Um relato sobre autoestima e transição capilar: meu caminho até o florescimento

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Honrar a nós mesmas, amar nossos corpos, é uma fase avançada na construção de uma autoestima saudável — Bell Hooks

Fonte: Marina Leonova/Pexels.

Creio que a maioria das pessoas em algum momento de suas vidas são atravessadas por questões relacionadas a sua aparência, provérbios populares do tipo “beleza não se põe a mesa”, parece passar a mensagem de que tal atributo não é tão relevante assim no final das contas, porém ainda vivemos em um mundo que valoriza muito a “beleza”, em filmes, livros e na televisão, as histórias são protagonizadas por pessoas consideradas atraentes pela sociedade, em anúncios, belas pessoas posam para atrair o público para consumir aquele produto, e é aí que minha historia começa, crescendo alimentada pela imagem do que era ser bonita, que atributos eu deveria possuir para alcançar o status de uma pessoa atraente, e ter a autoestima abalado ao perceber que essas pessoas não se pareciam tanto comigo, uma questão em especial sempre me perseguiu, o meu cabelo.

Durante a maior parte da minha vida eu odeio meu cabelo, era o dito “cabelo ruim” e rebelde, que precisava ser domado, então sendo assim, busquei durante muito tempo uma fórmula mágica para consertar o que a natureza tão cruelmente tinha feito comigo, ao me dar uma cabelo que não era liso como os das mocinhas que eu admirava na TV, as belas protagonistas de histórias que eu cresci vendo, e além de todas as questões foram internalizadas, por meio da mídia, durante a infância vivenciei diversos episódios que constantemente me lembrava que meu cabelo não era bonito, que era difícil de lidar, volumoso demais, liso de menos, outras crianças eram cruéis com comentários na escola, os adultos não eram menos maldosos, e no topo da lista dos hates do meu cabelo, tinha eu, até que um belo dia em um salão de beleza realizei meu sonho, alisei o meu terrível cabelo, nesse momento eu tinha a esperança de finalmente me senti bem com meu cabelo, mas não foi exatamente isso que aconteceu, porque agora o meu bem estar, e a minha autoestima estava intrinsecamente ligada na conquista do liso perfeito.   

Fonte: Polina Tankilevitch/Pexels.

Horas no salão, na tentativa de encaixar minha aparência no padrão, por meio de inúmeros procedimentos químicos, a “chapinha” se transformou em uma constante na minha rotina diária, além da incansável busca pelo método mais eficaz de alisamento, com o tempo eu esqueci completamente como era meu cabelo natural, e o meu maior terror era quando ele aparecia durante o crescimento da raiz, o contraste entre o cabelo natural e a parte alisada parecia piorar e aumentar toda a raiva que eu tinha pelo meu cabelo. O peso de tudo isso foi no final das contas, minha autoestima em frangalhos, raramente eu me olhava no espelho e me sentia bonita, minha imagem para mim, por meu tempo só seria boa o suficiente se meus cabelos estivesse completamente lisos, o que demandava esforço e trabalho, que às vezes eram recompensados com dores de cabeça, pescoço, olhos lacrimejando e ardendo, e ainda assim, não era o suficiente.   

Com o passar do tempo houve um processo globalizado de mulheres passando por uma tal de transição capilar, deixando seus cabelos crescerem até se livrar completamente da parte alisada quimicamente, a partir desse movimento, a indústria de cosmético aparentemente entendeu que havia uma enorme demanda e procura por produtos específicos para cuidados com cabelos cacheados e crespos, nas redes sociais em ascensão, várias mulheres compartilhavam sua transição capilar, em relatos que se entrelaçavam em questões comuns às outras mulheres que vivenciaram a mesma história que a minha, uma caminhada que compartilhamos entre nós, percorrendo, principalmente o ponto em que o cabelo cacheado/crespo convergia com a autoestima, e a jornada de se descobrir e se perceber bonita com o cabelo natural. Entre muitas coisas comecei a perceber que talvez eu não odiasse meu cabelo, talvez eu tenha aprendido de forma constante a apreciar apenas um tipo de beleza.

Fonte: Ekaterina Bolovtsova/Pexels

Por anos senti a necessidade de modificar a estrutura natural do meu cabelo para me encaixar em um padrão inventado de beleza, acreditando que meu cabelo não era aceitável, muito menos bonito, ao olhar no espelho era incapaz de visualizar beleza em meus cachos, e tinha verdadeiro pavor ao ver minhas raízes se avolumando sobre meus fios alisados, eram horas de intensa arrumação para alinhar todas as mechas e fios, para o perfeito visual liso, em paralelo a isso, havia uma crescente frustração por não ter o que eu desejava tão intensamente, até que em um belo dia eu vi um filme por acaso, a comédia romântica “Felicidade por um fio”, lançado em 2018, nele acompanhamos a jornada de autoconhecimento de uma jovem publicitária, que alisava seus cabelos desde a infância, entendendo as nuances de seu cabelo natural, e vendo a beleza presente naquilo, olhando em direção ao passado, creio que esse foi um dos pontos de partida que plantou uma sementinha na minha cabeça, brotando modificações acerca da ideia que eu tinha sobre a real natureza do meu cabelo. 

Em um dia tão comum como qualquer outro, ao contrário de realinhar as raízes do meu cabelo eu decidi esperar um pouco mais, como quem não quer nada, foi deixando o cabelo natural crescer, e desde então reencontrei um célebre desconhecido, meu cabelo em sua estrutura natural, pois desde muito cedo ele havia sido puxado, esticado, prendido, pois era uma cabelo difícil de lidar, e ainda na minha infância, alisado, então durante a maior parte da minha vida eu não tinha conhecimento real sobre como era aquele cabelo, natural, sem químicas, além das ideias alheias já pré-concebidas sobre ele, então foi durante a transição capilar, a partir desse ponto, que eu finalmente inicie questionamentos e reflexões acerca de certas questões relacionadas ao padrão imposto sobre os cabelos crespos e cacheados, me livrei das minhas próprias idealizações e comecei, ainda que lentamente a apreciar a beleza que havia no meu cabelo natural, a reerguer minha autoestima, e entende que, que aquilo eu acreditei durante a maior parte da minha vida, que preferia e gostava mais do cabelo liso, a realidade que eu vivenciei era outra, eu foi ensinada a achar meu cabelo feio, e isso não era verdade, no final eu apenas nunca tive tempo ou oportunidade de vê-lo florescer e apreciar a beleza que ali sempre residiu. 

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A arte como instrumento terapêutico: um relato pessoal Como a arte pode contribuir para o tratamento psicológico.

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São infinitas as possibilidades de expressão artística. Frequências que ressoam para muito além do que pode ser articulado dentro de um discurso. O que se faz com aquilo que ainda não aprendemos a nomear? Algo há que ser feito a respeito das coisas que escapam às palavras. Como muito bem disse o poeta, “a arte existe porque a vida não basta.” Mas ousaria dizer, sem com isso tentar desmenti-lo, que a arte existe, sobretudo, porque não bastamos a nós mesmos.

