Por Trás da Loucura

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Os loucos, doidos, insanos, sandeus, desassisados, dementes ou alienados mentais, assim eram considerados os portadores de transtornos psicológicos no passado, ditas pessoas que não tinham compreensão sobre si e eram incompreensíveis para os outros. (BENKE; SANTOS; MALACARNE, 2019). Assim como na história da histeria, a loucura já passou por diversos tipos de olhares no passado, modos de se enxergar. Ela perpassa através do tempo por períodos imemoriais, sendo abordada e observada socialmente através das lentes da Filosofia, da religião, da Medicina, em que nesta última pode-se subdividir as maneiras em que se enxergava os considerados insanos. (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014). Afinal, o que é ser considerado um louco? Existiram diferentes concepções do que seria loucura no passado, onde são contextualizadas nas próximas linhas.

A loucura no passado

Os ditos loucos eram tratados de diversas formas dependendo do período em que viviam, as causas da loucura já foram bastante ligadas ao sobrenatural. Uma teoria bastante aceita era de que esse sobrenatural dominasse o corpo da pessoa, a cura da doença seguia pela expulsão do espírito maligno para fora do corpo, e isso consistia em um caminho físico para a saída do espírito. Em tempos antigos, na Idade da Pedra, os achados da arqueologia e antropologia  mostram evidências de uma prática chamada trepanação, essa prática consistia em realizar um furo no crânio do sujeito para que os espíritos assim saíssem do seu corpo. (GLEITMAN; FRIDLUND; REISBERG, 2003).  Na idade média, eles eram considerados como casos de possessão demoníaca, onde haveria duas possibilidades, a possessão do corpo, tomando o controle dele, e a outra, a alteração das percepções e emoções do indivíduo. (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014). Se usava de diversas maneiras para retirar ou acalmar o demônio no corpo de alguém, músicas, orações, e até substâncias que induzem o enjôo e vômito. Nos períodos seguintes, os maus tratos com fins de cura consistiam na submersão na água fervente ou água gelada, no espancamento, em deixar o indivíduo sem ter o que comer e a tortura. “Uma das soluções era a de tornar as coisas tão desagradáveis quanto possível ao diabo, para o levar a fugir.” (GLEITMAN; FRIDLUND; REISBERG, 2003). p.1031). Os tratamentos desumanos que recebiam não faziam com que o demônio saísse ou em outras palavras, o indivíduo se curasse. Por conta dos diversos procedimentos que acometiam o dito louco, seu quadro de saúde acabava piorando, além de serem submetidos a outros tipos de torturas, os que eram considerados com alto nível de periculosidade pela sociedade acabavam sendo mortos (GLEITMAN; FRIDLUND; REISBERG, 2003.

Quando se passa o período da Idade Média, os conceitos defendidos por Hipócrates sobre a loucura prevalecem, de que a loucura tem o delírio como marca da insanidade, “sendo as perturbações intelectuais a condição principal para o diagnóstico da loucura”. (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014, p.124). A loucura vai deixando de ser considerada por grande parte da sociedade como algo que provém de causas sobrenaturais e passa a ser objeto de tratamento da Medicina. Isso inaugurou na Medicina a Psiquiatria como especialidade em 1801, com Tratado Médico-Filosófico sobre Alienação Mental. (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014). Após a saída desse universo que abordava a loucura na visão mágica e religiosa, entrou-se em outro universo onde aborda a loucura como um objeto que tinha causas naturais, uma doença. Mas assim como nos períodos anteriores, a sociedade não tinha e não tem um histórico de simpatia com os ditos loucos, na melhor das hipóteses eles eram considerados como um incômodo, e nas piores uma ameaça, e por isso parecia que poderiam estar numa situação melhor se fossem segregados. (GLEITMAN; FRIDLUND; REISBERG, 2003).

Trepanação – Trepanação. Crânio pré-histórico trepanado, encontrado no Peru. Retirado do livro: Psicologia, de GLEITMAN.

Assim os hospitais específicos foram fundados que tinham como objetivo o “tratamento” da “loucura”, eles passaram a ser construídos em toda a Europa, e sua função era segregar os loucos do resto da sociedade, mas não só os loucos, como também “criminosos, vadios, idosos, epilépticos, doentes incuráveis de toda a espécie e os mentalmente transtornados” (GLEITMAN; FRIDLUND; REISBERG, 2003). Como dito anteriormente, os tratamentos não melhoraram com esse modo de olhar a loucura como doença com causas naturais. Os tratamentos eram bastante desumanos, um relato sobre um dos maiores hospitais para mulheres em Paris no século XIII segundo Gleitman, Fridlund, Reisberg (2003, p. 1032 apud FOUCAULT, 1965, p. 72). As mulheres loucas, com ataques de violência, são acorrentadas como cães às portas das celas e isoladas do pessoal e visitantes, por um longo corredor protegido com uma grade de ferro; por esta grade, passa a comida e a palha em que dormem; parte da imundície que as rodeia é limpa por meio de forquilhas.

