Para quando se sentir triste

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Caminhar pelo parque às duas da manhã talvez não fosse a ideia mais comum, mas ali, na escuridão, eu encontrava alguma paz. A brisa fria tocava o rosto como um lembrete de que, mesmo nas horas mais solitárias, a vida seguia seu curso. As folhas caídas no chão faziam ecoar meus passos, enquanto eu pensava sobre a sociedade, os relacionamentos, e o curioso modo como as coisas se entrelaçam.

A vida, afinal, é uma série de encontros e desencontros. Amigos que se vão, amores que nascem e morrem, e nós, que ficamos tentando entender como tudo isso faz sentido. No fundo, talvez não faça. A solidão de uma madrugada como essa tem um certo humor cruel, como se o Universo quisesse nos lembrar de que, em meio ao caos, é preciso encontrar um pouco de leveza.

Enquanto passo por um banco molhado pela garoa da noite, me pego pensando sobre a estranha relação que temos com a tristeza. Na sociedade, a tristeza é quase um tabu. Somos empurrados a sorrir, a seguir em frente sem refletir muito sobre o que realmente sentimos. Mas e se, ao invés de fugir dela, aceitássemos que ela também tem um propósito? Que a tristeza, por mais dolorosa que seja, é uma espécie de freio, nos obrigando a parar e olhar ao redor?

As árvores ao meu redor se mexem ao ritmo do vento, e penso que a vida também é assim. Às vezes, os ventos da tristeza balançam nossos galhos, nos fazem perder algumas folhas, mas, eventualmente, vem a calmaria. Ninguém gosta de sentir dor, mas será que não são nesses momentos que mais aprendemos sobre nós mesmos? A tristeza nos mostra o que realmente importa, o que realmente queremos.

Talvez a vida seja sobre isso: caminhar sozinho às duas da manhã, refletindo sobre tudo que foi, sobre tudo que poderia ter sido, e ainda assim, sorrir com a ironia de tudo isso. Porque, apesar da dor, sempre há beleza. Na paisagem, nas pessoas, e até nas perguntas que não têm resposta.

Então, se algum dia você se sentir triste, lembre-se de que é apenas uma parte da caminhada. Às vezes, é preciso atravessar noites escuras para apreciar melhor os dias ensolarados. E, quem sabe, você também encontre algo profundo em uma caminhada às duas da manhã. Talvez uma nova pergunta, ou apenas a lembrança de que, mesmo na escuridão, a vida segue, e você faz parte dela.

A caminhada me leva de volta à realidade, mas uma realidade transformada. Sim, a tristeza existe, mas não como um fim. Ela é o início de uma nova compreensão, de uma nova fase. Assim como o amanhecer sempre vem após a noite, também o sol voltará a brilhar, mesmo que agora ele esteja escondido atrás de nuvens escuras.

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Como lidar com a tristeza das crianças na pandemia

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Uma coisa que a pandemia nos mostrou é o quanto estamos não só preocupados com o risco de contaminação, mas também estressados, cansados e tantos outros deprimidos. Mas esse problema não atinge só adultos. As crianças estão sendo muito afetadas. Algumas se tornaram mais agressivas, outras ficaram mais tristes ou com variações de humor. 

Sabemos o quanto os pais estão transtornados com a demanda de trabalho em casa. O home office pode ter deixada as famílias no mesmo recinto, com a sensação de que estão mais próximos. No entanto, nem sempre isso significa que os pais estão dando a atenção na qual as crianças acham necessárias. Com isso, os filhos confundem a presença do adulto com a atenção em que gostariam de receber, afetando suas emoções na pandemia.

Família, amigos e colegas são fatores fundamentais que formam a sociedade, mas têm sido atravessadas pelo momento atual. Com as crianças, não são diferentes. Elas não sabem como lidar com algo que não se tem entendimento. Ainda é muito confuso para nós, adultos, imagina para eles?

Fonte: Freepik

Por exemplo, uma pesquisa conduzida, recentemente, pelo Children’s Hospital of Chicago, nos Estados Unidos, veiculada na revista médica JAMA Network Open, mostrou dados preocupantes sobre a saúde mental das crianças e adolescentes americanas e como foram afetadas pelo ensino à distância na pandemia. 

Das consultadas, uma parte, cerca de 25%, mostrou-se estressada, ansiosa e irritada. Outras, cerca de 33%, sentiram-se solitárias. Além disso, uma outra parte das crianças, cerca de 30%, que antes mostravam-se felizes, começaram a desenvolver sentimentos como raiva, ficaram deprimidas, sentindo-se solitárias ou estressadas no período em que suas escolas não recebiam os alunos fisicamente.

Isso confirma o quanto as crianças e adolescentes necessitam de uma troca afetiva entre amigos e professores. Vale lembrar que esse contato físico na primeira infância está ligado às funções emocionais cognitivas do cérebro. É nesse “ambiente família” que a escola constrói a identidade social do ser humano.

Fonte: Getty Images

O fato delas estarem isoladas dentro de casa colabora para que a criança passe a não interagir com outras crianças, nem mesmo com os adultos. Isso ainda gera comportamento agressivo, birras intensas, timidez exagerada, redução no desempenho escolar entre outros conflitos emocionais.

Portanto, pais e professores, mesmo que à distância, precisam prestar atenção na forma como os jovens se expressam e algumas atitudes que possam manifestar, pois podem ser sinalizações ou respostas de como estão se sentindo. Sempre que puderem, tirem um tempo de qualidade para conversar com eles, deem atenção e mostrem o quanto eles são importantes para vocês. Isso pode fazer toda a diferença!

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A sensação de impotência na pandemia

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Já se viu em alguma situação em que se sentiu impotente? Na pandemia, o desemprego ou a descrença de que se vai recuperar algo que perdeu podem trazer esse sentimento. A sensação de impotência nasce da ideia de que não podemos fazer nada diante de um problema ou quando a solução parece não estar ao nosso alcance. São momentos em que você se sente perdido, frustrado e desmotivado. A impotência traz a desesperança.

Desde pequenos, somos estimulados a estar na frente e a vencer. Na adolescência, somos incentivados a estar à frente no conhecimento e nas atitudes sociais. Na fase adulta, no trabalho, somos motivados a estar sempre ganhando. Indivíduos que não lidam bem com o ‘não’ e com o perder, acabam se frustrando. Devemos ressaltar que, muitas vezes, não temos o controle das situações. Precisamos aprender a lidar com esse ‘não’ que a vida nos dá.

Essa sensação pode se transformar em aprendizado quando se aceita que não vai ganhar sempre e que nem sempre vai ter soluções para algumas situações. É preciso conhecer os limites e entender que somos indivíduos limitados. Todos nós temos competências e limitações. Aceitando isso, transformamos o sentimento de impotência e inabilidade em aprendizado.

Como driblar a fadiga pandêmica com práticas para o cuidado pessoal | EL PAÍS Semanal | EL PAÍS Brasil

O impotente vai se apagando aos poucos. Então, a família e os amigos precisam estar atentos a esse discurso de desânimo ou até mesmo suicida. Algumas frases ditas são clássicas, como ‘a minha vida não tem jeito’, ‘não gostaria mais de estar aqui’, ‘não vejo saída’.”

