Uma palavrinha sobre a raiva

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Foi-me sugerida a leitura de um capítulo específico do livro A mente vencendo o humor, que trata sobre a raiva, a culpa e a vergonha, e percebo o quão importante são as informações trazidas ali e o quão essencial é entender estas emoções que permeiam os relacionamentos e as situações das pessoas que nos procuram para a terapia, além de servir para cada um de nós, pois são estados de humor que nos afetam em vários momentos da vida, quando estamos diante de situações desafiadoras que nos fazem sentir ameaçados e/ou injustiçados.

Por agora vou me ater somente à raiva, para conseguir explorar bem os aspectos que percorrem esta emoção. Primeiramente deve-se avaliar com qual frequência, a duração de tempo, e a intensidade que este estado de humor aparece. O objetivo é sentir a raiva com menos frequência, que ela dure um tempo menor, e que não seja tão intensa a ponto de emitirmos comportamentos que depois iremos nos arrepender.

O livro traz uma folha de exercícios que permite você avaliar e depois monitorar  os estados de humor, e perceber o progresso ao passar do tempo. Após feito este levantamento, é importante entender como estas emoções funcionam e o que você pode fazer para se sentir melhor em relação à elas.

A raiva, assim como outros estados de humor, vêm acompanhada por mudanças no pensamento, no comportamento e nas reações físicas. Quando experimentamos a raiva, todo nosso corpo é estimulado para a defesa ou o ataque. A grande sacada é entender que a intensidade que experimentamos a raiva (deste irritação até fúria) é totalmente influenciada pela nossa interpretação da situação vivida, e isso pode variar de pessoa pra pessoa, pois esta maneira de vivenciar a situação perpassa a experiência de vida do sujeito, suas regras ou pressupostos e as crenças que ele tem.

A raiva normalmente está associada à percepção de injustiça, e também está relacionada à ameaça, dano ou prejuízo e à crença de que foram violadas regras importantes. Este sentimento está muito relacionado também às expectativas que temos de outras pessoas. Quanto mais próxima a nossa relação com alguém, mais expectativas temos, e quando percebemos que as pessoas não atenderam a nossa expectativa em relação a alguma coisa, ficamos frustrados, então aparece o sentimento de decepção, dor e de raiva.

Existem algumas estratégias que podem nos ajudar no manejo da raiva, e com treino podemos adquirir habilidades para lidar melhor com esta emoção. De acordo com a Terapia Cognitivo – Comportamental, que é a minha abordagem de escolha, e da qual o livro se refere, o conteúdo dos nossos pensamentos no momento da emoção contém informações muito importantes, e examinar este conteúdo irá nos ajudar a responder às situações de forma mais construtiva.

A TCC como é chamada, nos convida a questionar nossos pensamentos e nos propõem ampliar nosso olhar para que possamos encontrar formas alternativas de pensar em dadas situações. Quando estamos com raiva, costumamos interpretar os acontecimentos equivocadamente e as intenções das pessoas de forma negativa. Aprender a interpretar as ações das outras pessoas, considerar suas intenções de forma mais respeitosa e encarar as situações a partir de diferentes perspectivas são formas úteis de responder à raiva.

Fonte: encurtador.com.br/pwUW5

O livro traz um instrumento que pode ser utilizado para praticar essa reflexão, que consistem em um Registro de Pensamento, onde você descreve a situação, o humor experimentado durante a situação e quais pensamentos ocorreram durante este processo, conforme figura abaixo:

Folha de Excercícios 15.3 Compreendendo a raiva, a culpa e a vergonha

1.     Situação

Quem?

O quê?

Quando?

Onde?

2.     Estados de humor

a.      O que você sentiu?

b.     Avalie cada estado de humor (0-100%)

3.     Pensamentos automáticos (imagens)

a.      O que estava passando por sua mente instantes antes de começar a se sentir assim? Algum outro pensamento? Imagem? Lembrança?

b.     Circule ou marque o pensamento “quente”.

 

 

 

 

 

 

A mente vencendo o humor, segunda edição. 2016 Dennis Greenber e Christine A. Padesky.

Quando as pessoas ficam com raiva, elas tendem a tirar conclusões precipitadas, que podem ser imprecisas. Quando você estiver tendo uma discussão com raiva, pare e pense em suas respostas antes de atacar. Lembre-se de ouvir a outra pessoa na conversa. Uma boa comunicação pode ajudá-lo a resolver problemas antes que sua raiva aumente.

Outra forma de auxílio no controle da raiva é antecipar e se preparar para acontecimentos que possivelmente tragam essa emoção, se planejando, ensaiando mentalmente para aquele momento que possivelmente será estressante, dessa forma você poderá se sentir mais confiante e menos ameaçado se as coisas não derem certo. Sua resposta pode ser mais eficaz e adaptativa se utilizar deste “roteiro” pensando no que você quer atingir ao entrar naquela situação.

Além disso é importante reconhecer os primeiros sinais de raiva, para que ela não chegue a sair do controle, como por exemplo ficar instável, sentir tensão muscular, aumento da frequência cardíaca, mandíbula cerrada, aumento da pressão arterial e atitude defensiva ou de ataque. Você nesse momento pode parar e perceber o que está acontecendo e escolher ter a raiva (o que significa que os sinais se intensificarão ainda mais) ou dar um tempo e usar a assertividade para se acalmar.

Dar um tempo significa se afastar da situação quando você percebe os primeiros sinais que está ficando com raiva. Essa estratégia simples pode ajudá-lo a encarar a situação de forma diferente. Faça um intervalo (o tempo você determina de acordo com a complexidade da situação), e após esse tempo você retornará à situação provavelmente de uma forma bem mais eficaz.

A assertividade diz respeito à um ponto intermediário entre ser agressivo ou permitir passivamente que alguém se aproveite de você. O livro traz um exemplo que fica bem nítido. Suponha que vocês está voltando pra casa do trabalho e seus filhos começam a pedir sua atenção, todos ao mesmo tempo. Se estiver cansado e tentar satisfazer as necessidades deles (passivo), você começará a se sentir sobrecarregado e acabará explodindo de raiva (agressivo). Geralmente é melhor ser assertivo e dizer algo como: “Estou muito cansado e preciso de alguns minutos antes de brincar com vocês. “Isso dá tempo para você se recuperar, lembrar-se do quanto ama seus filhos e preparar-se para um tempo com eles e/ou definir limites quando necessário. Para ajudar você pode usar algumas estratégias como:

  1. Usar afirmações do tipo “Eu” – quando estamos com raiva queremos acusar então começamos com “Você”. Substituindo o “Você” por “Eu” aumentam as chances de fazer a outra pessoa escutar o que vocês está tentando comunicar;
  2. Reconheça o que há de verdade nas queixas que alguém tem de você, e ao mesmo tempo, defenda seus direitos. (como por exemplo aprender a dizer não sem se sentir egoísta, mas na perspectiva que você está cuidando um pouco de você);
  3. Faça declarações claras e simples sobre seus desejos e necessidades, em vez de esperar que outras pessoas leiam sua mente e prevejam o que você quer. (Isso vai te ajudar a alinhar as expectativas com o outro);
  4. Foque no processo de assertividade, e não nos resultados. (Foco no objetivo da comunicação clara, informar as pessoas que nos relacionamentos sobre nossas expectativas ou limites frequentemente reduz a mágoa e a irritação que podem conduzir à raiva).

E por último, praticar o perdão. Muitas vezes a raiva é consequência de mágoas profundas e repetidas que guardamos dos outros, por algo que eles tenham cometido contra nós. Este estado de raiva constante pode corroer o nosso espírito e nos impedir de experimentar felicidade e alegria. Não que este seja um exercício fácil, mas aceitar os fatos ocorridos e se despender da raiva vai aliviar a nossa carga na caminhada da vida. Perdoar não significa desconsiderar as ações da outra pessoa, significa olhar para essas ações de forma diferente.

Você pode tentar por si só controlar melhor a raiva quando ela aparece com as estratégias trazidas aqui, como testar os pensamentos de raiva, preparar-se para acontecimentos que provavelmente incitarão este humor, reconhecer os primeiros sinais de alerta, dar um tempo, ser assertivo e perdoar. Use esses métodos regularmente. Com prática você conseguirá ser mais eficaz quando precisar delas. Mas se mesmo depois disso você perceber que não têm uma boa regulação emocional para lidar com esse sentimento, que você têm prejuízos nos relacionamentos interpessoais por falta de saber lidar com a raiva, a terapia é uma excelente alternativa que pode ensiná-lo a se comunicar melhor, aumentando as interações positivas em seus relacionamentos e a desenvolver habilidades para ajudá-lo a exercitar as estratégias de identificação e a alteração de expectativas e regras. Essas habilidades podem reduzir a raiva e melhorar a qualidade de suas relações, e consequentemente sua qualidade de vida.

Referências:

GREENBERGER, Dennis; PADESKY, Christine A. A mente vencendo o humor: Mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Editora Artmed, 2ªEd., 2016.

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“ALIKE”: a importância da criatividade na formação dos indivíduos

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Alike é um curta-metragem que ganhou inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio Goya de melhor curta-metragem de animação em 2016. Dos criadores Daniel Martinez e Rafa cano Mèndez, traz uma pauta sobre criatividade e imaginação, e como o sistema que a nossa sociedade está inserida sufoca ou desconsidera estas virtudes. A historinha demonstra o relacionamento entre um pai e seu filho, cujo pai, que já foi afetado pelo sistema, que não dá espaço para a criatividade, não explora os potenciais do indivíduo mas visa colocar o indivíduo em “caixas”, padrões, não respeitando a sua individualidade.