Neste período, as pessoas achavam que os loucos eram como animais selvagens, por isso deveriam ser enjaulados por serem considerados perigosos. Assim, alguns hospitais começaram a tratar os pacientes como espetáculos de circo. Eles passaram a ser exibidos e haviam pessoas na época dispostas a pagar por uma visita. (GLEITMAN; FRIDLUND; REISBERG, 2003). Portanto, a história por trás da loucura traz relatos onde se pode ver todos os tipos de tratamento que os ditos loucos recebiam, na maioria das vezes desumanos, onde se causava a segregação, a humilhação, a tortura ou a morte.

A loucura e a extinção dos manicômios

Na Europa e EUA, após a segunda guerra, inicia uma perspectiva mais humanista na forma de tratamento da loucura,  onde surgem movimentos contrários à forma tradicional de lidar com ela. Os movimentos antipsiquiatria se engrandeciam principalmente na França e na Inglaterra. Já no Brasil, iniciou-se um movimento em 1970, a partir da presença de violência em asilos e condições péssimas de trabalho dentro das clínicas e manicômios. A proposta que a loucura trazia tradicionalmente, fazia com que houvesse uma institucionalização dela, e que fosse somente objeto de estudo da medicina fazendo com que o médico fosse  seu guardião. Mas nos anos seguintes, com a reforma caminhando, houve a inserção do psicólogo nas instituições de saúde pública, a desospitalização progressiva, e tratamentos mais humanizados foram ganhando força a partir dos movimentos, em destaque o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental. Com a realização do I Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, fica mais evidente a luta antimanicomial e o progresso nas diretrizes para realizar mudanças. Não só o Psicólogo foi inserido nas instituições, mas também terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, pois o tratamento deveria ser multidisciplinar. (FIGUEIRÊDO; DELEVATI; TAVARES, 2014).

Hospitais Psiquiátricos na Espanha – Obra: (Asilo de Loucos, c. 1 8 1 0, Francisco Goya, Accadernia S. Fernando, Madrid; gentileza do Art Resource). Retirado do livro: Psicologia, de GLEITMAN.

Ainda no Brasil, o fim da era manicomial vai ganhando mais força com o passar dos anos.  Desenvolve-se um jeito de lidar com  loucura em um outro contexto, criando uma maior acessibilidade e atendimento para pessoas que possuem algum transtorno mental severo, e também para que tenham condições de ter uma vida melhor. Logo, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) foram criados para dar um outro tipo de tratamento a essas pessoas. Com o primeiro CAPS inaugurado em 1987 e o NAPS em 1989, as instituições de atenção rompem com a maneira tradicional que entendia o sofrimento psíquico perante as doenças mentais, e traz uma atenção maior ao sofrimento psicológico do sujeito, com enfoque no indivíduo (SURJUS; CAMPOS, 2011).

Os portadores de doenças mentais já sofreram bastante no passado, alvos de humilhações, da segregação e morte, todos esses acontecimentos decorrem da maneira como a loucura era conceitualizada. Os tratamentos selvagens que recebiam tanto pela visão religiosa e mágica como também pelas instituições de tratamento da loucura faziam com que a saúde dos portadores fossem afetadas de maneira mais grave, não ocasionando em uma melhora. Com movimentos realizados nos EUA, Europa e Brasil tentando trazer essa visão mais humana, cria-se no Brasil instituições de atenção voltadas à saúde mental com o progresso da extinção dos manicômios. Tudo isso ocorre em um enorme espaço de tempo.

Portanto, com o fim da era manicomial há um início da desconstrução da imagem dos portadores de transtornos mentais, desconstrução dos tratamentos e um novo conceito de atenção à saúde mental é criado, trazendo mais humanidade e maior qualidade de vida, pois o  louco também é humano.

“Por uma sociedade sem manicômios”.

REFERÊNCIAS 

GLEITMAN, H.; FRIDLUND, A. J.; REISBERG, D. Psicologia. 6º ed. Lisboa, 2003.

BENKE, B. C.; SANTOS, E. S.; MALACARNE, V. I-moral ou (ir) racional: uma visão da ciência do normal ou patológico. Diaphonía, 2019, v. 5, n.1. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/diaphonia/article/view/22783. Acesso em: 08 Jul. 2021.

FIGUEIRÊDO, M. L. R.; DELEVATI, D. M.; TAVARES, M. G. Entre Loucos e Manicômios: História da Loucura e a Reforma Psiquiátrica no Brasil. Maceió, 2014. v. 2 – n.2 – p. 121-136. Nov. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/fitshumanas/article/view/1797. Acesso em: 08 jul. 2021.

