Psicólogo Caio Cesar Brum participa do CAOS 2022

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A edição do CAOS de 2022 contará de diversas apresentações, sendo que o prelúdio deste evento será realizado nesta edição pelo psicólogo egresso do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, Caio Cesar Brum, que dosará o clima e a sintonia entre os palestrantes e os participantes.

Em entrevista concedida ao portal (En)Cena, Caio respondeu algumas perguntas sobre sua participação no evento.

En(Cena) – O esquenta cultural, por ser um evento preliminar, possui um papel importante para todo o Congresso. Como se sente sendo responsável por influir nos participantes a conexão com os temas que serão debatidos ao longo das apresentações?

CAIO: Sinto grande felicidade no fato da arte ser colocada em pauta no congresso, e acredito que, assim, se pode promover uma preparação do ambiente, de forma que possamos ser atravessados pelos temas não apenas no nível da intelectualidade, como também no nível do afeto. Me sinto extremamente honrado por poder fazer parte.

En(Cena) – A música esta presente na humanidade há muitos anos, qual sua leitura sobre a importância desta para a psicologia?

CAIO: Sendo uma ciência do fenômeno humano e da humanidade, a psicologia se debruça sobre a cultura a fim de se aproximar do seu objeto de pesquisa. Sendo a música aquilo que está em todo os lugares onde agrupamentos de pessoas surgem, é possível discutir as funções evolutivas dela, bem como onde ela pode ajudar no processo de saúde mental.

En(Cena) – A melodia lírica pode ser considerada como uma forma de reflexão social para instigar os ouvintes a uma auto compreensão ou conscientização sobre assuntos delicados que normalmente são tratados como tabu?

CAIO: Com toda certeza. Muitas músicas são um tapa na cara que expõe críticas que, de outras formas, não teriam tanto acesso aos ouvidos do ouvinte. Além disso, com ela é possível simular um contexto que é imprescindível para tocar da forma necessária para provocar a reflexão que se pretende.

En(Cena) – Aproveitando a oportunidade sobre o esquenta cultural e melodia lírica. Como psicólogo, o que acha da musicoterapia nos tratamentos psicológicos?

CAIO: Dito tudo isso, fica evidente a capacidade da música de provocar o afeto no sujeito. Em contexto psicoterapêutico, isso pode ser importante em casos de bloqueio afetivo. Além disso, usado como lugar de criação, a música pode ser uma verdadeira escola de criatividade, fortalecendo a personalidade daquele que a cria.

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Musicoterapia e Psicanálise: conceito e aproximações

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A musicoterapia se respalda no uso científico da música de forma sistemática por um profissional qualificado e de um modo geral, objetiva por meio da música, “participar e interagir com o paciente” em atividades tanto grupais quanto individuais (QUEIROZ, 2013, p. 1535). Por sua importância e eficácia, é interessante realizar o esclarecimento de seu conceito e suas aproximações da abordagem psicológica psicanalítica, amplamente utilizada entre os profissionais clínicos da atualidade.

Ao dialogar sobre os fundamentos epistemológicos da musicoterapia, Ulkowski, Cunha e Pinheiro (2019) revisitam a história dessa prática que está presente na sociedade desde a antiguidade, sendo utilizada para fins terapêuticos. As autoras colocam que uma das principais características que diferem as práticas musicoterápicas realizadas antigamente para as que se fazem presentes nos últimos 50 anos, é a preocupação que atualmente se tem em relação a sua cientificidade, tendo em visto que o uso da música e seus efeitos na antiguidade tinha um cunho mais religioso e filosófico, como por exemplo, sua utilização para espantar maus espíritos em práticas mágicas antigas.

Foi no final do século XVIII e início do século XIX que as primeiras dissertações médicas sobre o uso da música no contexto terapêutico aconteceram, dando início a uma mudança no discurso que embasava sua prática. Percebe-se que a musicoterapia é uma área que desenvolveu-se primeiro pela prática para depois passar pelo processo de fundamentação (ULKOWSKI; CUNHA; PINHEIRO, 2019). Esse processo pode ter culminado no que Cunha (2018) vem chamar de interdisciplinaridade ou a hibridez da construção teórica musicoterapêutica, tendo em vista que essa é uma prática que perpassa diversos saberes e áreas (por exemplo, artes e saúde). Apesar desse pluralismo teórico, a autora fala sobre a necessidade de bases conceituais que “iluminem as interpretações, que levem a metodologias e resultados de estudos, que facilitem as discussões e construções explicativas. São elas que oferecem fundamentos para o entendimento de realidades” (ibid. p. 26).

Fonte: encurtador.com.br/dxyBL

Quando se fala sobre a fundamentação da musicoterapia no Brasil, Ulkowski, Cunha e Pinheiro (2019) relembram as atuações pioneiras na década de 1960 com Cecília Conde, Gabrielly de Souza Silva e Dóris de Carvalho sucedidas pelos primeiros cursos e palestras com enfoque científico em solo brasileiro. Outro importante nome foi a da educadora musical Clotilde Espínola Leinig que implantou a Especialização Lato Sensu em Musicoterapia, na Faculdade de Educação Musical do Paraná, e mostra como conceitos psicanalíticos estiveram presentes na fundamentação da musicoterapia no Brasil, tendo em vista que os livros do médico e psicanalista Rolando Benenzon (responsável pelo Modelo Benenzon de Musicoterapia, hoje conhecido como Terapia Não-Verbal) foram utilizados na implementação do curso.

Todo esse processo colaborou para que a prática da musicoterapia fosse reconhecida como uma atividade clínica regulamentada não somente no Brasil, como em diversos outros países. Formação reconhecida pelo MEC, o musicoterapeuta pode atuar nas áreas da saúde, educação, social/comunitária, entre outros, sempre estabelecendo um plano de cuidado que proporcione a promoção, prevenção e/ou reabilitação da saúde do sujeito, individualmente ou enquanto grupos (UNIÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE MUSICOTERAPIA, 2018). De acordo com a Federação Mundial de Musicoterapia (1996, p. 4):

Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar, e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ou restabelecer funções do indivíduo para que ele/ela possa alcançar uma melhor integração intra e/ou interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida, pela prevenção, reabilitação ou tratamento.

Fonte: encurtador.com.br/lsx05

Em outras palavras, a musicoterapia pode ser utilizada como um processo de intervenção terapêutica, a partir das experiências sonoras que tocam os sentidos do corpo como um todo. Trata-se de um fenômeno criativo que mobiliza o organismo a agir, por meio de ritmos/melodias e também a comunicar-se de forma não-verbal. Pois, entende-se que muitos indivíduos portadores de deficiência possuem limitações na fala, prejudicando a fluidez da comunicação verbal (SANTOS; ZANINI; ESPERIDIÃO, 2015).

Neste sentido, esses autores revelam que a música é um experimento que pode promover auto reflexão, conscientização e exteriorização de conteúdos inconscientes. Com isso, a relação cliente-terapeuta-música pode co-construir aspectos benéficos no desenvolvimento terapêutico.

Na busca por promover um diálogo entre a musicoterapia e a psicanálise, Ulkowski, Cunha e Pinheiro (2019) refletem sobre a importância de se ter uma teoria na qual a prática musicoterápica pudesse se amparar. Além disso, essas interlocuções ampliam o exercício da psicanálise para outros modos de atuação do terapeuta, como em situações de pessoas que apresentam “doenças regressivas”, por exemplo.

