Metaverso: vilão, mocinho ou bode expiatório?

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Em meados de 2021 a empresa de tecnologia até então chamada Facebook passava por um dos maiores processos judiciário por ela enfrentados[1], porém coincidentemente – ou não – no dia de um importante testemunho da Ex-funcionária Sophie Zhang, o CEO da Facebook, Mark Zuckerberg, anuncia os planos para o futuro da empresa e da internet. Esse anúncio teve relação com o termo ‘metaverso’, que para muitos antes era desconhecido e para outros não passava de ficção científica, mas apresentado por um dos perfis mais conhecidos atualmente quando o assunto é tecnologia e internet, tornou-se plausível e tangível.

Desde então muito tem se falado e, sobretudo, se especulado a respeito do assunto. Os otimistas – uma pequena ilha no mar de pessimistas – acreditam que será uma forma magnífica de interação virtual. Assim, espera-se que a aplicação do conceito do metaverso derrubará as ruínas ainda existentes das muralhas geográficas que persistiram após o avanço das formas de comunicação e trará mais possibilidades para tudo que já é virtual ter uma experiência de uso ainda mais próxima da vida off-line.

Alguns mais pessimistas temem que o metaverso seja o primeiro passo para iniciar-se a Matrix dos Wachowskis[1] e que a vida fora da rede está ameaçada de extinção, atribuindo o surgimento desse mundo virtual a uma série de possíveis problemas que afetarão a sociedade e seu comportamento. Já outros – uma pequena praia na ilha dos otimistas banhada pelas águas do mar dos pessimistas – apontam as atuais limitações da aplicação do conceito, os prós, os contras e o quanto o anúncio da empresa, agora chamada Meta, trouxe mais perguntas que respostas.

Não se atendo a nenhum dos três grupos citados acima, esse artigo navega para águas mais distantes, porém antes é necessário um panorama do que é o metaverso. O termo ‘Metaverso’ foi criado por Neal Stevenson e teve sua primeira aparição na sua obra de ficção científica, Snow Crash publicada em 1992 e a ideia de um mundo criado por computação gráfica onde o ser humano poderia ter uma imersão próxima à realidade foi tratado em muitas outras obras de ficção [2], como o famoso filme Matrix.

O Metaverso fora da ficção científica seria – ou será – uma nova forma da internet como se tem hoje, onde tecnologias como da Realidade Virtual – quando o indivíduo usa de dispositivos como óculos e fones de ouvidos capazes de apresentar um cenário menos ou mais interativo em 3D, bloqueando a visão do que está além dos dispositivos – e a Realidade Aumentada – quando o indivíduo usa dispositivos que inserem elementos virtuais no mundo real, acrescentando de forma menos ou mais interativa informações à cena real que o indivíduo está sem bloquear sua visão – para navegar pela rede, onde cada usuário é representado por um avatar em 3D.

A proposta para o desenvolvimento do Metaverso traz um manifesto com algumas regras que essa implementação deve seguir. A primeira regra é que deve existir apenas um metaverso, ou seja, nada de cada companhia criar seu próprio metaverso desconectado de outros ‘universos digitais particulares’. Esse manifesto inclui ainda outros princípios como de que o metaverso deve ser aberto a todos e coletivamente controlado[2]. Em uma visão mais ilustrativa, o metaverso poderia ser como uma versão aprimorada do jogo Second Life[3] onde empresas, universidades, lojas e tudo mais teriam suas versões virtuais acessíveis a todos os usuários acessarem dos mais variados tipos de dispositivos usando da Realidade Virtual ou Aumentada.

Com todas as especulações e dúvidas que vêm surgindo desde que o Metaverso virou um assunto em alta na mídia, muitos chamam a atenção para o quanto uma imersão numa realidade tão próxima do mundo real poderia causar para a humanidade a médio e longo prazo. Preocupações fundamentadas, uma vez que as tecnologias de Realidade Virtual e de Realidade Aumentada já apresentam certa nocividade para os usuários a curto prazo e as possibilidades de riscos à saúde física, mental e emocional só aumentam com o tempo de exposição [4].

Fonte: encurtador.com.br/fqtCE

Pautas como a perda de capacidade de se relacionar com pessoas no mundo real, falta de empatia após longa exposição a conteúdos de violência e a probabilidade de passem a preferir a vida virtual em vez da vida off-line vêm sendo frequentemente associadas ao Metaverso desde então e o futuro da humanidade é questionado à luz do  avanço da tecnologia para os próximos anos.

Mas atribuir todos esses riscos e questionamentos à uma tecnologia futura não seria uma negligência à atual situação que a sociedade já se encontra? O número de usuários ativos em redes sociais em 2022 chegou perto da marca de 5 bilhões [5], mais da metade do planeta tem e acessa regularmente ao menos uma rede social e uma nova forma de interagir e se comunicar não é mais um futuro, porém já está presente em nossos bolsos há algum tempo.

Antes do surgimento e popularização dos smartphones, as pessoas utilizavam em grande maioria computadores domésticos chamados de desktops para acessar a internet e entrar no “metaverso 2D”. As horas que se passavam conectados às redes sociais como o Orkut e chats como o MSN Messenger eram limitadas por alguns fatores, como a necessidade de se estar em casa, à espera da sua vez de utilizar o computador que muitas vezes era compartilhado pela família. Mas com o avanço tecnológico e o advento dos smartphones esses fatores foram derrubados.

Não será necessário esperar que o Metaverso vire uma realidade para que se tenha pessoas que sustentem uma segunda vida no mundo virtual, as redes sociais já são byte após byte alimentadas de uma realidade alternativa por seus usuários. Pessoas que publicam uma imagem, um comportamento ou até mesmo um estilo de vida que só existem no virtual estão presentes em famosas redes sociais como o Instagram.

O filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman já trazia alertas sobre o uso das redes sociais e da efemeridade das relações ali construídas[6]. Um indivíduo acostumado com o imediatismo e com o excesso de conteúdo de entretenimento proporcionado pelas redes e mídias digitais enfraquecem o impulso do empenhar esforço na construção de relações no mundo online [5].  Uma vez se pode escolher quem se “é” no mundo virtual, o internauta pode construir uma imagem com filtros para mostrar aos seus espectadores, fazendo assim sua vida um palco para todos e para ninguém de uma encenação que pode ser mais atrativa para si mesmo que a vida nos bastidores offline. Nas palavras de Bauman [8]: “A internet e o Facebook nos tranquilizam e nos dão a sensação de proteção e abrigo, afastando o medo inconsciente de sermos abandonados. Na verdade, muitas vezes você está cercado de pessoas tão solitárias quanto você”. Sobre essa perspectiva fica o questionamento do porquê a preocupação com o impacto no comportamento humano causado pela tecnologia está, nos últimos anos, sendo atribuído – em grande parte – a um cenário futuro e a uma tecnologia ainda não implementada quando esses questionamentos eram feitos antes voltados às atuais formas de acesso que temos ao mundo virtual. Deveria ser considerado o fato da empresa que criou todo esse alvoroço ao redor do termo Metaverso ser a mesma empresa que estava sendo acusada de negligenciar a saúde emocional de usuários adolescentes e de ter conhecimento de algoritmos tendenciosos maléficos aos usuários das redes sociais por ela controladas, Facebook e Instagram?

Fonte: encurtador.com.br/hnwB4

São indagações aqui levantadas – e não respondidas – não com a intenção de guiar o leitor para um caminho conspiratório, mas trazer uma nova face para esse prisma ainda opaco. Discutir o futuro da sociedade é inerente a discutir o avanço tecnológico, uma vez que são indissociáveis, enquanto o avanço tecnológico é indissociável ao grande valor monetário que o setor movimenta.