LIMA, L. T.; CAMPOS, Silva S. R. O. A avaliação dos usuários sobre os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Campinas, SP. Campinas, 2007. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 14, n. 1, p. 122-133, março 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rlpf/a/JpZJRGK7JZJJFmYHQWsfqvq/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 18 jul. 2021.

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Como e porque as desigualdades sociais fazem mal à saúde

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Rita Barradas Barata apresenta em seu livro “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde”, seu grande interesse e conhecimento sobre o tema. Visto que já tinha como área de trabalho e estudo a saúde coletiva, estruturou esse tópico para coleção “temas em saúde” com dados epistemológicos mais abreviados. Utilizando-se de uma linguagem clara e objetiva, tornou a leitura mais acessível a outros públicos além de profissionais da saúde, discorrendo de forma rica o impacto das desigualdade social na saúde dos indivíduos.

A primeira parte do livro, começa com um esclarecimento do que de fato seria o impacto da desigualdade social no processo saúde-doença. Compreende-se a partir das informações apresentadas que existem muitas explicações divergentes para apontar as causas dessas desigualdades. Entretanto, não se deve focar somente nas explicações simplistas, como uma visão voltada somente para questões biológicas, pois, não se possui argumento suficiente para explicar essa causa. Geralmente, as desigualdades são classificadas como as situações em que algumas pessoas ou grupos estejam vivendo algum grau de injustiça. Torna-se necessário o aprofundamento nas teorias relacionadas ao tema, deixando para trás as explicações reducionistas e de senso comum para melhor compreender as desigualdades sociais em saúde.

As teorias discorridas por Barata, foram: a estruturalista, psicossocial, determinação social e a teoria do ecossocial. A partir deste ponto de vista “as relações econômicas, sociais e políticas afetam a forma como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e, desse modo, acabam por moldar os padrões de distribuição das doenças” (p.20). A autora apresenta um dado importante para o desenvolvimento de sua obra, o marco na saúde em 1988, o qual foi o ano da criação do SUS pela Constituição Federal Brasileira. Ela também reflete sobre um dos princípios do SUS, a “EQUIDADE”, que tem como função dar direito a saúde de forma mais justa a população.

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A autora ressalta que os mesmos caminhos e processos que formulam a estruturação da sociedade são também os que produzem as desigualdades sociais em saúde/doença, em perfis epidemiológicos. Portanto, a explicação para essa questão tem que ser analisada de forma minuciosa como também global, porque surgem através dos processos biológicos, relacionais e culturais. Logo, são expressados através da política, ideologias e poder das instituições existentes que são causadores de inúmeras iniquidades para com determinadas posições sociais.

Para fomentar essa visão, Barata traz o conceito de “classes sociais” de Marx e pesquisas epistemológicas com dados equivalentes à renda, escolaridade e estratificação ocupacional. Essas informações apresentam elementos comprovativos de que a classe do proletariado e sub proletariado tem mais prejuízos quando se fala do processo de saúde-doença, sendo que a taxa pela procura de centro de saúde preventivas são bem menores. Nas palavras da autora, “As desigualdades sociais em saúde podem se manifestar em relação ao estado de saúde e ao acesso e uso de serviços de saúde para ações preventivas ou assistenciais” (p.32).

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Quando se fala nisso, a maioria das pessoas pensam que se o país tivesse um elevado índice de economia, ter-se-ia menos prejuízos na saúde da população. Todavia, Barata demonstra, com muita habilidade, que “a partir de certo limiar os aumentos na riqueza não se traduzem em mais saúde” (p.41). Visto que, fatos epidemiológicos apresentam informações de que apesar de alguns países e municípios aparentarem ter um alto capital econômico, eles possuem distribuição de renda injusta. Isso impacta como um todo os sistemas da sociedade, gerando sempre mais prejuízos aos menos favorecidos, uma vez que, a saúde é fornecida socialmente e as formas como ocorre a organização social são determinantes para que um grupo social seja mais saudável que outros.

O enfrentamento das desigualdades sociais em saúde depende de políticas públicas capazes de modificar os determinantes sociais, melhorar a distribuição dos benefícios ou minorar os efeitos da distribuição desigual de poder e propriedade nas sociedades modernas (p.53).

Em dois capítulos específicos, a escritora aborda com propriedade as categorias de etnia e discriminação/racismo e de gênero. Visto que toda forma de exclusão a determinados grupos, seja por gênero, religião, etnia, orientação sexual ou incapacidade tem como resultado impactos negativos na saúde. Esse impacto reverbera tanto no grupo atingido diretamente como também no grupo social por inteiro que vive num ambiente de práticas opressoras.

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A nossa sociedade está repleta de preconceito e discriminação voltada para os grupos étnicos, contribuindo para que na estruturação social, esses grupos fiquem presentes nas classes médias/baixas. Coordenados pelas classes elitizadas, replicadoras do poder de dominação e repreensão, apresentando uma falsa liberdade de escolha da estruturação da vida a esses grupos, manejo esse, que é conduzido com diversas práticas de iniquidades sociais, que reflete em todos os campos, incluindo na saúde.

