A psicoterapia é essencialmente o cuidado psíquico, dos sentimentos e de transtornos mentais, quando novos psicólogos se formam ou até mesmo dentro da academia, muitas vezes somente os fatores mentais são levados em consideração, em como eles afetam o comportamento, a vida social e por aí vai. Mas existe um ramo dentro da psicologia que ao levar em consideração fatores biopsicossociais, também dá atenção para o corpo e faz a psicologia a partir disso.
Fonte: (Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo (bioenergetica.com.br))
A Análise Bioenergética é um termo criado a partir dos estudos desenvolvidos pelo psicanalista Wilhelm Reich por Alexander Lowen, que liga a expressão corporal aos sentimentos e busca entender a personalidade através dessas expressões. Hoje, após a contribuição de diversos pesquisadores e discípulos de Reich, a análise bioenergética envolve ferramentas que são importantes no processo terapêutico, como liberação de tensões, posturas que facilitam as vibrações naturais do corpo e respiração.
Ao utilizar a bioenergética na saúde pública, psicólogos tem a chance de diversificar o trabalho feito e adicionar autopercepção ao público sobre sua totalidade. Além de contribuir para a saúde mental ao aliviar dores crônicas e psicossomáticas
Um conceito abordado na psicologia como um todo é a autorregulação, que é descrita como a capacidade biológica e natural de ser autônomo quando o assunto são emoções e sentimentos. A bioenergética trabalha esse conceito ao relacioná-lo com a autonomia do ser, a autorregulação nos faz refletir sobre a nossa ação com o ambiente, assim como a ação do ambiente sobre o indivíduo. Ao educar pela autorregulação é possível entrar em contato com os próprios sentimentos e expressá-los de forma autêntica a partir do corpo.
O grounding, ou aterramento é uma das técnicas que pode ser incluída na bioenergética por exercer uma atividade de concentração no próprio corpo, trazendo benefícios psíquicos.
Essa linha teórica ainda é pouco abordada dentro da faculdade, tendo em mente os poucos recursos terapêuticos do corpo que se é utilizado em um contexto clínico, no contexto de saúde mental e saúde pública é algo mais visto. Há também uma escassez de trabalhos e artigos publicados sobre esse assunto.
REFERÊNCIAS
DE OLIVEIRA, Gislene Farias; DA SILVA, Regina Coeli Araújo; ROLIM, Solange Gonçalves. Análise Bioenergética: uma revisão sistemática da literatura. ID on line. Revista de psicologia, v. 7, n. 20, p. 75-96, 2013.
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Sessão de Terapia – Nando: impotência sexual como inibição
Sessão de Terapia é uma série brasileira, um drama televisivo original da Globo Play, dirigida e estrelada por Selton Melo. A produção lançada em 2012, ilustra bem o que seria um consultório de psicanálise e acompanha a rotina de um analista e seus analisandos.
A série tem relevante valor pedagógico para os estudantes de psicologia e psicanálise pois as histórias descritas descrevem, muitas vezes, os abstratos e desafiadores conceitos e institutos da obra freudiana entre os quais: transferência; complexo de édipo; inibição sintoma e angústia.
No presente texto apresentaremos uma proposta de como o caso Nando, retratado na 4ª temporada da série, pode ser utilizado para facilitar a compreensão da inibição sexual em Freud.
Nando é um personagem complexo que traz ao telespectador diversos conteúdos relevantes para o estudo e o tratamento dos sofrimentos emocionais na atualidade.
O analisando/paciente é apresentado como sendo um executivo de multinacional, muito bem-sucedido na carreira, que vem apresentando um curioso problema de disfunção erétil, impotência sexual, que por meses o impedira de manter relações sexuais com sua esposa Maria Lúcia.
Para esclarecer a queixa ilustrada, a série indica que as dificuldades de ereção estariam limitadas à específica relação com a esposa, apontando que Nando haveria afastado sintomas físicos após consulta a um urologista, bem como, que este estava apto para outras formas de satisfação sexual (masturbação e até sexo com outras mulheres).
Não havendo causas físicas, ou patológicas, coube a ele buscar apoio profissional para um possível sofrimento psicológico que levava a uma limitação na sua função sexual.
O caso Nando ilustra o conceito freudiano de inibição e, ainda, a distinção proposta pelo autor entre inibição, sintoma e angústia no seu texto de 1926.
Ao propor a psicanálise como cura pela fala, Freud, tinha a linguagem como instrumento e a livre associação como metodologia. Para o autor, deste modo, era relevante indicar as distinções conceituais entre significantes próximos que pudessem gerar confusão acerca de fenômenos parecidos, porém distintos.
Deste modo, a teoria freudiana trata a inibição como a restrição de uma função do corpo, mas que não significa necessariamente algo patológico. Deixando os conteúdos patológicos ligados ao conceito de sintoma (FREUD, p.14).
No texto de 1926, Freud esclarece que “a função sexual está sujeita a muitos transtornos, a maioria dos quais tem o caráter de inibições simples”. (FREUD, p.14). Estas inibições são classificadas como impotência psíquica e, no homem, seria possível identificar os seguintes estágios, além dos distúrbios de natureza perversa ou fetichista:
O afastamento da libido no início do processo (desprazer psíquico), a ausência da preparação física (falta de ereção), a abreviação do ato (ejaculatio praecox), que também pode ser descrita como sintoma, a interrupção do mesmo antes do desfecho natural (ausência de ejaculação), a não ocorrência do efeito psíquico (da sensação de prazer do orgasmo) (FREUD, p.14).
O pai da psicanálise inova ao apontar a ligação entre a inibição, falha da função e a angústia, sofrimento emocional de ordem inconsciente. Para ele, “várias inibições são claramente renúncias à função, pois o exercício desta produziria angústia”.
No seu texto, Freud nota que procedimentos bastante diversos podem perturbar a função, inclusive a função sexual e destaca dentre eles: o afastamento da libido; a piora no cumprimento da função; a dificuldade desta pelo desvio para outras metas; sua prevenção através de medidas de segurança; sua interrupção mediante o desenvolvimento da angústia, quando seu começo não pode mais ser impedido; e, por fim, uma reação a posteriori, que protesta e busca desfazer o acontecido, se a função foi mesmo realizada (FREUD, p.16).