Ao procurar tratamento psicológico, o indivíduo vai conhecer seus limites e saber lidar com as emoções, desenvolvendo habilidade emocional. É preciso explicar que não teremos soluções para tudo, pois nem tudo tem solução. Por exemplo, há coisas que fogem do nosso controle. O profissional vai desenvolver o conceito de resiliência, onde se é levado a um estresse máximo, e volta a forma inicial. O que essa situação tem de positivo? Sempre tem alguma coisa que podemos fazer, seja ela reversível ou irreversível.

A vida é feita de tentativas, acertos e erros. É assim que aprendemos. Somos fruto de nossas experiências. Nem sempre teremos sucesso. Em uma vida em que não houvesse erros e fracassos, onde estaria o aprendizado? Lembre-se: o que estamos vivendo é uma fase, busque ajuda psicológica e você vai aprender a lidar com as frustrações e acreditar que as coisas vão melhorar.

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Os sonhos norteiam a vida

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Final dos anos 80. Rô tinha acabado de chegar de Londres. Morávamos no mesmo pensionato em São Paulo. Ela, uma gauchinha introvertida e discreta. Eu, uma maritaca tagarela. Ela amava David Bowie. Eu breguices. Éramos diferentes em gosto e estilo. Mas nossas almas se reconheceram.

Um dia ao desabafar com Rô sobre um projeto que tinha dado errado culpei meu jeito falante de ser pelo fracasso. Lamentei por não seguir o velho ditado de que o segredo do negócio é o segredo. Ela discordou. Surpreendi-me. Rô disse que ao botar a boca no trombone, eu sempre encontrava alguém que me indicava alguém para me ajudar. Lembrei-a das decepções no meio da jornada. Ela lembrou-me das conquistas que atropelavam as decepções. Concordei. Rô, então, me revelou que seu grande sonho era ser atriz de teatro, por isso veio a São Paulo. Fiquei boquiaberta.

Fonte: encurtador.com.br/puJV1

Jamais imaginaria que aquela menina tímida e caseira sonhasse com o holofote. Confessou sua frustração de ser recepcionista de um escritório quando sua mente viajava pelos palcos. Eu a incentivei a fazer testes e a bater nas portas. Aproveitar as oportunidades da capital. Ela respondeu que, diferente de mim, que fazia das rejeições fontes de motivação, para ela, as rejeições a atrofiavam.

Um ano depois, escondida atrás de sua timidez e cansada do ritmo de vida da capital paulista, Rô decidiu voltar para sua terra-natal. Eu não me conformava. Ela estava desistindo dos sonhos. Rô disse que faria das minhas vitórias as dela e que minha luta era das duas. Pediu-me para continuar esgoelando no alto-falante e partiu. Trocávamos cartas. Ela seguia sonhando quietinha no seu canto e torcendo por mim.

Fonte: encurtador.com.br/kBGK9

Uma noite, ao voltar para casa encontrei um envelope amarelo debaixo da porta. O carimbo era da cidade de Rô, mas a letra não era dela. Abri a carta. Retirei um recorte de jornal noticiando o acidente de carro com um casal de namorados no Lago Guaíba. O rapaz sobrevivera; a moça morrera afogada. Quem assinava o recorte era a mãe de Rô. Desmoronei.

Chorei. Desabei. Abati-me. Uma garota tão cheia de sonhos; todos afogados nas águas do Guaíba. O vazio de ligar e não ouvir a voz da amiga. As cartas que não chegariam mais. Uma juventude enterrada na eternidade. Ficaram as lembranças e o pedido para continuar sendo a maritaca tagarela. Para mim, esgoelar meus sonhos sempre atraíram decepções e indicações. Na somatória, as vitórias. Decepções fazem parte da vida. Rejeições idem. Elas me chateiam, mas não interferem na minha luta. Sempre que penso que falo demais, lembro da voz baixinha e suave da amiga me dizendo: guria, você sempre conhece alguém que te indica alguém.

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Um mergulho na Terapia Focada nas Emoções – TFE

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A TFE distingue as emoções em quatro tipos de respostas: primárias adaptativas, primárias desadaptativas, secundárias e instrumentais.

Emoção é um fenômeno cerebral muito diferente do pensamento. Tem sua própria base neuroquímica e fisiológica. É uma linguagem única na qual o cérebro fala através do corpo.  As emoções são vitais para a sobrevivência e cumprem várias funções necessárias (GREENBERG, 2015).

A Terapia Focada na Emoção mostra-se eficaz justamente por seu foco – antes de tudo – ser na emoção, do qual todo o sujeito possui, sendo aplicável em uma ampla variedade de clientes. O terapeuta que utiliza desse enfoque ajuda o cliente a seguir as emoções que são adaptativas e a mudar as que não são, incentivando-os a enfrentar emoções temidas para então processá-las e transformá-las, criando um novo significado narrativo a elas. Os clientes tornam-se mais hábeis no acesso a informações importantes sobre si mesmo e no uso dessas para viver de forma vital, gerenciando com flexibilidade suas emoções. A mudança emocional é a solução para suportar mudanças cognitivas e comportamentais (GREENBERG, 2015).

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A TFE distingue as emoções em quatro tipos de respostas: primárias adaptativas, primárias desadaptativas, secundárias e instrumentais. Para melhor entendimento, iremos defini-las e explicá-las de forma resumida e a partir de quatro emoções que são comumente identificadas em clientes/pacientes na clínica (medo, raiva, tristeza e vergonha).

Todas as definições a seguir estão baseadas no livro ‘Terapia Focada nas Emoções’ de Greenberg (2015).

As emoções primárias são as principais respostas das pessoas às situações. São nossas primeiras respostas viscerais fundamentais, mais imediatas e podem ser adaptativas ou desadaptativas.