Os integrantes dos grupos étnicos ou raciais discriminados sofrem vários tipos de desvantagens, acumulando-se os efeitos da discriminação econômica, segregação espacial, exclusão social, destituição do poder político e desvalorização cultural (p.66).

Para melhor explicar, Rita descreve que: “A maioria das desigualdades sociais em saúde é injusta porque reflete a distribuição dos determinantes sociais da saúde na sociedade, remetendo, portanto, à distribuição desigual de poder e propriedade” (p.55). Logo, quando se tenta explicar as desigualdades não se atinge o objetivo a partir de estudos direcionais dando ênfase somente numa questão específica. Deve-se pesquisar de maneira minuciosa e de forma abrangente por envolver os sistemas estruturais, históricos e culturais.

Os efeitos da discriminação sobre a saúde decorrem de diferentes mecanismos que envolvem a segregação residencial e ocupacional, com aumento da probabilidade de viver em bairros sem acesso a condições mínimas de vida saudável; aumento do risco de exposições a contaminantes ambientais; acumulação das sensações de medo e raiva; aumento de comportamentos insalubres como o consumo de álcool, drogas e tabaco; diagnósticos e tratamentos tardios ocasionados pela menor possibilidade de acesso aos serviços, agravada pela discriminação institucional (p. 67).

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Quando Barata vai discorrer sobre a questão de gênero no processo saúde-doença, ela aponta a importância de utilização do termo “gênero”, nas pesquisas científicas, ao invés, de somente “sexo”, o qual é direcionado exclusivamente ao sexo biológico. Em vista que, gênero abarca diversas características do que pode ser classificado como feminino ou masculino. Ou seja, as relações e posições de gênero é resultado de uma construção social e cultural, dos papéis estipulados como femininos e masculinos e isso impacta na relação saúde- doença. O que vem a explicar o porquê de o índice de mortalidade ser bem maior em homens é a busca por atendimentos nas bases de saúde serem mais realizadas por mulheres.

As desigualdades de gênero no estado de saúde e na utilização de serviços resultam da ação complexa de diversos determinantes que incluem desde a dimensão biológica, com a carga de problemas relacionados à função reprodutiva, até a dimensão política relacionada à divisão do poder na sociedade (p.94).

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Ademais, Barata não poderia deixar de fazer uma complementação da importância que as políticas públicas têm para o enfrentamento dessas desigualdades. Além disso, elenca-se a necessidade de ter um olhar amplo que proporcione mudanças para determinados grupos, fornecendo uma melhor qualidade de vida e saúde. Ao apresentar uma análise de tudo que foi discorrido no decorrer do livro, ela demonstra a complexidade que é descrever, definir e intervir nessas desigualdades sociais existentes na sociedade. Salienta também, a importância de uma postura éticas e voltada para equidade, vindas de profissionais da saúde.

Há uma preocupação crescente não apenas em desenhar e implementar sistemas de saúde capazes de proteger as famílias dos efeitos catastróficos das doenças, mas também em que a atuação dos serviços e profissionais de saúde não aumentem ainda mais as desigualdades sociais, através de ações que estigmatizem ou discriminem grupos de indivíduos segundo idade, sexo, etnia, preferência sexual, religião, condição econômica ou outras características (p.105).

Reconhecer as desigualdades sociais em saúde, buscar compreender os processos que as produzem e identificar os diferentes aspectos que estabelecem a mediação entre os processos macrossociais e o perfil epidemiológico dos diferentes grupos sociais é uma condição indispensável para que seja possível buscar formas de enfrentamento, sejam elas no âmbito das políticas públicas, sejam elas no âmbito da vida cotidiana (p. 109).

Sendo assim, esta obra é incrível para compreender os impactos das desigualdades sociais na saúde, despertando interesse para um possível aprofundamento nos estudos e pesquisas sobre o assunto. Para que, cada vez mais possa ter profissionais que lutem pela causa, de maneira ética, firmes nas práticas que buscam uma mudança na estruturação social e cultural. Inclusive, dando voz e visibilidade as pessoas que sofrem iniquidades, construindo uma sociedade mais saudável e justa, para todos.

FICHA TÉCNICA

COMO E PORQUE AS DESIGUALDADES SOCIAIS FAZEM MAL À SAÚDE

Autora: Rita Barradas Barata
Editora: Fiocruz
Ano de publicação: 2009

Referência:

BARATA, Rita Barradas. Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde [livro eletrônico]. Coleção Temas em Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1° edição, 2009.