Nesse emaranhado de interesses, os prós e contras do Metaverso parecem se diluir e fundem-se aos prós e contra da sociedade atual, onde se vive em universos criados para serem palcos da vaidade e da carência de algo que supra o desejo imediatista[5]. Até que ponto a tecnologia pode ser culpada pelo comportamento humano? Até que ponto a tecnologia nos corrompe ou somos nós que a corrompemos? Talvez a resposta esteja na pergunta feita por Marguerite Duras[7], “Por que algumas pessoas têm necessidade de viver duas vezes? Uma vez quando vivem, e outra quando escrevem? E por que esta segunda vez é mais importante que a primeira?”.

Sendo a tecnologia ou a natureza humana o responsável, a sociedade está cada dia mais líquida e tem se liquidado cada vez mais nas redes sociais. Como parar o avanço da tecnologia não é plausível e tão pouco cogitado por esse artigo, a forma de prevenir que a vida online seja nociva aos usuários é através da educação. Um cuidado em preparar a mente dos internautas para filtrar o bombardeio de informações deve ser tomado, sobretudo quando se pensa nas próximas gerações.

O uso da internet já passou de algo esporádico e recreativo, o humano demasiadamente tecnológico tem de crescer sendo educado para os dois mundos, o real e o virtual – seja ele um possível metaverso ou um smartphone com acesso à internet e esse processo de preparação está ao menos 20 anos atrasado.

Observação: As imagens presentes neste artigo foram retiradas de séries de animação Futurama e Os Simpsons.

Referências

[1] HAO, Karen. O denunciante do Facebook diz que seus algoritmos são perigosos. Eis o motivo. In: HAO, Karen. O denunciante do Facebook diz que seus algoritmos são perigosos. Eis o motivo. Https://www.technologyreview.com/2021/10/05/1036519/facebook-whistleblower-frances-haugen-algorithms/: Karen Hao, 5 out. 2021.

[2] MYSTAKIDIS, S. Metaverse. Encyclopedia, v. 2, n. 1, p. 486–497, 10 fev. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.3390/encyclopedia2010031. Acesso em: 04 dez. 2022.

[3] GARCIA, M. CENAS DA VIDA VIRTUAL: Amor, Corpo E Subjetividade Numa Sociedade Do Consumo E Do Entretenimento. ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING – ESPM/SP: [s.n.].  Disponível em: https://tede2.espm.br/bitstream/tede/213/2/Margarete%20S%20Mendes%20Garcia.pdf . Acesso em: 04 dez. 2022.

[4] SLATER, M. et al. The Ethics of Realism in Virtual and Augmented Reality. Frontiers in Virtual Reality, v. 1, 3 mar. 2020.

Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/frvir.2020.00001 . Acesso em: 04 dez. 2022.

[5] Mundo se aproxima da marca de 5 bilhões de usuários de internet. Disponível em: <https://www.insper.edu.br/noticias/mundo-se-aproxima-da-marca-de-5-bilhoes-de-usuarios-de-internet-63-da-populacao/>.

[6] RABELO, E. M. S. Por uma crítica da fluidez moderna, segundo Bauman e Kierkegaard, através das redes sociais. Revista Húmus, [S. l.], v. 3, n. 7, 2013. Disponível em: http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahumus/article/view/1481. Acesso em: 4 dez. 2022.

[7] Entrevista concedida a Revista Veja em 17 de julho de 1985

[8] BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

Observação: artigo desenvolvido na disciplina “Tecnologias Criativas” do Programa Extensionista Interdisciplinar “Tecnologias para a Vida” dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software da Ulbra Palmas.

[1] Wachowskis é o nome coletivo para se referir às irmãs Lilly Wachowski e Lana Wachowski, diretoras e produtoras do sucesso de bilheteria Matrix, lançado em 1999.

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Como a inteligência artificial tem sido usada para contribuir na criação de uma rede de ódio?

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O discurso de ódio é algo que vem se tornando cada vez mais comum de ser presenciado, tanto fisicamente, quanto virtualmente. O termo “discurso de ódio” é originário do termo em inglês hate speech, e pode ser definido como um conjunto de palavras que intimidam, assediam ou insultam um individuo com base na sua cor, raça, sexo ou religião, e que tem a capacidade de instigar violência e ódio contra tais indivíduos (MOURA, 2016). Esse discurso dá a ideia de que o indivíduo, por causa de suas particularidades e diferenças, deve ser inferiorizado ou menosprezado. Essa externalização do ódio pode ser, e na maioria das vezes é, facilmente identificada, pois são feitas explicitamente, porém em alguns casos pode ser feita subliminarmente, que pode ser difícil de identificar.

O grande avanço tecnológico nos últimos anos fez com que boa parte da população ficasse conectada à internet. Segundo um estudo realizado pela Statista (2022), banco internacional de estatísticas, o Brasil possui cerca 159 milhões de pessoas utilizando as mídias sociais diariamente. Esse número, segundo pesquisa realizada pela Cuponation (2021), faz com que o Brasil fique no top 5 das nações que mais utilizam as mídias sociais.  Com a grande quantidade de pessoas conectadas às redes sociais, a interação entre elas fica cada vez mais fácil e rápida. Essas interações, com a falsa sensação de que tudo é permitido e anônimo, faz com que pessoas com más intenções expressem o seu ódio, que por muitas vezes repletos de preconceitos, a outras pessoas que não fazem parte do seu grupo social.

Fonte: encurtador.com.br/jsX01

Nesse contexto, a Inteligência Artificial (IA) tem sido usada nas redes para a criação de bolhas que propiciam o engajamento, mas, em contrapartida, favorece a disseminação de discursos de ódio. Em uma entrevista realizada para a revista MIT Technology Review, Frances Haugen, ex-gerente de produto do Facebook, afirma que o algoritmo da rede social e a forma de negócios da empresa fazem com que a prioridade seja o lucro ao invés da segurança das pessoas. Os algoritmos do Facebook são treinados para identificarem qual postagem causaria mais engajamento para determinado usuário. Segundo Haugen, essa classificação baseada em engajamento é perigosa e sem integridade, pois esse algoritmo também favorece a desinformação e o extremismo.

O algoritmo do Facebook na verdade é composto por vários algoritmos juntos, como algoritmos que classificam as preferências de cada usuário, e algoritmos que detectam conteúdos ruins como nudez ou spam, esses algoritmos são chamados de algoritmos de aprendizado de máquina. Esses algoritmos são treinados e baseados de acordo com as interações do usuário, que conseguem identificar por exemplo se você gosta de cachorros fofos passando pelo seu feed de acordo com os seus clicks e comentários em publicações. Essas informações podem ser ainda mais refinadas de acordo com o sexo e idade do usuário. Isso faz com que o engajamento da plataforma seja muito mais poderoso, pois faz com que os usuários passem muito mais tempo na rede social. E essa recomendação não se limita apenas a coisas boas, segundo uma publicação de Horwitz e Seetharaman (2020) no Wall Street Journal, 64% dos grupos extremistas tiveram suas assinaturas baseadas em recomendações dos modelos de “Grupos nos quais você deve participar” e “Descubra”, e isso mostra o quanto podem ser prejudiciais esses algoritmos.

Fonte: encurtador.com.br/gkKSU

Segundo Nandi (2018), a inteligência artificial (IA) pode também ser um grande aliado no combate ao discurso de ódio presentes nas redes sociais, porém ainda existem problemas que fazem com que isso não seja totalmente possível. A necessidade de ter uma supervisão humana faz com que a avaliação do discurso de ódio seja mais demorada ou até mesmo ineficaz. Outro problema que pode ser encontrado é que a IA consegue identificar as frases, porém tem dificuldade de entendê-las.

Uma abordagem diferente da inteligência artificial pode ser usada para ajudar no combate ao discurso de ódio presente nas redes sociais. Segundo o artigo Can Artificial Intelligence Predict The Spread Of Online Hate Speech? (2019), publicado pela Forbes, anteriormente os algoritmos de inteligência artificial analisavam o conceito em torno das publicações para decidir se as publicações eram ou não consideradas hostis. Já nessa nova abordagem que foi coordenada pela IBM, a ideia não era decidir se a postagem é ou não de ódio, e sim onde e como se inicia esse discurso e como isso se desdobra para o mundo real.

