Como o uso da Dialética Junguiana, Dialética Comportamental e Mindfulness podem construir sentido existencial para idosos?

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Desde o final do século XX e principalmente no decorrer do século XXI o fenômeno do envelhecimento populacional vem ganhando força no Brasil e no mundo. Em razão disso, se fez necessária a atenção, investigação e investimento em estudos sobre essa etapa do desenvolvimento humano. A velhice por muitas vezes é uma fase composta por diversas variáveis, em que o luto, o desamparo e a solidão estão presentes, além de todo o processo biológico que envolve constantes mudanças. Por isso, é de suma importância compreender os aspectos biopsicossociais do envelhecer.

A concepção de velhice

É importante ressaltar que a velhice não tem uma data exata definida. Não se tem um parâmetro que  possa ser considerado inarredável. Existem pessoas que podem ser consideradas velhas aos 40 anos e, ao mesmo tempo, temos pessoas consideravelmente jovens aos 75 anos.  De acordo com o que regulamenta o Estatuto do Idoso (Ministério da Saúde, 2013a), entende-se como  idoso todo o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos.

Importante mensurar que  Beauvoir apud Coura e Montijo (2014), colaciona as diferenças de conceitos entre idade biológica, social e psicológica. A idade biológica refere-se ao envelhecimento orgânico do organismo, levando em consideração o envelhecimento dos órgãos e a capacidade de autorregulação que também se torna menos eficaz. A idade social é seriamente determinada pela cultura e tem como referência o papel que o indivíduo ocupa na sociedade, e o quanto está ou não socialmente ativo.

A idade psicológica refere-se à capacidade dos aspectos de inteligência, memória e motivação. Não se pode deixar de considerar que definir a velhice apenas em termos cronológicos pode ser um erro comum, pois depende do contexto em que o indivíduo está inserido, das oportunidades e experiências que se teve ou tem acesso, segundo Garcia (2014).  Ademais, existe um enorme preconceito em relação à velhice, que são expressos por reações de desgosto, ridicularização, negação e afastamento. Neri e Freire (2000) aduzem que há uma forte associação entre a velhice com a doença, a dependência e até com a morte.

Fonte: Imagem de Rosy por Pixabay

Dinâmica de grupo

Quando se desprende o conceito de grupos, necessário se faz assimilar que são condições do ser humano ter desejos, identificações, mecanismos de defesa e, em especial, necessidades básicas como a dependência e o desejo de ser reconhecido pelo outro. “Assim como o mundo interior e o exterior são a continuidade um do outro, da mesma forma o individual e o social não existem separadamente, pelo contrário, eles se diluem, interpenetram, complementam e confundem entre si”. (ZIMERMAN, OSORIO et al, 2007, p. 27).

A modalidade privilegia a aprendizagem e o treino de várias competências e contribui para que o indivíduo obtenha e partilhe informações sobre mudanças e transições características dessa fase. A psicoterapia em grupo na velhice pode proporcionar melhora nos sintomas psicológicos e físicos, bem como na qualidade de vida (Rebelo, 2007).

Neto (2004) refere que quando as pessoas percebem que estão sós, enfraquecem e apenas conseguem ver um cenário deprimente e de desesperança do que é a sua vida. Assim os os laços que se criam dão suporte social, cognitivo e emocional, auxiliando o idoso na manutenção da auto-estima e do desenvolvimento pessoal, uma vez que resulta numa melhoria da saúde mental, maior autodomínio e maior satisfação na qualidade de vida, pois reduz os efeitos negativos do stress e melhora as respostas imunitárias e de humor (Andrews, 2001; Hansen-Kyle, 2005).

A dinâmica em grupo terapêutico é um recurso necessário quando pensamos na criação de novas relações pessoais e promoção de qualidade de vida na terceira idade, é um momento de troca de vivências e experiências adquiridas ao longo da vida.

Fonte: Imagem por Freepik

Mindfulness

Mindfulness é uma palavra de origem inglesa que conceitualmente tem sua origem a partir do termo Sati que vem do dialeto indiano pali, que por sua vez, significa “lembrança” ou “lembrar”, assim como também pode ser traduzido por “estar atento” (Grossman e Van Dam, 2011). Nessa perspectiva, Sati é entendido como recordar para reorientar a atenção e estar alerta para experiência do momento presente de maneira receptiva e incondicional (Germer, 2016b). Dentro do contexto budista, o conceito de Sati aparece no seu sermão Satipatthana Sutta (Os Quatro Elementos da Atenção) e é considerado o coração das meditações budistas (Thera, 1962).

No caso do Brasil, ainda existe a dificuldade de interpretação do inglês para o português, pois a tradução literal da palavra “mindfulness’’ pode ser variada entre “atenção plena”, “consciência plena”, “mente alerta”, “observação vigilante”, entre outras. No meio científico, o termo mais utilizado para traduzi-la é Atenção Plena, mas ainda existem críticas que apontam que esta não seja a tradução mais literal.

Uma definição operacional de mindfulness dentro do contexto ocidental é feita por Kabat-Zinn (2003), que define o termo como a consciência que emerge ao prestar atenção no momento presente e sem julgamento momento a momento. Alguns autores, por sua vez, conceituam mindfulness como um estado ou traço que se refere à capacidade de estar atento ao que acontece no momento presente intencionalmente e sem julgamento.

Diante de todo exposto, importa salientar que o Mindfulness não é apenas uma técnica, mas um estilo de vida, uma forma de ver o mundo de uma perspectiva mais saudável e sem julgamentos, percebendo os fenômenos tais quais eles se apresentam e adquirindo uma perspectiva de aceitação e neutralidade em relação a eles.

A busca pelo sentido da vida pode causar tensão interior em vez de equilíbrio interior. Entretanto, essa tensão é um pré-requisito necessário para a saúde mental. O que o sujeito necessita não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente (Frankl, 1946/2011).

Fonte: Imagem no Freepik

Dialética – Terapia Comportamental

A Terapia Comportamental Dialética foi desenvolvida a partir da década de 1970 pela psicóloga, professora e escritora norte-americana Marsha Linehan. Apesar de ter sido projetada inicialmente para tratar TPB, sabe-se que é bastante útil para qualquer pessoa com problemas de desregulação emocional, mesmo que a causa não esteja relacionada a um transtorno mental. Na Dialética o terapeuta pode escolher quais peças da terapia serão efetivas para clientes diferentes. Em resumo, quando não está sendo usada  para tratar (Boderlaine), o modelo é muito flexível e pode ser usado para qualquer transtorno (Van Dijk, 2013).

A dialética fundamental neste modelo de terapia se concentra na validação e aceitação do paciente em sua inteira totalidade. Sobre a “dialética”, vale ressaltar que, ao criar seu modelo de tratamento, Linehan foi fortemente influenciada pela teoria da dialética. Van Dijk (2013) explica que pensar dialeticamente significa olhar para ambas as perspectivas em uma situação e, em seguida, trabalhar para sintetizar essas perspectivas possivelmente opostas.  Terapia através do método dialética, é uma modalidade de psicoterapia que combina propostas da ciência comportamental, da filosofia dialética e da prática zen.