Pode ser extremamente desafiador – e espantoso – colocar-se diante da tarefa de enfrentar a própria história. Principalmente dentro de um setting terapêutico. Olhar para nossas lacunas a fim de articular aquilo que nos angustia é trabalhoso, e por vezes se mostra uma tarefa para a qual a linguagem não está preparada, ainda que se proponha a explorar o não-dito, dando significado aos nossos silêncios.

A primeira vez que me dispus a buscar por tratamento psicológico o fiz sob muitas ressalvas e com muita vergonha. Na época o estigma acerca da psicoterapia era maior que o de hoje, e a saúde mental ainda não era tratada como um tema de relevância social – avanços significativos obtidos nos últimos anos, não obstante estejamos longe do ideal.

Apesar da competência e disponibilidade do profissional que me atendia, sentia que avançávamos muito lentamente. Existe sempre uma urgência em nos livrarmos dos sintomas que nos afligem. Existe, sobretudo, uma urgência por descobrirmos aquilo que nos aflige. Eu não sabia dizer. Não queria dizer. Ou não queria saber que sabia dizer. Pode-se alegar aqui que estas são etapas muito naturais de um processo psicoterapêutico – e eu concordo absolutamente. No entanto, o paciente não tem consciência disso, e mesmo que lhe seja advertido resta sempre a dúvida. E a dúvida é sempre um obstáculo que coloca em risco a continuidade do tratamento.

Passamos a procurar por atividades que me despertassem interesse. Interessar-me por algo, na época, era um desafio talvez maior que a dúvida. E diante de minha resistência em me aventurar em novas atividades, optamos por explorar aquilo que um dia já havia me interessado. Livros, comentei. Há muito eu não os lia. Escolhemos algo para ler juntos e conversar a respeito de nossas impressões. Achei interessante. E ao expressar minhas opiniões acerca da história e dos personagens acabava sempre por deixar escapar algo sobre mim. Não é segredo que acabamos por dizer muito sobre nós quando falamos sobre alguém – e não importa que esse alguém seja um personagem real ou fictício.

Assim, passei a tratar de algumas questões minhas através das vidas dos personagens. Era mais fácil. Passei a escrever algumas histórias também, através do incentivo de minha terapeuta. Nessas histórias também apareciam questões sobre mim, ainda que eu não soubesse enunciá-las. A urgência deixou de ser uma questão. E entendi que podia melhorar, mesmo que isso levasse um tempo. A arte me ajudou a sentir, mesmo que ainda restasse muita coisa por compreender. Com o tempo, cheguei à conclusão de que não podia, de fato, compreender tudo. Para algumas coisas não existe mesmo explicação, por mais que nos empenhemos em criar alguma. Isso frustra. E se a arte não nos ajuda a compreender, é uma bela forma de exercermos nossa frustração – esse espanto diante daquilo que é inapreensível.

Ao olhar em retrospectiva, reconheço que esse reencontro com a arte, junto com minha terapeuta, contribuiu imensamente para o meu tratamento. Ele concedeu o tempo necessário para que eu me envolvesse, e para que eu pudesse acreditar que era possível melhorar. Acreditar que é possível é fundamental. No teatro, brincávamos sempre que apesar de terapêutico, o teatro não era terapia. E não é mesmo. Nem precisa ser. Mas é muito importante que tenhamos esses espaços onde se tem a oportunidade de sentir. Espaços onde nos permitimos. Isso pode ser de grande valia para o tratamento psicológico, mesmo que não o substitua.

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A motivação e disciplina me impulsionam a ir mais longe

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Fonte: Arquivo Pessoal

Sou a primeira filha de 7 irmãos, minha mãe fez apenas o ensino fundamental e meu pai nunca frequentou a escola, aprendeu a ler e escrever com uma professora que por um determinado período ia até a casa dos meus avós e ensinava todos os filhos. Porém quando meu pai teve seus filhos fez diferente priorizou a nossa Educação. Comecei a frequentar a escola desde a educação infantil, sempre fui aquela criança comportada, educada, e na maioria das vezes esses tipos de crianças em sala de aula são vistos como bons alunos. 

Por ser uma criança tímida eu raramente conversava em sala, nem sempre entendia o conteúdo que estava sendo ministrado e devido a timidez não perguntava, por vergonha ou até mesmo por medo de julgamentos. Para os meus pais eu era muito estudiosa e inteligente porque não recebiam queixa da escola, e por ouvir isso deles, eu me dedicava para dar o meu melhor nos estudos ano após ano, e foi assim que meus pais reforçaram meu comportamento, com elogios.  

Confesso que isso me marcou muito, pelo fato de ter que sempre me dedicar mais que a maioria da turma, pois todos os dias quando eu chegava em casa precisava rever os conteúdos novamente para tentar aprender e fixa algumas informações, pois eu estava em sala de aula todos os dias, mas apresentava muita dificuldade para aprender no ritmo dos demais, e a estratégia que encontrei para aprender era rever tudo de novo e fazer cópias para tentar memorizar, eu não tinha a habilidade de compreensão leitora bem desenvolvida.

Fonte: Arquivo Pessoal

Naquela época, meus professores das séries iniciais não tinham muito conhecimento e manejo para lidar com alunos com transtorno de déficit de atenção hiperatividade (TDAH) e por ser “quieta e boazinha” do tipo desatenta, fui passando para as séries seguintes. A medida em que foi aumentando a complexidade dos conteúdos eu precisava me dedicar ainda mais para conseguir me manter com notas medianas, devido à dificuldade de concentração, nem sempre conseguia acompanhar o ritmo da turma na escrita das atividades do quadro, então na maioria das vezes eu necessitava pedir uma colega o caderno emprestado para colocar as tarefas em dia.   

Nunca repeti de ano, não porque era inteligente, mas porque sempre fui disciplinada e esforçada, na quarta série do ensino fundamental tive uma professora que se preocupava com toda a turma e ela me deu uma atenção diferenciada, me inseriu no grupo e me ajudou a ser mais participativa respeitando as minhas singularidades, ao final do ano eu era outra criança. Não era a aluna destaque, mas sempre tive notas medianas, porém isso me demandava o meu tempo livre porque todos os dias eu precisava dedicar boa parte do horário para rever os conteúdos. 

Quando terminei o ensino médio decidi que iria fazer faculdade de Pedagogia, para trabalhar nas séries iniciais, pois eu queria ajudar outras crianças comportadas e educadas, mas que como eu não eram somente tímidas, “não conseguiam aprender” no mesmo ritmo dos demais, nem sempre essas crianças são notadas e estimuladas ainda nas séries iniciais, período em que o cérebro está mais propício para absorver estímulos externos por meio de brincadeiras e material concreto e consolidar o aprendizado, mas vale ressaltar que este período não deve ser visto apenas como um tempo único para determinado aprendizado, pois nosso cérebro faz plasticidade e o ser humano absorve conhecimento durante toda a vida, mas em ritmo diferente.

