Presença da Psicologia na Educação Básica: desafios e possibilidades da atuação

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A Lei 13.935/19 que dispõe sobre a prestação de serviços de Psicologia e Serviço Social nas redes públicas de Educação Básica leva-nos a contextualizar e refletir sobre a presença dos Psicólogos no rol das equipes multiprofissionais nas escolas e nos provoca a questionar: Qual o papel do psicólogo na escola? O que pode realmente resolver? Qual sua especificidade de trabalho? Quais os desafios e possibilidades dessa atuação?

Sabe-se que a atuação do psicólogo na educação ainda é um espaço em construção e essa inserção não aconteceu somente agora com essa previsão legal. Há todo um movimento histórico que vem discutindo esse espaço de atuação e já existem diversos projetos em execução em alguns municípios de diferentes estados brasileiros. A partir da promulgação dessa Lei, busca-se agora articular uma padronização, implementação e efetivação dessa inserção.

O Conselho Federal de Psicologia – CFP, órgão responsável pela regulamentação da atuação dos Psicólogos e a defesa da profissão e compromisso ético com os serviços prestados a população, construiu o Documento de Referências Técnicas para a Atuação de Psicólogas(os) na Educação Básica, a partir de uma pesquisa sobre a atuação de psicólogas(os) em Políticas de Educação Básica, realizada no ano de 2009. (CFP, 2009).

Apesar da importância elencada pelos órgãos regulamentadores da profissão e da reconhecida luta pela defesa de uma Psicologia comprometida com o direito de todos e todas à educação e à permanência com qualidade na escola, essa inserção profissional do psicólogo nas escolas é permeada de disputas.

A título de exemplo, em novembro de 2023, em Nota Pública, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE refere à Lei 13.935 como sendo uma ameaça, porque trata de uma tamanha investida contra a profissão docente, dos/as pedagogos/as e orientadores/as educacionais e dos/as funcionários/as da educação. A CNTE aponta que incluir Assistentes Sociais e Psicólogos no rol de profissionais da educação refere a uma disputa de recursos do FUNDEB que, de acordo com a lei, os pagamentos desses profissionais estariam em desacordo com o Artigo 71 da LDB que considera essa despesa como sendo exclusiva para manutenção e desenvolvimento do ensino.

Em contraponto, a Coordenação Nacional pela Implementação da Lei 13.935/2019 – composta por entidades nacionais da Psicologia e do Serviço Social, e seus Conselhos Profissionais, também lançaram mão de nota pública em defesa de que Assistentes Sociais e Psicólogas(os) que atuam na educação básica são trabalhadoras(es) da Educação e devem estar devidamente incluídas(os) na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Segundo a nota, a CNTE desconsiderou uma luta histórica de mais de 20 anos dessas categorias e da sociedade brasileira que resultou na Lei 13.935/2019 e lamentou esse posicionamento. (CFESS, 2023)

Além dessa disputa, realçada nestas notas públicas, existem outros desafios concretos da inserção do Psicólogo na educação. Martinez (2010) aponta o receio dentro da escola com relação à presença do psicólogo, sendo esse muitas vezes rejeitado devido sua incapacidade para resolver os problemas que afetam o cotidiano dessa instituição. A autora acrescenta que a atuação do psicólogo é sempre associada ao modelo clínico e com práticas tradicionais de elaboração de diagnóstico e ao atendimento de crianças com dificuldades emocionais ou de comportamento, bem como à orientação aos pais e aos professores.

As Referências Técnicas para a Atuação de Psicólogas(os) na Educação Básica construída pelo coletivo dos Conselhos de Psicologia reconhecem a complexidade da atuação do psicólogo dentro do sistema público de ensino, mas defendem que ações devem pautar-se em tornar disponível um saber específico da Psicologia para questões da Educação e no entendimento da dimensão subjetiva do processo ensino-aprendizagem. Fundamentam que a perspectiva deve envolver prioritariamente o fortalecimento de uma gestão educacional democrática e de formas efetivas de acompanhamento do processo de escolarização. Na realidade, o documento faz grandes reflexões nesse cenário de muitas demandas, mas recomenda, principalmente, que o Psicólogo deve compor a equipe escolar e construir seu projeto de atuação como um profissional inserido e implicado no campo educacional.

Dentro dessa mesma perspectiva, há outras inúmeras possibilidades de atuação atualmente, consideradas como “emergentes”, que envolvem o diagnóstico, análise e intervenção, onde o foco passa a ser a instituição; participação no processo de seleção dos membros da equipe pedagógica e contribuição para a coesão da equipe de direção pedagógica e para sua formação técnica; contribuir, também, para a caracterização da população estudantil com o objetivo de subsidiar o ensino personalizado, através da realização de pesquisas diversas e ainda cabe ao psicólogo ter uma participação crítica, reflexiva e criativa na implementação das políticas públicas (Martinez, 2010).

Enfim, historicamente, a Psicologia Escolar dá um salto de qualidade ao abandonar o enfoque clínico e práticas tradicionais e passa a ser um esteio para o desenvolvimento global do estudante, superando as análises individualizantes e medicalizantes. Neste contexto, o psicólogo, juntamente com a equipe de professores e a comunidade escolar, passa a refletir sobre a complexidade das relações sociais que incidem sobre os alunos e suas subjetividades.

Artigo de opinião apresentado como requisito da disciplina Intervenção Psicossocial no curso de Psicologia da Ulbra Palmas em setembro de 2024.

 

Glaucilene Lopes de Santana Santos: Acadêmica de Psicologia na Ulbra Palmas. E-mail: glaucilenesantana@rede.ulbra.br.

Luiz Gustavo Santana: Orientador Prof. Mestre do Curso de Psicologia na Ulbra Palmas. E-mail: luiz.santana@ulbra.br

REFERÊNCIAS

Conselho Federal de Psicologia (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) na educação básica / Conselho Federal de Psicologia. — 2. ed. — Brasília : CFP, 2019.

Conselho Federal de Serviço Social (CFESS).NOTA PÚBLICA: “Assistentes Sociais e Psicólogas(os) são trabalhadoras(es) da Educação e lutam pelo Financiamento que garanta uma Educação Pública de Qualidade!” Disponível em https://www.cfess.org.br/arquivos/Nota-CoordenacaoEntidades-CNTE-Final.pdf. Acessado em 18/08/2024

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE). A inclusão de psicólogos e assistentes sociais na LDB descaracteriza e afronta a profissão dos/as trabalhadores/as em educação. Disponivel em https://cnte.org.br/noticias/a-inclusao-de-psicologos-e-assistentes-sociais-na-ldb-descaracteriza-e-afronta-a-profissao-dosas-trabalhadoresas-em-educacao-bd05.Acessado em 18/08/2024

MARTINEZ, Albertina Mitjáns. O que pode fazer o psicólogo na escola? In Em Aberto, Brasília, v. 23, n. 83, p. 39-56, março. 2010.

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Piaget e as contribuições para a Psicologia Escolar

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As teorias de Piaget influenciaram e ainda influenciam na educação infantil, assim como a psicologia escolar.

Jean Piaget, um dos mais influentes psicólogos do século XX, desenvolveu uma teoria do desenvolvimento cognitivo que teve um impacto profundo nas áreas de psicologia, educação e pedagogia. Sua abordagem construtivista enfatiza a importância da interação entre o indivíduo e o ambiente no processo de desenvolvimento cognitivo. Conforme afirmado por Piaget (1970), “a inteligência não é o que o homem sabe, mas o que ele faz quando não sabe.”

