos os três irão descobrir os fatos que culminaram na mudança dramática de vida deles.

Fonte: encurtador.com.br/dwEK3

Mas antes disso, é perceptível que os personagens principais estavam estagnados, quase que respiravam para sobreviver e não para viver. Mun Yeong tinha tudo para ter uma vida digamos agradável, era uma escritora bem sucedida, reconhecida pelo talento herdado pela mãe (também era escritora, porém de suspense), contudo sentia que as coisas estavam sem sentido. Quando reencontra Gang-Tae começa a reconhecer as emoções de modo real e quanto mais tempo convive, não apenas com ele, também com seu irmão, seu maior fã. Sente que pode pela primeira vez voltar viver de novo, ou seja, começa a ir em busca da superação de seus medos e traumas do passado, como ela mesmo diz na trama “Um trauma deve ser encarado de frente, e não mitigado por trás”. A mesma tinha pais muito rígidos e não permitia que se vinculasse com ninguém. Por fim, a mãe lhe causava muito medo e angustia por querer lhe controlar (não é pouco controle, ela afastava todos do caminho da filha).

Já Gang-Tae sente que nunca viveu de fato, sempre teve que cuidar de seu irmão, mesmo quando a mãe estava viva tinha que fazer de tudo para que nada de ruim acontecesse com ele. Quando um infortúnio aconteceu, seu irmão quase se afogou e ele por um instante hesita em salvá-lo (por achar que todos seus problemas seriam resolvidos), passa a se culpa cada vez mais e depois que sua mãe morre, cuida do irmão e o coloca sempre em primeiro lugar. Nunca criando raízes, nunca fazendo o que gosta, pois assim acha que o irmão será de fato preservado. Quando vê novamente Mun Yeong começa a despertar para novas possibilidades, embora hesite em se aproximar da moça, por achar que ela vai atrapalhar ainda mais suas vidas. No fim, os dois tentam encontrar formas de equilibrar suas histórias, mas tudo que envolve o drama de suas vidas é ainda mais complicado do que parece, de alguma forma a morte e o desaparecimento de suas mães estão interligados.

Por fim temos o fofo e brilhante Moon Sang-tae, um homem muito inteligente, que adora dinossauros e pinta extremamente bem. Um dos problemas evidenciados no personagem é sua dificuldade em socialização e em aceitar que novas pessoas se vinculem a ele a seu irmão. Outro ponto é o seu trauma de borboletas, problema este que começou quando era mais jovem, por conta disso sempre que chega a primavera e as borboletas começam a aparecer em maior frequência, ele e o irmão precisam se mudar. No começo da trama quando Mun Yeong está determinada a se aproximar de seu irmão e o usa como desculpa para esse fato, ele não se incomoda de início, mas no decorrer da história isso traz complicações para os irmãos e muitas questões dolorosas vem à tona.

Fonte: encurtador.com.br/ALOT2

Tudo bem não ser normal, demonstra uma delicadeza e muita leveza os problemas advindos da vida complicada e marcada por traumas. Tudo isso mostrado através do poder das artes e as fortes ilustrações nos livros infantis. Por meio de histórias fortes, resilientes e muito dolorosas, que eram contadas em forma de metáfora em cada episódio. Marcando ainda mais quando a última publicação da autora é exposta, revelando a força existe das relações e os vínculos com as pessoas queridas. Pois, a forma que Mun Yeong encontrava para extravasar e demostrar suas emoções era por meio da escrita e muitas vezes na tentativa de evitar se transformar naquilo que mais temia, a mãe dura e medonha.

Outro ponto bastante relevante na trama são as histórias por trás dos pacientes psiquiátricos do Hospital OK, lugar este que visava ressignificar e tratar de forma humana os traumas, os transtornos e os problemas advindos da vida deles. Todos os personagens principais percebiam o peso que era carregar um estigma na sociedade, sendo muitas vezes evidenciado no discurso por exemplo nos familiares dos pacientes, em amigos etc. Eles conseguiram também mesmo com dificuldades se inserir na vida destas pessoas, que de certa forma também auxiliam na tomada de consciência, de que a vida muitas vezes é complicada por muitos fatores. Todavia, quando se há perspectivas futuras, uma rede de apoio para abarcar tais questões, tratamento e intervenções pautadas nessas necessidades, é possível haver diferença significativas, que irão transformar a vida dessas pessoas.

It´s Ok Not Be Okay mostra que é possível ressignificar traumas, conflitos e pensamentos de impossibilidade. O ser humano é dotado de inteligência, habilidades e capacidades inimagináveis, é preciso falar sobre as dificuldades, dar uma chance para resolver os problemas da vida. Tudo bem não ser normal, pois não somos feitos de fatos ou de momentos, somos feitos de tudo. É importante lembrar que todo mundo pode passar por um momento difícil da na vida, que tal contexto não nos define e de perto ninguém é normal.

“O que a bruxa sombria tinha roubado deles não eram seus rostos de verdade, mas sua coragem de encontrar a felicidade.” (Ko Moon Young).

#psycho but it's okay from only kim hanbin
Fonte: encurtador.com.br/kmqPR

REFERÊNCIAS

BROOKS, S. K., et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. The Lancet, v. 395, n. 10227, p. 912-920, March 2020.

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES EM SAÚDE; FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19: Recomendações gerais. Brasília, 2020 a.

ORNELL, F. et al. “Pandemic fear” and COVID-19: mental health burden and strategies. Braz. J. Psychiatry, São Paulo, 2020. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462020005008201&lng=en&nrm=iso>.