O filme não tem diálogo, mas é tão bom que nem precisa de palavras. Ele mostra a mudança de sentimentos com a ajuda de cores, o pai é identificado com a cor azul e o filho com amarelo. No desenrolar da história, fica evidente a sociedade triste e entediante na qual estamos inseridos, (indivíduos azuis) e que muitas vezes simplesmente cumprimos a rotina estabelecida sem nem saber o porquê, e como isso às vezes pode nos entorpecer um pouco. O pequeno protagonista da história tenta não seguir essa vida cinzenta e monótona, mas a sua maneira de entender o mundo não combina com a dos demais, pois andam como “zumbis”, no automáticos, alienados de suas próprias vidas.

Assistindo o filme, não têm como não fazer um paralelo com a Psicologia Social o tempo todo, pois mostra claramente a tentativa de suprimir a criatividade do pequeno, fazendo ele perder sua subjetividade, suas esperanças e sonhos, e começando a aceitar as regras e normas impostas pela sociedade onde está inserido.

Fonte: encr.pw/2e7B0

Entende-se como Psicologia Social o estudo da experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive.

É a ciência que procura compreender os “como” e “porquês” do comportamento social, a interação social e a interdependência entre os indivíduos.

De acordo com Silvia Lane (1981), o enfoque da Psicologia Social é estudar o comportamento dos indivíduos e como ele é influenciado socialmente. Desde o momento em que nascemos, ou até antes disso, já somos influenciados histórico e socialmente. A cultura na qual estamos inseridos e o nosso grupo social são determinantes na formação da nossa visão de mundo, no nosso sistema de valores, e consequentemente nas nossas ações, sentimentos e emoções. Somos determinados a agir de acordo com o que as pessoas ao nosso redor julgam adequado, e nesta convivência, vamos definindo nossa identidade social.

Daí a importância da família no processo de formação das crianças para que não sejam meros reprodutores dos seus comportamentos, mas que respeitem a individualidade, os desejos e sonhos de cada um, e que incentivem a busca de sua própria identidade.

Fonte: encr.pw/QFbd0

No filme mostra como o pai desse menino percebe que seu filho não está mais tão animado e alegre como antes, que está perdendo a sua cor, e assim ele leva o menino de volta para ver o violinista, ou seja, expõe ele à criatividade, a arte, para a cor e a alegria dele voltarem, pois dentro da rotina diária, por mais conturbada que seja, precisa haver um espaço para contemplação do mundo, da arte, da vida em suas diversas formas, para não cairmos neste marasmo de fazer o que nos é exigido, executar várias tarefas diárias no automático e quando percebemos o tempo passou e você percebe que você não estava presente em sua própria existência.

Além dessa relação entre grupos e família, o filme traz também uma reflexão acerca do processo de ensino aprendizagem, e a relação professor – aluno, e como faz falta no âmbito escolar o não vislumbramento do fator afetivo – emocional, pois o vínculo e as relações de afeto também são fundamentais para a aprendizagem, e também  a importância do papel do professor para a não reprodução da alienação, para que seus alunos deem espaço à criatividade e à fantasia infantil, e possam se tornar adultos saudáveis e sujeitos autônomos, e protegê-los do ambiente massificador que a escola pode se tornar.

Finalizando já minha contribuição acerta deste filminho, ele nos faz pensar na criatividade, na imaginação e no afeto como caminhos para uma vida mais colorida. Nos transporta para a rotina de um pai e seu filho, parecidos demais um com o outro, mas com visões de mundo que estão se distanciando, trazendo de forma simples, mas poderosa, o nosso cotidiano da vida moderna: a rotina e a falta de cor no dia a dia, a forma como encaramos o mundo ao nosso redor, muitas vezes intoxicados pelos afazeres  que nos cercam, vamos perdendo nossa essência , deixando de lado a imaginação e o afeto…

? Vale a pena assistir e gastar 7 minutinhos com essa reflexão lindinha que aquece o ?

FICHA TÉCNICA

Título: Alike (Original)

Ano produção: 2015

Dirigido por: Daniel Martínez Lara Rafa Cano Méndez

Estreia: 6 de Novembro de 2015 (Mundial)

Duração: 8 minutos

Classificação: L – Livre para todos os públicos

Gênero: Animação; Drama; Família

Países de Origem: Espanha

REFERÊNCIAS:

Lane, S. T. M. (1981). O que é Psicologia Social? São Paulo, SP, Editora Brasiliense.

Psicologia Social, Wikipedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_social. Acesso em 10/12/2021.

Animação tocante mostra como a sociedade mata nossa criatividade e imaginação, Hypeness, 2017. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2017/04/animacao-espanhola-nos-lembra-o-quanto-a-sociedade-pode-acabar-com-nossa-criatividade-e-imaginacao/. Acesso em 10/12/2021.

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Álcool, o frágil limite entre prazer e destruição

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Todos os anos o dia 20 de fevereiro é dedicado ao combate e conscientização da dependência do álcool, e é de suma importância que haja uma reflexão individual sobre o papel que a bebida exerce em nossas vidas e como ela pode impactar nossa realidade.

O álcool, diferente de outras drogas, pode estar presente desde muito cedo na vida das pessoas e a dependência que ele muitas vezes causa afeta milhões mundialmente. Socialmente muito bem aceito, e proposto em quase qualquer ocasião, a falta de controle no seu consumo às vezes está relacionado à busca de alívio da tensão e do estresse do dia a dia, entre outras razões. Seja para ser bem aceito num grupo, seja para perder a timidez, ou tantos outros motivos, a bebida é muitas vezes vista como uma boa alternativa.

O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), na sua última edição (DSM-5) atualizou o abuso e dependência de álcool que antes era chamado de alcoolismo, para Transtorno por Uso de Álcool (TUA), sendo uma condição na qual uma pessoa tem desejo ou necessidade física de consumir bebidas alcóolicas, mesmo que isso tenha um impacto negativo e traga consideráveis prejuízos em sua vida. É uma forma de extrema dependência em que a pessoa tem uma necessidade compulsiva de ingerir álcool para ser funcional nas suas atividades diárias.

Atualmente são identificados quatro padrões de consumo de álcool: o consumo moderado, sem risco; o consumo arriscado, que tem o potencial de produzir danos; o consumo nocivo, que se define por um padrão constante de uso já associado a danos à saúde; e o consumo em binge, que diz respeito ao uso eventual de álcool em grande quantidade.

Fonte: encurtador.com.br/syCT0

Alguns autores trazem este abuso como uma doença crônica, com fatores genéticos, psicossociais e ambientais influenciando seu desenvolvimento e suas manifestações, ou seja, as teorias levam em conta a complexidade do transtorno e reconhecem que geralmente é causado por uma combinação de fatores.

Mas porque referir-se a este assunto como um frágil limite entre prazer e destruição?

O álcool atua sobre o sistema de recompensa do cérebro, através da liberação de dopamina (entre outros neurotransmissores), trazendo a sensação de prazer e recompensa. Por ser uma droga lícita, difundida e muito usada até mesmo como ferramenta de aceitação e desenvoltura social, entender o mecanismo por trás deste sistema de gratificação que o cérebro produz e as consequências deste tipo de condicionamento, nos fazem perceber quão tênue é esta linha entre o prazer e o perigo.

Segundo o psiquiatra Dr. André Gordilho, “o paciente pode desenvolver tolerância, precisando de uma quantidade cada vez maior da bebida para sentir os efeitos que ele busca. Às vezes ocorrem sintomas físicos, como insônia, irritabilidade, e outros sintomas de abstinência”, completa.

Para um diagnóstico eficaz, ele traz que a atenção ao histórico do paciente é essencial. Normalmente a pessoa começa a estreitar o intervalo dos dias em que bebe, passando a consumir álcool de forma cada vez mais frequente. Também pode passar a ter comportamentos inadequados, como beber em locais em que não deveria, como no trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/ckmwN

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o abuso de álcool é responsável por 3,3 milhões de mortes todos os anos no mundo. Dentre outras consequências podemos listar algumas patologias como: cirrose e outras doenças do fígado, depressão, crises de ansiedade, tremores e etc.

O álcool pode piorar os sintomas de depressão e ansiedade já existentes, além de aumentar as explosões emocionais. Muitas vezes, os alcoólatras têm uma falta de controle emocional (autoregulação) e às vezes podem causar perturbação nos contextos onde estão inseridos se estiverem altamente intoxicados.

O vício em álcool é perigoso, e ele vai aumentando gradativamente sem que o indivíduo perceba. O usuário não pensa que tem um problema, e quando vai se dar conta já não consegue assumir o controle em relação ao comportamento de beber ou à quantidade consumida.

Esta prática, além de conduzir o indivíduo a sérios malefícios para a saúde, contribui para a deterioração das relações sócio familiares e de trabalho, causando sérios prejuízos para a pessoa tanto fisicamente, quanto psicológico, emocional e socialmente.