Ao ser mãe procurei fazer com meu filho aquilo que recebi dos meus pais e um pouco mais por ser pedagoga sempre procurei por meio do brincar direcionado estimular o processo de alfabetização e diferente de mim aos cinco anos ele começou descobrir a magia da leitura e desde então os livros e a leitura fazem parte do cotidiano dele, não apresentou dificuldade de aprendizagem, tem facilidade em três idiomas e aos 17 anos estar cursando o último ano do ensino médio técnico em Mecatrônica no Instituto Federal do Tocantins – IFTO.

Desde que comecei a atuar em sala de aula, sempre tinha algumas crianças que necessitavam de uma atenção diferente, de estratégia diferente para aprender determinado conteúdo, umas com laudo, outras tidas como sem limites e enquanto professora me vi na obrigação de ajudá-los, porém nem sempre tinha suporte por parte da equipe escolar e foi aí que comecei a trajetória de pesquisadora, pois sempre tive a preocupação de não me apegar a rótulos, mas de olhar para a criança como um todo. 

Fiz pós-graduação em Neuropsicopedagogia, para entender um pouco sobre as dificuldades e transtornos de aprendizagem e como intervir com crianças típicas e atípicas em sala de aula. Durante as aulas da Pós, mas especificamente na disciplina de Neuropsicologia, despertou em mim uma vontade de entender um pouco mais sobre o comportamento humano, depois de uma década atuando em sala de aula, decidi fazer atendimento clínico às crianças e adolescentes com desenvolvimento típico e atípico. 

A maioria dos Aprendentes que chegam até mim são crianças e/ou adolescentes com muita dificuldade nas habilidades acadêmicas, e por meio do afeto, procuro fortalecer o vínculo e acessá-los a fim de ajudá-los dentro das suas limitações a melhorar as habilidades acadêmicas. Pois estudos apontam que crianças e adolescentes que fazem acompanhamento multiprofissional diminuem o fracasso escolar, possibilitando um melhor desempenho acadêmico.  

Após dois anos de atuação na clínica, percebi a necessidade de fazer Psicologia para entender e trabalhar as dificuldades acadêmicas associadas também ao emocional. Desde que comecei a faculdade muitas coisas na minha vida pessoal e profissional mudaram, pois aos poucos fui desconstruindo alguns preconceitos que por falta de conhecimento, acreditamos que é o mais adequado ou o correto. Atualmente estou na reta final do curso e pretendo continuar nessa busca pois somos seres de e para o conhecimento. 

    

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A exaustão de estudar e trabalhar: relato de experiência

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Meu sonho sempre foi fazer a graduação de Psicologia. É uma área que sempre me fascinou desde que eu estudava no Ensino Médio, mas um sonho que não pude realizar aos 17 anos quando terminei o terceiro ano. O principal motivo foi a condição financeira da época, já que Psicologia era um curso bem caro oferecido apenas por uma faculdade em Palmas em 2015. Naquele ano, fiz o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e passei para outro curso em uma universidade federal.

Cursei por quatro anos em um curso que, até então, não havia imaginado que seria a área que eu gostaria de ter uma carreira. Mas, foi nesse curso que expandi meu conhecimento e minha visão de mundo. Foram quatro anos de grandes aprendizados, descobertas e experiências. A vivência de ocupar esse espaço de ser estudante em uma federal me transformou em todos os aspectos da minha vida. Acredito que tenha sido o primeiro contato real comigo mesma nesse mundo. Foi também a primeira vez que eu trabalhei e estudei ao mesmo tempo. Eram oito horas de trabalho e três horas e meia de aula por dia. Era bem exaustivo e não sobrava muito tempo para fazer outras atividades.

Quando eu me formei, em 2017, voltaram os questionamentos se eu queria, de fato, exercer a profissão, que se misturaram com o sentimento de achar que eu não seria capaz de iniciar no mercado de trabalho. Assim, adiei essa entrada no mercado por mais de um ano e fui trabalhar com outras coisas. Mas, não conseguia afastar de mim o meu grande sonho. No início de 2018 finalmente me deparei com a oportunidade de conseguir cursar Psicologia, que foi quando ingressei no curso ainda na única universidade particular que o ofertava.

Entrar na graduação de Psicologia foi um passo rumo a grande sonho acompanhado de muitas expectativas. Em conjunto com esse sonho, veio também a inserção no mercado de trabalho pela profissão da minha primeira graduação. Com essa junção, os desafios de novas demandas passaram a ser muitos e foi esse o início de outra jornada dupla se repetindo entre trabalho e estudos.

Logo nesse início, me deparei com as dificuldades e a exaustão de estudar e trabalhar ao mesmo tempo. A diferença é que dessa vez era, de fato, o que eu tinha muita sede de aprender. E foi assim desde o primeiro período da minha graduação: vontade de descobrir e aprender tudo sobre a Psicologia. Em contrapartida, as horas que obrigatoriamente eu tinha e tenho que dedicar ao trabalho não me possibilitaram, nem matematicamente em relação ao tempo e nem em questão de esgotamento, dedicar todas as horas do meu dia que eu gostaria para esse projeto de aluna de Psicologia.

Então, também começaram as cobranças pessoais excessivas, frustrações por não conseguir lidar com as minhas próprias expectativas e, claro, as cobranças de produção que uma graduação exige do começo ao fim dos alunos: a rotina de incontáveis trabalhos, seminários, artigos, apresentações, estudos e provas. Em muitos momentos me senti desanimada com o sentimento de fracasso e isso acarretou em crises de ansiedade e medo de não conseguir dar conta de fazer o que deveria ser feito nos 10 períodos da graduação.

Em meio a tantas cobranças, como vivemos em uma sociedade que tem exigido cada vez mais produtividade das pessoas, essa imposição por produtividade contínua me sufocou também na área profissional e me fez ficar travada, estressada e incapaz de produzir inúmeras vezes. A sensação de viver em um looping de obrigações é sufocante e faz com que você se perca até nas coisas que gosta de fazer por simples prazer. No dicionário da Língua Portuguesa, exaustão significa “estado de grande cansaço físico ou mental”.

A jornada dupla de trabalhar e estudar é extremamente exaustiva, não permite que você participe de todos os eventos acadêmicos que gostaria, não dedique o tempo que deseja aos estudos, encontre obstáculos para as atividades complementares exigidas e compromete drasticamente o tempo de descanso do trabalho – essencial para a saúde mental -, o que gera fadiga e torna o dia a dia estressante e desgastante. 

Dentre esses e outros desafios, o mais difícil de enfrentar para mim foi a administração do tempo e os problemas e estresse que a falta dele trouxeram. Junto com essa falta de tempo vieram preocupações que, por muitas vezes, me tiraram o sono, me deixaram ansiosa e não me deram o tempo que hoje percebo o quanto era necessário para que eu pudesse me respeitar e me permitir descansar e fazer coisas que eu gostava sem ser por mera obrigação.

Com todos esses obstáculos no caminho, reviver essa trajetória nessa etapa final me faz perceber o quanto será recompensador passar de uma posição de estudante para Psicóloga daqui a dois meses. Me traz reflexões sobre o quanto foi enriquecedor e a grande recompensa de tanta determinação nesse processo. Valeu muito a pena persistir e me deixou o aprendizado de que não há nada como um grande sonho realizado.·.