Fonte: encurtador.com.br/atL27

Even Ruud, em sua obra Caminhos da Musicoterapia (1990), apresenta a ideia de que a atividade musical tem sua origem nas primeiras etapas da vida do indivíduo, ainda quando o bebê ainda não consegue discernir os limites entre o eu e a realidade, nos primeiros períodos narcísicos da organização psicológica do ego da criança. Ulkowski, Cunha e Pinheiro (2019), ao resgatar trabalhos como os de Christine Lecourt (2011), expressam a relevância das experiências sonoras até mesmo na vida pré-natal, e como esta influência no desenvolvimento verbal e musical do indivíduo.

Retomando Ruud (1900), a autora discorre sobre como conteúdos do nosso inconsciente, como impulsos e desejos, podem ser transformados em arte, afinal tais conteúdos possuem uma carga libidinal. Tanto a atividade musical criativa quanto a passiva, exercem uma gratificação libidinal no sujeito, se analisado através da teoria da libido. Além disso, ela fala como “os elementos da música tais como ritmo, melodia, harmonia e modos também parece ter um significado psicodinâmico específico” tendo em vista que “a repetição rítmica e ênfase rítmica são meios de descarga; o ritmo estável conduz a um alívio gradativo da tensão sexual” (ibid, p. 37).

A música como destino pulsional de conteúdos inconscientes por meio da sublimação, devido ao fato desta expressão ser mais aceita socialmente, também é um assunto comentado pelas autoras Ulkowski, Cunha e Pinheiro (2019), que falam sobre como a musicoterapia atua como facilitadora desse processo. Além disso, essa prática orientada pela teoria psicanalítica também diz sobre a similaridade entre a música (tal como se apresenta) e o processo primário do sujeito (se refere ao ponto de vista topológico, que seriam os elementos do inconsciente, e ao ponto de vista dinâmico, que se refere ao escoamento da energia psíquica de uma representação para a outra), bem como a escuta transferencial e o seu manejo.

Fonte: encurtador.com.br/rty59

No que se refere aos processos facilitadores da musicoterapia para a expressão de conteúdos, desejos, impulsos inconscientes, Ruud (1990) retoma os trabalhos de Wright e Priestley (1972) para falar sobre como a música pode ser um instrumento para que o indivíduo mergulhe em si mesmo, podendo alcançar o inconsciente e trazer aspectos de si mesmo como sentimentos, memórias, complexos, antes encobertos, para a consciência.  A  autora assinala que: “a música é considerada equivalente ao conteúdo manifesto do sonho e pode ser analisada e compreendida pelas mesmas técnicas que são aplicadas na interpretação do sonho e do chiste” (RUUD, 1990, p. 38). Isso porque tais conteúdos manifestados através da música conseguem burlar a censura da consciência e dar-se com menor resistência (WHEELER, 1981).

As formas de estabelecer essa ponte são infinitas: desde deixar o paciente tocar livremente um instrumento ou escolher uma música. É fato que esse processo de percepção interna, propiciada através da música, o leva ao objetivo maior que é integrar esses elementos, agora conscientizados, em sua psiquê. Trata-se de tornar consciente aquilo que estava fora de alcance, no inconsciente. Elaborar esses elementos e integrá-los. Isso leva o indivíduo a viver de forma mais satisfatória e saudável. E isso porque todo esse processo favorece também a resolução de conflitos, aumento da autoaceitação, trabalha novas técnicas para enfrentar os problemas e fortalece a estrutura do ego do sujeito (RUUD, 1990).

Christine Lecourt (1996), já citada neste artigo, é uma pesquisadora francesa, e em seu trabalho com Lapoujade (1996) discorreu sobre como a musicoterapia contribui também em outros sentidos. Elas descrevem como ela atua na compreensão da experiência musical do indivíduo, verificando possíveis presenças de psicopatologias ligadas ao som, assim como transtornos mentais. Alguns exemplos são a hiperestesia de som, diferentes níveis de surdez, alucinações, entre outros.

Fonte: encurtador.com.br/hvyT4

Outra importante profissional na área fala sobre como a música pode ser usada também na musicoterapeuta, como forma de lidar com impasses na própria prática. Márcia Cirigliano, em A Canção Âncora (2004), declara que em situações de impasse ou impotência com o seu paciente, tendo dificuldades para interagir com ele, o musicoterapeuta pode utilizar uma canção como recurso para se apoiar nela, e a partir dela estabelecer uma interação mais segura com o seu paciente. Isto é, a música não tem funcionalidade apenas para o paciente, mas também para o terapeuta que pode se ancorar nela.

Para Benenzon (2011), a música viabiliza a possibilidade de uma comunicação entre inconscientes (do musicoterapeuta para com o paciente e vice-versa), sem precisar atravessar o pré-consciente e o consciente. É isso o que ele vem chamar de contexto não-verbal. Essa ideia corrobora com a afirmação de Wheeler (1981) sobre o poder da música de burlar as censuras. Assim, para Benenzon (2011), o objetivo principal da musicoterapia é viabilizar canais de comunicação com o paciente.

Desta forma, percebe-se como o trabalho da música está para além de uma simples forma da energia básica e desejos latentes se expressarem. O ego utiliza da música (tendo em vista que é uma atividade iniciada por ele para atingir diversos objetivos) para levar-se a gratificação das necessidades particulares, como defesa contra forças diversas, para realizar funções sintetizadoras e/ou integrativas, e etc (RUUD, 1990). Assim, fica claro como a música tem um papel significativo no desenvolvimento dos seres humanos.

REFERÊNCIAS

BENENZON, Rolando. Musicoterapia: de la teoría a la práctica. 1ª edição. Madrid: Paidós, 2011.

CIRIGLIANO, Márcia. A Canção Âncora. In Revista Brasileira de Musicoterapia. ano IX, n. 7, 2004. Disponível em: http://www.revistademusicoterapia.mus.br/wp-content/uploads/2016/11/5-A-Can%C3%A7%C3%A3o-%C3%82ncora.pdf. Acesso em: 21 de setembro de 2020.

CUNHA, R. Conceituação em musicoterapia: temos fundamentos universais? In Anais do XIX Fórum Paranaense de Musicoterapia e III Simpósio Paranaense de Pesquisa em Musicoterapia. n. 19, p. 25-32, 2018.

LAPOUJADE, Christine; LECOURT, Edith. A Pesquisa Francesa em Musicoterapia. In Revista Brasileira de Musicoterapia. ano I, n. 1, 1996. Disponível em: http://www.revistademusicoterapia.mus.br/wp-content/uploads/2016/12/2-A-Pesquisa-Francesa-em-Musicoterapia.pdf. Acesso em: 21 de setembro de 2020.

QUEIROZ, Isabela Cristina Sousa. O autismo: aspectos gerais e um breve relato de experiência. In: CONGRESSO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 21., 2013, Pirenópolis-­go. Anais […]. João Pesso: Editora da Ufpb, 2013. p. 1530-1541. Disponível em:

ULKOWSKI, Iara Del Padre Iarema; DOS SANTOS CUNHA, Rosemyriam Ribeiro; PINHEIRO, Nadja Nara Barbosa. Da musicoterapia à musicoterapia orientada pela teoria psicanalítica: fundamentos epistemológicos. Revista InCantare, v. 10, n. 1, 2020.

UNIÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE MUSICOTERAPIA. Definição Brasileira de Musicoterapia. 2018. Disponível em: http://ubammusicoterapia.com.br/definicao-brasileira-de-musicoterapia/. Acesso em: 16 nov. 2020.

UNIÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE MUSICOTERAPIA. Revista Brasileira de Musicoterapia, p. 4, 1996.

RUUD, Even. Caminhos da Musicoterapia. São Paulo: Summus, 1990.