Jean Piaget, um pioneiro na psicologia do desenvolvimento, iniciou sua carreira como biólogo, e essa formação influenciou profundamente sua abordagem à compreensão do desenvolvimento cognitivo. Sua teoria, que se concentra nas mudanças qualitativas e quantitativas nas estruturas mentais das crianças, teve implicações duradouras para a psicologia escolar e a pedagogia.

A abordagem de Piaget baseia-se na premissa de que o conhecimento é construído ativamente pelos indivíduos em vez de ser transmitido passivamente. Ele identificou quatro estágios de desenvolvimento cognitivo – sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal – cada um caracterizado por formas específicas de pensamento e raciocínio. Esses estágios têm implicações profundas para a educação, uma vez que os educadores precisam adaptar suas práticas ao estágio de desenvolvimento cognitivo dos alunos.

                                                                                  Fonte: https://blog.portaleducacao.com.br

Uma das contribuições mais importantes de Piaget para a psicologia escolar e a educação é a mudança no papel do educador. A teoria piagetiana desafiou a visão tradicional do professor como mero transmissor de informações. Em vez disso, o educador se torna um facilitador do processo de construção do conhecimento pelo aluno.

Essa mudança de paradigma encoraja os educadores a criar ambientes de aprendizagem desafiadores que incentivem os alunos a explorar, questionar e construir seu próprio conhecimento. Isso significa que o ensino deve ser adaptado ao nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, garantindo que as atividades sejam apropriadas para o estágio em que se encontram.

Piaget (1970) também destacou a interconexão entre desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Sua teoria enfatiza que o processo de aprendizagem ocorre à medida que os indivíduos se desenvolvem. Isso implica que os educadores devem respeitar o momento em que os alunos estão preparados para absorver um determinado conteúdo.

A equilibração, um conceito central na teoria de Piaget, envolve a busca de equilíbrio entre o conhecimento prévio e a nova informação. Isso ressalta a importância de permitir que os alunos se engajem ativamente no processo de aprendizado, experimentando desequilíbrios e, em seguida, trabalhando para restaurar o equilíbrio por meio da assimilação e acomodação. Os educadores desempenham um papel fundamental nesse processo, fornecendo experiências desafiadoras e apoiando os alunos na resolução de conflitos cognitivos.

Ele revolucionou a maneira de pensar com relação às crianças. Até então, a teoria pedagógica tradicional afirmava que as crianças eram “caixas vazias” esperando que os adultos depositassem conhecimento. Na Teoria de Jean Piaget acredita-se que as crianças passam a construir seu mundo de acordo com o que lhes é oferecido, criando e testando suas teorias. Nesse percurso é possível, então, afirmar que Jean Piaget ofereceu uma teoria interacionista em contraposição à teoria comportamentalista que existia na época (Gomes; Ghedin, 2012).

Piaget (1970) propôs que as crianças são ativas construtoras de conhecimento, e essa noção alterou fundamentalmente a maneira como os educadores abordam o ensino. Conforme observado por Piaget (1970), a aprendizagem constitui um processo dinâmico e participativo, no qual se desenvolvem novos conhecimentos a partir das experiências anteriores. Essa perspectiva desafiou o tradicional modelo de educação centrado no professor, favorecendo uma abordagem centrada no aluno, na qual o educador atua como facilitador do processo de construção do conhecimento pelo aluno.

Além disso, Piaget (2013) ressalta a importância do interesse do aprendiz, que está diretamente ligado ao seu esforço, então facilitando o processo de acomodação e assimilação. Dessa forma, um ponto importante a ser discutido é a didática utilizada em sala de aula, bem como o relacionamento de alunos e professores. Não existem métodos de ensino gerais corretos, como uma receita a ser seguida, mas sim técnicas que se adequam melhor à situação de aprendizagem proposta. Dado que a aprendizagem é um processo individual, o professor deve levar em consideração a formação de cada turma ao escolher os procedimentos metodológicos mais apropriados para os alunos em questão.

De acordo com Lefrançois (2008), a teoria de Piaget teve um impacto significativo no currículo escolar, uma vez que destacou que a aprendizagem vai além da simples transferência de informações de fora para dentro da criança. No entanto, é importante ressaltar que essa também é uma teoria da aprendizagem, uma vez que o processo de aprendizagem só ocorre quando há desenvolvimento.

                                                                                                        Fonte: https://www.todamateria.com.br

No contexto da psicologia escolar, o psicólogo desempenha um papel essencial na promoção das ideias de Piaget. Ele aplica conhecimentos psicológicos na escola, diagnosticando e orientando psicologicamente os alunos. Além disso, promove a integração entre família, comunidade e escola, contribuindo para o desenvolvimento integral dos estudantes.

Os psicólogos escolares desempenham um papel crucial na implementação desses princípios na prática. Conforme a Resolução nº 013/2007, eles aplicam conhecimentos psicológicos na escola, diagnosticam e orientam psicologicamente, promovem a integração entre família, comunidade e escola, e desenvolvem programas visando o desenvolvimento humano e a qualidade de vida. Eles também são responsáveis por validar instrumentos psicológicos e pesquisar a realidade escolar.

No entanto, é fundamental que os psicólogos escolares atuem considerando a dimensão institucional, ultrapassando a queixa individual para compreender o contexto educacional como um todo. O trabalho em parceria com agentes educacionais e a comunidade escolar é essencial para qualificar o processo educacional.

Os psicólogos escolares devem respeitar o sigilo profissional e agir de acordo com o Código de Ética Profissional da Psicologia, garantindo a confidencialidade e a proteção da intimidade dos indivíduos. Além disso, devem evitar a negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, colaborando com outros profissionais quando necessário.

Portanto, as contribuições de Jean Piaget para a psicologia escolar atual e a educação são profundas e duradouras. Sua teoria do desenvolvimento cognitivo redefiniu a relação entre educadores e alunos, promovendo uma abordagem centrada no aluno e encorajando a construção ativa do conhecimento. Os psicólogos escolares desempenham um papel fundamental na aplicação desses princípios na prática, contribuindo para a criação de ambientes de aprendizagem mais eficazes e respeitando o desenvolvimento cognitivo individual de cada aluno.

Essa abordagem não apenas transformou a educação, mas também empoderou os alunos a se tornarem agentes ativos na busca pelo conhecimento. Em vez de serem receptores passivos, as crianças e jovens se tornam construtores ativos de seu próprio entendimento, capacitando-os a enfrentar desafios complexos e a se tornarem cidadãos críticos e engajados na sociedade. Jean Piaget, com sua abordagem revolucionária, deixou um legado duradouro na educação e na psicologia escolar, influenciando positivamente a maneira como ensinamos e aprendemos.

Referências

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP N.º 013. 2007

GOMES, Ruth Cristina Soares GHEDIN, Evandro. Teorias Psicopedagógicos do Ensino Aprendizagem. O desenvolvimento cognitivo na visão de Jean Piaget. Boa Vista: UERR Editora, 2012, p. 215- 232. Disponível em: <http://evandroghedin.com.br/files/Texto_Teorias_Psicopedagogicas_Evandro_Ghedin.pdf> Acessado em 20 de set. de 2023.

LEFRANÇOIS, G. R. Teorias da Aprendizagem. São Paulo: Cengage, 2008.

PIAGET, J. Epistemologia Genética. Tradução de Os Pensadores. Abril Cultural, 1970.

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(En)Cena entrevista Nayjla Lane R Gonçalves: o fazer psicopedagógico

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Ana Carla Olímpio Soares  (Acadêmica de Psicologia)  – anacarlaolimpio@rede.ulbra.br

 

(En)Cena entrevista Nayjla Lane Ramos Gonçalves, psicóloga pela Ulbra Palmas, atuando com foco na Terapia Comportamental, psicopedagoga pela Universidade do Estado do Para – UEPA, mestre em educação pela Universidade Federal do Tocantins – UFT, pós-graduanda em Neuropsicologia e Psicologia e Desenvolvimento da Aprendizagem.

