A série brasileira “Elize Matsunaga – Era uma vez um crime” é um documentário televisivo original da Netflix em parceria com a produtora Boutique Filmes, dirigida por Eliza Capai. A produção lançada em julho de 2021, tem conteúdo com censura 14 anos, melancólico focado, especialmente, nos sintomas psicológicos e jurídicos da autora confessa de um dos crimes mais impactantes da história recente do país ocorrido em 19 de maio de 2012.
Figura 1 – (Crédito: Reprodução/Netflix)
A série explora fotos e vídeos de conteúdo intimista do antigo casal, apresenta vasto material jornalístico veiculado à época do julgamento, as falas de amigos, familiares e de especialistas sobre o caso oferecendo, e, por fim, destaca-se por conter muitas horas de declarações diretas de Elize tomadas durante uma saída oficial do ressesso de páscoa da prisão de Tremembé em 2019, falando em primeira pessoa, com iluminação e enquadramentos ajustados para fazer audiência sentir-se em frente a ela, olhando nos olhos, com expressiva proximidade.
Os episódios da série são: 1 – Estado civil: viúva; 2 – Uma vida de princesa; 3 – A infeliz ideia de Eliza e 4 – Ecos de um crime.
Figura 2- (Crédito: Reprodução/Netflix)
São apresentados temas de muito relevo para a psicologia e psicanálise, sadismo, masoquismo, depressão, e psicopatia foram conceitos diversas vezes mencionados pelos que tentavam enquadrar e compreender a subjetividade complexa da autora do crime bárbaro.
No julgamento, tanto a defesa como a acusação fundavam seus argumentos e aspectos psicológicos relativos a Elize. Os primeiros arguiam que a pena do crime deveria ser afastada, atenuada ou reduzida, pois no momento que atitou no marido, e esquartejou o corpo dele e o transportou em malas, ela não respondia por suas ações, pois estava tomada por violenta emoção.
Segundo a defesa, a autora do crime teve uma crise de ansiedade decorrente de longo período do medo que sentia de ser machucada e morta pelo marido, e tal medo estaria justificado no longo período de violência psicológica sofrida por ela contexto do casamento.
Já a acusação também faz uso da psicologia para pedir aumento da pena de Elize, que teria cometido o crime por motivo torpe, por mero ciúme e a associa a figura estigmatizada da mulher que deseja ser Cinderela, e ter “uma vida de princesa”, deixar as raízes humildes e ascender socialmente por meio do casamento do qual ela não estaria disposta a abrir mão.
Figura 3 – (Crédito: Reprodução/Netflix)
Neste contexto, entre argumentos de defesa e de acusação as personalidades de Elize e do marido assassinado tornam-se objeto de diversas discussões e especulações ao longo da série num esforço de compreensão e categorização da barbárie.
Como exemplo, tem-se a apresentação ao público de “fatos novos” que poderiam justificar para o público os comportamentos de Elize. Isso porque, foi descrito o impacto da morte prematura do pai na história dela. Foram retratados a vida difícil em termos de condições materiais que a família enfrentava e o contexto rural e muito rústico que ela viveu a infância e adolescência.
Além disso, tem-se um possível abuso sexual que ela teria sofrido aos 15 anos, perpetrado pelo padrasto e que teria marcado profundamente sua subjetividade e, por fim, a experiência vivida como profissional do sexo que a levou a sair do contexto familiar e a conhecer o futuro marido.
Por fim, vale destacar a releitura feminista que a série se propõe a fazer tanto do crime em si questionando diversos pontos de pré-conceitos ligados ao fato de a autora ser uma mulher, ter sido profissional do sexo e ter agido motivada por ciúmes, destacando, ainda, diversos casos famosos como o de Ângela Dinis morta pelo marido nos anos 60. O crime de Elize teria o mesmo fim caso fosse cometido por um homem? Fica a dúvida necessária e o convite à reflexão.
FICHE TÉCNICA
Elize Matsunaga – “Era uma vez um crime”
Ano produção: 2021
Dirigido por Eliza Capai
Classificação – Não recomendado para menores de 14 anos
Gênero: Documentário
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Breve histórico do lúdico como prática psicopedagógica e a sua importância na construção subjetiva da criança
Antes de abordarmos a história do lúdico, é importante frisarmos a origem da palavra, lúdico vem da palavra latina “ludus” que tem significado “jogo” (LEAL, 2011). Ao entendermos o significado da palavra, podemos verificar que ele nos leva a pensar em jogos, brincadeiras e o ato de brincar de maneira espontânea, porém não podemos esquecer de abordar que o lúdico foi distinguido como “traço essencial de psicofisiologia do comportamento humano” (LEAL, 2011).
E dessa forma a definição vai muito além de jogo, brincadeira ou algo semelhante, pois o lúdico traz em si valores e significados específicos para todas as fases do processo de desenvolvimento humano, ele traz valores que abrangem todo o ciclo vital (LEAL, 2011).
Antunes (2005) descreve que o processo lúdico e suas necessidades vão muito além do que o brincar espontâneo aborda e cobre, ainda vemos que Neves (2009) diz que a criança e o jovem podem apresentar resistência em ir à escola e em relação ao processo de ensino quando tais não demonstram a presença do lúdico, pois dessa forma não se mostra prazeroso, então não tende a prender a atenção e o interesse dos alunos sendo jovens ou crianças.
Carneiro (1995) denota sobre algo muito importante ao trazer que “todas as pessoas têm uma cultura lúdica, que é um conjunto de significações sobre o lúdico”. Podemos perceber que a cultura lúdica é construída de forma individual e subjetiva por cada um, não existindo uma receita ou fórmula única para todos, mas cada um a constrói a sua maneira e de um jeito único de cada indivíduo.
A cultura lúdica não é estática e imutável, mas ao decorrer da história ela se modificou e sofreu inúmeras alterações ao longo das transformações enfrentadas na sociedade, sendo assim, ela não se manteve de forma única sempre nem se manteve inalterável ao longo das épocas vividas, além de que o lúdico é manifesto de diversas maneiras e desde a época primitiva através da dança, luta, pesca e caça (ANTUNES, 2005).
Fonte: encurtador.com.br/eiE69
Desde a Grécia antiga existem relatos vindos de Platão que diziam que durante os primeiros anos de vida, a criança deveria ocupar seu tempo com jogos, porém é com o advento do cristianismo que os jogos caem em desuso por serem considerados profanos e pecaminosos, livres de significantes relevantes e pertinentes dentro do contexto cristão. Dessa forma podemos notar a gritante diferença entre a forma como o entendimento de jogos e brincadeiras no contexto da Grécia antiga onde era bastante valorizado e estimado, e ao transitar para algo sem valor a partir da concepção trazida pelo cristianismo.