SANTOS; Elvira Alves dos, ZANINI; Claudia Regina de Oliveira, ESPERIDIÃO; Elizabeth. Cuidando de quem cuida: uma revisão integrativa sobre a musicoterapia como possibilidade terapêutica no cuidado ao cuidador. Revista Música Hodie. V. 15, N.2, P.273. Goiânia, 2015. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/musica/article/download/39740/20296. Acesso em 22 de setembro de 2020.

WHEELER, B. The relationship between music therapy and theories of psychotehrapy. In Music Therapy. v. 1, issue. 1, p. 9-16, 1981. Disponível em: https://academic.oup. com/musictherapy/article/1/1/9/2757052. Acesso em: 22 de setembro de 2020.

 

 

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#CAOS2018: Musicoterapia / Dançaterapia são temas de Psicologia em Debate especial

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O Psicologia em Debate Especial é parte da programação do CAOS

Ocorreu nesta quinta-feira, dia 24 de maio de 2018, o Psicologia em Debate especial “A psicologia e as técnicas integrativas: desafio emergente”, que dentre os temas apresentados teve-se Musicoterapia e Dançaterapiana Sala 417 (Prédio 4), no Ceulp/Ulbra. O trabalho foi ministrado pelas acadêmicas de Psicologia, da instituição supracitada, Bruna Machado, Geicilane Vale, Jucelia Sousa, Ludiele Peer e Thais Raianny da Silva, sob orientação do Prof. Sonielson Luciano de Sousa.

Explanou-se que a musicoterapia como uma ciência não pura, que afeta o humor e objetiva reduzir o estresse do indivíduo, de modo que no contexto ensino proporciona o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas e sociais, além de melhorar o rendimento escolar e no contexto hospitalar promove um bom acolhimento, estimula a experienciação de sentimentos e auxilia a recuperação física, mental e emocional do paciente.

Apresentação. Foto: Laryssa Araújo.

E no que tange a dançaterapia teve-se como foco a dança circular que é típica em todos os povos, tem como propósito união e cooperação, na educação consegue aprimorar as inteligências linguística, musical e geográfica, por exemplo, enquanto que na saúde é considerada uma prática terapêutica e integrativa. Por fim, a acadêmica Thais Raianny convidou os expectadores para experimentá-la, conduzindo a dança e o grupo.

Acadêmicas e prof. Sonielson Luciano. Foto: Laryssa Araújo.

Fernanda Karoline Bonfim assistiu a apresentação e relatou sobre a linha do tempo baseada em músicas proposta pelas ministrantes: ”me conectou com lembranças passadas, em que com a correria do dia a dia não paro para pensar. Uma lembrança muito boa de minha infância foi quando eu, minha amiga, minha mãe e a amiga dela parávamos para ouvir músicas de Leandro e Leonardo regadas de geladinhos para enganar o calor. Assim como também ressignifiquei sons que me traziam mal-estar”.

Mais informações podem ser obtidas no site do evento: http://ulbra-to.br/caos/edicoes/2018#programacao

 

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Tópicos Especiais inicia teorização e técnicas sobre Práticas Integrativas

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Os acadêmicos de Psicologia na disciplina de Tópicos Especiais, que neste semestre tem como tema “Psicologia e Espiritualidade”, iniciaram nessa quinta (19/04) uma série de intervenções para tentar aplicar, na prática, as técnicas que dão sustentação às Práticas Integrativas e Complementares do SUS (técnicas que dão suporte aos métodos científicos para facilitar e/ou acelerar os processos de recuperação do paciente). Estas técnicas estão relacionadas, em maior ou menor grau, a uma série de protocolos que, antes, eram de exclusividade do saber religioso e popular e que, aos poucos, vêm sendo encampados pela ciência. Muitos psicólogos já se utilizam destas técnicas em suas intervenções cotidianas, sobretudo o Mindfulness.

Fonte: goo.gl/N3dPUc

A ação é um desdobramento das aulas do primeiro bimestre, que ofereceu aos acadêmicos um panorama geral das bases epistemológicas para uma Psicologia da Religião. Serão cinco aulas com as principais técnicas, apresentadas pelos próprios acadêmicos, que se pesquisaram técnicas e referenciais teóricos. Dentre as técnicas estão Mindfulness, Aromaterapia, Musicoterapia, Dançoterapia, Automasssagem e CNV – Comunicação Não-Violenta.

Estas intervenções serão transformadas em seminários que, durante o Caos 2018 (Congresso Acadêmico) irão compor um bloco de apresentações de um Psicologia em Debate Especial.

A disciplina de Tópicos Especiais é ministrada pelo professor Sonielson Sousa e terá como trabalho final, no dia 29 de maio, uma mesa redonda com três psicólogos da cidade, que irão problematizar sobre os desafios de um diálogo entre a Psicologia e os saberes religiosos tradicionais.

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VI Congresso Latino-Americano de Musicoterapia

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Evento realizado pela União Brasileira de Musicoterapia (UBAM), Comitê Latino-Americano de Musicoterapia (C.L.A. M) e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

O Congresso acontecerá de 18 a 23 de julho em Florianópolis-SC e tem como tema a Integração e Diversidade de Vozes da Musicoterapia Latino-Americana,

As atividades do evento estão previstas para acontecer em dois espaços diferentes, na UDESC e no Centro de Eventos da ACM. A programação inclui conferências, painéis, minicursos, mesa-redonda e apresentação de trabalhos científicos.

Os eixos-temáticos de discussão são: Clinica Musicoterapêutica, Pesquisa Social e Comunitária, Musica, Neurociência, organização profissional entre outros.

Mais informações e inscrição podem ser realizadas no site do evento

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A Música e a Terapia regendo a Orquestra da Vida

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Música é a arte e a ciência de combinar sons e o silêncio de forma agradável ao ouvido ou de forma expressiva (FACULDADE PAULISTA DE ARTES, 2011). Ela influencia nas ciências psicológicas, pois uma mesma música pode ser uma experiência diferente a cada indivíduo já que cada um tem suas próprias lembranças, análises e associações. Essa arte e ciência tem relação com a construção social do indivíduo e suas letras servem de fonte histórica tanto para uma sociedade quanto para uma única vida. Cada sociedade, grupo ou ser único encara de forma diferente a combinação de timbres, vibrações e acústicas redigindo sua própria história.

Este texto embasa-se em estudos sobre a relação entre doenças, relações sociais e o som, além da análise de acústica com a finalidade de responder a questão: “de que modo a música influencia a vida?” E a hipótese analisada inicialmente foi sobre como se dá e como funciona o processamento de associações no organismo biológico, este processo é utilizado na musicoterapia.

Musicoterapia é a música em prol de promover comunicação, relacionamentos, aprendizado, mobilização, expressão, organização e associações terapêuticas em um paciente ou grupo para melhorar o físico, a mente, as relações sociais e cognitivas (AMERICAN MUSIC TERAPY ASSOCIATION, INC, 1998). O musicoterapeuta utiliza-se de instrumentos e/ou da voz para compreender o paciente. Cada sessão de musicoterapia é organizada de forma a se ajustar as preferências dos pacientes, e a suas necessidades para que se possa analisar a forma de interação destes com o meio.

Os grandes impactos da musicoterapia para o indivíduo são de exploração da personalidade, de redução do nível de ansiedade e estresse, de relaxamento, de modelação dos estados emocionais, de adquiri o autocontrole, de aprender a improvisar, de diminuição de carências, de melhoramento da intimidade amorosa e familiar e de aumento das formas de expressar do comportamento verbal e não verbal (AMERICAN MUSIC TERAPY ASSOCIATION, INC, 2006).

Ela tem se mostrado como opção de tratamento eficaz para uma grande variedade de doenças, dentre elas respiratórias, cardíacas, diabetes, síndromes, reabilitação física, pós-operatórios, dores crônicas e de cabeça, além do auxilio às doenças psicossomáticas e relacionamentos interpessoais (ILARI, 2006).