  • Adaptativas: são emoções automáticas nas quais a avaliação implícita, expressão emocional verbal ou não verbal, tendência à ação e grau de regulação da emoção se ajustam à situação do estímulo e são apropriados para preparar o indivíduo para a ação adaptativa no mundo.
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  • Medo: o medo adaptativo tem a função de garantir a sobrevivência dos indivíduos, nos mantém informado sobre a presença de perigo físico imediato, tendo esta emoção caráter transitório.
  • Raiva: a raiva é um sinal de que seus sentimentos estão sendo invadidos, feridos, de direitos violados, desejos ou necessidades não estão sendo atendidos ou seu progresso em direção a uma meta está sendo frustrado. É adaptativa diante de alguma situação momentânea e a incapacidade de lidar com esta emoção pode levar a sentimentos de ineficácia, desesperança e falta de sentido. A raiva pode ser ativada por pensamentos conscientes, mas na maioria das vezes é evocada sem pensamento. A consciência da raiva e a expressão da raiva são, portanto, duas tarefas totalmente diferentes e requerem habilidades diferentes. Uma sequência frequentemente observada na terapia é a culpa ou a ansiedade secundária sentida pela raiva primária.
  • Tristeza: essa tristeza saudável é livre de culpa e é frequentemente uma das emoções mais duradouras. É um estado que geralmente pode aparecer como um breve momento incorporado no complexo processo contínuo da vida. É caracterizada por um tipo de sensação momentânea de perda, mágoa ou sentimento tocado por um adeus ou um final. Pode-se sentir a tristeza passageira da rendição ou tristeza de desistir de uma luta e aceitar o inevitável. Em outros momentos a tristeza pode ser sentida profunda e totalmente; as pessoas choram com a perda e compartilham sua tristeza ou decepção.
  • Vergonha: está relacionada ao senso de valor de uma pessoa; ela faz com que a pessoa queira se esconder. É uma emoção adaptativa se for sentida em resposta a violações de padrões e valores pessoais implícitos ou explícitos (ex.: vergonha por se envolver em comportamentos desviantes; por uma perda de controle em público; por ser um pai abusivo). A vergonha adaptativa ajuda as pessoas a não se afastarem do grupo, pois protege simultaneamente a privacidade e mantém a conexão com a comunidade. Ela também informa que alguém está muito exposto e que outras pessoas não apoiaram ou não apoiarão suas ações, que violou uma norma social muito básica ou que violou padrões ou valores que reconhece como profundamente importantes.
  • Desadaptativas: emoções desadaptativas são aqueles velhos sentimentos familiares que não ajudam as pessoas a se adaptarem às situações atuais. As pessoas sofrem muita dor com elas. Essas emoções podem surgir através de sugestões externas.
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  • Medo: o medo e ansiedade são emoções que operam de forma tácita. Surgem das nossas primeiras experiências. Na ansiedade o medo passa a ser sentido na mente ocorrendo em situações simbólicas, psicológicas e sociais em vez de perigo físico iminente. Sendo este uma emoção desadaptativa, se torna uma resposta à incerteza gerando ansiedade nos indivíduos.
  • Raiva: a raiva do núcleo é inadequada quando não funciona mais para proteger uma pessoa de danos e violações ou quando é destrutiva. Também surge em resposta à diminuição sentida da autoestima e causa muitas dificuldades interpessoais. Muitas vezes, a raiva desadaptativa das pessoas não é sobre quem ou o que elas estão com raiva; é sobre a necessidade não atendida. Uma vez que as pessoas entendem isso, elas podem começar a processar essa experiência, impedindo sua raiva. Quando as pessoas com raiva desadaptativa que sofreram violência no passado ficam com raiva, esta pode se tornar um gatilho para uma explosão.
  • Tristeza: a tristeza desadaptativa não busca consolo ou sofrimento; se transforma e leva a sentimentos de miséria e derrota. O doloroso estado de angústia pode ser evocado por uma rejeição percebida no presente ou até mesmo por se sentir impotente para curar a dor de um ente querido. Ser incapaz de curar ou remover a dor de um ente querido pode fazer com que uma pessoa sinta um profundo sentimento de desamparo e desespero.
  • Vergonha: dentre a variedade de formas que pode ocorrer a vergonha, a internalizada é a mais prevalente, onde alguém é tão maltratado que leva consigo a sensação de não ter valor. Um sentimento de vergonha doentio, sentindo que todo o eu é ruim, pode fazer com que a pessoa queira encolher-se no chão (“sou defeituosa até o âmago”). Um sentimento primário familiar de vergonha e inutilidade vem com palavras como: “sinto vontade de desaparecer”, “há algo errado comigo”, “eu simplesmente não sou bom”, “não sou tão bom quanto os outros”, “sou apenas um poço sem fundo de necessidades”. Esses sentimentos geralmente vêm de uma história de vergonha e fazem parte do sentido primário do eu como inútil, inferior ou desagradável. Se a pessoa tem um longo histórico de maus tratos e raramente recebe apoio, pode começar a acreditar que é inútil, que leva a um sentimento primário de vergonha no qual o eu é percebido como defeituoso. Vozes internas negativas e pensamentos destrutivos geralmente acompanham esses sentimentos, e a pessoa inexplicavelmente se sente instável e insegura, pequena e insignificante, defeituosa ou sem valor. A vergonha adere ao eu.

As emoções secundárias são respostas ou defesas contra um sentimento ou pensamento mais primário. São emoções desadaptativas.

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  • Desadaptativas: estão associadas a uma necessidade primária e são problemáticas porque muitas vezes obscurecem o que as pessoas estão sentindo no fundo. Elas são consideradas aquelas pensadas, usadas como defesa ou disfarce das emoções primárias.
    • Medo: ansiedade e medo secundário não provém de um perigo externo eminente, nem de uma emoção central de se sentir perdido ou inseguro. Sentimentos de medo e ansiedade surgem frequentemente quando as pessoas são ansiosas pelos seus sentimentos centrais: raiva ou tristeza. Ex.: Um indivíduo sente-se ansioso por medo de demonstrar raiva ou tristeza, podendo prejudicar seus relacionamentos com outras pessoas.
    • Raiva: a raiva secundária tem uma qualidade mais atroz e destrutiva e serve para afastar o outro ou obscurecer a expressão de emoções mais vulneráveis. Essa raiva mascara a impotência, a desesperança ou o desamparo. Não é empoderador e sua expressão não traz alívio ou promove o trabalho através da experiência. Ex.: um cliente pode se sentir sem esperança, mas esse sentimento pode realmente estar cobrindo um sentimento central de raiva. Homens que crescem sendo informados de que precisam ser fortes podem ter dificuldade em admitir seus sentimentos primários de vergonha; portanto, ficam zangados.
    • Tristeza: a tristeza é sentida em resposta a um sentimento de raiva Ex.: Um cliente diz: “Sinto-me tão triste, desanimado e sem esperança. Ele nunca escuta. Nada vai mudar”. Esse é um tipo de depressão, tristeza sem esperança e resignação que vêm de uma pessoa sentir que sua raiva não será ouvido, que não é válido, ou que ele não vai fazer um impacto.
    • Vergonha: emerge de visões negativas e sentimentos de desprezo que as pessoas têm de si próprias. As pessoas sentem vergonha de como se sentem; geralmente está relacionada à incapacidade de aceitar fraquezas e vulnerabilidades. Elas podem dizer para si mesmas: “eu sou tão inepto” ou “eu sou tão estúpido”; e isso resulta em vergonha secundária. Sentem que os outros os veem dessa mesma maneira e que os desprezam. Uma grande fonte de vergonha secundária para o indivíduo envolve imaginar que outras pessoas o julgam de maneira negativa; mas na verdade essas pessoas são como espelhos, onde o indivíduo projeta suas próprias visões de si mesmo sobre elas, ou seja, as pessoas geralmente sofrem vergonha por causa de suas próprias crenças. A vergonha secundária pode mascarar as emoções centrais de sentir-se triste, com raiva ou com medo.

As emoções instrumentais são a terceira categoria que aumenta a complexidade de separar as emoções. São aprendizados, comportamentos expressivos ou experiências usadas para influenciar e/ou manipular outras pessoas e/ou para obter um ganho secundário. Pode ser um processo consciente ou inconsciente. A emoção instrumental geralmente requer muita inteligência emocional do sujeito. A pessoa precisa ser bastante hábil para poder usar a emoção para obter uma certa resposta ou se comunicar em uma situação social.