A análise consistiu em definir uma lista de palavras que fazem parte de discursos de ódio, baseados em terrorismo islâmico e violência anti-islâmica, com dados de tweets e publicações no Reddit feitas por cerca de 15 milhões de usuários. Depois que os dados foram analisados e classificados pela inteligência artificial, foi feito uma linha do tempo, e constatou que após incidentes de violência anti-islâmica, os discursos de ódios nas redes sociais aumentaram consideravelmente, e que esses discursos não se concentram apenas aos muçulmanos mas a todos os grupos que são minorias.

Considerando todo esse contexto, podemos concluir que a tecnologia não é neutra, mas tão pouco é boa ou má. Na verdade seu impacto se deve à forma como as pessoas a utilizam. Assim, como há algoritmos de IA sendo usados para criar bolhas de ódio, há, também, cientistas buscando na IA a detecção de onde e como se originam esses discursos. Talvez, em um dado momento consigamos combater e punir essa disseminação de ódio, muita coisa já começou nesse aspecto, muitos crimes já estão sendo trazidos à tona.

Referências:

CAN ARTIFICIAL INTELLIGENCE PREDICT THE SPREAD OF ONLINE HATE SPEECH? [S. L.]: Forbes, 30 ago. 2019. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/bernardmarr/2019/08/30/can-artificial-intelligence-predict-the-spread-of-online-hate-speech/?sh=351757277167. Acesso em: 11 nov. 2022.

CASEIRO, Sofia. O impacto da inteligência artificial na democracia. In: IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS DE COIMBRA: UMA VISÃO TRANSDISCIPLINAR. p. 135.

CUPONATION. USUÁRIOS REDES SOCIAIS: pesquisa aponta crescimento de usuários das redes por país. 2021. Disponível em: https://www.cuponation.com.br/insights/redessociais-2021a2026. Acesso em: 11 nov. 2022.

HORWITZ, Jeff; SEETHARAMAN, Deepa. Facebook Executives Shut Down Efforts to Make the Site Less Divisive: the social-media giant internally studied how it polarizes users, then largely shelved the research. Wall Street Journal. New York, p. 1-1. 20 maio 2020. Disponível em: https://www.wsj.com/articles/facebook-knows-it-encourages-division-top-executives-nixed-solutions-11590507499. Acesso em: 11 nov. 2022.

MIT TECHNOLOGY REVIEW. [S. L.]: Mit, 05 out. 2018. Disponível em: https://www.technologyreview.com/2021/10/05/1036519/facebook-whistleblower-frances-haugen-algorithms/. Acesso em: 08 dez. 2022.

MOURA, Marco Aurelio. O discurso do ódio em redes sociais. Lura Editorial (Lura Editoração Eletrônica LTDA-ME), 2016.

NANDI, José Adelmo Becker. O COMBATE AO DISCURSO DE ÓDIO NAS REDES SOCIAIS. 2018. 58 f. TCC (Graduação) – Curso de Tecnologias da Informação e Comunicação, Universidade Federal de Santa Catarina, Araranguá, 2018.

STATISTA. Internet usage in Brazil – Statistics & Facts. 2022. Disponível em: https://www.statista.com/topics/2045/internet-usage-in-brazil/#topicOverview. Acesso em: 11 nov. 2022.

STEIN, Marluci; NODARI, Cristine Hermann; SALVAGNI, Julice. Disseminação do ódio nas mídias sociais: análise da atuação do social media. Interações (Campo Grande), v. 19, p. 43-59, 2018.

Observação: artigo desenvolvido na disciplina “Tecnologias Criativas” do Programa Extensionista Interdisciplinar “Tecnologias para a Vida” dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software da Ulbra Palmas.

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Algoritmo da Vida, uma tecnologia de esperança!

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Os esforços para ajudar o combate ao suicídio continua de forma crescente. De acordo com  com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dados publicados em setembro de 2022 indicam que mais de 700 mil pessoas morrem por ano devido ao suicídio, o equivalente a uma a cada 100 mortes registradas. Dessas pessoas, a faixa etária majoritária são os jovens entre 15 a 29 anos de idade [1].

Existem grandes campanhas movidas no intuito de prevenir o suicídio e a depressão. Uma delas é o Setembro Amarelo, conhecido nacionalmente  por promover campanhas de conscientização e apoio às pessoas com vulnerabilidade psicológica. Durante o mês da campanha são realizadas ações sociais, como caminhadas, propagandas televisivas e a oferta de cursos gratuitos de prevenção ao suicídio.

Fonte: encurtador.com.br/fvAHO

A causa para a o suicídio é aberta a muitos contextos, provinda muitas vezes pela depressão. Essa doença  decorre de fatores  biológicos  (fatores genéticos), fatores psicológicos(personalidade e vivências ao longo da vida),   fatores  clínicos   (incluídos   transtornos   psiquiátricos),  fatores sociais e fatores ambientais (clima frio e localização geográfica, como estar afastado do convívio social) [2].

Com essa perspectiva, a empresa SAP Brasil, especializada em desenvolvimento de softwares, realizou em 2019 o evento SAP NOW que aconteceu na cidade de São Paulo. Durante o evento, foi apresentado em conjunto com a Amazon Web Service (AWS) o lançamento do ‘Algoritmo da Vida’, um algoritmo que tem como objetivo a prevenção de suicídio com base nas atividades nas redes sociais.[3]

Fonte: encurtador.com.br/lKNY2

Segundo Luciana Coan, diretora de comunicação integrada e responsabilidade social corporativa na SAP Brasil em entrevista ao Aberje Trends 2020, o Algoritmo da Vida busca identificar e oferecer ajuda às pessoas com depressão e tendências suicidas, no ambiente digital [4]. Ou seja, a ideia inicial foi criar uma ferramenta que pudesse agir em um primeiro contato de forma automática, sem necessariamente a intervenção humana. 

A proposta inicial apresentada contou com a parceria da rede social Twitter. Para que fosse possível verificar os resultados reais, a plataforma com o então algoritmo buscava associações de palavras e combinações de frases que continham os termos “solidão”, “fracasso”, “medo”. Feito a análise de posts com esses termos, o algoritmo foi capaz de identificar contas consideradas de risco ao suicídio, dessa forma era feito o encaminhamento destes perfis para especialistas para a realização de uma checagem cuidadosa e detalhada para identificar contextos, ironias e recorrência de termos e periodicidade. O Algoritmo da vida está em atividade desde janeiro de 2019 e já detectou mais de 300 mil menções no qual contém palavras e expressões de caráter depressivo.

Exemplo de publicação que o algoritmo captaria

Para a HarrisLogic (https://harrislogic.com/), empresa criada para desenvolver soluções que integram tecnologia e saúde, essa tecnologia representa a revolução da saúde mental, ao trabalhar a favor do paciente com base nas informações reunidas, contribuindo para que tratamentos sejam orientados de acordo com seu histórico. Uma ferramenta criada para salvar vidas. [5].

Dessa forma, a tecnologia em conjunto com outras áreas de conhecimento, pode desenvolver ferramentas que impactam de forma benéfica na vida das pessoas. É visível a desmistificação do uso da tecnologia em áreas em que antes não era popular o uso de meios tecnológicos. O Algoritmo da Vida pode ser o pontapé inicial para o surgimento de outras futuras ferramentas que podem contribuir para a vida das pessoas.