(En)Cena: Nayjla, é um prazer entrevistá-la, neste primeiro momento gostaria de compreender como surgiu o interesse na psicologia após a graduação em psicopedagogia. Apesar de não atuar diretamente na psicologia escolar, como você vê essa subárea da psicologia?

Nayjla: Sempre foi um desejo cursar Psicologia por suas implicações no desenvolvimento humano, e como Pedagoga ter um olhar ampliado para este desenvolvimento era imprescindível, o que se concretizou na graduação em Psicologia. Apesar de não atuar diretamente na Psicologia Escolar como Função, percebo como a Psicologia Escolar é importante para compreensão no desenvolvimento da aprendizagem, das habilidades sociais, relacionamentos dentro da escola, que para muitos alunos se tornam em um grande desafio e por vezes incide até em sofrimento. O universo escolar é eivado de muitos desafios.

(En)Cena: Diante da sua experiência na área educacional através da psicopedagogia, qual a principal lacuna na educação? Que estratégias é possível adotar para amenizar tais circunstâncias?

Nayjla: A história da Educação é extensa e como disse anteriormente, é acometida por muitos desafios, sejam pessoais, corporativos, estruturais, organizacionais, a política pública quando se trata de educação é complexa. No entanto para não aprofundar na história da Educação, quem sabe em outro momento, percebo que muitas lacunas ainda existem na educação, espaços de atenção que precisam ser preenchidos, compreendidos, um deles é a urgência em compreender que além do ensino e aprendizagem teóricos, catedráticos, faz-se imprescindível um olhar real, sério para as demandas emocionais de todos que compõe o universo escolar, não banalizar essa urgência de atenção Psicológica. Importante  entender por que o aluno não se desenvolve, valorizar suas potencialidades, um olhar para a pessoa como um todo, e não só em aprendizagens específicas do currículo.

(En)Cena: Além das problemáticas no campo educacional, qual a maior dificuldade que permeia as salas de aula (professores e alunos) no processo de aprendizagem?

Nayjla: Dentre muitas, posso citar com veemência, a participação da família na vida escolar dos filhos, a compreensão clara de que a escola tem um papel preponderante no desenvolvimento, mas que não substitui o ambiente, a responsabilidade, o papel que cabe a família, não é um lugar para deixar os filhos, mas um lugar para aprimorar, aperfeiçoar o ensino e aprendizagem e que precisa contar com uma base que vem de casa, embora, sabe-se que a escola também precisa estar preparada para intervir, em situações que faltem este alicerce, e aqui seria fundamental a intervenção do Psicólogo Escolar, no sentido de ajudar no desenvolvimento das potencialidades deste alunos, através de um trabalho de alcance  e descoberta da capacidade de aprender.

(En)Cena: Levando em conta as suas graduações e especializações, há importância do papel do psicólogo escolar? Qual seria?

Nayjla: Fundamental para dar direção coerente ao processo de aprender, de orientação aos alunos quanto a importância das habilidades sociais nos relacionamentos, que dentro de uma escola, para alguns, além de ser desafiador, causa muitos sofrimentos, desenvolver debates, palestras que mostrem a capacidade que cada um tem de se desenvolver no processo, no caminho que envolve o ensino e a aprendizagem, dar significado a vivência escolar, através de estratégias, como projetos, rodas de conversa e etc.

(En)Cena: Em algumas escolas, por muitas vezes esperam que o psicopedagogo realize o trabalho do psicólogo e vice-versa. Perante o seu conhecimento enquanto psicopedagoga, qual/quais a/as diferenças nessas atuações?

Nayjla: A diferença principal está na especificidade da função do Psicopedagogo, que é um profissional que conhece o processo de ensinar e aprender, que aliado a isso, tem uma noção das funções psicológicas que potencializam ou dificultam este processo, a escola não é um consultório, e nem este profissional é o terapeuta dos alunos, mas é através de seus conhecimentos e estratégias próprias de sua formação que promove meios adequados de dar significado às vivências no ambiente escolar, bem como viabilizar os meios para que os alunos consigam compreender como funcionam no que diz respeito ao seus processos de aprendizagem especificamente. Já o Psicólogo tem o domínio, ou espera-se que tenha, de conhecimento das funções psicológicas, dos processos mentais e comportamentais, e pode identificar situações e /ou mesmo transtornos que possam estar dificultando a aprendizagem.

(En)Cena: Como é possível a psicopedagogia e psicologia caminharem juntas na atuação do campo da aprendizagem/educação?

Nayjla: Na verdade não só é possível, como fundamental, pois são profissionais que atuam em situações e campos específicos no processo de aprendizagem dos alunos, o Psicopedagogo trabalha os métodos, estratégias no processo de aprender dos alunos, bem como tem um olhar mais amplo sobre as dificuldades quanto a aprendizagem, o Psicólogo dentro de suas especificidades tem a capacidade de diagnóstico melhor no que diz respeito ao  comportamento, emoções e processos mentais que podem estar inviabilizando a aprendizagem e a compreensão das estratégias propostas pelo Psicopedagogo. Assim, o privilégio de ter ambos os profissionais e em sintonia, contribuirá de forma efetiva e significativa no processo de desenvolvimento de cada aluno.

(En)Cena: Agradecemos a sua disponibilidade e para finalizarmos este momento, deixo livre para que você deixe uma mensagem ao nosso público do portal.

Nayjla: Prazer foi todo meu em participar, sou educadora e a mensagem que deixo para os leitores, público deste portal, é que se importem com a educação e que jamais esqueçam que o processo de ensinar e aprender, não é só eivado de primazia, mas tem em si uma mágica natural, afinal não tem quem não possa aprender e quem não possa ensinar. A vida em si é uma grande escola, e se no decorrer dela pudermos contar com os que facilitem e deem maior significado às nossas vivências dentro dela, será mais leve a caminhada.

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Psicologia escolar e o fazer psicológico no campo de atuação

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A psicologia se caracteriza como uma profissão de amplas oportunidades de atuação, permitindo assim, aos profissionais atuarem desde a clínica, unidades básicas de saúde – UBS, centro de referência especializado de assistência social – CREAS, centro de referência de assistência social – CRAS, hospitais e diversos outros ambientes. Outro exemplo, é a atuação do psicólogo na rede de ensino, na área da psicologia escolar.

Segundo Oliveira e Araújo (2009) o surgimento da prática do psicólogo escolar se deu como mecanismo de correção e adaptação à escola e do estudante que possuía problemas no processo de aprendizagem. As autoras complementam que apesar da atuação do profissional ser no ambiente escolar, ainda persistia ações que eram de caráter dos atendimentos clínicos, como por exemplo, uso de testes por meio das avaliações psicológicas, visando chegar a um possível diagnóstico.

Com esse intuito de que o psicólogo escolar resolvesse todas as problemáticas nas instituições, seguindo à risca o modelo médico, Oliveira e Araújo (2009, p. 649) evidenciam que como consequência desse modelo seguido, trouxe a “patologização e psicologização do espaço escolar”, colocando os alunos como sujeitos culpados pelas dificuldades que apresentavam e retirando a escola de suas responsabilidades enquanto instituição que possuía seus deveres no processo de ensino-aprendizagem.