Entretanto foi novamente a partir do humanismo que os jogos educativos voltaram a ocupar espaço e valor, pois novamente foram percebidos e considerados importantes dentro do processo lúdico pelo qual a criança está inserida durante a sua formação (ANTUNES, 2005).
Podemos encontrar outros teóricos no século XVI que também naquela época já falavam sobre a relevância do lúdico no processo educativo das crianças, e inclusive pesquisadores da área da educação também trabalhavam em cima dessa problemática, e nos Estados Unidos, Dewey considerava que o jogo poderia ser atrelado à vida, tornando-se seu habitat natural, onde ela aprender a viver, e Piaget também ressalta o quão valiosos os jogos e brincadeiras são para o processo de desenvolvimento intelectual da criança, pois eles vão muito além de uma forma de entretenimento infantil ou uma forma de distração para crianças (ANTUNES, 2005).
Por isso devemos nos atentar para a enorme importância do lúdico dentro do âmbito da saúde mental da criança e do ser humano em si, considerando a relevância dos pais se atentarem para tal e os educadores também, pois é onde a criança pode expressar-se livremente da maneira como ela entende o mundo, sente o mundo e as pessoas, e os objetos também (LEAL, 2011).
O lúdico possui grande valor para o processo de desenvolvimento da criança e não pode ser esquecido ou desmerecido, pois a partir dele, a criança terá mais uma ferramenta e mecanismo para se expressar e para manifestar suas questões pessoais sobre ela mesma, sobre o mundo e da forma subjetiva como ela percebe às coisas naquele momento da vida.
Fonte: encurtador.com.br/imRSW
De acordo com Silva (2015), o Brasil não possui estudos sobre a evolução dos brinquedos, porém podemos pensar no brinquedo dentro da sociedade francesa para entendermos um pouco de como era no Brasil, visto que fomos colonizados por povos europeus. Sendo assim, na França verificamos que a evolução dos brinquedos está intrinsicamente ligada aos grandes períodos da civilização ocidental, considerando o que era vivido na Grécia e em Roma a respeito da importância que o brinquedo possui para aqueles povos na época (SILVA, 2015).
Reforçando o que foi mencionado anteriormente, Platão (1948) foca e enfatiza bastante a importância de aprender brincando ao invés de aprender por um viés violento e opressor, pois desde aquela época, ele trabalhava o ensino de matemática de uma maneira lúdica, que nos dias atuais é bastante utilizada.
Onde Platão estudava e ensinava matemática com base naquilo que estava presente no contexto da criança, fazendo relação com questões e problemas concretos provenientes da vida, onde a criança estudava e aprendia matemática num grau elementar onde estava presente o jogo como uma forma de atrair a criança.
E o filósofo Aristóteles menciona que a educação infantil deve ser realizada através da utilização de jogos que imitem e reproduzam a vida adulta, as ocupações e as atribuições que o adulto carrega e exerce, de modo que a partir disso, a criança pudesse ser preparada para crescer e preparada para torna-se adulta e enfrentar a vida adulta, pois já iria possuir uma noção básica sobre tal (KISHIMOTO, 1994).
Podemos verificar que em Roma, os jogos já possuíam outra finalidade, eles eram praticados com a intenção e o objetivo de formar soldados e cidadãos obedientes e devotos, pois naquela época as crianças possuíam uma educação que abordava as questões físicas as questões englobadas com as de cunho estético e espiritual (KISHIMOTO, 1994).
Sobre isso, Kishimoto (1994) denota que:
“Posteriormente, parece que a prática de aliar o jogo aos primeiros estudos, justifica que as escolas responsáveis pelas instruções elementares tenham recebido nessa época, o nome de ludus, semelhante aos locais destinados a espetáculos e a prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito. A partir do século XVI, os humanistas começaram a perceber o valor educativo dos jogos, e os colégios Jesuítas foram os primeiros a recolocá-los em prática. A partir do momento em que o jogo deixa de ser objeto de reprovação oficial, incorpora-se no cotidiano dos jovens, não como diversão, mas como tendência natural do ser humano. Rabelais e Montaigne compartilham desse ideal, denunciando a crueldade e os castigos corporais dos tempos medievais. (KISHIMOTO, 1994).”
Fonte: encurtador.com.br/lyIV3
O autor pontua que os colégios de jesuítas foram uns dos primeiros a perceber a importância do lúdico na educação infantil, após a idade média e incorporaram à sua rotina, em contraponto com os séculos passados, na idade média, onde qualquer desvio de comportamento era imediatamente punido com castigos físicos.
O que chama bastante a atenção nos ocorridos do século XVI, foi a fundação do instituto dos Jesuítas Inácio de Loyola, que foi um militar e parte da nobreza da época, e lá são percebidos os primeiros sinais da importância dos jogos de exercícios dentro do processo de formação do ser humano, e trata de forma antecipada o seu uso dentro do sistema educacional e a organização do mesmo.
Porém, foi através da intervenção do exercício feito de maneira lúdica que as crianças substituíram o ensino escolástico, que consistia na conciliação ensinamentos cristão com o pensamento racional, e o ostracismo, que era o exilio após o cometimento de algum erro, e tais tipos de ensino foram substituídos pelo emprego de tábuas murais (SILVA, 2015).
No período do Renascimento, o exercício físico era bastante considerado e com grande valor, sendo eles: “exercícios de barra, corridas, jogos de bola parecidos com o futebol e o golfe são comuns” (SILVA, 2015). Foi nesse período que o jogo de cartas educativos foi criado por um frade franciscano chamado Thomas Murner, que possuía o objetivo de conduzir o ensino da filosofia.
E também ao decorrer do século seguinte os jogos com finalidade educativa ganharam ainda mais espaço, pois eram considerados importantes para o processo de compreensão e entendimento. E o aparecimento do movimento científico amplia os jogos que a partir disso tornam-se inovações científicas no século XVII (SILVA, 2015).
Foi no século XVII que ocorreram as publicações da enciclopédia, que fomentaram o surgimento de novos jogos, e os jogos se tornaram ainda mais populares, principalmente os jogos de cunho educativo (KISHIMOTO, 1994).