Referências

[1] https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/anualmente-mais-de-700-mil-pessoas-cometem-suicidio-segundo-oms

[2] Turecki  G,  Brent  DA,  Gunnell  D,  O’Connor  RC, Oquendo   MA,   Pirkis   J,   et   al.   Suicide   and  suicide  risk.  Nat  Rev  Dis  Primers.  2019;5(1):74. DOI: 10.1038/s41572-019-0121-0

[3] https://convergencia.digital/sap/sap-brasil-aws-e-africa-agregam-ti-ao-algoritmo-da-vida-na-prevencao-ao-suicidio/

[4] https://www.aberje.com.br/algoritmo-da-vida-solucao-tecnologica-no-combate-a-depressao

[5] https://news.sap.com/brazil/2019/10/tecnologia-como-ferramenta-de-prevencao-ao-suicidio-bl0g/

Observação: artigo desenvolvido na disciplina “Tecnologias Criativas” do Programa Extensionista Interdisciplinar “Tecnologias para a Vida” dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software da Ulbra Palmas.

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O quão sufocantes podem ser os avanços tecnológicos para a privacidade?

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O quanto os anunciantes sabem sobre você? A pergunta é simples, e a resposta também deveria ser, ou não seria? A forma de distribuição de anúncios por parte dos anunciantes sempre foi realizada de maneira generalizada,  às vezes focada em nichos, nem sempre se sabia até onde ela conseguiria atingir. Mas isso mudou, e mudou de maneira completamente radical, porque entramos na era digital, tudo se tornou rápido e instantâneo. A forma que os anúncios passaram a chegar até você sofreu uma total reviravolta. Isso se dá pelos dados e informações, traços que você passou a deixar para trás quando começou a utilizar a internet. Tudo que você gosta e não gosta acaba se tornando dados públicos, que são utilizados para direcionar a você anúncios de seu interesse, são os chamados “anúncios direcionados”.

E isso vai muito além de apenas coisas que você deixou de gostar no verão passado, isso envolve todos os seus dados pessoais. Já parou para pensar que alguém pode saber o que você está fazendo ou aonde você está? Melhor ainda, todos os lugares em que esteve no último mês? Parece assustador, como um tema para um bom conto de ficção científica, só que não seria tão terrível se fosse apenas uma ficção.

Fonte: Imagem no Freepik

O governo americano rastreia seus cidadãos em  uma base diária [1], e esses dados de localização não vêm diretamente de companhias telefônicas, e sim de parceiros de localização. Mas de onde sai esses dados de localização se não das companhias telefônicas? De aplicativos que utilizam esse recurso no seu celular. Sabe esse seu aplicativo para ver a previsão do tempo? Então é por aí que começa, aplicativos como o exemplificado que de primeiro relance oferecem serviços de forma gratuita na verdade lucram, e lucram bastante, porque você é na verdade o produto deles.

Fonte: Imagem no Freepik

Em sua matéria [3] no jornal Intelligencer, Max Read relata a assustadora experiência de ter uma campainha inteligente da Ring, que pertence à gigante Amazon. Ele aborda sobre as práticas de segurança adotadas pela empresa e questiona a real eficácia do produto e também o destino das gravações realizadas pelo mesmo, considerando que os dados obtidos pelo equipamento podem ser mantidos somente para si ou compartilhados com um feed do aplicativo da fabricante.

Fonte: Imagem no Freepik

Adentrar neste método de compartilhamento abre espaço para diversos questionamentos a respeito do custo benefício de ter a privacidade reduzida em troca de segurança, pois nem sempre estas soluções se mostram benéficas, como mostra o resultado da investigação da NBC News [4] sobre as câmeras destas campainhas. A investigação feita constata que não há uma uma avaliação da eficácia do envio das filmagens para o feed, não havendo índice de melhora na redução da criminalidade dos pontos em que as câmeras foram instaladas, levando assim a uma exposição aparentemente “desnecessária” da vizinhança.

Fontes:

[1] The New York Times. The Government Uses ‘Near Perfect Surveillance’ Data on Americans. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/02/07/opinion/dhs-cell-phone-tracking.html Acesso em: 18 de Novembro de 2021.

[2] The New York Times. All This Dystopia, and for What?. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/02/18/opinion/facial-recognition-surveillance-privacy.html Acesso em: 18 de Novembro de 2021.

Wind Map. wind map. Disponível em: http://hint.fm/wind/ Acesso em: 18 de Novembro de 2021.

[3] READ, Max. I Got a Ring Doorbell Camera. It Scared the Hell Out of Me. The Intelligencer. Doylestown. 13 fev. 2020. Disponível em: https://nymag.com/intelligencer/2020/02/what-its-like-to-own-an-amazon-ring-doorbell-camera.html. Acesso em: 22 nov. 2021.

[4] FARIVAR, Cyrus. Cute videos, but little evidence: Police say Amazon Ring isn’t much of a crime fighter. Nbc News: Hundreds of police departments have signed agreements with Ring to gain access to footage filmed on home surveillance cameras. New York City. 15 fev. 2020. Disponível em: https://www.nbcnews.com/news/all/cute-videos-little-evidence-police-say-amazon-ring-isn-t-n1136026. Acesso em: 22 nov. 2021.

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O que é metaverso? E o que esperar do futuro da internet?

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O conceito metaverso começou a ganhar a mídia após o anúncio da Meta (antigo Facebook Inc.) de investir na criação de um ambiente virtual que integre todos os seus serviços e tecnologias em um só lugar[1]. Considerado como o “próximo capítulo da Internet” ou “Internet 3D”, esse  universo virtual vai permitir às pessoas interagir e realizar vários tipos de atividades de forma imersiva, como trabalhar, jogar, fazer compras, sair com os amigos. Esse mundo será criado a partir da junção de diversas tecnologias, como realidade virtual, realidade aumentada, NFTs, criptomoedas.

Apesar de parecer uma novidade,  o termo metaverso já foi abordado no ano de 1992, no livro Snow Crash, um livro de ficção científica escrito por Neal Stephenson. Na história, humanos na forma de avatares interagem uns com os outros em um mundo virtual [2]. Além disso, jogos que exploram o metaverso já existem desde os anos 2000. Por exemplo, o Second Life, que é um ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social do ser humano através da interação entre avatares.

Fonte: Imagem no Pixabay

Os games são uma parte essencial do metaverso, mas o metaverso não irá se limitar aos jogos, eles são apenas a porta de entrada, um primeiro passo nessa nova tecnologia [3]. A plataforma de games Roblox, por exemplo, já é um tipo de jogo mais atual que tem a ideia de metaverso, conta com 700 milhões de usuários e é baseado em mundo aberto, que permite que os jogadores criem seus mundos virtuais e os demais jogadores possam interagir com esse mundo.

Mas qual a diferença do metaverso e a realidade virtual? A realidade virtual (RV) possibilita uma imersão completa em um mundo simulado, uma vez que é ela quem vai garantir o transporte a esse outro mundo digital. Mas a RV não é tudo. A construção desse universo amplo e integrado dependerá de muitas outras tecnologias, incluindo criptomoedas e NFTs[4].

Fonte: Imagem no Pixabay

Gigantes companhias de tecnologia, como a Google, Microsoft, Amazon estão investindo nessa nova fase da internet. Não é um interesse exclusivo da Meta, a Microsoft por exemplo anunciou recentemente no evento Ignite 2021 a chegada de avatares 3D ao Teams. Com todo esse aporte tecnológico e financeiro das principais empresas, o avanço do metaverso se dá a passos largos mas ainda com bastante cautela, isso por que essa tecnologia pode revolucionar o cenário atual, mas para que isso aconteça é necessário que as pessoas tenham acesso à tecnologia de ponta como 5G, óculos de realidade virtual, computadores mais robustos, e essa não é a realidade da maioria das pessoas.

O metaverso pode se tornar o novo “terceiro lugar”, termo criado pelo sociólogo Ray Oldenburg que se refere a lugares onde as pessoas passam a maior parte do tempo, como a casa (“primeiro” lugar) e o trabalho (“segundo” lugar)[5]. Atualmente já permanecemos bastante tempo conectados, seja por meios de smartphones, computadores, smarts tvs e videogames, e com cada vez mais a presença de dispositivos inteligentes (IoT) esse tempo tende a aumentar de forma que a realidade virtual se conectará com a realidade física.