Dialética Junguiana

Segundo Jung (2009b), a psicoterapia trata-se de um tipo de procedimento dialético, que ocorre a partir da interação entre dois sistemas psíquicos, o do paciente e o do psicoterapeuta, em uma relação de troca e influência mútua. Essa concepção distanciou-se bastante da inicial, que  considerava  a  psicoterapia  como  um  “método  aplicável  de  maneira  estereotipada  por qualquer pessoa, para obter um efeito desejado” (JUNG, 2009b, p.1). Sendo  assim,  no  método dialético  proposto por  Jung, o  psicoterapeuta  deve abdicar  de  sua autoridade  diante  do  paciente,  impondo-se  um  espírito  crítico  que  não  se  deixa  levar  pela pretensão de saber e julgar sobre a individualidade e totalidade da personalidade do paciente.

Dessa forma conclui-se que, o foco  através da terapia possibilita a promoção de saúde e auxilia os idosos a encarar esse período da vida de forma o mais produtiva possível e passível de ser vivida com bem-estar e qualidade, visando melhor adaptar os idosos às demandas e mudanças que são características do processo de envelhecimento.  Oferece um espaço de escuta e fala, que através da Terapia Dialética e Mindfulness buscam criar um ambiente controlado que permita aos idosos estabelecerem regulação emocional, gerenciamento comportamental, práticas contemplativas que favoreçam a melhora das demandas relativas ao quadro específico que possuem.

Referências

ANACLETO, M. I. C. et al . Grupo com idosos: uma experiência institucional. Rev. SPAGESP,  Ribeirão Preto ,  v. 6, n. 1, p. 27-38, jun.  2005.   Disponível em

<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702005000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  15  maio  2022.

 ANDREWS, G. Promoting health and function in an ageing population. BMJ, 322, 2001. p. 728-729.

 BEAUVOIR, S. A velhice (Martins, M. H. S., Trad.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1970/1990.

 BRASIL. Lei n°10.741, de 1 de outubro de 2003. Dispõe sobre o estatuto do idoso e das outras providências. Brasília: Senado Federal.

COURA, D. M. S., e MONTIJO, K. M. S. (2014). Psicologia aplicada ao cuidador e ao idoso. São Paulo: Érica.

 FERNANDES, J.S. et al, Márcia Siqueira de Representações sociais de idosos sobre velhice. Arq. bras. psicol., Ago 2016, vol.68, no.2, p.48-59

FERREIRA, A. B. de H. Miniaurélio Século XXI: O mini- dicionário da língua portuguesa. 4a Ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.

FISCMANN, J.B. Como agem os grupos operativos. IN. ZIMERMAN, David E. ; OSORIO, L.C. e colaboradores. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997., A., & Freire S. (Eds.). E por falar em boa velhice. São Paulo: Papirus.

GARCIA, M. A. A., et al (2005). Idosos em cena: falas do adoecer. InterfaceComunicação, Saúde, Educação, 9(18), 537-552.

GRIFFA, M. C, MORENO, J. E. (2017). Chaves para a Psicologia do Desenvolvimento, tomo 2: adolescência, vida adulta, velhice. Reimpressão. São Paulo: Paulinas.

 HANSEN-KYLE, L. (2005). A concept analysis of healthy aging. Nursing Forum, 40 (2), 45-57.

 JUNG, C. G. (2009b). Ulisses: um monólogo. In Obras completas: o espírito na arte e na ciência, (Vol. 15,5a ed., pp. 94-118). Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1932)

 NERI, A. L., e FREIRE, S. A. (Orgs.). (2000). E por falar em boa velhice. Campinas: Papirus.

 NETO, M. (2004). Solidão (Também) Mata… Não Só Idosos Como Jovens. Diário de Notícias. Recuperado em Maio, 12, 2022.

 PACHECO, J. L. (2005). Sobre a aposentadoria e envelhecimento. In J. L. Pacheco, J. L. M. Sá, L. Py e S. N. Goldman (Orgs.), Tempo rio que arrebata (pp.59-73). Holambra: Setembro.

REBELO, H. (2007). Psicoterapia na idade adulta avançada. Análise Psicológica, 25 (4), 543-557.       [ Links ]

SALGADO, M. A. Os grupos e a ação pedagógica do trabalho social com idosos. A terceira idade, São Paulo, v. 18, n. 39. 2007. Disponível em:< http://cev.org.br/biblioteca/os-grupos-e- acao-pedagogica-trabalho-social-com-idosos/ >. Acesso em: 24 mai. 2022.

ZIMERMAN, D.E. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artes Médicas Sul: 2010.

Autores:

Ana Carla Olímpio Soares

Adhemar Chúfalo Filho

Auridéia Loiola Dallacqua

Eduardo Barros Carneiro

Maria Laura Maximo Martins

Maria Luiza Pinto Araújo Fernandes Sá

Tatiane Gomes de Moraes Silva.

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Sexualidade na velhice: velhos fazem sexo?

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A pergunta base do título poderia ser simples responder. Do ponto vista físico/fisiológico não há nada que impeça uma pessoa, homem ou mulher, a prática de sexo/sexualidade na fase da velhice.

Contudo, em nossa sociedade, sexo/sexualidade são cercados de tabus e preconceitos. Na fase da velhice o assunto é ainda menos explorado. Assim, quanto pensamos a sexualidade nesta fase da vida temos a tendência a nega-la vendo indivíduos velhos como seres assexuados, como algo que não é natural, afinal, “sexo é para jovens” como uma ideia corrente no imaginário popular, mesmo para a população afetada. Pensar que nossos avôs e avós podem ter vida sexual nos causa grande estranhamento e surpresa, afinal, já são velhos.

Os tabus e preconceitos que envolvem o sexo em nossa sociedade estão muito relacionados a religiosidade que credita ao sexo apenas a reprodução, assim, nesta fase da vida onde não há mais a capacidade reprodutiva, mulheres após a menopausa não possuem mais capacidade de engravidar e homens tem sua fertilidade diminuída, a sexualidade perde o sentido seguindo esta linha de pensamento. Tabus em relação ao próprio corpo, afinal não são mais viris e rígidos, flacidez, menopausa, dificuldades de ereção ou manutenção da ereção, maior tempo para lubrificação vaginal, também são considerados um problema para esta parte da população.

Contudo, é preciso lembrar que sexualidade não envolve apenas relação sexual pênis/vagina, mas que a expressão da sexualidade pode ser vastamente explorada, no entanto, esses próprios tabus e vergonhas, acima mencionados, impendem que as pessoas nesta fase da vida procurem outros modos de sentir prazer já que o prazer pelo prazer é considerado pecado pela maioria das religiões cristãs. Deste modo, temos no imaginário popular que os velhos são seres assexuados, sem libido e/ou vontade de praticar sexo ou qualquer expressão de sexualidade.

Assim, respondendo à questão levantada no título do texto: velhos podem e devem praticar sexo e explorar sua sexualidade da forma que melhor lhes satisfazer. Mas para isso o debate deve ser aberto, sincero e sem preconceitos. Não podemos negar a esta população algo que faz parte da vida. O envelhecimento da população é algo perceptível e nesta fase da vida muitos direitos são negados e tolhidos, sendo entendido como mais uma violência simbólica, aquela violência sutil e não percebida tanto por quem a pratica quanto por quem está sofrendo.