Apesar desse início, Oliveira e Araújo (2009) colocam que com o passar do tempo, o papel do psicólogo na escola foi sendo revisto para então chegar a uma ação que fosse de fato benéfica para o ambiente e os sujeitos inseridos nele. Ao passo de novas maneiras de se fazer a psicologia escolar, Oliveira e Araújo (2009, p. 650) colocam que,

As mudanças vêm ocorrendo de forma que se encontram, cada vez mais, relatos de experiências de psicólogos que se preocupam em não culpabilizar o aluno pelas dificuldades que enfrenta e tentam conscientizar os demais profissionais de que a problemática do aluno está inserida em uma gama maior de determinantes que não apenas os individuais, os familiares ou os psico-afetivos (Cruces, 2003; Neves; Almeida, 2003; NEves; Machado, 2005).

Para Oliveira e Araújo (2009), este processo de repensar o fazer psicológico na escola, se fez fundamental para evitar de perpetuar cenários de exclusão com aqueles alunos que apresentavam dificuldades no processo de aprendizagem, pois não havia ampliação do olhar para as variáveis que interferiam neste processo.

Referente a psicologia escolar, Oliveira e Araújo (2009, p. 651) embasam-se nos estudos de Marinho-Araújo e Almeida (2005) para dar significado a ela, sendo que é “um campo de produção de conhecimentos, de pesquisa e de intervenção e que, entre outras atribuições, assume um compromisso teórico e prático com as questões relativas à escola e a seus processos, sua dinâmica, resultados e atores”. Podendo dizer assim que, o fazer da psicologia escolar além de ser um âmbito do psicólogo atuar, é um meio onde permite produzir estudos científicos, “caracterizado pela inserção da Psicologia no contexto escolar, sendo que o objetivo principal deste campo é mediar os processos de desenvolvimento humano e de aprendizagem, contribuindo para sua promoção” (Oliveira; Araújo, 2009, p. 652).

Com relação ao profissional, as autoras Oliveira e Araújo (2009) esclarecem que, diferente da atuação clínica, o psicólogo escolar não se utiliza apenas de uma teoria ou metodologia para produzir as intervenções/ações, ele se utiliza dos mais diversos saberes que possam auxiliá-lo na melhor maneira de atuar no espaço, dando assim, um amplo embasamento para lidar com as necessidades que surgem. Complementam que apesar da escola ser o lugar principal de atuação desse profissional, não se limita apenas a ele.

(…) evidencia-se que a atuação da Psicologia Escolar relaciona-se com contextos de natureza educativa nos quais os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano, e a relação que se estabelece entre eles, são tidos como foco do trabalho. A intervenção desencadeada pelo profissional da área volta-se, essencialmente, para a mediação desses processos com o objetivo precípuo de promovê-los (Oliveira; Araújo, 2009, p. 653).

Apesar das evoluções no fazer da psicologia escolar e na atuação do psicólogo, ainda é possível encontrar em algumas instituições a ideia de que o profissional pode resolver todos os conflitos/necessidades/dificuldades que envolvam o aluno e o processo de aprendizagem, onde de acordo com Andaló (1984, p. 43), “que lhe é atribuída a decisão e o julgamento a respeito da adequação ou inadequação das pessoas em geral. São as duas faces de uma mesma moeda de um lado o mágico, o salvador, e do outro, um elemento altamente persecutório e ameaçador.”. De acordo com a autora, esses papéis podem gerar resistências e dificultará ou impedirá do psicólogo escolar desempenhar sua função.

Para além disso, Andaló (1984) expõe que por vezes ao ser repassado a ele o discente que possui as dificuldades no ambiente escolar, pode gerar no professor, a ideia de que ele não é responsável por aquele sujeito, colocando de responsabilidade apenas do psicólogo, enquanto na verdade, o que deveria ser realizado era o trabalho multidisciplinar com esse aluno. Porém, como Oliveira e Araújo (2009) trazem em seu estudo, a inserção do professor neste processo é fundamental para que este se perceba como sujeito integrador das questões relacionadas ao ensino-aprendizagem, gerando assim, uma cooperação entre profissionais.

Mas para Oliveira e Araújo (2009), a inserção do professor no processo não se deve passar apenas para que ele se veja parte do processo, mas para que também apresente uma atenção voltada a saúde mental, pois

Em virtude do forte vínculo afetivo, do intenso investimento no outro (o aluno) e da expectativa em relação aos resultados de seu trabalho, é comum identificar professores cansados, abatidos e desmotivados diante da tarefa de ensinar. Tais situações caracterizam professores que sofrem da síndrome de burnout e que precisam da intervenção do psicólogo escolar (e de outros profissionais de saúde) para modificar este quadro de sofrimento e reencontrar o prazer e alegria de ensinar (Oliveira; Araújo, 2009, p. 659).

Cabral e Sawaya (2001) trazem resultados de pesquisa que indicam que cerca de 50% a 70% de crianças são encaminhadas aos serviços públicos de saúde com queixas de dificuldade de aprendizagem ou relacionados a problemas de comportamento no ambiente escolar, diante disso, traz uma crítica acerca do mesmo ponto levantado pelos outros autores utilizados no decorrer do texto sobre o olhar voltado apenas para os alunos como sujeitos responsáveis para esses problemas, excluindo os profissionais vinculados ao espaço que eles estão presentes.

Como uma alternativa de mudanças para essas situações, Andaló (1984) dá destaque em seu trabalho para um psicólogo escolar “agente de mudanças”. A autora acredita que ao exercer um papel ativo, o psicólogo é capaz de promover no espaço inserido, reflexões diante de todo o cenário em que a instituição atua. Mas para que esse trabalho seja bem desenvolvido, a autora evidencia a necessidade de abranger a visão sobre o discente desde a suas relações dentro quanto fora do ambiente escolar, buscando compreender os sistemas em que ele é inserido e como esses afeta-o, assim como além da compreensão acerca dos estudantes, é necessário compreender a instituição, como ela funciona e como é sua realidade, buscar aproximar toda a equipe (professores, diretores e coordenadores) para que também possam compreender o que ocorre no meio escolar.

Andaló (1984, p. 46) complementa que é imprescindível

conscientizá-los da realidade da sua escola, refletindo com eles sobre os seus objetivos, sobre a concepção que subjaz ao processo educacional empregado, sobre as expectativas que têm de seus alunos, sobre o tipo de relação professor-aluno existente, enfim sobre a organização como um todo.

A autora ainda acrescenta que é necessário retirar o foco apenas do aluno como “culpado” dos problemas de aprendizagem, evidenciando um olhar amplo da situação, mas que não menos importante, é necessário também saber identificar quando de fato a problemática está vinculada apenas ao aluno, para que assim, possa ser realizado as intervenções necessárias para que não prolongue esse déficit.

A presença do psicólogo escolar nas instituições ainda não é possível encontrá-lo 100% nelas, mas é de fundamental importância a presença desse profissional, pois pode gerar ao local melhorias nas relações que acontecem na escola, uma ampliação de olhar nos processos de ensino-aprendizagem, possibilidade de uma reorganização nas demandas, abrir portas para o trabalho multidisciplinar e também conseguir aproximar as famílias/responsáveis da responsabilidade pelo processo de aprendizado dos alunos. Levando em consideração a singularidade de cada sujeito inserido nesse contexto.

REFERÊNCIAS

ANDALÓ, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicologia: ciência e profissão, v. 4, p. 43-46, 1984.

CABRAL, Estela; SAWAYA, Sandra Maria. Concepções e atuação profissional diante das queixas escolares: os psicólogos nos serviços públicos de saúde. Estudos de Psicologia (Natal), v. 6, p. 143-155, 2001.

DE OLIVEIRA, Cynthia Bisinoto Evangelista; MARINHO-ARAÚJO, Claisy Maria. Psicologia escolar: cenários atuais. Estudos e pesquisas em psicologia, v. 9, n. 3, p. 648-663, 2009.