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Martin Luther King e seu papel na luta contra o racismo e a segregação nos EUA

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Por conta do movimento abolicionista nos EUA começou-se uma série de conflitos entre os Nortistas e Sulistas que culminaram na conhecida Guerra da Secessão, onde um lado, os confederados (Sulistas) queriam que os negros continuassem a ser escravos, enquanto que o outro lado da União (Nortistas) apoiavam o trabalho assalariado das pessoas negras, contra a escravatura.

A união foi considerada vitoriosa porém, ainda assim haviam movimentos contra os negros, violência explícita, na qual vale citar a seita denominada “Ku Klux Klan” na qual defendia uma supremacia branca e que espancavam e assassinavam pessoas negras até mesmo em plena luz do dia.

Fonte: encurtador.com.br/epDXY

Martin Luther King Jr., conhecido como King, é tido por muitos como o maior líder contra o Racismo nos EUA, mas que é conhecido mundialmente por conta da sua árdua luta pela verdadeira integração dos negros dentro da sociedade americana que sofria por conta da segregação e dos ataques à comunidade negra da época.

King nasceu 1929 em uma família de classe média dos EUA, e teve acesso a uma boa educação, o que era bastante incomum para o negro daquele tempo ter acesso a educação. Martin formou-se em sociologia e em Teologia e seguiu com seus estudos chegando ao Doutorado de Filosofia.

Como pastor, Martin baseou sua luta na fé cristã, da igualdade entre brancos e negros, Luther não pregava ódio contra brancos, ele dizia que as pessoas deveriam ser medidas pela riqueza do seu caráter e não por sua cor. Na sua luta sofreu imensas ameaças, violências e tentativas de assassinato, haviam diversos bombardeios nas igrejas em que os negros frequentavam e inclusive Martin teve sua própria casa bombardeada.

Na América havia a política do “endurecimento” onde pessoas negras eram presas por pequenas violações de trânsito, na maioria das vezes acusados por agentes da lei e portanto Martin Luther King foi preso após ser acusado de andar a 48 quilômetros por hora.

Toda essa situação causava um enorme desgaste psíquico de Martin Luther King, em suas palavras ele disse, “Parecia que todos os meus medos haviam se apossado de mim ao mesmo tempo. Eu tinha chegado ao ponto de saturação.” O líder sofria o pânico diante das reais ameaças contra ele, em contra partida o descontentamento de alguns que abandonavam a causa do Doutor King por conta do movimento sem violência, baseado nas ideias de Mahatma Gandhi.

Muitos daqueles que apoiavam Martin sofriam sérios riscos de vida, eram assassinados, brutalmente espancados sofriam constantes ameaças e racismo explicito, porém King era um grande líder, que inspirava confiança e todos sentiam um grande acolhimento por ele em suas ideias.

Fonte: encurtador.com.br/koBFZ

Seguiam se os protestos pacíficos liderados pelo Doutor King sendo um fato marcante o boicote aos ônibus no qual King foi acusado e preso por liderar pois foi tratado como um boicote ilegal. Em sua autobiografia ele fala sobre essa situação, onde foi decretado sua sentença, porém, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos aboliu a segregação dos negros quanto ao uso de coletivos, na qual Martin descreve que:

“Em circunstâncias normais, uma pessoa saindo do tribunal com uma condenação nas costas mostraria um semblante sombrio. Mas eu saí com um sorriso. Sabia que fora condenado por um crime, mas tinha orgulho do meu crime. Foi o crime de me juntar a meu povo num protesto não violento contra a injustiça.”

Durante uma de suas diversas prisões por seus protestos para derrubar a segregação, Martin escreveu uma carta pedindo aos negros americanos que continuassem a lutar por igualdade a partir de tribunais e não por meio das manifestações. Vale ressaltar que na época haviam pessoas brancas que também apoiavam a causa do Dr. King e que foram presas por esse motivo.

Após tantos protestos e lutas Martin Luther King conseguiu alcançar um grande número de pessoas em todo o país, tendo como fato marcante o seu discurso “I Have a Dream” (Eu tenho um sonho) no qual reuniu cerca de 260 mil pessoas numa passeata percorrendo a alameda onde está o monumento a Washington até o monumento a Lincoln em 1963.

Fonte: encurtador.com.br/ESVX0

Luther King ganhou o prêmio Nobel da Paz de 1964 por sua defesa dos direitos civis e sua liderança na resistência pacífica pelo fim do preconceito racial nos Estados Unidos, tendo sido na época a pessoa mais jovem a ganhar o prêmio (35 anos).

Fonte: encurtador.com.br/hCNX1

Martin continuou com seus discursos, protestos, sua luta pela igualdade de todos, sendo uma figura de grande importância para o fim da segregação. Seu apoio contra a dificuldade em se registrar eleitores negros resultou na assinatura da Lei dos Direitos de voto em 6 de agosto de 1965.