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A ligação: um jogo de passado, presente e futuro

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A ligação (2020), estreia da Netflix deste ano, figura no Top 10 dos assistidos e por uma boa razão. Seo-yeon, uma das personagens principais, retorna para a casa que morou quando criança e recebe ligações estranhas de uma desconhecida pedindo por ajuda. Após descobrir o diário da mulher que lhe ligou numa espécie de porão da residência, acaba por descobrir que as duas estão na mesma casa, só que em tempos diferentes.

O jogo de passado e futuro influenciando um ao outro é uma das marcas do filme, que lançam as duas personagens, Seo-yeon e Oh Young-sook, em uma narrativa muito interessante sobre doença mental, luto e até onde as pessoas vão em nome dos próprios interesses. Seo-yeon e Oh Young-sook se tornam muito próximas através das ligações cotidianas, contando sobre suas famílias, como vivem e as diferenças existentes em cada época.

Foto: filme A ligação (2020)

Assim, ficamos cientes de que Seo-yeon mora sozinha, sua mãe está internada em um hospital em quadro aparentemente crítico e que seu pai morreu em um acidente doméstico quando ela era criança. Sobre Oh Young-sook, de que vive com sua madrasta que a tortura constantemente pois acredita que ela esteja possuída por demônios, além de enclausurá-la dentro de casa e manter sua rotina rigidamente.

Em dado momento, após Oh Young-sook encontrar no passado Seo-yeon ainda criança, procuram realizar a tentativa de evitar o acidente ocorrido com o pai de Seo-yeon e assim, consequentemente, evitar sua morte. A experiência tem sucesso e numa cena que lembra Matrix (1999) ou A Origem (2010), o presente de Seo-yeon é completamente alterado, mediante a mudança no passado.

Foto: filme A ligação (2020)

Nesse presente, seu pai está vivo e sua mãe não está doente, alterando também outras questões de ambiente, como a casa que vivem, como se comportam e outros. A relação das duas é equilibrada até o momento que Oh Young-sook percebe que a amiga está ignorando-a em nome de ter momentos com a família e sua madrasta descobrir que ela está falando com alguém ao telefone. Após mais uma sessão de tortura, Oh Young-sook retorna para a amiga, que lhe informa que ela será assassinada pela madrasta num ritual de exorcismo para “cura da doença mental”. Depois disso, fica claro que o futuro tem o benefício do conhecimento, pois tudo o que já passou foi documentado de alguma forma e pode ser utilizado pelas duas.

Foto: filme A ligação (2020)

Depois do assassinato e de finalmente se ver livre, Oh Young-sook sai às ruas, faz compras e experienta o que já desejava: um pouco de vida “normal”. A personagem não aparenta remorso em nenhum momento pelo o que fez, nem sequer no assassinato seguinte, quando mata um fazendeiro que a visita, por ter encontrado o corpo de sua madrasta na geladeira.

Quando observada a ausência repentina do fazendeiro que era amigo de sua família, Seo-yeon descobre através de relatórios policiais que Oh Young-sook foi acusada pelo homicídio das duas pessoas e condenada à prisão perpétua. A partir de então, a trama muda de direção e o que era amizade se torna hostilidade e ameaças, pois Oh Young-sook deseja saber qual prova a incriminou e assim evitar de ser presa, informação da qual apenas Seo-yeon pode lhe dar.

Na sequência, a história se dedica ao jogo de passado-futuro entre as duas personagens, com muitas reviravoltas, mortes e violência envolvida no processo. Até onde ir para evitar a morte de um familiar? Como processar o luto, quando ele ocorre mais de uma vez pela mesma pessoa? Quais os limites de comportamento em pessoas diagnosticadas com transtornos mentais? O filme é muito bem produzido e apesar da impossibilidade da trama, é interessante pensar o que faríamos se pudéssemos alterar nosso passado, presente e futuro. Ao final, resta a impressão de confusão, ao percebermos que as influências entre os tempos eram maiores do que inicialmente inferido.

Download Gunjan Saxena The Kargil Girl (2020) Hindi 480p [450MB] || 720p [1GB] || 1080p [3.7GB] – KatmovieHDonline

Título Original: Call
Ano de produção: 2020
Dirigido por: Lee Chung-hyun
Gênero: Suspense, Terror
Países de Origem: Coreia do Sul
Duração: 112 minutos

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Psicologia hospitalar: acolhimento ao doente mental

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O campo de atuação denominada saúde mental surgiu com o objetivo de oportunizar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participações em ações sociais, com o intuito de tratar e respeitar o paciente de maneira singular

O tratamento para a loucura surgiu no século XIX através de uma proposta terapêutica do médico Philippe Pinel, colaborando para a eclosão da psiquiatria. Antes de Pinel, qualquer pessoa que representasse risco social era enclausurada sem assistência médica. Tais pessoas eram: loucos, mendigos, ladrões, leprosos, mães solteiras e órfãos. Isto por que a cura era buscada através do isolamento social, e caso não acontecesse, o destino era a exclusão (FOUCAULT, 1997).

Através da movimentação de Pinel e do cenário de castigo e exclusão, abre portas para diversos movimentos, com o intuito de denunciar as péssimas condições de trabalho, precariedade dos ambientes, condições insalubres, isolamento em celas e tratamento violento como forma de punição. Assim como a Reforma Psiquiátrica Brasileira (AMARANTE, 1995), que por influência da Reforma Democrática Italiana, foi instaurada no Brasil na década de 70.