Fonte: encurtador.com.br/bqK48
Silva (2015) cita alguns acontecimentos também bastante importantes na história do lúdico:
“Segundo Emílio, em Rosseau demonstrou que a criança tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhes são próprias, demonstrou que não se aprende nada senão por meio de uma conquista ativa. Áries (1986, p. 177), a infância, entendida como período especial, traz em decorrência a adoção de práticas educativas que prevalecem até hoje. A criança passa a ser vista de acordo com sua idade, brinca com cavalinho de pau, piões e passarinhos, tem permissão para se comportar de modo distinto do adulto. Com o termino da Revolução Francesa, no início do século XIX acontece o surgimento das inovações pedagógicas com Rousseau, Pestalozzi e Froebel, que aponta duas facetas nos brinquedos: o objetivo e a ação de brincar. A ação do sujeito, a relação estabelecida pela inteligência, que julga relevante para o desenvolvimento infantil. Segundo Pestalozzi (1827-1946), a escola é uma verdadeira sociedade, na qual o senso de responsabilidade e as normas de cooperação são suficientes para educar as crianças, e o jogo é um fator decisivo que enriquece o senso de responsabilidade e fortifica as normas de cooperação. Froebel (1782-1852), discípulo de Pestalozzi, estabelece que a pedagogia deve considerar a criança como atividade criadora, e despertar mediante estímulos, suas faculdades próprias para a criação produtiva.” (SILVA, 2015).
Silva, neste comentário, aponta que a criança aprende melhor a partir de uma “conquista”. Ou seja, ela se apodera do conhecimento, por vontade própria, e não passivamente. Também o autor traça um lineamento histórico, desde o término da Revolução Francesa, onde começaram a surgir as primeiras inovações pedagógicas, e também o conhecimento de que a partir do brincar a criança enriquece seu senso de responsabilidade e também aprende a cooperar de forma mais efetiva.
Porém foi no século XX que a psicologia infantil surgiu através da elaboração de pesquisas e teorias que tratam que tratam a respeito da relevância do ato de brincar dentro do processo de construção de representações infantis. Foi nesse período do século XX que surgiram pesquisas de cunho psicogenético provenientes de Piaget, Bruner e Vygotsky que iniciaram as primeiras atividades de caráter curricular dos novos tempos (KISHIMOTO, 1994)
Nessa fase aconteceram vários estudos que atrelavam a influência do contexto dentro do comportamento humano, mostrando como o ambiente do qual o indivíduo faz parte o influência dentro da sua formação e dentro do seu desenvolvimento (LEAL, 2015). E Kishimoto (1994) aborda sobre a maneira como a cultura apresenta uma forma de continuidade histórica e uma “especificidade que pode se refletir nas condutas lúdicas, faz emergir a valorização dos brinquedos e brincadeiras tradicionais como nova fonte de conhecimento e de desenvolvimento infantil”.
Kishimoto (1994) traz considerações importantes sobre os brinquedos e o ato de brincar no processo de desenvolvimento infantil:
“Partindo do pressuposto de que, manipulando e brincando com materiais como bola, cubo e cilindro, montando e desmontando cubos, a criança estabelece relação matemática e adquire noções primarias e física e metafísica. Aliando a utilização de materiais educativos que domina, aos dons, ao canto e às ocupações manuais (recorte, colagem, tecelagem, dobradura, etc.), o autor das atuais caixas de construção elabora uma proposta curricular para a pré-escola que contém em seu bojo a relevância do brinquedo.” (KISHIMOTO, 1994, p 12).
Fonte: encurtador.com.br/orGMY
O autor, neste comentário, pontua que a criança adquire melhor conhecimentos matemáticos brincando. A partir de brinquedos que tem formato de bola, cubo e cilindro, a criança apercebe melhor as formas circulares, geométricas, entre outras e aprende a ter mais noção de espaço, podendo se apropriar melhor de conteúdos de física e metafísica.
Conforme Silva (2015), na França, a primeira escola maternal trabalhava tricô, Geografia, História, Botânica, Educação Moral e Cívica, exercícios para o corpo, desenho, recorte e recursos como o passeio, para educar crianças de quatro e sete anos de idade”, e era através dos jogos que os alunos eram motivados e atraídos a estudar história, e por meio das brincadeiras aprendiam sobre respeito, submissão e admiração ao regime vigente da época, e “os jogos de ganso, de cartas e de loto, veiculam à semelhança do século anterior a propaganda política”.
Por meio de jogos magnéticos as crianças aprendiam história, geografia e matemática, pois a ciência já havia avançado na época e permitia tal feito, além de que através das fábulas de La Fontaine e os contos de Perrault, os jogos de cubo e os puzzles surgiram, além de jogos como bazar alfabético que forneciam suporte para o aprendizado do vocabulário e o jogo chamado poliglota permitia que as crianças aprendessem até cinco línguas ao mesmo tempo (KISHIMOTO, 1994).
Aqueles jogos que surgiram no século XIX foram utilizados até a primeira guerra mundial, porém durante o período da guerra foram perdendo espaço para os jogos militares que surgiram na época, e logo após a guerra, os jogos militares foram dando lugar aos jogos esportivos, e trens elétricos começaram a surgir juntamente com autoramas e bicicletas, o que apontava para um momento onde o esporte era mais bem estimado do que o militarismo (SILVA, 2015).
De acordo com Kishimoto (1994), os brinquedos eram ainda mais produzidos devido as propagandas de natal e outros tipos de propagandas que faziam menção a instruir crianças de forma divertida fazendo uso de brinquedos e jogos educativos, e os brinquedos ocupam maiores espaços e dessa forma, passam a ser adaptados e personalizados de acordo com as preferências e os gostos das crianças.
Foi nessa época também que Ovídio Decrolv ao continuar os estudos e produções de Froebel, criou um conjunto de materiais destinados a educação de crianças com algum tipo de deficiência mental, fazendo uso de materiais tidos como neutros e cartonados, para que essas crianças com essa demanda pudessem desenvolver aspectos relacionados a percepção, motricidade e ao raciocínio.
Em 1954 foi elaborado por Maria Montessori, uma metodologia de ensino voltada para crianças com deficiência mental, onde era utilizado os materiais criado por Itard e Seguin, com a finalidade de instalar a educação sensorial, porém no Brasil esse método chegou tempos depois através da Linha Lubienska – Montessori, que foi utilizado em escolas católicas onde estudavam apenas a elite da época. E a educação de crianças portadoras de algum tipo de deficiência foi algo que recebeu uma grande atenção e que teve grandes avanços após a utilização de brinquedos, e teve origem no século XVIII quando materiais específicos para surdos e mudos criados pelo Pe. De I’epeé em 1760.
Após isso foi Valentin Hauy no ano de 1784 que criou livros de auto relevo para crianças cegas. Itard e Seguin produziram inúmeros materiais analíticos voltados para a educação sensorial e intelectual de Victor, que foi o selvagem de Ayeron Decroly, e após isso se inspiraram na globalização para a organização de jogos intelectuais e motores que eram destinados às crianças com algum tipo de deficiência mental (MONTESSORI, 1954).
Referências:
ALMEIDA, P. N. Dinâmica lúdica: Técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Edições Loyola,1992.
ANTUNES, Celso. O jogo e o brinquedo na escola. In: SANTOS, Santa Marli Pires dos. (Org.). Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. Cap. 4, p. 37-42.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
SANTANNA, Alexandre; NASCIMENTO, Paulo Roberto. A história do lúdico na educação.