Fonte: encurtador.com.br/rvQX9

Alguns sinais e sintomas do transtorno incluem:

  • beber sozinho ou em segredo;
  • não ser capaz de limitar a quantidade de álcool consumida;
  • não ser capaz de lembrar alguns espaços de tempo;
  • ter rituais e ficar irritado se alguém comentar sobre esses rituais, por exemplo, bebe antes, durante ou depois das refeições ou depois do trabalho;
  • perder o interesse em hobbies que eram apreciados anteriormente;
  • sentir muita vontade de beber;
  • sentir-se irritado quando os horários de beber se aproximam, especialmente se o álcool não estiver disponível;
  • armazenamento de álcool em lugares improváveis;
  • bebe para se sentir bem;
  • adquire problemas com relacionamentos, leis, finanças ou trabalho que resultam da bebida;
  • precisa cada vez mais de mais álcool para sentir seu efeito;
  • sente náuseas, sudorese ou tremor quando não está bebendo;

O tratamento da dependência possui algumas características particulares, visto que o indivíduo precisa de um programa bem personalizado, específico para ele. As perspectivas trabalhadas são medicação, abstinência, psicoeducação e responsabilização, dentro de uma visão multidisciplinar, envolvendo profissionais como psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e quaisquer outras especialidades como hepatologistas por exemplo. Para cada uma dessas abordagens é realizado um tratamento específico que vai depender do estágio que o paciente se encontra.

O primeiro passo deve partir da pessoa e o desejo de mudar aquele comportamento, reconhecendo que o consumo excessivo, progressivo e abusivo de bebidas alcoólicas está causando problemas em sua vida. A rede de apoio (familiares, amigos) é essencial para o sucesso da restauração da saúde e bem estar do usuário.

Um retorno ao consumo normal de álcool é muitas vezes possível para indivíduos que abusaram do álcool por menos de um ano, mas, se a dependência persiste por mais de cinco anos, os esforços para retornar ao consumo social geralmente levam à recaída.

Fonte: encurtador.com.br/bjIO3

Existe uma negação muito grande em reconhecer a doença por causa do estigma que ela carrega. E por ser tão bem socialmente aceito, as pessoas demoram a reconhecer e a procurar tratamento. Existe também muita vergonha envolvida nesse processo, e acaba sendo em alguns casos uma situação velada, e muitas vezes nem os próprios familiares conseguem se mobilizar para ajudar a pessoa que sofre com isso, às vezes por falta de informação ou por falta de acesso a estes meios de assistência.

Algumas formas de abordar e reduzir os níveis de consumo nocivo de álcool podem vir da promoção de conhecimento sobre saúde na população, fornecendo evidências da relação do consumo de álcool e os danos causados pelo abuso. A conscientização precisa ser mais bem trabalhada na sociedade como um todo, e precisa haver uma quebra de paradigmas, e buscarmos desmistificar o processo de tratamento, para a não normalização da doença e como qualquer outro transtorno ou patologia, procurando ajuda, pois é possível com tratamento superar e melhorar a qualidade de vida significativamente dos indivíduos prejudicados, tanto o portador do transtorno quanto seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

O mais importante (e na verdade essencial) neste processo é que não se abra mão de um olhar psicossocial do indivíduo, que esteja ampliado e atento às relações deste sujeito, que ele seja protagonista nesta trajetória, e que haja este olhar nas interações entre os profissionais de saúde e o usuário e a sua rede de apoio, para um tratamento humanizado, que respeite as vontades do sujeito e busque sua melhora gradativa, de acordo com o seu caso e seu contexto.

REFERÊNCIAS

Transtorno do Uso de Álcool: uma comparação entre o DSM IV e o DSM – 5, NIH – National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism, outubro de 2021. Disponível em:  <https://www.niaaa.nih.gov/sites/default/files/publications/AUD-A_Comparison_Portuguese.pdf> . Acesso em: 15/02/2022.

O que é Transtorno por abuso de Álcool e qual é o Tratamento?, Seu Amigo Farmacêutico, 2019. Disponível em: < https://www.seuamigofarmaceutico.com.br/artigos-e-variedades/o-que-e-transtorno-por-abuso-de-alcool-e-qual-e-o-tratamento-/404#:~:text=O%20alcoolismo%2C%20agora%20conhecido%20como,era%20chamada%20de%20%22alco%C3%B3latra%22 >. Acesso em 15/02/2022.

Alcoolismo pode ser um inimigo invisível, Holiste, 27/05/2019. Disponível em: <https://holiste.com.br/alcoolismo-pode-ser-um-inimigo-invisivel/>. Acesso em: 15/02/2022.

Os cinco tipos de problemas com a bebida são mais comuns em diferentes idades, Third Age, 2019. Disponível em: < https://thirdage.com/the-five-types-of-problem-drinking-are-more-common-at-different-ages/>. Acesso em 16/02/2022.

Alcoolismo, Rede D’or, 2021. Disponível em: <https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/alcoolismo>. Acesso em 16/02/2022.

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Luto migratório – minha história de ruptura e a entrada de luz na rachadura

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Desde o início do semestre que tenho a intenção de escrever um relato de experiência, mas não conseguia definir exatamente o que escrever sobre essa minha intensa e interessante (“a meu ver”) trajetória de vida. Até que decidi compartilhar um pouco aqui sobre o processo de mudança (bem brusca diga-se de passagem) que foi morar fora do país por praticamente seis anos. 

A vontade de me aventurar mundão afora me acompanha desde bem nova. Sempre me percebi com esse espírito mais aventureiro, destemido, e enquanto eu cursava o curso de Turismo na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, me ocorreu um insight de trancar a faculdade e fazer a tal aventura tão sonhada. Meus planos eram para ficar um ano em algum país de língua inglesa e voltar e continuar a minha vida normalmente.

Fonte: Imagem no Pixabay

Só de escrever esses dois capítulos a emoção gerada em mim não é de se passar despercebida. Foi um momento muito intenso da minha vida, de um medo sem tamanho. Mas a vontade e a curiosidade eram maiores. E com as surpresas que a vida foi organizando pra mim, com a forma como as coisas foram se encaixando, eu fui parar em um dos países mais lindos do mundo… a Nova Zelândia. Naquela época ninguém nunca nem tinha ouvido falar se era de comer ou se era de passar no cabelo como diz minha estimada Professora Thaís Monteiro.

Fonte: Arquivo Pessoal

E lá fui eu, cheia de expectativa, sentimentos mistos de euforia, preocupação, medo. Tinha o mínimo do básico de inglês na bagagem, só aquele tantinho pra não passar fome como dizem as pessoas.  No meio de tudo isso sem mesmo me dar conta, estava acontecendo um processo de luto em mim, um sentimento enorme de perda, de conexões, da família, de tudo o que representava segurança, sem falar na questão da nossa língua materna, cultura e status social. Meu único amparo (e foi um enorme porto seguro pra mim), era meu namorado, que hoje é meu esposo, que decidiu fazer essa “loucura” comigo.

Acho importante entendermos aqui o conceito de luto mais abrangente, e como uma pessoa que sai do seu país para morar em outro passa por um processo que abala muito a sua estrutura psicológica e emocional. Luto é geralmente empregado para descrever a dor associada à morte de um ente querido, mas, na verdade, o luto ocorre cada vez que há uma perda de qualquer natureza. 

Trago uma citação de Mark Twain que representa bastante esse conceito mais amplo: “Nada que nos aflija pode ser chamado de pequeno: pelas leis eternas da proporção, a perda de uma boneca por uma criança e a perda de uma coroa por um rei são eventos do mesmo tamanho.” 

Fonte: Imagem no Freepik

O luto inclui inúmeras perdas, você pode sofrer por perda de bens (casa, móveis, roupas), perda de seu emprego, perda de sua identidade, de um relacionamento, perda de sua rotina, perda de um animal de estimação, perda de seus hobbies. A lista pode parecer infinita …

O psiquiatra catalão Joseba Achoteguy foi o primeiro a descrever melhor esta perda e o chamou de Luto Migratório (ou Síndrome de Ulisses, alusão ao mítico herói grego da Guerra de Troia). 

 Ele aponta sobre o sofrimento da pessoa que sai do seu país de origem e sofre do chamado “choque cultural”, experimenta uma enorme nostalgia e saudades do país, e acaba ficando só, longe dos seus familiares, dos seus amigos, vivendo numa cultura estranha, desenraizado de si mesmo e se deparando com uma realidade que lhe é hostil, bem diversa daquela que imaginou antes de deixar a sua terra natal (MENDES JÚNIOR, 2007).

É importante reconhecer quando você sofre de luto, e enxergá-lo como um processo de adaptação psicossocial, que de acordo com Bibeau et al. (1992), se desdobram em dois momentos durante a imigração: “o tempo da ruptura”, no qual se contrapõem as expectativas, as referências do imigrante sobre a realidade do país de acolhida, e o “o tempo da continuidade”, no qual, pouco a pouco, o imigrante vai construindo seu cotidiano e se integrando ao novo país.

Minha vida nunca mais poderia ser a mesma depois dessa mudança. Quando chegou perto de completar um ano (eu estava com 20 anos de idade) não me via voltando. Aquilo que eu tinha vislumbrado era maravilhoso demais pra voltar. Mesmo com grandes dificuldades de adaptação, depois do primeiro ano e depois de ter mudado de cidade três vezes, eu tinha começado a pegar o jeito da coisa, então decidimos ir ficando. O pior que me poderia acontecer era perder o vínculo com a Universidade, pois meu curso tinha ficado trancado, mas decidi que depois retornaria quando achasse que fosse a hora e buscaria refazer este vínculo. 

Quando estava planejando esta viagem, a ideia era fazer um curso de inglês lá, trabalhar de babá ou garçonete, e essa imagem lindinha que temos (ou eu tinha) de pessoas que vão fazer um intercâmbio fora do país era simplesmente uma grande noção inocente. 

Os cursos de inglês eram caros demais, e babá e garçonete eram trabalhos que praticamente só os próprios neozelandeses ou estrangeiros com inglês bem avançado conseguiam. Eu fico rindo comigo mesma aqui enquanto escrevo, de imaginar minha inocência e como a versão foi bem diferente. 

