Psicoterapia no SUS: mudança de paradigmas

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Em dezembro de 2017 fiz o primeiro contato com a Unidade Básica de Saúde (UBS) que abrange minha quadra devido à continuidade de dias depressivos a que estava submersa. Confesso que já me direcionei à unidade pessimista, pois ao falar de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) a imagem que me vinha à cabeça era a seguinte: unidade lotada, funcionários mal educados e demora – muita demora – para enfim ser submetida ao atendimento. No entanto, a representação que existia nas minhas “caixinhas mentais” (categorização) deu lugar a uma significativa mudança e ruptura de pensamento: ao chegar no “postinho”, me deparei com pouquíssimos pacientes aguardando por atendimento e o mais incrível: fui rapidamente atendida.

O meu intuito era conseguir psicoterapia. Para isso, precisava antes passar pela triagem com a enfermeira e depois ser encaminhada para a médica clínica geral (que tinha consigo duas estagiárias). Naquele momento, fez algumas perguntas sobre meu estado e finalmente fui encaminhada para a profissional de Psicologia. Na recepção, fui informada de que em breve a psicóloga que atendia na unidade me ligaria e assim o tratamento breve se iniciaria. Contudo, passou-se 4 (quatro) meses e nada de me ligarem. Até cheguei a comentar com alguns amigos, demonstrando insatisfação: “se fosse para eu ter me matado, eu já o teria feito”.

Fonte: https://bit.ly/2JVwPgC

Assim, diante da demora e com uma amiga dizendo que já havia iniciado psicoterapia na UBS em questão me direcionei à mesma novamente, já que estava outra vez movida por esperança. Neste mesmo dia comecei a triagem com a psicóloga, processos identificatórios aconteceram e estive muito contente e disposta a me engajar com o tratamento – e que durará 3 (três) meses, devido à alta demanda do serviço.

Somado a isso, me sinto satisfeita por estar agora, em virtude das aulas de Saúde, Bioética e Sociedade, entendendo sobre os processos e características da rede, como: complexidade, saúde, doença, referência e contrarreferência. Este acréscimo de conhecimento me leva a enxergar o quão maravilhosa consegue ser a proposta de saúde que temos para a nação brasileira. No entanto, compreendo que, apesar dos princípios e diretrizes serem realmente motivadores para os corações sonhadores e crentes na possibilidade de mudança, há muito a ser feito para a melhoria de situações análogas a que vivenciei, por exemplo.

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Momento Waldo e a Procrastinação Grupal

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No terceiro episódio da segunda temporada da série Black Mirror, escrita por Charles Brooker, observamos a história de Jamie Salter. Ele é um comediante responsável pela criação de Waldo, um mascote virtual caracterizado por seu modo debochado de se expressar, o uso de palavras e gestos obscenos e o senso de humor ácido presente em cada palavra proferida. Durante o decorrer do tempo, o número de fãs só aumenta. É tanto que solicitaram à equipe organizadora de desenho animado que o mesmo se candidatasse à presidência dos Estados Unidos.

Salter, diante da rápida eminência, começa a refletir sobre o fracasso de sua vida pessoal e profissional. Inicia o processo de se questionar sobre quem ele é, quais vínculos relacionais tem constituído, se é feliz. Tal realidade o faz ameaçar deixar de atuar como Waldo, uma vez que entende que a proporção conquistada podia não ser tão benéfica assim.

Ao povo era dado o que queriam, pelo que clamavam: entretenimento! Diversão! Gargalhadas! Precisavam de uma figura representativa. Esse contexto gera em nós alguns questionamentos: o que viam em Waldo? Quais figuras de liderança estavam presentes na história de vida da população? Os atributos de Waldo apontavam para que estilo de liderança? Ou isso era irrelevante? O comportamento grupal pode ser entendido como uma crítica aos políticos? Se sim, o que pretendiam com essa crítica?

Fonte: goo.gl/ZwgjKu

À vista da acessibilidade à informação que possuímos na contemporaneidade, o que, por consequência, nos possibilita a colher recursos informacionais para produzirmos o conhecimento, fica a indagação: o que nos impede de alcançar, no processo de busca, a condição de sujeito pensante e atuante? Que busca gerar mudança no ambiente habitual?
Uma possível resposta está no comportamento de procrastinar. Afinal, a permanência da saída da zona de conforto não é conseguida com a única emissão de apenas um comportamento.

Dessa forma, o presente texto se baseia na compreensão do comportamento de procrastinar, a partir de uma óptica da Análise Experimental do Comportamental (AEC).

Fonte: goo.gl/HeHHNs

Segundo o Dicionário Aurélio (2016, s/p) procrastinar pode ser assim definido: “deixar para depois; usar de delongas”. Definição que vai ao encontro do consenso geral. Conforme Skinner (2007) todo comportamento apresenta uma função. Diante disso e da consideração de que o comportamento operante é caracterizado por ser seguido de mudança ambiental, temos algumas observações a fazer: A punição diminui a frequência de o comportamento voltar a ocorrer. Assim, se na história de vida do indivíduo o mesmo já lidou com situações iguais ou similares à presente e não obteve êxito, não soube fazer ou recebeu críticas/gritos quando executou a chance de a circunstância se apresentar como estímulo aversivo é aumentada.