Para finalizar, ressaltamos o que diz a Organização Mundial de Saúde – OMS, sobre sexualidade: “A Organização Mundial de Saúde considera a sexualidade como um aspecto fundamental na qualidade de vida de qualquer ser humano. Essa dimensão é fundamental em tudo o que somos, sentimos e fazemos. A OMS considera ainda a saúde sexual como uma condição necessária para o bem-estar físico, psíquico e sociocultural”. Observemos que este texto inclui “qualquer ser humano” sendo assim, a população de idade mais avançada também está incluída não sendo justo negar-lhes a possibilidade da busca do prazer e bem-estar que as diversas expressões de práticas sexuais são capazes de proporcionar.

Referências:

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Sexual and Reproductive Health. WHO, 2006. Disponível em: https://www-who-int.translate.goog/teams/sexual-and-reproductive-health-and-research/key-areas-of-work/sexual-health/defining-sexual-health?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc . Acesso em: 17/03/2022.

UCHÔA, Yasmim da Silva. Et. Al. A Sexualidade sob o Olhar da Pessoa Idosa. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2016; 19(6): 939-949. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/7dtmjLMf3c4bHR8bgcQDFXg/abstract/?lang=pt.  Acesso em: 18/03/2022.

VIEIRA, Kay Francis Leal. Et. Al. A Sexualidade Na Velhice: Representações Sociais De Idosos Frequentadores de Um Grupo de Convivência. Psicologia: Ciência e Profissão jan/mar. 2016, Vol.36 Nº 1, 196-209. doi: 101590/1982-3703002392013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/dtF8qQ6skTwWk4jK5ySG7Gq/abstract/?lang=pt. Acesso em: 18/03/2022.

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Velhice, uma das principais fases da vida

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Os desafios da terceira idade estão longe de acabar. Em especial, em países em desenvolvimento, onde o idoso precisa de políticas públicas mais eficientes para ter uma qualidade de vida. Sobre o assunto, a Organização Das Nações Unidas – ONU, em Assembleia Geral, decidiu que o período de 2021 a 2030 será conhecido, como a década do Envelhecimento Saudável. O objetivo da iniciativa é fazer com que a sociedade mude sua forma de pensar e agir em relação ao idoso.

Conforme a ONU (2020), a humanidade está envelhecendo, em todos os quatro cantos do mundo, e por isso é preciso na elaboração de políticas públicas que auxiliem nessa fase, que segundo a entidade, afeta o sistema de saúde. De acordo com a resolução elaborada em Assembleia, junto aos países membros, o mundo não está preparado por contribuir e responder com eficiência aos direitos e necessidades da pessoa idosa. (ONU, 2020). Para é necessário o engajamento da sociedade civil junto, setor privado e público para a promoção de um envelhecimento saudável reiterou a organização internacional.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que a proposta em promover uma década saudável para os idosos, a partir deste ano, 2021, é melhorar a qualidade de vida deles, bem como acrescentar anos à vida de cada um.   Dados coletados pela ONU, afirmam que existem 962 milhões de pessoas espalhados pelo mundo com mais de 60 anos de idade, sendo que em 2030 serão mais de 1,4 bilhões de idosos. Nesse sentido, a ação vai ao encontro dos números que confirmam o envelhecimento da população mundial.

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que houve um aumento considerável da população idosa brasileira, nas últimas décadas.  A coleta foi feita, em 2020, e informa que o número da população brasileira com 60 anos de idade aumentou para 29,9 milhões e se continuar nesse ritmo deve subir para 72,4 milhões em 2100. Comparada a população idosa, da década de 50, que era 2,6 milhões, ocorreu um aumento de 8,2% nos últimos setenta anos.

Fonte: Freepik

Ainda de acordo com o IBGE (2020), o número de idosos com mais de 65 anos de idade passou para 9,2 milhões em 2020 e que a previsão para daqui a 100 anos é alcançar 61, 5 milhões de brasileiros. Já a quantidade de brasileiros idosos com mais de 80 anos passou 4,2 milhões, em 2020, sendo que em 2100 será de 28,2 milhões.  Ou seja, a população brasileira envelheceu e vai continuar no processo de envelhecimento, por isso é importante o engajamento dos setores públicos e privados, bem como a população em busca de melhoria de vida para o idoso, como pontou a Assembleia Geral da ONU realizada o ano passado.

Veras (2007) comemora que, o envelhecimento populacional constitui um substancial conquista da humanidade, mas adverte que o novo cenário demográfico e epidemiológico precisa exigir novos olhares, concepções, políticas, tecnologias e modelos de atenção que possibilitem um envelhecimento saudável. Para isso, propõe a análise das desigualdades sociais entre as pessoas da terceira idade para a elaboração de políticas para o brasileiro com mais de 60 anos.

Para assegurar os direitos do idoso, no Brasil, foi elaborada a Lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, em 2003. Entre suas atribuições estão atendimento individualizado e especial junto aos órgãos públicos e entidades privadas, preferência na elaboração de políticas públicas, além de sua execução.  No entanto, apesar dessas diretrizes, a qualidade de vida do idoso brasileiro, precisa ser revista e melhorada, em especial no mercado de trabalho, é o que em Lopes e Burgadt (2013).

Para Lopes e Burgadt (2013) o idoso que deseja voltar ao trabalho precisa competir com concorrentes mais jovens, geralmente preferidos pelo devido ao seu maior grau de qualificação. “O preconceito que existe com relação à terceira idade faz com que a sociedade naturalmente ignore o idoso, visto que uma das grandes dificuldades quanto à inclusão dessa parte da população no mercado de trabalho” Lopes e Burgadt (2013). Nesse sentido, é preciso mudar o olhar sobre a população idoso, que vem aumentando consideravelmente, por isso é importante sua reinserção no mercado de trabalho de forma digna. Isto é, se a população tende ao envelhecimento, o mercado precisa se adaptar à nova realidade. Além disso, o jovem cheio de oportunidades hoje, é o idoso de amanhã.

REFERÊNCIAS

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020). Disponível em <https://www.ibge.gov.br/> Acesso 02, de nov, de 2021

ONU- Organizações das Nações Unidas (2020) -Assembleia Geral da ONU(2020). Disponível em < https://brasil.un.org/pt-br/about/about-the-un > Acesso. 02, de nov de 2021

 Lopes APN, Burgardt VM. Idoso: um perfil de alunos na EJA e no mercado de trabalho. Estudo Interdisciplinar Envelhecer (2013).

Planato, Estatuto do Idoso. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>

Veras R. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. (2007).

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CAOS 2021 – Promoção da Saúde Mental do Idoso em Tempos de Pandemia

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No segundo dia do congresso, quinta-feira, 04 de novembro, aconteceu diversas atividades no decorrer do dia, dentre elas os minicursos e sessões técnicas. No período noturno, às 19h, ocorreu o minicurso com a temática “Promoção da Saúde Mental do Idoso em Tempos de Pandemia”, tendo como convidada a psicóloga Isabela Aires De Melo, o mesmo fora mediado pelas acadêmicas de psicologia, Ludimylla Sousa e Izabela Fernandes, o evento foi transmitido através da plataforma digital Google Meet, contando com cerca de 30 participantes.