O metaverso irá impactar a forma como vivemos e como nos relacionamos, teremos a possibilidade de passar mais tempo em outra realidade, de mudar nossos hábitos, comportamentos e cultura. Mas existem alguns questionamentos que nos fazem pensar sobre o futuro dessa tecnologia, por exemplo, qual vai ser o limite entre realidade física e realidade virtual? E até onde as ações no mundo virtual irão interferir no  no mundo físico? Ainda é cedo para termos respostas sobre esses questionamentos, até porque  o metaverso está em fase inicial, mas a partir dos planos das gigantes de tecnologia é possível identificar que esse futuro está próximo. O potencial do metaverso é muito grande, mas o seu sucesso está diretamente ligado ao comportamento das pessoas e ao seu impacto nas relações que estas estabelecem em seu meio, mas também ao acesso a essas tecnologias, que ainda estão potencialmente fora do alcance da grande massa.

Referências:

1.https://canaltech.com.br/apps/metaverso-desencadeia-compra-desenfreada-por-imoveis-virtuais-203657/

2.https://mittechreview.com.br/brasil-tem-chance-de-liderar-a-corrida-pelo-metaverso/

3.https://www.bbc.com/portuguese/geral-59438539

4.https://www.techtudo.com.br/noticias/2021/11/software-microsoft-quer-entrar-no-metaverso-com-avatares-3d-no-teams.ghtml

5.https://mittechreview.com.br/metaverso-pode-ser-nova-internet-e-vira-prioridade-das-big-techs/

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Concordo com os termos (malefícios) e desejo continuar

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Ao criarmos uma conta em qualquer plataforma online, há sempre uma pergunta antes de finalizarmos o cadastro: Você concorda com os termos de uso? E ao concordar, quase que automaticamente sem ao menos nos perguntar com o que estamos compactuando, é permitido uma série de usos de dados, informações e ainda concordamos com o modo em que a plataforma nos tratará dali para frente [1].

As redes sociais são onde atualmente mais produzimos dados de valor para uma grande estrutura onde as gigantes da tecnologia faturam bilhões, a venda de anúncios. Trata-se de um mercado tão lucrativo e obscuro em seus segredos que de tempos em tempos participantes desse sistema são levados a júri. Como é o caso do Facebook[2].

Já houve vários casos sobre esse assunto, mas um dos mais polêmicos remete às eleições do presidente dos Estados Unidos, onde o Facebook sofreu um forte abalo com a revelação de que as informações de mais de 50 milhões de pessoas foram utilizadas sem o consentimento delas pela empresa americana Cambridge Analytica para fazer propaganda política[2].

Porém o fato que iremos dar atenção vai um pouco mais a fundo desse emaranhado de interesses. Para que a estrutura de venda de anúncios esteja em pleno funcionamento, as centenas de algoritmos por trás do Facebook trabalham em cada ação dos usuários para traçar perfis cada vez mais detalhados. O que antes era “Homem, entre 18 e 25 anos, Brasil”, agora está cada vez mais direcionado para os nichos comportamentais “Homem, entre 18 e 25 anos, tem interesse em ciclismo e politica de direita, acessa conteúdo de curiosidades históricas, Brasil”[3].

Todas essas informações poderiam ser consideradas apenas como uma estratégia de negócios agressiva e eficiente por alguns e até conveniente para outros ao mostrar anúncios e conteúdos personalizados ao perfil de quem utiliza a rede social. No entanto, a ex-gerente de produto da Facebook, Frances Haugen, foi a público expor os malefícios que esses algoritmos podem trazer à sociedade em uma escala quase que global.

Fonte: Imagem no Pixabay

Acontece que, segundo a ex-funcionária, as linhas de códigos desenvolvidas e treinadas para traçar perfis e entregar anúncios e conteúdos direcionados (para que, no fim, gere interesse de terceiros comprar esse veículo de comunicação) estão polarizando as opiniões, ajudando na disseminação de discursos de ódio, entregando conteúdos nocivos a mentes fragilizadas e promovendo uma espécie de “bolha social”[3].

Para exemplificar a gama da nocividade, pesquisas apontaram que adolescentes que apresentam indícios de comportamento depressivo estão recebendo em suas redes sociais mantidas pelo Facebook (agora conhecida como Meta) conteúdos melancólicos e cada vez mais negativos, podendo formar uma espiral que puxa tudo que é apresentado na tela para um contexto mais nocivo a cada clique.

Essa nocividade se estende a quem consome conteúdos extremistas e de discursos de ódio, o que leva ao indivíduo a estar sempre recebendo um reforço positivo para posições negativas.

É realmente assustador, mas o pico do terror se dá quando Francês Haugen declarou em tribunal que a gigante do vale do silício dona do Facebook e do Instagram tem conhecimento desses “desvios de conduta” em seus algoritmos. Alguns relatórios datados de 2016 já demonstravam essas tendências e Francês continua em seu depoimento dizendo que a empresa escolheu conscientemente o lucro ao invés da segurança[3].

Não que seja surpreendente uma multinacional bilionária subjugar necessidades humanas a troco de alguns dólares a mais. Os tribunais são lentos e com dinheiro quase ilimitado, grandes empresas como o Facebook não temem à lei, pois multas referentes a processos perdidos são irrisórias perto do quanto faturaram com a irresponsabilidade.

Fonte: Imagem no Freepik

O mundo on-line não é mais um equipamento que você deixa na sala e compartilha com todos da casa. Com a popularização dos smartphones e a facilidade no acesso à internet, as horas conectadas aumentaram drasticamente. Não se tem mais a necessidade de haver uma intenção para acessar as mídias sociais, elas estão onipresentes, a cada momento uma notificação mostra isso.

Essa aproximação do ser humano com a internet e as mídias sociais maximiza a influência que recebemos e entregamos via megabits. Qualquer pessoa pode ser ouvida, qualquer pessoa pode ser calada, qualquer pessoa pode ser atacada, tudo isso do conforto e segurança de uma tela. Nesse contexto, atos passíveis de interpretação de integridade como o caso dos algoritmos do Facebook estão na palma da mão de bilhões de pessoas antes de receberem um veredito.

Enquanto isso, os usuários continuam sendo levados a pensar serem protagonistas e guias de suas próprias redes sociais. Grupos com ideias perigosas e violentas continuam recebendo novos membros trazidos pelos rastreadores de interesses, adolescentes continuam sendo soterrados por conteúdos nocivos à saúde mental, pessoas continuam achando que estão em completa razão quando toda sua bolha social pensa o mesmo.

E todos continuam curtindo e compartilhando enquanto o que permanece são as perguntas: Quantos segredos que afetam bilhões de pessoas serão mantidos por um punhado de corporações? Até quando o usuário dirá “concordo com os termos e desejo continuar”?

Fonte: Imagem no Freepik

Referências

[1] COSTA, Thaís. O que está acontecendo com o Facebook?: Entenda por que a maior rede social do mundo pode estar caminhando em direção ao fim. In: COSTA, Thaís. Https://rockcontent.com/br/blog/facebook-vazamento-de-dados/: Thaís Costa, 23 mar. 2018.

[2] POZZI, SANDRO. EUA multam Facebook em 5 bilhões de dólares por violar privacidade dos usuários: Empresa é punida com multa recorde pelo vazamento de dados no caso Cambridge Analytica. In: POZZI, SANDRO. EUA multam Facebook em 5 bilhões de dólares por violar privacidade dos usuários: Empresa é punida com multa recorde pelo vazamento de dados no caso Cambridge Analytica.

[3] HAO, Karen. O denunciante do Facebook diz que seus algoritmos são perigosos. Eis o motivo. In: HAO, Karen. O denunciante do Facebook diz que seus algoritmos são perigosos. Eis o motivo.. Https://www.technologyreview.com/2021/10/05/1036519/facebook-whistleblower-frances-haugen-algorithms/: Karen Hao, 5 out. 2021.