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  • Medo: é projetado para fazer com que as pessoas evitem assumir responsabilidades por si mesmo, fazendo com que outros o protejam. “Brincar” de ter medo ou desamparo é feito para evocar cuidados. As pessoas também podem demonstrar medo como um meio de tentar impedir que outra pessoa fique zangada com ela.
  • Raiva: são aprendizados, comportamentos expressivos ou experiências usadas para influenciar ou manipular outras pessoas. A raiva instrumental é como a de uma criança mimada, em oposição à raiva adaptativa primária, que faz parte do processo de luto mais profundo, que envolve tanto a tristeza de perder algo importante quanto a raiva de que as necessidades ou objetivos de alguém sejam frustrados (ou seja, “estou com raiva de que você não é o pai que eu queria que você fosse”). Exemplos típicos são a expressão de raiva para controlar ou dominar ou “lágrimas de crocodilo” para provocar simpatia.
  • Tristeza: uma expressão instrumental comum de tristeza é quando alguém chora como forma de reclamar. Isso é pejorativamente chamado de “choramingar”. Ocorre quando as lágrimas são uma forma de protesto, expressando o quão mal tratado alguém se sente, com a esperança de que eles evoquem simpatia, apoio ou compreensão.
  • Vergonha: A vergonha instrumental ocorre quando, por exemplo, as pessoas fingem ter vergonha por não parecer socialmente apropriadas. Uma pessoa que finge ter vergonha de indicar que conhece as regras sociais e sabe que não está cumprindo, está habilmente usando a emoção para influenciar as opiniões de outras sobre ela. Mostrar vergonha para atingir uma meta não é muito comum e não se apresenta com tanta frequência como um problema.

“Deixar de lidar com uma ferida emocional deixa as pessoas com o equivalente a uma ferida emocional infectada, da qual o pus de intensa mágoa e ressentimento ocasionalmente escorre” (GREENBERG, 2015, p.233).

Referência

GREENBERG, L. S. Emotion-Focused Therapy: Coaching Clients to work thought their feelings. Second Edition. 2015.

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E se a busca excessiva pela felicidade nos torna infelizes?

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Adotar pensamentos positivos de sucesso e felicidade, livrar-se dos negativos, esquecer-se de fracassos e viver sob a lógica de “você atrai o que você pensa” ou sob o culto ao “evangelho” do otimismo parece não chegar à solução desejada.

Pergunte a si próprio se você é feliz, e você deixa de sê-lo.
John Stuart Mill

Em uma sociedade obcecada pela busca da felicidade, somos paradoxalmente fracassados para encontrá-la. Ao contrário do que se imagina, a vida moderna pouco contribui para o aumento da felicidade da população. O acréscimo do capital das grandes nações e toda a facilidade advinda dos meios tecnológicos parece não ter ocorrido concomitante ao aumento do bem estar das pessoas. Talvez, sejamos a sociedade mais deprimida e cansada de todos os tempos.

Os adoecimentos psíquicos de hoje com alta prevalência tais como depressão, burnout, TDAH são, na perspectiva do filósofo contemporâneo Byung-chull Han, efeitos de uma sociedade da positividade, que se alimenta do excesso de tudo que maximize o desempenho das pessoas:  superprodução, superdesempenho e supercomunicação. Essa sociedade, na visão do filósofo, consequencia em uma geração vítima de infartos psíquicos: esgotamento e depressão. E este mesmo sujeito, esgotado e deprimido, encontra-se em uma busca desesperada por liberdade, maximização do desempenho, prazer e felicidade (HAN, 2017).

 Os livros de autoajuda, talvez a apoteose da sociedade pós-moderna na busca pela felicidade, são repletos de conteúdos tais como: 10 passos para a felicidade, 7 hábitos de pessoas de sucesso, como influenciar pessoas, como ter uma mente milionária e como desenvolver liderança etc. Eles demonstram que a busca por soluções simplistas para os problemas complexos dos homens é bastante rentável e popular. Alguns autores chamam de regra dos 18 meses para explicar que a pessoa mais inclinada para comprar um livro de autoajuda é a mesma que 18 meses antes comprou um livro deste gênero que, obviamente, não solucionou seus problemas e não trouxe a desejada felicidade. Não há pesquisas, de rigor científico, que comprovem a eficácia desses conteúdos.

Paradoxalmente,  as tentativas de eliminar tudo o que é negativo, como os  fracassos, as incertezas, tristezas, sofrimentos e a ansiedade não só não resolvem o problema, como podem torná-los mais poderosos, gerando vidas sufocantes e sem sentido. O fracasso dessas tentativas é exemplificado pelo psicólogo Daniel Wegner (1994) e a teoria do processo irônico: nosso esforço para evitar e eliminar pensamentos  e comportamentos negativos os tornam predominantes. Não existe abordagem simples para a felicidade. A imersão no positivismo e otimismo não nos deixa mais felizes.

Sem o propósito de demonizar a busca por soluções práticas aos incômodos da vida (eventualmente, elas são bem-vindas e necessárias), a intenção é estimular a reflexão que essa busca excessiva da felicidade, centrada no culto ao otimismo e anulação do negativo, é contraproducente! Isto porque as estratégias utilizadas são baseadas em soluções simplistas e universais que não comportam os problemas humanos complexos. Contraditoriamente, podem produzir resultados indesejados, ou seja, pode gerar mais infelicidade e insatisfação. Adotar pensamentos positivos de sucesso e felicidade, livrar-se dos negativos, esquecer-se de fracassos e viver sob a lógica de “você atrai o que você pensa” ou sob o culto ao “evangelho” do otimismo parece não chegar à solução desejada.

O psicólogo Steve Hayes tem uma abordagem interessante para explicar como a fuga de situações emocionalmente difíceis pode ser uma armadilha e acabar aumentando o problema. A linguagem teria um papel protagonista nesse cenário, isto porque somos ensinados, desde criancinhas, a discriminar e nomear não apenas componentes externos do mundo objetivo, mas também pensamentos, memórias, sentimentos e sensações corporais, os denominados eventos privados (SKINNER, 2003) ou subjetivos.  Nossa cultura e sociedade nos ensina que a felicidade é cotidiana e almejada e a tristeza é ruim e deve ser evitada, e se nos sentirmos tristes é porque temos um problema que deve ser encontrado e eliminado (SABAN, 2015).

Por meio da aprendizagem, somos instruídos  a atribuir o status de causalidade à sentimentos e pensamentos para explicar porque estamos em um determinado estado ou porque fizemos o que fizemos. Hayes denominou de “silogismo lógico” o sistema em que esse processo ocorre, que funcionaria sob cinco aspectos de raciocínio. 1) Todo comportamento é causado; 2) razões são causas; 3) pensamentos e sentimentos são boas razões; 4) os pensamentos e os sentimentos são causas e, finalmente, 5) para controlar o resultado devemos controlar as suas causas. Logo, por associação, acabamos chegando ao resultado de para controlar o resultado devemos controlar os sentimentos e pensamentos. (HAYES, 1987). Assim, trazendo esse raciocínio para nosso tema específico, a felicidade (um efeito) seria produto (causa) de pensamentos e sentimentos positivos. Talvez o mercado dos livros de autoajuda e o evangelho do otimismo  e da motivação sejam fundamentados nessa perspectiva.

Mas esse caminho é cheio de armadilhas! Sentimentos e outros estados privados não são passíveis de controle direto. Um exercício bobo, porém didático, para ilustrar esse pressuposto: experimente não pensar, durante um minuto, em urso polar. Conseguiu? Eu imagino que não. Vamos tentar mais uma vez: agora imagine que você está conectado a um detector de mentiras de excelente precisão  e que pode captar qualquer reação de ansiedade sua. Então, você recebe a instrução de que você não pode de maneira alguma sentir ansiedade e, caso você sinta, levará um tiro na cabeça. Advinha o que você sentirá?

Hayes (1987) assinala que não precisamos mudar sentimentos e pensamentos para modificar outros comportamentos ou ter uma vida bem sucedida. O problema, na verdade, não seriam os pensamentos e sentimentos, mas nossa tentativas de controle e nossa fugas que visam eliminar vivências subjetivas aprendidas como “negativas” tal como a tristeza, o oposto da felicidade.