O evento teve início com a apresentação curricular da convidada, no qual fora realizada pelas mediadoras. Assim que a psicóloga recebeu a palavra, estabeleceu abertura para os participantes, de forma dinâmica, em que permitiu que os mesmos se apresentassem e relatasse de forma breve o interesse pelo tema. Em seguida concedeu aos alunos que construíssem uma nuvem de palavras que representasse para cada um o conceito de “velhice”. A partir dessa atividade, a psicóloga iniciou a contextualização a respeito do tema proposto.

Fonte: Divulgação CAOS

Conforme as discussões trazidas durante o minicurso, a convidada instigou os participantes a refletirem sobre o processo de envelhecimento, como também na estigmatização do mesmo e em como podem gerar sofrimento aos indivíduos, nos quais esses reflexos podem expressar de forma comportamental e emocional. Diante do cenário atual, percebe-se que em grande parcela houve intensificação do estresse diário, devido à privação da vida social, assim contribuindo para adoecimento psicológico. Portanto, encontra-se a necessidade de buscar a promoção e autonomia desses velhos.

Por fim, o minicurso contribuiu para a concretização de conhecimentos a respeito do processo de envelhecimento, entendendo que esse ocorre de forma biopsicossocial, além de compreender que a velhice é um resultado de uma construção cultural e temporal. A partir de tais pontuações foram percebidos, através das diversas participações dos acadêmicos, como o engajamento dos mesmos puderam contribuir para o enriquecimento da atividade.

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Aquarius: o asco que a sociedade ocidental sustenta pela velhice

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No filme Aquarius, tendo como protagonista a fenomenal artista Sônia Braga, temas relevantes sobre a terceira idade são levantados. A obra se passa em um apartamento no bairro de Boa Viagem, em Recife. Grandes corporações imobiliárias estão interessadas em demolir o prédio a fim de expandir seus negócios e tem apenas Clara como a única resistente do prédio inteiro, na qual não aceita qualquer tipo de negociação da empresa. 

 

Fonte: Google Fotos.

Quando a grande corporação imobiliária percebe a inexorável resistência de Clara, começa a tramar estratégias corruptas e libertinas para enfim a inquilina desistir e ceder à proposta deles. Mas ela incansavelmente resiste, chegando até a um certo momento, a recorrer por meio de causas judiciais. Contudo, o que é intrigante na obra é como a fase em que a protagonista está passando mostra a percepção distorcida e deturpada do Ocidente sobre isso. 

Em um dado momento, Clara tenta investir em um flerte sexual com um salva-vidas que trabalha em frente à praia na qual o prédio do seu apartamento se fixa. Ele, desconfiado da proposta, pergunta abertamente se ela está interessado nele, e ela, sem graça da sua reação, desmente e logo em seguida o salva-vidas demonstra uma expressão de alívio, denotando que senhoras daquela idade não poderiam ter ainda algum tipo de atração sexual. 

 

Fonte: Google Imagens

 

Isso mostra como a sociedade ocidental desumaniza a velhice, descaracterizando aspectos básicos de um ser humano em suas funções integrais, como o sexo. Além dessa cena, há outro momento em que Clara chega a pagar para obter um serviço sexual, pois percebeu-se que ao decorrer do filme suas investidas para desfrutar de um momento prazeroso com um parceiro eram limitados ou pela sua idade ou pela sua retirada da mama, no qual a repugnavam. 

Além disso, o filme retrata Clara tendo um círculo social bastante diversificado e amplo, o que a torna bastante ativa socialmente. Isto é, ela recebe visita de velhos amigos, sai para festas noturnas com suas amigas, regadas de danças e drinques, sai para programações diurnas com seus familiares e funcionários que trabalham em sua casa e revive momentos de sua antiga profissão como jornalista no interior da sua casa com amigos. 

De cera forma, é uma realidade chocante para os telespectadores, na qual já esperavam uma rotina melancólica, rotineira e pacata por já estar desfrutando da velhice, pois seus filhos já estão todos independentes e com suas próprias famílias. Mas Clara quebra esta expectativa e mostra que mesmo após os 50 anos, é possível ainda manter uma vida social ativa, desfrutando da agitação como os mais jovens demonstram. 

Simbolicamente o filme demonstra que a protagonista não irá abrir mão do seu lar na qual formou seus filhos, teve um ótimo casamento e ótimas lembranças do seu ofício como jornalista. Logo, princípios simples para Clara são inegociáveis, como suas memórias. Por fim, o filme expõe de forma sutil e em pequenos detalhes que a terceira idade não significa esperar passivamente a morte, mas de que pode-se ter apego a vida e ter o apego a uma causa assim como na juventude. 

REFERÊNCIAS

MARCELLO, M. Aquarius- papo de cinema. Disponível em: https://www.papodecinema.com.br/filmes/aquarius/

Revista Piauí. AQUARIUS: O FILME EM QUESTÃO. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/aquarius-o-filme-em-questao/ 

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Puella Aeterna: consequências da fixação feminina na eterna juventude

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Ao longo da história e dos mitos que a humanidade traz consigo, muito se foi dito acerca da eternidade, da beleza e da juventude do ser humano, que em tantas histórias e contos se referenciou nos deuses, comumente representados como figuras eternas e que na psicologia analítica são vistos como arquétipos.

Os arquétipos são figuras que remetem a um conteúdo específico, uma forma, como por exemplo, o arquétipo materno representado por a grande deusa, a virgem, a esposa, a vó e também pode ser atribuída à lua e a terra, dentre tantas outras representações que são formadas no inconsciente (JUNG, 2002).

O arquétipo do Puer Aeternus se construiu em várias culturas através dos mitos, tanto orientais como ocidentais, sendo associado à beleza, juventude e eternidade, retratado em diversos deuses; sua maior associação é com o arquétipo do deus menino, sendo comumente atribuído aos deuses gregos Dionísio e Eros, seu significado é descrito como “juventude eterna” enquanto que na psicologia analítica pode ser também atribuído ao jovem que tem algum complexo materno incomum (VON FRANZ, 1992).

Portanto o indivíduo que se vê tomado pelo arquétipo do Puer Aeternus é retratado da seguinte maneira:

Em geral, o homem que se identifica com o arquétipo do puer aeternus permanece durante muito tempo como adolescente, isto é, todas aquelas características que são normais em um jovem de dezessete ou dezoito anos continuam na vida adulta, juntamente com uma grande dependência da mãe, na maioria dos casos (VON FRANZ, 1992, p. 3-4).

Na clínica junguiana, muito se trabalha com os aspectos arquetípicos nos quais encontram-se no inconsciente coletivo e podem levar aos complexos a partir das experiências pessoais que são atribuídas ao inconsciente individual, sendo melhor explicados por Jung (2002, p. 53) da seguinte forma:

O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência pessoal, não sendo, portanto, uma aquisição pessoal. Enquanto o inconsciente pessoal é constituído essencialmente de conteúdos que já foram conscientes e no entanto desapareceram da consciência por terem sido esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência e, portanto, não foram adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à hereditariedade.