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Bioimpressão de órgãos

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Nas longas sessões de filmes clássicos da sessão da tarde, onde existem cenários futurísticos com carros voadores nos jetsons ou blade runner, até teorias físicas e astrofísicas presentes de forma cartunesca para justificar eventos e fatos nos quadrinhos da marvel, temos uma ideia de como a indústria do entretenimento ou a arte  imagina – inspira- os próximos passos da ciência.

Nos últimos anos, o ramo de tecnologia aplicada à medicina parece estar iniciando o caminho para a geração de órgãos sintéticos. Sim! como o corpo do homem bicentenário, ou o olho do Thor. Mais além, como a arte imagina a ciência, por que não uma mão e olhos aprimorados como em cyberpunk 2077? O futuro é promissor, mas vamos entender melhor como essa tecnologia funciona e qual é o status atual tanto de sua utilização no mercado quanto da capacidade atual de gerar tecidos e órgãos.

A tecnologia de Bioimpressão possui etapas similares à da impressão 3D. Sendo basicamente as seguintes etapas [1] :

  • Etapa de pré-processamento, nesta etapa necessita-se de um BioCAD / Blueprint ou simplesmente do projeto do tecido para a bioimpressão;
  • Etapa de processamento ou bioimpressão 3D, nesta etapa são utilizados componentes, como células ou esferóides, materiais sintéticos ou biomateriais, hidrogéis e biomoléculas;
  • Etapa de pós-processamento é a etapa de maturação do tecido bio impresso. Ela necessita de sistemas fechados e controlados para a maturação do tecido bio impresso, podendo ser equipamentos chamados biorreatores, essenciais para o desenvolvimento do tecido bio impresso.
Fonte: Imagem no Freepik

Há portanto uma importante relação multidisciplinar que propicia a existência dessa tecnologia. Para isso, os ramos da engenharia tecidual, da biofabricação, da bioimpressão e da tecnologia da informação se entrelaçam dando origem à possibilidade de construção de órgãos funcionais sintéticos.

Vale destacar que a engenharia de tecidos já existia desde os anos 80, período no qual já era possível cultivar células de um coração. Outros avanços que merecem menção são: o desenvolvimento de uma orelha nas costas de um camundongo em meados dos anos 90 e, em 2019, a impressão de um cubo 3cmx3cmx3cm de um coração humano [2]. Para um leigo parece pouco ou inexpressivo, mas se trata de um grande avanço, que demarca o início do foco de mais estudos na área que possibilitará o desenvolvimento completo de órgãos.

A implementação da impressão se dá objetivamente pela inserção de célula por célula – seja muscular, endoteliais ou células tronco – fixadas por hidrogel de textura semelhante ao gel de cabelo que obviamente é composto por materiais biologicamente compatíveis com as células que comporão o tecido ou órgão em questão. Em alguns artigos esse hidrogel pode ser de biotina ou fibrina. Conforme pode ser visto no vídeo abaixo.

Vídeo – Bioimpressão de órgãos humanos

“Atualmente temos próteses e implantes adequados para tecidos ósseos e para cartilagem. Mas por conta dessa complexidade bioquímica e biomecânica dos osteocondrais, não existe um biomaterial comercialmente adequado para esse tipo de implante. Por isso, os médicos acabam tendo bastante dificuldade de tratar lesões nos joelhos dos pacientes, por conta da dificuldade da especificidade da região osteocondral”[3].

“Nos últimos anos, ocorreu bastante progresso na pesquisa referente a tecnologia de bioimpressão e sua aplicação na geração de análogos de tecidos, incluindo pele, válvulas cardíacas, vasos sanguíneos, ossos, cartilagem, estruturas da córnea, fígado, tireoide e tecido cardíaco” [1].

Fonte: Imagem no Freepik

Consoante a isso, há o problema de não ser possível, ainda, a impressão de órgãos plenamente funcionais, portanto há alguns passos que precisam ser dados antes de se alcançar o patamar desejado, a bioimpressão também enfrenta dificuldades para encontrar materiais que promovam o melhor ambiente possível para o crescimento das células que formariam o órgão. Os polímeros sintéticos utilizados na impressão, apesar de serem fortes e adaptáveis para melhorar a viscosidade e a capacidade de se imprimir os órgãos, não são biodegradáveis e não possuem uma boa adesão para suportar o crescimento adequado de células, ou seja, não possuem uma boa biocompatibilidade. Por outro lado, polímeros naturais não são tão fortes nem possuem a adaptabilidade dos sintéticos, porém oferecem uma adesão melhor para o crescimento de células. Estudos estão sendo feitos para que um material que combine as qualidades dos dois tipos de polímeros, como na Universidade de Swansea, que propôs a utilização de polímeros baseados na utilização de plantas, combinando a resistência da célula vegetal com a adesão para o suporte do crescimento das células [4].

Outro problema com a bioimpressão é a vascularização dos tecidos impressos, uma vez que as ferramentas atuais muitas vezes não possuem a capacidade de criar a vascularização de calibre apropriado para os tecidos. No corpo os vasos sanguíneos carregam nutrientes e oxigênio para as células e levam das células o lixo celular [5]. Assim como o problemas dos polímeros, existem estudos sendo feitos para solucionar esse problema, como uma nova impressora da Cellink and Prellis Biologics[6] e o modelo SWIFT de impressão, do Instituto Wyss de Harvard [7].

Por fim, para avançar nessa área deve se ter ciência que esse estudo agora é muito mais sistemático, e necessita de uma nova abordagem computacional para compreender  sistemas biológicos complexos de tecidos. Com isso, o BioCAE (plataformas integradas para estimar processos biológicos) poderá se tornar a chave para etapas importantes dos processos de Biofabricação e Bioimpressão de tecidos”[1]. Para o sucesso do BioCAE na área da bioimpressão, é imprescindível o avanço no conhecimento biológico e  na compreensão da relação entre células e tecidos.

“Compreender o fenótipo celular e tecidual, redes de interação de linhagens celulares, células induzidas/editadas e de tecidos é crucial para o desenvolvimento de novos Bioprocessos e Bioprodutos, como a biofabricação de tecidos e futuramente órgãos”[1]. O conhecimento é a chave para o desenvolvimento em qualquer área de conhecimento, e uma das barreiras no contexto da bioimpressão é entender a fundo como as células funcionam e suas relações, por isso a importância da análise sistemática. “A análise sistemática e o uso de métodos computacionais como o BioCAE auxiliará de forma significativa o desenvolvimento de Bioprocessos e Bioprodutos, minimizando os custos, o tempo e o uso de animais”[1].

Em vista dos fatos apresentados, poder gerar um órgão utilizando tecnologia deixa de ser algo distante dos filmes de  ficção científica e se torna algo possível de se alcançar. Graças à sua evolução, a ciência dá passos cada vez mais largos em direção a este objetivo, deixando as pessoas esperançosas com os incontáveis avanços na área da saúde que serão proporcionados pela bioimpressão de órgãos e fabricação de bioprodutos. É entendido que ainda há bastante obstáculos pela frente, além de vários erros a serem cometidos, mas devemos nos manter confiantes no progresso, pois como dizia Carl Sagan, “existem muitas hipóteses em ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável, eles são a abertura para achar as que estão certas”.

Fonte: Imagem no Freepik

REFERÊNCIAS

[1]https://www.biofabricacao.com/bioimpressao-3d

[2]https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/09/20/bioimpressao-o-futuro-nos-orgaos-humanos-impressos-em-laboratorio.htm

[3]https://www1.cti.gov.br/pt-br/noticias/cti-renato-archer-lidera-ranking-do-cen%C3%A1rio-de-pesquisa-em-bioimpress%C3%A3o-na-am%C3%A9rica-latina

[4]Bioprinting organ challenges: an emerging technology (medicaldevice-network.com)

[5] Recent advances and challenges in materials for 3D bioprinting – ScienceDirect

[6] CELLINK and partner Prellis Biologics awarded Merck Innovation Award – Cellink Global

[7] A swifter way towards 3D-printed organs (harvard.edu)

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Robô Victor, uma simples IA ou um futuro juiz?