SANTOS, Cristiane Cimelle da Silva; COSTA, Lucinalva Ferreira da; MARTINS, Edson. A prática educativa lúdica: uma ferramenta facilitadora na aprendizagem na educação infantil. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades Opet, [s.i], v. 3, n. 1, p.74-88, dez. 2015. Disponível em: <http://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n10/ARTIGO6.pdf>. Acesso em: 04 mar. 2019.
SANTOS, S. M. P. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores. Rio de Janeiro: vozes, 2010.
SILVA, M. P. A importância do Lúdico na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso licenciatura em pedagogia da Universidade Estadual da Paraíba UEPB. Julho 2015.
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Byt: uma perspectiva dos limites internos do sujeito
Jan Švankmajer é um realizador cinematográfico, nascido em 1934 na capital da então Checoslováquia, Praga. Em suas obras é marcante o uso de recursos e técnicas em prol do surrealismo e linguagens metafóricas. Cenários, atuações, expressões estéticas, todos convergem para a linha criativa do realizador tcheco, pautada na fuga de quaisquer fundações realísticas. Diretores como, Charlie Kaufman, Tim Burton, Adam Jones e Irmãos Quay possuem influências de Švankmajer em suas obras, e tal representatividade vêm recebendo reconhecimento nos últimos anos, por meio de premiações, participação em eventos sobre a sétima arte e presença em diferentes compilações cinematográficas.
Os curtas-metragens Dimensões do Diálogo (Možnosti dialogu de 1982), Comida (Jídlo, de 1992) e Jabberwocky (Žvahlav aneb šatičky slaměného Huberta, de 1971) também de Švankmajer alçaram maior alcance de público ao longo dos últimos anos. E é na produção dos pequenos filmes que o diretor possui maior extensão em sua carreira, constituída também por longas-metragens e outros pequenos trabalhos.
Em Byt observamos um breve e denso estudo a respeito da escala mínima, na relação entre a habitação externa e os limites internos do sujeito, no curta interpretado por Ivan Kraus. A espacialidade e corporeidade do quarto, e do próprio protagonista do conto cênico, fornecem o substrato narrativo à estória. Se em La Jetée (1962) Chris Maker fez da duração do instante um compilado para demonstrar a infinitude da temporalidade finita da existência, em Byt é a extensão – pelos objetos e paredes do apartamento e nas expressões e movimentos corporais de seu residente – que toma frente em uma figura anti-flâneur. Há, inclusive, paralelos desta obra com as mais recentes Le cyclope de la mer de 2008 e A casa em cubinhos (Tsumiki no ie) também de 2008, com a diferença do tom mais leve e menos introspectivo nestes últimos.
Turno à Janela do Apartamento
Silencioso cubo de treva: um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração da noite. Nenhum pensamento de infância, nem saudade nem vão propósito. Somente a contemplação de um mundo enorme e parado. A soma da vida é nula. Mas a vida tem tal poder: na escuridão absoluta, como líquido, circula. Suicídio, riqueza ciência… A alma severa se interroga e logo se cala. E não sabe se é noite, mar ou distância. Triste farol da ilha rosa.
(Carlos Drummond de Andrade)
Esta temática, referente à escala mínima, do corpo, casa, apartamento ou pensamentos, de igual modo, é encontrada na literatura nos denominados fluxos de consciência em obras como Notas do Subterrâneo (1864) de Dostoievski, O Retrato (1835) de Gogol e, especialmente, Metamorfose (1915) de Kafka e Mrs. Dalloway (1925) de Virginia Woolf possuem paralelos com a apresentação fílmica de Jan Švankmajer, em elementos como o quarto, o retrato e os objetos inanimados circundantes à existência em foco pelos limites do restrito habitat.
Desespero, melancolia, agonia, angústia, ironia, ansiedade, doses de esquizofrenia e medo transbordam nas cenas de Byt, além de uma acidez sarcástica sobre a situação na qual se encontra o protagonista. Em conjunto com a trilha sonora, ora aventuresca ora estridente nos agudos, imergimos junto com o personagem de Kraus, que oferece atuação que varia entre a loucura a momentos íntimos de suspeição de sua realidade proximal, frente ao seu aprisionamento e claustrofobia no apartamento que dá título à obra.
Os planos fechados e de meia distância também nos aproximam do que parecem ser intermináveis horas de confinamento. Nestes momentos as ações de Kraus expressam com cinzenta comicidade a mescla de sensações no que parece ser uma valsa de paredes, portas, pregos e demais detalhes de quarto contra à sua presença naquele ambiente. A limitação física da representação minuscular ganha força pela atuação e situações cotidianas do protagonista, num primeiro momento apenas vivenciando sua condição, passando pelo questionamento para posteriormente entregar-se ao surrealismo da obra, deixando ao espectador a barreira entre o real e irreal vivido pelo habitante do cubículo observado por nós.
A tragicomédia da vida quadrática de Byt traz consigo a oferta de uma reflexão pendular. À esteira da restrição do e no espaço, seja do quarto\apartamento seja do próprio corpo, é a imensidão em pulsão e desmesura dos pensamentos e emoções que podemos realmente nos aprisionar, catapultando-nos em imaginários de fuga ou espessos fossos de inebriante agonia e angústia. A condição de pena perpétua pela liberdade do pensar parece ser tanto a dádiva quanto fardo da existência humana, e Byt, com efemeridade e crueza, nos apresenta tal vislumbre.
FICHA TÉCNICA DO FILME
BYT (THE FLAT)
Diretor: Jan Švankmajer
Elenco:Ivan Kraus, Juraj Herz;
Gênero: Comédia País: Checoslováquia
Ano:1968
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Carandiru: construção social de realidades e a subjetividade humana
“Cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de inter-relações em movimento.” (Bonin, 1998)
O filme brasileiro Carandiru, lançado em 2003, dirigido por Hector Babenco, foi inspirado no livro “Estação Carandiru” do médico Drauzio Varella. Neste livro, o médico narra algumas experiências vivenciadas na casa de detenção Carandiru após desempenhar um trabalho voluntário de prevenção à AIDS, realizado em meados de 1989. O presídio tinha capacidade para cinco mil detentos, porém, abrigava cerca de sete mil.
Muito esperado pelo público na época, o filme despertou diferentes opiniões, desde grandes elogios a coragem que Babenco teve ao abordar no cinema nacional um conteúdo tão polêmico, quanto às críticas com o “desleixo” no formato que o diretor deu ao filme por enfatizar uma grande quantidade de histórias mal desenroladas.