No caso do personagem Nando, em Sessão de Terapia, o desenrolar dos episódios leva a audiência a constatar que uma causa inconsciente para a queixa inicial. A mudança de status de Maria Lúcia no contexto do casamento, que deixou de ocupar o ideal de esposa e mãe submissa muito associada à memória que Nando tinha da própria mãe dele, passando a ganhar mais do que ele, tornando-se uma palestrante e escritora famosa internacionalmente e, ainda, respeitada militante pelo direito das pessoas negras, haveria dado causa a um desejo inconsciente de não fazer sexo com ela e, com isso puni-la, além de ter provocado crise de masculinidade.
Durante as 6 sessões programadas para o personagem, o público vai acompanhando os esforços do analista de promover espaços de fala e livre associação que oportunizassem a Nando reconhecer sua angústia de ser superado por sua esposa em termos profissionais e ressignificar sua posição de masculino construída à luz dos exemplos obtidos ao observar a relação conjugal dos pais na infância, para, com isso, recuperar a funcionalidade plena da sua atividade sexual.
Por fim, vale destacar a relevância deste personagem para os estudos da influência de questões raciais na prática da psicologia e psicanálise. Isso porque, Nando é um homem negro cuja angústia passa pela necessidade de ressignificar o que é ser homem, revisando conceitos machistas, e o que é ser negro, revisando a reverberação inconsciente de experiências de racismo na psique do sujeito e, na construção da sua expressão de masculinidade.
Ano produção: 2012 Dirigido por: Selton Melo Gênero: Drama
Referência:
FREUD, Sigmund. Obras Completas Volume 17, Inibição, sintoma e angústia, O futuro de uma ilusão e outros textos. (1926/1929). Tradução Paulo Cesar de Souza. 1ª Edição. Companhia das Letras. 2014.
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Ansiedade na Pandemia: (En)Cena entrevista psicóloga Samira Brito
A ansiedade é caracterizada como uma sensação desagradável, vaga, cheia de apreensão, medo do novo, tensão, preocupação, angustia que todos os seres humanos experimentam durante a vida em determinadas situações do dia a dia. Já era um fenômeno natural e com a Pandemia, tem agravado esses casos de ansiedade. Para explicar mais sobre esse assunto, entrevistamos a Psicóloga Samira Brito formada na PUC-GO.
(En)Cena – A pandemia pode ter resultado no aumento dos casos de ansiedade? As informações, mensagens e notícias sobre a COVID aumentam a ansiedade? Por quê?
Samira Brito – Sim. Tudo aquilo que foge do nosso controle tem probabilidade de nos assustar. Aquilo que é novo nos assusta. A incerteza assusta. Falar em pandemia é unir a falta de controle, com o novo e o incerto. Quanto mais informações temos, mais vemos o quanto estamos vulneráveis à doença. Não é fácil aceitar a vulnerabilidade.
Fonte: Arquivo Pessoal
(En)Cena – Como lidar com a ansiedade durante a pandemia?
Samira Brito – Entendendo que só podemos controlar o que depende de nós: nossos comportamentos e emoções. Aquilo que não depende cabe a nós aceitarmos e desenvolvermos habilidades de enfrentamento, como autoconhecimento, autocontrole, cuidados com a saúde física e imunológica, se concentrar no momento presente, foco no positivo e nas maneiras de resolver as dificuldades, menos foco nos problemas.
Para controle da ansiedade: aceitar que é só uma ansiedade, não é prejudicial e nem perigosa. Respiração calma e lenta, se conectar a tudo que gera prazer e satisfação (lista de atividades que geram prazer e satisfação), se conectar ao momento presente, questionar os pensamentos negativos (quais provas reais eu tenho de que isso vai acontecer comigo? Se já aconteceu uma vez, qual certeza eu tenho de que vai acontecer de novo?). Importante não lutar contra a ansiedade.
(En)Cena – A ansiedade afeta o sistema imunológico? A alimentação, atividade física e o sono influenciam na redução da ansiedade?
Samira Brito – Sim. De maneira MUITO significativa. Aumentam a sensação de prazer, bem-estar e foco no presente.
(En)Cena – Como identificar a ansiedade? O que acontece durante uma crise?
Samira Brito – Comece avaliando o seu corpo. O que está sentindo? Quais são os sintomas físicos? Está prejudicando alguma área da vida? Interfere no dia a dia? O que você sente é algo que te paralisa? Existe sensação de medo? Durante uma crise de ansiedade o corpo entra em estado de alerta, os músculos enrijecem, o coração dispara, sensação de que aquilo não vai passar. Vontade de fugir daquela situação ou daquele lugar, pensamentos desordenados e negativos.
(En)Cena – Como lidar ou como gerenciar a ansiedade nesse momento de pandemia?
Samira Brito – Aceite a ansiedade no seu corpo; se conecte ao presente; observe o que acontece à sua volta, fora do seu corpo; faça exercícios de respiração (quanto mais calma, melhor); desenvolva ao longo do dia ao mínimo 1 atividade prazerosa; se alimente bem e faça atividade física; tenha pequenas pausas durante o dia para relaxar; se possível, pratique mindfulness.
Fonte: encurtador.com.br/irNY8
(En)Cena – Como saber diferenciar a ansiedade normal da ansiedade patológica?
Samira Brito – Por ser uma emoção saudável e necessária para a nossa sobrevivência, todos nós temos ela escondidinha no nosso corpo. Enquanto nossas ações forem proporcionais às situações, ela é normal. A partir do momento que começam a surgir sintomas que venham a interferir na condução natural do dia a dia, pode ser um indício de que a ansiedade está aumentando. Falta de concentração, diminuição do rendimento pessoal e profissional, relações sociais e familiares prejudicadas, todos sintomas da ansiedade patológica.
(En)Cena – Com a flexibilização do isolamento, muitas pessoas estão enfrentando medo de sair de casa e sofrendo com sentimentos como ansiedade. Quais são as causas desse cenário?
