TCC e o manejo clínico dos transtornos de ansiedade

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Transtornos de ansiedade. A primeira parte desse nome pode assustar a maioria das pessoas que buscam acompanhamento psicológico, como se essa palavra “transtorno” fosse uma sentença. É com esse primeiro e aparente pequeno detalhe que o manejo clínico já precisa dispor de fatores comuns de eficácia: relação terapêutica.

É fato que por questões históricas muito bem apresentadas na construção da psiquiatria, da psicologia e da psicopatologia termos que se relacionam com “doença mental” foram pareados com a ideia de tratamentos desumanos, desrespeitosos e totalmente distantes da ciência e da empatia (Zorzanelli, Bezerra Jr.,Costa, 2014). Aqui começa o desafio que por mais que se exija muito do fator comum já citado, precisa de acréscimos: desconstruir a visão unicamente catastrófica do que é ter um diagnóstico de transtorno mental; fornecer dados de conhecimento concisos que diferenciem a ansiedade emoção normal da ansiedade desregulada nos quadros patológicos e engajar aquele indivíduo que há muito acredita que aqueles sintomas são impossíveis de serem remitidos.

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Partindo do tratamento em terapia cognitivo comportamental (TCC), em que cada transtorno de ansiedade específico haverá particularidades, alguns denominadores em comum valem a pena serem ressaltados.

O primeiro “denominador comum” no tratamento dos transtornos de ansiedade na perspectiva da TCC é um dos seus próprios pilares: a TCC é educativa. Esse pilar tem como objetivo tornar o paciente um indivíduo autônomo, capaz de usar as habilidades desenvolvidas em terapia no seu dia a dia (Beck, 2021). Ao especificar um transtorno de ansiedade, esse pilar ganha funções extras, antes das muitas habilidades a serem trabalhadas e desenvolvidas, o paciente precisa conhecer o próprio transtorno: de forma didática e personalizada o indivíduo conhecerá, ao lado do psicólogo, como funciona cognitivamente e fisiologicamente uma resposta de ansiedade, compreenderá o que são emoções (sendo ansiedade uma), poderá visualizar como funciona o transtorno de ansiedade dentro do modelo de funcionamento cognitivo ( situação-pensamento-emoção-comportamento), compreenderá fatores que pioram e que mantém essa condição ativada, assim como conhecerá de forma colaborativa (outro pilar da TCC) e terá acesso de forma realmente clara a como funcionará o tratamento dele. Com essa faceta educativa, também cabe ao psicólogo explicar também, e aí a importância de estar alinhado com o profissional da psiquiatria, o funcionamento e a importância da medicação quando houver prescrição indicada pelo profissional da medicina para o tratamento. Essa característica educativa da TCC exige do profissional uma compreensão completa acerca dos transtornos.

            Esse entendimento completo por parte do psicólogo é necessária de forma anterior ao processo educativo, a noção de sinais e sintomas, fatores de personalidade que podem ser risco para o desenvolvimento do transtorno, funções psíquicas e suas alterações mais comuns em transtornos de ansiedade e topografia geral do paciente (Dalgalarrondo,2018; Payne,Ellard, Farchione,Barlow, 2023), além de compreender o Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5-TR). Por mais que a compreensão de todos esses aspectos possa levar a uma interpretação mecânica e fria, a ideia é fazer um uso correto, coerente e verdadeiramente acolhedor de todas essas informações na fase de avaliação.

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É fundamental entender que independente de qual é especificamente o transtorno de ansiedade, é comum que o indivíduo apresente um ou mais sintomas físicos. É também possível a presença de ataques de pânico sem o diagnóstico do Transtorno de Pânico, definido por sintomas físicos relevantes e prejudiciais (APA,2023). Essas observações acerca dos sintomas físicos são necessárias para avaliar quais e em que momentos do tratamento serão necessárias técnicas de relaxamento, técnicas de atenção plena e de regulação, e mesmo quantas vezes será necessário repeti-las em sessão e em planos de ação (outro princípio da TCC) (Beck,2021).

Como por definição os Transtornos de ansiedade se caracterizam pelo excesso de medo, ansiedade, e perturbações do comportamento que se relacionem a essas duas emoções, é usual que aconteça o estado de constante vigilância, prejuízos nos estudos, trabalho e relacionamentos; comportamentos a fim de evitar os estímulos geradores de ansiedade e cansaço constante diante de todo esse cenário; são casos que exigem um cuidado e avaliação contumaz com relação ao risco de suicídio (APA,2023). Com essa avaliação, mesmo que os sintomas de ansiedade gerem muitos prejuízos, é necessário hierarquizar as prioridades do tratamento, uma tomada de decisão clínica pensada independente do referencial teórico da TCC, mas pautada na importância da vida daquele que está em acompanhamento (Ortega,2015).

Mesmo com a necessidade de avaliar risco de suicídio, avaliar a presença de transtornos comórbidos, hierarquizar e montar o plano de tratamento, o fator comum como relação terapêutica continua se fazendo necessário. O princípio da TCC de ser educativa também segue como pilar do tratamento, assim como os princípios de colaboração ativa do paciente e do psicólogo, que também envolve explicar/engajar o paciente sobre a importância disso.

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Outros denominadores comuns nos tratamentos dos transtornos de ansiedade são:

Análise funcional do comportamento: como em cada t. de ansiedade os conteúdos de preocupação, medo e ansiedade são diferentes, cada análise terá a ramificação dessas especificidades, mas em todas há a relevância de descobrir em colaboração com o paciente o que antecede os momentos de pisco de desconforto emocional e quais são suas respostas cognitivas,comportamentais,fisiológicas, para avaliar reforçadores/mantenedores dos comportamentos disfuncionais (Craske,Taylor,Barlow 2023;Aderka,Hoffman,2023;Roemer,Eustis,Orsillo,2023;Payne,Ellard,Farchione,Barlow,2023).

Reestruturação Cognitiva: além de cada transtornos apresentar características especificas, cada paciente também terá sua particularidade com relação às ideias/conceitos e regras que formulou sobre si mesmo, sobre as situações ansiogênicas,sobre enfrentamento, terapia e outros fatores. A base geral é também encontrar de forma colaborativa quais são os estilos de pensamentos e quais são as crenças nucleares e intermediárias que mantém os prejuízos de funcionamento diários relacionados ao transtorno (Beck,2021; Egan, Wade, Shafran, 2011; Leahy, Tirch, Napolitano, 2013).

Relaxamento: não apenas para a regulação dos sintomas físicos, mas como aliado na reestruturação cognitiva, no próprio processo de compreender sobre o transtorno e sobre o tratamento, o paciente pode aprender um arsenal de técnicas de relaxamento como respiração diafragmática, descrição de ambiente, relaxamento muscular progressivo de Jacobson e tantas outras (Craske et al.,2023).

Exposição: são diferentes exposições e diferentes proporções delas para cada transtorno de ansiedade, mas como a principal estratégica comportamental nesses casos é evitar situações de ansiedade, ao longo do tratamento o paciente fará exposições graduais e direcionadas pelos protocolos e pelo psicólogo aos estímulos ansiogênicos (estímulos esses que são compreendidos de forma colaborativa entre paciente e psicólogo e que não são apenas geradores de ansiedade, mas que façam parte do contexto da vida do paciente e quando evitados geram prejuízos reais) (Craske et al.,2023). As exposições, como são graduais, contam com uma hierarquia estabelecida entre paciente e psicólogo.