Carandiru veio logo depois de Cidade de Deus, o que deu muita ênfase às críticas. Cidade de Deus ficou marcado por tratar com veracidade os fatos da comunidade, e trazer para o social as denúncias e a busca por transformações sociais. Carandiru veio pronto, contendo início, meio e fim, e deixou a sensação de que o sistema prisional do Brasil é um problema obsoleto, muito distante. “Carandiru é um filme de personalidade inconstante, frio em certos momentos e inexplicavelmente pretensioso em outros” (OLIVEIRA, 2013).
Fonte: https://goo.gl/zLVFj8
Mesmo com tantos contras, não há como negar que esse longa metragem tem grande relevância social diante da história do Brasil, em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos (DIB, 2015).
Drauzio, em seu livro, se atentou em descrever seu trabalho diário, focando principalmente, em detalhar o cotidiano e os anseios dos presos, bem como, a história de vida de alguns. Com menos riqueza de detalhes, o filme também expõe a realidade do cotidiano da extinta casa de detenção, trazendo o telespectador para adentrar no espaço da prisão antes, durante e depois do massacre que ocorreu em 2 de outubro de 1992 e causou a morte 111 presos.
Por meio do vínculo, em alguns casos, e do contato que o Médico fazia com os presos (quando ia realizar a triagem para ver quem necessitava fazer o exame de detecção do HIV) o espectador vai conhecendo, junto do médico, as personalidades que habitava o Carandiru, quais motivos os levaram a estarem ali e “mesmo quando a personagem principal não está em cena, a plateia continua a acompanhar a jornada diária de cada detento, numa verdadeira luta pela sobrevivência” (AZEVEDO, 2013).
Fonte: https://goo.gl/nvdwk2
Para compreender o ser humano, Bonin (1998, p. 53) ressalta que, “além de estudar seu corpo e sua origem animal, é necessário pesquisar, principalmente, como ele se constitui em um contexto sociocultural”. Ao se interessar em auxiliar os indivíduos que ali residiam, o doutor (interpretado por Luiz Carlos Vasconcelos) passa a conviver com a realidade tal como ela é, atuando com pressupostos para além da medicina, perpassando o social e se habituando cada vez mais, ao contexto do presídio.
Para a Psicologia Social, o indivíduo se constitui através de uma rede de inter-relações sociais. Através dessa rede, ele tende a procurar entender e se adaptar aos movimentos intencionais e futuros do outro (JACQUES, 2014), ou seja, ele deixa de ser individual, interagindo com o ambiente a partir das necessidades, sejam elas próprias ou coletivas.
Cenas que transcorrem a história de vida pessoal dos detentos são comuns. Durante a trama, o telespectador fica entre o passado e o presente dos presidiários. Ao mesmo tempo em que se tem o crime, se tem a motivação que desencadeou o crime, o que acaba permitindo uma contextualização das histórias e perspectivas diferentes sobre o mesmo fato. Em muitos momentos, há a possibilidade de se perceber as construções sociais e as numerosas realidades retratadas pelo enredo.
Fonte: https://goo.gl/ELWazv
O que acontece por exemplo quando Zico (Wagner Moura), carregado por um grupo, chega ao doutor passando mal. Notando que o mesmo já estava se recuperando, o doutor comenta o fato de ter se assustado com a rapidez do chamado. Chateado com a situação, demonstrando afeto e preocupação pela pessoa de Zico, Deusdete (Caio Blat) interrompe o doutor falando “isso é bom doutor, assim ele ver o que a droga faz”.
Percebendo a reação repentina, o doutor retruca perguntando quem era o moço e Zico responde “é o Deusdete, eu e ele vivemos na mesma infância”, posteriormente a essa fala, Zico descreve como conseguiu sobreviver após a partida de sua mãe e como construiu relações afetivas com a família de Deusdete. Por alguns minutos, as cenas seguintes da trama, se desenrola por contar a trajetória de Deusdete e Zico até aquele local. Assim, Zico deixa de ser apenas o drogado traficante e passa a ser visto também, como uma pessoa que, na infância, foi abandonada pela mãe. Deusdete, deixa de ser somente o assassino e passa a ser o cara que matou para defender a irmã.
Considerando a metáfora de Bonin (1998 p. 58) “cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de inter-relações em movimento”, trazendo essa comparação para o filme, conseguimos compreender algo que foi auge de tantas críticas. “A contação de histórias” proporcionada por Babenco concede ao público uma percepção da subjetividade e a realidade de vida de alguns dos 7 mil “nós” (detentos), e ao se concentrar em relatar os detalhes e os fatos que desencadearam o massacre, temos a clareza do quanto a extensa rede de inter-relações (Carandiru) estava em constante movimentação.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
CARANDIRU
Título original: Carandiru Direção: Héctor Babenco Elenco: Luiz Carlos Vasconcelos, Milton Gonçalves, Ivan de Almeida País: Brasil Ano: 2003 Gênero: Drama
Referências
AZEVEDO , Kamila. Carandiru. [S. l.], 23 mar. 2013. Disponível em: https://cinefilapornatureza.com.br/2013/04/23/carandiru/. Acesso em: 6 mar. 2019.
BONIN, L. (1998). Indivíduo, cultura e sociedade. In M. Strey et al.Psicologia social contemporânea (pp. 53-58, Coleção Psicologia Social). Petrópolis, RJ: Vozes.
DIB, André. Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros. [S. l.], 27 mar. 2015. Disponível em: https://abraccine.org/2015/11/27/abraccine-organiza-ranking-dos-100-melhores-filmes-brasileiros/. Acesso em: 6 mar. 2019.
JACQUES, Maria da Graça Corrêa et al. Psicologia social contemporânea: livro-texto. Editora Vozes Limitada, 2014.
OLIVEIRA, Rafael W. Crítica | Carandiru. [S. l.], 21 mar. 2013. Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-carandiru/. Acesso em: 6 mar. 2019.
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Professor de Psicologia do CEULP defende seu Mestrado na UFT
Sonielson Luciano de Sousa ministra as disciplinas de Filosofia e Antropologia no curso de Psicologia do CEULP/ULBRA
O professor Sonielson Luciano de Sousa, do Curso de Psicologia do CEULP defendeu, no dia 24 de agosto, sua dissertação “Mídia e construção de corporalidades masculinas juvenis: um estudo sobre frequentadores de academias de musculação” no programa de Mestrado em Comunicação e Sociedade na Universidade Federal do Tocantins (UFT). A banca foi composta pela orientadora da pesquisa Profa. Dra. Cynthia Mara Miranda (UFT), a Profa. Dra. Liliam Deisy Ghizoni (UFT) e a Profa. Dra. Irenides Teixeira (CEULP/ULBRA).