Outra possível explicação é que, diante da paridade (apetitivo e aversivo) de estímulos, o organismo provavelmente responderá ao que lhe for mais apetitivo. Exemplificando: dentre rir e provocar mudança na circunstância presente, é provável que haja emissão do comportamento de rir.

Sobre a perspectiva apresentada, Banaco (1997, p. 3) afirma:

Veja bem: de um lado, a tarefa multi exigente, de pequenos passos, distante do resultado final que é incerto (sempre tem um monte de gente que pretensamente sabe mais que você e vai avaliar seu trabalho – com frequência “detonando” o que você fez), versus uma tarefa bem fácil, ali, na sua mão, mais prazerosa, que depende só de você e de resultado imediato… mesmo que esta segunda tarefa não tenha lá grande importância, o “apelo” que sentimos para fazê-la é bem marcante. Com estas concorrências, gradativamente a tendência é deixar a tarefa de resultado atrasado, de valor mediano e incerto, mesmo que importante, e optamos por fazer as tarefas de resultado imediato, mais prazerosas, mesmo que de intensidade pequena.

Fonte: goo.gl/giKaZ6

A partir do que até agora foi exposto, citamos algumas relações mantenedoras do comportamento de procrastinar e, assim, compreendemos que se determinado indivíduo se comprometer a potencializar/reforçar respostas pelo menos do nicho social que está localizado, situações como as visualizadas no “Momento Waldo” tendem a ser menos frequentes, culminando num maior comprometimento social.

REFERÊNCIAS:

AURÉLIO, Dicionário. 2017. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/procrastinar> Acesso em: 04/09/2017.

BANACO, R. A. Sobre comportamento e cognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista. São Paulo: Arbytes. 1997.

SKINNER, B.F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007.

 

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O Papel do Terapeuta em Terapia Familiar

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A ideia de ética relacional é relevante, já que é necessário que se tenha claramente a ideia do lugar estabelecido do terapeuta na terapia, na relação profissional com o outro. O que consegue sintetizar esse primeiro momento é a ideia da legitimação do cliente no que tange ao aspecto da humanidade, o ser humano. Já a sua diferença consiste na singularidade, no conjunto de características que o torna único.

Fonte: encurtador.com.br/huKP5

Para uma maior efetivação do “se encontrar” como profissional, o terapeuta deve ainda adquirir a apropriação do pertencimento relacionado à história humana e, tendo consciência da importância da sua existência, torna-se possível confirmar a de outro indivíduo.

O encontro humano, constituído pela interação entre vozes internas, externas e escuta especial traz a possibilidade do espaço de si e do outro, o que retira do terapeuta a responsabilidade de ser dono de um saber tão grande que vai além do que o próprio cliente possui. O que, para a autora, consequentemente, é de enorme alívio. Concordo com tal ideia, pois, tal evento traz, de forma implícita, a confiança que o terapeuta tem na fala do cliente, o que é capaz de trazer autonomia a quem está compartilhando as dores e aflições do seu atual momento de vida.

Fonte: encurtador.com.br/dsuBV

O terapeuta familiar ainda é convidado a assumir seu papel de ser humano, a possibilidade de reflexões a partir do seu contexto de vida. Como o profissional lida diretamente com dor, disputa, raiva, ódio, ansiedade, amargura, angústia, abuso e luto, ele deve desenvolver recursos psíquicos para suportar o impacto que esse contato pode gerar. Vale ressaltar ainda que sua postura não pode ser a de salvador, mas de colaborador. Até porque quem vivencia o ambiente permeado por problemas são os familiares, os membros da família que está no processo terapêutico.

Para abordar um outro aspecto, gostaria de iniciar o parágrafo com a frase: “só hospeda a dor do outro quem hospeda a própria dor. ” A aflição, esgotamento, desgaste do profissional não devem, jamais, ser desprezados. O terapeuta também precisa ser ouvido! Pois não se pode ignorar que ele possui a incumbência de se tornar protagonista de sua própria história.

Fonte: encurtador.com.br/aktCF

E isso ocorre com o terapeuta se submetendo à terapia; dedicando tempo a atividades prazerosas; passando por estudos em grupo; meditando; fortalecendo vínculos por meio do processo de socialização; sendo ouvido, amado e compreendido; e tudo aquilo que, para o indivíduo, funcionar como terapêutico.

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Aos Nossos Filhos e o Mito Familiar

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A canção Aos Nossos Filhos, composta por Ivan Lins e Vitor Martins em 1985 (ano do fim da ditadura instaurada pelos militares) traz inúmeras reflexões a respeito do padrão de funcionamento familiar adequado à época – a saber, o mito familiar – bem como a nova postura adotada pelo eu lírico (possivelmente, a partir de novas reflexões e do modelo de família ter sofrido uma série de mudanças) a ponto de o mesmo pedir perdão. Provavelmente a progenitora é a autora desse pedido. 