Trabalhei como faxineira, em colheita de kiwi, em fábrica que preparava a exportação do kiwi, e o auge do primeiro ano foi de empacotadora em um supermercado. Mas o inglês estava fluindo, demais inclusive. Depois desse primeiro ano as oportunidades foram incríveis… fui melhorando, aprendendo, convivendo com pessoas maravilhosas do mundo inteiro, eu estava como uma esponja, absorvendo, minha cabeça já tinha mudado completamente.  E depois de um tempo e com o idioma já bem melhor estabelecido, e ganhando bem, trabalhei como vendedora, supervisora, e no último ano me tornei gerente de uma loja que vendia móveis e artigos de design de interiores. Morávamos literalmente no paraíso, e o mais incrível é como as pessoas em um país desenvolvido têm uma qualidade de vida tão boa, independente da sua situação financeira. Existe muito pouca desigualdade. Pra você ter um carro bom, morar numa casa boa, viajar, você pode trabalhar de qualquer coisa. É maravilhoso!

Fonte: Arquivo Pessoal

Porém, durante estes seis anos, a angústia da volta ao lar me acompanhou diariamente. Você vai sentindo um abismo emocional tão imenso, que a distância física parece pequena. O sentimento de pertencimento das suas raízes te chama. Para algumas pessoas pode não ser assim, mas estar mais perto dos “seus”, se relacionar com pessoas com a mesma cultura, que falam a mesma língua que você, que têm valores parecidos, que com todos os defeitos que o nosso país têm ele é a nossa pátria, é algo até difícil de explicar.

Nas datas comemorativas, como natal e ano novo, ficava muito nítido isso ao meu redor. Como moram muitos imigrantes lá, dava pra perceber nas pessoas conhecidas que o sofrimento de estar longe dos seus amados era potencializado nesses dias. 

Ainda hoje quando conto um pouco dessa trajetória, as pessoas perguntam o porquê de voltar, porque realmente motivos pra ficar não faltavam. Dentro dos seis anos vim somente uma vez visitar, e meus pais foram uma vez pra lá. Viajamos pela ilha sul inteira, e eles ficaram tão maravilhados com o que viram e experimentaram lá que até se conformaram com a possibilidade de minha estadia ser mesmo permanente naquela terra maravilhosa do “Senhor dos Anéis”. 

Fonte: Imagem no Freepik

Finalmente criamos a “tal da coragem” pra voltar, agora revivendo novamente as angústias e os medos… os colegas brasileiros falavam: “um ano no máximo é o prazo pra vocês estarem de volta aqui”, porque o Brasil isso, o Brasil aquilo…sim, realmente, existem muitas justificativas e é uma decisão bem difícil tanto pra quem vai quanto pra quem fica… ônus e bônus. 

Mas o Brasil é a nossa pátria. Se readaptar foi sem dúvida muito mais fácil do que a primeira experiência, mas ainda assim bem desafiadora. Essa pulguinha atrás da orelha, essa vontade de explorar esse mundo de meu Deus não acabou ainda dentro de mim… mas ela está aqui, contida, suprimida por outros lindos projetos de vida. Quem sabe essa foi a primeira e última vez, ou não, mas por enquanto deixo aqui um pedacinho de mim pra quem se interessar em ler, de uma faceta dessa história, da minha experiência de ruptura brusca com o que me era confortável, e um pouquinho deste processo. 

Sou muito grata a todas as vivências experimentadas naquele país tão lindo, que me permitiu evoluir tanto como pessoa! Eu vivi o meu luto, ressignifiquei ele, e superei.

Fonte: Arquivo Pessoal

Para definir o que seria então este processo de um luto saudável, recorro aqui ao trabalho do renomado psicólogo John Bowlby.

O luto saudável é primeiro aceitar a mudança e, portanto, considerar que voltar atrás não é uma opção. Em segundo lugar, é fazer mudanças apropriadas em seu mundo interior e encontrar um novo equilíbrio. Como resultado, você pode distinguir quatro tarefas no processo de luto (adaptado dos estudos do professor William Worden):

– Aceitar a realidade da perda;

– Trabalhar com a dor da tristeza;

– Ajustar-se ao novo ambiente após a perda;

– “Integrar” emocionalmente a perda dentro de você – dando-lhe um pequeno lugar no seu coração – e reinvestindo esta energia em outras atividades.

Segundo Anne Gillme, terapeuta que trabalha na Austrália com superação de desafios de pessoas que vão morar fora de seu país de origem, cada processo de luto é único. E não existe um período padrão de luto. Ainda mais porque a mudança de país envolve dois tipos de perdas: perda definitiva e perda ambígua. Ambos produzem efeitos diferentes.

Uma perda definitiva é uma perda evidente, como vender sua casa ou desistir de seu emprego, e que embora não haja dúvida de que tal perda pode ser extremamente dolorosa, há um encerramento.

Uma perda ambígua por outro lado, é caracterizada por uma ausência física e uma presença psicológica ou vice-versa.

Deixar seus pais para trás, por exemplo, é um exemplo típico de perda ambígua. Você perde a proximidade da relação (refeições juntas, encontro diário, festas de aniversário). Você não tem mais a presença física. Por outro lado, você mantém seus pais em sua mente. Eles estão sempre psicologicamente presentes.

Fonte: Imagem no Freepik

Pauline Boss, que estuda a perda ambígua há mais de três décadas, argumenta que a perda ambígua é o tipo mais estressante de perda porque não há fechamento. A ambigüidade gera uma mistura de emoções, muitas vezes opostas como amor e ódio, esperança e desespero.

Quem já passou por isso pode entender perfeitamente o que escrevo. E para quem ainda não, mas tem vontade de experimentar, só tenho a dizer que é uma experiência muito enriquecedora de autoconhecimento, de se desligar da sua zona de conforto e procurar estabelecer sua identidade com mais espaço. Vejo que para nós brasileiros isso parece uma tarefa mais difícil. Por sermos latinos, temos uma proximidade absurda com as nossas famílias, (em alguns casos, essa proximidade é até tóxica), e este emaranhamento nos arranjos familiares não encoraja os jovens a sairem do ninho, e os pais vão repetindo o ciclo de buscarem que os seus filhos estejam bem próximos, e que de preferência, mesmo depois de adultos e suas famílias formadas ainda possam exercer muita autoridade em suas decisões. Fico pensando no coração dos meus pais, que tiveram que experimentar essa angústia de um passarinho voar do ninho pra bem longe e gritar sua independência tão cedo. Em outras culturas isso é muito mais comum.

E no final o que acontece é sentir tanta saudade do país de origem a ponto de regressar e, uma vez de volta, começar a sentir a mesma saudade do país que se deixou, e isso pode gerar uma sensação de profunda confusão e um intenso sofrimento. 

Sentir-se ambivalente, ressaltando as maravilhas de um lugar quando se está em outro e vice-versa é parte do processo. E o que é a saudade senão ambivalência, “ruim” e “boa” ao mesmo tempo, uma mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor.

O processo de morar fora é, talvez, uma das mudanças mais drásticas que uma pessoa pode experimentar. Como qualquer outra mudança, contempla riscos e benefícios, perdas e ganhos.

Integrar as perdas, aprender a viver com e apesar delas, requer um processo de coragem e uma boa elaboração de reorganização interna, que pode resultar em um belo desfecho. Finalizo com um pedacinho da música de Leonard Cohen chamada Anthem que diz: “There is a crack in everything, that´s how the light gets in”.

REFERÊNCIAS:

APEGO e perda ambígua: apontamentos para uma discussão, Pepsic, 2006, disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482006000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 15/11/2021.

TRAD, L.A.B. Processo Migratório e Saúde Mental: Rupturas e Continuidade na vida Cotidiana. Revista Saúde Coletiva, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/gM7w4XGyhPfktmY5VLZsZwj/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 15/11/2021.

THE chocking truth about changing country, Globiana, disponível em: https://globiana.com/the-shocking-truth-about-changing-country-expatriate-connection/. Acesso em 09/11/2021.

SILVA, J.C.L. D; PADILHA, N.S.; LAMY. M. A “Síndrome de Ulisses” e a Medicalização dos Movimentos Migratórios, Furb – Revista Jurídica. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/7927-1-34594-1-10-20201221.pdf. Acesso em 15/11/2021.

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Olhando retrospectivamente – Técnica criativa para ajudar na regulação das emoções

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Trago hoje aqui o descritivo e a explicação de uma técnica de regulação emocional extraída do livro “Não acredite em tudo o que você sente” de Robert L. Leahy, que têm por principal objetivo proporcionar ao leitor discernimento e direção em relação às emoções, e perceber o panorama mais amplo da vida na hora de lidar com emoções difíceis.

  Todas as técnicas do livro são de uma combinação de abordagem cognitivo-comportamental e terapia do esquema emocional, e ajudam o leitor a explorar suas crenças pessoais sobre as emoções, e determinar se estas crenças são úteis ou prejudiciais para os seus objetivos de vida. 

A Terapia Cognitivo – Comportamental foi desenvolvida por Aaron Beck no início dos anos 60, o qual começou a perceber na sua rotina como psiquiatra que os tratamentos até então vigentes para a depressão não eram tão eficazes. Depois de ver o sucesso do tratamento psicoterápico para os pacientes com depressão, passou a expandir e utilizar técnicas similares para tratar outras doenças como ansiedade e transtornos de personalidade. Resumidamente explicando, a abordagem explora os pensamentos numa visão de que, ao invés de tentar tratar os sintomas desses pacientes, ele deveria tratar o pensamento distorcido. A TCC, como é conhecida, evita ficar revivendo traumas passados e problemas na infância. Ela foca em que o paciente entenda como o seu passado afeta seus pensamentos e atitudes.