Fonte: encurtador.com.br/mBHNY

O campo de atuação denominada saúde mental surgiu com o objetivo de oportunizar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participações em ações sociais, com o intuito de tratar e respeitar o paciente de maneira singular (NETO, 2008). Logo, o paciente passou a ter voz. A partir da necessidade de dar a voz do saber ao paciente, para buscar melhor entendimento, e resultar em um tratamento mais eficaz, abrangendo o psicossocial e descentralizando o modelo biomédico, surge os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

[…] são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários, que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dessas pessoas através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários (BRASIL, 2005, p. 27)

A participação do psicólogo na equipe multidisciplinar se torna fundamental, visto que o psicólogo promove escuta terapêutica individual e grupal, assim como trabalha na produção de informações de tratamento e redução de danos, direcionada ao doente, a família e a sociedade em que o doente está inserido.

Fonte: encurtador.com.br/tX179

É sabido que transtornos mentais, neurobiológicos e/ou problemas sociais decorrentes do uso e abuso de álcool e outras drogas é um problema social grave. Quando um indivíduo necessita de cuidados especializados, que não se enquadram aos serviços oferecidos no CAPS, o encaminhamento hospitalar é realizada. A internação é realizada em uma Unidade Psiquiátrica situada em Hospitais Gerais. A ala psiquiátrica é composta por profissionais de diferentes áreas, como psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistes sociais, entre outros (COLITO, 2016).

Por fim, é importante ressaltar que nem sempre existiu o termo Psicologia Hospitalar no Brasil. O surgimento ocorreu em 1970, com a primeira investigação biopsicossocial de um paciente da ala de ortopedia de um hospital de São Paulo. Segundo Castro e Bornholdt (2004) a terminologia é inexistente em outros países. É importante diferenciar a psicologia hospitalar e a psicologia da saúde. A primeira faz parte da segunda, no entanto tem um campo delimitado, o ambiente hospitalar. “Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento” – aquele que se “dá quando o sujeito humano, carregado de subjetividade, esbarra em um ‘real’, de natureza patológica, denominado doença…” (SIMONETTI, 2004, p. 15 apud MOSIMANN; LUSTOSA, 2011). Já a segunda tem uma maior amplitude, pois abarca desde escolas a hospitais. “A Psicologia da Saúde é a ciência que busca responder questões relativas à forma como o bem-estar das pessoas pode ser afetado pelo que se pensa, sente e faz” (STRAUB, 2005, apud MOSIMANN).

Acolhimento psicológico ao doente mental na ala psiquiátrica

O acolhimento deve estar presente em qualquer situação de humanização da saúde. No atendimento não tem um local específico de realização, visto que ele pode ser no corredor, no leito e/ou no consultório. O intuito é acolher e dar suporte ao paciente de acordo com suas queixas e necessidades físicas e psicológico.

[…] postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde […]. (BRASIL, 2015, S/P)

A preparação do psicólogo é importante, pois o mesmo precisa planejar a intervenção considerando, além dos fatores psíquicos, os fatores sociais em que o paciente está inserido e que pode ser potenciador do adoecimento (SIMONETTI, 2016). Não é trabalhado a cura completa, visto que paciente internado, pode ter um longo histórico de internação e/ou de experiências de crises, que podem deixar sequelas, impossibilitando o alcance do reajuste psíquico anterior. Desta forma, novos reajustes são/podem ser feitos, com o intuito ter uma melhor qualidade de vida diante da limitação psicológica.

Fonte: encurtador.com.br/wyKS5

É importante que o psicólogo se mantenha calmo, para que possa passar tranquilidade e segurança ao paciente, visto que o acolhimento não é um ambiente de agitação. Isto por que um paciente em crise geralmente é agitado, e o psicólogo precisa saber o momento certo de fazer a contenção de ansiedade (SIMONETTI, 2016). O paciente em crise, geralmente, é inundado por um real simbólico, e a intensidade dos sintomas pode ser ´´assustadora“ para o profissional que está iniciando, o que aumenta a importância de uma preparação antes de se iniciar em tal campo.

Inicialmente, se faz necessário que o psicólogo faça um breve exame do estado mental, investigando informações do paciente para ter ideia do grau de adoecimento psíquico. O exame do estado mental é a pesquisa sistemática de sinais e sintomas de alterações do funcionamento mental, realizado durante a entrevista psicológica e psiquiátrica. É analisado: Consciência, Atenção, Orientação, Memória, Afetividade, Pensamento, Juízo Crítico, Linguagem, Cognição, entre outros. Comorbidades também são comuns, logo o psicólogo precisa analisar com cautela a queixa do paciente, e saber diferenciar sintomas do transtorno mental, do medicamento, de algum outro transtorno (não diagnosticado) e/ou de alguma doença orgânica.

Pode acontecer de alguns pacientes em crise não conseguirem se localizar no tempo e no espaço, assim como não ter juízo crítico da doença, e/ou retardo mental, etc. Tal cenário fomenta a importância do atendimento a família, a fim de obter informações que auxiliem no tratamento do paciente. Muitas vezes o acolhimento da família também se faz necessário como forma de promover escuta terapêutica e/ou de educar a família quanto aos sintomas e tratamento da doença. Pois pode ser o primeiro surto e/ou internação, e o parente não se enxergar capaz de passar pelo enfrentamento da situação, não entender a doença e/ou o tratamento, se culpar, negar e ter medo. Pode acontecer, também, de o parente já estar esgotado fisicamente e mentalmente, visto que cuidar de um doente mental não é uma tarefa fácil, e exige muita paciência e gasto de energia.