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Relato de uma servidora do judiciário tocantinense

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A dificuldade da justiça em combater os instintos violentos do ser humano

Sou serventuária do Judiciário Tocantinense e gestora da 2ª Câmara Criminal. Na Câmara, cumprimos todos os despachos e decisões prolatadas pelos Desembargadores. Alí assiste-se todos os crimes cometidos no Estado, em grau de recurso ou impetração de Habeas Corpus e mandados de segurança, resguardando a garantia dos direitos do cidadão, seja ele vítima (sujeito passivo) ou autor (sujeito ativo) do crime. Cujos crimes, vão dos mais simples aos mais complexos.

Ouvir que a justiça pouco faz para dirimir a violência no país é um discurso corriqueiro entre os indivíduos quando reunidos ou diante de um fato de comoção nacional, no entanto, é a sociedade quem cria oportunidades para alterações nas leis. Elas só mudam, se se provocadas.

Créditos: Rondinelli Ribeiro

É de bom alvitre, definir o que seja crime e violência. Por um lado temos o crime,  um fato típico- tem que haver previsão legal, contido em lei incriminadora e antijurídico, é o comportamento do sujeito o qual descumpre , desrespeita, viola e infringe uma lei penal, reprimida com prisão ou detenção, o qual segundo o Decreto- Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941, in fine:

Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Por outro lado, temos a violência, uma questão social e cultural quando se refere à violência contra a mulher. Violência, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como sendo:

“uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações.”

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay 

Pode-se aferir que a violência seja um indicador social e situação é gravosa e, quando trata-se de crime culturalmente aceito desde o pretérito, torna-se ainda mais complicado em extirpar- lo.  Dentre os tipos dessa violação, elenco a violência contra a dignidade sexual pois, uma vez ser a mais associada ao conceito de violência.

Sendo a mulher e a criança, os agentes passivos dessa infâmia pública e, de forma comum e corriqueira, as pessoas feridas, ainda são alvos do preconceito dos profissionais da justiça e da sociedade, razão esta, que muitas dessas vítimas deixam de denunciarem seus algozes. É o bis idem da dor, são incriminadas por terem sido vítimas de um crime. Desse modo, a sociedade as faz sentirem diminuídas, experienciando novos sofrimentos, levando-as vitimização secundária.

Desses anos de labor no judiciário, sou testemunha dos esforços das vítimas e/ou de parentes, clássico caso Daniela Peres, onde sua mãe Glória Peres , lutou de forma hercúlea, para tornar o homicídio em crime hediondo. É a sociedade movimentando-se para que os legisladores reconheçam e criem mecanismos e normas mais rígidas capazes de coibir os instintos primitivos e violentos do ser.

Somos testemunhas, em especial, da violência doméstica contra crianças e mulheres, antes velada, pela ausência de norma jurídica, hoje explicita, ocorrendo em nome do amor, assim definido pelo autor.

Isto posto, ela faz-se presente de forma contundente nos relacionamentos amorosos, em particular, sendo o agente ativo, pessoas íntimas, que possuem relação de confiança com o agente passivo. Neste rol, envolve-se também, filhos, pais, sogros e outros parentes, pessoas que dividem o mesmo teto e até mesmo vizinhos e amigos.

Irrefutável que a violência doméstica está enraizada sobremaneira na vida social de muitas famílias, e que passa a ser entendida como uma situação normal, “está seguindo o ciclo de violência familiar”, tratam-na como “maldição hereditária”.

Imagem de Ralf Seemann por Pixabay

Nesse diapasão, crianças e mulheres são tratadas como propriedade e objetos pessoais de  seus atormentadores e, para conter o ímpeto em combater a violência contra a criança e adolescente, fora decretada, sancionada e regulamentada a Lei   8.069/1990, ECA- Estatuto da Criança e Adolescente, cujo estatuto é definido como sendo o conjunto o ordenamento jurídico, com objetivos para ofertar proteção dos direitos da criança e do adolescente. A pedra oblonga legal e regulatória dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

A Lei 12.015/09, a qual versa sobre os crimes contra a dignidade sexual contra crianças e adolescentes, veio corroborar com as alterações necessárias às vítimas, quando modificou o texto do   Art. 3o  o  Decreto-Lei nº 2.848, de 1940, Código Penal, o qual fora acrescido os seguintes artigos:

“ 217-A Estupro de vulnerável , 218-A Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente , 218-B “Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável , 234-A- Aumento de pena , 234-B-   Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.” e 234-C- fora vetado em virtude do tipo penal estar previsto no art. 218-B.”

Imagem de Sam Williams por Pixabay 

Os artigos 217-A e seguintes, são os mais corriqueiros nas pautas de julgamento do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins. Antes dessa alteração, o crime de Estupro era próprio, exigia-se a condição de ser mulher para que ocorresse o declinado crime. Com advento dessa alteração essa figura desaparece e uniformiza, todas as crianças que sofrem violência sexual é estupro, seja ele menino ou menina.

Imagem de Alexa por Pixabay 

Corroborando com esse ordenamento, visando menor exposição da vítima, fora estabelecida a Escuta Especializada e Depoimento Especial, Decreto nº 9.603/2018, que regulamenta a Lei nº 13.431/2017, com fundamento em conceder tratamento diferenciado à criança e/ou ao adolescente que é vítima ou testemunha de violência, preservando-lhe a saúde física e mental, visando dirimir os danos para com o desenvolvimento moral, intelectual e social .

Anterior a este ordenamento, a criança e/ou adolescente, vítima ou testemunha de violência, era exposto a repetir a cena e o crime por várias vezes. Seu primeiro depoimento era na Delegacia, a coleta do depoimento era sem o menor critério e zelo pela identidade das vítimas. Logo após, outro depoimento, este acontecia perante o Luiz, Promotor de Justiça, Escrivão, e pasmem, diante de seu algoz. E, não muito raro, a vítima era convocada para novos depoimentos para confirmação dos fatos. Era uma exposição cruel, ilimitada e desnecessária a quem já estava tão ferido.

Imagem de Marcos Cola por Pixabay 

Em virtude dessas exposições e formas desarrazoadas de coleta de provas, muitos depoimentos foram invalidados e concomitantemente, o autor não fora punido em virtude da negativa das vítimas, pois, uma vez estando tete a tete com o autor, suas ameaças tornavam-lhes passivas de serem concretizadas. Vítimas de violência sexual, sofrem as piores e mais cruéis ameaças, haja vista, o autor, possuir relação de confiança e próximo afetivamente da vítima, tais como pai, padrasto, avô, tio, amigo da família e vizinho, estes são os mais clássicos.

Com o advento da Escuta Especializada e do Depoimento Especial, as vítimas são poupadas de quaisquer contatos, mesmo que visual, com o suposto autor ou acusado, e/ou de outra pessoa que lhe traga medo, ameaça, coação ou constrangimento.