Samira Brito – A falta prolongada de contatos físicos, do toque, dos encontros. Habilidades antes treinadas deixaram de existir. Muitos passaram a viver uma introspecção por obrigação, muitos de repente se viram sozinhos consigo mesmos e sentiram a dor emocional da solidão. O medo de adquirir a doença se tornou mais frequente.
(En)Cena – Quais orientações podemos seguir para reduzir a ansiedade?
Samira Brito – Aceite a ansiedade no seu corpo; se conecte ao presente; observe o que acontece à sua volta, fora do seu corpo; faça exercícios de respiração (quanto mais calma, melhor); desenvolva ao longo do dia ao mínimo 1 atividade prazerosa; se alimente bem e faça atividade física; tenha pequenas pausas durante o dia para relaxar; se possível, pratique mindfulness.
(En)Cena – Como lidar com a ansiedade no luto vivido quando se perde alguém próximo para a COVID?
Samira Brito – Se permitir viver as 5 fases do luto: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Entender que cada um tem sua maneira individual de passar pelo luto e respeitar a SUA maneira de lidar com a dor.
Fonte: encurtador.com.br/CIZ59
(En)Cena – Quando devo procurar um profissional para tratar da ansiedade?
Samira Brito – Se perceber os sintomas surgindo e você não sabe como lidar com eles, mesmo que não chegue a interferir no dia a dia já é importante buscar ajuda.
(En)Cena – Quais técnicas posso utilizar para acalmar uma pessoa que esteja em crise?
Samira Brito – Ensinar a respirar calma e suavemente, ajudar a mudar o foco do que sente no momento para o mundo exterior, observando tudo o que acontece ao seu redor. Aqui, é possível pedir à pessoa que descreva por exemplo tudo o que está vendo, puxar um assunto totalmente aleatório e que seja do entendimento desse indivíduo. Vale oferecer algum alimento que possa aumentar a sensação de bem-estar no corpo ou escutar uma música agradável.
(En)Cena – Quais os impactos no comportamento ou sintomas físicos que a ansiedade pode causar?
Samira Brito – Sensação de morte, sensação de estar paralisado, ao mesmo tempo, agitação interna e motora.
(En)Cena – A pandemia pode agravar os quadros de quem já tem ansiedade patológica?
Samira Brito – Sim. Se já existe o quadro ansioso no indivíduo, aumenta a probabilidade de intensificarem os sintomas, mesmo se estiver em tratamento. Isso porque o ansioso cria expectativas, geralmente negativas.
(En)Cena – Quais os sintomas físicos que a ansiedade pode causar?
Samira Brito – Taquicardia, falta de ar, sudorese, sensação de cansaço, tremores no corpo, tensão muscular, perda ou aumento de peso, náusea.
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Aceitação e resiliência – (En)Cena entrevista a pesquisadora Dra Flávia Matos
“Dá até vontade de chorar, porque eu estou em teletrabalho, só que eu sou uma pesquisadora e minhas pesquisas são no campo. Está tudo atrasado: recurso, entregas, contrato de estagiários, a pandemia que impede a gente de ir para campo”.
Flávia Tavares de Matos
Para explicitar o cenário da pesquisa no Brasil de hoje, o documento acadêmico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul intitulado Produtividade Acadêmica Durante a Pandemia: Efeitos de gênero, raça e parentalidade conclui que 13% do total das pós-graduandas possui filhos. E que muitas delas tiveram sua produção acadêmica comprometida por causa das suspenções das creches e escolas, do isolamento compulsivo, do ensino remoto e da assunção de múltiplas tarefas domésticas.
O citado estudo destaca, ainda, que quanto às submissões de artigos, mulheres negras (com ou sem filhos) e mulheres brancas com filhos (principalmente com idade até 12 anos) são os grupos cuja produtividade acadêmica foi mais afetada pela pandemia. Por outro lado, a produtividade acadêmica de homens, especialmente os sem filhos, foi significativamente menos impactada ela pandemia. Nessa entrevista a pesquisadora da Embrapa em pesca e aquicultura e professora no Mestrado Profissionalizante em Engenharia Ambiental (Universidade Federal do Tocantins-UFT) Dra Flávia Tavares de Matos. Ela que destaca sua perspectiva sobre os desafios de ser mulher, mãe e produzir ciência no Brasil da pandemia. Destaca, ainda, os impactos das triplas jornadas de trabalho e das aulas online das crianças na saúde mental das mulheres pesquisadoras.
Flávia Tavares de Matos. Foto: Arquivo Pessoal
(En)Cena –Considerando o seu lugar de fala, de mulher, profissional, pesquisadora, mãe e professora dos filhos em aula online e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?
Dra Flávia Matos – É uma situação muito desafiadora e ao mesmo tempo sem saída. A gente simplesmente tem que fazer o esforço de aceitar que a situação é essa. E pelos nossos filhos, a gente tem que se esforçar ao máximo e seguir adiante. É muito difícil mesmo a pessoa se dividir entre o trabalho doméstico, teletrabalho e aulas online. Então é muito complicado, muito mesmo porque as vezes a gente não tem a didática necessária para ensinar as crianças e tem o cansaço, enfim.
Fonte: encurtador.com.br/gTW46
(En)Cena –Como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres, no contexto de pandemia, interfere em tomadas decisões acertadas ou equivocadas no trabalho?
Dra Flávia Matos – A saúde mental não interfere só no trabalho. Ela interfere aqui na vida pessoal, interfere nas aulas online também. A gente perde o equilíbrio e rende menos. A gente deixa de produzir um paper, deixa de fazer uma ligação que é necessária, deixa de mandar um email, deixa de participar de uma reunião por causa da aula online e isso tudo vai refletir no trabalho obviamente. A pessoa acaba que toma decisão errada, com emoção. Não usa tanto a razão para tomar decisões. A gente fica um pouco desequilibrada mesmo.