Fonte: encurtador.com.br/fmtH0

Por fim, o psicólogo precisa delimitar o foco, que é ajudar o paciente e/ou familiar a passar pelo processo de adoecimento, enquanto houver internação. Desta forma os atendimentos são breves, objetivos e informativos. A duração de internação do paciente cabe a necessidade de cada paciente, podendo durar dias ou semanas. É responsabilidade, também, do psicólogo de frisar a importância da continuação do tratamento após a alta, informando que existe uma rede de apoio, fora do ambiente hospitalar, que o doente e família pode recorrer.

Referências

AMARANTE, P. (1995). Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz.

BRASIL. Ministério da Saúde. Dicas em saúde: acolhimento, 2015.

Brasil. (2005). Ministério da Saúde. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. Brasília, DF. http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/relatorio_15_anos_caracas.pdf.

CASTRO, E. K. & BORNHOLDT, E. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 3, p. 48-57, 2004. Acesso em: 22 mar. 2017.

COLITO, Eliana, A. Assistência à pacientes portadores de transtornos mentais em unidades de emergência e urgência: capacitação dos profissionais de saúde. 2016. 20 f. Monografia (Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Atenção Psicossocial) – Curso de Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

FOUCAULT, M. (1997). A história da loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva.

LUSTOSA, M. A. A difícil tarefa de falar sobre morte no hospital. Rev. Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 203-227, 2011.

MOSIMANN, Laila T.; LUSTOSA, Maria Alice. A Psicologia hospitalar e o hospital. Santa Casa da Misericórdia do RJ-CESANTA. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v.14, n.1, jun. 2011.

KUBO, O. M., & BOTOMÉ, S. P. (2001). Formação e atuação do psicólogo para o tratamento em saúde e em organizações de atendimento à saúde. InterAÇÂO, 5, 93-122. Recuperado em 26 ago., 2009, de http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewFile/3319/2663.

SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. PERES, Girlane Mayara e LOPES, Ana Maria Pereira. Acompanhamento de pacientes internados e processos de humanização em hospitais gerais. Psicol. Hosp. (São Paulo), v.10, n. 1, p. 17-41, 2012.

SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. 8. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2016.

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A eletroconvulsoterapia em pauta: o cérebro como fetiche

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Dias atrás, no meu percurso cotidiano, passei em frente a uma banca de jornal e notei algo que não havia notado até então: uma fileira de 12 revistas expostas, todas se referindo ao tema cérebro e, quase todas, expunham na capa uma imagem do cérebro. Imediatamente me veio à memória o que aquela mesma banca expunha há cerca de 20 anos atrás: os corpos nus das mulheres. Reflito então: o que aconteceu nos últimos 20 anos que fez com que o cérebro fosse exibido nesse lugar de fetiche?

Não é novidade a tentativa de encontrar uma relação direta entre nossa psique e a estrutura ou funcionamento do cérebro. O tema já aparecia nas discussões filosóficas de Platão e Hipócrates, mas que no século XIX que surge uma ciência do cérebro, o marco teria ocorrido em 1810, com o médico anatomista e fisiologista Franz-Josef Gall e sua cranioscopia: um método de investigação que concebia uma correspondência direta entre protuberâncias e depressões do crânio e do cérebro. Tal método abre o caminho para a frenologia, uma teoria que supunha ser possível analisar as faculdades mentais de um indivíduo por meio da inspeção do seu crânio. No auge desta teoria, o frenologista Alexandre David afirma ter descoberto no desenho da cabeça de Descartes todas as faculdades intelectuais, perceptivas e individuais responsáveis pela filosofia do pensador.

Temos assim, que a procura por compreender o cérebro e ser capaz de relacioná-lo com nosso componente psicológico não é nova, todavia, os aparatos tecnológicos capazes de tornar o cérebro vivo um objeto da ciência, só surgem nas últimas décadas. O termo neurocientista, por exemplo, se estabelece na década de 1990, que é, inclusive, chamada de “década do cérebro”, e se caracteriza por grande investimento em pesquisas nesse âmbito. O surgimento das tecnologias de exames por imagens alimentaram a fantasia de que observar o cérebro pensando, seria o mesmo que alcançar o pensamento em si, como se o pensamento fosse uma espécie de secreção do cérebro.

Fonte: https://bit.ly/2RXCmTO

Chegamos assim ao sujeito contemporâneo, o “sujeito cerebral”, a figura antropológica que incorpora a ideia de que o ser humano é essencialmente reduzível a seu cérebro. Já o termo “neurocultura” é cunhado para explicar o impacto social que o desenvolvimento das neurociências provocou na ciência, na filosofia, na medicina, na educação, na mídia, nas políticas públicas, na arte, ou seja, em todos os campos da cultura, dando ao cérebro um lugar privilegiado.

Um bom exemplo da proporção que essa neurocultura alcançou é notado num programa vespertino de TV da Rede Globo – Encontro com Fátima Bernardes – no qual participa diariamente um médico neurocientista e neurocirurgião, que se dispõe a explicar ou abordar, qualquer tema ali tratado, sob a ótica das dinâmicas neuroquímicas e cerebrais. Numa delas, por exemplo, “o doutor” se dispõe a explicar as fases de um relacionamento amoroso e possíveis modos de fazê-lo “dar certo”, utilizando explicações neuroquímicas. Sob tal ótica, o cérebro não é um órgão objeto da ciência biológica, mas num ator, um agente social, o que torna possível tratar dos entraves das relações amorosas por meio de explicações do funcionamento cerebral. Em última análise, nossos cérebros é que amam ou não amam.