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A relação entre afeto e aprendizagem escolar: estímulos e relações

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“A aprendizagem não é apenas um processo cognitivo, é também afetivo”

 Vygotsky

Na área educacional a atenção que outrora era voltada para o que ensinar (disciplinas e conteúdos) hoje é direcionada para como ensinar (modus operandi). Muito importante quanto às metodologias ativas de ensino que hoje são muito incentivadas, é a forma de ensinar que deve contemplar um arcabouço de novas atividades. Essa didática inclui atenção na práxis pedagógica observando o lugar do afeto na construção do conhecimento.

Para iniciarmos esta discursão é interessante resgatar alguns princípios básicos de características do ser. Para Wallon (1979), a personalidade é constituída por duas funções básicas: Afetividade e inteligência. A afetividade está relacionada às aos processos sensíveis internos e é percebido de acordo com a interação social do sujeito, tendo seu reflexo direto na construção da pessoa; A inteligência por sua vez vincula-se às sensibilidades externas e está voltada para o mundo físico, para a construção do objeto. Nessa perspectiva adentramos em nosso estudo sobre as relações existentes na construção do ensino-aprendizagem escolar.

Este estudo direciona-se aos processos ligados aos resultados de aprendizagem em estudantes crianças e adolescentes. Sabe-se que nesta última faixa etária é percebida um número alto de reprovações ou déficits na aprendizagem acrescidos de relatos de estudantes sobre relacionamentos sem afetividade entre docente e discentes.

Nesta perspectiva observa-se que nas relações entre sujeito e objeto do conhecimento, quando há afeto, tem como produto o incentivo à empatia, a motivação no estudante, aguçando a curiosidade, alterando assim a sua capacidade de interação no processo de construção do conhecimento. Há aqui uma relação intensa entre emoção e razão, uma vez que enquanto professores, somos desafiados a lidar com o sucesso ou o insucesso da não aprendizagem. Ou seja, dependendo da quantidade de afeto dispensada na construção deste conhecimento os resultados de sucesso aparecerão.

Fonte: encurtador.com.br/amL03

É compreensível refletir sobre a complexidade que envolve a discursão sobre afeto e aprendizagem escolar, dada a riqueza do ser humano, que é um ser multidimensional e que tem seu desenvolvimento mediado por estas dimensões. Segundo a Resolução publicada na Emenda da Constituição de 7 de abril de 1999 da Organização Mundial da Saúde, incluiu o âmbito espiritual no conceito multidisciplinar de saúde, que agrega, ainda, aspectos físicos, psíquicos e social. A resolução vai de encontro com a complexa e intensa conexão entre mente com o corpo, cujo resultado é a integração do ser humano biopsicosocioespiritual. Nesta dimensão integrativa que iremos discorrer.

Grandes foram as contribuições nos estudos relacionados a psicogênese do desenvolvimento infantil com os autores Piaget, Vygotsky e Wallon, que trouxeram grandes significados neste enfoque da aprendizagem. Piaget discorreu sobre a consciência que o sujeito aprende interagindo com o objeto do conhecimento, na medida em que questiona sobre este. Vygotsky ampliou este conceito quando afirmou que os sujeitos interagem com os objetos do conhecimento mediados pelo outro, o sujeito também é o que o outro diz sobre ele, ao internalizar a imagem criada pelo outro. Já Wallon, se destacou quando relacionou o desenvolvimento afetivo do ser com o meio, a inteligência, a emoção e o movimento.

Segundo Mahoney e Almeida (2000, p. 17), a teoria Walloniana apresenta “conjuntos funcionais que atuam como uma unidade organizadora do processo de desenvolvimento.” Tais aspectos se relacionam entre si desencadeando a formação da pessoa única, singular.

Não é de hoje que a reflexão sobre o desenvolvimento da afetividade na sala de aula vem permeando os meios acadêmicos, pois relatos de fracassos escolares geralmente são ligados à falta de afeto, acolhimento ou de empatia no relacionamento professor x aluno. Situação que desencadeia um olhar de pesquisa mais apurada no sentido de estabelecer relações diretas:

[…] as relações de mediação feitas pelo professor, durante as atividades pedagógicas, devem ser sempre permeadas por sentimentos de acolhida, simpatia, respeito e apreciação, além de compreensão, aceitação e valorização do outro; tais sentimentos não só marcam a relação do aluno com o objeto de conhecimento, como também afetam a sua autoimagem, favorecendo a autonomia e fortalecendo a confiança em suas capacidades e decisões. (LEITE E TASSONI, P.20)

Fonte: encurtador.com.br/ezAGU

Para o autor, a relação ente afeto e aprendizagem marca o sucesso do ensino onde por um lado teremos um professor desenvolvendo sua didática com mais leveza e tranquilidade e por outro verificamos um estudante motivado e engrenado no foco da aprendizagem.

Para Wallon, a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. Suas expressões marcam sentimentos, estados ou ações presentes nas crianças.  É fundamental observar o gesto, a mímica, o olhar, a expressão facial, pois são constitutivos da atividade emocional.

Nesta linha de pensamento o autor dedicou grandemente ao estudo da afetividade, adotando, além disso, uma abordagem fundamentalmente social do desenvolvimento humano. Buscou, em sua psicogênese, aproximar o biológico e o social. Atribui às emoções um papel de primeira grandeza na formação da vida psíquica, funcionando como uma amálgama entre o social e o orgânico. As relações da criança com o mundo exterior são, desde o início, relações de sociabilidade, visto que, ao nascer, não tem

“meios de ação sobre as coisas circundantes, razão porque a satisfação das suas necessidades e desejos tem de ser realizada por intermédio das pessoas adultas que a rodeiam. Por isso, os primeiros sistemas de reação que se organizam sob a influência do ambiente, as emoções, tendem a realizar, por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão de sensibilidade entre o indivíduo e o seu entourage” (Wallon, 1971, p. 262).

Fonte: encurtador.com.br/vDM78

Nesta linha de pensamento estão De La Traille, Oliveira, Dantas (2019) discorreram sobre as teorias psicogenéticas, suas relações com estímulos, afeto e aprendizagem, ressaltando a importância da afetividade na educação. O resultado desse estudo foi publicado em 2019 no livro chamado Teorias psicogenéticas em discursão, base teórica inicial para esse estudo. As análises dos três autores apontam para a relação saudável e verídica entre professor e aluno quando envolve a afetividade no ensino. Pode-se afirmar então que a comunicação afetiva é fundamental para uma educação efetiva.

Wallon estabelece uma distinção entre emoção e afetividade. Segundo o autor (1968), as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com componentes orgânicos. Dantas (2019) Traz este aspecto quando relata sobre a coordenação sensório-motor que começa pela atuação sobre o meio social antes de poder modificar o físico. O contato com este na espécie humana nunca é direto, é sempre intermediado pelo meio social, nas dimensões interpessoal e cultural. Ainda de acordo com a autora, a palavra carrega a ideia assim com o gesto carrega a intenção.

Como se pode verificar, Wallon (1968) defende que durante o processo de desenvolvimento do indivíduo, a afetividade tem um papel fundamental e decisivo na vida da criança. Na primeira infância tem a função de comunicação e interação com o mundo e à medida que esta criança cresce e entra na fase escolar, tal afetividade pode ser evidenciada pela sua aprendizagem positiva ou negativa. Concordo com o autor, uma vez que durante o processo pedagógico observa-se vários valores que devem serem respeitados para que haja sucesso no ensino-aprendizagem, um deles é a pedagogia assertiva e com afeto.

