O Poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios

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O autor do livro é um conhecido jornalista norte americano chamado Charles Duhigg. Com este livro o autor realizou um trabalho jornalístico com centenas de fontes e estudos e através deles demonstra que os hábitos, dos mais simples aos mais complexos, são a base de nossa vida. Ele defende que ao entendermos como os hábitos funcionam, podemos usá-los a nosso favor para atingir os nossos objetivos e obter sucesso na vida.

Duhigg apresenta um conceito chamado de “loop do hábito”, que é composto por três partes: a deixa, a rotina e a recompensa. Ele diz que os hábitos são formados quando a deixa (evento, local ou emoção) desencadeia uma rotina (ou um comportamento diário) a qual gera uma recompensa. Quanto mais repetimos este “loop” mais automatizado e arraigado ele se torna em nosso cérebro.

 

Para a nossa alegria e tranquilidade, Duhigg traz inúmeros exemplos de pessoas que conseguiram mudar seus hábitos e defende que podemos alterar ou mudá-los, mesmo os mais difíceis e prejudiciais, se compreendermos como o “loop” acontece e aplicarmos algumas técnicas de modificação do comportamento como por exemplo o estabelecimento de metas específicas, a visualização e a substituição de hábitos.

Para o autor o hábito nada mais é do que as atividades do dia a dia que executamos de forma automática, sem pensar. Por exemplo, pentear o cabelo, escovar os dentes ou até mesmo o caminho que percorremos para chegar ao trabalho todos os dias. Para ele, nossa mente funciona visando otimizar e acelerar nosso dia a dia. Para isso, automatiza nossas ações e os torna em hábitos para que gaste sua energia e concentração em outras coisas que exigem mais da nossa atenção.

O autor demonstra então como os hábitos são formados e a forma como influenciam positiva e negativamente as nossas vidas. Para isto, recorre a conceitos e explicações de áreas como a psicologia e neurociência. Duhigg então explica o ciclo neurológico do desenvolvimento de um hábito e pontua que a formação dele se estabelece em 3 pilares: a deixa, a rotina e a recompensa.

A Deixa

A deixa é o gatilho, o estímulo antecedente que dispara em seu cérebro para começar uma rotina. Ele pode se apresentar de muitas formas (sentimentos, locais, coisas), desta forma conseguir identificar a deixa é o que faz com que um indivíduo consiga caminhar em direção a mudança. No livro ele cita o seu próprio exemplo quando conta que costumava comer donuts todas as tardes e por isso engordou. Ao analisar o fato, percebeu que fazia isso porque se sentia sozinho e então se dirigia a cafeteria para socializar e conversar, o que culminava no consumo dos donuts. Ao identificar a deixa, passou então a introduzir uma nova rotina que viabilizasse o abandono deste vício em donuts. É preciso entender que o jornalista se sentia recompensado ao conversar com as pessoas e não ao comer e desta forma poderia associar a sua recompensa com algo mais saudável.

A Rotina

A rotina é a atividade que é sempre realizada após a deixa ser ativada. Aqui o autor destaca que para mudar a rotina é preciso identificar o seu gatilho. Sem isso, provavelmente não haverá mudança de rotina.

A Recompensa

A recompensa é o prêmio que você recebe.  Ela naturalmente desperta sentimentos que vão ficar guardados até a próxima vez que o indivíduo se deparar com a deixa. Por isso, o hábito vai se reforçando em um looping infinito.

Ainda sobre o seu hábito de comer os donuts, o autor então observou que: estava engordando devido a comer donuts no meio da tarde. Ele observou que a deixa dele era (sentir-se sozinho no meio da tarde), a rotina (pegar um donuts) e a recompensa (poder conversar com as pessoas que estavam na cafeteria). Ao identificar os três pilares do seu hábito, o autor programou seu alarme do relógio para o horário em que normalmente sentia essa necessidade de conversar com alguém e colocou como meta ir até a mesa de amigo e conversar por 10 minutos. Segundo ele, os primeiros dias foram os mais difíceis e por vezes, ele ignorou o alarme e o plano estabelecido e por consequência terminava comendo o donuts e sentia-se frustrado. No entanto, ao seguir seu plano à risca, finalizava o dia sem comer o donut e satisfeito com seu progresso. Desta forma, com o passar dos dias, o novo comportamento passou a ser automático e ele já nem precisava mais do alarme. Passados seis meses desta nova rotina, relatou que todo dia, por volta das três e meia, levantava de sua mesa, passava dez minutos conversando com algum amigo no escritório e então voltava para sua mesa e isso já acontecia de forma automática e sem que pensasse a respeito. Tornou-se um hábito.

O autor começa então a demonstrar que é extremamente importante criar uma associação entre a deixa e a recompensa. E ressalta que o próprio indivíduo pode criar essa deixa e incorporar em sua rotina hábitos que culminem em algo prazeroso, agindo em seu favor e fugindo das armadilhas da automatização da vida. Desta forma, terá estabelecido uma estratégia para a mudança de hábitos.

Duhigg também aborda em seu livro, o conceito de hábitos angulares (aqueles que influenciam em outras áreas da vida). Por exemplo, a atividade física, que colabora para um bem-estar físico e emocional.

Fica claro no livro que entender a origem de seus hábitos e quais as recompensas que eles envolvem, será uma forma eficiente de desenvolver estratégias que promoverão a mudança de qualquer hábito da sua vida. Vale dizer que alguns serão mais difíceis de serem modificados e a mudança exigirá mais tempo, esforço e dedicação. No entanto, à medida que você entende como um hábito funciona e identifica a deixa, a rotina e a recompensa, você ganha poder sobre ele e porque não dizer que você retoma o controle daquilo que faz todos os dias, sendo mais assertivo e direcionando seus esforços para algo que realmente te trará resultados positivos nas mais diversas áreas da vida.

Referências:

DUHIGG, Charles. O Poder do hábito: porque fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

 

 

 

 

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Um relato sobre amadurecimento….

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Sem saber do processo, ele foi crescendo e se transformando em alguém melhor.

Durante os anos de minha vida, tive muitas experiências: alegrias, tristezas, conquistas e perdas. Mas nunca tinha me dado conta de que fazia parte do crescimento. Em minha infância, eu era chamado de bonzinho demais e ingênuo, pois só conseguia enxergar o lado bom das pessoas, ao mesmo tempo que era muito alertado em não confiar tanto nos outros. 