O manejo clínico para os transtornos de ansiedade exige um processo de avaliação que forneça segurança para o psicólogo, de forma colaborativa com o paciente, estabelecer o plano de tratamento pensando no todo. Dados os prejuízos funcionais gerados por esse grupo de transtornos o zelo e o entendimento das dificuldades do indivíduo são fundamentais, uma boa relação terapêutica é necessária do início ao fim, e esse fim do tratamento é visualizado através de mais um princípio da TCC: o monitoramento de progresso. Com instrumentos psicométricos, diários de sintomas, registros de pensamento ou qualquer outra ferramenta de monitoramento psicólogo e paciente monitoram os avanços e resultados da terapia, para quando atingidas as metas, remitidos os sintomas e feito todo o processo de prevenção de recaída, o paciente possa receber alta e finalizar seu tratamento (Beck,2021).

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Por mais que a descrição do texto seja pautada no tratamento sobre a perspectiva teórica da terapia cognitivo comportamental, é necessário ressaltar que a construção do raciocínio clínico pode se construir através de três pilares: a busca pela melhor evidência disponível para o tratamento, o aprofundamento profissional (estudos, expertise, formações, supervisão e outros), e os valores e contexto do paciente respeitados e aliados ao tratamento (Leonardi, 2015).

Em síntese, é fundamental realizar uma avaliação completa e conhecer de forma colaborativa tudo que envolve o funcionamento do transtorno de ansiedade e o contexto geral do paciente; compreender desde a história de vida até histórico médico. Nutrir de maneira verdadeira a relação terapêutica e desenvolver o raciocínio clínico que realmente fornecerá melhora significativa na qualidade de vida da pessoa que buscou ajuda psicológica.

 

Referências

Beck, J. S. (2021).Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed.

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Leahy, Robert L; Tirch, Dennis; Napolitano, Lisa, A.(2013). Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed.

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Leonardi, J. L., & Meyer, S. B. (2015). Prática baseada em evidências em psicologia e a história da busca pelas provas empíricas da eficácia das psicoterapias. Psicologia: ciência e profissão35, 1139-1156.

Banzato, C. E. M., Pereira, M. E. C., Zorzanelli, R., Bezerra Jr, B., & Costa, J. F. (2014). A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea.

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Mindfulness e Terapia Focada na Compaixão para a redução da ansiedade e estresse em professores

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Sabe-se que um dos principais sofrimentos mentais do século XXI é o transtorno de ansiedade, tendo sido citado recentemente pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como de prevalência global. Durante a pandemia de COVID-19 no Brasil, muitos foram os desafios para professores e alunos que tiveram de se adaptar a períodos de aulas on-line, bem como retornar às atividades mesmo em meio às incertezas sobre o vírus e às formas de combatê-lo.

Esse cenário de incertezas e de adaptação dos professores de forma abrupta às mais diversas tecnologias favoreceu o surgimento de quadros ansiosos e o consequente aumento do adoecimento mental dos profissionais da educação e por vezes seu afastamento do ambiente de trabalho.

O transtorno de ansiedade se refere a distúrbios que causam angústia, medo, nervosismo, dentre outros sintomas e trata-se de uma preparação natural do corpo para reagir ao risco presente em determinado ambiente, mesmo que esse risco não exista realmente. O grande problema desta reação do indivíduo é quando ela se torna intensa e frequente, comprometendo a qualidade de vida e a saúde emocional. Dentre os principais prejuízos ao indivíduo estão aumento dos níveis de cortisol, perda de memória, desgaste do sistema imunológico podendo levar ao aparecimento de doenças autoimunes como lúpus e a diabetes tipo I.

Fonte: Imagem de Elisa por Pixabay

Relacionando a saúde mental ao contexto de trabalho atual dos professores, observa-se que os mesmos são uma das categorias profissionais que mais necessitam de novas habilidades emocionais para enfrentar este novo cenário pós- pandemia.

Em recente estudo feito pela Nova Escola, 28% dos professores denotam sua saúde emocional como péssima ou ruim e 30%, como razoável, ou seja, a maior parte dos entrevistados possui uma saúde mental frágil e que necessita de cuidados.

Como tratamento principal a esse quadro de ansiedade em professores, a terapia e o uso de técnicas já consagradas e reconhecidas cientificamente como o mindfulness, a TFC (terapia focada na compaixão) e a dialética são tidas como formas de ajuda para a redução dos sintomas maléficos e o aumento do bem-estar do indivíduo.

Dinâmica de Grupo

O campo do conhecimento sobre a convivência em grupo e de suas relações com os outros grupos e com as instituições mais amplas foi denominado dinâmica de grupo.

O psicólogo Kurt T. Lewin (1965) foi quem introduziu o termo “dinâmica de grupo” nas ciências sociais e deu nome e identidade definitivos para o estudo dos grupos na Psicologia Social norte-americana. Suas proposições têm importância histórica para a ciência psicológica e seu legado apresenta-se ainda hoje como referência para a formação de psicólogos e demais profissionais que lidam com o fenômeno da grupalidade.

Em aspectos práticos, dinâmica de grupo é uma ferramenta que consiste na reunião de várias pessoas no mesmo local para realização de atividades, nas quais elas interagem entre si.

Assim, a importância da Dinâmica de Grupo reside em permitir que o indivíduo participante desenvolva suas competências por meio do que já lhe é conhecido, e se tornar ainda mais competente, podendo chegar a atingir quatro dimensões importantíssimas: dimensão social, dimensão interpessoal, dimensão pessoal e dimensão profissional.

Fonte: Imagem no Freepik

Mindfulness

Mindfulness é uma técnica de meditação consubstanciada em um momento de concentração e atenção plena, sem julgamentos. Essa prática proporciona a atenção plena para o momento atual, visto que com o ritmo acelerado em que se vive, as pessoas passam a agir de forma automática, sem parar ou mesmo terem um momento de concentração.

Concentrar-se significa estar em contato com o presente e não estar envolvido com lembranças ou com pensamentos sobre o futuro, dessa forma é intencional, visto que o sujeito escolhe e se esforça para estar atento plenamente, com foco integral no momento atual, que se deve à não categorização dos sentimentos, pensamentos e sensações apresentadas, além do não julgamento, que tem relação com uma aceitação verdadeira desses fatores, na maneira que se é apresentado.

Mindfulness não é uma crença, uma ideologia, nem uma filosofia, é uma descrição fenomenológica coerente da natureza da mente, emoção e sofrimento e sua liberação em potencial, com base em práticas destinadas a um treinamento sistemático e a cultivar aspectos da mente e do coração por meio da faculdade de atenção plena.

Fonte: Imagem por pressfoto no Freepik

TFC -Terapia Focada na Compaixão

A Teoria Focada na Compaixão foi desenvolvida por Paul Gilbert como uma abordagem de tratamento transdiagnóstico que visa criar autocompaixão e reduzir o sentimento de vergonha, desenvolvendo um sistema de suporte interno que precede o envolvimento com o conteúdo interno doloroso.

