Quais aprendizados absorver a partir do Comportamento da personagem Emília?

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Ana Paula de Lima Silva – ana.paulalms@rede.ulbra.br

Caricatura de Monteiro Lobato, autor da obra “Sítio do Picapau Amarelo”.
André Koehne, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

O Sítio do Pica-pau Amarelo é uma das obras de Monteiro Lobato e é sua obra de maior destaque na literatura infantil, Lobato foi um dos primeiros autores da literatura Infantil do Brasil e da América Latina. A literatura infantil de Monteiro Lobato apresenta um aspecto moralista e pedagógico, alguns anos essa obra foi levada à televisão no seriado O Sítio do Pica-pau Amarelo, onde bonecas falam, crianças convivem com mitos e fábulas entre os personagens criados por Lobato, destacam-se Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho, Tio Barnabé, Visconde de Sabugosa Saci, a Cuca, Narizinho e sua boneca falante Emília.

A boneca de pano Emília, foi feita por tia Nastácia para a menina Narizinho, ela era muda, porém, após tomar a pílula falante, Emília se tornou muito comunicativa e suas características são: Tagarela, curiosa e egoísta, donas de opiniões fortes. Ela comete birras, malcriação, teimosia e espertezas, fala o que pensa e quando é chamada a atenção finge demência e não teme a nada, é cheia de vontades, ela também deixa os dias de Narizinho muito mais divertidos e cheios de aventuras.

Segundo Skinner o condicionamento operante é um método de aprendizagem que ocorre por meio de reforços e punições. Através do comportamento operante, uma associação é feita entre um comportamento é uma consequência para esse comportamento, quando o resultado desejado segue uma ação o comportamento torna-se mais provável de ser emitido novamente em outra ocasião parecida.

Emília é uma personagem que não usa o controle inibitório com cautela, ou seja “fala o que pensa”, é um pouco autoritária e tem dificuldade de lidar com opiniões contrárias às suas. É querida por todos no Sítio e é reforçada frequentemente por esses comportamentos inadequados, os quais só tendem a acontecer em outros momentos, pelo fato de a mesma receber atenção ao emitir tais comportamentos.

Pesquisas demonstram que histórias infantis podem influenciar o comportamento.
Imagem de Катерина Кучеренко por Pixabay

Pesquisas apontam que histórias infantis podem ter função de instrução, pois são estímulos verbais que podem controlar determinados comportamentos. (Almeida, Bataglini, & Verdu, 2009). A literatura Infantil, pode ser objeto de apreciação, ela favorece criar contextos lúdicos e discutidos conceitos importantes para a cultura, como o certo ou o errado, o bem e o mal (Vasconcelos, 2008) Comportamentos inadequados dos personagens são geralmente punidos nas estórias educativas, evitando que se tornem modelos de ação, pois comportamentos apropriados e reforçados terão maior probabilidade de serem reproduzidos. 

Narizinho até levantou a hipótese de que Emília se tornou assim após ingerir uma pílula falante e talvez se o dr. Caramujo fizesse ela vomitar a pílula e recebesse uma dose mais fraca, Emília falasse menos e fosse menos desobediente. Algumas das características dos comportamentos apresentados pela personagem envolvem risco de reação indesejável, produzindo consequências positivas para si e não para os demais do grupo social a qual está inserida. 

É esperado na fase inicial infantil que a criança viva a fase do egocentrismo, ela entende o mundo a partir da vivência dela, e ainda não tem a capacidade de se colocar no lugar do outro de pensar e chegar à conclusão de que uma atitude dela pode prejudicar o outro, na medida que a criança vai crescendo cognitivamente ela tende a receber instruções de adultos e perceber o que pode e o que não pode ser feito, esses comportamentos geralmente são aprendidos por meio da modelagem.

Mesmo diante das relações comportamentais responsáveis pela aprendizagem de um determinado comportamento, há que se levar em consideração também o processo de modelação, sendo provável que os comportamentos de Narizinho tenham a função de modelo de agressividade para Emília, pois a presença de Narizinho pode eliciar um estímulo discriminativo para a resposta agressiva da boneca Emília.

Por outro lado, essa punição também não garante um novo repertório (Skinner, 1953/2007), mais assertivo, caso não esteja associada com modelagem, instruções de um repertório apropriado. Entende-se que alguns comportamentos de Emília poderiam ser considerados importantes no repertório de crianças e jovens que leem as histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo, porém outros comportamentos dessa personagem poderiam facilitar a aprendizagem de padrões de comportamentos agressivos.

A partir de uma Análise Funcional do comportamento as birras podem ser trabalhadas e novos comportamentos serão aprendidos.
Imagem de 帆 张 por Pixabay

É de fundamental importância que tanto o egocentrismo como as birras devam ser trabalhados com naturalidade, por meio de brincadeiras e material concreto para que possa fazer sentido para a criança e assim absorver o significado do compartilhar e de lidar com o outro, pois para Skinner, o comportamento é controlado é influenciado por suas consequências. A partir de uma análise funcional do comportamento pode-se investigar o antecedente, a resposta e a consequência de determinados comportamentos e o que fazer para aumentar ou diminuir a probabilidade dele se manter.

