As transformações tecnológicas e a ascensão dos relacionamentos líquidos

O advento de novas tecnologias mudou a concepção de tempo para a sociedade. As reuniões de trabalho podem ser feitas simultaneamente, aos quatros cantos do mundo, e para conhecer alguém não é preciso sair de casa, basta somente instalar um aplicativo de relacionamentos no celular. As conversas em frente à porta de casa foram transferidas para os grupos de WhatsApp, assim é o mundo pós-moderno, em que tudo é muito rápido e pouco duradouro. Esta percepção sobre os relacionamentos é explicada pelo sociólogo Zygmunt Bauman (2007), o qual observa que a sociedade vive em um tempo líquido, em que nada dura. Ou seja, tudo é passageiro. Uma crítica a superficialidade das relações que vão embora como água no ralo.

 Conforme Bauman (2009), o que importa é a velocidade e não a duração dos fatos, ou seja, dos relacionamentos.  Ainda aponta que a valorização do indivíduo em detrimento do coletivo também é característica dessa sociedade líquida que vive em constante autocrítica, autoexame e autocensura. (Bauman, 2009). Para o sociólogo, as mudanças comportamentais seguem as renovações tecnológicas, ou seja, uma transformação constante. Isto é, uma sociedade que precisa viver o instantâneo, sem a necessidade de criar uma base sólida, pois o que importa não é a construção em si, mas o auge do momento, mesmo que seja segundos.  

Nessa linha de pensamento, Oliveira (2015) destaca que “as condições tecnológicas e modernas de vida fazem com que os indivíduos se deparem com uma grande variedade de escolhas ou experimentos”. Situação que interfere no dia a dia da humanidade, desde sua forma de comer, vestir e agir (Oliveira, 2015). Ou seja, a expressão de vida de uma pessoa tem sido determinada pela tecnologia que influencia sua forma de lidar com os outros, bem como a expansão ao acesso digital, que a cada dia tem alcançado também a terceira idade (Oliveira, 2015)

Para Martinez (1998) os relacionamentos atuais podem fazer surgir um vazio o qual não será preenchido, pois na ética do prazer imediato e rápido não existe lugar para grandes investimentos amorosos o que pode frustrar o sujeito. Martinez (1998). Sobre esse pensamento, Jablonski (2001) admite que as variáveis sociais exerçam impacto nas relações de conjugalidade, como a modernização, a urbanização da sociedade, a diminuição dos membros que compõem uma família. A valorização do individualismo, o aumento da expectativa de vida, a valorização cultural do amor são outros posicionamentos que explicam a fragilidade dos relacionamentos. Jablonski (2001)

Fonte: Freepick

Lipovetsky (2004) afirma que apesar das relações atuais serem frágeis, os ideais de relacionamento estável, duradouro não foram descartados pela sociedade. Ou seja, as pessoas desejam ter relações amorosas sólidas, em detrimento do relacionamento líquido exposto por Bauman, mas admite que existe uma ausência de referência normativa sobre relacionamentos fortalecidos, o que pode ser traduzido pela mídia, que diariamente traz o divórcio de celebridades estampadas na capa das revistas eletrônicas.  Nesse sentido, o telespectador, leitor são bombardeadas com esse tipo de informação, cotidianamente. 

A fragilidade do ser humano pode ser explicada pela sua falta de entidade em diversos momentos de sua trajetória, bem como a influência dos noticiários, em especial, o que é exposto na internet. Bauman (2004) ao expor uma sociedade líquida, temporária, sem nenhuma solidez, expõe a problemática dos relacionamentos superficiais, em que as pessoas desejam viver o lado bom, em detrimento ao momento ruim, por isso tudo é líquido como água do rio, que sempre está indo para algum lugar.  Não há um tempo para criar raízes e aprofundar os sentimentos, por isso a sociedade vive em constante insatisfação. Tudo é líquido, mas todos querem o sólido, mas não querem pagar o preço. 

Fonte: Freepick

Referência

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, 2001. Jorge Zahar.

BAUMAN, Zygmunt.  Vida Líquida. Rio de Janeiro, 2009. Jorge Zahar.

JABLONSKI, Bernardo. Atitudes frente à crise do casamento (2008)

LYPOVESTSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.

MARTINEZ, Marlene Castro Waideman. Sexualidade – família – AIDS. Na família e no espaço escolar contemporâneo. São Paulo: Arte e ciência, 1998.

OLIVEIRA, Diego. A terceira idade e os relacionamentos líquidos nas redes sociais(2015).