Pacientes resistentes a outras abordagens de tratamento se identificam com essa proposta, pois a música é uma forma de estimulação sensorial, que provoca respostas devido a sua familiaridade, previsibilidade e sentimentos de segurança associadas a ela, por isto o musicoterapeuta deve estar em um bom fluxo com o paciente e saber reger a sessão de forma que se promova o bem-estar (AMERICAN MUSIC TERAPY ASSOCIATION, INC, 2006).

Assim, observa-se que há três tipos de interação do indivíduo com o meio que chamam atenção por suas frequências e por serem tão singulares a cada indivíduo, são elas: a mudança de humor ocasionada pela música, associação de acontecimentos com sons e a relação da sonoridade quando passa-se por fases felizes ou tristes.

1 A VIDA É UMA GRANDE ORQUESTRA

Todos têm sua própria orquestra e, dentro dela, cada experiência é simbolizada por nota, cada conjunto de experiências por compassos e cada núcleo diferente por instrumentos variados. Todos estes se associam em melodias e harmonias que vão regendo a vida.

1.1  Associações que regem afetos

Quando a pessoa está mal, pode-se associar esta situação com imagens ruins, entra-se em uma espécie de uma ópera dramática e as músicas escutadas nestes momentos são como trilhas sonoras de cenas de tristeza. Entretanto, quando se está feliz associa-se imagens boas, o mundo é visto de uma forma mais harmonizada, ópera agora se assemelha a uma comédia e as músicas tocadas são relacionadas com cenas de felicidade.

Quando muda o contexto, as músicas ouvidas antes com felicidade podem se opor ao que acontecia e agora gerar cenas de tristeza ou vice e versa (PSICOLOGIA ARGUMENTO, 2011). Exemplifica-se esta situação pelo filme Fantasma da Ópera. Quando a música “All I Ask of You” é cantada pelo casal principal, tem-se um ambiente sublime entre os dois, mas quando isto ocorre entre a protagonista e o Fantasma tem-se um ambiente de tensão, medo e agonia. A música é vinculada a um momento com certa pessoa e neste contexto esta não existe, além de que o Fantasma se apropria da música para tentar possuí-la.

A associação é explicada por diversas abordagens da psicologia, será retratado simplificadamente três delas. A abordagem comportamental analisa que a música foi pareada a um comportamento e por isto quando os estímulos da música são dados o comportamento volta a ocorrer. Se o ambiente for modificado e o reforço não acontecer mais, isso pode gerar um comportamento depressivo. Se o comportamento anterior fosse deste tipo, agora pode se ocasionar um alivio, apenas uma lembrança singela ou até mesmo chegar ao ponto de que aquela música volte a ser neutra a pessoa (ATKINSON, 2009).

A abordagem cognitiva e a musicoterapia embasada na analítica se assemelham em alguns aspectos. A musicoterapia analítica crê que a música interage no sistema límbico como um todo, remetendo principalmente ao hipocampo, ao septo e a área tegmental ventral, que são as ligadas a memória, ao prazer e as associações.  Além disto, diz que como nosso corpo é feito de água, essas moléculas também sofrem influência antes mesmo das conexões cerebrais. A abordagem cognitiva diz que as associações e conexões neurais fazem com que o cérebro focalize e aumente as relações com o som, assim passam pelo sistema límbico e utilizam-se principalmente da memória de situações e experiências passadas e às emoções fazendo com que o som tenha uma conotação singular, de grande relevância e dotado de sentimentos. Estas associações podem ser revertidas vagarosamente ou por um novo evento forte e importante.

1.2  Estados de espírito auxiliados pelo som

O fato de ouvir música faz com o córtex pré-frontal do cérebro seja ativado. Área responsável pela memória de trabalho, ou seja, a aprendizagem. A música estimula a plasticidade neuronal do córtex pré-frontal aumentando o repertório sobre informações utilizadas rotineiramente, melhorando a realização prognóstica, o planejamento futuro e a toma de decisões, principalmente as difíceis, auxilia na diminuição da agressividade e da impulsividade, no aumento da concentração e ajuda no desenvolvimento de mais de uma tarefa ao mesmo tempo.

Uma das ferramentas da meditação é fazer com que a pessoa se concentre no som e com isso entre em contanto consigo mesma e esvazie a mente para que possa relaxar. Os seguidores de ioga preferem sons da natureza ou instrumentais para entrar em transe, pois eles remetem a paz, calmaria e ao estado de espírito natural, sem se prender tanto a cultura para assim achar as soluções para as dificuldades da vida e o melhoramento da saúde.

“Toda pessoa responde à música – ela afeta nosso corpo,
nossa mente, nossos sentimentos.”

(MUSICLIN, 2011)

1.3 A sonoridade e as fases da vida

Em cada fase da vida há conexões e as pessoas se sentem mais próximas, ou de um estilo musical ou de uma banda ou de uma música (OLIVEIRA, 2007). Isto decorre das relações com o meio, cultura, vivência e expectativas futuras.

Crianças preferem musicas com ritmos agitados e melodias felizes (BUENO & BERGAMASCO, 2008.), jovens costumam ouvir as que foram ouvidas diante de suas vivências, as músicas que foram associadas a momentos de sua vida e as que fazem parte de seu contexto social (MACHADO & BATISTA, 2009). Já a terceira idade prefere sons que tragam lembranças de sua vida ou que os deixem alegres e com a mentalidade jovial.

1.4 Doenças e música

A música pode auxiliar no tratamento de vários tipos de doença: déficits seletivos de habilidades procedentes de lesões cerebrais, psicossomáticas, genéticas e outras. Os testes de amusia servem para observar a relação de pacientes com lesões cerebrais ou com síndromes ou ainda a cultura um grupo de pessoas, para avaliar as percepções sonoras. Promovendo o bem estar dos pacientes e analisando a estrutura cultural. São implantados três tipos de testes: organização melódica, organização temporal e reconhecimento de frases musicais (NUNES, LOUREIRO, LOUREIRO & HAASE, 2010).

A música acalma, faz mudar de ânimo e também refletir o mundo de outra forma, escutá-la é aconselhada para relaxamento, para quando vai se tomar decisões difíceis, e assim, deixar o psicológico e o físico equilibrados para a prevenção de doenças psicossomáticas, e se estiver com elas para obtenção mais rápida de melhoramento da doença.

A técnica da “autobiografia musical” (UOL Mais, 2009) permitiu que pacientes com esclerose múltipla expressassem afetos, frustrações e desejos. Eles melhoraram a consciência emocional e corporal, dando melhor suporte e apoio ao tratamento da doença em que elaboraram um senso de continuidade de vida e criaram um ambiente próprio de bem-estar.  Em alguns indivíduos foi melhorado o estado de saúde e estabilizou, mesmo que um pouco, o progresso da doença.

O Alzheimer pode ser retardado com a influência da música. A técnica é praticamente a mesma da esclerose múltipla, quando se escuta uma música ela serve de trilha sonora para um filme mental, trazendo de volta lembranças, é a associação entre a música e a memória. “Lembranças de canções importantes do ponto de vista autobiográfico parecem ser poupadas em pessoas com o Mal de Alzheimer” (BBC Brasil, 2011). A técnica de associação e de ouvir música faz com que a área do córtex pré-frontal seja ativada e tenha grande plasticidade cerebral, esta área é uma das últimas áreas do cérebro a se atrofiar com o progresso da doença. Com a utilização desta técnica, isto é retardado e feito de forma mais vagarosa do que os pacientes que não ouvem música.