Imagem de Mahmur Marganti por Pixabay 

Assisti e acompanhei a luta de uma mulher, para penalizar seu cônjuge por tentativa de homicídio, por ser vítima de maus tratos , dos arroubos e desmande de seu cônjuge , Maria da Penha Maia Fernandes, em 1983, fora vítima de 2 (dois) homicídios, cuja lei recebeu seu nome face à sua incansável luta em punir seu agressor. Sua luta chegou aos portais dos Tribunais  Internacionais, CEJIL (Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional), e CLADEM (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) contra a decisão, proferida em desfavor do conjugue, estavam favorecendo o autor, e pela vítima Maria da Penha à CIDH/OEA (Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos). Primeira denúncia acolhida pela OEA de violência doméstica.

Imagem de Marcos Cola por Pixabay

Decretada e Sancionada a Lei 11.340/2006- Lei Maria da Penha, violência contra a mulher:

“Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.”

Imagem de akiragiulia por Pixabay

Destarte, é imprescindível o entendimento de que a violência doméstica não se resume somente à violência física, o Art. 7º da lei em voga, versa sobre as maneiras diversas de violência, que muitas vezes antecedem o uso da força física, a violência psicológica, a violência sexual, violência patrimonial, moral.

Por tratar-se de crime cultural, muitas mulheres só creem ser violentadas quando há a violência física. E, em nome da união da família, quando não há mais sentido em estarem juntos, justificam-se aduzindo que suas genitoras, avós, passaram por estas situações, “isso é normal”, fator este que dificulta o afastamento e punição do agressor, quando em muitos casos, esse argumento, resultam em feminicídio.

Mesmo sendo declinado a necessidade de regulamentação e implantação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, ainda são poucas as Comarcas que os implantaram. Idealizados para dirimir outros crimes dos agentes públicos, pois, no ato do Registro do Termo Circunstanciados, quando ocorre nas Delegacias de crimes comuns, a mulher mais uma vez, tem que enfrentar situações constrangedoras e violadores de direitos.

Pode -se dizer que outra conquista da mulher, a Lei 13.104/15 – lei do Feminicídio, que alterou o art. 121 do Código Penal, incluindo o aludido termo, usado para o crime de ódio  baseado no gênero, assassinato de mulheres em violência doméstica ou por ter aversão ao gênero da vítima, misoginia,  sendo este uma qualificadora , aumento de pena:

“§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência ; III – na presença de descendente ou de ascendente da vítima.” (NR).

Imagem de Diana Cibotari por Pixabay

Em suma, diante de estudos para aumento de pena, classificar novas qualificadoras para aumentar as penas, recursos usados para incrementar a punição, parece que nada intimida ou retrai o instinto agressivo e assassino dos homens, aqui não de forma genérica e sim, sexo masculino, haja vista o crescente aumento da violência contra a mulher, criança e adolescente.

        Imagem de succo por Pixabay

Confesso, quando do julgamento de alguns crimes, diante de tantas atrocidades contra uma pessoa e, em especial uma criança, não há como não verter -me lágrimas.

Créditos: Rondinelli Ribeiro

 Muitos diziam-me que com o tempo eu deixaria de impactar-me, já se vão quase 30 anos de judiciário, não perdi a capacidade em indignar -me, tampouco de solidarizar com o sofrimento alheio. Pelo contrário, conhecendo a realidade dessa violência, enveredei-me para a graduação em psicologia, para, entender o ciclo da violência e idealizar forma de trabalhos sociais para associar o direito com a psicologia, pois, o direito, quase sempre é draconiano, apenas dirimi os efeitos e as causas não são trabalhadas. Creio que essa geografia da violência, somente será dirimida, quando categorizá-la como questão de saúde pública.   E assim, finalizo meu relato.

 

Referências

 

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988, Disponível  em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art226%C2%A78. Acesso em: 11 março 2023.

                   Decreto  – Lei nº 2.848, de 1940- Código Penal

_________Decreto -Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941.

                   Lei 11.340/2006

                   Lei n° 12.015/2009

                   Lei nº 13.431/2017

SITES ACESSADOS

http://www.bireme.br/

https://www.cnj.jus.br/

https://www.conjur.com.br/2023-mar-11/campanha-stj-reforca-apoio-mulheres-vitimas-violencia- Acessado em 10.03.2023

 

 

 

 

 

 

 

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Sobre aceitação e não aceitação: relato de uma mulher que namora outra mulher

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Eu não me recordo exatamente com que idade eu me percebi “diferente”. Sei apenas que aos 15 anos beijei uma menina pela primeira vez. Para mim foi tão normal, que não me questionei tentando descobrir se realmente era aquilo, se realmente fazia parte de mim. O que eu sei é que, mesmo rodeada de muitas pessoas convencionais e certos costumes que iam contra esse acontecimento, nunca achei errado. Meu pensamento, desde sempre, foi que devemos respeitar as pessoas como elas são. Ainda mais quando elas estão simplesmente amando.

Entretanto, esse primeiro contato foi apenas uma brincadeira, não foi algo que pesou para mim. Quatro anos após o primeiro beijo, conheci uma mulher que despertou em mim sentimentos e desejos. E foi nessa época que eu de fato compreendi que eu tinha a capacidade de desejar uma pessoa do mesmo sexo. De sentir atração. E a partir daí, no auge dos meus 19 anos, iniciei uma luta que começou primeiramente contra a minha própria pessoa e as sensações que transbordavam meu corpo… 

Eram tantas dúvidas que preenchiam a minha cabeça. Será se eu não estaria apenas confusa? Será se eu não estaria sendo influenciada por colegas? Será se Deus se orgulharia de mim? Será que minha família me aceitaria? Será que a sociedade me abraçaria? Será que eu seria capaz de bater de frente contra cada obstáculo? Será se eu mesma me aceitaria? Será que eu tinha maturidade pra entender, me rotular e lutar infinitas batalhas?

Fonte: Imagem retirada do site Pixabay.

Esse arsenal de questionamentos, misturados com a fase de precisar escolher qual faculdade eu teria que fazer e outras tantas mudanças na minha vida pessoal, abalou meu emocional de maneira extrema e cruel. Mergulhei em uma depressão que sugou, por aquele período, toda a minha essência. Eu, que costumava ser tão sonhadora, já não enxergava meus sonhos e um futuro. A problemática acerca da minha sexualidade foi engavetada, afinal, eu mal saia de casa mesmo. Não socializava. O mundo se resumia ao meu quarto. As pessoas geralmente funcionam durante o dia. O meu dia se tornou noite. E assim, por alguns anos, eu me escondi de diversos ambientes e situações e eventos. E evitava me enxergar também. Não somente nos reflexos de espelhos. Eu evitava não pensar, olhar para o meu eu interno e aos poucos passei a ser uma desconhecida para mim mesma. 

O estrago emocional interno foi tão grande que cogitei sumir e de fato tentei desaparecer. Eu sinto como se tivesse chegado ao fundo do poço e não tivesse mais saída. Deixei de conhecer novas pessoas, por receio de me entregar e me envolver em novos relacionamentos. Foi nessas escolhas de privação que cheguei ao meu extremo. Ou ficaria para sempre afundada naquele poço ou sairia em busca da luz, não existia meio-termo. Por essa razão, mesmo sem forças, arranquei todas as camadas e muralhas que havia construído. E hoje posso dizer que a maioria delas está no chão, já não existem.