O foco clínico na Teoria Focada na Compaixão é baseado em algumas observações: a) pessoas com níveis elevados de vergonha e autocrítica podem ter muita dificuldade em serem delicadas consigo mesmos, sentirem alívio ou autocompaixão; b) pessoas que geralmente viveram histórias de abuso, negligência e/ou ausência de afeto na infância, tornando-se vulneráveis às ameaças de rejeição; c) trabalhar com vergonha e autocrítica requer um foco terapêutico nas memórias mais remotas; d) pessoas com tendências a altos níveis de vergonha e autocrítica podem sentir dificuldade em gerar sentimentos de contentamento, segurança e carinho.

Pesquisas sobre a neurofisiologia das emoções sugerem que podemos distinguir pelo menos três tipos de sistema de regulação emocional: 1) Sistema de proteção à ameaça; 2) Sistema de direção e impulso; e 3) Sistema de satisfação e contentamento.

Os fundamentos da Teoria Focada na Compaixão são organizados nesses três sistemas que podem estar desequilibrados e o objetivo é reequilibrá-los. Para isso, há três aspectos no engajamento terapêutico: 1º) o terapeuta usa habilidades de expressão dos atributos da compaixão; 2º) o paciente vivencia isso como algo compassivo e seguro que diminui a vergonha e a culpa; e 3º) o terapeuta ajuda o paciente a desenvolver atributos e habilidades da compaixão.

Os elementos-chave da Teoria Focada na Compaixão são a psicoeducação, a atenção plena, a compaixão e as imagens.

Dialética

Dialética deriva do termo latim dialectica e do grego dialektike, que significa discussão. Provém dos prefixos “dia” que indica reciprocidade e de “lêgein” ou “logos” que indicam o verbo e o substantivo do discurso da razão, ou teoria. Nasceu assim, incorporando as razões do outro através do diálogo.

Este foi o primeiro sentido do termo, empregado por Sócrates na Grécia antiga: dialética como a arte do diálogo, de demonstrar uma tese por meio de argumentação capaz de definir e distinguir conceitos envolvidos em uma discussão.

Na acepção moderna, porém, dialética seria o modo de pensar as contradições da realidade, compreendendo o real como essencialmente contraditório e em permanente transformação.

A dialética considera que a totalidade é sempre maior que a soma das partes, e que sua apropriação é sempre dinâmica. A totalidade é a estrutura significativa da realidade dada pela visão de conjunto, pela síntese que o sujeito faz de algo em determinado momento. Diz-se, então, de um sujeito ativo, que atribui sentidos subjetivos ao mundo a partir das sínteses que realiza.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Conclusão

Desta forma, após a aplicação de todas as técnicas apresentadas, no público-alvo, percebe-se a redução da sintomatologia da ansiedade no trabalho dos professores, além da reverberação positiva tanto na relação dos docentes com os colegas de trabalho, quanto com os acadêmicos, famílias dos discentes e demais pessoas do convívio. Assim, o manejo da saúde mental do professor enquanto cidadão, através da remissão do sofrimento e da modificação da reatividade emocional e redução dos efeitos nocivos do estresse e da ansiedade, reflete ainda nas demais relações sociais do mesmo, cooperando para o bem-estar individual e coletivo.

Referências

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AUTORES:

Evelyn Oliveira Dias

João Araújo Lima Júnior

Candida Dettenborn

Ana Cristina Martins Mascarenhas Matos

Taís da Conceição Freitas Nogueira

 

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Terapia Cognitiva-Comportamental e recolocação no mercado de trabalho

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O momento que vivemos, por si só, já é um grande causador de quadros depressivos e de transtornos de ansiedade. Ao somar com a falta de espaço no mercado de trabalho, o sofrimento torna-se pior e, com isso, a desesperança toma conta. O que muitos não sabem, é que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode ajudar a melhorar esse quadro e auxiliar a pessoa a se tornar capaz de conseguir uma recolocação no mercado.

 

 A TCC se baseia na ideia de que não é a situação que você vive que desencadeia as emoções, mas, sim, a forma com que as percebe. Os pensamentos gerados a partir disso podem ser disfuncionais e negativos, desencadeando uma depressão, por exemplo. 

Há indivíduos que constroem na mente um sistema de crença com foco em se desvalorizar, fazendo-o achar que é incapaz de assumir certas posições e responsabilidades, principalmente no mercado de trabalho. Essa maneira de ver a vida o impede de crescer e conseguir uma recolocação. Para lidar com esses sentimentos, a Terapia Cognitivo-Comportamental ajuda a pessoa a perceber os pontos positivos e exaltar as capacidades e potências individuais. 

 

O trabalho inicial do terapeuta é de desconstrução. Depois, o profissional tem a missão de fazer com que o próprio paciente tenha habilidades para entender onde estão sendo disparados os gatilhos e a forma com que ele percebe as situações. A partir desse momento, começamos a atuar no sistema da crença, que geralmente vem acompanhada de outras emoções como tristeza e apatia. 

A TCC faz uma psicoeducação, onde o indivíduo passa a se conhecer, a se perceber e, juntos, saem dessa situação ou dessa patologia, que chamamos de depressão. Assim, a pessoa está pronta para se recolocar no mercado e em qualquer outro ambiente. Portanto, não tenha medo de buscar a terapia. Ela é capaz de ajudar em diversas situações da vida. 

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Desafios no tratamento Clínico

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Alguns pacientes não progridem como participantes da terapia, seja por não envolverem, suficientemente, no tratamento, ou por estarem aferrados às crenças antigas e distorcidas sobre si, sobre outros e sobre o mundo. Assim, torna-se necessária, por parte do terapeuta, a alteração do tratamento a fim de atender tais pacientes. O que fazer quando o básico não funciona? Nessa problemática há razões pelas quais o paciente apresenta dificuldade no tratamento. Algumas variáveis estão fora do controle do terapeuta. Por exemplo, paciente não vem às sessões com frequência por causas financeiras. Mas, muitos problemas estão, ao menos em parte, dentro do controle do profissional.

Alguns terapeutas tendem a descrever as dificuldades em termos globais, não definindo de forma clara o problema. Ao dizer, por exemplo, que o paciente é “resistente”. Quando o terapeuta especifica o problema, tende a mencionar as mesmas dificuldades, “paciente que não faz tarefa de casa” “paciente que fica zangado com o terapeuta” etc. É preciso determinar as dificuldades dos pacientes em termos comportamentais, para entender o problema dentro de uma estrutura cognitiva, e formular estratégias baseadas nas conceituações específicas, para cada paciente.

Para tanto, o terapeuta terá que especificar os problemas (determinando o grau de controle que tem para melhorá-los.); conceituar os pacientes individualmente; lidar com reações problemáticas do paciente em relação ao terapeuta, e vice-versa; estabelecer metas, estruturar sessões, fazer solução de problemas e aumentar a aderência à tarefa (incluindo mudança de comportamento), para paciente que representa desafio clínico; identificar e modificar percepções  disfuncionais arraigadas (pensamentos automáticos, imagens, regras e crenças).