Além de melhorar as atividades cerebrais e auxiliares na prevenção, no retardo e no tratamento de doenças, a música também serve como estimulante para se continuar a viver e progredir como é o caso de pacientes que perdem os movimentos das pernas ou dos braços e acabam se voltando a música com destaque. Eles podem utilizar a cabeça para tocar ou algum outro membro que esteja em funcionamento, ou ainda aprendem a cantar, assim a música dá uma nova forma de vida e prazer a pacientes que muitas vezes entram em depressão (BBC Brasil, 2011).

1.5 A musicoterapia no setting

 A musicoterapia não é uma atividade artística e sim uma forma de terapia que se embasa em técnica psicoterapêutica, pedagogia musical e técnicas recreativas (MUSICLIN, 2011). Através da música e da criatividade no setting clínico, o terapeuta estabelece uma experiência musical compartilhada para alcançar os objetivos terapêuticos, objetivos estes determinados pela patologia e as necessidades do paciente.

Os pacientes utilizam sua voz e instrumentos étnicos e de percussão para usufruir do universo sonoro. O terapeuta analisa a forma como o paciente usufrui do som para apoiá-lo e intervir positivamente, utilizando dos próprios recursos musicais para mudar o comportamento, o bem estar emocional, físico, mental e social e proporcionar maior consciência de si e da relação com o outro (GALVÃO, 2006).

Trabalha-se com qualquer som desde que eles sejam agradáveis ou não aos ouvidos, assim todos podem se beneficiar da musicoterapia, mesmo não tendo conhecimentos sobre música. O importante é a expressividade do som emitido ou o que proporcionou ao paciente, o movimento também é um elemento utilizado, já que a sonoridade implica em movimento, ou seja, na expressão corporal.

O tratamento se constitui de várias etapas. Na primeira sessão o terapeuta entrevista e o paciente apresenta sua queixa, em seguida é preenchido a Ficha Musicoterapêutica; um questionário e entrevista com o paciente ou com os pais; visando coletar dados do universo sonoro pessoal do paciente e começar a identificar seu perfil musical. Em seguinte é aplicado o Psicodiagnóstico Sonoro-musical de acordo com afinidade musical da pessoa.

Nas sessões seguintes, na primeira etapa da Testificação Musical é a manipulação dos instrumentos musicais pelo paciente, identificando assim inibições, bloqueios, estereótipos, capacidade de concentração, impulsos e desejos. Na segunda etapa é aplicado o Teste Projetivo Sonoro-Musical, que avalia as reações de pacientes frente a sons ou músicas que tenham algo simbólico já preestabelecido.

A Identidade Sonoro-Musical é a síntese das experiências de vida do paciente associadas aos sons, a qual inclui desde o choro e sons da natureza, batimentos cardíacos da mãe e sons vivenciados pela mãe na gestação, até sons da infância e carga musical e cultural do indivíduo. Estas informações reunidas fazem parte importante da compreensão do perfil musical do paciente.

A partir destas informações, o terapeuta conduz o paciente ao método receptivo ou ativo, ou seja, a escuta de sons ou a improvisação do paciente por meio de um repertório musical. Os modelos e métodos podem ser variados e conduzidos através de intervenções que envolvem instruções, orientações e sugestões, dependendo da abordagem do musicoterapeuta.

Atualmente são utilizados quatro tipos de experiências musicais, a recriação musical – utilização de musica e melodias já existentes executadas pelos pacientes ou musicoterapeuta. Outra é a improvisação musical, que possibilita a criação rítmica, melódica ou harmônica. Em terceiro, a audição musical – normalmente atrelada ao canto, execução instrumental, e movimentação corporal, e por fim, a composição musical – utilização da criatividade.

A musicoterapia objetiva o desenvolvimento da livre expressão sonora – vocal, corporal e instrumental, da percepção do outro e de si mesmo; da melhora na comunicação, da criatividade, da improvisação, da fantasia, da imaginação, da respiração, do relaxamento, da organização, do estabelecimento de limites, da percepção sensorial, da coordenação rítmica e motora, da orientação espaço temporal, da memória, da atenção, da concentração, da percepção sonora, corporal e ambiental, da sociabilização, da integração grupal e da análise e interpretação verbal das atividades realizadas.

A terapia utiliza destes pontos para se chegar ao que o paciente não consegue expressar verbalmente ou o que está no inconsciente, dependendo da abordagem do analista e às sessões que se aplicam conceitos da abordagem sem as técnicas musicoterapeutas veementizadas. O Centro De Musicoterapia Benenzon Brasil (2011) resume que a musicoterapia “através da criatividade, da expressividade e da espontaneidade, trabalha as emoções, os afetos, a cognição e as relações do indivíduo.”

CONSIDERAÇÕES

A música influencia a vida na medida em que ela vai se associando a fatos ocorridos no meio em que vivemos o particular e o público. O ser humano tem um potencial inato para interpretar e apreciar sons, pois os elementos musicais se alinham com os sons do organismo – o pulso e ritmo com batimentos cardíacos e respiração, melodia da risada ou do choro –, todas as emoções transmitem uma estrutura harmônica assemelhando-se a diversos idiomas e estilos musicais.

A expressão por meio da música é comum a todos os humanos e ela pode ser tida como uma linguagem universal, pois é expressiva e provoca reações que vivenciam diferentes estados emocionais, e para abordagens mais analíticas, favorecem o contato direto a alguns conteúdos do inconsciente. Tudo isto só é possível por causa da associação entre música e momentos. Palavras, ritmos e sons conectam a memórias vividas ou projetam sonhos.

Pelo sistema nervoso, a música atinge áreas do sistema límbico com facilidade, o que auxilia a manifestação da sensibilidade e da emoção, levando uma cadeia de reações variáveis únicas para a pessoa. Sendo assim, a musicoterapia faz a pessoa entrar em contato consigo para poder aprender a interagir com o outro e vencer obstáculos.

Pelo sistema nervoso, a música atinge áreas do sistema límbico com facilidade, o que auxilia na manifestação da sensibilidade e da emoção, levando uma cadeia de reações variáveis e únicas para a pessoa. Sendo assim, a musicoterapia faz a pessoa entrar em contato consigo para poder aprender a interagir com o outro e vencer obstáculos.

O tratamento de doenças ligadas a memória, a danos cerebrais, a psicossomatização e a síndromes, se utilizam da associação feita na vida pelo paciente com a música para relembrar memórias, estimular o cérebro e melhorar o bem-estar deste.

Finalmente, pode-se dizer que a música tem o poder de associação e que através deste poder todos podem se comunicar, sentir e interagir de forma mais espontânea e natural. Não se sabe ao certo todos os mecanismos de associação musical com as memórias, porém constatamos a importância disto para a saúde humana.

 

 


Nota:

Essa produção foi orientada por Valéria Bastelli Pagnan,Mestre em Educação e professora de Metodologia no curso de Psicologia da Faculdade Jaguariúna.

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Musicoterapia

A musicoterapia e o poder modalizador da arte

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O (En)Cena entrevistou o musicoterapeuta e militante no campo da saúde mental Tarso de Oliveira, conhecido como Paulo. Nascido em Macaé em 1964. Desde criança Paulo esteve envolvido com a música.

Foto: Mardônio Parente

(En)Cena – Como se deu sua relação com a música? É anterior ao seu trabalho como musico terapeuta?

Paulo – Muito antes, e também em meio à graduação. Desde guri eu já tinha essa “coisa” com a música. Só com 24 anos eu descobri a musicoterapia e comecei essa formação. A princípio eu queria ser médico, mas depois desisti desse projeto. Trabalhei em um banco dos 18 anos aos 21 anos de idade. Também comecei uma graduação em administração, mas larguei praticamente no final, porque a arte era mais forte. Essa potência da arte sempre falou muito mais forte dentro de mim.