Pois bem, os anos foram passando e tive meu primeiro choque: a separação dos meus pais. Por mais que ele não fosse o “bom exemplo”, nenhum filho quer que seus pais se separem. Conviver com a dor e com a nova configuração, me deixou muito confuso e foi o primeiro depósito de mágoas que deixei dentro de mim. 

Logo após a separação, 1 ano e meio depois, eu, minha mãe e minha irmã mais nova nos mudamos para Palmas e tivemos que começar do zero. Minha mãe voltou a ser doméstica e passou a trabalhar como professora em colégios infantis e eu tive que começar a trabalhar e desistir do sonho de estudar por enquanto. Felizmente, pouco tempo depois, minha mãe passou no concurso municipal de Palmas e continuou como professora até se tornar coordenadora pedagógica. Porém, a minha frustração fez eu desistir de estudar e continuar apenas trabalhando. 

Foi assim durante 1 ano, até que comecei a estudar um curso técnico de Segurança do Trabalho no IFTO. Consegui fazer apenas dois períodos, mas não me sentia motivado, nem ao menos conseguia me enxergar exercendo a profissão. Neste período, o campus entrou em greve e isto foi o gatilho para desistir do curso, foi então que decidi que não ia estudar mais e continuar apenas trabalhando. 

Mesmo diante da decisão, estava muito frustrado e triste, e escondia essa dor dentro de mim, somente 1 ano e meio depois, após um confronto da minha mãe, ela insistiu para que eu voltasse a estudar e que me ajudaria a pagar uma faculdade caso fosse necessário. Foi então que me enchi de esperança e escolhi Psicologia em 2016 para prestar o vestibular, até então não sabia muito sobre essa ciência, mas sempre tive muita curiosidade. Após ser aprovado, consegui começar a cursar a partir de 2017/1. 

A faculdade me deu um novo olhar sobre a vida, sobre as pessoas e sobre si mesmo. Não foi fácil, pois sofria com algumas descobertas, com as pessoas e por não conseguir fazer muitas amizades. Fui confrontado na minha fé e isto fez com que eu me sentisse mais desmotivado. No mesmo período, engatei um relacionamento com uma pessoa que amei muito, porém foi uma relação muito tóxica. Durante os quase 3 anos de relacionamento me entregava a ponto de chegar a ser dependente emocional. Eu fui me destruindo, pois não me amava, não conseguia me ver feliz e nem conseguia mais sonhar com os projetos que possuía. Fiquei tão depressivo que só conseguia realizar as coisas no automático. O término do relacionamento me fez gerar um transtorno de ansiedade muito forte que se juntou com a depressão até não conseguir mais encontrar uma saída, a não ser em pensar na morte. 

Fonte: Pixabay

 

A minha fé, foi o único motivo pelo qual não tentava algo contra minha vida, porém eu pedia pela morte. Vivi 1 ano dessa forma, não conseguia nem mesmo rir de verdade ou ter prazer nas demais atividades. Isto me prejudicou ao ponto de atrasar a minha formatura na faculdade, pois tive que trancar dois estágios durante este ano de sofrimento,  pois não tinha forças para exercer as atividades. 

Neste tempo, vendo que não conseguia sair desse estado, ficava me perguntando porque passei por tantas dores, tanto sofrimento já que sempre tentei olhar o lado bom da vida e o melhor das pessoas. 

Comecei a frequentar a terapia que me ajudou a enxergar que eu não pensava em mim, não olhava o quanto fui negligente comigo mesmo, não me amava e nem mesmo sabia o que eu gostava, pois sempre dediquei tudo para os outros.

Fonte: Pixabay

Também frequentei o psiquiatra, pois a ansiedade e a depressão já tinham me prejudicado muito  e  foi necessário o auxílio da medicação. Depois de 6 meses de tratamento, me considerei recuperado, e é incrível como hoje em dia olho para trás e vejo como tudo isso me fez forte. Durante as crises eu pedia para Deus pular para o tempo em que eu estivesse bem. Mas sei que foi necessário para que eu olhasse para mim, me amasse, voltasse a sonhar e acreditar no melhor. 

Passar por essas dificuldades, abriu meus olhos para o amadurecimento, pois emocionalmente me sinto mais maduro e mais preparado para enfrentar o dia-a-dia. Era um processo que foi necessário, talvez não ao ponto de chegar a estar em adoecimento mental, mas como pude ser transformado mesmo passando por dores.  Elas foram essenciais para que eu justamente pudesse me fazer essas perguntas para poder encontrar as respostas. 

As borboletas passam por um processo de transformação que é natural, porém não é por escolha. O corpo de lagarta é completamente transformado ao ponto de se tornar praticamente um outro inseto. Uma vez, pude ver uma borboleta saindo do casulo e percebi que do casulo pingavam gotas de sangue, então percebi o quanto esse processo era doloroso para ela. 

Fazendo esta comparação, passei por muitas dores emocionais tão profundas que nem sabia o porque estava passando, mas eu estava no meu processo de crescimento e de transformação para chegar onde estou atualmente. Encerro este relato não dizendo que já estou 100% maduro para o resto da vida, mas em como a superação e amor próprio foram necessários para conseguir alcançar um novo nível em todas as áreas da minha vida e que com certeza é uma preparação para poder alcançar os níveis que ainda virão. 

Fonte: Pixabay

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A aquisição de um novo hábito requer tempo, força de vontade e repetição

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Criar uma rotina mais saudável, alimentar-se melhor, ter sono de qualidade, cultivar laços sociais positivos, cuidar da mente, fazer uma atividade física, começar um curso novo sempre são metas colocadas no fim de ano para serem realizadas no ano novo que se inicia. As pessoas ficam mais propensas a mudanças de hábitos, o problema é que muitos objetivos ficam, somente, no papel, e o comportamento continua igual ao ano anterior.

O ato de mudar demanda uma quebra de paradigma para que reais transformações aconteçam na rotina do indivíduo. Ou seja, uma mudança de mentalidade que requer esforço para a inserção de novos costumes, para começar o dia com bons hábitos; mesmo encontrando na maioria das vezes dificuldades para a inserção desses novos hábitos, podendo ser vistos como comportamentos governados por regras, que sendo formuladas podem ser mais aceitáveis do que apenas seguidas.