As autoras Narvaz & Koller (2004, p. 149) afirmam que:

Cada família tem suas histórias, tem seus romances e seus segredos, que se repetem e são recontados como numa saga, numa história mítica transmitida de geração em geração. São histórias de amor, de dor, de luta, de conflitos, de união, de contradições e sínteses possíveis. São romances que desvelam e encobrem as identidades, ora para o mundo, ora para a própria família e seus membros. Alguns segredos são anedóticos, outros trazem consigo um profundo medo de serem revelados. São histórias de encontros e desencontros, de cumplicidades e conivências, de dominação e submissão. Para conquistar e reconquistar esta saga é preciso socializar esta história. É preciso recontá-la. Muitas vezes, é necessário que haja alteridade no espaço familiar para que este recontar se constitua em fator de promoção de saúde e proteção. Que sejam rompidas as barreiras das repetições doentias e hesitantes para garantir famílias mais resilientes e capazes de superar novos desencontros e avizinhamentos intradomésticos perversos.

Tal perspectiva será tomada como basilar para o desenvolvimento do presente texto. É somente a partir da sua existência do respeito e seu adequado manejo (no caso, respeito à forma de pensar e se comportar da época vigente) que será possível a posterior superação/mudança da estrutura e assim novas histórias familiares/novos estilos de vida passarão a existir. Desta forma, a canção nos traz uma reflexão que será pautada nas ideias de Narvaz & Koller (2004) e Walsh (2005).

Fonte: encurtador.com.br/afGHK

Dessa forma, o primeiro trecho da canção traz a seguinte mensagem:

Perdoem a cara amarrada (pouco envolvimento afetivo)
Perdoem a falta de abraço (pouco contato físico)
Perdoem a falta de espaço (relação autoritária)
Os dias eram assim (conformidade com a época vigente/ditadura militar)

Idealmente, na família tradicional de nossa estrutura social, os processos de submissão e aceitação dos valores e de controle dos pais são naturalmente apresentados como necessários. Ensinando a submissão desde o início da vida, essa forma de relação (leia-se dominação) se transfere para outras esferas da vida. Assim, produz filhos obedientes – futuros cidadãos sem voz, submissos a toda e qualquer autoridade (BORDIEU, 1999; REIS, 1985). Dessa forma, o eu lírico justifica o repasse na maneira de contato, afinal, os dias eram assim.

Fonte: encurtador.com.br/oHTV9

Perdoem por tantos perigos (ausência ou pouca proteção)
Perdoem a falta de abrigo (pouco acolhimento)
Perdoem a falta de amigos (ínfima permissão de contato externo)
Os dias eram assim

A crença predominante no núcleo familiar em questão possivelmente correspondia a um distanciamento físico e emocional, além da imposição de regras incisivas. Walsh (2005) diz que é a partir das crenças compartilhadas no ambiente doméstico que o indivíduo compreende o mundo de forma peculiar e passa a agir sobre o mesmo. Assim, o eu lírico transmite à (o) filha (o) a forma de ensinar, se portar e tocar aprendida.

Perdoem a falta de folhas (a seca pode se referir ao funcionamento familiar insatisfatório)
Perdoem a falta de ar (pouca permissividade de sair)
Perdoem a falta de escolha (pouca possibilidade de escolher, poucas opções)
Os dias eram assim

Walsh (2005, p. 45) afirma: “as profundas raízes sociais e culturais de nossas crenças em geral dificultam sairmos do nosso próprio contexto para observá-lo e tecer comentários sobre ele”. Diante disso, podemos supor que a autora hoje (quando saiu do ambiente que estava inserida) consegue entender que, no processo de criação, poderia ter se comportado de forma mais terna, ter proporcionado um pouco mais de liberdade e ter viabilizado mais possibilidades de operação no mundo.

E quando passarem a limpo (a história pode ser reescrita)
E quando cortarem os laços (os condicionantes podem ser superados)
E quando soltarem os cintos (liberdade de sair de casa, tomar próprias decisões, se libertar da opressão social)
Façam a festa por mim (vivam o que nunca vivi, vocês podem ir além!) 

Os mitos familiares trazem forte influência sobre o atual modo de agir do membro de dada família. À vista disso, entendemos que por mais debilitadora que a crença basilar possa ser, é possível, por meio das vivências ou psicoterapia, trazer ressignificação e, então, ser ativo diante das situações difíceis que a vida nos impõe. O eu lírico talvez não consiga mais viver o que foi reprimido (idade, coragem, possibilidade), mas pede que o filho possa fazê-lo. Tal pedido remete à ideia de o mesmo ser percebido como uma extensão dela.

Walsh (2005) diz:

Os mitos familiares podem ser capacitadores ou debilitadores, dependendo dos temas que os constituem e da sua capacidade de resposta a novas circunstâncias. Os clínicos treinados para buscar influências negativas da família de origem precisam encorajar os clientes a buscar histórias, heróis e legados multigeracionais positivos que possam inspirar esperança ação corajosa diante da adversidade. 

Fonte: encurtador.com.br/aDNU4

E quando largarem a mágoa (não se vinguem da opressão imposta, dê a eles a oportunidade de libertarem a si)
E quando lavarem a alma (quando conseguirem ver a partir de outra perspectiva, festejem/vejam/experienciem por mim)
E quando lavarem a água
Lavem os olhos por mim

O pedido é enfatizado. Apesar de não sabermos o que gerou esse momento de insight – pode ser um evento que a levou a ter a percepção de considerar que não viveu como poderia, arrependimento, remorso etc –, é nítida a observância de mudança na maneira de enxergar. Uma possibilidade que só a reflexão pode ocasionar.