No dia 4 de Abril de 1968 Martin Luther King foi morto por um tiro, na sacada de um hotel em Memphis onde havia discursado um dia anterior, entende-se que a causa de sua morte se deu por motivos racistas, no qual muitos levantam como uma conspiração. Luther King que tanto admirava as ideias de Gandhi teve seu fim de forma semelhante e deixou um grande legado da luta contra o racismo e todas as formas de desigualdade.

Apesar da luta constante desse líder o racismo nos EUA e no Mundo, ainda é grande pauta e, se não fosse um problema ainda da atualidade, não seriam necessários os constates protestos contra as desigualdades que ainda hoje atingem a comunidade negra como por exemplo, as recentes violências policiais contra pessoas de classe baixa e principalmente negras no Brasil e no Mundo.

Por fim é válido citar uma famosa frase do Dr. Martin Luther King na qual diz: “O que me preocupa não é o grito dos violentos, mas o silêncio dos bons”.

Referências:

CARSON, Clayborne. A Autobiografia de Martin Luther King. Editora Schwarcz. Companhia das Letras, 2014.

DUARTE, Irael Alves. “Uma Ad Dos Conceitos-Análise: Liberdade, Igualdade e Justiça no Discurso “Eu Tenho Um Sonho” De Martin Luther King Jr”. 2019.

KING, Martin Luther. As palavras de Martin Luther King. Fount Paperbacks, 1985.

MARTIN, André. Guerra de Secessão. História Das Guerras, 2006.

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Milena: a primeira personagem negra da Turma da Mônica

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A turma do limoeiro já conta com diversos personagens fortes como Luca (cadeirante), Tati (síndrome de Down) e Dorinha (deficiente visual) com o intuito de mostrar às crianças que a diversidade é algo normal e natural.

Mauricio de Sousa apresenta Milena, a primeira personagem negra da Turma da Mônica. A nova integrante apareceu pela primeira vez na Corrida Donas da Rua, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Ela é da Família Sustenido, cheia de atitude e ama música e futebol. A turminha já possuía Jeremias, personagem negro e antigo que nunca havia protagonizado um gibi e que ganhou, no ano de 2018, ‘Jeremias Pele’. Maurício afirma estar corrigindo um erro: não ter dado protagonismo a Jeremias. A turma do limoeiro já conta com diversos personagens fortes como Luca (cadeirante), Tati (síndrome de Down) e Dorinha (deficiente visual) com o intuito de mostrar às crianças que a diversidade é algo normal e natural.

Historicamente, pessoas negras foram segregadas e consideradas inferiores ao resto da população e, por mais que não aparente, em pleno século 21 ainda há preconceito racial. Raça é um conceito apenas biológico para definir categorias de uma espécie, relacionado somente a fatores hereditários, não incluindo condições culturais, sociais ou psicológicas. Portanto, é comprovado cientificamente que não há subgrupos humanos e que o termo correto para se referir a negros e outros grupos é etnia.

Fonte: encurtador.com.br/gmGJN

“Ninguém nasce odiando o outro devido à cor da sua pele. As pessoas aprendem a odiar e, se elas podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar, porque o amor ocorre mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.” – Nelson Mandela

O racismo no Brasil é fruto da escravidão do período colonial e o fato dessa mentalidade perpetuar até os dias atuais deu origem a um racismo camuflado, disfarçado de democracia racial. Tal pensamento é tão perigoso quanto o racismo assumido, declarado e pode se manifestar tanto nos regimes autoritários quanto nas democracias. Se fizermos um balanço de algumas passagens históricas, verificaremos que, por tradição, o brasileiro tem uma mentalidade racista e antissemita. Maurício de Sousa quebra essa cultura e dá voz a uma personagem negra de atitude que mostra que o preconceito é baseado em falsas ideias.

Fonte: encurtador.com.br/hAK09

Nelson Mandela, líder ativista e ex-presidente da África do Sul lutou contra o apartheid, regime segregacionista. A África do Sul era governada por descendentes dos colonizadores ingleses que marginalizavam a população negra através de leis que regulavam o “lugar de branco e o lugar de negro’’. Nelson é um exemplo de amor que tentou e conseguiu mostrar ao mundo que a única diferença entre um negro e um branco é a cor da pele.

Fonte: encurtador.com.br/vKSY6

Logo, Mauricio de Sousa traz, através da Turma da Mônica, uma garota empoderada que luta contra o preconceito e passa a mensagem de igualdade e amor. A preocupação do cartunista em retratar temas tão importantes para crianças é admirável, uma vez que desconstruir o preconceito desde cedo é uma forma linda de espalhar mais amor e menos ódio.

 

REFERÊNCIAS

AZEVÊDO, Eliane. RAÇA Conceito e preconceito. São Paulo: Ática S.a, 1990.

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O racismo na História do Brasil. São Paulo: Ática S.a, 2003.