Para muitos, a ideia de introduzir um novo hábito na rotina acaba sendo algo considerado difícil, e muitas das vezes, visto como praticamente impossível. No entanto, é importante lembrar que após o hábito existir, não é possível acabar com ele, e sim modificá-lo, e mudar um velho hábito, que, caso o estímulo para o mesmo volte como era a princípio, esse mesmo hábito ressurgirá imediatamente. Duhigg (2012) ao retratar as ideias de Claude Hopkins certifica que “para mudar um velho hábito, você precisa abordar um anseio antigo. Precisa manter as mesmas deixas e recompensas de antes, e alimentar o anseio inserindo uma nova rotina.”

Fonte: encurtador.com.br/hvwJK

Conforme Covery (2014), a mudança de hábito está relacionada a transformação do caráter, é preciso ser “de dentro para fora” para que realmente exista uma eficácia pessoal e interpessoal. “A abordagem de dentro para fora privilegia um processo contínuo de renovação baseada nas leis naturais que governam o crescimento e o progresso humanos”.

A força de vontade é um pontapé inicial para a formação de novos hábitos, mas para permanecer é preciso consistência e muito esforço diário. As histórias de pessoas bem-sucedidas, que servem de inspiração, ajudam até um certo ponto, pois quando a motivação acaba o que sobra é a disciplina.  Nesse contexto, que Goleman (2005) reforça a ideia de que a inteligência emocional ajuda traçar metas, desenvolver a inteligência intelectual, por meio do gerenciamento das emoções.  Ou seja, a administração das emoções pode ser um meio para a elaboração de novos hábitos, os quais não tenham uma memória volátil, mas sim duradoura.

Caso queira começar sua mudança hoje, segue algumas ideias para a construção de novos hábitos: Primeiramente, não tente mudar de uma só vez, um passo de cada vez, já que seu cérebro está recebendo novos estímulos. Anote tudo em um caderno, mas não o deixe guardado em uma gaveta, deixei- a vista para sempre lembrar de seu objetivo.

Fonte: encurtador.com.br/tCISZ

Uma dica de ouro para uma mudança real, comece a conviver com grupos sociais, os quais já possuem o hábito que deseja adquirir. Por exemplo, se deseja ser um corredor, procure um grupo de corrida. Por fim, mantenha um planejamento de metas, crie boas estratégias elaboradas, mantenha o foco e não desista, é possível mudar.

 

REFERÊNCIAS

Duhigg, Charles. O poder do hábito [recurso eletrônico]: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios / Charles Duhigg ; tradução Rafael Mantovani. – Rio de Janeiro : Objetiva, 2012.

COVEY, Stephen R. Os 7 Hábitos das pessoas altamente eficazes. Rio de Janeiro: Bestseller, 2014.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

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O “novo normal”: da experiência à prática do ensino remoto nos últimos anos de formação

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A nova realidade de isolamento social, iniciada em 2020, somente intensificou em minha vida de forma exacerbada a rotina que eu já possuía antes da pandemia, de modo que quase não teve alterações, exceto pelas aulas na modalidade remota.

Apesar de ser pregada como mais flexível e vantajosa para o aprendizado, a realidade se mostrou totalmente destoante da teoria, a “simples” mudança no método de ensino se mostrou desastrosa.  Más conexões, poucos recursos tecnológicos foram os primeiros sinais da dificuldade que seria enfrentada. Posteriormente, a adaptação da rotina para aprender assistir aulas no seio familiar, sendo mãe, se tornou uma tarefa extremamente desafiadora. Por possuir TOC, uma necessidade de organização exacerbada, a “comodidade” do estudo domiciliar resultou no descontrole de toda a rotina de afazeres, tendo em vista o ambiente inadequado corroborado pelas intervenções familiares.

Essa nova realidade, esse “novo normal”, explicitou ainda mais alguns aspectos presentes no país, como a desigualdade social, por exemplo. Como COSTA (2020) expõe, há um despreparo do aluno para as habilidades socioeconômicas, além da inabilidade, a falta de recursos foi escancarada quando observado o equipamento de apoio de alguns ante os demais. No ensino remoto tudo favorece uma boa qualidade de internet, bons equipamentos sonoros, bom maquinário tecnológico, e nem todos o possuem.

Fonte: Figura 2 https://bitlybr.com/GySX

A crise global impactou a vida de todas as pessoas, forçando-as a saírem da zona de conforto no que tange o aprendizado, de modo que foram experimentadas várias reações, positivas e negativas com relação ao atual cenário pandêmico. Muitos tentaram ignorar os avisos e riscos de contaminação, tantos outros buscaram se proteger e se isolaram antes mesmo de serem decretados os lockdowns mundo à fora. Tal situação reforça os ensinos de BAUMAN quando diz que são as reações diante das crises que mudam o mundo, e não o contrário. Eu mesma tive muita dificuldade, como dito, em me adaptar o ensino remoto, não possuía estrutura.

Em virtude do contexto pandêmico, particularidades foram fortalecidas, obrigando-nos, como indivíduos, compostos por papéis sociais, a adquirir e melhorar a capacidade que temos de nos relacionarmos com o outro e superar desafios de maneira saudável e equilibrada, como autoconsciência, estoicismo e capacidade coletiva, além de instituições e de outros arcabouços grupais que estão à frente de novas adaptações, o desafio da normalidade.

Agregado a essas e muitas outras questões, foi possível distinguir dois caminhos a seguir: um deles passei a chamar de “caminho simples”, e outro seria o “caminho complexo”. No primeiro, tive que aprender me adaptar com o ensino à distância, buscando agir com proficiência, para caracterizar a minha realidade social com a de todos e derivar do conhecimento e da tecnologia disponível com a qual precisei lidar, resumidamente precisei tornar aquela situação em algo habitual. No segundo, o mais complexo, tive que ressignificar assim como muitos o meu saber fazer, meu saber querer e meu saber agir, em prol de um bem maior que visa garantir a preservação da vida de um modo geral.

Fonte: encurtador.com.br/ptDV2

Não posso deixar de enfatizar, que com a modalidade do ensino online/remoto perdi o limite do que é momento de descanso e o que é momento de trabalho, estou o tempo inteiro conectada, com o corpo estático, sentada à frente de uma tela, com fones de ouvido durante muitas horas o que ajudou a me sobrecarregar, tornando-me ainda mais ansiosa e com menos disposição do que com a agitação de antes.

Por outro lado, o que de fato tive que deixar de planejar durante esses quase dois anos de pandemia? Mais uma vez, àquela tão sonhada viagem de férias ficou ao léu, os encontros aos finais de semana com amigos e familiares no almoço de domingo ou datas festivas, os passeios, as compras, o convívio diário com pessoas diferentes, o tato, o abraço, o olhar daquelas (es) que não contactamos todos os dias foram ficando cada vez mais escassos, deixando em nós um vazio pela perda desses momentos e ao mesmo tempo um alívio por saber que havia um motivo de força maior por traz de todo esse mal que assola a humanidade.