Fonte: encurtador.com.br/hkoBJ

Como bem coloca Walsh (2005, p. 47):

Seja uma catástrofe natural, uma tragédia pessoal ou uma dificuldade persistente, a adversidade gera uma crise de significado e uma destruição potencial da integração potencial. Essa tensão precipita a construção ou reorganização da nossa história de vida e das nossas crenças.

Quando brotarem as flores (crescimento, progresso, conquista)
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim

Digam o gosto pra mim

O eu lírico termina a canção com a reafirmação da súplica inicial. É extremamente instigante a observância do processo explanado. Nos recorda que somos sujeitos vivos, podemos ser ativos diante das possibilidades de existir! Cabe ressaltar que o padrão de dinâmica familiar aprendido com nossa família não é errado, no entanto, o aprendizado dos mesmos não quer dizer que aplicaremos todas as ideias e princípios a nós outorgada.

REFERÊNCIAS:

NARVAZ; M. G. KOLLER, S. H. Famílias, gêneros e violências:  desvelando as tramas da transmissão transgeracional da violência de gênero. Rio Grande do Sul, v. 2, p. 149-176, 2004.

WALSH, F. (2005). Fortalecendo a Resiliência Familiar. São Paulo: Roca.

 

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Último Romance: análise funcional

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Los Hermanos foi uma banda de rock alternativo criada em 1997 formada por jovens universitários do Rio de Janeiro. A composição era a seguinte: Bruno Medina, no teclado (estudante de Publicidade); Rodrigo Amarante, nos vocais, guitarra e percussão; Marcelo Camelo, vocais e guitarra (estudante de Jornalismo) e por Rodrigo Barba, na bateria (estudante de Psicologia).

A música “Último Romance”, com duração de 4:25 min, alvo da análise realizada – feita em tópicos –, tem como autor Rodrigo Amarante e está presente no álbum “Ventura”, lançado em 07 (sete) de maio de 2003. É importante destacar que a abordagem basilar do trabalho consiste na Análise Experimental do Comportamento (AEC), desenvolvida principalmente por Burrhus Frederic Skinner (1904-1990).

Eu encontrei-a quando não quis mais procurar o meu amor

O autor afirma que quando diminuiu a frequência da emissão do comportamento de procurar seu amor, o encontrou – o que para ele é um estímulo apetitivo/reforçador. Podemos inferir que ele se comportou dessa forma por várias vezes, e, após sucessivas punições positivas e negativas, respectivamente (exemplo: quando o homem convida uma mulher para um encontro e ela recusa; o homem começa a se relacionar e a mulher exige que o homem pare de jogar futebol – aqui, jogar é reforçador), diminuiu a frequência desse operante.

Fonte: http://zip.net/bdtKtk

E quanto levou foi pr’eu merecer / Antes um mês e eu já não sei…

O tempo decorrido entre a adequação do comportamento ao ambiente, de modo a obter consequências de cunho reforçadoras foi o suficiente para o organismo desenvolver maior repertório comportamental, de modo a pensar ser merecedor, ou seja, ter comportamento suficiente para responder de forma adequada aos estímulos ambientais acrescentados pelo outro na relação interpessoal/amorosa. O indivíduo está tão contente por causa desse contexto/ambiente apresentado que começa a repensar se de fato já teve a série de experiências necessárias para o enfrentamento dessa nova relação, se conseguirá se comportar da forma melhor adaptada possível.

E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei

O evento de encontrar a amada se mostrou tão reforçador para o indivíduo, que o mesmo generaliza a resposta. Noutras palavras, diante de ambientes diferentes (a fila do pão) ele continua se comportando da forma que se comporta quando está na presença da amada, demonstrando contentamento.

Fonte: http://zip.net/bmtJQz

E ninguém dirá que é tarde demais / Que é tão diferente assim / Do nosso amor a gente é quem sabe, pequena…

E é claro que as pessoas que fazem parte do meio social comum ao casal se comunicarão de forma verbal, seja com o comportamento de verbalizar que demorou muito para o homem da canção se relacionar com alguém, o que pode ser diferente – se para aquele ambiente for comum relacionamentos em faixas etárias menores, ou com outro tipo de funcionamento.

Fonte: http://zip.net/bqtKWw

Ah vai, me diz o que é o sufoco / Que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar / E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Se a situação que a vida apresenta é apetitiva ou aversiva, não importa. Desde que o homem esteja compartilhando o ambiente que está com sua amada.

Eu te encontrei e quis duvidar, tanto clichê deve não ser / Você me falou pr’eu não me preocupar / Ter fé e ver coragem no amor!

A fala da amada (que compartilha da mesma comunidade verbal que ele) de que ele não precisava se preocupar com a possibilidade de término ou algo do tipo trouxe como consequência a sensação de segurança.

Fonte: http://zip.net/bytKrR

E só de te ver eu penso em trocar a minha TV / Num jeito de te levar a qualquer lugar que você queira / E ir onde o vento for / Que pra nós dois sair de casa já é se aventurar

Experiências corriqueiras (como sair de casa) apresentam reforço natural e arbitrário. Reforço natural no sentido de se livrar da possível sensação de tédio (exemplo de reforço negativo do tipo esquiva) e reforço arbitrário por estar com a amada (se for levado em consideração o potencial reforçador que a presença da amada traz por si só).