Fonte: imagem retirada do site Freepik.

No meio do caos, encontrei a força para ser quem eu sou. Comecei a enfrentar batalhas e me aventurar em lutas para defender a minha essência, a minha orientação sexual, a minha liberdade em amar. Não é fácil lidar com olhares de desaprovação, falas maldosas e atitudes por vezes, veladas. Porém, é libertador. Depois de tantos anos na escuridão, em uma cárcere abstrata e atroz, finalmente, arranquei as amarras e me afoguei em um relacionamento que me traz paz, que me move e me faz esquecer tantos medos que antes cegavam. 

Hoje finalmente posso dizer que me aceitei. Minha esperança agora é poder afirmar que cada pessoa que eu amo, cada familiar, cada amigo, as pessoas em geral desse planeta, também me aceitam, mas não dá para vencer tudo de uma vez. Enquanto esse dia não chega, decido a cada novo dia viver a minha verdade, enfrentando os desafios que teimam em surgir.

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Abrindo espaço para as diferenças

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Relato de experiência sobre o encontro entre religião e psicologia

Fonte Agência Brasil


A religião sempre fez parte da minha vida de maneira significativa, eu nasci em uma família que tem valores cristãos como norteadores, e pais pastores; quando criança a maioria das minhas lembranças foram construídas em ambientes como na igreja, retiros e eventos semelhantes, além da maioria das minhas amizades também serem construídas a partir dessa realidade.

Hoje, posso dizer que grande parte do que sou e acredito está baseado nessa construção e nesses valores a mim apresentados desde cedo. Por essa realidade sempre ser a maior parte daquilo que eu vivia, isso nunca gerou em mim conflitos e questionamentos tanto sobre as crenças que eu acredito, como sobre os costumes e pensamentos que carrego durante tantos anos.

Quando entrei no curso de Psicologia, foi um dos primeiros contatos com um meio em que tive a oportunidade de conviver com diversas pessoas que pensam e possuem crenças totalmente diferentes da minha, hoje em dia eu encaro isso como um grande privilégio, mas nem sempre foi assim.

O curso de psicologia é caracterizado pela discussão de diversos temas que podem ser vistos como delicados dentro da sociedade em que vivemos, além disso também é caracterizado pela diversidade de pessoas que optam por estudá-lo, construindo um ambiente de diferentes ideias, pensamentos e crenças. E isso começou a me causar crises de identidade sobre aquilo que eu passei uma vida toda aprendendo.

Teve determinados períodos e matérias que eu comecei a me perguntar se a psicologia realmente era para mim, por achar que para me tornar uma boa profissional teria que abrir mão daquilo que eu acreditava, e isso me gerou bastante sofrimento, em achar que iria me formar e nunca conseguiria atuar, e esse dilema foi crescendo em mim ao decorrer do tempo.

Fonte Agência Brasil

Quando eu entrei no sexto período do curso, comecei a fazer terapia, e lembro que em uma determinada sessão começamos a conversar sobre meus medos como futura profissional, lembro-me de ser a primeira vez que conversava com alguém sobre aquilo que pensei durante tanto tempo, e essa conversa foi essencial para mim.

Naquela sessão eu pude entender como a psicologia realmente funcionava, sem o peso que eu sempre coloquei sobre ela. Eu entendi que a psicologia não era sobre eu abandonar minhas crenças e ter a mesma opinião que meus pacientes, também não era sobre eu conseguir me conectar apenas com pessoas que pensam como eu, pois isso pode ser muito limitador, não apenas como profissional mas também como pessoa.

Comecei a entender que como prática clínica eu posso sim atender e ter um vínculo com alguém que pensa diferente de mim, sempre entendendo que o espaço terapêutico é do paciente e que eu jamais irei induzi-lo a nada, e sim ajudá-lo a despertar nele aquilo que ele pensa ser melhor, pois seria muita arrogância pensar que o diploma conquistado me dá o direito de ditar aquilo que é melhor ou pior para alguém, por fim, quando estava em supervisão clínica escutei uma frase que foi a cereja do bolo que faltava dentro desse processo: “Precisamos nos afastar ideologicamente e nos aproximar afetivamente”, isso abriu os meus olhos para entender as diversas possibilidades que a psicologia nos dá quando nos preocupamos com a pessoa que está a nossa frente e não com as ideologias.

Fonte Agência Brasil

Hoje eu vejo que essa experiência vivida no decorrer do curso me ensinou uma lição muito valiosa, a de que uma das coisas mais incríveis que nós temos na vida é o privilégio de conviver com pessoas que pensam diferente de nós, também pude ver o quanto perdemos quando escutamos o outro sem genuinamente se interessar em conhecer o mundo daquela pessoa e simplesmente como intuito de convencê-lo a pensar como nós.

Em suma, pude perceber que uma das coisas mais valiosas que existe é a diversidade, as diferenças, e quando elas são respeitadas conseguimos ser melhores e tornar o mundo um pouco melhor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Psicologia: O que me levou a trilhar por esse caminho?

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            Fonte: imagem retirada em Pixabay

2019 foi um ano que iniciou de maneira muito difícil. No dia 20 de janeiro tive a terrível experiência de poder entrar para a estatística das pessoas que vivenciam um luto. Percebi que ao perder quem nós amamos, nos tornamos muitas das vezes pessoas sem chão, não conseguindo nem mesmo firmar nossos passos.

E foi assim o meu primeiro semestre daquele ano, não conseguia cumprir minhas metas pessoais, profissionais e nem enxergar de que maneira conseguiria levantar-me daquela situação. Viver o processo de perdas significativas sempre foi uma tarefa muito difícil para mim.

Vivenciar a partida de uma pessoa que era minha amiga, irmã, companheira para todas as aventuras, e saber que não poderia mais abraçá-la, fazer nossas sopas de ervilha, nosso Natal não seria o mesmo sem a presença dela, tudo isso me consumia dia após dia.

Foi em agosto do mesmo ano, em um acampamento de família que vi um anúncio sobre o curso de psicologia da Ulbra/Palmas, e estabeleci para minha vida o início de um novo ciclo. Diante da minha dor do luto, decidi buscar armas para lutar.

Encarar uma segunda graduação, após 12 anos longe de uma sala de aula, diversos sentimentos me definiam como: a insegurança, medo, cansaço, e tantos outros que não consigo nomear.

Os meses foram passando, e pude ver o que jamais imaginei presenciar nos telejornais, redes sociais. Pessoa a nível mundial morrendo por um vírus, muitas famílias sofrendo dor por uma perda irreparável, que não tinha volta.

Eram idosos, jovens e crianças, não fazia escolha de raça, classe social, profissão, mas ia pouco a pouco alcançando a humanidade e de maneira trágica fomos vendo o ciclo fechando e pessoas conhecidas partindo deixando um enorme vazio.

Comecei a compreender que o luto é algo público, em algum momento da vida todas as pessoas passam ou passarão por esse processo. Uns sofrem mais, uns expressam sua dor, chora intensamente, fala sobre o ocorrido, outros nem gostam de tocar no assunto.