Fonte: encurtador.com.br/ciyGP

Quanto à especificação de problemas, não fazer isso de maneira ampla, rotulando paciente como “resistente”, “desmotivado”, “preguiçoso”, “frustrado”, “manipulador” ou “confuso”. Descrições globais como a que sugere que o paciente não quer estar em terapia, ou espera o terapeuta fazer todo o trabalho, são muito amplas. Melhor especificar os comportamentos que são obstáculos para o progresso na terapia, e elaborar uma solução. O terapeuta pode definir bem a dificuldade ao perguntar: “O que, especificamente, o paciente diz ou faz (ou não diz/não faz), na sessão terapêutica – ou entre as sessões – que representa um problema?  Além disso, avaliar a gravidade e frequência do problema, perguntando a si mesmo: “É um problema que surge brevemente em uma sessão? Que persiste em uma sessão? Ou o problema ocorre em muitas sessões?  Normalmente, problema contínuo por várias sessões demandam mais tempo para discutir e solucionar.

Comportamentos problemáticos comuns nas sessões, por parte do paciente, incluem a insistência de não conseguir mudar, ou de a terapia ser incapaz de ajudá-lo; a falha em estabelecer metas ou contribuir para a agenda; queixar-se, negar ou culpar os outros pelos problemas; apresentar muitos problemas, passar por várias crises; desconversar ou recusar conversa; atrasos e faltas; exigir tratamento especial; ficar bravo, aborrecido, crítico ou apático; ser incapaz ou não se dispor a mudar suas cognições; desatenção ou interrupção da fala do terapeuta; mentir ou omitir informação importante; não fazer a tarefa; não tomar a medicação necessário; abusar de drogas e álcool; telefonar repetidamente para o terapeuta quando em crise  (ressalva, tentativas suicidas requerem intervenção imediata na crise e avaliação em emergência, e não fazem parte deste espectro); apresentar comportamento autodestrutivo e ofender os outros.

Muitos problemas estão relacionados à patologia do paciente, dependendo desta a dificuldade pode ser maior ou mais leve. Isso deve-se às crenças disfuncionais muito fortes, as regras que o paciente tem internalizadas. Assim, necessário testar e modificar tais regras, antes que os pacientes se disponham a mudar.  Contudo, outros problemas ocorrem por erro do terapeuta. Além disso, pode ocorrer que a dificuldade esteja relacionada a ambos, patologia do paciente e erro do terapeuta. Quanto a este último, pode haver, entre outros fatores, diagnóstico errado, conceituação equívoca do caso, foco em problemas que não são importantes para a recuperação do paciente, erro no planejamento do tratamento, ruptura na aliança terapêutica, estrutura ou velocidade inadequada da terapia, aplicação incorreta de técnicas, tarefa de casa inadequada. É difícil para o terapeuta identificar seus próprios erros, então, ouvir a gravação de uma sessão de terapia pode ser importante.

Em síntese, conduzir a terapia cognitiva reside na identificação dos problemas em tratamento, avaliação da gravidade e especificação da origem desses problemas. As dificuldades podem ser devidas a fatores externos ao tratamento, inerentes a ele, ou devidas ao erro do terapeuta ou à patologia do paciente, que implica em crenças muito fortes. Algumas vezes pode haver uma causa orgânica do paciente, como problemas cerebrais ou hormonais, logo, pela necessidade de intervenção biológica, faz-se necessário recorrer aos profissionais competentes. Pode ocorrer, por exemplo, de o paciente não estar sofrendo de depressão, mas sim de hipertireoidismo, o que pode ser resolvido com medicação adequada. Outro paciente pode ter sinais que sugerem transtorno psiquiátrico, porém, o que há é infecção do sistema nervoso central.

Fonte: encurtador.com.br/wxIM5

Referência

BECK, J. B.. Terapia Cognitiva para Desafios Clínicos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

Artigo originalmente publicado no site <https://comunidadepsi.com/>.

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A TCC é aliada em períodos de crise: (En)Cena entrevista o psicólogo Ulisses Cunha

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Durante uma das “lives” transmitidas pelo perfil da Psicologia no Instagram (@psicologiaceulp), no período de realização das atividades acadêmicas de forma remota, um dos entrevistados do projeto PsicoLive, em parceria com o (En)Cena,  foi o egresso do Ceulp/Ulbra, psicólogo Ulisses Franklin Carvalho da Cunha, que conversou com o Prof. Me. Sonielson Sousa sobre o uso da Terapia Cognitivo-Comportamental como aliada em períodos de crise.

O bate-papo/entrevista contou com a participação de vários acadêmicos de Psicologia e da comunidade como um todo, e durou cerca de 1h. Dentre os principais temas discutidos por Ulisses, que além de psicólogo clínico é servidor da Unitins e professor substituto na UFT, comentou que a TCC se insere no contexto mais atual e de inovação das terapias comportamentais, além de destacar a função da cognição, que ao mesmo tempo que é pensamento, é também raciocínio, linguagem, é percepção, processamento visual, processamento mental… “é um conjunto de processos que acontecem internamente e que se projetam nos nossos comportamentos, emoções e sentimentos”, destacou. Confira este e outros aspectos no bate-papo/entrevista abaixo.

(En)Cena – Ulisses, eu vou te apresentar rapidamente e aí a gente começa nosso bate-papo. Primeiro explicar um pouco esse projeto, o PsicoLive é um projeto de extensão que surgiu durante a pandemia, no começo na verdade do processo de isolamento social como uma forma de conscientizar as pessoas para o fato de que a gente teria que diminuir as nossas interações sociais, pelo menos do ponto de vista face a face, para garantir nossa proteção, mas principalmente para a proteção da sociedade. E quando a gente faz isso, mesmo que a gente não esteja no grupo de risco ou que não moremos com ninguém, fazemos isso em nome dos outros. E aí surgiu essa ideia do PsicoLive. Nós começamos, fizemos já várias edições tanto com egresso da Ulbra, você é um deles inclusive, quanto com profissionais que são amigos, parceiros, que sempre publicam conosco também, no EnCena, colegas de outras instituições. Então a gente tem um prazer enorme de conversar contigo. Você é um egresso que nós temos muito orgulho, um profissional bastante dedicado, tanto na área da prática cotidiana da psicologia, mas também na área acadêmica. Você já fez mestrado, já visualiza o doutorado, eu espero pelo menos.

Ulisses Cunha – É o projeto (risos).

(En)Cena – É o projeto (risos). A gente tem que seguir firme na nossa formação acadêmica, que é contínua. Eu sei que você é da TCC, mas a gente nunca esquece o Freud né? O Freud é que diz que o pensamento é o ensaio da ação, então quando a gente já pensa em algo, a gente de certa forma já está se colocando no mundo, se movendo para tentar concretizar aquilo. Na Cognitiva até fala de profecia auto realizável, não é mesmo? Usa muito esse conceito de que eu penso sobre algo e começo a modelar o comportamento até que aquilo que eu pensava e desejava acaba ocorrendo… pois bem, você já tem outra graduação, sim? Qual é a outra graduação?

Ulisses Cunha – Eu fiz licenciatura em geografia.

(En)Cena – Perfeito. Depois fez o bacharelado em psicologia lá conosco e você atua na docência também, se eu não me engano você está como professor substituto lá no Campus de Miracema na UFT… Além disso trabalha na Unitins aqui em Palmas e atende como psicólogo clinico. Ou seja, é um super homem (risos).