No que concerne à minha formação acadêmica, às mudanças não foram bruscas, tendo em vista que antes mesmo de surgir esse vírus (Covid-19), eu já tinha uma vida isolada, num ritmo desacelerado e pacato. E, que, só precisei me adaptar à nova modalidade de ensino, me familiarizar com o processo, num ritmo totalmente diferente do normal por englobar não só os aspectos educacionais, familiares etc., o que não significa que não houve desgaste e frustrações ao longo desse período que se aliou a problemas advindos de outrora e até atuais, em que se tornou apenas a ponta do iceberg para desencadeamento de transtorno relacionado às incertezas do futuro.

Por fim, o último ano de curso posso afirmar que veio carregado de novas formas de conhecimento, novas formas de agir, novos processamentos, ensinando-nos a lidar com o novo, não se limitando apenas ao atendimento físico, mas também digital como o online (mesmo sabendo que já existia) se fortalecendo e mostrando cada vez mais a necessidade de um profissional de psicologia que busque garantir a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos, independentemente do momento de crise.

REFERÊNCIAS

BLIKSTEIN, Paulo; CAMPOS, Fabio; FERNANDEZ, Cassia; MACEDO, Livia, COELHO, Raquel; CARNAÚBA, Fernando; e, HOCHGREB-HÄGELE, Tatiana. Como estudar em tempos de pandemia. Revista Época. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/epoca/como-estudar-em-tempos-de-pandemia-24318249>. Publicado em 22/03/2020. Acesso em 15/08/2021.

MÜLLER, Cristiane Dreher. Impactos da pandemia de Covid-19 na educação brasileira. Escritório Dreher. Disponível em: < https://escritoriodreher.com.br/impactos-da-pandemia-de-covid-19-na-educacao-brasileira/>. Acesso em 15/08/2021.

PRADO, Adriana. Sociólogo polonês cria tese para justificar atual paranoia contra a violência e a instabilidade dos relacionamentos amorosos. Revista Istoé. Disponível em: < https://istoe.com.br/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR+/>. Acesso em 15/08/2021.

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Transições e desenvolvimentos em “Boyhood”

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O presente ensaio tem por objetivo demonstrar as transformações no desenvolvimento ocorridas em um casal divorciado e seus filhos, durante um período de 12 anos, observando aspectos físicos, cognitivos e psicossociais, através do filme “Boyhood”. Sendo assim, a história estabelece um parâmetro de passagem claro do tempo, onde se verifica as mudanças físicas dos personagens, bem como os mesmos vão interagindo, à medida que questões sociais e emocionais aparecem no contexto familiar.

A preocupação em retratar as mudanças de forma mais próxima à realidade é sem dúvida, a maior riqueza técnica do filme, que apesar de trazer questões comumente evidenciadas em um contexto familiar provoca uma reflexão acerca das mesmas, observando um cotidiano que pode ser devidamente analisado, observando as diferenças que acontecem no desenvolvimento humano, no decorrer de um determinado período.

O filme inicia com o ator principal ainda na fase da infância, demonstrando como este se relaciona com os pais divorciados, que ainda se encontram no início da fase de adulto jovem, com dificuldades em absorver responsabilidades na criação dos filhos. Com as passagens do tempo, a história tem desdobramentos que são demonstrados tanto pelas mudanças ocorridas nos pais, como também nos filhos.

Fonte: https://bit.ly/2NgmT3N

A maturidade sendo construída nas diversas dimensões é algo bastante relatado no filme. As novas relações familiares, a busca pelo aperfeiçoamento profissional, a interação com os filhos, os novos papéis que se estabelece, o ninho vazio são aspectos vivenciados pelos pais.

Enquanto que a adaptação dos filhos a realidade socioeconômica dos pais, os novos padrões de relacionamento com os mesmos, amigos, irmão, bem como o aparecimento de relacionamentos íntimos, as primeiras atividades laborais, a linguagem diferenciada, as transformações físicas como a puberdade, entre outras, e ainda, o distanciamento dos pais e a saída de casa, como marco de passagem para a fase de adulto jovem são mudanças que ocorrem na vida dos filhos e que vem a ser enfatizadas no filme.

Desenvolvimento físico

Pode-se destacar como mudança importante na fase da adolescência relatada no filme, a transição marcada pela chegada da puberdade. Segundo Papalia (2013) a “puberdade é desencadeada por mudanças hormonais. Ela dura cerca de quatro anos, normalmente começa mais cedo nas meninas e termina quando a pessoa é capaz de reproduzir” (PAPALIA, 2013, p.418). A transição para puberdade acontece de forma clara nos atores mirins, porém é perceptível que existe uma diferença na transição realizada pela menina, em relação ao menino, que interpretam os filhos do casal, confirmando, portanto, o que elucida Papalia na citação acima.

Fonte: https://bit.ly/2QxaIgV

Ainda observando, aspectos relacionados ao desenvolvimento físico, a maturidade sexual chega no momento em que as alterações hormonais acontecem, e desencadeia mudanças nas características sexuais primárias, como os testículos e o pênis nos meninos, ovários e útero nas meninas, assim como pelos no corpo e mudança de voz, em ambos (BEE, 1997). Também marcadas pela menarca nas meninas e espermarca nos meninos. No filme percebemos essas transformações acontecendo em todo o período dos 12 anos retratados, aonde também os relacionamentos afetivos vão surgindo e são demonstrados em seus pares.

As transformações que ocorrem no cérebro do adolescente são evidenciadas no filme pela relação dos filhos com os pais, onde eles “tendem a fazer julgamentos menos precisos e menos racionais” (PAPALIA, 2013, 418), sendo assim observado em uma passagem, o segundo divórcio da mãe acontecendo e os filhos questionando aspectos familiares e mudanças do seu cotidiano, porém aceitando a situação imposta.

Desenvolvimento cognitivo

Ao se observar as alterações que ocorrem sob o ponto de vista cognitivo, Piaget define como o nível mais alto do desenvolvimento, o operatório formal, que se caracteriza pela capacidade de pensar em termos abstratos, pela compreensão dos aspectos relacionados ao tempo histórico e ao espaço extraterrestre, e assim proporcionando uma maneira mais flexível no processo de manipulação das informações e possibilitando também, o surgimento das implicações emocionais no desenvolvimento. (PIAGET apud, PAPALIA, 2013, 404).