Quantas decisões tomamos na tentativa de eliminar incômodos, desconfortos, incertezas?  Vivências subjetivas estas que aprendemos serem negativas e contraditórias à felicidade. É claro que fugir de eventos difíceis e dolorosos (os aversivos!) têm um valor importante para nossa sobrevivência. No entanto, se dependermos de eliminar tudo o que é negativo para sermos felizes, jamais seremos. E negar esse “lado” da experiência humana pode resultar em alívio imediato (um reforço negativo), mas em longo prazo produz vidas de desespero, medo, ansiedade e, conforme bem colocou Sidman (1995, p. 231) “esmaga a engenhosidade e a produtividade, transforma a alegria em sofrimento, confiança em si em medo e amor em ódio.” As coisas dão errado, relacionamentos acabam, demissões acontecem e as pessoas morrem! A vida não é um laboratório! Uma porção de eventos são incontroláveis e nos esquivar de tudo que é ruim e tentar cultivar sempre pensamentos positivos não parece produzir os resultados que são vendidos por aí.

Viver plenamente, na abordagem do psicólogo Hayes, não significa não vivenciar sentimentos, pensamentos, sensações corporais e memórias, mas vivenciá-los como de fato são: sentimentos, pensamentos, sensações corporais e memórias que se transformam em um fluxo contínuo de experiências e contextos. Ou seja, seus pensamentos e sentimentos fazem parte de você, mas  não são você.

 Precisamos superar a ruminação e planejar saídas reais para o que nos paralisa, para o que nos torna infelizes. Aprendemos a primeiro nos sentir motivados e com vontade de agir para, então, agir, mas que sentido tem esperar se sentir como se estivesse fazendo algo ANTES de fazê-lo? Somos tão incrivelmente dinâmicos e versáteis e temos a capacidade de coexistir com a “vontade de não fazer” e, ainda assim, fazer, por exemplo.

Para além do que já foi discutido, não podemos deixar de lado a existência de uma “indústria da felicidade” que associa o consumo de bens à experiências felizes e produz lucros gigantescos para o capitalismo. A Coca-Cola indica: abra a felicidade! O Magazine Luiza chama: vem ser feliz! E o Baú da Felicidade está há 50 anos associando produtos e dinheiro à felicidade. Através da mídia, somos bombardeados de narrativas e imagens de pessoas alegres, sorridentes e esteticamente consistentes com o padrão cultural vigente e suas histórias de sucesso e  felicidade emparelhadas a roupas, calçados, celulares, cerveja, carros, status social etc. Em contrapartida, a “felicidade” gerada pelo consumo de bens parece não ter duração e profundidade em sua natureza. Ao que é possível perceber, é, na verdade, instantânea,  frágil e fugaz. Pegando emprestado o termo de Bauman sobre a sociedade pós-moderna, é possível compreender que esse tipo de felicidade (se é que podemos denominar assim) é, na verdade, líquida: ela escorre pelas mãos e não tem durabilidade. Citando a psicóloga Lauriane Santos em seu post em uma rede social: sapatos novos calçam pés, roupas novas vestem corpos. Nenhum deles traz felicidade… talvez tragam uma euforia pontual, a qual é dissolvida na próxima coleção primavera-verão.

Ser feliz é uma meta? Certamente, muitas pessoas responderiam que sim. Quando somos questionados sobre o que desejamos da vida é comum a resposta: ser feliz! Ou mesmo, ter dinheiro e ser bem sucedido, muitas vezes concebidos como sinônimos de felicidade.

Metas são objetivos a serem alcançados e são planejadas com tempo pré-definido para ser operada e gerar os resultados. Mas se a felicidade é uma meta, e metas têm prazos de validade, estaria a felicidade condicionada ao eterno cumprimento de metas? Eleger a felicidade como meta talvez não seja efetivo. O filósofo Han é categórico ao afirmar que  “o sentimento de ter alcançado uma meta definitiva jamais se instaura […] não é capaz de chegar à conclusão. A coação do desempenho o força a produzir mais. Assim, jamais alcança um ponto de repouso da gratificação” (2015, p. 85). Nos aniversários, nas festas de réveillon, nas mudanças e conquistas, desejar felicidade ao outro faz parte de uma prática verbal culturalmente estabelecida e mantida.  E aqui cabe mais uma reflexão: a felicidade parece estar sempre em algum lugar que não seja o presente; parece que habita não o agora, mas um futuro que custa chegar (ou nunca chega). Parece que as coisas que mais tememos e desejamos se encontram em um lugar não vivido: o futuro.

Essa é mais uma armadilha da felicidade. É óbvio que podemos (e devemos) planejar e prever situações futuras que nos gerem boas vivências subjetivas. O problema reside no fato de estarmos demasiadamente presos às expectativas de felicidade futura e nos resignarmos do único momento que nos pertence: o agora.

Outra “face” da felicidade é a segurança, que seria consequência de controle, previsibilidade e rigidez. No entanto, há um erro importante já explorado anteriormente: o controle é frágil e a busca desenfreada por segurança pode até nos deixar mais inseguros. A única constante da vida é sua impermanência! E se viver é estar em um constante fluxo de experiências, interações com outrem e com coisas, alternâncias entre perdas e ganhos, dor e gozo… se a vida é, em uma inerência, finita, talvez o que nos paralisa, o que nos entristece não seja essa “sentença”, mas a tentativa contraproducente de eliminá-la e de fugir dela. Mais uma vez reitero que a busca por segurança também tem um valor importante para a sobrevivência, a questão discutida são os excessos do controle de processo naturais da vida, mas que são aprendidos como negativos e acabam se tornando alvos de esquivas, como as tristezas e ansiedades.

E então, o que deixa as pessoas felizes? A famosa pesquisa de Harvard do Departamento de Desenvolvimento Humano,  respondeu ao questionamento sobre o que faz as pessoas felizes e saudáveis.  Por 75 anos, monitoraram 724 homens. Dois grupos: secundaristas de Harvard e garotos de um dos bairros mais pobres de Boston. A abordagem da pesquisa envolveu desde questionários e conversas com familiares, a exames de sangue e tomografia dos  cérebros. Não é a fama, a riqueza, ou trabalhar mais e mais, a mensagem mais clara é: bons relacionamentos nos mantém felizes e saudáveis.  Conexões sociais com a família, comunidade e amigos são importantes e a solidão mata. Não se trata da quantidade de pessoas próximas e não é casual estar em um relacionamento amoroso ou casado produzir, necessariamente, felicidade. O importante é a qualidade dos relacionamentos de proximidade que as pessoas nutrem (MINEO, 2017).

No leito de morte, é provável que seja difícil encontrar alguém que deseja ter passado mais tempo trabalhando, por exemplo. Em síntese, relacionamentos íntimos de qualidade são melhores preditores de felicidade e saúde do que genes, QI, status social e dinheiro (MINEO, 2017). É uma conclusão que vai ao encontros de sabedorias antigas e confronta o culto vigente da felicidade condicionada a consumo de bens.