Irenides, Cynthia e Liliam Deisy na defesa de mestrado de Sonielson
A pesquisa:
Esta dissertação é calcada em uma pesquisa sobre a construção de ideais de corpo e corporalidades masculinas de homens jovens frequentadores de academias de musculação, e o papel da mídia na construção da subjetividade destes sujeitos. Desta forma, buscou-se promover uma reflexão sobre os impactos que a mídia possui nas dinâmicas de vida, bem como entender qual a dimensão da própria percepção dos participantes acerca do tema, no que se refere ao poder que eles têm sobre suas escolhas, mediante eventuais heranças culturais e arranjos familiares e sociais. Como procedimentos metodológicos optou-se pela realização de Grupo Focal em duas academias de Palmas-TO, e os resultados são analisados a partir da Análise de Conteúdo. No desenvolvimento do trabalho verificou-se que os homens jovens das duas academias têm posicionamentos convergentes sobre os temas propostos, e corroboram as teses levantadas pelo referencial teórico. A pesquisa mostrou que a mídia – a partir, sobretudo, do cinema e de perfis de celebridades nas redes sociais eletrônicas – exerce influência direta na busca de um ideal de corpo masculino.
Sonielson Luciano de Sousa é docente no curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, bacharel em Comunicação Social (Publicidade – Ceulp/Ulbra – 2004); sócio-fundador de O GIRASSOL (desde 1999), exercendo atualmente a função de editor-executivo. Tem experiência na área de Jornalismo Especializado (Comunitário, Literário), atuando principalmente nos seguintes temas: jornalismo, ideologia, cultura, educação, cinema e filosofia. Na comunicação, já atuou como free-lance de grandes empresas, como a Folha Press. É pós-graduado (latu senso) em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias, com ênfase em Docência Universitária (Unitins/UFBA – 2006). Também é licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (UCB), e coordena o Centro de Estudos Zen Budista de Palmas, ligado ao Daissen-ji de Florianópolis. É personal Coach (pela Sociedade Brasileira de Coachin-SP), editor e colaborador do coletivo (En)Cena, além de colaborador do Portal Educação. É autor do livro “Budismo e Cristianismo: aproximações possíveis” (e-Pub – Amazon).
As indústrias almejam o controle sobre o corpo do trabalhador, seu intelecto e seu psiquismo.
Tempos Modernos (1936), dirigido e protagonizado por Charlie Chaplin, é um filme de comédia dramática e romântica. O enredo é uma crítica à modernidade e ao capitalismo exercido pelo modelo de industrialização, no qual o operário é absorvido pelo poder do capital e supliciado por suas idéias insurgentes. Enfatiza a vida no contexto industrial, retratando a linha de produção baseado no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho.
No filme, os operários tentam sobreviver se sujeitando a uma forma de produção mecânica que altera suas condições físicas e psicológicas, cujo pano de fundo é maior lucro para as empresas, independentemente das condições de seus trabalhadores.
Fonte: https://bit.ly/2QZkaZn
O sequestro da subjetividade refere-se à perda da capacidade de ser independente, onde o “sequestrador” determina o que a pessoa faz e a forma do trabalho, retirando sua independência. A empresa mostra isso quando apresenta uma linha de produção automatizada, impondo um ritmo de trabalho não natural, um exemplo clássico foi implantando uma “máquina de comer”, que é um modo de controle psicológico, condicionamento e robotização dos funcionários.
Esse contexto de radical mudança na ambiência funcional vai paulatinamente sendo absorvido, de tal modo que passa a ser aceito como prática comum e legítima no comportamento social.
Fonte: encurtador.com.br/ghiS7
Levando-se em conta os efeitos dessa nova arquitetura funcional, fica patente que afeta a subjetividade dos trabalhadores, causando patologias psíquicas e que se tornam cada vez mais frequentes nos ambientes laborais. É comum em tais casos a ocorrência de situações de ansiedade, síndrome do pânico, fobias, esgotamento profissional, somatizações e outras ocorrências, levando o indivíduo a modificar seus padrões de conduta, a fim de adequar-se à nova ordem estabelecida, causando uma doação forçada.
Na atualidade se observa que as clínicas do trabalho instituem um espaço de fala para o sujeito, ao mesmo tempo em que busca intervir de modo à ressignificar experiências, dar novos sentidos e causar uma reflexão. Essa postura propicia ao trabalhador a percepção da oportunidade de repensar seu meio social, a sensação de ser ouvido pelo outro, que se posiciona como escuta qualificada, construindo assim ressignificância da importância do indivíduo em relação a seu processo de saúde e adoecimento.
Fonte: encurtador.com.br/hqEPZ
Tempos modernos é um filme que faz uma crítica em relação á desigualdade entre as classes sociais. O trabalhador mesmo chegando a exaustão continua a produzir ignorando fatores psicológicos e orgânicos, que consequentemente afetam a sua saúde mental, principalmente. Pode ser visto como uma conjectura ao movimento que ficou famoso como Revolução Industrial, cuja idéia central era substituir o homem pela máquina e estabelecendo o conceito de linha de produção automatizada, um exemplo disto foi a indústria automobilística dos Estados Unidos, onde até se criou um conceito chamado de Fordismo, devido o surgimento das fábricas de carros Ford, que se encontrava em ascensão na época de produção desse filme. Ademais, causa a reflexão que o trabalhador era visto naquela época e até mesmo nos dias atuais pela indústria como mero objeto de uso das máquinas em que o objetivo central visa produzir em grande escala, no menor espaço de tempo e com maior lucro.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
MODERN TIMES
Direção: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin
Ano: 1936
Países : Estados Unidos
Gênero: Comédia/ Aventura/ Drama
Referência
MENDES, Ana Magnólia. Clínica psicodinâmica do trabalho: o sujeito em ação. / Ana Magnólia Mendes, Luciane Kozicz Reis Araujo. / Curitiba: Juruá, 2012.154p.
O surrealismo brinca com a imaginação de quem observa, o mistério, curiosidade ou até mesmo a excentricidade é o que me deixa fascinado. Os meus desenhos não possuem títulos, o que os deixam bem subjetivos, para que qualquer um atribua ou tente decifrar algum significado ou mensagem que possa ou não estar contido neles.
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#CAOS2018: redes sociais e psicopatologias ligadas ao trabalho é tema de minicurso
O minicurso é parte da programação do CAOS 2018 que acontece no Ceulp até o dia 25 de maio.
A Psicóloga Clínica Jordanna de Sousa Parreira, especialista em Neuropsicológica Clínica e em gestão de pessoas, ministrou nessa tarde de quarta-feira (24), como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2018, o minicurso“As redes sociais como disparadores de psicopatologias ligadas à dimensão do trabalho”.