(En)Cena – Como e quando se deu sua aproximação com a clínica?

Paulo – Minha aproximação com a clínica foi através da musicoterapia. Quando terminei a graduação, fui fazer uma formação na área da abordagem gestáltica, com a Teresinha Melo da Silveira, ela era professora da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Fiz a formação com ela e depois trabalhei como professor do curso dela. Em meio há esse tempo, em 1993 eu conheci o Paulo Amarante. Estávamos em Salvador, em um encontro da luta antimanicomial, e a Cristina, uma amiga minha que é psiquiatra conhecia o Paulo da FIOCRUZ. Nos fomos jantar numa churrascaria, e nessa coisa de desejar uma arte cientificada, eu pergunto pra Paulo: “professor, o quê que você acha, de uma possibilidade da clínica com a arte, musicoterapia?” aí ele falou; “olha, faz uma coisa, ensina música para os seus pacientes”. Rapaz, eu fiquei intrigado com aquilo.

(En)Cena – Fala para a gente como nasceu essa ideia de trabalhar com grupos heterogêneos?

Paulo – Vim ao longo de um processo no campo da saúde mental, desde 1992, já fazem 20 anos, e a arte sempre atravessando esse contexto, mas ainda com um caráter muito de tratamento. Em 1997 entra um assistente social, na nossa equipe, ela vinha da ação social. Já trabalhávamos com grupos de psicóticos, mulheres e deficientes, mas ainda trabalhando muito na questão da nosografia, da psicopatologia, mesmo com arte. E num determinado momento eu falo “ta beleza, vou fazer um grupo de psicóticos”. Mas não tinha ninguém para abrir uma intervenção, aí eu falei para o psiquiatra e para a assistente social “olha, me manda os pedra noventa”. Na quinta feira seguinte, aparece Sr. José tomando um antidepressivo, mas nada de significativo, nenhuma medicação que realmente considerasse uma psicose, aí eu pergunto: “Sr. José quem mandou o senhor vir aqui conversar comigo, para entrar nesse grupo?” Ele respondeu: “foi aquela assistente social baixinha, novinha, que entrou agora”.  Fiquei pensando no que fazer com o Sr. José… Então eu falei “Beleza, Sr. José, volta semana que vem para eu conversar com o senhor”. Precisava de um tempo para pensar, levar o caso para discutir com a equipe. Então chega dona Maria reclamando do filho, do marido, etc. Ai eu pergunto “Quem encaminhou a Senhora?”. Ela respondeu: “Aquela assistente social baixinha!”, eu pensei: “essa mulher está complicando a minha vida…”, então chegou o Sr. Manoel encaminhado pelo psiquiatra, com hipóteses, milhares de diagnósticos diferentes. Passou por uns 5 (cinco) ou 6 (seis) psiquiatras, não sei quantas internações. Eu falei “esse aqui vai encaixar perfeitamente no grupo”.

(En)Cena – Você não teve medo de que não desse certo?

Paulo – Eu fiquei com uma angústia, pensando qual a intervenção para essas outras pessoas? E, em um fim de semana, estudando Spinoza, já é uma referencia que eu venho dialogando há bastante tempo, a questão da complexidade da natureza, da diversidade dos modos, o conceito de modo em Spinoza, para poder pensar a complexidade do real. Bom, a partir disso, então eu pensei: “Porque então não misturar neuróticos com psicóticos?”. Isso foi em 1998. Agradeço ao erro da assistente social, por ter me deslocado desse ponto de vista tão cristalizado, dessa ética normativa da psicopatologia, na losografia. Em 2001, transformamos todos os grupos em grupos de heterogêneos. Em 2005 eu descobri o conceito de heterogênese em Guattari. Criamos também a figura do regente, era um regente nômade. A cada dia, cada pessoa organizava um encontro.  A arte, com esse cunho estético e de modalização da existência, sempre esteve presente, atravessando o movimento grupal. Depois eu fui descobrindo outros autores, como Gilbert Simondon e Spinoza. Agora, na minha tese de doutorado, em um capítulo que eu chamo de “composições modais de individuação”, onde eu articulo o conceito modo em Spinoza e o de modalidade do ser em Gilbert Simondon, para poder pensar esse vetor de existencialização da arte.

(En)Cena – E como ficou a Gestalt no meio de tudo isso?

Paulo – Também a utilizo, mas em momentos específicos, situações em que ela é realmente necessária. Assim como acontece com a musicoterapia. Acho impressionante a imagem composicional e contrapontística que o “ex” baseado em Guets trás pra gente: “se não houvesse nada de abelha na flor, e se não houvesse nada de flor na abelha, o acorde não se faria”.  Sempre fiquei impressionado com o sentimento de aliança entre os seres que extrapolam esse desejo, esse furor intervencionista e encaminhante da arte. Assim como na Grécia antiga a arte, a filosofia, e religião e a política eram vetores de convergência, a musicoterapia conduz essa formação militante na saúde mental. Acredito que devemos ter o cuidado de não reduzirmos a arte à clínica na saúde mental, corremos o risco de inversão de significados.

(En)Cena – Como objeto de interpretação.

Paulo – Exato, como aquela ideia “produziu a arte no CAPS, então a arte é do CAPS”, devemos ter cuidado com isso, penso nessa arte como… Como liga. Vejo essa arte como o próprio movimento de potência do real, como um grande ponto de convergência que compõe a(s) diversidade(s).

Foto: Mardônio Parente

(En)Cena – Então, a arte ela serve mais como um espaço de encontro do que qualquer outra coisa?

Paulo – Não só. A arte também modaliza. Comondon pensa o ser em dimensões; uma dimensão pré individual que habita em nós, e que o Naxmandro chama de Hiperon: o infinito. Uma dimensão emocional, livre em nós, dependendo do toque, que tem esse vetor de existencialização para liberar aquilo que está individuado e cristalizado. É assim que eu venho trabalhando a arte, como potência, um vetor de existencialização para a produção de novas individuações. Ao mesmo tempo em que você produz a arte, você se produz na arte. É o que eu chamo de “ética composicional”, agente está se compondo permanentemente, através do toque você é afetado, e singularidades vão emergindo.

(En)Cena – Explica para a gente como é que nasceu esse produto da heterogênese urbana, como é que esse produto traduz o movimento que desperta dentro do coração da cidade?

Paulo – Nós falamos que a heterogênese urbana nasce como um movimento dentro do campo da saúde mental, e que tem um descolamento para a cidade. A gente quer pensar uma cidade em movimento. Temos a militância da saúde mental, a militância do movimento negro etc. Militância é movimento.

(En)Cena – Aí já não faz nem sentido falar de usuário, familiar e profissional?

Paulo – Exatamente, já ultrapassamos essa perspectiva. No inicio nós nos inspirávamos na ideia de operador, nos moldes italianos. Hoje pensamos em cooperadores, porque todo mundo é cooperador, mesmo o profissional que e o chamado “usuário” é um cooperador. Todos cooperam para uma operação na vida, na cidade. É produção de vida, então o objeto não é o usuário, nem é isso ou aquilo, o objeto é a própria vida de todos nós, inclusive nós “especialistas”.

(En)Cena – Sim… E como é que a cidade se encontra no produto? Como é que esse produto reverberou?