Fonte: encurtador.com.br/hlrRZ
(En)Cena –Elizabeth Hannon, editora do British Journal for Philosophy of Science, destaca que durante o mês de abril de 2020, durante a primeira onda da COVID 19, quase não recebeu pedidos de submissões de trabalhos realizados por mulheres (https://revistapesquisa.fapesp.br/maes-na-quarentena/, recuperado em 29 de julho de 2020). Diante disso, pergunto: quais os desafios de produzir ciência sendo mãe e mulher, durante a pandemia?
Dra Flávia Matos – Dá até vontade de chorar. Porque eu estou em teletrabalho, só que eu sou uma pesquisadora e minhas pesquisas são no campo. Está tudo atrasado: recurso, entregas, contrato de estagiários, a pandemia que impede a gente de ir para campo. Então comprometeu tudo da produção científica.
Fonte: encurtador.com.br/oBWZ1
(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?
Dra Flávia Matos – Eu acho que as mulheres no pós-pandemia, primeiro têm que procurar uma psicóloga para abrir o coração. Eu tenho amigas psicólogas que estão atendendo muitos pacientes que tiveram COVID, pois a doença pode deixar sequelas físicas e psicológicas também. No trabalho, as pessoas vão ter que ter compreensão e tentar ajustar da melhor forma. É preciso dar tempo ao tempo. Investir em trabalhos de autoajuda. E no nosso caso, de mães pesquisadoras, é importante que sigamos uma ajudando a outra e nos apoiando sempre.
Foi incrível como, em questão de dias, o inesperado entrou em cena de forma absurda. O que aparentemente seria apenas uma semana sem ir à universidade virou meses. Com a pandemia e, sobretudo, por seu consequente distanciamento social, vi minha rotina como estagiário de Psicologia transtornada. Na verdade, vi a própria forma de atuar como psicólogo em potencial transtornada.
Após tantas teorias sobre o fenômeno da terapia na clínica, após tanto ouvir sobre as metodologias implicadas por cada teoria, após tantas visões sobre o ser humano e o mundo que o rodeia, eu estava ansioso por entrar de vez nesse fenômeno basilar da Psicologia. Queria sentir o que era sentar-me defronte a um paciente, a uma distância mínima um do outro, e ouvi-lo, e vivermos isso. Mas, no meio do caminho tinha pandemia, uma quarentena, e, para o pasmo geral do futuro psicólogo, o amante do contato entre, do fenômeno que é a interação, o distanciamento social virou regra do dia, dos meses, de um ano. Mas, porque nos adaptamos, aqui estou, defronte a um smartphone, esperando Catarina. O estagiário de psicologia e a máquina. Não é a mesma coisa, óbvio. Chega a ser bizarro. Céus, uma máquina!
Na semana passada eu soube que minha primeira paciente seria Catarina, que não pôde comparecer no sábado passado ao que seria nosso primeiro encontro mediado por tecnologia. Antes daquele sábado, de segunda à sexta, fantasiei como seria essa Catarina. Negra? Branca? Loira? Alta? Realmente tem razão quem disse que a relação com um novo cliente começa bem antes da primeira sessão. Ah, como nos corroem as suposições! E se…? Será…? Quem sabe…! É… Não! Mas, será possível? Chega! Viva o momento, aqui agora! Viva-o, homem, viva-o!
Naquele sábado me arrumei todo. Comi direito para não ter déficit de energia durante o atendimento. Bebi água na medida para, ao contrário de experiência de outrora, não ter a bexiga cheia durante momento tão especial para um estagiário. Eu estava animado. Estava sentado defronte ao smartphone, a essa altura acostumado, embora não plenamente conformado com essa máquina, com essa espécie de pombo-correio… Até que a coordenadora da minha clínica-escola disse que a paciente não poderia participar, por motivo de força maior, mas, estaria presente no próximo sábado.
Este é o próximo sábado, ou melhor, o então próximo sábado é este. A frustração é tamanha, duplicada, porque hoje Catarina também não veio, na verdade, decidiu não mais ter atendimento psicológico por questões de trabalho, o que a impossibilitava de ter o serviço da clínica-escola, ao menos nesse horário. Agora, outro ou outra paciente será agendado para mim. Aí terminou minha tensa e frustrante relação com Catarina (ou será que não? Ainda penso nela?). Essa moça sem rosto, sem cor, sem voz, que preencheu minha mente por dias da espera pelo primeiro encontro. O tempo passa, as horas de estágio gritam no meu ouvido, “me cumpra ou tu não andas”. Confesso, ainda penso em Catarina. Queria saber o que ela traria para mim? Essa pergunta faz sentido? E se não existir nenhum “e se fosse assim?” Ora, talvez isso foi porque era para ser, e ponto final. Não é tão fácil acreditar nisso. Força, Catarina! Que encontres um tempo adequado e alguém a teu dispor!
Atualização: Já sei o nome do meu próximo paciente. Como será esse Calebe? E se…? Será…? Quem sabe… Chega! Viva o momento, aqui agora! Viva-o, homem, viva-o!
Observação: História verídica. Para preservar a identidade dos envolvidos, foram criados nomes fictícios.
Alguns pacientes não progridem como participantes da terapia, seja por não envolverem, suficientemente, no tratamento, ou por estarem aferrados às crenças antigas e distorcidas sobre si, sobre outros e sobre o mundo. Assim, torna-se necessária, por parte do terapeuta, a alteração do tratamento a fim de atender tais pacientes. O que fazer quando o básico não funciona? Nessa problemática há razões pelas quais o paciente apresenta dificuldade no tratamento. Algumas variáveis estão fora do controle do terapeuta. Por exemplo, paciente não vem às sessões com frequência por causas financeiras. Mas, muitos problemas estão, ao menos em parte, dentro do controle do profissional.
Alguns terapeutas tendem a descrever as dificuldades em termos globais, não definindo de forma clara o problema. Ao dizer, por exemplo, que o paciente é “resistente”. Quando o terapeuta especifica o problema, tende a mencionar as mesmas dificuldades, “paciente que não faz tarefa de casa” “paciente que fica zangado com o terapeuta” etc. É preciso determinar as dificuldades dos pacientes em termos comportamentais, para entender o problema dentro de uma estrutura cognitiva, e formular estratégias baseadas nas conceituações específicas, para cada paciente.