Fonte: https://bit.ly/2OqLVtE

No filme, o que está acima mencionado é observado na cena, em que o adolescente é obrigado a cortar seu cabelo, por uma imposição do padrasto, ocasionando em um comportamento questionador com sua mãe, ao mesmo tempo em que as questões emocionais são também demonstradas, quando este se recusa a ir até a escola, por se sentir triste e envergonhado pela sua aparência.

Ainda sobre essa fase, e de acordo com os níveis e estágios de moralidade de Kohlberg, citados por Papalia (2013), observamos que os adolescentes no filme se encontram no nível II da moralidade convencional ou moralidade de conformidade com o papel convencional, onde “internalizam os padrões das figuras de autoridade” (PAPALIA, 2013, p.408).

Desenvolvimento psicossocial

Dentro dos aspectos psicossociais, temos a busca pela identidade como o foco principal na adolescência, que tem como componentes, as questões ocupacionais, sexuais e de valores (PAPALIA, 2013, p.422). Nesse sentido, o filme destaca o surgimento dos relacionamentos afetivos, do distanciamento dos pais e aproximação dos amigos, exposições aos riscos, das primeiras atividades de trabalho, início da autonomia e processos de escolhas.

Fonte: https://imdb.to/2Nj29bP

Em umas das passagens do filme, o adolescente passa a conviver mais com os amigos, em ambientes com alta exposição a bebidas e outras drogas, iniciando também sua vida sexual. Os pais em contrapartida são obrigados a se adaptarem as mudanças e passam a orientar quanto aos possíveis riscos.

O adolescente também nessa fase experimenta as responsabilidades do primeiro emprego, porém ainda se reconhece certa imaturidade e dependência de seus pais, mas já se constata o início de conquistas em relação à maturidade, podendo ser observado, na cena em que o adolescente está trabalhando em uma lanchonete e seu patrão chama a sua atenção, pelo fato de não está conduzindo o trabalho de maneira satisfatória.

Ao final da adolescência retratada no filme temos a presença da recentralização, ou seja, a “mudança para uma identidade adulta” citada por Papalia (2013) segundo Erikson, onde o jovem aparece em processo de saída de sua casa rumo à universidade, iniciando seu processo de autonomia e escolha profissional, aperfeiçoando as relações sociais e familiares, sendo também retratada a questão do ninho vazio vivenciado, especificamente por sua mãe, em uma cena clara no filme, onde ela aparece preocupada e entristecida pela saída dos filhos de casa.

Fonte: https://imdb.to/2NfvJP3

Vale ressaltar ainda, que o posicionamento dos pais interfere diretamente no processo de amadurecimento dos filhos, sendo observada no filme em algumas cenas a relação democrática existente entre a mãe e os filhos, enquanto o pai inicialmente se apresentou com características negligentes, porém ao longo do filme passou a demonstrar amadurecimento e características mais democráticas. Já em relação ao primeiro padrasto, as atitudes eram bastante autoritárias, principalmente na adolescência. Tal contexto reflete diretamente no comportamento dos filhos.

Considerações finais

O filme “Boyhood” narra a vida de um casal de pais divorciados, que cria seus filhos de acordo com as condições da família daquele momento. Apesar de a mãe usufruir de conhecimento da ciência psicológica, não conseguiu ressignificar a própria história diante das adversidades impostas. O relato percorre, especialmente, a vida do menino durante um período de doze anos, da infância à juventude, e analisa sua relação com os pais conforme ele vai amadurecendo.

O ensaio é dividido em três aspectos do desenvolvimento: o físico, que compreende as alterações físicas decorrentes dos processos hormonais, desencadeando crescimento e maturação cerebral, bem como, o aperfeiçoamento das habilidades motoras e sensoriais; o cognitivo, que passa pela aprendizagem, atenção, memória, linguagem e raciocínio; e o psicossocial, que respalda nas relações sociais, nas emoções e na própria personalidade.  A análise é realizada, através da relação entre os três domínios.

Fonte: https://bit.ly/2NfwmrT

Por fim, o presente ensaio traz um repertório de conhecimento e percepção sobre a importância da ciência psicológica para o indivíduo. Esse estudo possibilita uma reflexão, acerca de aspectos significativos que envolvem saúde mental, revendo conceitos de vida e analisando como poderia ser ressignificada a história daqueles personagens. É por meio também de trabalhos como este, que o acadêmico pode aprimorar constantemente o seu conhecimento, envolvendo a interação entre questões da teoria e da prática, o que proporciona um avanço necessário, no que se refere ao desenvolvimento crítico relacionado aos processos de ensino e aprendizagem.

 Referências Bibliográficas

BEE, Helen. O ciclo Vital.Porto Alegre. Artmed, 1997.

PAPALIA, Diane E. e FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 12 edição, Porto Alegre/RS. Artmed, 2013.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

BOYHOOD

Diretor: Richard Linklater

País: EUA

Ano: 2014

Classificação: 14

 

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Psicoterapia no SUS: mudança de paradigmas

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Em dezembro de 2017 fiz o primeiro contato com a Unidade Básica de Saúde (UBS) que abrange minha quadra devido à continuidade de dias depressivos a que estava submersa. Confesso que já me direcionei à unidade pessimista, pois ao falar de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) a imagem que me vinha à cabeça era a seguinte: unidade lotada, funcionários mal educados e demora – muita demora – para enfim ser submetida ao atendimento. No entanto, a representação que existia nas minhas “caixinhas mentais” (categorização) deu lugar a uma significativa mudança e ruptura de pensamento: ao chegar no “postinho”, me deparei com pouquíssimos pacientes aguardando por atendimento e o mais incrível: fui rapidamente atendida.

O meu intuito era conseguir psicoterapia. Para isso, precisava antes passar pela triagem com a enfermeira e depois ser encaminhada para a médica clínica geral (que tinha consigo duas estagiárias). Naquele momento, fez algumas perguntas sobre meu estado e finalmente fui encaminhada para a profissional de Psicologia. Na recepção, fui informada de que em breve a psicóloga que atendia na unidade me ligaria e assim o tratamento breve se iniciaria. Contudo, passou-se 4 (quatro) meses e nada de me ligarem. Até cheguei a comentar com alguns amigos, demonstrando insatisfação: “se fosse para eu ter me matado, eu já o teria feito”.