Me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém a fim de te acompanhar / E se o tempo for te levar eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

Como na explanação supracitada, o ambiente que importa para o homem é estar diante da amada, já que a mesma se mostra um estímulo apetitivo para ele.

 

Referências:

http://g1.globo.com/platb/los-hermanos-15-anos/

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Olga: sob o olhar da Psicologia Social

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O filme brasileiro Olga (2004), de Jayme Monjardim, retrata bem a resistência que os indivíduos provocadores de transformações podem enfrentar. Aborda especificamente a história de Olga Benário (Camila Morgado) e da trajetória política que vivenciou junto a Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler). Recebeu prêmios como de melhor atriz e melhor diretor.

Olga, ativista comunista, nasceu em uma família judia alemã no dia 12 de fevereiro de 1908. Filha de uma dama de alta sociedade de Munique, seguiu o exemplo do pai, que se dedicava às causas trabalhistas como advogado social democrata, atuando na defesa dos operários que foram atingidos pela crise de 1929 (A Grande Depressão).

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A convicção contrária à da progenitora nos remete ao fenômeno da consciência de si.

Apenas quando formos capazes de, partindo de um questionamento deste tipo, encontrar as razões históricas da nossa sociedade e do nosso grupo social que explicam por que agimos hoje da forma como o fazemos é que estaremos desenvolvendo a consciência de nós mesmos (LANE, 2006, p. 17, 18).

Numa reunião com adeptos à causa, Olga brada: “Movimento fascista [1] está se alastrando, temos que fazer tudo para enfrentá-lo. Lutar por um mundo sem injustiças, sem miséria. E sem guerras! Viva a revolução!!!”

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Neste momento, fica claro que a identidade social de Benário já está desenvolvida. Para Lane (2006) é na pluralidade de papeis desempenhados nas relações de grupo que ela é estabelecida.

Deixou de ser um, entre muitos da espécie humana e passaram a ser pessoas com características próprias no confronto como outras pessoas – eles têm suas identidades sociais que os diferenciam dos outros (LANE, 2006, p. 14)

Olga recebe uma carta de Manuilski, convidando-a para uma revolução na América Latina. Acreditavam que em breve o mundo todo seria comunista. Então, foi encarregada de ir ao Brasil e cuidar da segurança pessoal de Prestes, que há pouco havia se engajado com a Coluna [2]. Aqui, torna-se perceptível a consciência de si que alcança o social, podendo, dessa forma, se tornar agente de transformação (LANE, 2006).

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Assim como Benário, Prestes também foi ensinado a lutar contra as injustiças. Debaixo de uma perspectiva mais comportamental, sabemos que a determinação do que é ou não reforçador vem a partir da história do grupo do indivíduo. Ou seja, Luís foi estimulado, a partir de seu contexto ambiental, a não ser passivo, não se calar diante de questões políticas e sociais (LANE, 2006).

Frases ditas por Olga como: “nunca tive tempo para essas coisas”, se referindo a ir à praia, cortejar etc e “O nosso sonho de felicidade é mudar o mundo”, além do comportamento diante de Carlos de entender a existência de sentimentos que poderiam impedir o trabalho efetivo na missão asseguram sua compreensão de que o homem pode sim “se tornar agente da história, ou seja, como ele pode transformar a sociedade em que vive” (LANE, 2006, p. 4).

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Prestes, numa outra reunião, leu o emblemático manifesto [3] que levou Getúlio Vargas a, amparado pela legislação (da Lei de Segurança Nacional), tornar ilegal o movimento, “garantindo a ordem”. O intuito era o de acabar com a Revolução Comunista.

Logo após, a ALN continua com suas atividades, apesar da atuação clandestina. [4] Noutras palavras, tem-se o início da Intentona Comunista.  Além disso, sabiam que, sem o apoio do exército, seria impossível estender a revolta para o resto do país. A possibilidade de o Governo iniciar uma forte repressão como resposta ao movimento levou-os à intensificação das atividades.

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Prestes, o líder bradou: “Nós nunca estivemos tão próximos da revolução! Vamos mudar esse país, mudar a história!”. Todavia, Vargas estabeleceu o 3° regimento, levando à derrota da revolta, que não foi expressiva, uma vez que o povo não se mobilizou, nem a aeronáutica, marinha e exército. No entanto, como já testificado por Silvia Lane (2006, p. 18),

este processo (o de viabilizar mudanças sociais) não é simples, pois os grupos e os papeis que os definem são cristalizados e mantidos por instituições que, pelo seu próprio caráter, estão bem aparelhadas para anular ou amenizar os questionamentos e ações de grupos, em nome da “preservação social”.

Pouco tempo depois os mais engajados foram presos, e Olga, deportada para a Alemanha [4] descobre que está esperando um filho. Depois do parto, fica com a filha durante 14 meses. E menina é entregue à avó paterna, enquanto sua mãe é enviada ao Campo de Concentração. E, Prestes, fica por 9 (nove) anos na prisão.