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Um robô seria capaz de ditar sentenças de um caso?

Victor é uma inteligência artificial criada para agilizar os processos jurídicos no Supremo Tribunal Federal que custou cerca de R$ 1,6 milhões [2][5]. Recebeu esse nome em homenagem a Victor Nunes Leal, ministro do STF entre os anos de 1960 e 1969, autor da obra “Coronelismo, Enxada e Voto” de 1948 e principal responsável pela sistematização do STF, o que facilitou a implantação de uma inteligência artificial dentro do meio jurídico [3].

Victor, a Inteligência Artificial do Supremo Tribunal foi desenvolvida pela agência de tecnologia do STF em parceria com a Universidade de Brasília, como uma ferramenta para acelerar os processos que aguardam julgamento nos tribunais do país, uma solução hábil que garante ganhos de tempo para todos que a utilizam. Mas a pergunta que não quer calar, uma IA seria capaz de ditar uma sentença e substituir os juízes e advogados que fazem parte da Ordem dos Advogados do Brasil?

Calma, a pergunta será respondida. Mas qual a necessidade de implantar uma IA em uma ciência que tangencia inexoravelmente os valores morais que sustentam as sociedades humanas?

Com a crescente demanda de ações judiciais em todo o Brasil e com a necessidade de respostas rápidas e adequadas para os cidadãos que buscam prestação jurisdicional efetiva, o STF concentrou seus esforços para buscar meios eficientes que automatizassem a resolução de ações repetitivas. Isso foi feito com o devido amparo dos princípios constitucionais do processo legal e buscando a celeridade processual.

Victor não é uma máquina que dita sentenças ou decide sobre a vida de uma pessoa, isso é uma atividade humana. O robô utiliza um algoritmo baseado em Machine Learning (Aprendizado de Máquina) com a finalidade de analisar casos semelhantes e agilizar o processo de buscas por casos que podem ter a mesma avaliação judicial, para aumentar a velocidade dos trâmites dos processos e auxiliar o trabalho do STF.

Para obtenção de um bom desempenho da IA, foi realizada uma separação das peças de acordo com o tema de repercussão, com isso foi possível identificar cinco peças processuais: acórdão, recurso extraordinário, agravo de recurso extraordinário, despacho e sentença [4]. Através da separação das peças foi possível utilizar os conjuntos de dados a serem treinados para que o Victor pudesse reconhecer padrões na base de dados do STF e, consequentemente, encontrar as peças processuais semelhantes.

Machine Learning, segundo a IBM [1], é uma tecnologia que possibilita aos computadores aprenderem através da associação de respostas por meio de diferentes conjuntos de dados, podendo ser imagens, vídeos, números ou qualquer outro tipo de dados que o computador possa interpretar. Essa tecnologia permite que os computadores sejam treinados e melhorados à medida em que forem tendo experiências com os dados acessados. Após a etapa de treinamento o sistema baseado em Machine Learning será capaz de aprender sozinho, resultando em uma maior precisão dos resultados em um menor período de tempo.

É inegável que novas tecnologias têm ganhado espaço em todas as áreas do conhecimento. Para as ciências jurídicas não seria diferente, embora, esse fenômeno cibernético ainda seja controverso para o mundo jurídico. De um lado existem entusiastas da tecnologia no Direito, os quais acreditam que a Inteligência Artificial poderá revolucionar a área eliminando especialmente discordâncias e disparidades epistemológicas típicas de uma ciência humana e social. Nesse sentido, um robô seria capaz de ditar sentenças em um processo de modo absolutamente técnico e racional. Por outro lado, também há posicionamentos mais tradicionais sobre essa discussão. Para esse público, a possibilidade de uma máquina decidir os rumos de uma lide é absolutamente inconcebível. No entender destes tradicionalistas a “magia do Direito” se encontra no seu dinamismo, elemento esse que possibilita discordâncias ferozes, debates acalorados e mudanças de paradigmas que movimentam as ciências jurídicas intensamente.

Para aqueles que já possuem o famigerado poder de império, não parece razoável ver sua força decisória se esvaziar em favor de uma máquina ou programa de computador. Retomando o questionamento inicial deste ensaio, talvez não haja uma resposta correta, mas sim uma que seja possível em um dado tempo e espaço. Concretamente, tem-se que a utilização do robô Victor, no STF, assim como em outros tribunais brasileiros, não está programada para prolatar juízos terminativos ou definitivos, essa tecnologia visa apenas auxiliar na tramitação dos processos e aumentar a velocidade da avaliação judicial, separando e identificando as peças contidas nos documentos que chegam ao STF, a fim de facilitar a vida dos ministros.

Usar de recursos tecnológicos como robôs para auxiliar os trâmites processuais é uma jogada excepcional para área do conhecimento que, por vezes, ainda resiste às novas tecnologias e parece pouco interessada em reverter seu status quo.

Portanto, como fechamento desta reflexão fica o seguinte questionamento: pode haver um futuro juiz digital?

Referências

[1] https://www.ibm.com/br-pt/analytics/machine-learning

[2] https://cryptoid.com.br/banco-de-noticias/victor-e-o-nome-do-robo/

[3] https://portal.tce.go.gov.br/-/inteligencia-artificial-chegou-ao-stf-com-victor

[4] https://www.advogatech.com.br/blog/@NayaraAzevedo/victor-o-primeiro-projeto-de-inteligencia-artificial-do-stf-qs3oyyu

[5] https://bernardodeazevedo.com/.

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IOT pós pandemia

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O mundo estava lentamente começando a aderir a ideia de um trabalho remoto nos anos antecedentes a 2020, e certamente a pandemia acelerou de forma exponencial esse processo. Diante da pior crise de saúde do século XXI, em poucos meses, a Covid-19 colocou países inteiros em isolamento, modificou hábitos diários e alterou totalmente a rotina de empresas de todos os setores. As principais economias mundiais ainda tentam retomar as atividades comerciais após um longo período de paralisação em todos os serviços “não essenciais”. No entanto, ainda que muito devastadora, a pandemia abriu um leque de oportunidades para o amadurecimento de algumas tecnologias. Por conseguinte, surgem algumas indagações, como: quais tecnologias realmente vieram para ficar? E que tipo de tecnologias devemos apostar neste, talvez, “novo mundo”?

De fato, foi possível observar uma rápida adaptação das organizações no novo modelo de trabalho, que por sinal se mostrou muito eficiente. Essa resposta rápida teve como papel fundamental o uso da tecnologia, que contribuiu diretamente na manutenção de operações de empresas, de produtividade e forneceu, diante de tantas incertezas, algo para se apoiar e continuar a evolução estrutural e financeira [1]. Sendo assim, pode-se afirmar que a reinvenção está, mesmo que de forma mínima, inserida no DNA das empresas atuais. Através de uma seleção natural do mercado, a pandemia veio separar as empresas em dois tipos: as que estavam preparadas para usar a tecnologia a seu favor e seguir em frente, e as que resistem e não se adaptam a novas formas de trabalhar. É certo que esta divisão digital já existia antes, mas nunca tinha sido tão acentuada ou tão decisiva.