Não é difícil de lembrarmos das histórias contadas dos períodos anteriores onde a educação era pensada e elaborada de forma rígida, onde os padrões não eram nem de longe um ensino moldado de acordo com a subjetividade humana, mas de acordo com a dispensação do saber apenas. Ou seja, a ideia era “passar” o conhecimento e não construir este conhecimento. É nesta visão de construção do conhecimento que se destaca o ensino com afeto, onde o estudante é visto num aspecto de sua integralidade. Dessa relação sadia, a criança passa de um estado de total sincretismo para um progressivo processo de diferenciação, onde a afetividade está presente, permeando a relação entre a criança e o outro, constituindo elemento essencial na construção da identidade.

Fonte: encurtador.com.br/wyzVX

Da mesma forma, é ainda através da afetividade que o indivíduo acessa o mundo simbólico, originando a atividade cognitiva e possibilitando o seu avanço. São os desejos, as intenções e os motivos que vão mobilizar a criança na seleção de atividades e objetos. Para Wallon (1978), o conhecimento do mundo objetivo é feito de modo sensível e reflexivo, envolvendo o sentir, o pensar, o sonhar e o imaginar.

A afetividade no desenvolvimento humano, especialmente na Educação, envolve o olhar a criança estudante como m ser capaz de ter autonomia na construção do conhecimento e nas resoluções de conflitos em suas interações com o meio social. Nessa perspectiva o afeto entre professor e aluno colabora no desenvolvimento do estudante a amplia as possibilidades de aprendizagem significativa deste aluno. Nesta relação o professor é entendido como um agente necessário que age como um mediador facilitando o processo de convivência e aprendizagem entre o sujeito estudante e a escola.

Vygotsky (apud Oliveira, 1992) defende que o pensamento “tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta dimensão estaria a razão, sendo assim uma compreensão do pensamento em sua totalidade só seria possível quando se entende a sua base afetivo volitiva do ser humano. Para o autor o conhecimento do mundo objetivo só acontece quando desejos, interesses, e motivações estão alinhados com a percepção, memória, pensamento, imaginação e vontade, em um encontro dinâmico entre parceiros (Machado, 1996).

A percepção de Vygotsky sobre os estímulos da aprendizagem está alicerçados nos parâmetros de atividades afetivas que observam o homem em sua totalidade social, psicológica e antropológica. Sua compreensão da Psicologia sócio-histórica nos permite enxergar com total clareza os estímulos gerados na educação afetiva. Tal fato se deve a sucessos de aprendizagens significativas onde os aprendentes relatam seus casos de amores com a escola, com os docentes que se colocavam como verdadeiros facilitadores de conhecimentos, conseguindo a proeza de empurrar alunos pra voos altos e cada vez mais altos, alunos esses que se tornaram amantes do conhecimento.

Goleman (1997), ao desenvolver o conceito de inteligência emocional salienta que aprendemos sempre melhor quando se trata de assuntos que nos interessam e nos quais temos prazer.

Concordo com o autor citado quando traz o estímulo à aprendizagem a motivação gerada pelo afeto. É inegável a bela relação da aprendizagem e afeto, quando se observa o prazer explícito para aceitar o conhecimento, a instrução e a construção deste em sala de aula. Deduz-se que o contrário possa ser verdadeiro quando aplicado à situação semelhante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se então que na relação de ensino aprendizagem há fatores que influenciam diretamente positivamente os resultados.

É evidente que os apontamentos científicos colaboram para um ensino literalmente mais humanizado. Tal fato acontecerá quando a formação de professores contemplar saberes voltados aos temas da inclusão, da complexidade e da transdisciplinaridade. Sabe-se que a interação afetiva auxilia mais na compreensão e na modificação das pessoas do que um raciocínio brilhante, repassado mecanicamente. A afetividade, no processo educacional, ganha aplausos na sociedade onde busca-se ter resultados significativos a produções repetitivas e mecanizadas. Assim como o aluno precisa aprender sendo feliz, descobrir o prazer de aprender, os educadores têm o dever de ser feliz em sua práxis e contagiar os educandos com a maneira ímpar de facilitar e construir o conhecimento.

Vygotsky e Wallon descrevem o caráter social da afetividade, sendo a relação afetividade-inteligência fundamental para todo o processo de desenvolvimento do ser humano. É fato que cabe ao professor em sua arte de ensinar fazer a integração entre a razão e a emoção, transmitindo com exemplo a sua didática com afeto. Ao estudante por sua vez cabe receber a atitude e responder em sua devida proporção com uma aprendizagem assertiva. Nesta “dança educacional” o estudante se espelha no trabalho impecável do docente e o docente contempla com felicidade o resultado do seu trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, A. R. S. (1997) A emoção e o professor: um estudo à luz da teoria de Henri Wallon. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 13, n º 2, p. 239-249, mai/ago.

DANTAS, H. (1992) Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon, em La Taille, Y., Dantas, H., Oliveira, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial Ltda.

GOLEMAN, D. Inteligência Emocional. Lisboa: Temas e Debates, 1999

LEITE, Sérgio Antônio da Silva; TASSONI, Elvira Cristina Martins. A afetividade em sala de aula: as condições de ensino e a mediação do professor. Disponível  em A afetividade em sala de aula: (unicamp.br) Acesso em 25 de setembro de 2021.

LE TRAILLE, OLIVEIRA, DANTAS, (2019) Piaget, Vigotski, Wallon: Teoria Psicogenéticas em discursão. São Paulo: Ed. Summus.

MACHADO, M. L. A. (1996) Educação infantil e sócio interacionismo, em Oliveira, Z. M. R. (org.). Educação Infantil, muitos olhares. São Paulo: Cortez.

MAHONEY, Abigail A.; ALMEIDA, Laurinda R. de, Henri Wallon – Psicologia e Educação. Edições Loyola, são Paulo, Brasil, 2000.

MAHONEY, A. A. (1993) Emoção e ação pedagógica na infância: contribuições da psicologia humanista. Temas em Psicologia. Sociedade Brasileira de Psicologia, São Paulo, n º 3, p. 67-72.

OLIVEIRA, M. K. (1992) O problema da afetividade em Vygotsky, em La Taille, Y., Dantas, H., Oliveira, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial Ltda

WALLON, Henry (1973/1975). A psicologia genética. Trad. Ana Ra. In. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa (coletânea)

World Health Organization. Amendments to the Constitution. April, 7th; 1999.

Arquivos desenvolvimento afetivo – EducaME com amor

www.clipescola.com/ensino-afetivo/

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“Além da Sala de Aula” – afetividade no processo de ensino-aprendizagem

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O filme “Além da sala de aula”, chocante e impactante, foi inspirado em uma história real, na vida de Stacey Bess, famosa palestrante americana sobre educação. Mais do que uma obra cinematográfica, o filme evidencia a realidade de muitos professores pelo Brasil.

Na história, em essência, uma professora recém-formada vai em busca do seu primeiro emprego e ao contrário do que imaginava é contratada para uma escola pouco convencional, ou seja, tratava-se de um projeto social para os sem-teto. O projeto ficava em uma região de vulnerabilidade social (local de passagem para pessoas sem teto, como um albergue a céu aberto), as pessoas moravam em contêineres adaptados para quartos e ao lado da sala de aula passava a linha férrea que fazia tremer tudo durante a passagem de trens. A “escola” era carente em tudo: não tinha livros, equipamentos para aprendizagem, limpeza; as cadeiras e mesas estavam em condições precárias; assim como a estrutura física do local que tremia quando passava um trem ao lado da escola; e os alunos conviviam com ratos.