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Logo, o objetivo de Olga Benário não foi alcançado, uma vez que a representação de mundo dominante seguia uma linha nazi-fascista [7]. Porém, o legado de convicção, de perseverança na luta pelo fim da desigualdade social e o engajamento pela concretização de um mundo melhor foram de grande valia e até hoje fonte de pesquisas e inspiração.

REFERÊNCIAS:

LANESilvia T. Maurer. O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 2006.

[1] Tende ao autoritarismo exacerbado ou ao controle de ditadura.

[2] PRIBERAM, Dicionário da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível em:<https://www.priberam.pt/dlpo/fascismo>. Acesso em: 08/03/2017.

[3]Movimento político-militar brasileiro que visava mudança na República Velha (1924-1927) Disponível em:<http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/coluna-prestes-prega-reformas-politicas-sociais-em-11-estados-brasileiros-1-9265523>. Acesso em: 07/03/2017.

[4] “A luta que se trava no Brasil é entre os libertadores de um país, de um lado e de outro, os traidores a serviço do imperialismo das grandes potências! Abaixo o fascismo! Abaixo Vargas! Por um governo popular nacional e revolucionário! Todo o poder à ALN! Pela justiça social e o fim da miséria! ”

[5] Por considerarem que há falta de liberdade no país, criaram a ALN (Aliança Nacional Libertadora), após o PCB (Partido Comunista do Brasil) ser considerado ilegal.

[6] Período de Segunda Guerra, envolvida pelo regime nazista (cabe rememorar que a mesma é judia).

[7] Governo de Mussolini e Hitler, na Itália e Alemanha, respectivamente. Características como totalitarismo, controle da propaganda e anticomunismo estão presentes em ambos. Disponível em: <http://www.historiadigital.org/curiosidades/10-ideologias-do-nazi-fascismo/>. Acesso em: 07/03/2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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OLGA

Diretor: Jayme Monjardim
Elenco: Camila Morgado, Caco Ciocler, Eliane Giardini, José Dumont
Ano: 2004
País: Brasil
Classificação: 14

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Ninfomaníaca I e a Terapia de Sentido

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Ninfomaníaca (2013), de Lars Von Trier, é sem dúvidas um filme perturbador. Uma característica marcante é a sexualidade explícita: nudez, masturbação, orgasmo, excitação, penetração, sexo oral, etc. O filme se inicia com Joe (Charlotte Gainsbourg) abandonada em um beco escuro, inconsciente, cheia de hematomas. Ao vê-la, um homem chamado Seligman (Stellan Skarsgard) a conduz para sua casa, onde presta assistência e, assim, começam a dialogar.

Joe então narra, repleta de culpa, a relação que desenvolveu com o sexo. Sua primeira experiência de descoberta com seu corpo foi aos 2 anos, quando conheceu sua vagina; depois, esfregou sua genitália no chão do banheiro; aos 15 anos, tinha um só objetivo: perder a virgindade. E o fez, com um mecânico, Jerônimo. Depois da experiência considerada por ela humilhante, jurou a si que nunca mais transaria com ninguém – o que durou pouco tempo. Numa viagem de metrô, competiu com sua amiga para ver quem faria sexo com o maior número de homens. O prêmio seria uma caixa de chocolate. Joe perdeu. Todavia, a partir dali, percebeu o poder de atração e/ou sedução que, como mulher, possuía.

Fonte: http://zip.net/bltCjL
Fonte: http://zip.net/bltCjL

Não tinha habilidades nem experiência profissional (trabalhou, inadequadamente, como secretária), a relação com a mãe era conflitante e, aparentemente, seu pai era a sua fonte de vínculo afetivo com a família. Passou a fazer parte de um grupo feminino, regido por regras claras: “não transe com um cara por mais de uma vez”. O lema era a luta contra o amor, que para elas, não passava de nada além da luxúria. Só que um ideal como esse era difícil de ser seguido para sempre.

Algumas se apegaram aos parceiros sexuais, chegaram a dizer que “o ingrediente secreto para o sexo é o amor”. Todo esse contexto de desconfiança amorosa e de afastamento familiar favoreceu seu investimento libidinal na única origem de satisfação/prazer por ela conhecida: o sexo. E não somente. Passou a ser uma via de fuga, escape, novidade, desespero, exploração. O que pode ser corroborado no fato de Joe ter relações com vários homens num só dia, chegando a 10 (dez) ou 15 (quinze).

Diferentes termos têm sido usados para designar o impulso sexual aumentado, e os mais frequentes são: compulsão sexual, comportamento sexual compulsivo ou impulsivo, adição sexual, transtorno hipersexual e impulso sexual excessivo (SPIZZIRRI, 2015, p. 78).

Muitos estudiosos objetivam determinar os atributos que podem ser considerados para caracterizar o transtorno hipersexual e a maior parte dos teóricos testifica que há a possibilidade de a compulsão sexual ser detalhada pela complicação na regulagem dos pensamentos, ímpetos e ações sexuais que direcionam a uma dor individual relevante e, ainda, efeitos prejudiciais ao indivíduo e a outros (SPIZZIRRI, 2015).

Fonte: http://zip.net/bstC6P
Fonte: http://zip.net/bstC6P

Descrição que se encaixa com a realidade de Joe. Pois, apesar de ter desejado e ter sido desejada por diversas pessoas, sua vida continuava vazia e monótona, como testificado por ela. Ajudou a desfazer casamento, trouxe dor, mas permanecia indiferente. A busca por sensações ainda não experimentadas continuava. Por diversas vezes resumiu: “talvez meu único pecado tenha sido querer mais do pôr do sol”.