Ulisses Cunha – A gente tenta, né?! (risos).

(En)Cena –  Sim (risos). Ulisses, eu queria antes de começar propriamente o assunto contigo, lembrar da perda que nós tivemos hoje, nós estamos rindo aqui, porque de qualquer forma a gente está no ritmo da própria professora Nara Wanda, que até o ultimo momento foi uma pessoa muito feliz, sempre foi uma pessoa que vibrava muito, ela nunca se permitiu colocar-se num lugar onde nós pudéssemos sentir pena dela, sempre foi uma mulher muito forte. Ela sempre encarou, como a gente fala no existencialismo de Sartre, ela sempre encarou com bravura os problemas e as dores até o final. E você foi aluno dela, eu fui aluno dela também, eu acho que a gente não deve deixar de registrar o nosso luto pela partida dela que ocorreu recentemente. Infelizmente nós não pudemos nos despedir pelas condições do momento, foi feito um procedimento já bastante reservado em virtude da pandemia. Nós da Ulbra ficamos bastante tristes, comovidos, todo o colegiado, os alunos como um todo. Porque era uma pessoa que marcou, não é verdade, Ulisses, as nossas vidas… Marcou a própria história da psicologia no Tocantins já que ela foi uma das fundadoras do curso aqui da Ulbra, que é o primeiro curso de psicologia do estado. É uma pessoa que tem uma história particular fantástica, enfim. Você teve muitas disciplinas com ela, Ulisses?

Ulisses Cunha – Então, Sonielson, eu tive as disciplinas de Estágio Básico 2 que era Ludoterapia, que era atendimento a crianças em situação do brincar. E assim, eu de fato pretendia lembrar dela no início da nossa live colocando assim, até para o pessoal que está nos assistindo, tem algumas pessoas que são amigos, que não são da área da psicologia e aí a gente vai falar da perspectiva da psicologia Cognitivo-Comportamental e eu lembrei de um episódio com a vovó Wanda. Eu lembro que no final do oitavo semestre onde nós acadêmicos iríamos adentrar nos estágios específicos e a gente é obrigado a escolher uma abordagem terapêutica para atuar na clínica, e eu lembro assim, muito claro na minha mente que um dia conversando com ela ao final de uma dessas nossas aulas de ludoterapia eu falei pra ela: – ‘professora Wanda, eu tô com uma dúvida cruel, porque eu gosto muito de várias abordagens, eu acho que todas elas têm muito a nos ensinar, tem muito a contribuir para o tratamento dos dilemas dos sofrimentos humanos. Eu sempre fico na dúvida sobre qual abordagem adentrar mais profundamente’. E ela olhou para mim com aquele olhar dela super maquiado, com aquele alto astral que era característico dela, e falou assim: – ‘Você é psicólogo!’. Sabe, eu achei aquilo tão marcante. Eu sempre tenho dito, Sonielson, que independente da abordagem, as vezes até a gente mesmo se apresenta como psicólogo cognitivo ou psicólogo psicanalista, antes da abordagem vem o termo psicólogo que por si só já tem um sentido, um peso. Ser psicólogo por si só já nos traz uma série de responsabilidades com o outro, que eu acho que é muito bacana.

(En)Cena –  Você fala isso e me fez lembrar de uma live, que você até participou dela com o Dr. Alberto Nery; ele basicamente também alertou sobre isso, da necessidade que temos de cooperarmos uns com os outros dentro da própria psicologia, tentando construir pontes. Eu acho que a Wanda era um exemplo muito clássico disso tentando de fato colocar em prática a interdisciplinaridade, compreender o sentido de cada abordagem e a importância de cada escola, e evitar dogmatismos. Ela era uma pessoa que evitava unilateralismos, apesar de a gente saber exatamente quais as preferências que ela tinha, mas ela se apresentava com uma abertura muito grande… Mas é isso! Ulisses, eu gostaria que você explicasse para as pessoas que não sabem, o que é, afinal de contas, a terapia cognitivo-comportamental?

Ulisses Cunha – Bom, vamos lá. A terapia cognitivo-comportamental se insere nas abordagens psicológicas neo-behavioristas que vem aí para quebrar o paradigma das abordagens psicanalíticas e comportamentais, as ortodoxas e as humanistas. TCC se insere no contexto mais atual e de inovação das terapias comportamentais. Eu vou tentar usar de uma linguagem mais clara possível para que fique melhor compreensivo. A premissa básica, Sonielson, da terapia cognitivo-comportamental é de que não são os eventos em si que determinam a forma com que a gente sente e se comporta, mas a percepção que a gente tem dos eventos. Ou seja, cada pessoa elabora, interpreta e visualiza os fenômenos da vida de uma forma muito única, então nos interessa na terapia cognitivo-comportamental compreender a natureza da cognição das pessoas, nos interessa identificar quais pensamentos estão por de trás do sofrimento humano de cada pessoa. E aí, por exemplo, para exemplificar uma situação: como cada pessoa interpreta o isolamento, que eu tenho chamado de recolhimento social, a maneira como cada pessoa interpreta o isolamento é muito única e particular de cada um, ou seja, cada sujeito funciona e opera no mundo de um modo muito particular, então cada pessoa pode enxergar uma mesma situação de uma forma muito única. E para nós da terapia cognitivo-comportamental, a cognição determina ou influencia o modo como nós nos sentimos, nossas emoções e nossos sentimentos, e a forma como nós agimos. Então, por exemplo, se eu interpreto a pandemia como algo catastrófico, como algo que me atinge profundamente eu posso começar a me sentir cada vez mais ansioso, me sentir cada vez mais deprimido, me sentir cada vez mais pessimista e passo a me comportar de uma forma cada vez mais introspectiva. Para a terapia cognitivo-comportamental existe um encadeamento da cognição, dos sentimentos ou emoções e dos comportamentos. Esses três elementos, essa tríade por assim dizer, eles estão encadeados e entrelaçados. E não muito raro cada um de nós vai desenvolvendo ao longo da vida algumas crenças a respeito de nós mesmos e das outras pessoas e a respeito do futuro, que não é necessariamente uma crença racional ou uma crença realista. Então pessoas que passam por determinadas situações, como essa que a gente está vivendo, podem desencadear e reforçar essas crenças irrealistas que a gente vem carregando ao longo da vida.

(En)Cena – O objetivo final da terapia, neste sentido, é o bem estar do cliente, e parece que a terapia cognitivo-comportamental é muito livre, ela deixa o psicólogo bastante a vontade para utilizar várias técnicas que dêem resultado com o cliente. Você poderia falar sobre isso?