Paulo – Imagine o Altamiro, esse camarada é um técnico de eletricidade que viaja pelo mundo, trabalhando em uma dessas grandes empresas… Um dia tem um acidente, bate de cabeça e fica meio que inválido. Agora ele recebe uma graninha por mês, e fica na praça gastando o dinheiro dele com bebida e com drogas, e em um dos encontros no ano passado na praça (apareço na praça como um maestro, não como o doutor Paulo de Társio), e aparece o Altamiro, o camarada quase caindo, completamente alcoolizado… Hoje você olha pra ele é vê outra pessoa, e ele não precisou chegar numa instituição de saúde mental, os profissionais estavam ali nessa posição flutuante. Ao mesmo tempo em que somos profissionais, somos artistas, e também somos gente da cidade. O interessante é que ele não precisou se institucionalizar para produzir uma modulação. No próprio território às garis na praça tem todo um cuidado com ele. Ele é muito querido. Toda quarta feira à tarde elas se reportam à gente, “olha ele está melhor, essa semana, agente está vendo a medicação dele pra tomar, cada dia uma pega e dá pra ele”. Esse cuidado na cidade nós chamamos de um Climos urbano, superamos a ideia cientificista e artificial de um climos técnico. Nós queremos pensar um climos urbano onde as pessoas desenvolvam a capacidade de se inclinarem umas às outras, isso agente tem conseguido.

(En)Cena – Você considera o conceito importante?

Paulo – Essa coisa do conceito é fundamental, porque o conceito norteia. Na hora de uma discursão numa equipe, você tem um conceito pra oferecer, se não, fica aquela pratica completamente acéfala. E aí o Dimitre (o psiquiatra da nossa equipe) inventa a cadeira do pé do ouvido.  O que é cadeira do pé do ouvido? Ele tem sete pessoas pra atender, um grupo ali com vinte cinco pessoas embaixo de uma mangueira, e ele puxa dona Maria e começa a conversar com ela, ele pega o prontuário, no meio da conversa ele fala da música que está tocando, fala das pessoas, e ali vai começando… Então dona Maria fala “olha, eu queria falar isso para o grupo, de como essa medicação está diminuindo só pelo fato de agente estar aqui do lado de fora, vendo as pessoas, escutando outras pessoas”. Em geral nos grupos homogêneos, você tem aquela demanda específica, e para causar uma mudança, um movimento no grupo, é preciso tencionar.  Você pode ter uma mesma tela de amarelo, mas só com inúmeros tons de amarelo é que você produz uma diferença. Dentro do ambulatório você está produzindo essa circulação das potencias pela diferença…

(En)Cena – …E veio o conceito que você falou agora a pouco?

Paulo – Da posição flutuante?

(En)Cena – Da posição flutuante.

Paulo – É exatamente isso, ele está aqui, inclinado para ela, mas algo toca transversalmente, é inconsciente, mas ele está aqui funcionando. Tocou, ele passa… É justamente essa posição, pensando na Gestalt, e a relação de figura e fundo.

(En)Cena – E essa posição é fundamental para clínica de rua?

Paulo – Exatamente… Por exemplo, se você chega para as pessoas e se apresenta: “eu sou Jonatha, trabalho no campo da saúde mental”… Essa posição assusta as pessoas. Devemos manter uma relação com a cidade como profissionais do campo da saúde, mas como pessoas também. Essa posição é fluida, estética, artística e política. Como você falou: “política é relação”, e é exatamente isso. Spinoza fala que o corpo é política. Partes pequeninas, partes densas, partes moles, partes fluidas.

(En)Cena – É a relação delas que nos faz.

Paulo – A relação de movimento, repouso, velocidade, lentidão… A cada momento essa configuração se modaliza, a partir dos vetores que te afetam nesse instante.

(En)Cena – Adquire uma determinada figura.

Paulo – Figura… Esse é o grau de potência. No trabalho de vocês no portal EnCena, eu percebo esse vetor artístico, político… Produzindo um climos também, não só na cidade, mas no mundo. O portal está acessível para o mundo, um cara acessa e te escuta sei lá de onde, o trabalho de vocês tem esse vetor potencializador.

(En)Cena – E o barato é que eu sou o único que estou com retorno (risos), cara e tem um sapo aqui atrás, está sensacional…

Paulo – Eu estou ouvindo aqui.

(En)Cena – Vai dar uma trabalheira na hora de mixar.

Paulo – Não, deixa o sapo! Ele está nessa composição.

(En)Cena – Nós achamos bacana você trazer para a gente, principalmente para nós, que estamos operando, de alguma maneira, dentro da universidade, esse jogo da formação, que é a discursão entre a ciência do caráter moderno e a ciência que se precisa hoje na contemporaneidade. São os instrumentos que precisamos habitar. Você pode trazer, a partir da tua experiência, alguns elementos que poderíamos agregar para que possamos contribuir com uma formação não etnocêntrica, uma formação que respeite o sapo que está lá fora, por exemplo?

Paulo – Nós montamos um curso de extensão semipresencial à distância, em parceria com a secretaria de saúde e a secretaria de educação. Temos pessoas do estado da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e redondeza, enfim… Nós tivemos 240 inscrições com mais ou menos 120, 130 matriculados. Temos pessoas de várias áreas, até mesmo alunos de ensino médio ainda, também graduandos de várias áreas: psicologia, pedagogia, direito, formandos, pessoas com mestrado e com doutorado… Uma grande heterogênese do conhecimento. E esse curso é formado em três blocos de quatros meses, uma vez no mês as pessoas vão à Macaé, onde passamos o dia fazendo heterogênese na praça com as pessoas. Na parte da tarde há um momento mais conceitual. Bem, no primeiro módulo nós trabalhamos o conceito de ética, a gente quer pensar um contraponto entre a ética normativa e moral, e aí tem toda uma crítica reflexiva também, sobre a questão da psicopatologia, da losografia, da educação, do currículum na educação, ou seja, como tudo é tão piramidal. E a pirâmide produz o quê? Sombra vertical, que se coloca ali e é isso. Porque que as pessoas não obedecem às leis? Elas não tomaram parte da construção delas… Como você vai obedecer algo que você não toma parte? Não é isso?  E Spinoza diz que todos nós temos o nosso direito natural, e ninguém quer obedecer a outro. Agora, se você convida as pessoas para tomarem parte de um processo, aquilo que foi decidido coletivamente, possivelmente será seguido, mas também não há garantias. Nada contra a norma, agora, que a norma seja coletiva. Aí é que entra a questão das normatividades. Estamos falando de formação, superando ou fazendo um contraponto dessa ética normativa e que também tem haver com as heteronomias, que são normas vindas de fora e que nos forçam a pensar uma ética das composições. No segundo módulo, pretendemos pensar uma etofenomenologia ou uma fisiologia dos afetos para fazer um contraponto com a lógica da psicopatologia.

(En)Cena – Psicopatologia… Você fala psicopatologia tradicional?

Paulo – É… Se fosse “patologia” phatos – logos a lógica das paixões, você pode entender dessa maneira, como acontecia na Grécia, então a gente tem uma crítica contundente a essa lógica reducionista, simplificadora, segmentadora, racista, onde você bota o esquizofrênico e o neurótico em um CAPS, e você tem um ‘ambulatoriozinho’, e pronto. E você vai separando as experiências da cidade… As instituições despotencializam aquilo que seria do circuito das potências, aquilo que seria da ordem da cidade mesmo. Como a própria natureza, agente queria tirar o sapo que está aqui atrás da gente, mas ele está aqui presente com agente, deixa o sapo entrar… Como abrir a porta para a cidade, como a instituição pode contribuir com a feitura da cidade? Se fazer com a cidade? Esse é o grande desafio, a instituição não é um problema, o problema é quando a gente se trava na instituição que fica dentro da gente também.