Sob a ótica da logoterapia, uma possível explicação para a experiência supracitada seria o fenômeno do vazio existencial que pode ser compreendido a partir da sensação de tédio (FRANKL, 1984) e pela “’neurose dominical’, aquela espécie de depressão que acomete pessoas que se dão conta da falta de conteúdo de suas vidas quando passa o corre-corre da semana atarefada e o vazio dentro delas se torna manifesto” (FRANKL, 1984, p. 132). Neste caso, o corre-corre pode ser substituído pelo fim da relação sexual.

Para Viktor Frankl, fundador da terapia de sentido, (p. 124, 1984): “a busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida“, ou seja, “cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida (…) Nisso a pessoa não pode ser substituída, nem sua vida ser repetida. ” (1984, p.133). Quando essa vontade de sentido não é satisfeita, consequências passam a existir. Um exemplo é a relação direta entre a falta de sentido e a energia direcionada a atividades prazerosas, visando a equivalência.

Fonte: http://zip.net/bktCWr
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Existem ainda diversas máscaras e disfarces sob os quais transparece o vazio existencial. Às vezes, a vontade de sentido frustrada é vicariamente compensada por uma vontade de poder, incluindo sua mais primitiva forma, que é a vontade de dinheiro. Em outros casos, o lugar da vontade de sentido frustrada é tomado pela vontade de prazer. É por isso que, muitas vezes, a frustração existencial acaba em compensação sexual. Podemos observar nesses casos que a libido sexual assume proporções descabidas no vazio existencial (FRANKL, p. 132, 1984).

Num de seus empregos, Joe trabalhou com Jerônimo (sim, o mesmo da primeira vez), alguém que quando reconheceu, desprezou-o. Porém, com o decorrer do tempo, passou a nutrir sentimentos por ele – ela considerava amor. Quando foi se declarar, descobriu que o mesmo havia ido embora. Ficou em estado de choque. Passou um tempo sem conseguir fazer sexo com mais ninguém. No final, ela o encontra no jardim que gostava de ir durante as tardes. Ali, eles se encontram e vão para a casa de Joe. Apesar do desejo satisfeito, no meio da transa, ela começa a chorar: “eu não sinto nada!”. O vazio continuou.

Fonte: http://zip.net/bbtCK7
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Cabe ressaltar que não ficou claro qual situação gerou nela tanto arrependimento. O anfitrião fica, na maior parte do tempo, tentando mostrar à ninfomaníaca que ela não é tão ruim assim, que não é uma pessoa má. A mulher se acusa. Não aceita o rumo que sua vida tomou. No entanto, apesar de Joe apresentar a Seligman um pedaço da sua história, sua expressão facial ainda assim transmite uma impenetrabilidade desconcertante. Trata-se, portanto, de um filme instigante e que vale cada minuto dispensado.

.REFERÊNCIAS:

FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido. 37° ed. Petrópolis: Vozes, 1984.

SPIZZIRRI, Giancarlo. Compulsão sexual: O impulso sexual aumentado pode acarretar como consequência comportamentos e/ou práticas sexuais excessivas, tanto em homens como mulheres. Psique Ciência e Vida, São Paulo, ed. 127, p. 78, 2015.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Ninfomaníaca-filme-

NINFOMANÍACA

Direção e Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stacy Martin, Shia LaBeouf, Stellan Skarsgård, Uma Thurman
 Ano: 2013
Países: Dinamarca, Suécia, França, Alemanha e Reino Unido
Classificação: 18
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O impacto do contraste entre eterno e efêmero na percepção experiencial

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Nada é para sempre. Tudo o que possui início apresenta consigo o meio e o fim – ainda que de forma implícita, rejeitada ou ignorada. Esse evento pode ser expresso nas seguintes disposições: “…sem saber que o ‘pra sempre’ sempre acaba” (RUSSO, 1984) e “mesmo sabendo que um dia a vida acaba, a gente nunca está preparado pra perder alguém” (SPARKS, 2010). E, então, o que fazer diante de algo tão desafiador? Qual a forma mais adequada de lidar com as mudanças que a vida nos impõe? De que forma resistir a não retornar às fases de desenvolvimento anteriores, que contavam com a presença do objeto de amor perdido? Canguilhem (1966) afirma que, quanto mais maleável, adaptável e ajustável às transformações pertinentes à vida o indivíduo for, maior é sua manutenção de condição saudável.

O estado patológico é caracterizado exatamente pela normatividade (regularidade) da não-habituação à constante transição. Nesse momento, nos deparamos com outra ambivalência: o desejo de eternizar o momento e o consolo de que a dinâmica presente na relação ou na condição permeada por satisfação apresentou pontos que propiciaram desenvolvimento, que ajudaram na constituição da história individual. Quando a primeira opção é satisfeita trazendo o advento de sentimentos de impotência, insatisfação ou mesmo de negação, raiva e depressão (como já explanados por Kubler-Ross em 1969), que tipo de comportamento se deve emitir, aumentar ou diminuir a frequência?