A partir da breve explicação, falaremos então acerca de um caso clínico relacionado ao Puer Aeternus, porém, aqui postularemos como a Puella Aeterna, ou a eterna menina, que é o aspecto feminino do Puer com algumas características que podem se diferenciar, sendo geralmente caracterizada como uma mulher que ainda vive com aspectos infantis, geralmente por consequência de pais passivos e em sua maioria por mães controladoras. Sendo assim Leonard (1998, p. 64) conclui:

[…] a eterna menina em geral adquire sua identidade a partir das projeções feitas pelos outros sobre ela, entre as quais: a mulher fatal, a boa filha, a esposa e anfitriã encantadora, a princesa maravilhosa, a musa inspiradora, e até mesmo a heroína trágica. Em lugar de assumir a força e o poder do potencial que lhe é inerente, e as responsabilidades que o acompanham, a eterna menina permanece frágil. Como uma boneca, permite aos outros fazerem de sua vida o que bem quiserem.

Fonte: encurtador.com.br/jlmW9

A partir de tal conceito, podemos seguir ao caso clínico que envolve uma paciente jovem de 18 anos na qual chamaremos de Hebe (nome fictício), que ao chegar no consultório se mostrou muito receptiva e falou acerca de seu acompanhamento clínico anterior, da sua vida familiar, um pouco da sua história, dos seus sentimentos e vivências, foi conversado com ela acerca da abordagem que seria utilizada na terapia (Psicologia Analítica), e questionamentos acerca de inclinações para artes e hobbies que a mesma poderia ter. A paciente relatou gostar de filmes “clichês” e também antigos. Outro aspecto relevante retratado foi acerca do gosto por desenhar, onde ela revelou gostar bastante, mas que não o fazia há algum tempo por receber críticas negativas da mãe acerca de alguns dos seus desenhos, que inclusive foram jogados fora por Hebe.

Podemos observar aqui um aspecto muito comum da Puella, onde a paciente demonstra reminiscências da infância tendo suas decisões tomadas a partir de influências dadas pela mãe, que notavelmente exerce um controle exacerbado sob a vida de Hebe, como citado por ela em um exemplo acerca de sua vontade de fazer uma faculdade fora, mas que não seguiu adiante com a ideia após sua mãe reforçar que ela não daria conta por ser uma pessoa de “mente frágil” para lidar com uma vida longe.

Hebe confirma verbalmente o que sua mãe disse a respeito dela, fala que se sente uma pessoa frágil emocionalmente e que sempre está sendo afetada por algo, portanto quando ocorre um evento que lhe afete negativamente ela costuma ir para um canto e ficar sozinha, ela relatou ser uma pessoa que não demonstra seus problemas, que geralmente se sente culpada em incomodar os outros e sente culpa até mesmo por problemas que são inevitáveis, como por exemplo uma doença recente que sua mãe passou, no qual Hebe disse de alguma forma sentir-se culpada por toda aquela situação. Acerca disso Leonard (1997, p. 81) nos traz que:

Um elemento comum a todos os padrões pueris é o apego a uma inocência ou uma culpa absolutizada que são os dois lados de uma moeda capaz de alimentar a dependência de outrem que reforce ou condene os atos. Existe em todos a relutância de responsabilizar-se pela própria existência, a ausência de tomada de decisões e discriminações; é o outro que se incube disso.

A paciente relata ter tido fortes crises de ansiedade e as situações nas quais teve, como por exemplo quando foi visitar sua mãe que estava internada e durante a crise que teve ela se viu tomada por um pânico que a deixou paralisada tendo inclusive que ser atendida por enfermeiras que estavam no local. Nesse momento ela diz ter tido muito medo de que sua mãe viesse a falecer. Esse aspecto muito nos fala acerca do medo terrível de separação da paciente com sua mãe, onde há visivelmente uma ausência de ruptura e o medo de encarar o mundo, sendo esse último aspecto relacionado à introversão.

Hebe diz que sua timidez é tamanha, que ela não costuma fazer amigos por dizer que não gosta de sair, tendo como explicação o fato de que todos que querem ser seus amigos sempre chamam para ir a festas e ela prefere não fazer amizades a ter que recusar os convites. Von Franz (1990, p.11) nos fala que:

No caso da atitude introvertida […] a pessoa tem a impressão de que um objeto opressor quer constantemente afetá-la, objeto do qual ela deve afastar-se de maneira contínua. Tudo se abate sobre a pessoa, que é constantemente oprimida por impressões, embora não perceba que secretamente está tomando energia psíquica do objeto e passando-a a ele através da sua extroversão inconsciente.

Fonte: encurtador.com.br/bemV8

A paciente relata que não costuma conversar muito com os irmãos, pois são pessoas que levam tudo na brincadeira, também não conversa muito com seus pais, porquê sua mãe é muito fechada e o seu pai, devido ao histórico do divórcio também não é muito amável. Segundo a paciente sua mãe passou a tratá-la de forma diferente após a separação dos pais, que as coisas ficaram diferentes, pois ela sente muita falta da época em que os pais moravam juntos.

O Pai de Hebe mora em outro estado, e por vezes abandonou a família sem dizer quaisquer coisa, isso, nas palavras da paciente, deixou-a insegura, e contou que certa vez o pai propôs que sua mãe, ela e os irmãos fossem morar com ele, ele deu o dinheiro para irem, porém, ao chegar lá ficaram cerca de dois meses e o pai os abandonara novamente em uma casa pequena sem dar quaisquer satisfações, deixando-os inclusive sem dinheiro algum até mesmo para voltar, e que apenas conseguiram voltar após contato com a família na cidade que moravam.

Essa história nos remete em partes ao que Leonard (1997) discorre acerca do padrão da Puella da “menina de vidro”, fazendo uma análise da peça “Zoológico de Vidro” de Tennessee Willians (1945) onde se observa a protagonista Laura, marcada por uma relação de um pai ausente que se mostra como uma garota de extrema timidez, com uma mãe que faz suas projeções nela tomando partido por suas decisões:

Para Laura, não existia relação com o masculino, não havia nenhuma influência ativa e consciente do pai, nenhum relacionamento com o mundo exterior […] Desprovida de projeções masculinas e de uma relação com o masculino, Laura cria seu próprio mundo, uma vida de fantasia que compensa seu isolamento em relação ao mundo exterior. (LEONARD, 1997, p.70)

Durante o atendimento com Hebe, ao mencionar que provavelmente falaríamos de sonhos, perguntei se ela costumava sonhar, e se recordar dos sonhos, ela mencionou que sim, logo após questionei se ela tinha algum sonho específico, logo ela me contou de um sonho que já se repetiu algumas vezes segundo ela, no qual ela se via em um apartamento que era somente dela, dado por sua mãe, com tudo para ela. Infelizmente não foi possível uma análise mais aprofundada do sonho, pois Hebe não pôde mais comparecer à terapia.

Portanto, após os relatos da paciente, podemos encontrar uma evidência no sonho de que o apartamento é a casa dela, representa seu ego. E apesar de ser algo próprio dela, quem deu foi sua mãe, isso pode nos revelar acerca da dependência materna por parte de Hebe, que demonstra fixação em uma fase anterior do desenvolvimento, na qual podemos novamente relacionar com a Puella.

Há também um constante medo inconsciente de encarar o mundo, uma necessidade de mudar a imagem amedrontadora que a paciente tem da mãe. Hebe demonstra uma recusa de buscar desenvolvimento de auto apoio para se tornar uma pessoa apta à vida adulta, é preciso dar-se conta de que esse trabalho não pode ser realizado por sua mãe, mas sim por ela mesma e para tanto a figura do terapeuta atua juntamente nesse processo.