Assim, a cerebralidade parece ser um resultado natural do progresso da ciência e das tecnologias utilizadas para pesquisar o cérebro, no entanto, é preciso compreender o quanto ela pactua com uma ideologia individualista de saúde mental, muito própria da contemporaneidade, no qual tratar-se significa se tornar uma espécie de empreendedor de si mesmo. A popularização das terapêuticas comportamentais e das ferramentas coaching, por exemplo, seguem nessa direção. Apartados de uma noção de coletividade, mergulhados num individualismo narcisista e numa política econômica neoliberal, que defende e valoriza a meritocracia, adotar a ideia de que qualquer fracasso ou dificuldade que uma pessoa enfrente possa ser localizado em seu cérebro, cumpre duas funções ideológicas importantes: oferta respostas individuais para problemas que seriam do laço e do contexto social, e promete, com mais presteza, rapidez e eficiência, indicar os reparos necessários ao cérebro-sujeito.

Fonte: encurtador.com.br/IJKS9

Obviamente, que essas duas concepções, quando associadas, abrem um mercado consumidor importante para as terapias do cérebro. A multiplicação de diagnósticos e medicamentos psiquiátricos se alimenta de tal lógica, mas há outras que também se dispõem a atuar na estrutura ou bioquímica cerebral, tal como a eletroconvulsoterapia, estratégia que tomou à cena nas últimas semanas depois de ser citada, numa nota técnica, como recurso terapêutico indicado dentro das novas diretrizes da política de saúde mental.

O eletrochoque no Brasil – o nome originário dessa terapêutica – se tornou um método historicamente condenado, com o advento dos movimentos para garantia de direitos dos doentes mentais e o fim dos manicômios, atrelados ao movimento da reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial. No entanto, tais procedimentos, animados pelo avanço das neurociências, ressurgem com novas denominações, uma roupagem mais humanizada e critérios de indicação mais rigorosos.  A promessa é intervir diretamente no cérebro, a fim de tratar sintomas psiquiátricos graves, persistentes e refratários a outros recursos terapêuticos.

Sem entrar da discussão da eficiência ou não de tal ferramenta em alguns casos pontuais e específicos, onde o risco seja menor que o dano, o mais importante é perguntar: em se tratando de política pública, qual o real impacto que uma tecnologia tão restrita dessas trará para o campo da política de saúde mental? Quem compreende a lógica do SUS e da medicina sanitária que lhe respalda, sabe que investir em tecnologias mais básicas e de maior amplitude de alcance, são muito mais eficazes do que investir nas tecnologias mais complexas e especializadas, além de serem muito mais baratas e de produzirem efeito em cadeia e de longo prazo, pela mudança de cultura e pela formação de compromisso com o coletivo. Nessa lógica, investir em grupos de orientação e em programas de atividade física para hipertensos, por exemplo, é muito mais eficaz do que equipar hospitais para realizar cirurgias cardíacas, e ainda, quanto mais investimos no trabalho de atenção comunitária, tanto menos unidades especializadas em emergência cardíaca serão necessárias.

Fonte; https://bit.ly/2tlW7KY

Sendo assim, resgatar a eletroconvulsoterapia dentro da política pública de saúde mental sem uma discussão ampla – um método historicamente comprometido com as atrocidades de um passado manicomial que ainda tem feridas abertas – já seria controverso apenas por um motivo: por desrespeito ao movimento de luta antimanicomial, um movimento de trabalhadores, usuários e familiares de saúde mental que desconstruiu o modelo desumano dos manicômios, abrindo outro modo de olhar para a doença mental. Além disso, trata-se de uma tecnologia muito especializada que não trará nenhum impacto realmente importante para o campo da saúde mental, nenhum efeito de saúde coletiva, nem de mudança de cultura, ou de aprendizagem social. A eletroconvulsoterapia é apenas resultado desse nosso fetiche pelo cérebro, que produz um tipo de política de saúde mental que não  se interessa por pela promoção de saúde comunitária, pelo cuidado psicossocial, pela inserção social, pela a redução de estigmas ou pelo apoio as famílias.

A grande sacada da política não manicomial – e isso não significou apenas desconstruir o manicômio – foi entender a doença mental como uma questão de responsabilidade coletiva, partilhada, como algo que se instala no laço entre as pessoas e não dentro delas. Tanto é assim, que uma característica peculiar da doença mental é que ela precisa do outro pra existir. Sem o outro, o sintoma do doente mental não seria identificado, por isso, a recusa social e o isolamento é sempre uma constante nesses casos, especialmente nos mais graves. Sob a ótica psicossocial, a doença mental é uma ferida do laço que nos une aos outros, é um desencontro de linguagem, é uma deficiência de afeto. Nesse caso, as terapêuticas que atuam na organicidade dos sujeitos são apenas coadjuvantes no processo de tratamento, o mais importante será restaurar o laço e a comunicação do sujeito com aquilo que ele ama ou deseja. Uma política de saúde mental não manicomial é aquela compreende que uma pessoa adoecida não tem um cérebro doente, ela está com seus laços e vínculos doentes; seu cérebro pode sofrer os efeitos disso, mas não é o local onde se atua terapeuticamente.