Fonte: encurtador.com.br/fqvB8

 

Ela funciona transformando o padrão de pensamentos negativos, em pensamentos mais saudáveis, que resultam em comportamentos positivos, não necessariamente necessitando que uma pessoa descubra porque aquele padrão de pensamento negativo existe. Ao invés disso, ela ensina a reconhecer e entender o processo cognitivo, impedindo que esses pensamentos se formem.

Já a Terapia do Esquema (TE) desenvolvida por Jeffrey Young em 1990, é uma abordagem integrativa, sistemática e estruturada. Seu início foi como uma extensão da Terapia Cognitiva para o tratamento de transtornos de personalidade, mas desde então desenvolveu uma identidade própria, a qual busca atender padrões mal adaptativos complexos de longa duração e dá maior consideração a fatores atuantes na infância.

Fonte: encurtador.com.br/sEGH4

 Uma maior ênfase é dada na utilização de técnicas de imagens, vivenciais e interpessoais. Essas técnicas permitem a abordagem de aspectos emocionais e de mais difícil acesso. Outra distinção é a visão da relação terapêutica como instrumento de mudança, através da utilização de estratégias de reparentalização limitada e de confrontação empática.

      No capítulo 9, onde é utilizada uma destas técnicas, traz a seguinte pergunta: O que é importante para mim? O nome da técnica é Olhando Respectivamente, e traz perguntas profundas e importantes para o leitor refletir sobre a forma como ele está deixando as emoções controlarem suas atitudes, de forma que muitas vezes num panorama mais amplo de vida, certas coisas não são tão importantes, mas quando não há essa reflexão, as pessoas tendem a simplesmente reagir às emoções ou às situações, sem levar em conta o que realmente importa. 

Muitas vezes somos levados pela emoção do momento, e pensamos de forma muito imediatista. Essa técnica traz à tona os valores pelos quais a pessoa gostaria de viver, e se suas atitudes estão sendo condizentes com estes valores.

E se você se deparasse com o seu próprio funeral? O que as pessoas diriam sobre você? E porque isso é importante?

Fonte: encurtador.com.br/tBGIN

 

Além disso, depois de refletida esta parte, o que você pode fazer esta semana que esteja alinhado com estes valores?

Aqui inclusive penso que até caberia levar o leitor a se questionar o que você poderia deixar de fazer que não agrega e não vai em direção a estes valores importantes citados na primeira resposta.

Esta técnica trabalha com aspectos principalmente afetivos (emoções) e suprarracionais (trabalha com a imaginação e intuição, fazendo um relaxamento e o uso da fantasia para imaginar um tempo futuro), e em menor grau com aspectos cognitivos (quando posteriormente a pessoa fizer suas conclusões no final do exercício) e também físicos, pois o participante é orientado a relaxar fisicamente enquanto escuta uma música suave de fundo para melhor aproveitamento da técnica. 

REFERÊNCIAS:

LEAHY, Robert. Não acredite em tudo o que você sente, Artmed, 1ª Ed., 2020.

AARON Beck – Quem é o criador da Terapia Cognitivo Comportamental, IPTC, 2021. Disponível em: < https://iptc.net.br/aaron-beck/ >. Acesso em 23 de out. de 2021.

O que é a Terapia do Esquema, IPTC, 2021. Disponível em: <https://iptc.net.br/o-que-e-a-terapia-do-esquema/>. Acesso em 23 de out. de 2021.

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A morte é um dia que vale a pena viver – a finitude por um ângulo surpreendente!

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Neste livro fantástico da Ana Claudia Quintana Arantes, médica geriatra, pós graduada em psicologia com intervenções em luto e especializada em cuidados paliativos, a autora tem a coragem de lidar com um tema que é ainda um tabu, a morte. Me deparei com a sua palestra em um TED TALK (que teve quase 3 milhões de visualizações) e fiquei impactada! Soube que tinha que ler o livro também. Ela traz reflexões sobre o sofrimento, sobre a vida, sobre fazer valer.

 

Fonte: encurtador.com.br/tvLTX

 

Nos primeiros capítulos do livro, que foi publicado pela Editora Sextante, Ana Claudia conta sua trajetória de escolha profissional, e compartilha com o leitor a dificuldade que foi de assumir publicamente o seu propósito: o de cuidar de pessoas que morrem. São 26 capítulos no total, onde ela inicia contando como foram difíceis as decisões que a levaram escolher este caminho, pois a sociedade não está preparada para falar ou pensar no fim da vida. Tudo o que se faz é para a perpetuação da vida, a medicina, a estética, com intervenções, técnicas, procedimentos para o prolongamento desta existência que, por certo, terá dia e hora para acabar.

No quarto capítulo do livro “Cuidar de quem cuida”, ela diz de como sua vida ficou plena de sentido quando ela descobriu que tão importante quanto cuidar do outro é cuidar de si mesmo, e como muitos profissionais de saúde, principalmente os médicos, ela não deu importância para essa informação. Como soa bem socialmente muitas vezes dizer que você não teve tempo de almoçar, não teve tempo de dormir, de rir, chorar, não teve tempo de viver. Ela fala como a dedicação ao trabalho parece estar ligada a um reconhecimento social, a uma forma torta de se sentir importante e valorizada e como por um bom tempo negligenciou isso e acabou adoecendo. E como nessa busca por aliviar o sofrimento do outro, em lidar com a dor alheia com uma pergunta: Como lidar com a dor do outro sem tomá-la para si?

E com psicoterapia ela busca aliviar esse sofrimento e trazer sentido no que faz. Trago um trecho do livro aqui muito bacana sobre a complexidade da mente do ser humano.

“Sempre digo que a medicina é fácil. Chega até a ser simples demais perto da complexidade do mundo da psicologia. No exame físico, consigo avaliar quase todos os órgãos internos de um paciente. Com alguns exames laboratoriais e de imagem, posso deduzir com muita precisão o funcionamento dos sistemas vitais. Mas, observando um ser humano, seja ele quem for, não consigo saber onde fica a sua paz. Ou quanta culpa corre em suas veias, junto com o seu colesterol. Ou quanto medo há em seus pensamentos, ou mesmo se estão intoxicados de solidão e abandono.”

Fonte: encurtador.com.br/abcuS

 

Uma pesquisa realizada em 2010 pela publicação britânica “The Economist” avaliou a qualidade de morte em 40 países. O Brasil ficou em lugar como pior país do mundo para se morrer, ficando à frente somente (e por muito pouco) da Uganda e da Índia, e o quanto isso demonstra o quanto nossa sociedade não está preparada e o quanto a medicina no nosso país não está preparada para conduzir o processo de morte de seus pacientes. Sua reflexão diz respeito sobre como falta mesmo esse cuidado em aliviar o sofrimento físico, e também ajudar o paciente a lidar com o sofrimento natural que este momento final traz que é o sofrimento emocional e o espiritual. Nestes momentos finais da existência humana, a pessoa se questiona, se ela viveu realmente com sentido e significado, ou se neste momento ela está ainda cheia de “pendências”.

Um médico ao buscar o alívio do sofrimento físico, muitas vezes se dá por satisfeito, porque entende que os cuidados paliativos é sedar o paciente e esperar a morte chegar. Muitos ainda pensam que é apoiar a eutanásia ou acelerar a morte, mas isso é um imenso engano. A autora acredita que a vida vivida com dignidade, sentido e valor, em todas as suas dimensões, facilitam muito esse processo de morrer em paz. Porque não auxiliar as pessoas a morrerem bem também? E não só a viverem bem? Cuidar do bem estar físico, emocional, familiar, social e espiritual dessa pessoa e das famílias no processo da despedida?

Na prática dos cuidados paliativos, ela sonha em presenciar nas pessoas não só a ortotanásia (a morte no seu tempo certo), mas também a kalotanásia: a morte “bela”.

 

Fonte: encurtador.com.br/hkqPU

Ela traz no livro uma mensagem de agradecimento deixada por uma filha que acompanhou a morte do pai: “Cuidados Paliativos é tratar e escutar o paciente e a família, é dizer – SIM, sempre há algo que pode ser feito – da forma mais sublime e amorosa que pode existir. É um avanço da medicina.”

A terminalidade é a consequência do curso natural da vida, o que ela produz é o sofrimento, como ela diz, é uma melodia única. Cada um sofre de uma forma. E não faz diferença se somos pessoas boas ou não: vamos morrer. A única coisa que não temos opção é a morte. Para todo o resto na vida, há opções: podemos fazer ou não, podemos querer ou não. Mas morrer ou não, isso não existe. 

Fonte: https://tourlife.com.br/dicas-para-melhorar-a-qualidade-de-vida

Gostei muito do livro. Finalizando aqui as minhas considerações, acredito que a consciência da finitude é angustiante, mas nos oferece uma perspectiva mais apurada sobre como deveríamos viver esta vida. É um convite a uma reflexão pessoal. Se alguém quer pensar sobre a vida, deveria começar meditando sobre como ela é um recurso limitado e temporário.