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Pesquisa inédita mostra efeito da segregação residencial na hipertensão e diabetes

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Estudo foi realizado pela Fiocruz e mais cinco centros de pesquisa do país

Uma pesquisa inédita realizada pela Fiocruz e mais cinco centros de pesquisa do país revela que indivíduos que moram em vizinhanças mais segregadas economicamente – locais com maior concentração de responsáveis pelo domicílio com renda menor do que 3 salários mínimos –  têm 26% mais chance de apresentarem hipertensão e 50% mais de desenvolverem diabetes, comparados a pessoas que residem em áreas menos segregadas. O estudo foi publicado agosto na Social Science & Medicine, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo.

A população analisada, de 10.617 indivíduos, é participante do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), investigação longitudinal composta por funcionários de seis instituições públicas, entre elas a Fiocruz, que tem como objetivo investigar a incidência e os fatores de risco para doenças cardiovasculares e o diabetes tipo 2, incluindo determinantes sociais, ambientais, ocupacionais e biológicos.

“Até onde conseguimos identificar, esses são os primeiros resultados de estudo epidemiológico brasileiro de grande porte a demonstrarem a associação entre a segregação residencial e condições relacionadas à saúde. Além disso, incorpora o contexto de moradia à etiologia da hipertensão e diabetes, normalmente relacionada somente a características individuais como idade, obesidade e história familiar”, afirmou Dóra Chor, autora senior do artigo, pesquisadora da Fiocruz e membro da coordenação do estudo na instituição.

Os resultados, ressalta a pesquisadora, sugerem que a segregação econômica, presente na vizinhança, está associada a uma maior prevalência de hipertensão e diabetes, independentemente de características individuais como idade, renda e escolaridade. Além disso, comparados aos brancos, participantes pretos e pardos moram mais frequentemente em vizinhanças com maior nível de segregação e apresentam maior prevalência de das duas doenças

De acordo com o estudo, além da periferização da parcela mais pobre da população das cidades brasileiras, a segregação residencial significa segregação econômica e social. Em numerosas situações, vizinhanças altamente segregadas são completamente excluídas do acesso ao trabalho formal e infraestrutura pública que são indispensáveis à saúde e bem-estar.

Segundo o Ministério da Saúde, em 2012, 30% de todas as mortes no Brasil foram atribuídas a doenças cardiovasculares, fazendo dos fatores dos riscos cardiometabólicos, como hipertensão e diabetes, um grande problema de saúde pública. 

Fonte: goo.gl/RfXAHP
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Histórias Cruzadas: uma reflexão acerca das relações familiares

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Histórias Cruzadas, originalmente “The Help”, estreou no ano de 2012 sob direção de Tate Taylor. O filme se passa na cidade de Jackson no estado norte-americano do Mississipi, por volta da década de 1960 e ilustra a realidade das empregadas domésticas negras que trabalhavam para famílias brancas, em meio ao cenário de intensa segregação racial e luta por direitos civis da época. As profundas raízes do preconceito oriundas do passado escravista no sul dos EUA (que afetam essa sociedade até os dias atuais) são retratadas na trama por meio das relações entre as empregadas domésticas e seus trabalhos para casas e famílias de mulheres da alta sociedade, permeadas por abusos e humilhações.

Skeeter (Emma Stone) é uma jovem que sonha em ser escritora. Recém formada, consegue um emprego em um jornal local escrevendo uma coluna sobre conselhos de limpeza. Mesmo tendo crescido em Jackson e pertencendo a alta sociedade, Skeeter difere das mulheres de sua idade, não demonstrando interesse em casar ou ter filhos e principalmente porque tem uma sensibilidade para com a realidade de segregação, desigualdade e preconceito à qual se encontra. Para escrever a coluna, Skeeter pede ajuda a Aibileen (Viola Davis), a empregada doméstica de sua amiga, que é uma das protagonistas do filme e enriquece a narrativa com seu ponto de vista.

Contudo, novamente em contato com a realidade de sua cidade, a jovem se sente incomodada com a realidade dessas mulheres, e decide tentar escrever sobre suas histórias, frente a uma realidade onde mulheres negras literalmente criam filhos que não são seus, limpam, passam e cozinham, por salários baixíssimos e tendo sua liberdade e honra desconsideradas. Essas mulheres nunca haviam sido respeitadas por pessoas brancas, muito menos ouvidas. Devido ao contato das empregadas domésticas com a criação das crianças nas famílias para as quais trabalham, um ponto muito importante nessa película são as relações familiares nessa sociedade. As mulheres negras, tratadas como objetos, trabalhavam na criação das crianças enquanto os pais se ocupavam em outras tarefas. Essa contradição aflige quem assiste ao filme, pois apesar do repúdio pelos funcionários, a conveniência em não se ocupar com as crianças fala mais alto, mesmo à custa do amor dos filhos.