“O dinheiro não traz felicidade!” Talvez Bill Gates e um morador de rua tenham visões diferentes ante essa afirmativa. A questão que fica é: tendo suas necessidades básicas contempladas,  o dinheiro traz felicidade? No Japão, uma das maiores potências  do mundo, é um país rico, mas infeliz. A “obsessão “ dos japoneses pelo desenvolvimento econômico pode ter sua raiz na necessidade de reerguer o país após destruição da Segunda Guerra Mundial. A questão é que o índice de suicídio e overworking (morte por excesso de trabalho, originalmente conhecido lá como “karoshi”) são assustadores e ascendentes. As pessoas estão morrendo de tanto trabalhar! (GORVETT, 2016)

Paralelamente, o pequeno país Butão concebe a felicidade como responsabilidade do governo, que tem o dever de dispor condições favoráveis a ela para sua população. Lá foi criado a Felicidade Interna Bruta (FIB) como indicador de desenvolvimento da nação, pautada em valores de colaboração, convivência com a comunidade, respeito a natureza, espiritualidade. É um modelo alvo de algumas críticas, no entanto, apresenta parâmetros na direção de sérias pesquisas sobre a felicidade como sendo uma consequência não do consumo de coisas, mas de relações de qualidade.

A Dinamarca, nação com alto padrão de vida e igualdade social, com educação gratuita até a faculdade e saúde universal para toda a vida é um dos países mais felizes do mundo. Para além disso, o que deixa realmente os dinamarqueses felizes, de acordo com o economista Cristian Bjonrskov, é o alto nível de confiança que as pessoas têm entre si e nas instituições (PREVIDELLI, 2014).

Por fim, este texto não tem a pretensão de esgotar as discussões sobre a felicidade nos tempos atuais e outras perspectivas, não abordadas aqui, podem dialogar e até mesmo apresentar posicionamentos contrários ao que foi exposto. O diálogo é bem vindo e deve acontecer. Mas por ora, é isto! E para finalizar, gostaria de levar o leitor a uma última reflexão: imagine a felicidade de algo muito bom te acontecer, como realizar um grande sonho…

Ainda terá sentido se você não tiver alguém importante para compartilhar?

Happiness only real when shared (Into the wild, 2008)

REFERÊNCIAS: 

GORVETT, Z. ‘Morrer de tanto trabalhar’ gera debate e onda de indenizações no Japão. BBC News, 2016. Disponível em:<https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-37463801>. Acesso em 01 dez. 2016.

HAN, B. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.

HAYES. S. C. A Contextual approach to therapeutic change. In N. Jacobson (Ed.) Psychotherapists in clinical practice: Cognitive and Behavioral Perspectives. New York: Guilford, 1987, p. 327-387. Tradução experimental Adriana C. B. Barcelos; Verônica Bender Haydu. Disponível em: <http://www.uel.br/grupo-estudo/analisedocomportamento/pages/arquivos/Hayes_%20Texto%20ACT.pdf>. Acesso em 20 mar. 2017.

MINEO, L. Goog genes are nice, but joy is better. The Harvard Gazette. Health & Medicine. 2017. Disponível em:<https://bsc.harvard.edu/links/good-genes-are-nice-joy-better>

SABAN, M. T. Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso. Belo Horizonte: Artesã. 2015.

SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

SIDMAN, Murray. Coerção e suas Implicações. Campinas: Psy. 1995.

PREVIDELLI, A. O que torna a Dinamarca o país mais feliz do mundo. Abril, 2014. Disponível em:<https://exame.abril.com.br/mundo/o-que-torna-a-dinamarca-o-pais-mais-feliz-do-mundo/>. Acesso 01 dez. 2018.

WEGNER,  .D. M. Ironic processes of mental control. Psychol Rev. 1994 Jan;101(1):34-52. Disponível em:<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8121959>. Acesso em 02 dez. 2018.

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Pollyanna: uma arma contra a ansiedade e o tédio

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– Oh, o jogo é encontrar em tudo qualquer coisa para ficar alegre, seja lá o que for, explicou Pollyanna com toda a seriedade. E começamos com as muletinhas.”

Fonte: http://zip.net/brtMyC

Pollyanna, considerado um clássico da literatura, foi escrito pela norte-americana Eleanor Hodgman Porter e publicado no ano de 1913, sendo traduzido para o português em 1934 por Monteiro Lobato e publicado pela Companhia Editora Nacional na coleção Biblioteca das Moças. O enredo do livro gira em torno de Pollyanna que se vê órfão e vai morar com uma desconhecida que, apesar de muito rica e sozinha, não recebe a garota com alegria, mas a encara apenas como um dever a ser cumprido.

A estória se inicia com Miss Polly Harrington dando ordens a criada da casa, Nancy, para que limpasse e preparasse o quartinho do sótão, pois uma pessoa iria morar com ela e passaria a ocupar aquele cômodo. Assim que Pollyanna chega ao belo solar de venezianas verdes que irá se tornar o seu lar e é conduzida ao seu futuro quarto, ela tem um vislumbre dos demais ambientes e da riqueza com que são decorados, o que a faz ansiar pelo momento em que descobriria o seu lindo quarto com cortinas, tapetes e janelas, entretanto, quando finalmente chega ao seu destino, Pollyanna encontra um cômodo de paredes nuas, janelas sem cortinas, armário sem espelho e desprovido de tapetes.

Fonte: http://zip.net/bptNb1

A sua primeira reação é atirar-se no chão e chorar, porém ela logo transforma a paisagem que via pela janela em um quadro, alegra-se por ter poucas coisas, pois assim seria mais rápido desfazer a mala e encontra na falta de um espelho a felicidade de não ter que ver as suas sardas diariamente. Toda essa reação inesperada causou grande estranheza em Nancy, que não entendia como a alguém poderia alegrar-se diante de tal situação.

Fonte: http://zip.net/bqtNxv

A primeira vez em que Nancy expressa à Pollyanna com o fato de ela ficar contente com tudo é esquisito, a garota explica tratar-se do “Jogo do Contente”.

Tudo começou quando Pollyanna pediu um presente. As condições em que vivia mal permitiam que suas necessidades básicas fossem supridas e frequentemente lhe eram enviadas doações de caixas com roupas usadas e alguns objetos, assim, escrevem para que enviassem o desejado na próxima caixa, porém, quando esta chega, no lugar de seu presente, haviam mandado um par de muletinhas e foi então que o “Jogo do Contente” teve início. Seu objetivo era sempre, em qualquer situação, encontrar algo com que contentar-se. As muletas, dessa forma, trouxeram alegria justamente pelo fato de Pollyanna não precisar delas para viver.

A partir de então, Pollyanna começa, aos poucos, a conquistar todos ao seu redor com sua bondade, pureza e alegria contagiante, sempre brincando do “Jogo do Contente” e o ensinando a quem quer que fosse, até o momento em que a própria Pollyanna e sua capacidade de encontrar contentamento em tudo é posta a prova.

– Oh, estou respirando o tempo todo, mas fazer isso não é estar vivendo A senhora respira todo o tempo que está dormindo e quem dorme não vive. Quero dizer vivendo, isto é, fazendo coisas de que a gente gosta, como brincar lá fora, ler para mim mesma, subir no morro, conversar com o senhor Tom e Nancy no jardim, e saber tudo a respeito das casas e das pessoas que moram nas lindas ruas por onde passei. Isso é o que eu chamo viver… Respirar só, não é viver.”

Fonte: http://zip.net/bstMWd

A obra de Eleanor H. Porter foi responsável por desencadear uma grande onda de esperança, otimismo e boa vontade, porém existe sempre os dois lados da moeda.