A autora nos faz pensar que não nos preparar para a morte não ajuda a evitar esse processo, mas auxilia evitar o medo deste encontro e a transformá-lo em respeito. Muitas vezes é só com a consciência da morte que nos apressamos em construir o ser humano que deveríamos e gostaríamos de ser. 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Fonte: encurtador.com.br/jrABO

Título: A morte é um dia que vale a pena viver
Autor: Ana Claudia Quintana Arantes
Editora: Sextante
Páginas: 192
Ano: 2019

REFERÊNCIAS:

ARANTES, Ana Claudia Quintana. A morte é um dia que vale a pena viver – E um excelente motivo para se buscar um novo olhar para a vida.  Sextante,2019.

FOLHA Espírita: Porque precisamos falar sobre a morte, Humana vida, 2021. Disponível em: <https://www.humanavida.com.br/clipping/entrevistas/folha-espirita-por-que-precisamos-falar-sobre-a-morte/>. Acesso em 19 de out. de 2021.

A morte é um dia que vale a pena viver, You Tube, 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=ep354ZXKBEs>. Acesso em 19 de out. de 2021.

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A vida de Steve Jobs e um olhar da psicologia positiva

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Steve Paul Jobs nasceu em fevereiro de 1955, em São Francisco, e morreu em outubro de 2011. Seus pais biológicos eram Joanne Schieble e Abdulfattah, de nacionalidade Síria. Porém, ele foi adotado pela contadora Carla Jobs e Paul Jobs, mecânico e membro da guarda costeira. A adoção não ocorreu de forma muito tranquila, pois sua mãe biológica temia pelo futuro de Steve devido ao baixo nível educacional dos pais, que não haviam completado o segundo grau. O processo é completado apenas quando Paul promete que enviaria o filho para a faculdade.

Depois de concluir o ensino médio, Steve Jobs começou um curso na Reed College, porém, o abandonou depois de um semestre, mas permaneceu em aulas de caligrafia como ouvinte (que anos mais tarde influenciaria na tipografia do Macintosh).

O primeiro emprego de Steve Jobs, foi como designer de videogames na Atari, no ano de 1974. Assim, ele trabalhou lá por alguns meses, mas depois optou por viajar para a Índia para se enriquecer espiritualmente.

Steve Jobs e o amigo Steve Wozniak se uniram, em 1976, e criaram na garagem uma fábrica de computadores. Como resultado, no mesmo ano, eles lançaram o Apple I, primeiro computador a ser vendido já montado para uso pessoal. Em síntese, o aparelho consistia em uma placa mãe coberta com chips instalada em uma caixa de madeira. Os jovens continuaram a trabalhar e, em 1977, lançaram o Apple II. Esse foi só o começo da revolução que os jovens iriam trazer para a indústria de computadores.

Fonte: encurtador.com.br/awEH2

Jobs teve 4 filhos: Lisa, sua primeira filha, com a namorada Chrisann Brennan, e Erin, Eve e Reed com Laurene Powell Jobs, com quem se casou em 2011.

Na sua biografia, é relatado que durante a juventude, foi usuário de maconha e LSD. Jobs comenta no livro que o uso de LSD “reforçou meu senso do que era importante – criar ótimas coisas em vez de ganhar dinheiro, colocar as coisas de volta no fluxo da história e da consciência humana, tanto quanto eu pudesse”.

Dezenas de pessoas que conviveram com o cofundador da Apple dão seus depoimentos, revelando defeitos e facetas controversas: perfeccionista em excesso, explosivo, zen, egoísta, aficionado por situações adversas, cheio de dons artísticos.

Christopher Peterson, pós-doutor e professor de psicologia da Universidade de Michigan, faz uma análise psicológica da biografia de Jobs, e traz suas percepções, demonstrando que o foco do livro não é a tecnologia que Jobs ajudou a trazer ao mundo. O foco está em Jobs, e a imagem transmitida é a de um indivíduo incrivelmente complexo e motivado.  Como ele é pesquisador de psicologia positiva, acredito que caiba aqui um resumido conceito do que é esta abordagem dentro da ciência da psicologia para melhor compreensão do contexto da análise.

Fonte: encurtador.com.br/fgzNV

A psicologia positiva é um campo de estudo dentro da Psicologia que foca nos elementos que podem trazer felicidade às pessoas, e oferece práticas e ferramentas para melhorar o desempenho e aumentar a sensação de bem-estar pessoal do indivíduo. Aplicada à área profissional, essa abordagem contribui para equipes mais colaborativas, lideranças e liderados mais satisfeitos.

De acordo com o especialista considerado pai desse campo de estudo, Martin Seligman, o bem-estar subjetivo é definido pela ausência de depressão e presença de estados cognitivos e emoções positivas.

Peterson relata que sua reação inicial ao ler o livro foi de tristeza e consternação porque uma pessoa tão talentosa parecia infeliz a maior parte do tempo. Da sua perspectiva como pesquisador de psicologia positiva, Jobs tinha tudo em termos de ingredientes para uma vida satisfeita (um senso de significado e propósito, envolvimento com seu trabalho, amigos e família, realizações em abundância), mas a satisfação era muitas vezes evasiva. 

Além disso, Jobs parecia um cara totalmente difícil. Ele era impaciente com os outros, severo em seus julgamentos e manipulador. Uma das ideias recorrentes no livro é que Jobs tinha um “campo de distorção da realidade” que o levou a ignorar os fatos e, de fato, encorajou outros a fazerem o mesmo. Novamente, de sua perspectiva como pesquisador de psicologia positiva, essas tendências deveriam ter tornado sua vida e sua carreira um desastre duplo, mas não o fizeram. 

Fonte: encurtador.com.br/isCRZ

O perfeccionismo se manifestou não apenas em relação a seus produtos, mas também em como ele vivia sua vida. Uma das máximas da psicologia positiva, amplamente apoiado por pesquisas, é que aqueles que “maximizam” suas escolhas e decisões, tentando fazer as melhores possíveis (mais perfeitas possíveis), não são tão felizes quanto aqueles que “satisfazem” suas escolhas e decisões, tentando fazer decisões que sejam boas o suficiente, mas não necessariamente perfeitas (Schwartz, 2002). 

Jobs nunca tomou uma decisão que fosse simplesmente boa, seja projetar um gabinete de computador, projetar uma loja da Apple ou pedir uma refeição em um restaurante. Por exemplo, Jobs não achava que os computadores deveriam ter um ventilador interno porque o ruído perturbaria a experiência do usuário, (isso também é mostrado durante o filme). Criar um computador sem ventiladores foi extremamente difícil para os engenheiros da Apple, mas acabou sendo possível. Para outro exemplo, Jobs insistiu que o interior de um computador seja tão atraente quanto o exterior, não importando que o usuário nunca visse o interior dele. A preocupação também ia até a aparência e a construção da caixa de papelão em que um computador Apple foi enviado, apesar do fato de que essas caixas seriam, naturalmente, descartadas.

Existem duas tradições em psicologia positiva (Bacon, 2005). Uma que diz respeito a enfatizar emoções positivas e relacionamentos harmoniosos. Muitas pessoas associam essa tradição a toda a psicologia positiva, e é dentro desta perspectiva que causou ao pesquisador uma consternação inicial ao ler a biografia de Steve Jobs. Mas, segundo a opinião dele, a segunda tradição merece tanta atenção. Ele enfatiza as realizações, os êxitos e conquistas de uma pessoa. É uma linha dentro da psicologia positiva que sugere certo elitismo e é mais difícil de abraçar porque pode não te abraçar de volta. Pode ser que o esforço em busca das realizações seja em vão, pode ser que ele nunca chegue. Mas se nossa preocupação é com uma vida boa e plena, precisamos reconhecer contemplar e compreender ambas as tradições. 

Fonte: encurtador.com.br/ckuIM

Acredito que a crítica aqui seja de que a felicidade pode ser vista por cada pessoa de um ponto de vista, e a faceta da realização (dentro da linha da psicologia positiva) na vida de Jobs se sobressaiu e muito da outra linha que seriam relacionamentos harmoniosos ou sentimentos de alegria e gratidão frequentes. Em boa parte do tempo tanto na biografia quanto nos filmes e documentários, mostra que ele não possuía esse manejo positivo nos relacionamentos, nem essa harmonia que a teoria traz para um bem estar e uma melhor qualidade de vida, mas atingiu um nível de êxito e realização que dificilmente qualquer um de nós irá alcançar. 

Em 2003, Steve Jobs foi diagnosticado com um câncer raro. Descoberto no início, mas Jobs se negou a fazer a cirurgia e optou por fazer tratamentos alternativos. Durante nove meses adiou a cirurgia, que só foi realizada em 2004, para remover um tumor no pâncreas.

Em 2009, sua saúde estava fragilizada, ele emagreceu muito. Em um e-mail enviado aos funcionários, Jobs revelou: “problemas de saúde são mais complexos do que se pensava”.

Steve Jobs faleceu em Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos, no dia 5 de outubro de 2011.Durante a madrugada da sua morte, fãs se reuniram em frente à loja da Apple, em Nova York. No local, diversos de veículos da imprensa americana se posicionaram para transmissões ao vivo. Lojas da Apple em diversas cidades do mundo também foram palco de homenagens. Recebeu homenagens também à parte do universo tecnológico, como a homenagem que recebeu do presidente americano, Barack Obama.  Na China, dezenas de admiradores se reuniram nas lojas da marca em Pequim e Xangai para homenagear o cofundador da Apple. “É o melhor professor que tive nesta vida”, afirmava na porta de uma loja de Pequim o engenheiro de software Jie Bing, enquanto outros admiradores deixavam junto à entrada flores, mensagens de carinho e outras homenagens.