Sendo assim para a transformação desse padrão de Puella, é interessante que o terapeuta convide à paciente, em primeiro passo, a tomar consciência de que está fora de contato com o self, ao reconhecer e sentir a existência da mais dimensões no próprio íntimo, um poder maior que a força dos impulsos do ego, onde ainda não se tem um vínculo, que pode ser revelado nos sonhos, essa conscientização gera sofrimento e então o segundo passo refere-se à aceitação desse sofrimento, tendo por fim o último passo, perceber que, apesar da nossa fraqueza há uma força interior que acessa esse poder superior, é uma aceitação do poder do self mas que parte das escolhas da própria paciente (LEONARD, 1998).

Vale ressaltar que na clínica Junguiana, o terapeuta irá atuar como aquele que estará ali para andar junto durante esse processo, vivenciar junto com o paciente e dar o suporte buscado na terapia para que o indivíduo possa lidar com as adversidades por si só, ou seja, até que o paciente possa caminhar sozinho. O analista por sua vez deve estar em constante aprimoramento, se possível, realizar também seu próprio processo terapêutico. Acerca disso Jung (1998, p. 6) discorre que “aquilo que não está claro para nós, porque não queremos reconhecer em nós mesmos, nos leva a impedir que se torne consciente no paciente, naturalmente em detrimento do mesmo.”

Podemos reafirmar então, que os arquétipos regem nossas vidas, mesmo que não tenhamos a consciência de sua existência, ainda assim, fazem parte do inconsciente coletivo, de uma forma ou outra, entram em contato com nosso inconsciente pessoal e acabam por interagir com os complexos pessoais. A terapia sob a luz da psicologia analítica nos ajuda a entender como funcionam os movimentos de nossa psique, nossa alma, e nos convida a nos compreender melhor e a trazer os aspectos inconscientes à consciência, com o intuito de auxiliar no processo de individuação e na busca do self que é pessoal à cada indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/jwABQ

REFERÊNCIAS

LEONARD, Linda Schierse. Mulher Ferida, a. 3ª edição. São Paulo: Summus, 1997.

JUNG, Carl Gustav. A Prática da Psicoterapia. 6ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

VON FRANZ, Marie-Louise; HILLMAN, James. A tipologia de Jung. São Paulo: Cultrix, 1990.

VON FRANZ, Marie-Louise. Puer aeternus: a luta do adulto contra o paraíso da infância. Paulinas, 1992.

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Alienação parental e o idoso

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O termo alienação parental geralmente é relacionado aos filhos, normalmente crianças ou adolescentes, em que um dos pais, após a separação, causa um afastamento intencional do filho com o ex-parceiro. Mas a alienação parental também acontece com os idosos. Isso ocorre quando existe uma disputa pela herança. 

Muitas vezes o idoso não percebe que está sofrendo alienação ou ele pode estar em uma situação em que é considerado incapaz. Normalmente, o alienador é alguém próximo e que o idoso confia, normalmente um filho, que acaba isolando o idoso do convívio com outros parentes. Ao sofrer alienação, ele demonstra desinteresse pela vida. Isso afeta a qualidade de vida, pois ele perde o interesse por diversão, alimentação e deixa de ter uma vida prazerosa. 

Com esse desinteresse, podem surgir doenças emocionais como solidão, depressão, ansiedade entre outras. Ele acaba nutrindo um sentimento de abandono. E a solidão é um dos ingredientes da depressão e traz, inclusive, dor física. 

Fonte: encurtador.com.br/quQTY

O tratamento dessa alienação é a busca da ajuda psicológica, psiquiátrica, nutricionista, terapeuta ocupacional, ou seja, um tratamento interdisciplinar. Os profissionais devem trabalhar em conjunto para tratar as doenças emocionais que esse indivíduo pode estar sofrendo. É indicado que ele faça sessões de terapia e uso de medicamentos adequados e prescritos por um psiquiatra. 

Ressalto que o Estatuto do Idoso visa, em primeiro lugar, regular os direitos assegurados de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. As pessoas não devem se omitir ao ver que um idoso está sofrendo.  Os familiares deveriam tratar seus idosos com respeito e dignidade, pois eles trabalharam a vida inteira em prol de uma vida melhor para os filhos, e quando chegam à velhice, muitos se encontram solitários e desamparados. 

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Retrato do artista quando velho: a literatura do desespero

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Joseph Heller (1923-1999) nasceu em Nova York e teve o início de sua vida literária na escrita de contos. É reconhecido pelo livro Ardil-22, seu primeiro romance publicado em 1961, premiado e adaptado para o cinema. Retrato do Artista quando Velho foi publicado postumamente em 2000, no ano posterior à morte do autor, e procura contar sobre o processo de escrita na velhice.

Inicialmente, o romance parece um retalho de outros romances, como se estivéssemos lendo um livro dentro um livro. Através de uma narrativa em terceira pessoa conhecemos Eugene Pota, um escritor septuagenário de renome que reflete com amargura dos tempos de juventude em que as ideias lhe surgiam com mais facilidade, como lampejos prolíficos cheios de possibilidade. O protagonista busca, entre passeios lentos e vista para o mar, evocar uma ideia que lhe pareça digna de ser escrita.

A história que lhe parece mais acertada e genial tem o título “Uma Biografia Sexual de Minha Mulher”, que possui aprovação de seus editores e amigos, sem no entanto agradar sua esposa que precisa explicar a todo tempo que a história não se trata sobre ela. Pota pensa que livros sobre injustiça social e outros temas que perpassam as mazelas da sociedade são coisas então do passado, nada que fosse “motivo de escândalo” (HELLER, 2002, p. 29), que dirá tema merecedor de seu novo grande romance. Mas escrever um livro sobre sexo lhe provoca uma boa sensação.

É diante de um cenário de angústia e percepção desacelerada do tempo que observamos Pota em suas tentativas de escrita. Na idade em que se encontra e considerando que já escreveu livros considerados best-sellers, compreende que não pode escrever nada que esteja abaixo disso, o que nos promove uma ideia inicial que posteriormente é confirmada por ele de que há uma cobrança excessiva sobre o sucesso que lhe deixa paralisado, sem criatividade e com sentimento de humilhação.

Foto: Gilstéfany Oliveira

“A maioria de nós esmorece com a idade, e também com a experiência. O trabalho não se torna mais fácil com a prática e, quando paramos, desaba subitamente sobre o nós o peso esmagador de todo o tempo livre que temos pela frente e que não estamos aptos a enfrentar.” p. 24

Durante o livro, o protagonista se dedica à enredos sobre personagens bíblicos, mitológicos, adaptações de grandes obras literárias e outros temas que sempre desembocam num tipo de fracasso ou pausa. O autor se reprime constantemente pelo ridículo do que escreve e a narrativa é ultrapassada por essas histórias e sua vida cotidiana.

Em sua história sobre Tom Sawyer, referência à obra literária de Mark Twain, Pota parece espelhar na narrativa do personagem certos aspectos de sua personalidade e preocupações que lhe rondam, apontando um declínio da força criativa dos autores do qual Tom Sawyer busca como inspiração para se tornar um bom escritor. Este momento parece nos dizer que a busca é vã, os bons escritores que conhecemos morreram na miséria, melancólicos, sofrendo de solidão ou de doenças implacáveis e algumas vezes os dois ao mesmo tempo.