Fonte: A Psicóloga Jordanna Parreira durante o minicurso. Foto: Divulgação
Para iniciar, a palestrante pediu para que a turma se dividisse em grupos de no máximo quatro pessoas e que pensassem a respeito de três perguntas, sendo elas: (1) quais foram as mudanças que aconteceram no mundo do trabalho; (2) quais são os sentidos do trabalho e (3) em que a tecnologia favoreceu ou prejudicou no mundo do trabalho. Foi estipulado um tempo de 15 minutos para discursão. Logo depois a mediadora solicitou a ajuda de uma acadêmica e juntamente com a turma foi sendo debatido cada aspecto das perguntas supracitadas.
Com as próprias conclusões que a turma trouxe, Jordanna foi explicando o percurso dos diferentes significados que a palavra “trabalho” foi tomando a partir do decorrer dos tempos. Por exemplo, etimologicamente falando, o significado remetia-se a punição, algo extremamente exaustivo, trabalhava-se, porque era a maneira de ser condenado por alguma coisa. Porem dentro do contexto de um desenvolvimento social, o conceito da palavra trabalho foi sendo ressignificada, saiu do sentido de penalidade e passou a ser o sentido da vida. Em uma de suas falas a psicóloga disse “o ser se mostra ao mundo através do seu trabalho”, ou seja, atualmente, o trabalho passou a ser parte da identidade do sujeito.
Fonte: Os congressitas com a Palestrante. Foto: Divulgação
Partindo dessa perspectiva a mediadora trouxe algumas reflexões de como essas mudanças afetaram e ainda afeta a saúde mental do trabalhador, considerando ainda que, as condições do contexto de cada um, influencia poderosamente para esse adoecer, funcionários da rede privada por exemplo são os que mais sofrem, pois dentro do seu ambiente de tralho ele perde o direito de adoecer para a possibilidade de ficar desempregado. Finalizando, a psicóloga declara que devemos encontrar o motivo de cada indivíduo, buscando respeitar a subjetividade de cada um e reconhecendo que a busca por uma identidade, sempre será algo exclusivo do próprio sujeito.
“Lucy Mirando está alcançando o impossível, estamos nos apaixonando por uma criatura que planejamos comer” (Trecho do filme OKJA)
Produzido por Joon-Ho Bong e estreado em 2017, pela Netflix, OKJA é um filme para quem tem um grande afeto por animais e gosta de refletir sobre o seu estilo de vida. O drama enlaça essas duas temáticas revelando ao expectador uma realidade cruel que ele tende a negar, principalmente quando este assume uma posição utilitarista.
A trama inicia em 2007, em New York – USA, onde Lucy Mirando (Tilda Swinton) ao tornar-se a nova diretora executiva (CEO) da indústria agroquímica de sua família, e também a mais odiada mundialmente, coordena um projeto inovador que possibilitaria transformar tal aparência da corporação. O concurso do “Melhor Super Porco” é o milagre que Lucy pretende atingir a longo prazo, especificamente, em dez anos.
Fonte: https://goo.gl/FowVM1
Para alcançar este objetivo, a CEO engana seus futuros consumidores com a falácia de que o Super Porco foi encontrado milagrosamente numa fazenda chilena, que depois foram reproduzidos 26 animais, de forma “natural”, e distribuídos em 26 cidades diferentes ao redor do mundo, com sedes da corporação, para fazendeiros criá-los de acordo com sua cultura durante o tempo supracitado. Dessa forma, esta seria a solução para o combate à fome de modo sustentável, diminuindo o impacto no meio ambiente (excreção) e produzindo uma carne saborosa.
“ECO SUSTENTÁVEL; NATURAL; NÃO TRANSGÊNICO”. Fonte: http://filmspell.com/wp-content/uploads/2017/08/1-Introduction-Pictures-in-Pictures.png
Okja é uma super porca criada por Mikha (An Seo-Hyun) e seu avô em Sanyang, numa fazenda na Coreia do Sul, de forma tranquila e natural. Apesar de alguns comportamentos entre a menina e a Super Porca remeterem ao carinho com que os seres humanos tratam seus bichinhos de estimação, Okja ultrapassa essa linha, pois é a melhor amiga de Mikha desde seus quatro anos.
Apesar do fato de Okja ser um animal fictício, que por vezes aparenta ser a soma de características de vários animais comumente conhecidos, há uma alta probabilidade de que em algum momento do filme ela cause sentimentos empáticos a quem estiver lhe assistindo. Nisso, a protagonista demonstra habilidades de comunicação e estratégia, além de evidenciar que é um ser vivo dotado de senciência.
Fonte: https://goo.gl/Tm1WmS
Para Monlento (s/d, s/p) a sensciência é a “capacidade de ter sentimentos associados à consciência”, podendo ser comprovada no âmbito comportamental e/ou no biológico, e aponta que é preciso atentar ao fato que esta pode ter graus distintos em diferentes espécies do reino animal. E, nessa vertente, a Declaração de Cambridge sobre Consciência (2012) decretou que evidências mostram que o ser humano não é o único animal dotado de consciência. E, apesar de que os demais animais não apresentarem um neocórtex, eles experienciam estados conscientes através de substratos neuroanatômicos, neurofísicos e neuroquímicos e são capazes de ter comportamentos propositais.
Dessa maneira, um dos grandes desafios para Neurobiologia é comprovar que os animais não verbais possuem algum nível de consciência. Visto que a senciência caracteriza-se pela subjetividade, se faz necessário o uso de métodos seguros que conseguem acessar essa peculiaridade dos animais em teste, sem que a subjetividade do observador interfira nos resultados. Portanto, há uma alta probabilidade na fidedignidade destes (OLIVEIRA; GOLDIM, 2014).
Dez anos depois, o zoologista Dr. Johny Wilcox (Jake Gyllenhaal), averigua pessoalmente que Okja é a melhor super porca, consequentemente, a leva para New York. Após descobrir que a corporação negou a venda de Okja ao avô e que a levaram embora, Mikha começa a sua saga para salvar a melhor amiga. E é ajudada pela Frente de Libertação Animal (ALF, sigla em inglês) que planeja usar Okja como uma cobaia, colocando-lhe uma câmera para gravar as atrocidades que fazem com esses animais no laboratório.
Fonte: https://goo.gl/wpcFpG
A ALF, uma entidade aberta e composta por ativistas anônimos, objetiva libertar os animais em condições de sofrimento, mantendo-os em lugares seguros e apropriados para posteriormente devolvê-los ao seu hábitat natural. Nesse contexto, suas ações são ilegais e infringem os locais e métodos das organizações que fazem exploração animal, ocasionando boicotes e déficits financeiros nas mesmas. Desse modo, segundo suas diretrizes, revelam as atrocidades acometidas nesses ambientes e agem com precaução para que nenhum animal seja colocado em situação de risco, sejam eles humanos ou não (BITE BACK MAGAZINE, s/d).