Chamar alguém de Pollyanna ou afirmar que alguém é acometido pela “Síndrome de Pollyanna”, geralmente, não é visto como um elogio, ao contrário, o termo faz referência a uma pessoa alienada, que tende a enxergar o mundo e as emoções de maneira ingênua e age de forma inconsequente. Indivíduos assim vivem em uma realidade paralela, em um mundo cor de rosa, chegando o termo a ser usado até como forma de descrever o posicionamento do Poder Judiciário brasileiro.

O grande questionamento gira em torno do fato de que ninguém consegue estar feliz o tempo todo e que pessoas que agem de tal forma, ao invés de contagiarem os outros, tendem a ser consideradas falsas e enjoadas, pois é natural ao ser humano manifestar sentimentos de raiva, tristeza e decepção, além de muitos acreditarem ser impossível ver sempre o lado bom das coisas.

Entretanto, a personagem do livro, apesar de sempre buscar colocar em prática o seu querido “Jogo do Contente”, não era imune aos sentimentos negativos, chegando a afirmar que “não consegue pensar agora em uma só coisa que a possa fazer contente”. Pollyanna, apesar de sua personalidade viva e otimista não era uma alienada, mas alguém que buscava não se deixar abater pelas adversidades da vida e é essa a principal lição do livro. Não se trata de negar os sentimentos de dor e fingir que eles não existem, mas mudar a nossa perspectiva, o modo de encararmos situações que outrora se mostravam desafiadoras. É nesse contexto, então, que podemos fazer do “Jogo do Contente” uma verdadeira arma contra dois grandes vilões: a ansiedade e o tédio. 

A ansiedade pode ser descrita como um estado emocional desconfortável, de apreensão, uma inquietação em relação ao futuro ou a expectativa de que algo ruim irá acontecer. É comum a ansiedade aparecer quando nos sentimos desafiados ou incapazes de realizarmos algo, por exemplo. Dessa forma, por que não usarmos tais situações a nosso favor? Por que não encararmos desafios que poderiam ser a causa de sentimentos de ansiedade e incerteza, como uma maneira de extrairmos o máximo de aprendizado possível? Se nos sentimos inseguros, por que não jogarmos o “Jogo do Contente” e buscarmos algo que, futuramente, nos tornará mais fortes?

De maneira oposta, o sentimento de tédio é aquele que pode aparecer quando você se sente pouco desafiado, ou pela demora no desenvolvimento de algo, ou ainda perante situações previsíveis e inevitáveis, porém, é justamente diante das circunstâncias mais entediantes que nossa criatividade pode ser melhor desenvolvida. Aproveitar esses momentos e buscar soluções criativas para nos tirar desse estado de chateação e enfado nada mais é do que jogar o “Jogo do Contente”. Situações pouco desafiadoras nos dão a oportunidade de sermos os melhores no que estamos fazendo, e a liberdade de ousarmos na busca de novas soluções.

Assim, o “Jogo do Contente, por mais simples, ingênuo e, à vezes, irritante que possa parecer, pode ser aplicado nas conjunturas mais incomuns não apenas como forma de encontrarmos algo que nos deixe contentes, mas também para nos ensinar que devemos tirar o máximo de proveito de toda e qualquer situação e usá-las como maneira de nos desafiar a melhorar, impusionar o nosso crescimento e superar o tédio.

Em tudo há sempre uma coisa capaz de deixar a gente alegre; a questão é descobri-la.”

FICHA TÉCNICA DO LIVRO:

POLLYANNA

Fonte: http://zip.net/bqtNxP

Título Original: Pollyanna
Autor: Eleanor H. Porter
Tradução: Monteiro Lobato
Editora: Companhia Editora Nacional
Páginas: 181
Ano: 1913

REFERÊNCIAS:

RODRIGUES, Rafael Rezende. Ansiedade: por um ansioso, 2011. Disponível em: > http://encenasaudemental.com/personagens/ansiedade-por-um-ansioso/< Acesso em: 4 de junho de 2017.

MARINHO, Wallace Andrade de. Apontamentos da medicina, frente ao distúrbio emocional da “Ansiedade”, 2012. Disponível em: > http://encenasaudemental.com/comportamento/insight/apontamentos-da-medicina-frente-ao-disturbio-emocional-da-ansiedade/<. Acesso em: 4 de junho de 2017.

ROBSON, David. Por que é bom sentir tédio, 2015. Disponível em: > http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/01/150118_vert_fut_beneficio_tedio_ml<. Acesso em: 4 de junho de 2017

FOLGUEIRA, Laura. O lado bom do tédio, 2016. Disponível em: > http://super.abril.com.br/saude/o-lado-bom-do-tedio/<. Acesso em: 4 de junho de 2017

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Depressão (ainda banalizada) pode levar ao suicídio – (En)Cena entrevista Tatiane Paula Souza

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Organização Mundial da Saúde estima que 800 mil pessoas morrem por suicídio anualmente

Segundo levantamento da OMS, a depressão atinge cerca de 5,8% da população do Brasil, posicionando o país como o maior em quantidade de pessoas com a doença na América Latina. “Expressões como ‘sou chato’, ‘sou incompetente’, ‘serei infeliz até o final da minha vida’, nas quais a pessoa exterioriza uma visão negativa de si mesma, de sua experiência de vida e do futuro podem significar o início de um quadro de depressão,” explica​ a psicóloga​ Tatiane Paula Souza. A profissional traz algumas orientações e recomendações sobre esta que é uma das mais devastadoras doenças da modernidade.

Grupo CASA – O que diferencia a doença depressão de condições emocionais, como a tristeza?

Tatiane Paula Souza – A depressão normalmente se caracteriza por um sentimento de tristeza persistente que se reflete em sintomas físicos como alterações no sono, dificuldades na execução das tarefas cotidianas, falta de apetite ou compulsão alimentar, cansaço e falta de energia. Quando os sintomas se tornam crônicos, podem ocorrer também pensamentos suicidas e uso de substâncias psicoativas. Deprimidos também apresentam perda de interesse; atenção e concentração prejudicadas, auto-estima reduzida e sentimento de culpa e inutilidade.

Grupo CASA – Uma pessoa com depressão pode se tratar apenas com o uso de medicamentos? Há tratamentos alternativos eficazes?

Tatiane Paula Souza – O diagnóstico correto da depressão deve ser realizado pelo médico psiquiatra que fará a prescrição do tratamento medicamentoso, ferramenta essencial para debelar os sintomas mais acentuados. Para tratar a doença é fundamental contar com um psicólogo especialista em saúde mental. As técnicas terapêuticas ajudam na modificação dos comportamentos prejudiciais permitindo que a pessoa consiga compreender o seu estado e, juntamente com seu psicólogo, busque estratégias de enfrentamento das situações de crise.

Grupo CASA – Quais os fatores mais comuns que podem fazer a pessoa ter depressão?

Tatiane Paula Souza – Existem alguns padrões que podem desencadear a acentuação dos sintomas e, consequentemente, a evolução da doença. Entre eles estão as perdas (emprego, ente querido, status social), ambiente de trabalho hostil, bullying, estresse além de traumas físicos ou psíquicos.

Grupo CASA – Como a família e pessoas próximas podem ajudar alguém com depressão?