Fonte: https://bit.ly/2JVwPgC

Assim, diante da demora e com uma amiga dizendo que já havia iniciado psicoterapia na UBS em questão me direcionei à mesma novamente, já que estava outra vez movida por esperança. Neste mesmo dia comecei a triagem com a psicóloga, processos identificatórios aconteceram e estive muito contente e disposta a me engajar com o tratamento – e que durará 3 (três) meses, devido à alta demanda do serviço.

Somado a isso, me sinto satisfeita por estar agora, em virtude das aulas de Saúde, Bioética e Sociedade, entendendo sobre os processos e características da rede, como: complexidade, saúde, doença, referência e contrarreferência. Este acréscimo de conhecimento me leva a enxergar o quão maravilhosa consegue ser a proposta de saúde que temos para a nação brasileira. No entanto, compreendo que, apesar dos princípios e diretrizes serem realmente motivadores para os corações sonhadores e crentes na possibilidade de mudança, há muito a ser feito para a melhoria de situações análogas a que vivenciei, por exemplo.

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#CAOS2018: redes sociais e psicopatologias ligadas ao trabalho é tema de minicurso

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O minicurso é parte da programação do CAOS 2018 que acontece no Ceulp até o dia 25 de maio.

A Psicóloga Clínica Jordanna de Sousa Parreira, especialista em Neuropsicológica Clínica e em gestão de pessoas, ministrou nessa tarde de quarta-feira (24), como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2018, o minicurso “As redes sociais como disparadores de psicopatologias ligadas à dimensão do trabalho”.

Fonte: A Psicóloga Jordanna Parreira durante o minicurso. Foto: Divulgação

Para iniciar, a palestrante pediu para que a turma se dividisse em grupos de no máximo quatro pessoas e que pensassem a respeito de três perguntas, sendo elas: (1) quais foram as mudanças que aconteceram no mundo do trabalho; (2) quais são os sentidos do trabalho e (3) em que a tecnologia favoreceu ou prejudicou no mundo do trabalho. Foi estipulado um tempo de 15 minutos para discursão. Logo depois a mediadora solicitou a ajuda de uma acadêmica e juntamente com a turma foi sendo debatido cada aspecto das perguntas supracitadas.

Com as próprias conclusões que a turma trouxe, Jordanna foi explicando o percurso dos diferentes significados que a palavra “trabalho” foi tomando a partir do decorrer dos tempos. Por exemplo, etimologicamente falando, o significado remetia-se a punição, algo extremamente exaustivo, trabalhava-se, porque era a maneira de ser condenado por alguma coisa. Porem dentro do contexto de um desenvolvimento social, o conceito da palavra trabalho foi sendo ressignificada, saiu do sentido de penalidade e passou a ser o sentido da vida. Em uma de suas falas a psicóloga disse “o ser se mostra ao mundo através do seu trabalho”, ou seja, atualmente, o trabalho passou a ser parte da identidade do sujeito.

Fonte: Os congressitas com a Palestrante. Foto: Divulgação

Partindo dessa perspectiva a mediadora trouxe algumas reflexões de como essas mudanças afetaram e ainda afeta a saúde mental do trabalhador, considerando ainda que, as condições do contexto de cada um, influencia poderosamente para esse adoecer, funcionários da rede privada por exemplo são os que mais sofrem, pois dentro do seu ambiente de tralho ele perde o direito de adoecer para a possibilidade de ficar desempregado. Finalizando, a psicóloga declara que devemos encontrar o motivo de cada indivíduo, buscando respeitar a subjetividade de cada um e reconhecendo que a busca por uma identidade, sempre será algo exclusivo do próprio sujeito.

Mais informações podem ser obtidas no site do evento: http://ulbra-to.br/caos/edicoes/2018#programacao

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Mudanças corporais e o luto feminino

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fonte: http://encurtador.com.br/fnEQR

Boa parte de nós se lembra da liberdade que a infância nos trouxe nas boas épocas da vida, da disponibilidade de tempo, das brincadeiras e das poucas cobranças, podia-se ser criança, ser menina ou menino não era uma sentença, víamos uns aos outros sem grandes diferenças, mas não mais que de repente o mundo colorido não passa de um vulto cheio de saudade, as cores e os doces são tirados de nossas mãos, e aos poucos o colorido se esvai, as lembranças carregadas de alegria se transformam em uma rotina cheia de cobranças, porque se inicia uma nova fase, uma substituição pelo qual ninguém quer fazer parte. E como se reage a isso? A análise comportamental desse momento conturbado de transformações repentinas, onde ocorrem mudanças obrigatórias pelo tripé da vida, no âmbito social, psíquico e biológico causam diversas reações pelo qual por meio da psicologia tornam-se discutíveis pela análise desses jovens.

No momento em que ocorre essa substituição de realidades, os adolescentes passam por um luto, que se torna bem mais intenso para nós, mulheres, pois há um crescimento mais brusco e perceptível em partes como os seios, as nádegas, o alargamento dos quadris, o corpo se altera e desabrocha para a fertilidade, mesmo que o psicológico e a maturidade não acompanhem o mesmo. Não há escolhas, o mundo infantil não faz mais parte da realidade dessa menina, somos jogadas a um mundo desconhecido, cheio de cuidados diferenciados, saber lidar com as tensões hormonais constantes é um desafio mais que presente, fazendo com que as dores dessa fase sejam não apenas físicas mas, também, psicológicas.

Como disse anteriormente, o tripé psicológico e biológico já são alterados complemente, e o meio social também nos interfere com bruscas respostas, que infelizmente enquadra o corpo que caminha para o amadurecimento, com repressões fortes, muitas vezes eu ouvi “você não pode mais usar esses shorts, os meninos irão te olhar demais” isso é comum nas famílias, com instinto de proteção, pois sabem que objetificação do corpo feminino é comum, além de que até mesmo os pais em algum momento da vida já reproduziram de alguma forma essa sexualidade exagerada com algumas garotas na juventude, então também é comum ouvir “eu já fui jovem, sei como esses meninos pensam, você não vai vestida assim”, “senta direito, você já é uma moça”, “use sutiã, seus peitinhos já podem ser vistos”, frases como essas são completamente comuns, e de fato, acontecem, sou um exemplo vivo disso, é algo construído, a nossa cultura patriarcal ainda nos espreme bem mais que a natureza de mês em mês, pois a sociedade, essa sim, nos cobra diariamente, com a ditadura do corpo, do padrão e da idealização feminina.