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Fonte: http://migre.me/vl0LU

Temos diversas alternativas. Como: fugir/se esquivar de toda probabilidade de desprazer; se revoltar com o novo contexto apresentado; experimentar processos ou pessoas similares até conseguir alcançar determinado nível de estabilidade emocional; criar para si representações de alegria e incorporar o medo e a insegurança de se doar a novas vivências, visto que a efemeridade temporal se encarregou de afastar para longe a experienciação apreciada. Pode-se compreender o quão delicado é o desenvolvimento de um afeto, de uma ligação a partir do que Bowlby (2001, p. 172) afirma: “A formação de um vínculo é descrita como ‘apaixonar-se’, a manutenção de um vínculo como ‘amar alguém’ e a perda de um parceiro como ‘sofrer por alguém’ ”.

Frankl (1984, p 107-108) se atentou para a segurança que a recordação, a convicção de que um acontecimento existiu, consegue proporcionar:

Aquilo que viveste nenhum poder do mundo tirará. Aquilo que realizamos na plenitude da nossa vida passada, na abundância de suas experiências, essa riqueza interior nada nem ninguém nos podem tirar. Mas não só o que vivenciamos; também aquilo que fizemos, aquilo que de grandioso pensamos, e o que padecemos, tudo isso salvamos para a realidade, de uma vez por todas. Essas experiências podem pertencer ao passado; justamente no passado ficam asseguradas para toda a eternidade! Pois o passado também é uma dimensão do ser, quem sabe, a mais segura. (FRANKL, 1984, p 107-108)

Além disso, é perceptível nossa falta de controle e domínio no que tange àquilo que se descortinará no futuro. Não é possível controlar o devir. Skinner (1955-1956) ressalta que a base da epistemologia é a iniciação do movimento a partir das forças que são opostas ao sujeito, ou seja, a ação conforme as contingências instauradas no ambiente.

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Fonte: http://migre.me/vl0Ap

Assim, o medo vem à tona. Mas “o que pode um corpo com medo? Pouco, ou quase nada (…) precisamos ultrapassar as forças reativas, agir mais do que reagir, aumentar nossa capacidade de ser afetado, em vez de se fechar” (TRINDADE, 2016). Para lidar com a situação adversa ainda vale ressaltar que Rogers (1961), para a relação terapêutica, questiona quanto à capacidade de a pessoa respeitar de forma corajosa os sentimentos e necessidades tanto dela quanto do outro e a verificação do eu quanto a estar apto ou não a lidar com as possíveis necessidades de dependência e escravização de amor geradas por outro ser. Existindo, é claro, de forma conjunta, os sentimentos e direitos que são pertinentes ao indivíduo. Nesse caso, podemos nos referir a relacionamentos interpessoais de forma geral.

Havendo tais características, os processos de fortalecimento do ego, diferenciação e diferenciação do self tornam-se possíveis. O tão eminente encontro conosco, com o que há de mais autêntico em nós! Processo que está disponível nas modalidades intra e interpessoal, como já maravilhosamente previu Sartre (1943): “(…) nos descobrimos na rua, na cidade, no meio da multidão, coisa entre coisas, homem entre homens”.

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Fonte: Fonte: http://migre.me/vl0xn

REFERÊNCIAS:

CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1996. 129 p. Disponível em: Disponível em: <http://observasmjc.uff.br/psm/uploads/GeorgesCanguilhem-ONormaleoPatologico.pdf>. Acesso em: 18/10/2016.

COSTA LEITE, Lúcio Flávio Siqueira. ‘Pedaços de pote’, ‘bonecos de barro’ e ‘encantados’ em Laranjal do Maracá, Mazagão – Amapá: Perspectivas para uma Arqueologia Pública na Amazônia. Dissertação de Mestrado. Disponível em:  http://ppga.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/LucioCostaLeite%20(Dissertacao_de_Mestrado)%20revisada.PDF>. Acesso em: 19/10/2016.

ESPINOSA, Baruch de; SKINNER, B. F. (Revisão: Johny Brito). Espinosa e Skinner – Clínica da Experimentação. (Texto da série: Contra-história da Psicologia.)  Disponível em: <https://razaoinadequada.com/2016/08/14/espinosa-e-skinner-clinica-da-experimentacao/>. Acesso em: 19/10/2016.

FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido. 37° ed. Petrópolis: Vozes, 1984.

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1969.

RUSSO, Renato. Por enquanto. In: Legião Urbana. 1984. Brasília.  EMI-Odeon. 1 CD.           Disponível em: <https://bibliotecadaeca.wordpress.com/2011/07/01/citando-musica/>. Acesso em: 19/10/2016.

SHERLOOCK. Info: A Última Música – Nicholas Sparks. Disponível em: <http://www.sobrelivros.com.br/info-a-ultima-musica-nicholas-sparks/> Acesso em: 19/10/2016.

SPARKS, Nicholas. A Última Música. Novo conceito, 2010. 408 p.

SKINNER, B. F. — “Freedom and the control of men”, A mcc. Scholar, inverno de 1955-1956, 25, pp. 47-65. Disponível em: <https://psicologadrumond.files.wordpress.com/2013/08/tornar-se-pessoa-carl-rogers.pdf>. Acesso em: 19/10/2016.

 

 

 

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