Tatiane Paula Souza– A família deve buscar compreender a situação, conhecer a doença e não fazer julgamentos. É importante incentivar o parente deprimido a procurar ajuda médica, acompanhá-lo à consulta e colocar-se à disposição para colaborar com o tratamento prescrito. Potencialize ao máximo o afeto em torno da pessoa, evitando deixá-la sozinha e envolvendo outros membros da família. Se há evidências de pensamentos e comportamentos de suicídio, o indicado é informar imediatamente o médico psiquiatra responsável pelo paciente.

Grupo CASA – A depressão ainda é tratada com preconceito por muitas pessoas. Quais atitudes de pessoas próximas podem prejudicar a recuperação de uma pessoa com depressão?

Tatiane Paula Souza – Depressão não é frescura. O fato da pessoa estar prostrada e sem energia não significa preguiça. A postura de julgamento e crítica constantes prejudica muito o paciente, não só no entendimento dos sintomas, mas também o afasta da ideia de buscar um tratamento efetivo. Infelizmente, é muito comum que a família só descubra que o parente deprimido estava precisando de ajuda quando acontecem tentativas de suicídios não concretas ou quando ocorre suicídio de fato. Depressão não se encaixa em uma classe social específica, todos nós estamos sujeitos. Ao suspeitar de qualquer padrão de comportamento que possa apresentar sinais de suicídio é preciso procurar imediatamente ajuda.

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Trolls: implementação de valores na infância

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Com uma indicação ao OSCAR:

Melhor Canção Original (Can’t Stop the Feeling).

Banner Série Oscar 2017

Se há algo que todo mundo concorda é que sempre é possível encontrar uma música que representa perfeitamente do que se está sentindo! E, às vezes, elas são grandes influentesnos estados emocionais, como a alegra e a tristeza. Nisso, há quem diga que a vida é digna de uma trilha sonora. E no filme Trolls (2016), dirigido por Mike Mitchell e Walt Dohrn e produzido por Dannie Festa e Gleen Berger, esta ideia é muito bem ilustrada.

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Os trolls são criaturinhas fofas, coloridas, de cabelos metamórficos e muito felizes (muito mesmo)  que resumem suas vidas em cantar, dançar e abraçar. Visualmente, elas evocam as características dos Os Smurfs (2011) e destoam consideravelmente das ilustrações de trolls gigantes, selvagens e monstruosos apresentadas em Harry Potter e a pedra filosofal (2001), O Senhor dos Anéis: o retorno do rei (2003) e Os Hobbits: uma jornada inesperada(2012). Assim, os novos trolls descontroem todos os conceitos prévios sobre seu povo e sua forma de viver, neste contexto eles são os duendes da sorte (aqueles que você com mais de 20 anos já colecionou em sua penteadeira) e vão cativando o telespectador infantil ao decorrer do filme.

Trolls em Harry Potter e Senhor dos Anéis
Trolls em Harry Potter e Senhor dos Anéis

Como a maioria das animações infantis sobre comunidades distintas em Trolls também há quem banque os vilões e o outro grupo que são suas vítimas. Aqui os vilões são os Bergens, monstros que estavam sempre amargurados, não sabiam cantar, nem dançar e tão pouco abraçar. Um dia sentiram inveja da felicidade que os trolls possuíam e um dos Bergens comeu um troll e sentiu tanta felicidade, consequentemente espalhou-se o mito que um Bergen só encontraria a felicidade apenas dessa forma. Daí surge o Trollstício, comandado pela Cheff de cozinha, onde Bergens aprisionam os coloridinhos para comê-los num dia especial no intuito de sentir a tal felicidade.

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A incessante busca pela felicidade não é peculiar dos Bergens, para Dai Lama tal busca está presente na humanidade como objetivo de vida (2000). Segundo Ferraz et al (2006) “a felicidade é uma emoção básica caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e de prazer, associados à percepção de sucesso e à compreensão coerente e lúcida do mundo”. E Comte-Sponville afirma que o que falta para ser feliz quando se tem tudo é sabedoria, pode-se inferir que isso era algo não muito presente nos Bergens.

Vinte anos depois de fugirem dos Berngens, a princesa dos trolls, Poppy (Anna Kendrik), dá a maior festa (quase uma rave) de todas para comemorar a libertação. Isso chama a atenção da Cheff banida pelo seu grupo por causa da fuga dos trolls) e esta vai capturá-los, grande parte se esconde, mas os amigos mais próximos de Poppy são levados. Tal possibilidade de a festa atrair os Bergens foi cogitada pelo único troll triste, descorado, “paranoico” e ignorado pelo grupo, chamado Branch (Justin Timberlake).

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Do mesmo modo, Briget (Zooey Deschanel), a camareira real, é uma raridade entre os Bergens, pois com seu jeito meigo e submisso acredita que existe outra forma de encontrar a felicidade, para ela seria o reconhecimento e a correspondência do seu amado crush príncipe Grisel. Esta personagem é uma referência ao conto da Gata Borralheira, mais conhecida pelo público atual como a Cinderela.

Poppy, a princesa que nunca havia enfrentado dificuldades na vida e sempre se matinha otimista, decide resgatar os amigos indo até a cidade dos Bergens, acompanhada de Branch com todo o seu pessimismo. É gritante a dicotomia entre a felicidade e a infelicidade durante o longa, marcada pelas cores, brilhos e sobretudo nas canções. Porém, aos poucos os mocinhos mostram que é possível ter momentos de felicidade quando se cultivam práticas na vida que propiciam emoções alegres. Ainda, contrapõem a ideia dos heróis devem vencer os vilões, mostra uma nova perspectiva de que é possível ensiná-los o respeito, e no caso a serem felizes, transmutando-os dos papéis de vilões para amigos dos mocinhos.

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Esta obra da DreamWorks, que é encantadora ao público infantil e previsível ao público adulto, faz mérito ao seu gênero: comédia musical. Além de uma aquarela de pigmentações, alta qualidade cinematográfica 3D e canções perfeitamente arranjadas às cenas em que as músicas conseguem traduzir os sentimentos, o que se sobressai na obra são os valores (morais e imorais) embutidos em cada personagem. A solidariedade e perseverança do Rei Pepe (troll); o otimismo e resiliência da Princesa Poppy; a liberdade, união e respeito com os trolls; o desrespeito e alienação nos Bergens; o empoderamento em Briget; a corrupção em Creek; e a perseguição ao poder na Cheff.

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Destarte, Trolls é um filme para a família inteira assistir e que auxilia os pais na exemplificação dos comportamentos adequados e inadequados perante ao meio social. Vale ressaltar que do começo ao fim nos produz desejos de cantar, dançar e, especificamente, repensar a nossa busca pela felicidade, se esta está sendo alcançada em decorrência ao sofrimento do outro ou não.

REFERÊNCIAS:

COMTE-SPONVILLE, A.A Felicidade,desesperadamente. Martins Fontes. São Paulo, 2001.

DALAI LAMA, H.H, e HOWARD, C. Cutler, M.D. A arte da felicidade. Martins Fontes. São Paulo, 2000.

FERRAZ, Renata Barboza; TAVARES, Hermano; ZILBERMAN, Monica L..Felicidade: uma revisão. Rev. psiquiatr. clín.,  São Paulo ,  v. 34, n. 5, p. 234-242,    2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000500005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25  de fevereiro de 2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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TROLLS

Diretores: Mike Mitchell (V) e  Walt Dohrn
Elenco: Anna Kendrick e Justin Timberlake
País: EUA
Ano: 2016
Classificação: Livre

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