Ulisses Cunha – Essa colocação realmente é a forma como eu percebo a finalidade do tratamento dentro de uma perspectiva cognitivo-comportamental. E eu gostaria de trazer rapidamente o meu percurso por essa abordagem que vai de encontro com o que você falou. Eu tive oportunidade de, ao longo da minha graduação, ter contato com praticamente todas as abordagens que a gente estuda nas TTPs (Terapias e Técnicas Psicoterápicas). As TTPs são como lentes onde a gente enxerga o funcionamento do ser humano…

(En)Cena – O nosso curso é generalista, por sorte… tem muitos cursos de psicologia que dão mais ênfase em duas, digamos assim, escolas…

Ulisses Cunha – Sim, nós somos agraciados com essa riqueza que eu acho fantástico. Eu tive oportunidade de estudar a psicanálise, a comportamental, a fenomenologia existencial, e a TCC e, assim, a minha grande dúvida e o meu grande questionamento quando eu fui atender na clínica, no último ano de curso, era porque eu percebia o quanto cada uma delas tinha a contribuir com o objetivo final da psicoterapia e da psicologia, que é ajudar com que as pessoas fiquem bem, equilibradas. Ajudar com que elas adquiram recursos para enfrentar as demandas da vida. Então o meu grande passo foi esse, foi de perceber que cada uma das abordagens tinha muito a contribuir. Tanto é que durante um ano de estágio na ênfase clínica eu atuei dentro da fenomenologia existencial, é a que casava bastante com a abordagem centrada na pessoa e a Gestalt terapia…

(En)Cena – Perfeito. Você encarou isso muito bem…

Ulisses Cunha – Quando me formei, atendi na clínica que pedia um referencial da psicologia existencial, porém essas abordagens humanistas elas trabalham com a não diretividade, a não diretividade é de certa forma estar ao lado do paciente ajudando com que ele faça essa caminhada em busca de si mesmo. Então existe essa questão da não diretividade nas abordagens humanistas. Então eu fui percebendo, Sonielson, que as pessoas quando chegavam até mim, elas estavam muitas vezes angustiadas, infelizmente as pessoas costumam procurar a psicoterapia quando já estão em um estado de sofrimento um pouco mais aprofundado, já tentaram outras abordagens para lidar com essa questão. Então de certa forma as pessoas demoram um pouco para buscar a psicoterapia. Então assim, ela procura sair desde a primeira sessão com uma melhora desse sintoma, já conseguindo enxergar a situação toda por uma outra ótica. Então foi aí que em conversa com uma outra colega que era terapeuta da TCC, a gente conversando sobre essa necessidade que as pessoas tinham de se sentir bem em um tempo mais curto por assim dizer. A minha amiga me propôs a atender os pacientes na TCC. E aí foi um start pra mim, Sonielson. Eu acho que a gente não pode ter rigidez, ter essa inflexibilidade com uma série de coisas na vida, eu acho que a vida a todo momento a gente tem que se permitir colocar em xeque algumas dessas nossas certezas a fim de testá-las, a fim de reconstruí-las, de remoldá-las, porque ser humano é isso. Estamos a um passo de tornar-se, nós não somos, estamos. E foi quando eu comecei a mergulhar profundamente na perspectiva cognitivo-comportamental… Então assim, como eu já tinha percorrido as outras abordagens, eu já estava “contaminado”, vamos pensar assim, pelas técnicas da Gestalt, pelo olhar mais diretivo da comportamental. Então eu comecei a utilizar de técnicas de outras abordagens para verificar como que os meus pacientes iam reagindo a essa forma de acompanhamento e de tratamento. Hoje eu fiz especialização em terapia cognitivo-comportamental, mas eu não me encontro colado exclusivamente na TCC, eu acho que é importante a gente também colocar vez ou outra uma outra lente para enxergar aquele fenômeno a fim de identificar que outras ferramentas podem ser úteis para a gente atingir o objetivo final.

(En)Cena –  Eu acho bastante interessante o que você fala, Ulisses. Vamos pegar o próprio exemplo da Gestalt-terapia, de quantas fontes bebe a Gestalt-terapia? Vamos pegar a psicanálise, quantas fontes (risos) bebe a psicanálise? Claro que existe uma linha mestra, uma espinha dorsal, que dá as diretivas básicas pelas quais a gente tem que seguir, até para a gente não ficar muito solto. Mas a ideia de se fechar dentro de um conjunto epistemológico, sem problematizar esse conjunto epistemológico, fica parecido as vezes com dogmatismo, como se já não fosse mais ciência, no caso. Aquela ideia de o meu modo de pensar é o adequado e nada que seja diferente a esse método é válido, isso é bastante perigoso. 

Ulisses Cunha – Perfeito.

(En)Cena –  Acho que para você não foi nada difícil usar de uma variedade de técnicas dentro da cognitiva  – que foi uma das coisas que me chamou muito atenção quando eu fiz, foi perceber como é possível se apropriar de algumas técnicas de outras abordagens, desde que elas atinjam o objetivo do cliente no caso, ajude no caso o cliente a atingir seu objetivo, atingir a sua meta dentro do processo terapêutico. Enfim, Ulisses, a terapia cognitivo-comportamental surgiu assim, basicamente tentando encontrar uma resposta ao tratamento da depressão, que já era um problema lá atrás entre os anos 50, 60 e 70 em países ricos, como Estados Unidos e os países da Europa. A gente só veio receber mesmo a epidemia de depressão no Brasil nos anos 90 e anos 2000. E esse é o foco principal ainda, ou quais são as frentes principais que os clientes chegam até a terapia cognitivo-comportamental que você tenha observado na sua atuação clínica?

Ulisses Cunha – Eu acho interessante fazer essa contextualização de como surgiu a terapia cognitivo-comportamental. De fato, a TCC surge na década de 60, 70 através de Aaron Beck que era psicanalista e ele atuava principalmente no tratamento com pessoas acometidas por depressão. Então nesse labor dele de ouvir pessoas com depressão, foi percebendo que essas pessoas tinham percepções e ideias, elas tinham uma percepção muito negativa delas mesmas, uma ideia negativa dos outros, do mundo de modo geral, e tinham ideias muito negativas e distorcidas do futuro. Então é aí que começa a surgir as bases teóricas para a terapia cognitivo-comportamental. De imediato, a priori Sonielson, a demanda a qual mais está associado o tratamento, a partir de um referencial cognitivo-comportamental, ainda é a questão da ansiedade e da depressão.

(En)Cena – Correto.

Ulisses Cunha – Os demais transtornos que surgem pra gente na clínica, na realidade não diria que são transtornos, eu diria que são adversidades da vida que as pessoas nos procuram para ajudar a compreender e a se conhecerem melhor… Então eu interpreto que a busca pelas quais as pessoas fazem, pra psicoterapia, ainda tem esse plano de fundo que é se conhecerem um pouquinho melhor. E isso vai de encontro com o referencial da terapia cognitivo-comportamental, porque a gente trabalha exatamente com essa ideia de que pensar que algo é de uma forma não quer dizer que necessariamente aquela ideia seja a mais racional, mais sensata, mais coerente possível. Interpretar uma situação de uma dada forma não quer dizer que a coisa é daquele jeito, por exemplo. Isso vai de encontro com as crenças centrais que é um conceito balizador dentro da terapia cognitivo-comportamental. As crenças centrais então, são essas ideias mais arraigadas que nós temos de nós mesmos, então em momentos de crise, em momentos de sofrimento, em momentos de situações que tem uma carga emocional maior é como se nós ativássemos essas crenças centrais que nós temos a respeito de nós mesmos. E se nós alimentamos crenças a respeito de nós mesmos que são crenças distorcidas ou ideias muito pessimistas, a gente não vai ter o resultado esperado, o sofrimento então ele só se aprofunda. A ideia da terapia cognitivo-comportamental é auxiliar com que as pessoas reconheçam esses pensamentos, essas ideias, questionem a validade delas, a legitimidade delas e a gente reelabore elas de uma forma mais construtiva, racional, de uma forma mais positiva e realista. 