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Retrocesso nas políticas públicas de saúde – (En)Cena entrevista Sílvio Yasui

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Foto: Reprodução do Facebook

Professor da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Silvio Yasui tem doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, e é um dos profissionais brasileiros que mais se destacam na atenção psicossocial. Psicólogo formado na década de 70, Yasui tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Mental, atuando principalmente nos seguintes temas: saúde mental, reforma psiquiátrica, atenção psicossocial, oficinas terapêuticas e Política Nacional de Humanização.

Em entrevista exclusiva ao (En)Cena, Silvio Yasui disse que a indicação de Valencius Wurch Duarte Filho, que tem uma postura pró-manicômio, para administrar a Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde (MS) é um contracenso, pois não corresponde aos esforços que vem sendo feitos na área nos últimos 30 anos. “Como colocar alguém que não compactua com essa política (de humanização e atenção psicossocial) para responder pelo setor?”, questiona Yasui.

O profissional também faz um panorama das políticas de Saúde Mental no Brasil e rebate as acusações do ministro da Saúde de que o movimento anti-Valencius é de caráter meramente ideológico: se assim o fosse, “a Política de Saúde Mental do Brasil não seria reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) como referência mundial de reforma dos sistemas de saúde mental”. Além disso, Silvio Yasui diz que os atuais desafios nas políticas de Saúde Mental, por serem grandiosos, são promissores.

Por fim, Yasui sentencia ao dizer que, atualmente, “o projeto da Reforma Psiquiátrica está em risco” no Brasil, mas os profissionais atentos a este movimento e a sociedade em geral já estão se mobilizando politicamente para tentar barrar eventuais retrocessos. Confira estes e outros assuntos na entrevista a seguir.

(En)Cena – Qual o panorama, hoje, das políticas públicas nacionais no campo da “Saúde Mental”?

Sílvio Yasui – A política de saúde mental que vem sendo construída há mais de trinta anos apresenta muitos problemas e impasses que são consequência de sua grandeza e complexidade. Sua grandeza está no fato de estar presente em todos os municípios mais importantes do país, com uma rede de serviços que se amplia a cada dia.

E a sua complexidade evidencia-se, pois, a política propõe uma organização das ações nos âmbitos da prevenção e promoção da saúde; no cuidado com uma ampla e diversa rede de ações, na reabilitação e inclusão social, com uma gama de ofertas e experiências que vem se acumulando ao longo dos anos.

Isso faz com que os desafios estejam à altura do que propomos transformar. Temos dificuldades e gargalos no financiamento que é sempre inferior as necessidades; temos de enfrentar a questão de uma atenção mais efetiva e rápida aos momentos de crise; também ao um cuidado a questão das dependências que seja ampla, abrangente e diversa; os modos de cuidar da infância e adolescência ainda carecem de um avanço, especialmente no que se refere a articulação com outras redes; precisamos encarar urgentemente o desafio de fazer projetos de trabalho e geração de renda que de fato gerem renda aos usuários.

Enfim, ampliamos, com a política de saúde mental, a oferta dos cuidados em muitos âmbitos. Desta ampliação surgem, por consequência, os desafios.

Mas é importante frisar que eu vejo estes desafios como bastantes promissores pois colocam na agenda de nossa política de saúde mental um precioso momento de reflexão e mudança.

(En)Cena – Como o senhor vê a indicação de Valencius Wurch Duarte Filho, que claramente tem uma postura pró-manicômio, para administrar a Área Técnica de Saúde Mental do MS?

Sílvio Yasui – Considerando o que expus acima, vejo com uma grande preocupação. Pois o momento exige da gestão da política uma percepção muito clara dos imensos desafios que esta mesma política gerou. Alguém que nunca participou disso e, muito pelo contrário, posicionou-se contrário, não tem, a meu ver, condições de ser gestor desta política.

(En)Cena – Que ação o senhor e outros ativistas brasileiros neste campo irão realizar para tentar se contrapor a este atual momento?

Sílvio Yasui – Isso é um alento. Desde que a notícia da indicação do Valencius tornou-se pública imediatamente iniciou um amplo movimento de resistência e contestação. Primeiro pelas redes sociais e depois ocupando as ruas, Assembleia Legislativas, Câmaras Municipais. Apoios internacionais começaram a chegar desde os primeiros momentos. Isso culminou na ocupação do andar no Ministério da Saúde, onde encontra-se a Coordenação de Saúde Mental, por participantes dos diferentes movimentos sociais que apoiam de modo irrestrito a Política de Saúde Mental. De minha parte, tenho contribuído ajudando a divulgar todas as movimentações nos diferentes locais do país, tenho realizado discussões com os alunos da universidade, colaborado na elaboração de moções de protesto, enfim, tudo o que está ao meu alcance fazer estou mobilizando forças para contrapor e tentar reverter esta situação.

(En)Cena – Nestes anos todos de ativismo, quais as suas principais ações na área de atenção psicossocial? Estas ações estão sob risco?

Sílvio Yasui – Poderia dizer que minha vida profissional desde o inicio está vinculada a área da atenção psicossocial. Desde o momento em que, estudante do segundo ano de psicologia entrei em um manicômio para um estágio voluntário, passando por meu ingresso na saúde pública, trabalhando no Projeto dos Lares Abrigados do Juqueri, depois como integrante da primeira equipe do primeiro Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS Luís da Rocha Cerqueira. Depois como gestor regional de saúde mental em Assis, no interior de São Paulo. Depois como supervisor clínico-institucional de alguns CAPS. Tenho um mestrado e um doutorado com o tema da Reforma Psiquiátrica e, por fim, tenho dedicado os últimos 20 anos na formação de psicólogos para o campo da Atenção Psicossocial. Acho que o projeto da Reforma Psiquiátrica está em risco. Não há uma ou outra ação em risco. São as suas bases que podem sofrer ataques que poderão tornar este nosso projeto mais frágil.