Entretanto, esse preceito diverge das práticas do filme, pois o plano expõe Okja a uma situação de risco. Ao chegar no laboratório em NY, ela é colocada para acasalar com um super porco macho, além de retirarem amostras de sua carne para experimentação. Perplexos com a cena gravada, um dos integrantes do ALF confessa que mentiu a tradução em relação à autorização da Mikha. Diante disso, o líder do grupo ressalta quão a tradução é sagrada, fato esse demonstrado pelo uso de língua distintas no filme, espanca-o e o bane da organização. Tal comportamento ironiza com o ideal de “não violência e proteção”, diverge da conduta entre seus próprios membros.
Em entrevista à Agence France-Presse (AFP), Ben Zipperer, do Economic Policy Institute, afirma que a mão-de-obra imigrante nos EUA é de aproximadamente 25 milhões de pessoas (AFP, 2017). No longa, esse aspecto é evidenciado quando apresentam os funcionários da corporação que estão na linha de produção, em sua maior parte, como latino-americanos. Pode-se inferir, deste modo, que o funcionamento dessas organizações, ligadas à produção e consumo de animais, tem contribuição de pessoas de outras culturas, além dos estadounidenses.
Em suma, Joon-Ho Bong faz diversas críticas sociais e políticas, uma delas deu-se por meio do posicionamento de Nancy Mirando (a irmã gêmea de Lucy), que apesar da corporação ter suas barbáries expostas, não se omite e manda lançar o produto no mercado, afirmando que se o custo for baixo as pessoas irão consumir. Essa cena alude na peripécia de que meio social sofre um fenômeno de “perda” de memória recente, particularmente se não se sente prejudicado diretamente pelas situações desagradáveis que vivencia.
Fonte: https://goo.gl/TN3NgD
Ainda nessa ótica, é válido ressaltar que a carne animal como um produto é comercializada de uma forma que não seja atrelada ao animal vivo (WEBSTER, 2005). Logo, nenhuma novidade é acrescentada quanto à realidade contemporânea, mas o produtor utiliza-se de um personagem fictício para relembrar-nos do infausto sofrimento que compactuamos para termos nossas “suculentas“ refeições diariamente.
A reflexão, filosofia, teoria ou estudo que é realizado da moral, chama-se ética (TAILLE, 2010) e objetiva avaliar se os comportamentos (costumes) instituídos são aceitáveis, de modo que não ocasione danos ao outro. A partir desse preceito é necessário avaliar de que modo a ética voltada para esses seres não-humanos, ou melhor, a bioética, está sendo praticada pelos seres humanos, nos âmbitos individual, social e profissional:
A forma como diferentes profissionais tratam os animais é extremamente importante para o desenvolvimento de programas de educação, por meio da utilização de diferentes inferências e aplicação de instrumentos diversificados, cuja atuação em distintas frentes adequadas a um público diverso, vise conscientizar todos os segmentos da sociedade da necessidade de procedimentos éticos no uso dos animais (FISCHER; TAMIOSO, 2016).
Fonte: https://goo.gl/nhvftY
Por fim, apesar de Okja não ter tido o mesmo fim que os demais super porcos, sua liberdade, quase fracassada, é uma vitória para seus semelhantes. Estes rugem como forma de comunicação enquanto ela vai embora, levando consigo um filhote entregue pelos próprios pais. Silva (2012) aponta que para a dinâmica da ética utilitarista é conveniente abater determinados animais de forma rápida e indolor, desde que seja justificável.
Nesse ínterim, o desfecho do filme incita questionamentos inquietantes, para se analisar ao longo do dia ou da vida, como: o que diferencia Okja dos demais super porcos? Ter uma compradora que a quer viva? O que distingue o seu pet do animal que você cria ou compra para consumo? Por que nos chocamos tanto quando sabemos que em algumas culturas é normal comerem cachorros, mesmo tendo uma variedade de animais em nossa mesa?
Fonte: https://goo.gl/BUUGN9
“O maior erro da ética é a crença de que ela só pode ser aplicada em relação aos homens”
ALBERT SCHWETZER (Prêmio Nobel da Paz, 1952)
Nota: este texto não prioriza fazer com que o leitor torne-se vegetariano ou até mesmo vegano, mas que este reflita seu modo de vida e o seu posicionamento bioético em relação aos animais não-humanos.
FICHA TÉCNICA
OKJA
Fonte: encurtador.com.br/gjBD9
Diretor:Joon-Ho Bong Elenco:Seo-Hyun Ahn, Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal Gênero: Aventura, Ficção científica, Drama Ano: 2017
REFERÊNCIAS
AFP. (2017). A economia dos EUA pode crescer sem imigrantes? Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2017/02/06/a-economia-dos-eua-pode-crescer-sem-imigrantes.htm. Acesso em 16 de novembro de 2017.
FISCHER, M. L.; TAMIOSO, P. Bioética ambiental: concepção de estudantes universitários sobre ouso de animais para consumo, trabalho, entretenimento e companhia. Ciências &Educação, v. 22, n. 1, 2016.
LA TAILLE, Yves de. Moral e Ética: uma leitura psicológica. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. 2010, vol.26, n.spe, pp.105-114. ISSN 0102-3772. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500009.
LEVAI, Laerte Fernando. Artigo Os animais sob a visão da ética. Publicada pela Alpa – Associação Leopoldense de Proteção dos Animais. In revista Brasileira de Direito Animal de 2006.
MAGAZINE, Bite Back. Who is the ALF?. West Palm Beach, Florida. Disponível em: <http://www.animalliberationfront.com/ALFront/ALF_leaflet_biteback.pdf >. Acesso em 16 de novembro de 2017.
MOLENTO, Carla Forte Maiolino. (s/d). Senciência Animal. Disponível em: <http://www.labea.ufpr.br/PUBLICACOES/Arquivos/Pginas%20Iniciais%202%20Senciencia.pdf>. Acesso em 12 de novembro de 2017.
OLIVEIRA, Elna Mugrabi; GOLDIM, José Roberto. Legislação de proteção animal para fins científicos e a não inclusão dos invertebrados – análise bioética. Rev. bioét. (Impr.). 2014; 22 (1): 45-56.
SILVA, J. M. Do senciocentrismo ao holismo ético: perspectivas sobre o valor a bioesfera. In: BARBOSA, A. et al. (Ed.). Gravitações bioéticas. Lisboa: Centro de Bioética, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, 2012. p. 123-145.
The Cambridge Declaration on Consciousness. In: Francis Circk Memorial Conference; 7 Jul. 2012; Cambridge. Consciousness in human and not human animals. [Internet]. Cambrigde: The Memorial; 2012. Acesso em 12 novembro de 2017. Disponível: <http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf>
WEBSTER, J. Animal welfare: limping towards eden. Oxford: Blackwell, 2005.