Sonielson Sousa: Isso vai reverberar então nos comportamentos, nos repertórios comportamentais?

Ulisses Cunha – Perfeito, Sonielson. Perguntas chaves dentro da perspectiva cognitivo-comportamental são, por exemplo: – como você se sentiu diante dessa situação?; – O que passava pela sua cabeça ou o que passa pela sua mente naquele momento? – Que sensação, que emoção isso te trouxe à tona? Então, por exemplo, diante dessa pandemia, podemos questionar como eu estou me sentindo diante dessa pandemia… Daí eu posso responder, por exemplo: – Eu estou me sentindo muito inútil porque eu não consigo fazer nada.

(En)Cena –  Compreendo.

Ulisses Cunha: E esse pensamento de se sentir inútil, esse sentimento de inutilidade pode estar desencadeando um comportamento depressivo ou um comportamento de mais introversão, de mais isolamento. Agora se eu penso por outra ótica, se eu penso por exemplo “olha, a pandemia é um momento difícil, é uma situação delicada, porque a gente está tendo que lidar com algo que a gente nunca lidou antes, é um momento difícil, mas eu acredito que sou capaz de passar por ela sem maiores problemas”. Olha como essas duas formas de perceber a mesma situação pode trazer comportamentos, sensações e emoções diferentes, de acordo com a forma que a gente interpreta tudo isso.

(En)Cena – Interessante. Então de certa forma nós somos convidados a criar ‘pensamentos concorrentes’. Porque eu vejo que muitas vezes tem também uma espécie de incompreensão em relação a cognitivo-comportamental, como se ela fosse uma espécie de mentalismo, como se fosse possível deixar de pensar daquela forma que estava pensando antes. Me vem à mente essa ideia de que na verdade não é isso, o que você ta construindo são categorias concorrentes. Então se eu tenho energia para me focar numa determinada construção de pensamentos eu posso também investir essa energia, essa intenção, para criar um pensamento concorrente. E aí vem a questão do que eu tinha falado para você no começo, da profecia auto realizável. É outra coisa que eu pensei aqui também Ulisses, e eu não sei se você concorda comigo, que não é só uma questão de pensar positivo, não é isso (risos).

Ulisses Cunha – Verdade, não é somente pensar positivo, até porque a gente compreende Sonielson, que todo sofrimento ele tem a sua carga que precisa… sabe a coisa da dor que precisa ser vivida? Algumas situações de sofrimento não são resolvidas por só pensar positivo… inclusive uma das coisas que eu acho muito interessante, só abrindo um parêntese, é que uma das técnicas utilizadas em terapia cognitivo-comportamental é exatamente a questão de a gente aceitar o que se passa conosco, compreender a situação.

(En)Cena – Acolher…

Ulisses Cunha – Isso, acolher toda a nossa existência, aquilo que a gente está sentindo. É também ser racional, não puramente com o dogmatismo. É porque a gente tem a ideia de cognição, quando a gente fala psicologia cognitiva, a gente tem ideia de que é só pensamento. E cognição não é só isso. Cognição é pensamento, mas é também raciocínio, é linguagem, é percepção, é processamento visual, é processamento mental, é um conjunto de processos que acontecem internamente e que se projetam nos nossos comportamentos, emoções e sentimentos. Então não é só pensar positivo, é a pessoa pensar de certa forma assertivamente, é pensar com racionalidade, porque olha só eu posso, com relação a pandemia que é o plano de fundo pra nossa discussão aqui, pensar que a pandemia vai passar e tudo… Somente isso vai ser suficiente para que eu adote posturas mais positivas? Não necessariamente. O que é pensar racional diante da pandemia? É pensar por exemplo que todo mundo está vivendo de certa forma os impactos de uma mesma situação. Agora o que é pensar racionalmente? É pensar que a gente precisa seguir as orientações dos órgãos de saúde, de que a gente não está isolado, mas que está protegido, por exemplo. Então isso não é só pensar positivamente, mas é pensar de forma coerente, sensata, racional, de forma criativa. É todo esse conjunto de questões que vão além da só pensar positivamente.

(En)Cena –  Eu até lembro quando você participou de uma dessas lives que nós fizemos, e o título continha a palavra “isolamento”, e aí eu lembro que você falou: “que tal usar recolhimento?”. Então uma mudança semântica, mudança de entonação, a criação de um pensamento concorrente, faz toda a diferença na forma como a gente encara. Porque o que eu tenho percebido, Ulisses, eu não sei se é a percepção sua também e eu não vou falar em termos acadêmicos, é mais uma percepção pessoal, que houve no começo da pandemia uma onda de pensamentos catastróficos, e sem conseguir também criar condições internas para fazer enfrentamentos necessários… e depois da metade desse período ouve o oposto disso, como se a gente estivesse em extremos E começou a ter uma negação total, como se já não houvesse mais nenhum tipo de problema. Como é que você percebe isso? Esses extremos assim, isso também de certa forma denota um pouco de ausência de observar-se mais, com mais clareza. Eu percebo que a cognitiva trabalha muito com mindfulness, atenção plena…

Ulisses Cunha – Exatamente Sonielson, eu também percebo muitas vezes um extremismo na forma como as pessoas interpretam a situação. Não no sentido de que a situação não seja séria, de fato é séria a situação. Demanda que cada um de nós mobilize uma grande quantidade de recursos emocionais, de recursos psicológicos, de recursos relacionais. E assim, uma questão que eu tenho observado Sonielson, que a pandemia ela desencadeou crises em camadas, é um efeito cascata. Se a gente observar a pandemia coloca em xeque a economia global, a saúde pública, os sistemas políticos e coloca em xeque a nós mesmos. Um termo que eu tenho usado é “overdose de nós mesmos”. Nós estamos tendo tempo agora para conviver muito conosco mesmos, então eu percebo que aquelas pessoas que já tinham propensão a desenvolver ansiedade e depressão, no tempo da pandemia isso se potencializa, se aflora, por conta desse contato muito íntimo e por conta de que a pandemia, de certa forma, faz com que venha à tona aquilo que existe de positivo, mas também aquilo que existe de pontos que precisam ser melhorados. E aí voltando rapidamente para a questão de como a gente percebe determinada situação e isso tem relação como nós nos sentimos e como nos comportamos. Eu estava conversando com uma amiga que é da TCC também, e a gente estava observando o quanto os profissionais da saúde que estão lidando ali na linha de frente do combate a pandemia, estão sendo infectados pela doença e estão tendo agravamento dos sintomas. Olha o quanto isso é simbólico se a gente parar para pensar, por exemplo, o quanto o sofrimento deles, o quanto o desespero deles, pode está provocando por exemplo uma redução da imunidade e eles estão sofrendo esses sintomas de uma forma muito mais pesada, de forma muito mais profunda. É preciso então alimentar ideias mais criativas, por assim dizer, mais positivas claro, por que não? E sensatas, porque senão a gente começa a dar espaço para ideias mais negativas e pensamentos menos realistas e isso vai comprometendo o nosso sistema imunológico e os nossos recursos para lidar com essa situação toda. 