Fonte: Imagem por storyset no Freepik

O “be-a-ba” de antes, mesmo que por enquanto seja funcional, não é o suficiente mais, é preciso pensar em novas maneiras de atuar e, principalmente, de sobreviver a este período de incertezas. Portanto, é necessária certa cautela, pois segundo especialistas o pós-crise pode ser tão importante quanto o atual momento, e suas consequências podem ser maiores que a crise de 1929 [2]. A boa notícia é que atualmente temos uma importante aliada para minimizar os efeitos: a tecnologia. Numa altura em que o mundo todo combate o mesmo inimigo, e infelizmente, no que diz respeito ao coronavírus, especialistas alertam para o fato de que o que se conhecia por “normalidade” está longe de ser alcançado, e que muito provavelmente, não retornaremos ao mesmo padrão. Tivemos que, de maneira obrigatória, abraçar novas ideias e descobrir os seus benefícios, mesmo que ainda exista um longo caminho a percorrer. Como resultado, a COVID-19 pode muito bem ter sido a consagração da Internet das Coisas (IoT).

Nos últimos anos, a IoT se tornou uma das tecnologias mais importantes do século. Em 2017 existiam mais de 7 bilhões de dispositivos IoT conectados e até 2025 é esperado que esse número chegue a 22 bilhões [3], ou seja, em menos de 10 anos o número de aparelhos IoT conectados, triplicou! E aliado a isso, estima-se que o seu valor de mercado até 2021 possa valer 243 bilhões de dólares [4].

Agora que podemos conectar dispositivos que variam de objetos domésticos comuns a ferramentas industriais sofisticadas, é possível estabelecer uma comunicação perfeita entre pessoas, processos e outras coisas. Por meio da computação de baixo custo, nuvem, big data, análise avançada e tecnologias móveis, coisas físicas podem compartilhar e coletar dados com o mínimo de intervenção humana. Nesse mundo hiperconectado, os sistemas digitais podem gravar, monitorar e ajustar cada interação entre itens conectados. O mundo físico encontra o mundo digital – e eles cooperam.

E nesse momento alguns podem pensar, “Tudo bem! Realmente é incrível essa evolução tecnológica e todas essas possibilidades, mas como é que a IoT pode nos ajudar num cenário de pós Covid-19?” Muito provavelmente de inúmeras formas, e acrescento também, que ela contribuirá até mesmo numa próxima pandemia.

Fonte: Imagem por rawpixel.com no Freepik

Existem grandes chances de outra pandemia surgir. E infelizmente, isso não é idealizado a partir de teorias conspiratórias, e sim, do fato que nossa sociedade proporciona ambientes, onde é possível surgir e proliferar um vírus mortal de maneira contundente. Além disso, essa terrível possibilidade pode ser mais endossada, ao observar a “retrospectiva da calamidade”: ebola em 2013, gripe suína em 2009, gripe espanhola 1918 e dentre outras situações de saúde que a humanidade teve de superar [5]. Se a questão é “quando?”, então devemos estar preparados para que a sociedade não seja tão impactada como está ocorrendo neste momento.

A IoT aplicada com o uso de inteligência artificial poderá muito em breve fazer diagnósticos prévios, de maneira rápida sem a necessidade de aguardar horas por um exame. Já ouviu falar em “medicina remota” e “medicina interativa”? A área da saúde é uma das áreas mais incríveis que a tecnologia pode estar presente, pois mexe diretamente com a saúde das pessoas, se por algum motivo o paciente não pode ir para um hospital então o hospital pode ir até o paciente de maneira remota, quando se aplica tecnologias da Indústria 4.0 se torna possível interligar equipamentos de imagens e radiologia ou monitorar pacientes à distância [6].

Embora a saúde tenha sido área central de atuação, o uso de IoT em outros setores é evidente. Como mencionado, se tem um botão on-off, as chances são enormes de que o dispositivo possa fazer parte desse sistema. Segundo Paulo José Spaccaquerche, Presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABIN), os sensores serão essenciais em nossa nova vida, garantirão que as atividades sociais possam ser realizadas sem grandes aglomerações, ao menos até que todos sejam vacinados contra o novo coronavírus. O presidente da ABIN, ainda afirma – “ a solução através de um sistema integrado capaz de oferecer um diagnóstico preditivo torna a resposta mais rápida, evita o fechamento temporário de empresas e preserva a força de trabalho” [7]. Outro mercado, que apesar de ser mais para o futuro, mas terá grande relevância quando o quesito for “espaço gerenciável”, é o de “smart place”. O head de IoT/LoRa da American Tower, comentou em uma conferência organizada pela Mobile Time e TELETIME, que o grau de maturidade da tecnologia ainda está relativamente baixo. No entanto, ele conclui informando que contar o número de pessoas em um ambiente, assim como seu fluxo, terá extrema importância, considerando principalmente, o momento de volta ao convívio social [8].

Fonte: Imagem por gstudioimagen1 no Freepik

Além disso, o sucesso do trabalho remoto deve se perpetuar mesmo após a pandemia e trazer benefícios em curto prazo. Segundo a consultoria Gartner, quase a metade dos seus funcionários continuarão o trabalho remoto por mais algum tempo, o que representa um aumento de 30% em comparação a anos anteriores ao da pandemia. Além de oferecer esse suporte para o trabalho virtual, a tecnologia IoT também representa uma evolução tanto nos negócios, quanto na eficácia operacional [4]. Dessa forma, o retorno aos trabalhos presenciais deve ser feito de maneira gradual, e para tornar seguro o regresso dessas atividades, diversas empresas estão apresentando sensores para o monitoramento das atividades humanas no pós-covid-19. E dentre essas soluções baseadas na tecnologia IoT, foram apresentadas câmeras de segurança que são usadas para o monitoramento da temperatura corporal, e pulseiras inteligentes com sensores que geram alerta de proximidade [9].

Essas inúmeras soluções, para um cético estilo Tomé, podem parecer somente alternativas temporárias, visando diminuir o transtorno e possibilitar uma normalidade aos vários setores. Entretanto, as tendências do mercado, a rápida adaptação das organizações e as perspectivas para o período pós-pandemia, apresentam um caminho sem volta, quando se trata de investimento nesse tipo de tecnologia. E isso é ruim? Muito pelo contrário, isso é excelente para as empresas [10]. Fica evidente que, seja na indústria de manufatura, na saúde ou na cadeia de suprimentos, a pandemia provocou muitas mudanças, em especial a aceleração da transformação digital. E quando pensamos no mundo pós-pandemia, é certo pensar que os Estados e as empresas que estão tirando lições e vantagens de tecnologias como a IoT, advindas dessa nova realidade, conseguirão sair na frente. Portanto, a IoT é uma longa jornada, esteja bem preparado e acompanhado, e correndo o risco de ser clichê, concluo citando o esplêndido Steve Jobs, pois a verdade é que “A tecnologia move o mundo”.

Referências

[1]https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/iot-no-pos-pandemia-como-a-internet-das-coisas-pode-ajudar-o-mundo-depois-do-coronavirus/

[2]https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/14/crises-globais-do-ultimo-seculo-trouxeram-aprendizados-mas-que-nem-sempre-foram-aproveitados-veja-quais.ghtml

[2]https://abinc.org.br/pandemia-cria-oportunidades-para-o-desenvolvimento-de-solucoes-em-iot-sustentaveis/

[3]https://www.oracle.com/br/internet-of-things/what-is-iot/

[4]https://tudosobreiot.com.br/iot-pos-pandemia/

[5]https://enterpriseiotinsights.com/20200512/channels/news/siemens-spies-golden-opportunity-to-remake-world-with-tech

[6]https://blog.infraspeak.com/pt-br/iot-covid-19/

[7]https://opiniaoecritica.com.br/pandemia-cria-espaco-para-iot-sustentavel/

[8]https://teletime.com.br/20/07/2020/iot-com-pandemia-mercado-esta-mais-maduro-e-pragmatico/

[9]https://columbiati.com.br/blog/como-iot-revoluciona-a-conexao-entre-dispositivos/

[10]https://vivomeunegocio.com.br/conteudos-gerais/gerenciar/iot-coronavirus/

 

Nota: o texto é resultado de uma atividade da disciplina Tecnologias Criativas, do Programa de Extensão Interdisciplinar do CEULP, ministrada pela professora Dra. Parcilene Fernandes de Brito, dos cursos do Departamento de Computação.

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