Porém, Skeeter encontra dificuldades em seu novo projeto, uma vez que a realidade de opressão às pessoas negras se intensifica com a luta pelos Direitos Civis e a Liderança de Martin Luther King, que cresceram consideravelmente a partir do ano de 1957 (PURDY, 2011). Devido ao medo as mulheres se recusam a falar, e Skeeter se vê intimidada pela sua família e amigos. Segundo Sarti (2015), as experiências vividas e simbolizadas nas famílias têm como referência definições que são socialmente instituídas por diversos dispositivos disciplinares, e por isso são particularmente difíceis. A sociedade fortemente dividida entre pessoas brancas e negras, também engloba aspectos políticos, econômicos e culturais, tornando até o contato entre as personagens um motivo de estranheza.

Na esperança de mudança e justiça motivada pela sua fé, Aibileen decide contar suas histórias a Skeeter. Agigantada pela atuação de Viola Davis, Aibileen é uma das personagens mais complexas dessa trama. Em um estado depressivo após a morte de seu único filho, a personagem emociona em todas as cenas em que descreve o que viveu, além de demonstrar sua bondade com as crianças que criou. Para Sarti (2015), as mudanças familiares têm sentidos e incidências diferentes em cada família, devido ao acesso desigual a recursos na sociedade de classes. Aibileene possuía uma ligação afetiva com seu filho diferente do modelo familiar das pessoas para as quais trabalhava, por exemplo.

Segundo Sarti (2015), em famílias pobres, a noção de família se baseia em um eixo moral, que tem fronteiras traçadas segundo o princípio que lhe dá fundamento (obrigações), estruturando suas relações. Desse modo, na relação que Aibileene teve com seu filho, ela encontra a coragem para se tornar o tão esperado “escritor” da família. Após a prisão de uma empregada doméstica mãe de família, ocorre uma mobilização geral e Skeeter finalmente consegue todos os depoimentos para seu livro intitulado “The Help” (A Ajuda), que é publicado e causa revolta geral nas patroas da cidade. De acordo com Sarti (2015), os meios de comunicação constituem um veículo fundamental para a instituição dos discursos dos dispositivos disciplinares, que delimitam os modelos de como deve ser a família e sociedade. O livro se torna, portanto, a voz de suas escritoras contra a opressão social.

Devido à polarização racial, modelos éticos também eram difundidos entre as camadas sociais. O modelo familiar em que Skeeter foi criada, que no filme é representado por personagens como Hilly e Elizabeth, é baseado em estruturas sociais mais rígidas, que na idealização daquela comunidade, deveriam ser mantidas. Essa situação pode ser ilustrada no Conselho formado por mulheres da alta sociedade e também na pressão para que Skeeter encontre um marido.

O discurso social a seu respeito, como um espelho, reflete nas famílias, passando por uma tradução de acordo com as experiências vividas, onde esses discursos externos são internalizados (SARTI, 2015). A influência desses discursos sociais de origem familiar culminam no cruzamento de histórias, como o próprio nome do filme delata. Skeeter contraria e modifica a visão de sua família; Hilly não suporta ser exposta por quem considera inferior, manipulando suas amigas; e Aibileene e Minny encontram a força para lutar e ganhar voz para mudar suas realidades.

Dessa maneira, Histórias Cruzadas é um filme emocionante, que eleva os desejos de justiça e igualdade de quem assiste. Assim como em “12 Anos de Escravidão” (2014), “Django Livre” (2012), “Mississipi em Chamas” (1988) e recentemente “Estrelas Além do Tempo” (2017), a trama retrata as barbáries cometidas com base em discursos sobre a cor da pele de alguém. Por meio do filme pode-se perceber como os discursos sociais são construídos e concretizados pelas famílias em diferentes concepções e modelos, engrandecendo a visão sobre influências desse âmbito da vida social, através de um panorama histórico.

Com uma sensibilidade incomum, Histórias Cruzadas demonstra como atos de coragem podem mudar a realidade em que se vive por mais desesperançosa que seja. A trama honra a memória de tantas mulheres, negras e empregadas domésticas, que nunca puderam falar, e inspira os espectadores a lutar contra a desigualdade e o preconceito.

 REFERÊNCIAS:

PURDY, Sean. Direitos civis e contracultura nos EUA – Apresentação. ANPHLAC- Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://anphlac.fflch.usp.br/direitos-civis-eua-apresentacao>.  Acesso em: 05 de Mai. 2017.

SARTI, Cynthia A. Famílias enredadas. In: ACOSTA, Ana Rojas; VITALE, Maria A. F. (Org.). Família: Redes, Laços e Políticas Públicas. . 6. ed. São Paulo: PUC SP CEPEDE, Cortez Editora, 2015, p. 31-44

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Diretor: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Jessica Chastain, Viola Davis, Bryce Dallas;
País: EUA, India e Emirados Árabes Unidos
Ano: 2011
Classificação: 12

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