Fonte: https://goo.gl/9u3WSj

Passar por tudo isso é algo extremamente complicado para nós, eu vivi a fase do luto, a negação ocorreu, assim como a raiva, a barganha não foi tão perceptível, mas em alguns casos acontecem, afinal, somos subjetivos demais para sermos enquadrados.

Infelizmente a maioria das meninas, assim como eu, só começa a compreender o que vem a acontecer com o nosso corpo quando de fato já está ocorrendo, e muitas das vezes a única prévia ou instrução que recebemos sobre o que há de vir surge do conhecimento passado na escola, e isso não é saudável, pois nem sempre uma instituição nos trás o conforto suficiente para tirarmos as dúvidas, para que o assunto não seja visto como “um bicho de sete cabeças” mas acaba por transformar-se numa situação mítica, e a única esperança feminina, é que aquilo não esteja de fato acontecendo, e então se inicia o processo de negação e a frustração de saber que nada mais será como antes. Parece a maior injustiça do mundo, tirar nossa infância em prol de um corpo em que o alto reconhecimento é de difícil acesso; acostumar-se com isso se dá de modo lento, mas as transformações físicas são bem mais rápidas que isso. Enterrar a infância quando ainda se é uma criança é o grande passo para aceitar que as mudanças femininas são de fato como um luto, há uma restrição de liberdade que para tê-la novamente seria preciso de muita luta em busca da igualdade. O sofrimento a partir do momento que você se torna alvo de desejo masculino é inevitável, lidar com tantas mudanças é de fato muito complicado, e continua sendo para mim, assim como é com milhares de outras meninas.

Acredito que a psicologia tem o papel fundamental nessa fase em orientar as famílias para ter conversas sobre isso, numa tentativa de elucidar esses assuntos; tratar as mudanças e os lutos com mais cautela e naturalidade faria com que formássemos mulheres mais seguras, menos desamparadas, e menos reféns da sociedade, se todas nós tivéssemos o conhecimento da força que temos juntas, e da beleza que tem o nosso sexo, com certeza trataríamos todas as mudanças físicas com mais respeito e alegria, pois ser mulher não seria mais motivo de tristeza, se fôssemos livres para andar, para falar, para mostrar nossos corpos sem a pressão dos olhos masculinos sobre nós.

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Bergson: o espírito pelo espírito

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Henri Bergson foi um grande filósofo do século XX, nascido em 1859. Nessa época a filosofia se baseava em métodos positivistas e de cunho materialista. Ele tratou de temas tanto da psicologia como da neurociência, do evolucionismo biológico, da moral, da mística e da religião. No entanto, o que liga todos esses temas, apesar da diferença entre eles, é em termos bergosonianos a intuição, ou seja, o método intuitivo. Ribeiro (2013) enfatiza que na época em que os métodos da filosofia eram objetivos, positivistas e materialistas, Bergson mostrou-se um metafísico. Ao longo da sua carreira, de forma abrangente e eclética dedicou-se a temas e problemas diversificados da psicologia, da moral, evolucionismo biológico, religião e neurociências.

Contudo, aparentemente esses temas são desconectados, mas nos estudos de Bergson havia uma ligação entre todos, por isso esse grande filósofo se tornou conhecido como o filósofo da duração. Esta ligação foi denominada por ele, a intuição da duração, levando a criar um novo método de conhecimento filosófico: o método intuitivo. Para Bergson a intuição é a realidade sentida e compreendida absolutamente de modo direto, sem utilizar as ferramentas lógicas do entendimento: a análise e a tradução. Representa uma apreensão imediata da realidade por coincidência com o objeto. A intuição para ele é uma forma de conhecimento que adentra no interior do objeto de modo súbito. E pode ser compreendida como uma experimentação metafísica.

Dentre as inúmeras vezes em que Bergson se refere à intuição como uma faculdade e um modo de conhecimento que se opõe ao da inteligência ou, conforme os termos de L’évolution créatrice, (1991), as “duas faculdades” que “a teoria do conhecimento deve tomar em consideração” (EC, p.159), destacamos as que se relacionam a Kant. Bergson ratifica a caracterização que Kant faz da inteligência no que diz respeito ao seu modo de operação, seu campo legítimo de aplicação e aos seus limites, mas diverge ao postular a existência de “uma outra faculdade, capaz de uma outra espécie de conhecimento”  (COELHO, 1999, p. 154).

Fonte: https://goo.gl/GQ3sFE

A duração é o tempo bergsoniano, por isso é necessário comentar sobre ele. A duração tem como essência a própria mudança em si, sendo esta contínua, e sem fim. Para Bergson, a duração constitui a essência do ser, e tem identificação com o tempo não intelectualizado, é livre, imensurável e não é mediada, seja por intermédio dos símbolos, da linguagem ou da própria ciência. Não há possibilidade de o intelecto e a inteligência compreenderem a duração, pois ambas lidam com categorias espacializantes.

Frédéric Worms, em seu “Le vocabulaire de Bergson”, afirma:A duração se opõe […] ao tempo concebido como forma homogênea, sobre o modelo espacial;ela se opõe a toda decomposição em dimensões (passado, presente, futuro) ou em partes (momentos, instantes, etc.). […] Ela é um absoluto”. (WORMS, 2000, p.21). O método intuitivo foi criado pela necessidade que Bergson sentia de possuir uma técnica que apreendesse a duração. O que Bergson denomina como metafísica é o conhecimento do espírito pelo espírito, e a intuição que ele aborda, antes de qualquer coisa, é o instrumento da metafísica para assimilar o movimento, e a substancialidade espiritual que é móvel.

A intuição interior, que consiste no aprofundamento das coisas e objetos, os quais temos curiosidade de conhecer, é o primeiro passo para o entendimento do espírito pelo espírito. Visto que a intuição é a visão do espírito pelo espírito, o método intuitivo refere-se, principalmente, da duração interior, sendo essa, comentada mais detalhadamente em ‘’ A Evolução criadora’’ uma das
teses do ‘’Ensaio’’ de Bergson, retratando sobre a duração do eu profundo e da duração dos estados psicológicos de cada indivíduo. 
Sobre a duração da vida psicológica, Bergson afirma:

Se nossa existência fosse composta por estados separados cuja síntese tivesse que ser feita por um “eu” impassível, não haveria duração para nós. Pois um eu que não muda, não dura, e um estado psicológico que permanece idêntico a si mesmo enquanto não é substituído pelo estado seguinte tampouco dura. Assim sendo, podemos alinhar à vontade esses estados uns ao lado dos outros sobre o “eu” que os sustenta, esses sólidos enfileirados no sólido nunca resultarão na duração que flui. A verdade é que obtemos assim uma imitação artificial da vida interior, um equivalente estático que se prestará melhor às exigências da lógica e da linguagem, justamente porque o tempo real terá sido dele eliminado. Mas, quanto à vida psicológica, tal como se desenrola por sob os símbolos que a recobrem, percebe-se sem dificuldade que o tempo é o tecido mesmo de que ela é feita.” (BERGSON, 2005a, p. 4, grifos nossos).