Mas isso não significa que não estão vivenciando esse processo, pois cada um possui uma singularidade, expressões, maneiras e costumes diferentes. Assim como nossa impressão digital, assim também são as nossas reações.

Então comecei a encarar minha vida acadêmica com coragem e determinação, vivendo meus processos, buscando conciliar as demandas de casa, os filhos, esposo, mas sempre tentando realizar da melhor forma possível, priorizando o que é necessário e vivendo um dia de cada vez.

Gosto de ler assuntos que envolvem saúde mental, perdas significativas, seja artigo, livros, histórias e observo como as pessoas lidam diante das perdas. Desde os antepassados, perder gera os mais variados tipos de sentimentos na humanidade, mas quase sempre diante de uma perda as reações são as mais diversas.

Seja o fim de um relacionamento, uma empresa que não conseguirá mais manter-se aberta, pessoas que possuíam o nome sem restrição e de repente tudo desmorona e faz parte da lista de negativados, um brinquedo tão especial que quebra, a morte de um animal de estimação, ou de um ente querido.

Buscar entender de que maneira o luto pode afetar a saúde mental, os tipos de luto existentes, sempre mexeu muito comigo. E foi aí que comecei a ter alguns insights de minha missão como futura psicóloga, e o campo que desejo fazer especializações.

Em 2021/1 tive o privilégio de cursar a disciplina de Processos Grupais, onde fizemos a elaboração de um pré-projeto com o nome de Grupo Terapêutico para pais em situação de luto, que me fez compreender mais sobre a dor de pais enlutados.

Quando um dos cônjuges falece, certamente o estado civil passará a ser viúva(o), os filhos ao perderem seus pais tornam-se órfãos, mas quando trata-se de pais que perdem filhos, não existe uma palavra que defina tamanha dor.

Então, em minha caminhada acadêmica no ano 2021/2 tive a terrível sensação de perda, e dessa vez era diferente, pois minha mãe estava viva, mas havia recebido um diagnóstico de C.A em alto grau. A minha sensação era de luto, por não entender o processo que teríamos que enfrentar.

Em dezembro do mesmo ano foi submetida a uma cirurgia. Em Março de 2022 iniciaram-se as radioterapia da minha mãe. Eu não me sentia muito bem, mas não reclamava, pois entendia que a dor da minha mãe era maior.

Nesse mesmo mês após sair de uma aula passei mal e fui internada e logo após submetida a uma cirurgia também suspeita de C.A. no ovário. Eram muitas incertezas dentro de mim, medo, preocupação com a minha mãe, pois era uma das fases mais críticas do seu tratamento.

Durante todo esse tempo fui obrigada a descansar minha cabeça em relação ao tratamento da minha mãe pois nós tínhamos papai que cuidava dela da melhor forma possível. Fazia a comida, levava-a para a realização das sessões de quimioterapia, exames e retornos médicos.

Logo eu já estava na ativa com meus trabalhos acadêmicos, e a minha rotina em busca do meu CRP. Contei com a ajuda de amigos que a faculdade me presenteou durante esse processo muito difícil.

Em agosto de 2022 entrei para o tão sonhado estágio específico em processos clínicos, aguardei muito por esse dia. Após uma semana de treinamento, atendi o meu primeiro paciente, e a noite tive a pior notícia da minha vida, meu pai havia nos deixado em decorrência de um infarto fulminante.

Naquela noite nada fazia sentido, a dor era terrível sem descrição, palavras não são capazes de descrever tamanha dor, por ver mais uma vez a partida de quem amamos. Os sentimentos são os mais variados, mas o que me marcou desde o primeiro momento foi a saudade.

No mesmo mês minha mãe foi submetida a nova cirurgia, estávamos lá novamente no hospital, mas agora em um nível mais pesado, pois aquele que era nosso porto seguro já não estava mais, e continuamos lutando e em luto.

Se eu pensei em desistir? Sim. Mas o que fez a minha caminhada tornar-se mais leve, e continuar minha jornada acadêmica foi o acolhimento do meu professor, supervisor, e mestre Sonielson Luciano Sousa, durante esse processo difícil em minha vida. A maneira que ele transmite através da sua vida uma frase de Jung que diz: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

Atualmente estou cursando o último período, a abordagem que escolhi para ter como base foi a teoria de Carl Gustav Jung, conhecida como psicologia analítica. Buscando compreender os arquétipos, a psique, o inconsciente coletivo e pessoal, e o processo de individuação, onde tudo isso faz muito sentido para mim.

Apesar das lutas, sinto-me em paz com os processos que tenho enfrentado, buscando viver dias mais leves, acreditando que o tratamento da minha mãe está sendo eficaz, lutando pelo meu objetivo que é a minha formação em psicologia.

Vale a pena viver o processo e não desistir diante das lutas. Mas se não der para caminhar, e por algum motivo estagnou. Não se culpe, faça o que der conta e estará tudo bem. Respire, levante a cabeça e prossiga assim que for possível

Quando temos a convicção que estamos no caminho certo, embora surjam os espinhos, pedras, crateras, mas mesmo assim, ainda é possível ver o colorido das flores e o arco íris em dias chuvosos.

 

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A Dislexia nunca me parou!

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O relato de uma pessoa que mesmo com os desafios de um distúrbio crônico, está concluindo a 2° graduação.

Fonte: pixabay; Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, a dislexia é um distúrbio comum e afeta 5% e 17% da população mundial.

Desde criança, sempre tive dificuldades com a leitura e escrita. Lembro-me de ter que me esforçar muito, mais do que meus colegas de classe para entender o que estava escrito em um livro ou para escrever uma redação. Eu sempre fui uma boa aluna, mas muitas vezes me sentia desanimada e desmotivada por causa das minhas dificuldades com a linguagem.  No DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a dislexia é um distúrbio neurobiológico que afeta a capacidade de leitura e escrita do indivíduo. É um problema de processamento de linguagem que pode afetar a fluência de leitura, a compreensão de leitura e a ortografia. Estima-se que é um distúrbio comum e afeta entre 5% e 10% da população mundial. A causa exata da dislexia ainda não é totalmente compreendida, mas estudos sugerem que fatores genéticos e ambientais podem desempenhar um papel relevante.

Simplificando, a dislexia é uma maneira diferente de o cérebro funcionar. Não é um indicador de inteligência. O cérebro disléxico tem dificuldade em reconhecer como sons, palavras e letras são foneticamente colocados juntos. Essa é outra maneira de pensar. Como aluna, não foi fácil ajustar-se a um sistema educacional que não era preparado para alunos com necessidades especiais. Hoje vejo como os testes de ortografia, técnicas de memória baseadas na repetição, leitura em voz alta na sala de aula e testes de avaliação tradicionais poderia ter me auxiliado e lidar a dislexia como vemos hoje, o quanto essas ferramentas são eficazes e contribuem de maneira significativa no ambiente escolar e acadêmico. No entanto, mesmos com todas as falhas e suporte do sistema de ensino, muitos disléxicos ainda prosperam fora da sala de aula tradicional.