(En)Cena – A instituição somos nós…

Paulo – A instituição somos nós. E no último módulo deste curso de extensão nós falamos sobre uma “antro política” do homem, que constrói a cidade e que é tecido pela cidade. E aí há todo um estudo Spinozando mesmo, quando eu falei de amor aqui, não é este amor pelo amor, mas o amor enquanto potencial revolucionário, enquanto uma potência que faz emergir encontros. Pensando outra pauta, que é essa hetofenomenologia, fisiologia dos afetos, o quanto nós permanentemente nos modalizamos na relação com o outro, com a vida, com a cidade. Mas a epistêmica não muda, qual a epistêmica da saúde mental na maior parte dos lugares? A da doença mental! Para nós o Altamiro não é um caso clínico. Ele é uma pauta, “Altamiro foi a pauta de hoje”. Mudamos o modo de ver, e tiramos essa pessoa dessa posição fixa, agora ele vai ser corresponsável de um processo que a instituição sozinha também não daria conta. Essa instituição precisa conhecer outras instituições, ela precisa conhecer os territórios da cidade, mas para isso os profissionais também precisam ter tempo de fazer uma grande cartografia territorial, enxergando as potências da cidade. Tem pessoas maravilhosas querendo participar de um processo como esse, mas elas precisam ser convidadas. Precisamos visitar, conversar, conhecer essas pessoas. Nesse caso a arte também é uma coisa bacana, vamos fazer uma festa, por exemplo. Tem pessoas da saúde mental que também gostam de música? O vínculo não está no profissional, o vínculo está na pessoa desse profissional, na técnica do profissional, ele é quem contribui.

Foto: Mardônio Parente

(En)Cena – Isso é um desafio, romper com as paredes da academia, e ocupar a cidade.

Paulo – Por que não? A cidade atravessa a academia! Precisamos fazer a academia ir pra cidade. Devemos utilizar a ciência sim, mas para poder fazer um contraponto essa ciência estática, porque não pensamos uma ciência não complexa, uma academia não complexa? A palavra “complexo” vem de complexos. Morin nos ensina que os complexos são tudo aquilo que se tece juntos, que se faz juntos. Você é um fio eu sou outro, ela está ali também, escutando a gravação, mas de vez em enquanto ela dá uma risadinha, isso interfere na gente, essa tecedura comum. É o que nós chamamos de uma hexavalência do saber, e o que é uma hexavalência do saber? São os seis saberes: os saberes da ciência, o saber do campo jurídico, o saber das artes, o conhecimento das artes, o conhecimento das religiões, o conhecimento das pessoas e o conhecimento da filosofia. E esses saberes se penetram numa perspectiva trans, um transconhecimento, superando a lógica da transdisciplinaridade. Porque quando você fala de transdisciplinaridade ainda tem as disciplinas constituídas que se interferem, e em uma perspectiva trans entre profissionais, “especialistas”, porque é o sim: a nossa aposta, o nosso desafio, a nossa aventura, é pensar uma perspectiva modal. Olha só o conhecimento onde o Sr. Manuel da rua tem algo a nos dizer, e que produz sentido também para a gente, e que interfere no conhecimento da psicologia, até porque a fala dele está lá dentro da psicologia. Só que ela é instrumentalizada para depois retornar à cidade. Intervenção não é isso? Agora eu quero saber, o quanto, qual é o grau de potência da academia para sofrer a interferência de um saber de uma pessoa comum da cidade? Eu queria saber se ela tem esse grau de potência, tenho minhas dúvidas.

(En)Cena: – É, temos a certeza. O importante é a gente se encontrar nesse movimento Paulo. Queremos te agradecer por esse movimento. Primeiro de aceitação de composição, que eu acho que tem tudo haver com essa proposta do (En)Cena, de deslocar esse espaço físico, da aula, acho que isso mostra muito, isso que tu vem criando dentro da academia. O (En)Cena agradece a sua participação.


Transcrição: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel
Edição: Hudson Eygo

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Uma dose de música, por favor!

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-Por favor, me ajude Doutor! Não me sinto bem.

– O que você sente meu jovem?
– Dores de cabeça, dores no peito. Acho que estou tendo um ataque de estresse. Meu histórico familiar não é nada bom.
– Dores de cabeça, dores no peito?! Bom, vai para casa e escuta esse disco dos Beatles, se não resolver, coloque esse do Queen. Caso ache que não está melhorando, volte ao meu consultório e a gente tenta a década de 1990, ok?

Se você ainda não se consultou com esse médico, perdeu muito tempo indo ao consultório errado.

A relação da música com saúde e bem-estar não é novidade, muito menos algo que não traz resultados. A ciência prova: a música pode ajudar no processo de cura. Seja qual for o problema! A ideia de que a música afeta a saúde e o bem-estar das pessoas já era conhecida por Aristóteles e Platão. Mas, foi na segunda metade do século 20, porém, que os médicos conseguiram estabelecer uma relação entre a música e a recuperação de seus pacientes.

No final da Segunda Guerra Mundial, músicos foram chamados para tocar em hospitais como forma de auxiliar o tratamento dos feridos. A experiência surtiu resultados positivos, as autoridades médicas dos Estados Unidos decidiram habilitar profissionais para utilizar criteriosamente a música como terapia. O primeiro curso de musicoterapia foi criado em 1944, na Universidade Estadual de Michigan.

A música pode, facilmente, ser traduzida como instrumento de saúde atuando na prevenção ou no tratamento de questões como o estresse. Pesquisas revelaram que a música afeta o nível de vários hormônios, inclusive o cortisol (responsável pela excitação e pelo estresse), testosterona (responsável pela agressividade e pela excitação) e a oxitocina (responsável pelo carinho). Assim como as endorfinas, a serotonina (neurotransmissor que faz a comunicação entre os neurônios).

O treinamento musical favorece o desenvolvimento cognitivo, atenção, a memória, a agilidade motora, assim como cria uma experiência única entre linguagem, música e movimento. Pitágoras dava à terapia pela música o nome de purificação. Sua música curativa se propunha a equilibrar as quatro funções básicas do ser humano: “Pensar, sentir, perceber e intuir”.

Um grupo de cientistas finlandeses da área da neurologia descobriu recentemente que a música estimula o sistema nervoso, ativando várias regiões do cérebro em simultâneo, o que nas pessoas em que essas zonas se encontram danificadas por um derrame, acelera o processo de recuperação. Por outro lado, ajuda a prevenir a depressão, tão frequente nestes pacientes.

Mas, o mais curioso da música, é que ela diz muito sobre quem somos. Se você fechar os olhos vai perceber que é possível definir as pessoas mais próximas de você por estilos musicais. E isso não é algo complicado de se fazer.

Mais do que uma roupa, um estilo, um corte de cabelo, a música que você gosta traduz a personalidade em diferentes momentos da vida. Traduz as fases que estamos vivendo. É como se cada pedaço da nossa vida tivesse uma trilha sonora. Assim como nos filmes ou em novelas, a música serve para retratar um momento, definir um estado, estabelecer uma situação. E, é por meio desta mesma música, que conseguimos muitas vezes a força para botar aquele sentimento pra fora. Aquela tristeza que atormenta, aquele choro que não sai.

A música que embala a criança no ventre, a festa de casamento do amigo querido, o jantar no restaurante com os colegas, a corrida na praça, o dia de churrasco em casa. Faz parte da nossa rotina, faz parte de nós. A música é o retrato da nossa saúde, seja qual for a circunstância.

O equilíbrio entre a tranquilidade e a fúria, tudo está baseado em uma melodia, um estilo que você pode criar. O melhor desse tipo de remédio é que ele serve pra quem tem 10,20, 30, 40, 50, 60 anos!

A música pode não resolver os seus problemas, mas pode te fazer encontrar soluções para todos eles.

Por isso, uma dose de música, por favor!

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