Ao final da busca infrutífera, Pota nos informa, através de Tom Sawyer, do banal da vida dos escritores: “tratava-se apenas de seres humanos apaixonados, com intenções elevadas, que queriam ser escritores e que, na maioria dos outros aspectos, pareciam mais sensíveis, neuróticos, confusos e infelizes que o normal.” (HELLER, 2002, p. 218). A normalidade possui uma característica cultural muito explícita, uma vez que seus limites variam de acordo com o padrão esperado de comportamento inseridos num contexto sociocultural e familiar (APA, 2014). Quer escritores ou não, cabe refletir se a confusão, sensibilidade e infelicidade não são elas mesmas uma característica do gênero humano, muito além de normal e anormal, mas função inadiável da qualidade de viver.

Numa palestra ministrada por Pota próximo ao final do livro, ele nos traz de forma clara todas as inquietações que já estavam nas entrelinhas de suas outras histórias. Questões relacionadas à natureza do trabalho, desejo de fama e prestígio, cobiça, falta de ritmo e energia mental, angústia e depressão. Momentaneamente, o livro parece perder em matéria de desenvolvimento e aguçamento de curiosidade, pois todas as cartas são dadas, explicadas, esmiuçadas. Não há nada então que o leitor já não tenha antevisto. Parece vir carregado também de um esgotamento, numa narrativa arrastada, como se estivéssemos tão cansados quanto o protagonista, que o sente em tentar escrever algo que lhe seja realmente digno e do leitor em observar a falta de qualidade nos produtos de suas tentativas.

Foto: Gilstéfany Oliveira

“Poderia começar com praticamente qualquer civilização humana de que temos conhecimento, e eu nunca, nunca, conseguiria chegar ao fim, pois as coisas más, selvagens, que os homens e mulheres civilizados, perversos, fazem contra os outros homens e mulheres continuam a suplantar nossa capacidade de fazer um inventário completo de todas elas.” p. 150

Na palestra que tem como título “A literatura do desespero”, Pota procura analisar a obra de grandes autores quando sua vida pessoal está em foco, observando que elementos trágicos estiveram presentes, principalmente ao final de suas vidas. Para isso, utiliza Herman Melville, Joseph Conrad, Henry James, F. Scott Fitzgerald, Charles Dickens, Sylvia Plath e outros para exemplificar como terminam os escritores em situações angustiantes, vulneráveis e levando a uma morte que, muitas vezes, ocorre por motivos pífios. Ao mesmo passo que analisa a biografia desses autores, o protagonista pensa sobre sua própria vida, se visualiza sua morte como uma saída adequada, se é um indivíduo infeliz. As respostas são negativas e o são pois ele tem no outro sua baliza: enquanto sou visto, enquanto sou aceito, enquanto gostam de mim, então sou alguém e faz sentido que eu esteja aqui.

Transferindo-se constantemente de uma história para outra, podemos verificar o mecanismo de autossabotagem promovido pelo protagonista, que não se atém à história que acredita ter potencial e perde então seu tempo em outros relatos. Quando finalmente encontra-se firme em dar continuidade na escrita de um livro sobre sexo na perspectiva de uma mulher, percebe que não as conhece o suficiente. Logo parte em viagens e reencontros de antigos amores na esperança de que lhe surja material suficiente para o livro.

Se Pota alcança seu objetivo ao final deixaremos à descoberta do leitor, na promessa de uma periência metalinguística presente no desfecho que dá ao romance um tom especial. Retrato do artista quando velho é uma elucubração de desespero, um retrato da velhice nos termos em que não existe mais correspondência entre o desejo e a ação, que ecoa sobre o implacável da vida: o tempo e a morte.

FICHA TÉCNICA

RETRATO DO ARTISTA QUANDO VELHO
Editora: Cosac & Naify
Gênero: Romance
Autor: Joseph Heller
Ano de lançamento: 2000
Idioma: Português
Ano: 2002
Páginas: 320

REFERÊNCIAS

HELLER, Joseph. Retrato do artista quando velho. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. 320 p. Tradução de: Luciano Machado.

ASSOCIATION, American Psychiatric (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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Dia do idoso: interface entre a velhice e a psicologia

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É possível perceber que demograficamente existe um processo de envelhecimento instaurado, e a ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que o período de 1975 a 2025 é a Era do Envelhecimento. No que tange o Brasil, o IBGE aponta que em 1970 por volta de 4,95% da população do Brasil era idosa, e em 1990 esse número cresceu para 8,47%, o que aponta para que em 2020 a 2025  expectativa de vida do brasileiro suba de 66 anos em 1990, para 77 (SIQUEIRA; BOTELHO; COELHO, 2002).

A velhice é percebida por alguns autores como um fenômeno natural e social, que se mostra sobre o ser humano com limitações de ordem biológica, econômica e sociocultural. Para Beauvoir (1976) a sociedade aponta diversos clichês sobre a velhice, onde o idoso é descrito por outras pessoas e não por ele mesmo, e a autora defende que o idoso é um indivíduo que interioriza a própria condição e a ela reage.

Erik Erikson aponta que de acordo com cada fase do desenvolvimento surgem outras necessidades e determinações que são de origem do próprio indivíduo ou também do ambiente no qual ele faz parte, o autor ainda denota que às exigências e incentivos que existem em cada período do ciclo vital são diferentes e se complementam no que são chamadas de crises virtuais, que provém da modificação substancial de perspectiva (FORTES, 2012)

De acordo com Papalia e Feldman (2013), a identidade se constrói para Erikson com base na formação do self, que é composto por crenças e valores, e possui grande importância no desenvolvimento da adolescência que em breve formará um adulto mais dotado de capacidade para o enfrentamento dos embates da vida. Diante disso, verificamos como cada estágio é importante e como cada crise é essencial para o estágio seguinte e para que o indivíduo consiga elevar seu nível de maturidade e ser capaz de lidar com outras questões que possam surgir nas próximas fases do desenvolvimento psicossocial.

Fonte: encurtador.com.br/eoDP6

Bordignon (2007, p.13) aponta que “cada estágio psicossocial traz consigo uma crise e um conflito centrado num conteúdo antropológico específico”, diante disso, a crise é uma chance que produz o desenvolvimento do indivíduo, uma situação que necessita tomada de decisão ou até mesmo uma situação de regresso e insucesso.

Conforme Fortes (2012), cada nova fase ou estágio do desenvolvimento, uma crise diferente surge para ser enfrentada e vencida pelo Ego que  está em processo evolutivo, e o desfecho para tal crise acarreta dois tipos que são o tipo positivo e negativo, que impactará na forma como a próxima fase será enfrentada, onde o indivíduo e o meio são fundamentais para solucionar às demandas que possam surgir.

Segundo Bordignon (2007),  no que tange o tipo positivo de resolver cada conflito ou crise entre as forças sintônicas e distônicas surge então uma força denominada como básica que origina uma potencialidade, que torna-se parte da vida do sujeito, porém quando não ocorre a solução da forma apropriada da crise surge uma patologia básica, que também passa a ser considerada como parte da vida do sujeito.