Embora as pessoas com dislexia processem informações de maneira diferente, isso também significa que cantamos músicas diferentes quando se trata de alfabetização, memória e concentração. Eu tive que me virar para aprender e passar de ano na escola. Eu sempre tive muita dificuldade em ler palavras em voz alta, entender o que foi lido, soletrar palavras corretamente, escrever com clareza e precisão, dificuldade em aprender rimas e canções, dificuldade em manusear mapas, dicionários e devido todos esses desafios, fui aprender escrever meu nome com uns oito anos de idade, bem mais tarde do que minhas coleguinhas de sala de aula, razões pelo qual me levou a ter sentimentos de inferioridade e baixa autoestima na infância.

Meus primeiros anos na escola foram de constantes desafios, como para qualquer disléxico. Eu era tão má a escrever que na 3ª série, minha professora de língua portuguesa perdia a paciência várias vezes comigo por não conseguir repedir corretamente as letras do caderno de caligrafia.  Outra professora ficou tão frustrada com minha falta de progresso em um problema de matemática que em uma aula jogou o livro em mim e disse: “engole esse livro pra ver se assim aprende”. A dislexia pode afetar a autoestima e a confiança de um indivíduo, bem como o desempenho acadêmico e a capacidade de se comunicar efetivamente, pois essas situações por um tempo me deixaram muito cabisbaixa.

Quando fui diagnosticada com dislexia aos 10 anos de idade pela minha professora no ensino fundamental, finalmente comecei a entender que minhas dificuldades não eram culpa minha. Eu não tive a oportunidade de ser acompanhada por terapeutas, fonoaudiólogos e professores especializados que me ajudaram a desenvolver habilidades de leitura e escrita. Na época meus pais não deram muita importância a esse diagnóstico e acredito que no fundo eles até compreenderam os motivos das minhas dificuldades, mas devido não terem condições financeiras para pagar o tratamento e acompanhamento necessário, eu cresci tendo que me virar e como não tinha noção na época do que de fato era dislexia, toquei minha infância, adolescência, juventude sem levar a sério e aceitar meu transtorno crônico.

O fato dos meus pais não terem se sensibilizado com minhas dificuldades e a escola (minha professora) por mais que tenha mencionado que eu preenchia características de uma criança com dislexia, ambos não tinham informações suficientes, estrutura e estratégias necessários para poder me ajudar a tratar esse um distúrbio comum. Acredito que, meus pais pensaram apenas que “eu não era muito inteligente” e por isso não tentaram encontrar um ambiente de aprendizagem no qual eu me encaixasse. Com isso, as minhas dificuldades foram identificadas, porém negligenciadas e eu acabei concluindo o ensino médio junto com meus amigos do ensino fundamental.

Fonte: pixabay; A dislexia é um distúrbio neurobiológico que afeta a capacidade de leitura e escrita do indivíduo.

Hoje, adulta com dislexia, ainda tenho dificuldades, mas aprendi a lidar com elas. Uso tecnologia assistiva, como um software de leitura de texto, para ajudar com a leitura e tento me comunicar de outras formas quando a escrita é difícil. Considero-me uma boa aluna, trabalhadora e estou orgulhosa das minhas realizações apesar da dislexia. Mas ser disléxico é uma luta constante, e um dos maiores desafios é a dificuldade em ler e escrever. Para mim, ler um livro técnico de psicologia é como decodificar uma mensagem criptografada, e leva muito tempo e esforço para chegar ao fim. A escrita também é um desafio, com problemas de ortografia e de colocação de palavras em ordem e por isso uso muito o dicionário e pesquisa de sinônimos das palavras para me auxiliar nas escritas.

Além disso, vale ressaltar que a dislexia afetou outras áreas da minha vida, não somente a escolar e acadêmica. Às vezes, tenho dificuldade em entender instruções verbais ou em lembrar nomes e datas importantes. Pode ser frustrante sentir como se estivesse sempre um passo atrás das outras pessoas. Outro desafio é o estigma e a falta de compreensão em torno da dislexia. Muitas pessoas assumem que ser disléxico é uma questão de preguiça ou falta de habilidade, o que pode levar a sentimentos de vergonha e inadequação. É importante lembrar que a dislexia é um distúrbio de processamento de linguagem real e que muitas pessoas com dislexia têm habilidades excepcionais em outras áreas.

Apesar desses desafios, a dislexia também pode ter aspectos positivos. Muitas pessoas com dislexia têm uma forma única de pensar e uma habilidade para pensar fora da caixa e encontrar soluções criativas para problemas. É importante lembrar que a dislexia não define quem somos e que podemos superar esses desafios e alcançar nossos objetivos. Todos nós podemos escolher uma carreira diferente, e inclusive se você pesquisar na internet, há muitos exemplos de pessoas com dislexia que teve e tem sucesso profissional. Além disso, o conhecimento sobre o distúrbio ajuda a entender as vantagens de pensar de maneira diferente e passar a se aceitar.

Apesar dos inúmeros desafios de ter dislexia, vale enfatizar que geralmente temos uma imaginação fértil, altos níveis de criatividade, excelentes habilidades de resolução de problemas e habilidades de comunicação inatas, qualidades inclusivas importantes para os empregadores em todos os campos. No entanto, acho que ainda há um estigma em torno da dislexia e outras diferenças de aprendizado. Muitas vezes, as pessoas assumem que é preguiça ou falta de habilidade quando, na verdade, é um problema real de processamento de linguagem. Espero que um dia haja mais compreensão e apoio para as pessoas com dislexia e outras diferenças de aprendizado, para que elas possam alcançar todo o seu potencial.

Morais J.A (1997), menciona que embora a dislexia não tenha cura, é possível levar uma vida normal se você receber apoio especializado desde cedo. O tratamento com fonoaudiólogo e psicólogo pode ajudá-lo a desenvolver estratégias para superar as dificuldades de fala e outros possíveis obstáculos em sua vida diária. A terapia também é importante para tratar possíveis problemas de autoestima, inclusive foi o que me ajudou nessa jornada.

Felizmente no ano de 2020, me tornei estudante de psicologia e em uma das matérias da faculdade, estudamos sobre os transtornos do neurodesenvolvimento, e um deles foi sobre a dislexia, foi aí que a minha ficha caiu. Eu realmente preenchia os critérios de uma pessoa com dislexia, passei a estudar sobre, aprendi estratégias que me auxilia e atualmente apesar dos desafios diários, eu não desisto de lutar.

E finalizo deixando um conselho para os pais: “Se o seu filho está constantemente sendo orientado a esforçar-se mais, a escrever melhor ou a deixar de ser preguiçoso, então talvez seja necessário levá-lo a fazer os testes para o distúrbio de aprendizagem mais comum do mundo.”

Referências

American Psychiatric Association. DSMIV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais.  Lisboa: Climepsi Editores; 1996

PAULA, Teles. Os efeitos psicológicos da covid-19. Palmas-TO. Disponível em <: https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10097/9834 >. Acessado em 22 fev. 2023.

MORAIS J. A arte de ler, psicologia cognitiva da leitura. O ensino da leitura. Lisboa: Edições Cosmos; 1997. p. 241-72.

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