Para tanto, o terapeuta terá que especificar os problemas (determinando o grau de controle que tem para melhorá-los.); conceituar os pacientes individualmente; lidar com reações problemáticas do paciente em relação ao terapeuta, e vice-versa; estabelecer metas, estruturar sessões, fazer solução de problemas e aumentar a aderência à tarefa (incluindo mudança de comportamento), para paciente que representa desafio clínico; identificar e modificar percepções disfuncionais arraigadas (pensamentos automáticos, imagens, regras e crenças).
Quanto à especificação de problemas, não fazer isso de maneira ampla, rotulando paciente como “resistente”, “desmotivado”, “preguiçoso”, “frustrado”, “manipulador” ou “confuso”. Descrições globais como a que sugere que o paciente não quer estar em terapia, ou espera o terapeuta fazer todo o trabalho, são muito amplas. Melhor especificar os comportamentos que são obstáculos para o progresso na terapia, e elaborar uma solução. O terapeuta pode definir bem a dificuldade ao perguntar: “O que, especificamente, o paciente diz ou faz (ou não diz/não faz), na sessão terapêutica – ou entre as sessões – que representa um problema? Além disso, avaliar a gravidade e frequência do problema, perguntando a si mesmo: “É um problema que surge brevemente em uma sessão? Que persiste em uma sessão? Ou o problema ocorre em muitas sessões? Normalmente, problema contínuo por várias sessões demandam mais tempo para discutir e solucionar.
Comportamentos problemáticos comuns nas sessões, por parte do paciente, incluem a insistência de não conseguir mudar, ou de a terapia ser incapaz de ajudá-lo; a falha em estabelecer metas ou contribuir para a agenda; queixar-se, negar ou culpar os outros pelos problemas; apresentar muitos problemas, passar por várias crises; desconversar ou recusar conversa; atrasos e faltas; exigir tratamento especial; ficar bravo, aborrecido, crítico ou apático; ser incapaz ou não se dispor a mudar suas cognições; desatenção ou interrupção da fala do terapeuta; mentir ou omitir informação importante; não fazer a tarefa; não tomar a medicação necessário; abusar de drogas e álcool; telefonar repetidamente para o terapeuta quando em crise (ressalva, tentativas suicidas requerem intervenção imediata na crise e avaliação em emergência, e não fazem parte deste espectro); apresentar comportamento autodestrutivo e ofender os outros.
Muitos problemas estão relacionados à patologia do paciente, dependendo desta a dificuldade pode ser maior ou mais leve. Isso deve-se às crenças disfuncionais muito fortes, as regras que o paciente tem internalizadas. Assim, necessário testar e modificar tais regras, antes que os pacientes se disponham a mudar. Contudo, outros problemas ocorrem por erro do terapeuta. Além disso, pode ocorrer que a dificuldade esteja relacionada a ambos, patologia do paciente e erro do terapeuta. Quanto a este último, pode haver, entre outros fatores, diagnóstico errado, conceituação equívoca do caso, foco em problemas que não são importantes para a recuperação do paciente, erro no planejamento do tratamento, ruptura na aliança terapêutica, estrutura ou velocidade inadequada da terapia, aplicação incorreta de técnicas, tarefa de casa inadequada. É difícil para o terapeuta identificar seus próprios erros, então, ouvir a gravação de uma sessão de terapia pode ser importante.
Em síntese, conduzir a terapia cognitiva reside na identificação dos problemas em tratamento, avaliação da gravidade e especificação da origem desses problemas. As dificuldades podem ser devidas a fatores externos ao tratamento, inerentes a ele, ou devidas ao erro do terapeuta ou à patologia do paciente, que implica em crenças muito fortes. Algumas vezes pode haver uma causa orgânica do paciente, como problemas cerebrais ou hormonais, logo, pela necessidade de intervenção biológica, faz-se necessário recorrer aos profissionais competentes. Pode ocorrer, por exemplo, de o paciente não estar sofrendo de depressão, mas sim de hipertireoidismo, o que pode ser resolvido com medicação adequada. Outro paciente pode ter sinais que sugerem transtorno psiquiátrico, porém, o que há é infecção do sistema nervoso central.
Entende-se que a terapia sexual é um processo conduzido por um profissional formado em psicologia, um psicólogo com especialização na área de sexologia. Esse profissional tratará de questões relacionadas às dificuldades ou disfunções sexuais onde realizará um trabalho em conjunto com seus cliente/pacientes, dando assim um aumento na condição de vida sexual do casal. Qualquer problema sexual pode ser atendido pelo psicólogo, mesmo que a queixa seja apenas uma insatisfação no campo sexual.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece a sexualidade como um dos quatro pilares para a avaliação de qualidade de vida, ficando claro que a grande maioria dos casais considera o sexo relevante para a harmonia da relação. Compreende-se também que a maior parte dos problemas sexuais têm causas emocionais ou psicológicas.
Por vezes o problema pode ocorrer devido a acontecimentos traumáticos em alguma ocasião de vida, ou até mesmo histórias distorcidas que podem ter sido passadas por pessoas da família. Questões sociais podem também acarretar dificuldades de ordem sexual, como por exemplo, a religião, alguns tabus, preconceitos, experiência traumática ou até mesmo falta de orientação sexual, distúrbios emocionais como depressão, ataque do pânico, todos eles podem influenciar na vida sexual de uma pessoa. Mas, calma: a falta de apetite sexual momentânea não quer dizer que você esteja com algum tipo de problema. “Para caracterizar uma disfunção sexual, é preciso ter pouca ou nenhuma vontade de fazer sexo e se repetir em todas as relações sexuais”, explica a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, de São Paulo.