A protagonista (professora) inicialmente pensa em desistir já que não era o cenário que esperava e que fora preparada para atuar, todavia, ela reúne forças para encarar o desafio e paulatinamente, com seu esforço, vai conquistando a simpatia dos estudantes, dos pais e até da supervisão da educação local (pois a escola não possui diretor) que, ignorava a dificuldade dos professores e parecia pouco se importar com a situação dos estudantes.

Na tentativa de deixar a escola mais agradável, a professora trabalha na reestruturação da escola e com os próprios recursos compra equipamentos, faz limpeza no local e pinta. Além disso promove momentos de integração com a comunidade envolvendo pessoas do próprio abrigo que se põe a ajudar. Para suprir, pelo menos de maneira paliativa, a fome de alguns alunos, ela chega a levar comida para a classe. Chega, inclusive, a levar para sua casa uma das alunas que tivera o pai expulso do abrigo por ter sido pego com bebida alcoólica.

Enfim, é possível dizer que a presença de Stacey Bess (professora) realmente promove a mudança do lugar, impactando da transformação de estruturas e comportamentos.

Fonte: encurtador.com.br/bCV28

Um paralelo teórico

Ao assistir ao filme o que parece mais evidente é a questão da afetividade e sua importância/impacto no processo de aprendizagem; e nessa perspectiva a escolha foi pelo teórico (e suas discussões) Henri Wallon.

Os grandes estudiosos, Jean Piaget e Lev Vygotsky já atribuíam importância à afetividade no processo evolutivo, mas foi o educador francês Henri Wallon que se aprofundou na questão.

 Diferente de como se trata no senso comum, a afetividade não é simplesmente o mesmo que amor, carinho, ou concordar com tudo, ou seja, sentimento apenas positivo. De acordo com Wallon (apud DANTAS, 1992), o termo afetividade se refere à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou negativamente tanto por sensações internas como externas. A afetividade é, assim, um dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição e o ato motor, no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento.

A dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento, destaca Wallon (apud DANTAS, 1992). A emoção, uma das dimensões da afetividade, é instrumento de sobrevivência inerente ao homem, é “fundamentalmente social” e “constitui também uma conduta com profundas raízes na vida orgânica” (DANTAS, 1992, p. 85).

Segundo Wallon, o desenvolvimento humano acontece em cinco estágios, nos quais são expressas as características de cada espécie e revelam todos os elementos que constituem a pessoa. O estágio 1 é o impulsivo-emocional (de 0 a 1 ano), onde o sujeito revela sua afetividade por meio de movimentos, do toque, numa comunicação não-verbal; e estágio 2 é o sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos), em que a criança já fala e anda, tendo o seu interesse voltado para os objetos, para o exterior, para a exploração do meio; o estágio 3 é o personalismo (3 a 6 anos),  fase da diferenciação, da formação do “eu”, da descoberta de ser diferente do “outro”; estágio 4, categorial (6 a 10 anos), em que a organização do mundo em categorias leva a um melhor entendimento das diferenças entre o “eu” e o “outro”; e estágio 5, a – puberdade, adolescência (11 anos em diante), em que acontece uma nova crise de oposição, ou seja, o conflito eu-outro retorna, desta vez como busca de uma identidade autônoma, o que possibilita maior clareza de limites, de autonomia e de dependência (MAHONEY & ALMEIDA, 2005, p. 22). Segundo ainda as autoras (2005), em todos os estágios do desenvolvimento humano, segundo a teoria de Wallon, a afetividade está presente em maior ou menor grau, haja vista a interação indispensável a esse processo, para a formação desse indivíduo como ser social, cultural e inserido, de fato, no meio em que vive.

De acordo com Henri Wallon, o primeiro ano de vida expressa a afetividade com maior intensidade. Por ela, o bebê se expressa e interage com as pessoas que, por sua vez, respondem a tais manifestações. Porém, a afetividade está presente em todas as fases da vida e podem ser exteriorizadas de três formas: (a) emoção, sendo a primeira expressão da afetividade e, normalmente, não controlada pela razão; (b) sentimento, que é a forma de expressão que já tem ligação com o cognitivo, ou seja, o indivíduo consegue sofre aquilo que o afeta; e (c) paixão, que a principal característica é o autocontrole (MAHONEY & ALMEIDA, 2005). Ainda de acordo com elas 92005), a emoção é a mais visível das expressões e pode ser manifestada, inclusive, por meio da fala. Com ela, o indivíduo consegue externalizar o que sente, desde seu nascimento. Trata-se da primeira manifestação de necessidade afetiva da criança, demonstrada quando chora ou quando ri.

Sendo a afetividade a dimensão que ganha mais destaque nas obras de Wallon é, também, aquela que mais se relaciona com a educação. Através dela, o educador consegue visualizar quando seu aluno está entusiasmado com determinada dinâmica e, ao mesmo tempo, se outro está apático ou cansado, podendo usar isso a seu favor.

Assim, é possível dizer que ao chegar à Escola, a criança já traz um arsenal de vivências e experiências (positivas e negativas), que não podem ser negligenciadas. E não se pode simplesmente dizer que “não sou responsável pelo que aconteceu antes de mim”, porque o “antes” tem influência no “depois” e o professor terá tudo a ver com isso (DANTAS, 1992).

Nesse contexto também, o professor não é apenas o responsável por “ensinar” conteúdos, mas o responsável por ajudar o aluno a aprender e isso muda todo o processo, pois se não há aprendizagem, o fracasso é do aluno e do professor. E esse fracasso nem sempre estará relacionado à incompetência do professor, ausência ou deficiência de metodologias e recursos, ou à falta de atenção, indisciplina, “problemas” do aluno. Há um aspecto pouco percebido ou levado em conta por todos, e que pode ser o elemento que está faltando nesse processo e que é determinante para que ocorra a aprendizagem que se quer, e se consiga o sucesso que se busca: a afetividade (DANTAS, 1992).

Pensando nesses apontamentos teóricos e na obra cinematográfica, fazendo um paralelo teórico, é possível destacar a produção de sentimentos e emoções que as diversas situações vivenciadas em sala de aula podem gerar, em todos os atores/sujeitos do processo educacional. E é indiscutível e incontestável, subsidiados por Wallon, o reconhecimento do quanto essas emoções e sentimentos repercutem nos processos de ensino e de aprendizagem. O filme retrata claramente esse cenário.

Ter clareza disso permite ao docente a possibilidade de reflexão sobre o seu fazer, sobre a sua prática pedagógica, bem como identificar e criar estratégias de ação diante de emoções negativas que também possam modificar o ambiente escolar.

Fonte: encurtador.com.br/bCV28

FICHA TÉCNICA DO FILME

 

Título orginal: Beyond the Blackboard
Gênero: Drama
País: EUA
Ano: 2011

Referências:

DANTAS, Heloysa. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. São Paulo: Summus, 1992. Disponível em: < https://repositorio.usp.br/item/000842049>. Acesso em: 11 de maio de 2020.

MAHONEY, Abigail Alvarenga & ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. Revista da Psicologia da Educação, nº 20 – 2005. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752005000100002>. Acesso em: 11 de maio de 2020.

TASSONI, Elvira Cristina Martins; LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Afetividade no processo de ensino-aprendizagem: as contribuições da teoria walloniana. Educação, vol. 36, núm. 2, mayo-agosto, 2013, pp. 262-271. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Brasil.