                                  Fonte: https://goo.gl/5tBfM8

Bergson tem o cuidado de mostrar-nos que a linguagem e seus símbolos são os responsáveis pela estatização do eu, esse que na verdade é puro fluxo e duração. Então Bergson, se determina o dever de investigar esse ‘’eu espírito’’ mesmo que dura, pois: […] “A mudança pura, a duração real, é algo espiritual ou impregnado de espiritualidade. A intuição é o que atinge o espírito, a duração, a mudança pura. Sendo o espírito seu domínio próprio, ela desejaria ver nas coisas, mesmo materiais, sua participação na espiritualidade”. (PM, p. 235). Jean-Louis Vieillard-Baron (2007, p. 82) comenta que o espírito bergsoniano é “a temporalidade do tempo, ou duração, ele é a mobilidade do movimento. É a realidade movente em oposição à realidade inerte e sem matéria”. A intuição, para Bergson, é a simultaneidade com o objeto estudado, é o afeiçoar-se com as coisas, é a junção de objeto e sujeito, por um momento, para perceber o que é o objeto, nele mesmo, sem contribuição da linguagem, dos conceitos ou dos símbolos, adentrando assim, na duração real.

A definição geral do método intuitivo, dada por Léon Husson em seu livro “L’intellectualisme de Bergson”, o qual pretende explicar a gênese e o desenvolvimento do conceito de intuição no pensamento bergsoniano, é a seguinte: “O método […] consiste essencialmente em um esforço do espírito para ultrapassar os conceitos todos, a fim de se pôr em presença da realidade que eles exprimem.” (1947, p. 13). Ele também faz uma enumeração das características do método, baseando-se nas várias figuras usadas por Bergson, são elas: 1) de uma penetração; 2) de uma coincidência; 3) de um contato; 4) de uma visão; 5) de uma percepção; 6) de uma sondagem; 7) de uma simpatia; finalmente, seria o conhecimento que apreende seu objeto imediatamente, de dentro, como o conhecimento de um absoluto. (idem, p. 15). O método intuitivo, é essencialmente interior, internalizando-se, primeiramente, em direção ao espírito.

Na obra ‘’ Ensaio’’, Bergson afirma que a consciência seja voltada para duração interior existente em cada indivíduo, onde os estados interiores se penetrariam entre si, escapando à lei e a medida. Considerando os conceitos que se referem à intuição, foi possível observar que a intuição se dá por pensamentos que nos possibilitam a chegar ao limite do conhecimento e da experiência. É difícil entender os fatos do qual a consciência humana não consegue explicar, são eventos que acontecem de forma natural e útil. São conhecimentos adquiridos em tempo real que permite uma verdade dos fatos ocorridos na intelectualidade do indivíduo.

                                                                    Fonte:  https://goo.gl/68Ho9t

Então, é possível compreender que a intuição não se relaciona claramente com a linguagem, pois, existe uma dificuldade de compreensão entre elas. Para Soares, a linguagem provavelmente impossibilitaria uma essência favorável à intuição. “A função da intuição é captar o movimento inerente ao real, ou seja, resgatar sua essência temporal.” (Soares, 2013, p. 11). Contudo, a intuição promove uma força maior para tornar pensamentos contrários do seu habitual, ou seja, ela requer mudanças para que haja uma duração no estado real dos fatos. Sobre isto, o autor ainda acrescenta que: Se a intuição não pode ser comunicada por ela mesma, caberá a nova metafísica criar os conceitos capazes de atravessar esse impasse com estratégias próprias e sabendo se utilizar, por paradoxal que seja, da própria inteligência, através de conceitos novos, que sejam fluidos e flexíveis.” (Soares, 2013, p.13).

Ao contrário de alguns pensadores, Bergson acredita que necessariamente a linguagem é uma ferramenta chave da inteligência como meio de comunicação da intuição, e certamente da duração. Sendo que a intuição e a duração se aliam em um único sentido. Neste sentido, ainda tem muito que se estudar e teoricamente analisar os possíveis conceitos da intuição, pois a teoria estudada deixa muito vazia sobre a necessidade absoluta da linguagem em relação à intuição. Devido a isso, fica a desejar uma definição claramente conceituada da intuição.

A intuição é, sem dúvida, um tema bastante instigante que nos estimula a buscar mais informações para levar-nos a uma melhor compreensão do pensamento de Bergson. Conclui-se então que a intuição é uma forma de conhecimento que opera no objeto sem o ato de analisar ou traduzir, por esse motivo, para Bergson o método de intuição é filosofia em si, exatamente por ser um ato simples, sendo este criado pela existência de uma necessidade de apreender a duração. Ao considerarmos os conceitos que se referem à intuição, é possível observar que a intuição se dá por pensamentos que nos possibilita a chegar ao limite do conhecimento e da experiência.

Fonte: https://goo.gl/Pjauef

Ao contrário de alguns pensadores, Bergson acredita que necessariamente a linguagem é uma ferramenta chave da inteligência como meio de comunicação da intuição, e certamente da duração. Sendo que a intuição e a duração se aliam em um único sentido. Sabe-se que ainda tem muito o quê se estudar e teoricamente analisar para os possíveis conceitos da intuição, pois a teoria estudada deixa muito vazia sobre a necessidade absoluta da linguagem em relação à intuição. Devido a isso, fica a desejar uma definição claramente conceituada da intuição, tendo em vista que o filosófo não deixou uma definição exata do método, somente provando a existência.

Referências:

RIBEIRO, Eduardo Soares; 2013. Bergson, e a intuição como método na filosofia. Kínesis, Vol. V, n° 09, Julho 2013, p. 94-108. Disponível em: <filosofia<https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/eduardoribeiro.pdf>. Acesso em: 18 Mar. 2017

COELHO, Jonas Gonçalves. Bergson: intuição e método intuitivo. Trans/Form/Ação,  Marília ,  v. 21-22, n. 1, p. 151-164,    1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31731999000100012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  21  Mar.  2017. 

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