Fonte: encurtador.com.br/dlqEM
O hormônio responsável pelo desejo sexual de homens e mulheres é a testosterona. sendo que a mulher tem também o estrógeno. Embora haja diferenças no funcionamento sexual feminino e masculino, os fatores psicológicos que contribuem para a disfunção sexual segundo a Ghina Machado, psicóloga e cofundadora da clínica Estar, são:
O estresse, quando se torna crônico, há elevação dos níveis de cortisol e a diminuição da produção da testosterona, o estresse também leva ao cansaço e a perca de motivação, que interferem na disposição para ter uma relação sexual. Também há a ansiedade, onde a mesma está diretamente ligada a ejaculação precoce (MACHADO. 2017);
Em prosseguimento, há a depressão, que se trata de um transtorno psiquiátrico que também pode apresentar causas orgânicas, reduzindo a libido e acarretando assim na redução do interesse sexual;
A baixa autoestima, quando homens e mulheres não se valorizam, são inseguros tendo receio de errar, dúvidas sobre sua capacidade, tem sentimentos de inferioridade, vergonha do seu corpo dentre outras coisas;
A timidez tem um papel importante na eclosão da disfunção sexual, pois em geral as pessoas tímidas tendem a ter uma retratação do impulso sexual podendo ter mais dificuldades para se expressar.
A relação com o parceiro é de extrema importância, pois a grande maioria dos problemas conjugais não resolvidos como brigas constantes e falta de respeito interferem no desejo sexual em ambos, sendo ingredientes para acabar com o desejo sexual. É muito comum que homens ou mulheres com conflitos na sua identidade sexual sofram com alguma disfunção sexual. Por isso a terapia sexual é tão importante, pois ela pode desbloquear vivências e acontecimentos até mesmo desconhecidos.
No tratamento das disfunções sexuais o psicólogo não trata dos problemas orgânicos ou físicos; ele vai mais além: o emocional do indivíduo. Neste sentido, a vida sexual normal é um processo no qual se baseia na estabilidade entre os fatores físicos e psicológicos. O psicólogo irá abordar melhor o problema de cada cliente/paciente, levando-se em conta inclusive se o mesmo já estiver passado em consultas com os especialistas – ginecologista ou urologista – para assim ser realizado uma avaliação física.
Fonte: encurtador.com.br/klxR0
Em prosseguimento, a psicoterapia de casal colabora para evidenciar aquilo que nas terapias individuais não se tornaram queixas ou demandas pois o paciente/cliente irá bloquear esses pensamentos como defesas. A psicóloga Simone Cristina Martins Ferreira relata que o objetivo da terapia sexual, independente dos recursos utilizados pelo psicólogo, é fazer com que a pessoa se conheça melhor e amplie a consciência do que é preciso para viabilizar o prazer, refletindo sobre seu funcionamento e sua relação com os demais (FERREIRA 2017).
Sendo assim, a terapia sexual é uma forma de preparar o casal para solucionar e resolver os problemas futuros, que o casal pode vim encontrar após o término da terapia. O terapeuta ensina o cliente/paciente a fortalecer suas habilidades, para que quando houver oscilações ou até mesmo retrocessos temporários no seu percurso de vida, ele ou ela possam enfrentar os problemas com confiança e conta própria (BARROS, 2017).
O psicoterapeuta reconhece que em vários casos, o uso da medicalização para o tratamento pode ajudar a ter uma experiencia mais satisfatória, onde a psicoterapia e a medicalização caminham juntos, sendo identificados fatores nos quais favorecem no desempenho sexual do paciente/cliente. O uso da medicalização deve ocorrer somente pelo tempo necessário para que o paciente/cliente perceba e utilize seus próprios recursos para ter uma vida sexual ativa e satisfatória (BARROS, 2017).
Um passo muito importante para o tratamento da disfunção sexual é a comunicação. Muitos casais, para não falar a maioria, evitam o diálogo sobre esses problemas disfuncionais, não comunicam o parceiro sobre o que não está legal, onde ele ou ela pode vim a melhorar, causando assim um afastamento e uma perca ou diminuição do apetite sexual.
Fonte: encurtador.com.br/jkPT2
Se comunicar com o parceiro de modo aberto fortalece vínculos, muitos casais se casam ou se relacionam, mas não falam entre si sobre suas necessidades. Pois na nossa cultura não nos foi incentivado a essa troca de informações; se o casal não se comunica ou não há uma harmonia na comunicação de ambos, como irão falar de sexo?
Segundo Oswaldo M, Rodrigues e Carla Zeglio, ambos psicólogos, o sexo e as atividades sexuais, são os últimos a serem conversados entre o casal. O problema nasce na ideia de que sexo é natural e não precisa ser aprendido. Mas o fato é que sim o sexo precisa ser aprendido e precisa ser falado. Nesse ponto o casal fala, planeja e até busca ultrapassar problemas sexuais (RODRIGUES, ZEGLIO, 2018).
O segredo para que a comunicação com o parceiro seja saudável é o saber ouvir sem jugar o outro, e é isso que o psicólogo faz, ajuda o casal a saber se comunicar, possibilitando assim que o casal tome consciência por si só pelos seus atos e pelo tipo de convivência que ambos estão tendo.
Fica claro que as disfunções sexuais são empecilhos sexuais, como falta de apetite sexual, dor na relação sexual, ou até mesmo o desinteresse sexual; tem causas biológicas ou psicológicas, tendo em vista que a falta de comunicação entre os casais é um dos agravantes e motivo pelos quais os casais hoje procuram a terapia de casal, sendo que através da terapia o casal irá encontrar a sintonia perdida ao longo do caminho que ambos trilham.
A terapia sexual é de extrema importância pelo fato de ajudar o casal a resgatar a comunicação perdida, esclarecer conflitos e levar o casal a ter uma tomada de consciência dos acontecimentos do cotidiano de ambos, levando-os a conviver em um ambiente sólido e harmonioso. Com a terapia de casal o cliente/paciente compreende e reconhece o valor da comunicação.
REFERÊNCIA:
ALVES, Alexandre. Tratamento das disfunções sexuais. Disponível em <https://psicologiario.com.br/tratamento-das-disfuncoes-sexuais/> acessado em 03 de jun. de 2019
BARROS, Eduardo. Psicoterapia nas disfunções sexuais. Disponível em <https://www.dreduardobarros.com.br/psicoterapia-nas-disfuncoes-sexuais/ > acesso em 10 de jun. de 2019.