Quando após a finalização e quando a crise é entre a confiança e a desconfiança é resolvida, a consequência então é a esperança, e na crise entre autonomia e vergonha resulta na vontade, sucessivamente cada crise de cada estágio psicossocial consiste na sabedoria que surge através da resolução positiva entre a crise da integridade e o desespero (BORDIGNON, 2007).

Cada crise e cada conflito vivenciado em cada fase do desenvolvimento são fundamentais para que o sujeito consiga se desenvolver de uma forma mais apropriada, porém existem casos onde o insucesso em determinadas fases prejudica o andamento e a evolução das próximas fases. Todas as fases estão interligadas e co-dependem umas das outras.

Fonte: encurtador.com.br/erV27

De acordo com Carpigiani et al (2014), o papel do ego é organizar às memórias do indivíduo e sintetizar suas experiências vividas na esfera emocional, e a partir disso, teremos a garantia de uma vida psíquica estável e saudável, pois é importante e fundamental que às três dimensões estejam integradas, sendo elas: dimensão biológica, social e individual. A dimensão biológica se refere ao desenvolvimento biológico, e a social tange as relações culturais que possuem enorme influência na formação da personalidade do sujeito desde quando ele ainda é um bebê, e a dimensão individual que corresponde a forma individual e única de como o sujeito irá constituir sua identidade, estando totalmente atrelada ao ego e no acoplamento das memórias e das percepções do indivíduo em relação ao que é real, ao que é fantasia e que contribuem para a construção intersubjetiva do indivíduo.

Cada dimensão possui suas características próprias, porém para Erikson as três são extremamente importantes para a constituição e formação da identidade do indivíduo, dessa forma, as peculiaridades de cada dimensão possuem influência e importância nas outras, geram algum tipo de impacto nas outras dimensões.

Conforme a teoria psicossocial, o desenvolvimento do ego se dá a partir da relação de interdependência entre o interno e o social (CARPIGIANI et al, 2014). O meio social possui grande influência no desenvolvimento do indivíduo, visto que desde a infância ele sofre com estímulos externos provenientes da cultura e que impactam diretamente na formação da identidade e da subjetividade do indivíduo.

Conforme Rabello e Passos (2008), Erikson em sua teoria percebe o ser humano como um ser social, e esse ser social está inserido em grupos e está sujeito à influências destes grupos, e o desenvolvimento humano é dado por fases onde que ocorrem de maneira ininterrupta e as anteriores sempre impactam e influenciam nas outras fases, nas próximas fases. Quando o sujeito enfrenta as crises presentes em cada fase, ele irá se tornar mais fortalecido para conseguir enfrentar as próximas crises nas próximas fases que virão, ou também pode acontecer que o indivíduo se fragilize nessas fases e esteja mais enfraquecido e vulnerável nas próximas fases, diante disso, o desenvolvimento do sujeito possui ligação direta com o contexto social onde ele está inserido.

Com base no contexto do qual o indivíduo faz parte, ele sofrerá alguns impactos no seu processo de desenvolvimento, dessa forma, para Erikson, o contexto social possui uma forte influência na formação identitária do indivíduo, desde os grupos dos quais ele participa quanto da cultura como um todo, ambos possuem relação com a construção da identidade e com o desenvolvimento do indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/gSWY7

Segundo Nascimento et al (2016), as crises que o ego enfrenta levam à maturação no que tange o meio social, e esse processo está relacionado à determinantes culturais, às condições e à personalidade. De acordo com as vivências do ego, a maturação ocorrerá de modo diferente em cada sujeito, mas a influência da cultura e do meio social é de grande importância.

Ao decorrer do processo evolútico, a personalidade passa por transformações e modificações que visam a reestruturação e adaptação da mesma de acordo com as experiências passadas que ocorreram de forma adequada ou nos insucessos das fases antecedentes, e tal preceito qualifica-se como epigenético (FORTES, 2012).

Para Veríssimo (2002), a Velhice no desenvolvimento psicossocial de Eriksson corresponde a um momento de relações significativas, onde há a modalidade de relacionamento pautado em ser na medida em que se foi e o enfrentamento do não ser. Para o autor, existe também a crise psicossocial com a manifestação do sentimento de integridade x desesperança, onde pode haver a presença da virtude associada renúncia e sabedoria, e psicopatologias relacionadas como alienação extrema e desespero.

É na velhice que o indivíduo sente o final do ciclo vital se findando e sente não ter muitas coisas pela frente, é o momento onde ele se vê obrigado a olhar para o passado e orgulhar-se do que fez ou não, e não somente o que fez, mas como o seu próprio ego se constituiu ao longo da vida, e esse momento pode dar origem a um sentimento de integridade e satisfação, ou até mesmo amargura e inaceitação do confronto com a morte (VERÍSSIMO, 2002).

Conforme o modo como cada fase do desenvolvimento foi enfrentada e vivenciada pela pessoa idosa, a fase da velhice será um momento de pensamentos mais calmos e satisfatórios ou de dor, pois é bastante comum que o idoso passe bastante tempo rememorando suas vivências, e tais lembranças podem trazer o sentimento de dor ou de alegria, depende de como cada fase anterior foi enfrentada.

Na velhice é o momento de reflexão acerca do que se foi, acerca do que o indivíduo foi e fez durante a vida, pouco se é pensado sobre o que ainda fazer, geralmente não existem grandes planos a longo prazo nesse momento da vida. Se as crises ao longo da vida foram resolvidas, o saldo da reflexão será positivo. Para Erikson (1964, p. 133): “a sua preocupação face à morte vira-se para a vida em si mesma”.

Diante disso, as crises que não foram resolvidas nas fases anteriores podem se manifestar como amargura, visto que o tempo é menor e mais escasso agora para tentar novamente ou para começar do zero, pois o indivíduo vê-se sem alterativas ou possibilidades com tempo suficiente para refazer algumas coisas. É comum que a inevitabilidade da morte traga quadros oscilantes de depressão e agressividade deslocada.

Referências:

BEAUVOIR, Simone. A velhice: realidade incômoda. (2a ed.). DIFEL, São Paulo 339pp. 1976

BORDIGNON, Nelso AntonioO desenvolvimento psicossocial do jovem adulto em Erik Erikson, Revista Lasallista de Investigación, vol. 4, núm. 2, 2007, pp. 7-1

CARPIGIANI, Berenice. Erik H. Erikson – Teoria do Desenvolvimento Psicossocial. Disponível em: http://www.carpsi.com.br/Newsletter_7_ago-10.pdf. Acesso em: 28 nov. 2019.

ERIKSON, Erik. O ciclo de vida completo.(trad.) Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: artes Médicas, 1998.

NASCIMENTO, Isabela Ribeiro Villares; ALVES, Edvânia dos Santos, JÚNIOR, José Policarpo. Contribuições do pensamento de Erik Erikson à ideia de formação humana à educação. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV045_MD1_SA6_ID2022_0 9092015150858.pdf. Acesso em: 28 nov. 2019.

PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 12 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

RABELLO, Elaine. Personalidade: estrutura, dinâmica e formação – um recorte eriksoniano. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2001. (monografia).

VERISSÍMO, R. Desenvolvimento psicossocial (Erik Erikson). Porto: Faculdade de Medicina do Porto, 2002.

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