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Temáticas da psicologia da educação presentes nas vivências pessoais e profissionais

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Sou Licionina Maria Rodrigues da Silva há dezoito anos a frente da Presidência/direção da Escola Especial Um Passo Diferente – APAE do município de Tocantinópolis, estado do Tocantins. A escola atende a alunos da Educação Especial do Ensino a partir de 2008 tomamos à frente da direção da referida escola na qual se observou vários problemas que se agravavam, sobretudo pelas dificuldades de relação entre Família/Escola, no que se refere à aceitação da deficiência  como também  procura de atendimento de profissionais de saúde que atesta a deficiência por meio de laudo médico e/ou psicológico, ocasionando assim dificuldade de ser assistido de acordo as suas necessidades. Nesta escola percebeu-se que a família se mantinha distante ou mesmo ausente da vida escolar dos filhos, trazendo com isto, uma série de problemas relacionados ao desenvolvimento de habilidades cognitivas e de interação social.

Com base dos dados expostos procurou-se promover na escola, ação para trazer um psicólogo educacional  e demais profissionais da equipe multidisciplinar da saúde, pois muito dos alunos atendidos não apresenta laudo psicológico. Necessitando assim de uma avaliação psicológica, a qual segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2000) reflete um processo de coleta de informações resultante de um conjunto de procedimentos confiáveis. Tal processo permitiria ao psicólogo avaliar comportamentos, contribuindo para a orientação de ações profissionais de forma segura e pertinente (Paula, Pereira, & Nascimento, 2007).

Para a realização do trabalho, foram convocados pais/ou responsáveis pelas crianças matriculadas na escola de modo que se realizou  quatro grandes reuniões no decorrer de três meses, as quais se obteve uma significativa participação dos mesmos, onde os profissionais da saúde foram disponibilizados pela a secretaria municipal de saúde em forma de parcerias.

Fonte: encurtador.com.br/guvKS

A partir dessas atividades observou-se que houve uma significativa melhora no que se refere à participação dos pais na vida escolar dos filhos e no cotidiano da escola. Diante desta ação ficou constatado que a escola especial atende diferentes tipos de deficiências de acordo laudo de médicos e psicólogos, sendo eles: Autismo, Deficiência Intelectual Severa, Deficiências Múltiplas Deficiência Intelectual Deficiência Visual Deficiência Auditiva e Física.

Como incentivo a esta participação criou-se o momento de encontro semestral para que a psicóloga pudesse acompanha o desempenho dos alunos e avaliá-los. O trabalho da Escola Especial “Um Passo Diferente” – APAE de Tocantinópolis, feito com o compromisso de valorizar as potencialidades e as necessidades individuais dos alunos adotando ações positivas, surge das conquistas que muitas vezes impressiona, mas que viabiliza o desenvolvimento das capacidades da pessoa com deficiência, resgata a auto- estima e melhora a qualidade de vida.

Portanto, é valido considerar que a atuação do Psicólogo no ambiente escolar pode ser compreendida como por um serviço preventivo e terapêutico. Quando se trata de inclusão educacional de pessoas com deficiência, ele tem um papel crucial na preparação dos profissionais envolvidos, apoio familiar e suporte a comunidade discente. Sendo assim, o objetivo do nosso artigo é discutir as contribuições do psicólogo escolar no processo de inclusão educacional de pessoas com deficiências. O psicólogo deve ter um olhar abrangente, ver o aluno com deficiência como um ser biopsicossocial, e não olhando apenas o biológico, mas um ser que apesar das limitações é também dotado de potencialidade. Dessa forma Vianna (2016, p- 54), relata que: A atuação do profissional de psicologia no ambiente escolar, nos dias atuais permanece marcada por dificuldades, em relação ao fazer a prática. Muitos psicólogos ainda sentem certo bloqueio ao sair do modelo tradicional clínico, centrado no psicodiagnóstico.

Fonte: encurtador.com.br/guvKS

REFERENCIAS 

Paula, A. V., Pereira, A. S., & Nascimento, E. Opinião de alunos de Psicologia sobre o ensino em avaliação psicológica. (Psico-USF,2007).

VIANA, M.N. Psicologia escolar: que fazer é esse? In: Conselho Federal de Psicologia- Brasilia – CFP, 2016.

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Psicologia – o amor pelo que se faz: (En)cena entrevista a psicóloga Gisélia Noleto

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Gisélia Noleto é psicóloga egressa do Ceulp/Ulbra, Possui graduação em Letras – Português e Inglês e Respectivas Literaturas e especialização em Metodologia do Ensino De Língua Portuguesa e Literatura. Tem mais de 20 anos de experiência na área da educação, onde atuou também como professora. Suas vivências em sala de aula impulsionaram o desenvolvimento de projetos voltados aos seus alunos durante sua graduação em psicologia.

(En)Cena – Quais suas áreas de atuação profissional?

Gisélia Noleto – Atualmente, trabalho em Clínica.

(En)Cena – Com qual público trabalha e qual a maior demanda?

Gisélia Noleto – Trabalho de adolescentes a casais. Dependendo do caso, atendo crianças. A maior demanda são jovens adultos.

(En)Cena – Ao sair da faculdade, você se deparou com uma realidade diferente do que imaginava?

Gisélia Noleto – Inicialmente, tive receio em como captar clientes/pacientes.  Mas logo fui recebendo  indicações de colegas de profissão, amigos e hoje já estou atendendo pessoas indicadas pelos meus próprios clientes.

(En)Cena – Você tem experiência na área da educação como professora, certo? Agora como psicóloga, como você encara as metodologias pedagógicas tradicionais?

Gisélia Noleto – Ainda há muitas metodologias tradicionais, mas também muitos profissionais tentando fazer diferente. Eu sempre gostei de inovar e com a Psicologia me tornei uma profissional de Educação muito melhor.

Fonte: https://bit.ly/2LBKvKg

(En)Cena – Você pretende atuar na Psicologia Escolar? Como você acredita que a Psicologia pode contribuir para a área?

Gisélia Noleto – Com certeza! Se tiver oportunidade e espaço, gostaria de agregar a experiência de 20 anos de Educação com adolescentes e os conhecimentos adquiridos em Psicologia.

(En)Cena – Como professora você já realizou práticas para se aproximar da realidade dos seus alunos, o que ficou conhecido como “De frente com Gisélia”. Os conhecimentos da Psicologia te ajudaram nesse sentido? Você acredita que práticas como essas podem ser implantadas nas escolas?

Gisélia Noleto – Sou apaixonada por gente, pessoas… E escolhi Psicologia por acreditar que posso fazer a diferença na vida das pessoas que estão perto de mim ou procuram minha ajuda profissional. Este projeto “De frente com Gisélia” foi apresentado em meu TCC e lá pude mostrar as várias possibilidades de criar vínculo com o aluno, por meio de uma escuta atenciosa, refletindo no processo ensino aprendizagem.

(En)Cena – Já atuou especificamente numa comunidade que é negligenciada socioculturalmente, como indígenas, quilombolas, entre outras?

Gisélia Noleto – Não tive tal oportunidade.

(En)Cena – Você tem atuação clínica, desenvolve projetos ou faz intervenções em grupos em prol de uma minoria, como comunidade LGBT, mulheres negras? Você tem um posicionamento militante quanto a isso? Faz parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?

Gisélia Noleto – No momento não estou desenvolvendo projetos com tais grupos.

(En)Cena – Qual a sua opinião sobre o sindicato dos psicólogos que foi recém criado no Tocantins, em relação a importância desse órgão para a classe?

Gisélia Noleto – O nosso Sindicato é bastante importante para oxigenar a nossa classe, por meio de debates, grupos de estudo e trabalho. Portanto minha expectativa é que sempre tenhamos espaço para debater assuntos pertinentes a nossa profissão, sem privilegiar grupo A ou B.

(En)Cena – Por fim, além do diploma, o que te torna psicóloga?

Gisélia Noleto – Além do diploma, em qualquer profissão é preciso amar o que se faz e em nossa profissão, principalmente, amar pessoas, se importar com elas.

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