CECARELLO, Carla Fatores. Psicológicos são principais causas da falta de desejo sexual nas mulheres. Disponível em <https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2010/05/10/fatores-psicologicos-sao-principais-causas-da-falta-de-desejo-sexual-nas-mulheres.htm> acesso em 03 de jun. de 2019.
FERREIRA, Simone Cristina Martins. Especialidades da terapia sexual. Disponível em <https://zenklub.com.br/especialidades/terapia-sexual/> acesso em 04 de jun. de 2019.
FLEURYL, Heloisa Junqueira .ABDOLL, Carmita Helena Najjar. Terapia de casal para superar disfunções sexuais 2015, disponível em <files.bvs.br/upload/S/1413-9979/2016/v21n1/a5422.pdf> Acesso 05 de jun. de 2019.
GALDINO, Clarete. Quando recorrer a uma terapia sexual. Disponível em: <https://br.mundopsicologos.com/artigos/quando-recorrer-a-uma-terapia-sexual> acesso em 05 de jun. 2019
MACHADO, China. Disfunção Sexual Masculina. Disponível em: <https://www.estarsaudemental.com.br/disfuncao-sexual-masculina/ > acesso em 02 de jun. de 2019 .
NORONHA Heloisa. Da cama para o diva, como terapia sexual pode ajudar casais em. crise Disponível em : <https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2010/08/24/da-cama-para-o-diva-como-a-terapia-sexual-pode-ajudar-casais-em-crise.htm> acessado em 10 de jun. de 2019.
Ano passado e esse ano tem sido de extremas desconstruções para mim. Começou quando eu decidi entrar em transição capilar e não imaginei o que estava por vir. Recebi e ainda recebo críticas de familiares do tipo: “Nossa, por que você fez isso com seu cabelo?”, “Ele estava melhor liso”, “Tá na moda, né?!”, “Tá tão bagunçado. Liso ficava mais arrumado”. Uma pessoa que já tinha problemas de autoestima ouvir esse tipo de coisa não ajuda em nada no emocional e na segurança.
Eu tenho tendência depressiva, tendência ao isolamento e nessa época, foi o que mais fiz. Não saia muito de casa. E quando saía, molhava o cabelo pra ele ficar mais baixo e não ter que ficar ouvindo comentários que sabia que iam me fazer mal. Diminui a interação com minha família e tinha contato com poucos amigos. Nesse período, ainda estava de luto por causa da minha avó que havia falecido e buscava contato com minha outra avó que mora na Itália. Ela também é negra e tenho muito carinho por ela.
Minha mãe não gosta que eu tenha contato com essa minha avó por diversos motivos e usava meu cabelo para me atacar quando ficava com raiva por eu não ter feito algo em casa. Ela dizia que meu cabelo era duro, bagunçado e vários outros comentários que me atingiam de uma forma que me faziam questionar se ela realmente gostava de mim do jeito que eu era. Descobri mais tarde que minha mãe era racista e que eu fui criada a partir de padrões que já não me encaixava mais.
Nessa mesma época, eu estava começando a consumir mais conteúdo de pessoas negras, seguindo pessoas que se pareciam mais comigo nas redes sociais, entendendo mais sobre o racismo, até que decidi que o tema do meu TCC seria sobre racismo. O problema era, qual professor vai me representar, vai me orientar? Todos os meus amigos já haviam escolhido seus orientadores, tinham uma conexão com eles e eu achava isso lindo. Queria isso para mim também. E foi aí que reparei que não havia ninguém para me representar na faculdade. Que não havia um único professor ou professora negros.
Fonte: https://url.gratis/LX4Ei
Depois disso, foi só por água abaixo. Não lembrava de ter estudado um único teórico negro durante toda a faculdade. Esses fatos juntaram com ataques racistas vindos da minha mãe. Um “relacionamento” fracassado com um cara de outro estado que não queria me assumir. Violência policial passando na TV. A angústia de estar indo para um último ano de faculdade e começar a perceber o quanto eu vivia numa realidade ilusória. Eu sabia sim que o racismo existia, mas simplesmente escolhia não vê-lo. Não enxergá-lo. E esse fato doeu tanto, mais tanto que comecei a ter ideação suicida. Algo que já era comum no meu histórico, mas dessa vez veio com a força de mil sóis.
Falava dessas coisas para meu melhor amigo e ele ficava preocupado, tentava me ajudar, perguntava se eu precisava mesmo ser representada por alguém. Só que essas falas me deixavam ainda mais pra baixo. Ele não entendia o que eu estava passando. Ele é branco. Não tem como entender. E o pior de tudo é que não consigo explicar. Não queria. Não dava mais pra mim. Uma noite eu estava sozinha em casa e já havia planejado tudo o que iria fazer. Como ia tirar minha vida. Até que resolvi falar com meu amigo. Ele, obviamente ficou muito preocupado e ficou horas no telefone comigo. Me convenceu a procurar uma psicóloga, já que eu estava trabalhando e podia pagar por uma. Encontrei uma profissional que trabalhava com o antirracismo, dei meu relato e a aliança terapêutica foi linda. Uma das primeiras coisas que me lembro dela me dizer foi que eu ia sofrer muito. Mas acredito que se ela não estivesse comigo durante esse processo de descoberta de mim mesma, não sei se ainda estaria por aqui. Não tenho palavras pra descrever o quanto ela me ajudou.
Fonte: encurtador.com.br/ehq69
Em uma sessão, comecei a perguntar pra mim mesma o por que que eu queria que minha mãe me aceitasse tanto. Por que eu sentia essa necessidade. Minha psicóloga respondeu: Porque ela é sua mãe. Isso me deixou bem abalada. Tive uma conversa com minha mãe depois disso e como qualquer pessoa comum, ela não entendeu o motivo de eu estar chateada com ela e ainda ficou ofendida quando disse que ela dirigia comentários racistas para mim. Depois de um tempo, ela foi entendendo o que eu queria dizer. Viu também os protestos e ficou extremamente sensibilizada. Foi quando ela me chamou pra conversar sobre isso. Que não fazia ideia da dimensão do sofrimento que o racismo causa nas pessoas negras. Hoje, ela ainda fala alguns comentários do tipo, mas já está mais consciente. Eu fico feliz por isso, por essa consciência, por mais que ainda seja mínima.