(En)Cena –  E hoje nós temos recursos para conseguir fazer isso, Ulisses. Nós temos boas entrevistas que estão disponíveis no YouTube, bons livros dentro da terapia cognitivo-comportamental com uma abordagem ampla, uma forma de escrita que é bastante acessível para qualquer pessoa.

Ulisses Cunha – Sim.

(En)Cena – Tem psicoterapia que continua sendo oferecida pelo sistema online, encontros online, conferências… há muitos recursos. 

Ulisses Cunha – Sim… Também é importante se perguntar quem está cuidando dos cuidadores, não é verdade? 

(En)Cena –  A gente também tem que se sensibilizar, isso foi muito bem pontuado, isso que você falou. Então, recapitulando a sequência do que você tinha falado, seria pensamento, comportamento, sentimentos/emoções. Tem uma sequência esses movimentos? Eles ocorrem de uma forma não linear ou uma coisa encadeia a outra?

Ulisses Cunha – Nos primórdios da terapia cognitivo-comportamental, Beck colocava que o ponto inicial era o pensamento, que o pensamento levava a uma emoção, a um sentimento, que por sua vez desencadeava um comportamento. Porém, a TCC também tem essa outra característica que eu acho fantástica, que é a atualização. Então se a gente pegar, por exemplo, um livro editado recentemente ou lançado, como o da Amy Wenzel, que é uma sucessora e uma estudiosa da cognitivo-comportamental, uma discípula do Beck. Ela lançou recentemente um livro chamado Inovações em Terapia Cognitivo-Comportamental, e aí ela já traz as três categorias – pensamento, emoção, comportamento – com setas bidirecionais. Ou seja, não é necessariamente um pensamento que conduz a uma coisa e a outra coisa. Essas três coisas, elas estão interligadas, interrelacionadas, e uma influencia a outra. Então se eu estou no setting terapêutico e alguém me traz como demanda um comportamento, a gente investiga então qual é o sentimento que aquele comportamento traz, pensamentos que estão por de trás daquele comportamento, por exemplo. A fim de identificar onde é que estão os pontos do pensar, do agir e do sentir, que precisam ser refletidos, que precisam ser melhorados, que precisam ser trabalhados para produzir essa melhora. 

(En)Cena – Compreendo. Então, de certa forma, é um salto Ulisses, nessa compreensão…

Ulisses Cunha – Muito. Fantástico… isso abriu precedente, Sonielson, para que a gente percebesse a situação de uma forma muito mais holística, de uma forma mais global de como as pessoas funcionam. […] A gente só consegue mudar algo quando a gente reconhece aquele algo, quando a gente tem contato com a essência daquele algo que a gente está sentindo. Então assim, eu vejo que tem uma critica a terapia cognitivo-comportamental, muitas vezes nesse sentido de que a TCC é uma abordagem fria, uma abordagem com excesso de tecnicismo, com excesso teórico. Porém, um outro livro que eu acho fantástico, o Manual de Técnicas Cognitivo-Comportamental, no primeiro capítulo, ele traz um conjunto de situações relacionadas a TCC e ele finaliza no último parágrafo do primeiro capítulo que é a introdução de tudo que ele vai colocar, ele diz que nada daquilo vai funcionar se você não tiver antes de tudo vínculo afetivo com esse paciente. Ele inclusive cita a palavra compaixão. E eu achei fantástico que isso também entra dentro dessas inovações em terapia cognitivo-comportamental, que também vai de encontro com a aceitação incondicional do outro, que é um pressuposto da psicologia humanista. Então essas técnicas, que a gente propõe para o nosso paciente, a psicoeducação, o questionamento socrático, e as inúmeras técnicas dentro do arcabouço da TCC, elas não funcionam se não houver um vínculo terapêutico, se não houver uma relação genuína, uma relação de colaboratividade. É junto que o processo se constrói e se desenvolve. 

(En)Cena –  Ulisses, gostaria de te gradecer profundamente por este bate-papo… 

Ulisses Cunha – Eu que agradeço a oportunidade. Eu penso que diante desse momento nada mais interessante, mais importante, mais significativo do que estar juntos com todo mundo mesmo que de modo virtual. Eu queria agradecer também os amigos queridos, os colegas de profissão, para algumas pessoas da família que falaram que iriam assistir. Eu acho muito bacana. E para finalizar assim, quero dizer que a gente dá uma pausa nos abraços, mas não precisamos dar uma pausa nos afetos, no carinho, no amor, de forma alguma (risos). Eu acho até que é junto que a gente vai conseguir passar por tudo isso. No mais a gente precisa acreditar, confiar… Eu penso que é trilhando junto esse caminho que todo mundo vai conseguir chegar no nosso destino, que é ficar bem, alcançar nossas metas e nossos objetivos. Foi um prazer enorme está com você, com todo mundo nessa live. Muito obrigado.

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Suicídio: Professor e egressa da Psicologia compõem livro de referência

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O capítulo está entre as 17 pesquisas reunidas na publicação, de diferentes abordagens teóricas

O professor do curso de Psicologia, Me. Ira Johnathan Silva Oliveira, e a egressa Gythãna Dantas Cidreira Merigui, compõem a lista de autores do livro ‘Sobre o Suicídio – A psicoterapia diante da autodestruição’, organizado pelo renomado psicoterapeuta e professor de pós-graduação em psicologia da saúde na PUC – SP, Valdemar Augusto Angerami, um dos principais autores da Psicologia no Brasil, com mais de dez livros lançados. Iran e Gythãna assinam o capítulo ‘Comportamento suicida: um relato de experiência sobre as intervenções e contingências, mantenedoras’, fruto de ampla pesquisa realizada recentemente pela dupla.

O capítulo está entre as 17 pesquisas reunidas na publicação, de diferentes abordagens teóricas, e destaca os números da autodestruição no Brasil e no mundo, mapeia as intervenções feitas pelo Centro de Valorização da Vida – CVV –, além de problematizar, com um amplo referencial teórico, acerca do fenômeno suicida pelo olhar das abordagens comportamentais.

Iran e Gythãna realizaram um estudo de caso e identificaram, a partir da pesquisa, quais as contingências mantenedoras do repertório comportamental suicida, como os conflitos constantes na família, quadro depressivo e desenvolvimento de visão negativa quanto ao futuro, dentre outros. Além disso, o capítulo – e, de resto, todo o livro – trás importantes técnicas de intervenções em casos similares. Na pesquisa em questão, esta intervenção ocorre especificamente a partir das Técnicas de Modificação do Comportamento da TCC – Terapia Cognitiva Comportamental.

Prof. Iran – esq – e psicóloga Gythãna, representantes da Psicologia do Ceulp no livro-referência

O livro foi lançado para se transformar em referência nacional no assunto, sobretudo porque o país passa por um período excessivamente delicado, onde aumentou sobremaneira os casos de notificações em ideação suicida, tendo em vista o período de transição histórica que aumenta exponencialmente a pressão sobre todos, mas principalmente entre os jovens. O livro foi publicado pela Artesã Editora, tem 440 páginas e pode ser adquirido em livrarias especializadas espalhadas pelo Brasil, ou pela internet.

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