(En)Cena – O principal argumento na indicação Wurch Duarte Filho contra as vozes antimanicomiais é que estas são mais ideológicas e menos científicas. Haveria, com isso, o uso de uma falácia para tentar constranger um movimento que, também, tem bases científicas?

Sílvio Yasui – A referência a ser o movimento da Reforma Psiquiátrica ideológica e pouco científica foi feita pelo ministro ao indicar o Valencius. Esta é uma posição conhecida da Associação Brasileira de Psiquiatria, que tenta desqualificar todo o avanço e o reconhecimento da política de saúde mental com este argumento frágil e falso. Fosse apenas um movimento ideológico e pouco cientifica a Política de Saúde Mental do Brasil não seria reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) como referência mundial de reforma dos sistemas de saúde mental. E nem teríamos tantos artigos publicados em revistas qualificadas nacionais e internacionais, nem tantos livros e coletâneas. Não teríamos tantos grupos de pesquisas nos principais programas de Pós-Graduação de Saúde Coletiva, Psicologia, Medicina, Enfermagem, Serviço Social, Filosofia dentre outros, todos validados e credenciados pelo CNPq.

É interessante que, apesar desta posição, o ministro indica uma pessoa que não tem uma única publicação em seu Curriculum Lattes. Quem é pouco científico e ideológico então?

(En)Cena – Como a comunidade internacional de psicólogos vem encarando esta nomeação de Wurch?

Sílvio Yasui – A posição de uma boa parte da comunidade internacional da saúde mental, e não apenas da psicologia, é contrária a esta indicação. Por exemplo, Benedeto Saraceno, ex-diretor de Saúde Mental da OMS já se posicionou publicamente contra e conclamou outras lideranças a fazerem o mesmo. Em um evento internacional em Trieste na Itália, pesquisadores de diferentes países produziram uma nota de repúdio a nomeação do Valencius solicitando a sua imediata revogação. Como somos um país com uma política de saúde mental exemplar, as manifestações chegaram de muitos lugares.

(En)Cena – A temática da saúde mental anda lado a lado com a defesa dos Direitos Humanos. Estamos atravessando tempos obscuros, com o atual cenário político nacional? Em que medida as práticas coercitivas e com menos ênfase no aspecto humanista impactam as políticas públicas para o setor?

Sílvio Yasui – São tempos de maior expressão do conservadorismo em muitos campos. De certo modo já sabíamos, quando elegeu-se o Congresso mais conservador desde o golpe militar de 1964. A conta desta composição está sendo apresentada para a sociedade. Não é apenas um movimento do neoliberalismo. Em minha opinião, trata-se de uma exacerbação de um fascismo macro e micro-político muito, mas muito preocupante. O fascismo ignora a existência das diferenças e da diversidade. Só entende o que é supostamente e narcisicamente igual a si mesmo. Cabe a verdadeira sociedade que não está representada no Congresso que é hegemonicamente branco, masculino, heterossexual e empresário, contrapor-se a este movimento, mais além do conservadorismo, fascista. As políticas públicas nascem da construção de valores sociais tais como a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças. Valores que são estranhos ao modo de ser do conservador. Neste sentido, temo que, se nada fizermos, as políticas públicas poderão se transformar em políticas da exclusão e da violência, como neste exato momento, setores populares estão sofrendo. Há um extermínio promovido pelo aparato repressivo estatal de eliminação de jovens negros e pobres.

(En)Cena – Quais os desafios futuros – e mesmo emergentes – para a rede de atenção psicossocial, levando-se em conta que tais estruturas são, antes de tudo, fruto de diálogo e de múltiplos posicionamentos?

Sílvio Yasui – Fortalecer-se não só como uma política de saúde, mas como um processo civilizador que aposta em uma nova sociabilidade. Na construção de relações sociais permeadas por valores como os que sinalizei acima.

(En)Cena – O que os estudantes e profissionais de Psicologia vêm fazendo para evitar que antigas práticas, com a ênfase manicomial, voltem a rondar o cotidiano profissional?

Sílvio Yasui – O que eles fazem é um pouco reflexo do que nós docentes proporcionamos como ofertas de formação. Se apenas ofertamos estágios em instituições totais e asilares, como os estudantes irão conhecer outros modos e outros serviços? Neste sentido, acho que é uma responsabilidade dos órgãos formadores e dos docentes, ampliar o campo de ofertas de estágios, projetos de extensão universitária dentre outros, para que os alunos possam vivenciar outros modos de atuar a psicologia. Aqui na Unesp de Assis, por exemplo, temos projetos de extensão em CAPS e na Atenção Básica, PET- Saúde, estágios obrigatórios em serviços substitutivos, disciplinas que abordam o tema das políticas públicas, da atenção psicossocial. Isso contribui de modo decisivo para uma formação do aluno de psicologia mas atenta e congruente com os movimentos da reforma sanitária e psiquiátrica.

(En)Cena – O país corre o risco de dar uma virada para o lado da “higienização” de tipos humanos que não considera adequados? Isso, de alguma maneira, pode ser considerado uma forma de eugenia, já praticada por governos autoritários ao redor do mundo?

Sílvio Yasui – Isso, de certo modo, já está acontecendo. Por exemplo, quando algumas cidades adotam estratégias de internação involuntária em massa para os usuários e dependentes de crack que habitam as ruas das grandes cidades, isso é uma clara evidência de uma política de higienização das cidades. A questão a ser temida, é esta prática tornar-se um modo prevalente e hegemônico, e ser adotado como uma política ministerial.