Na faculdade a história já é outra. Pouquíssimos professores negros. Quase nenhuma instrução sobre o racismo ser fator de sofrimento mental para pessoas negras. Me sinto atingida como estudante e como mulher negra. Vou ter que buscar sozinha como ajudar essas pessoas. Espero que futuramente, contratem professores e professoras que sejam negros para que os alunos como eu não se sintam perdidos como me senti no final do curso. É uma sensação de não pertencimento. Quando você percebe que não tem ninguém no ambiente que seja parecido com você. Exclusão total. Fico feliz por ter tido uma rede de apoio forte o bastante para me manter sã e uma ótima psicóloga do meu lado. Me desconstruí e me construí de novo, “Tijolo por tijolo”, e ainda estou em constante aprendizado das situações que vivi durante toda a minha vida e que hoje, já consigo perceber padrões que não me cabem mais.
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O psiquiatra, o psicólogo e o psicoterapeuta como barqueiros do inferno
No filme “Amor além da vida”, de 1998, Chris (Robin Willliams) e sua esposa Annie (Annabella Sciorra) perdem os dois filhos em um acidente de carro. Annie, então, é internada em depressão grave. Chris passa a visitá-la regularmente, como se tentasse resgatá-la de um buraco sem fundo, de onde ela própria não tinha forças nem esperança para sair. O golpe final para Annie, quando já se recuperava, é a morte do marido num acidente quatro anos após a morte de seus filhos. Daí em diante o filme passa a ser contextualizado num universo extrafísico, apresentado como uma manifestação externa do ambiente intrapsíquico.
Portanto, o cenário em que Chris é recebido por um antigo amigo e mestre, Albert, parece pintado à tinta, como se estivessem dentro de um dos quadros que Annie pintava e Chris amava. “Este é o seu céu”, explica Albert. Quando descobre que Annie cometeu suicídio, Chris quer ir até ela de qualquer jeito e não há como impedi-lo. Albert leva-o à presença de um guia, alguém experiente e capaz de conduzi-lo ao estado de “inferno” psíquico em que Annie se encontrava, juntamente com outros de estado semelhante. Chris será guiado através de uma espécie de inferno de Dante pelo mundo que seria resultado de uma construção psíquica conjunta de seus “habitantes”. O velho e sinistro guia lhe diz: “Você teme o que? Perigo físico?” e adverte que todo perigo ali é – e obviamente só poderia ser – psíquico.
Fonte: encurtador.com.br/bfuG5
A viagem é norteada pela ligação mental entre Chris e Annie, mas é momentaneamente perturbada por uma lembrança de quando, ainda em vida, ele disse ao filho o quanto o admirava, “se eu tivesse que ir ao inferno, não ia querer outra companhia que não a sua”. Percebe então que Albert é na verdade seu filho, que diz ter escolhido aparecer como Albert para ele porque pensou que só assim seria ouvido. Os três atravessam grandiosos cenários de dor e aflição, onde corpos, rostos, seres pálidos se despencam, se amontoam soterrados ou afundam no chão ou na água. Chris pergunta ao guia o que ele fazia na sua vida. Ele responde: “Na última? Eu tinha um trabalho parecido com esse”. “Era psiquiatra” – conclui Chris.
Mostrando grande familiaridade com aqueles caminhos, o guia demonstra tensão e bom humor, como se conhecesse algum belo sentido secreto de tudo que se manifestava ali. Quando se aproximam no local em que estava Annie, uma versão retorcida e sombria da casa deles, espaço mental onde ela havia se sepultado em total alienação, o guia diz a Chris que ele só teria cerca de três minutos com ela antes de enlouquecer. Como enlouqueceria? “Quando a realidade dela se tornar a sua” (compreensão fundamental para todo aquele que comparece diante do sofrimento do outro). Segue-se o esforço se Chris de salvar Annie de seu inferno psíquico, como o fez em vida quando ela estava internada. E a resistência dela ao retorno a si e à consciência da dor.
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Guia do ambiente psíquico em seus vários níveis subterrâneos, o profissional “da mente”, é navegante experimentado porque tem intimidade com sua própria escuridão, a ponto de perceber que essa não é outra que não a escuridão da humanidade. O mitologema do psicopompo faz referência a esse arquétipo que move o psicoterapeuta em geral, como aquele que transita entre os mundos, constituindo, portanto, seu elemento de ligação. Um representante mais explicito é o deus grego Hermes, responsável pela “condução das almas, uma atividade que se estende até mesmo além da vida”.
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Hermes é o próprio devir, “o espírito de uma configuração da existência que sempre retorna nas mais diversas condições”, neste mundo e no outro, pois não transita nos caminhos prontos marcados no chão, mas sim em caminhos outros, por onde passa pairando, volátil, pelos abismos de amores incríveis, ilhas e cavernas. Seu estado “é o de estar sempre em suspenso”. “Tudo ao redor se torna fantasmagórico-improvável para ele”, livre que está para percorrer todos os caminhos levando clareza e alinhavando os mundos. Assim Karl Kerényi (Arquétipos da religião grega) descreve esse mitologema, a quem Bolen (Os deuses e o homem), citando Murray Stein, chama “o deus das passagens significativas”, para evocar o mesmo papel para os psicoterapeutas, em seu caminho fora dos caminhos, além dos mundos, para guiar almas em liberdade de ir e vir entendendo em si próprio o jogo de luz e escuridão como o próprio e natural devir da existência.
FICHA TÉCNICA
AMOR ALÉM DA VIDA
Título Original: What Dreams May Come Origem: EUA Ano de produção: 1998 Gênero: Romance/Fantasia Direção: Vincent Ward Elenco: Robin Williams, Max von Sydow, Cuba Gooding Jr.