Alguns críticos argumentaram que Steve Jobs nunca inventou nada. Como dito por Christopher Peterson: Eu peço desculpas, mas não concordo. Ele inventou o século 21 e fez do seu jeito. E o caminho dele se tornou o nosso. Se a vida de Jobs não se conforma com os pronunciamentos da psicologia positiva sobre uma vida boa e feliz, então são nossas teorias que precisam mudar e se expandir e – ouso dizer – se tornarem mais perfeitas”.

REFERÊNCIAS: STEVE Jobs, Wikipedia, 2018. Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Steve_Jobs/>. Acesso em 06 de out. de 2021.

LEARNING from the life of Steve Jobs, Psychology Today, 2011. Disponível em: <https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-good-life/201112/learning-the-life-steve-jobs>. Acesso em 06 de out. de 2021.

STEVE Jobs – empresário americano, E-biografia, 2020. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/steve_jobs/ >. Acesso em 08 de out. de 2021.

PSICOLOGIA Positiva: o que é, importância e como aplicar?, FIA – Fundação Instituto de Administração, 2020. Disponível em: <https://fia.com.br/blog/psicologia-positiva/>. Acesso em 08 de out. de 2021.

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Steve Jobs: traços de sua personalidade segundo o modelo Big Five

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O filme biográfico “Jobs”, lançado em 2013, é dirigido por Joshua Michael Stern e tem foco nos primeiros anos de Steve Jobs como um jovem que revolucionou o mercado de tecnologia. Toda a trama foi baseada em fatos reais, e retrata a vida do cofundador da Apple, abordando alguns momentos cruciais da carreira dele, mostrando seus pontos fracos e a audácia visionária deste homem que revolucionou o mundo. 

No filme, podemos observar os primórdios da empresa Apple sendo criada, desde sua fundação, na garagem do pai de Steve. Ele queria desenvolver algo único, uma ferramenta para o coração. Falou em um dado momento do filme que quando algo toca o coração ou as emoções das pessoas, não há limites para o que pode acontecer.

     

Fonte: encurtador.com.br/uvAFT

Aparece ele na faculdade em 1974, perdido. Se enxergava sem talento, e via um diploma como perda de tempo. Para ele estava claro que ele não precisava deste tipo de validação ou esta busca por segurança. Em um momento o filme traz a questão do abandono, pois seus pais não eram os pais biológicos, e dá a entender que ali havia alguma raiz de sofrimento.

“Eu não tinha ideia do que queria fazer com minha vida e não sabia como a faculdade poderia me ajudar a descobrir isso”, declarou em 2005, durante um discurso de formatura na Universidade Stanford. “Então preferi sair e acreditar que tudo ficaria bem com o tempo… Foi assustador no começo, mas hoje vejo que foi uma das melhores decisões que já tomei.”

Ele foi incrivelmente visionário. Juntamente com os seus amigos, criaram o primeiro computador doméstico do mundo, e chamaram de computação pessoal. Saíram de um fundo de quintal para uma mega estrutura, e transformaram esta e outras mercadorias criadas por eles por algo muito desejado, com alto valor de status social, tornando sua visão revolucionária em realidade.

Fonte: encurtador.com.br/gkGN4

Mas tudo isso teve um custo muito alto. No filme mostra como seus relacionamentos mudaram radicalmente, ele chegou a negar a paternidade e expulsar sua namorada de casa, pois não tinha tempo para isso sendo que a empresa estava deslanchando.

Uma definição trazida para ele pela revista Exame/Galileu: Genial, disléxico, perfeccionista, obsessivo e inflexível.

Durante o longa metragem, Jobs é retratado como alguém que enfrenta dificuldades para lidar, conviver e dialogar com as pessoas ao seu redor, incluindo seus colegas de trabalho e familiares. Ao mesmo tempo, são ressaltadas suas muitas habilidades e iniciativas para criar, identificar talentos, liderar e negociar dentro da sua empresa.

Uma análise feita por Bert Mc Brayer, da Universidade da Pensilvânia, dentro da estrutura da Teoria de Personalidade Big Five, conclui que a história provavelmente pintará Jobs como um inovador, mas provavelmente não o incluirá no panteão dos líderes do povo. 

O Big Five, que também é conhecido como Modelo dos Cinco Grandes Fatores, surgiu por meio dos estudos da Teoria dos Traços de Personalidade, desenvolvida em 1949 por D. W. Fiske (1949) e posteriormente ampliada por outros pesquisadores, incluindo Norman (1967), Smith (1967), Goldberg (1981), e McCrae & Costa (1987) no qual descreve as dimensões humanas básicas. 

 

Fonte: encurtador.com.br/bmyQ7

Os traços de personalidade Big Five são as medidas de personalidade cientificamente mais aceitos e mais comumente utilizados e têm sido extensivamente pesquisados. De acordo com Northouse (2015) os 5 fatores são: neuroticismo, extroversão, abertura para a experiência, conscienciosidade e agradabilidade.

Usando este modelo, especialmente quando aplicado à liderança, dá para perceber onde o estilo de liderança de Steve Jobs se encaixa nas várias dimensões da personalidade.

Neuroticismo

Northouse descreve o neuroticismo como, “A tendência de ficar deprimido, ansioso, inseguro, vulnerável e hostil ”(2015, p.27). O neuroticismo é o único dos cinco fatores que não é positivamente correlacionado com o sucesso da liderança. Embora a paixão de Jobs por seu trabalho às vezes resultasse em exibições de hostilidade para com seus funcionários, as suas análises bibliográficas trazem que ele dificilmente era inseguro em seu trabalho.

Histórias sobre os traços de personalidade nada agradáveis ​​de Jobs, incluindo acessos de raiva épicos e mau comportamento circulam há anos. No entanto, essas histórias normalmente giram em torno de uma tendência perfeccionista para o trabalho de Jobs, em vez de depressão ou insegurança.

De acordo com Toma & Marinescu, “Como um perfeccionista, ele nunca desistiu e sempre buscou seus sonhos ” (2013, p. 267). Jobs estava tão focado no sucesso dos produtos de suas empresas que ele pressionava muito seus funcionários (SHARMA & GRANT, 2011).

Extroversão

Indivíduos extrovertidos são aqueles que exibem fortes habilidades sociais, mantêm uma postura otimista e tendem a ser autoconfiantes em sua abordagem para o trabalho (NORTHOUSE, 2015). 

Extroversão é o fator que está mais positivamente associado ao surgimento e eficácia da liderança. Steve Jobs mostrou sua natureza extrovertida desde o início de sua vida profissional. Isto é exemplificado na história de Isaacson (2012) em uma matéria para a revista Harvard Business Review sobre o foco de Steve Jobs.

Quando Jobs voltou para a Apple em 1997, ela estava produzindo uma série aleatória de computadores e periféricos, incluindo uma dúzia de versões diferentes do Macintosh. Depois de observar algumas semanas de sessões de avaliação do produto, ele finalmente teve o suficiente. “Pare!” ele gritou. “Isso é loucura.” Ele pegou um pincel atômico, e desenhou em quadro branco duas linhas horizontais e duas verticais. “Aqui está o que precisamos”, declarou ele. No topo das colunas, ele escreveu “Consumidor” e “Pro.” Ele rotulou as duas linhas verticais de “Desktop” e “Portátil”. O trabalho deles, ele disse à sua equipe, deveria se concentrar em quatro grandes produtos, um para cada quadrante. Todos os outros produtos deveriam ser cancelados. 

Obviamente, Jobs tinha uma visão definitiva para simplificar e concentrar todos os recursos da empresa em quatro produtos em vez de dezenas. A maneira como ele poderia articular essa visão e persuadir outros que era a coisa certa a fazer, é um grande exemplo de extroversão na prática. Alguém pode ver como Jobs usou suas fortes habilidades de comunicação, juntamente com um excelente senso de planejamento, para traçar um plano detalhado para o sucesso da Apple.

Fonte: Fonte: encurtador.com.br/PQTY8

Abertura para a experiência

Um indivíduo que mantém a mente aberta para novas experiências tende a ser mais criativo e curioso no seu dia-a-dia de trabalho (JUDGE, et al, 2002; NORTHOUSE, 2015). De acordo com Judge, et al. (2002), “A abertura correlaciona-se com o pensamento divergente” (p. 768). Ao olhar para a carreira de Jobs, é difícil argumentar que ele não teve altos níveis de abertura. Na verdade, abertura a novas experiências e criatividade são marcas registradas do estilo de liderança de Jobs, bem como sua personalidade em geral (ISAACSON, 2012). Em nenhum lugar isso é mais evidente do que no início de sua vida adulta. Imediatamente após seu abandono da faculdade, Steve Jobs conseguiu um cargo na Computadores Atari. Depois de trabalhar lá por um tempo e economizar dinheiro, Jobs decidiu que queria fazer uma mochila pela Índia e mergulhar no estudo do Zen Budismo (TOMA & MARINESCU, 2013). Essa abertura para uma nova experiência – e imersão na Índia – levou Jobs a um dos lemas mais reconhecidos dos produtos Apple, que é manter as coisas simples. Ele se voltou para simplicidade e fugiu da complexidade, e dessa forma conquistou os consumidores que aprendem facilmente a manusear os produtos sem grandes dificuldades.

Conscienciosidade

Aqueles que têm um alto nível do traço de conscienciosidade têm uma gestão de fortes capacidades. Eles traçam um plano detalhado, trabalham muito no que fazem e são confiáveis ​​em suas obrigações. Além disso, de acordo com Judge et al., características como organização, confiança e iniciativa estão fortemente relacionadas à liderança (2002). Alto conscienciosidade está correlacionada ao um desempenho total no local de trabalho, e também está relacionada ao eficácia – ou ineficácia – do líder (JUDGE, et al., 2002).