(En)Cena – O que fazer diante de um ministro que já demonstrou tratar com desdém a demanda dos ativistas? Neste processo, será necessário fazer um maior esforço e engajamento político, como expressão de cidadania? Como isso ocorrerá, diante do atual enfraquecimento das esquerdas políticas?

Sílvio Yasui – O cenário político que produziu a troca de ministros, em especial o da saúde, saindo um sanitarista histórico que era o Ministro Arthur Chioro e assumindo o deputado Federal Marcelo Castro, sem nenhuma vinculação com o movimento sanitário, permanece o mesmo. O que significa dizer que há questões políticas mais amplas que envolvem a sustentação e a governabilidade. Neste sentido, acho que é o momento dos movimentos sociais, dos diferentes partidos políticos da esquerda, enfim, de todos os que estejam implicados na construção de uma sociedade mais justa, humana e solidária a produzir uma grande onda de contestação não apenas ao Ministro, mas a este movimento conservador que produzirá efeitos perniciosos às conquistas sociais, duramente construídas e conquistadas nos últimos anos.

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(En)Cena, TV Record Tocantins e Real Imagem.com estabelecem parceria

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Campanha EducAção veiculará vídeos com temas centrais para o bem-estar físico e mental dos cidadãos

A partir dos próximos dias a TV Record Tocantins exibirá nos intervalos de sua programação o primeiro de uma série de 11 vídeos de caráter educativo, numa parceria inédita com o “(En)Cena – A Saúde Metal em Movimento” e a produtora Real Imagem.com. Os vídeos irão abordar temas como queimadas, doação de sangue, doação de medula, trânsito e mobilidade urbana, atividade física e, por fim, uso consciente da água. A parceria segue até dezembro próximo.

Idealizador do projeto, que recebeu o nome de “Campanha EducAção”, o produtor editorial e acadêmico de Psicologia do Ceulp/Ulbra, Luiz Izidoro, disse que a proposta une elementos centrais defendidos por todos os parceiros do projeto. “O cuidado com o meio ambiente, com a cidade onde moramos e com o nossa própria saúde, através de atividades físicas, são fatores preponderantes para a manutenção de uma boa qualidade de vida. E estes elementos estão no cerne da visão de mundo dos três envolvidos na campanha”, destaca Luiz.

Para a coordenadora do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra e coordenadora do (En)Cena, a prof. Dra. Irenides Teixeira, a parceria amplia a proposta do curso, que é formar profissionais atentos aos caráter biopsicossocial do ser humano. “É inadequado termos uma visão meramente psicológica [da condição humana] ou biológica e esquecermos o meio ambiente onde acontecem as trocas, interações e processos criativos. Há uma constante interdependência entre os aspectos biológicos (e a natureza entra neste arcabouço), psicológicos e sócio-culturais. Esses vídeos vêm como uma forma de provocar insights nos expectadores, alertando-os para a ampla dimensão que suas vidas assumem. Esta é uma das propostas básicas do curso de Psicologia do Ceulp”, destaca Irenides.

Luiz Izidoro disse que a parceria conseguiu materializar um conjunto de mensagens importantes, com forte viés para a conscientização e para a cidadania. No fundo, trata-se de um convite para que todos lutem por melhor qualidade de vida. “É uma campanha que quer estabelecer ou mediar ações que despertem o que há de melhor nas pessoas, fazendo-as perceberem-se como co-partífices de um processo em constante construção”, arrematou.

 

MAIS

A TV Record Tocantins pode ser sintonizada através do canal 7 UHF. Desde 2007 transmite a programação nacional da Record Brasil, além de manter um sólido núcleo de jornalismo para coberturas locais, em várias áreas.

O portal (En)Cena foi idealizado pelos cursos de  Comunicação Social, Psicologia e Sistemas de Informação do CEULP/ULBRA. Trata-se de um espaço para o qual convergem produções textuais, imagéticas e sonoras referentes aos temas da psique humana e suas várias interações, além de temas humanistas, sociológicos, filosóficos e de caráter psicológicos, em geral. Com viés colaborativo, recebe milhares de acessos diários, de todas as partes do Brasil e do exterior.

Uma das missões da produtora Real Imagem.com , é promover a saúde mental e o bem estar social, abordando as relações humanas e suas vastas especificidades como, a preservação do meio em que vivemos, o bem estar social e a saúde física. Utilizando as produções de audiovisual, como suporte para as realizações destas propostas.

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Congresso brasileiro discutirá saúde mental e dependência química

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Evento será realizado na Universidade Federal da Paraíba. Submissão de trabalhos vai até 1º de setembro

O III Congresso Brasileiro sobre Saúde Mental e Dependência Química será realizado entre os dias 29 e 31 de outubro na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O tema do evento será Pesquisa, prevenção e intervenção: saúde mental e dependência química e seus desafios no mundo contemporâneo. A organização é do Grupo de Pesquisa em Saúde Mental e Dependência Química da universidade.

As inscrições para o evento já estão abertas e vão até a abertura do congresso. Já o prazo para submissão de trabalhos termina no dia 1º de setembro. A divulgação dos trabalhos aprovados será dia 18 de setembro.

A programação do evento conta com mini-cursos, palestras, conferências, workshops e discussões em mesa redonda, além de apresentações culturais. Todas as informações sobre as inscrições, submissão de trabalhos, programação e palestrantes está disponível no

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