Amabilidade

Se alguém é compassivo com os sentimentos dos outros, amigável e otimista, eles estão exibindo níveis mais elevados de agradabilidade. Este fator é particularmente útil para líderes, pois beneficia aqueles que trabalham em grupos e em equipes (JUDGE et al., 2012). De acordo com Toma & Marinescu (2013), Jobs “realmente sabia o que queria e conseguiu transformar seus sonhos na realidade” (p. 266). Ele conseguiu isso desafiando seus funcionários e fornecendo estímulo, além de exercer sua capacidade de encorajar seu pessoal a realizar tarefas que outros achavam que era impossível (TOMA & MARINESCU, 2013). No entanto, apesar deste aparentemente alto nível de força motivadora, Jobs era conhecido por nem sempre possuir um traço agradável. Tinha baixa empatia e polidez. Um dos descritores disso está na explicação de Isaacson de que a visão de mundo de Jobs era muito “binária” (STEINWART & ZIEGLER, 2014). “As pessoas eram‘ iluminadas ’ou ‘idiotas’. Seu trabalho era ser ‘o melhor’ ou ‘totalmente uma merda’ ”(STEINWART & ZIEGLER, 2014, p. 62). Bywater (2011) sugere que essa forma de pensar preto ou branco era equivalente a um “relacionamento abusivo” (parágrafo 12) com seus funcionários. “Homens adultos foram reduzidos às lágrimas por ele … Mas quando ele disse ‘Isso é realmente ótimo’, você se sentiu como um semideus” (BYWATER, 2011, para 11). Embora Jobs frequentemente pudesse motivar os seguidores a trabalharem duro, não era necessariamente de um ponto de vista agradável.

O que parece ter tornado Jobs único foi seu notável foco, combinados com a criatividade proporcionada por um intelecto acima da média e uma abertura ao novo extremamente alta. Steve era focado no produto e não nas pessoas e pode ter se retirado da “cicatriz” de sua rejeição quando criança para os infinitos detalhes do design do produto e do esforço artístico.

Foi um homem visto com muitas facetas controversas: perfeccionista em excesso, explosivo, zen, egoísta, aficionado por situações adversas, cheio de dons artísticos, que deixou um legado de uma verdadeira revolução, trago aqui algumas palavras ditas pelo personagem no filme que trazem reflexão sobre o modo de viver:

Quando crescemos dizem que o mundo é do jeito que é, que você só deve viver sua vida dentro do mundo e tentar não se debater demais contra as paredes. 

Mas essa vida é muito limitada.

A vida pode ser muito mais ampla depois que você descobre um simples fato: 

Tudo a sua volta, que você chama de vida, foi feito por pessoas não mais inteligentes que você. 

E você pode mudar isso. Pode influenciar. Pode construir suas próprias coisas, que outros podem usar. 

É algo para afastar essa noção errônea de que você só vai viver a vida em vez de abraçá-la.

Mude-a. melhore-a. deixe sua marca nela. 

E quando aprender isso… você nunca mais será o mesmo.”

Fonte: encurtador.com.br/drtCY

Referências:

GALILEU. Você tem que…mergulhar na personalidade complexa de Steve Jobs. In: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI275533-17935,00-VOCE+TEM+QUEMERGULHAR+NA+PERSONALIDADE+COMPLEXA+DE+STEVE+JOBS.html

SHARMA, A., & GRANT, D. (2011). Narrative, drama and charismatic leadership: The case of Apple’s Steve Jobs. Leadership, 7(1), 3-26. doi:10.1177/1742715010386777

TOMA, S., & MARINESCU, P. (2013). Steve Jobs and modern leadership. Manager, 17(1), 260-269.

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Por que fazemos o que fazemos? – Uma reflexão acerca da motivação

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Qual é o propósito de tudo o que fazemos? O objetivo desta reflexão é buscar ter uma consciência mais aguçada em relação às razões que nos levam a fazer ou a deixar de fazer certas coisas, com base no livro do filósofo e escritor brasileiro Mario Sergio Cortella.

O livro, publicado pela Editora Planeta do Brasil, traz dentro dos seus 20 capítulos, pontos acerca da relevância do propósito no âmbito do trabalho, e como a busca por ser reconhecido e valorizado vai muito além do ganho salarial. Na capa está estampado o desenho de um alvo, remetendo a um objetivo, uma pretensão, algo que se almeja alcançar. No decorrer da leitura, nota-se que ele escreve mais voltado para o ramo empresarial, mas de forma alguma impede que as reflexões sejam levadas para outras áreas de nossas vidas a partir de diferentes associações e interpretações.

A palavra “propósito” em latim significa “aquilo que eu coloco adiante”.

O que estamos buscando? A clareza sobre esta questão dá mais sentido a nossa existência. No primeiro capítulo já nos é apresentada que a ideia de uma vida com propósito retoma um princípio do pensador alemão Karl Marx, do séc. XIX: a recusa à alienação. Alienado é aquele que não pertence a si mesmo. Uma pessoa alienada é alheia a algo. Ela não faz nada com intenção, não têm consciência direta no que produz, está vivendo automaticamente. No trabalho alienado, desumanizado, não existe a percepção autoral.

Fonte: encurtador.com.br/aor89

Atualmente, no ramo organizacional, a consciência do que se faz e o porquê é algo de muito valor. As empresas inteligentes incentivam isso nos funcionários, pois produz engajamento e inovação, que sejam pensadas outras formas de se fazer aquilo que se faz cada vez melhor. Não simplesmente fazer um trabalho de forma robótica e automática. No capítulo 3, “Odeio segunda feira”, aborda como a situação profissional e o desgosto com ela são as grandes causadoras do ódio coletivo à este dia. Na verdade quando a pessoa não se encontra naquilo que faz, precisa rever os propósitos que tem para aquilo que está fazendo. O propósito reordena as nossas ações.

Steve Jobs dizia “que a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz”. Sim, mas o autor traz a reflexão de que é mais fácil procurar gostar daquilo que se faz do que fazer o que gosta.

É possível ser feliz na empresa?

Segundo Cortella, a felicidade não é possível em lugar nenhum de maneira inteira, exclusiva, hegemônica. Há uma grande obsessão pela ideia da felicidade, e as pessoas acabam vivendo mais a expectativa do que a realização. O autor aborda no capítulo 10 sobre a ética do esforço, que a fixação hedonista de que encontrar prazer no mundo do trabalho, na empresa, é fora de propósito. Que quem entra no circuito do trabalho achando que irá encontrar um prazer imenso acaba se frustrando rapidamente. Porque trabalhar dá trabalho. O prazer de um trabalho bem realizado muitas vezes é a consequência de eventos anteriores não tão gratificantes. Como por exemplo, enquanto estou escrevendo esta resenha (em pleno sábado), estou abdicando de algo que no momento poderia ser muito mais prazeroso. No capítulo 12 ele traz o questionamento “por que eu faço o que faço”? E traz outra pergunta na sequência: “Por que não faço o que não faço?” nos mostrando que não há escolha sem exclusão, não há decisão sem abdicação. Se eu entendo a minha vida como resultante de opção livre, consciente, deliberada, intencional, todas as vezes que escolho, sei que deixo outras coisas de lado.

No contexto da psicologia, há uma diversidade enorme nos conceitos de motivação, e tais conceitos abordados de maneiras muito diferentes.

Vernon (1973) traz um conceito de motivação logo na primeira página do seu livro: Motivação Humana.

“A motivação é encarada como uma espécie de força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações mais importantes. Contudo, é evidente que motivação é uma experiência interna que não pode ser estudada diretamente”. (Vernon, 1973, p.11).

No início do trecho citado, motivação é uma força sem que se especifique de que natureza. Logo após, a motivação é tida como uma experiência interna, algo que sentimos e ninguém pode observar. No senso comum, costumamos utilizar esses dois significados como dois aspectos de um mesmo fenômeno. Motivação é uma força interna que nos leva a agir, e por ser interna só nós mesmos a podemos sentir.

Fonte: encurtador.com.br/owJS4

Para finalizar este resumo sucinto do livro, que em suma trata dos pilares do entendimento do ser humano como um ser que trabalha e se sustenta, levando em consideração alguns pontos que despertaram mais interesse, percebo que algumas questões estão atreladas ao surgimento da motivação, como estar em um ambiente onde haja aprendizado, pois aprendizado gera crescimento. Além disso, ter desafios a serem cumpridos e conseguir conquistar metas, fazem o sujeito se sentir competente, e isto é algo extremamente gratificante, principalmente quando há o reconhecimento desse esforço no dia a dia.

As insatisfações com o labor podem ser revistas a partir de algumas reflexões, se buscadas por uma lógica de trabalhar não apenas para o seu sustento, ou pagar as contas, e sim que seja algo socialmente relevante, que o esforço do trabalho repercuta em algo melhor ou um bem maior, algo de valor que não seja mensurado em números, mas sim que o sujeito se identifique e sinta que há um propósito positivo por trás disso, ou seja, que essa força que nos faz levantar e prosseguir, essa capacidade interna que nos faz agir nos alcance, para que possamos obter maior qualidade de vida não só dentro das organizações, mas em toda a amplitude da nossa existência.

Mario Sergio Cortella é um filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro. É autor de vários livros, entre os quais Por que Fazemos o que Fazemos?, em que analisa a vida profissional na contemporaneidade.

FICHA TÉCNICA 

Título: Por que Fazemos o que Fazemos?
Autor: Mario Sergio Cortella
Editora: Planeta
Páginas: 174
Ano: 2019

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