Todo e qualquer comportamento tem uma função no repertório comportamental do indivíduo, o ser humano opera no ambiente provocando modificações nele que por sua vez age modificando padrões comportamentais. Atualmente existem diversas técnicas terapêuticas eficazes baseadas no behaviorismo que permite que pesquisadores possam investigar o comportamento observado de maneira científica e sistemática, dentre essas abordagens a Terapia Comportamental é muito útil na mudança de comportamento desajustados em crianças e adultos.  

No caso específico das estórias de Emília, a análise sobre consequências imediatas e prováveis, em médio e longo prazo, podem contribuir para refinar regras sociais e valores culturalmente estabelecidos, bem como os padrões de comportamentos sociais valorizados, reprovados e tolerados pelo grupo.

Referências

DEL P. A., & DEL P. Z. A. P. (2003). Assertividade, sistema de crenças e identidade social. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 9, 125-136.

VASCONCELOS, L. A. (2008). Brincando com histórias infantis: Uma contribuição da análise do comportamento para o desenvolvimento de crianças e jovens. Santo André, SP: ESSEtec.

ALMEIDA, C. G. M., BATTAGLINI, M. P., & ALMEIDA, V. A. C. M. (2009). Comportamento verbalmente controlado: Algumas questões de investigação do controle por estímulos textuais e pela palavra ditada. In T. G. M. Valle (Eds.), Aprendizagem e desenvolvimento humano: Avaliações e intervenções (pp. 9- 32). São Paulo: Cultura Acadêmica.

ARANTES, A. K. L., & ROSE, J. C. (2009). Controle de estímulos, modelagem do comportamento verbal e correspondência no Otelo de Shakespeare. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 11, 61-76.

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Desafios da formação em ensino superior na rede de ensino pública

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O ato de aprender carrega singularidades e desafios que devem ser considerados no processo de formação, aspectos econômicos, sociais, culturais e geográficos são alguns dos elementos que podem estar diretamente associados ao nível de escolaridade alçado e à valorização da formação acadêmica como estratégia de superação da realidade. Fica a pergunta: como se formar em meio a tantos desafios?

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes estudantes, da rede pública e privada para falarem sobre os desafios da formação acadêmica no Brasil. Nesta série de entrevistas eles falam sobre trajetória acadêmica, os aprendizados e os desafios que ainda precisam ser superados. As narrativas nos mostram o cenário atual de precarização não só das estruturas de formação, mas também do baixo índice de criticidade e autonomia dos alunos sobre seu processo de formação. Precisamos (re) aprender a aprender.

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de aprender livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados e das instituições de ensino. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, estudantes da rede pública e privada de nosso país.

A entrevistada de hoje cursa Pedagogia, no estado do Tocantins. De forma clara, a mesma relatou abertamente sobre a sua trajetória até a graduação. Percebe-se a importância que a estudante atribui ao ensino, mas também deixa claro que existem pontos negativos, que podem afetar diretamente na saúde dos estudantes.

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

(En)Cena: Qual a importância da graduação na sua vida?

Estudante: Eu considero uma vitória, pois na minha casa estou sendo a primeira a fazer uma graduação, meus pais não tiveram essa oportunidade e eles me apoiam e celebram muito a cada semestre graduado. Além de uma realização pessoal, sei do valor que há um curso de nível superior nesse processo de competitividade no mercado de trabalho. Quero ocupar um espaço onde profissionalmente eu me sinta preparada para exercê-lo e também dê continuidade a formação após esse ciclo atual.

(En)Cena: Como você acha que a universidade te auxilia para alcançar seus objetivos de vida?

Estudante: Acredito que o conhecimento abre portas e nos conduz aos lugares que almejamos, entendo que a faculdade seja uma facilitadora, um “degrau”  para o futuro que desejo, então, sim, a universidade me auxilia nesse processo de conquista pessoal..

(En)Cena: O que você acha do modelo de ensino vigente?

Estudante: Acho que poderia ser melhor, no sentido de ser mais dinâmico e prático, acredito  também que tem outras maneiras de “medir” o aprendizado de alguém sem necessariamente fazer uma prova para isso. Tenho aprendido sobre isso nesse processo de formação com professores que estabelecem uma prática para além daquilo que é o comum e esperado, e isso me inspira como futura profissional na área da educação. O modelo pode e precisa ser expandido, e isso não invalida o processo, pelo contrário, enriquece-o.

(En)Cena: Você enxerga o contexto acadêmico como inclusivo?

Estudante: Sendo sincera, poderia ser bem melhor, ainda existe um grande desequilíbrio a respeito de quem consegue ter acesso a universidade comparado aqueles que não conseguem entrar por vários fatores e contextos, é visível a “desigualdade” nesse sentido, e quando se consegue essa inserção ainda há inúmeros desafios desde a pessoas que portam alguma necessidade específica a também os universitários que não possuem condições econômicas mínimas para que dêem continuidade ao processo de graduação..

(En)Cena: Você acha que a universidade pode afetar a saúde mental dos estudantes?

Estudante: Sim, particularmente já vivi algumas situações não tão legais, com professores que acabam sendo bem autoritários e tem a questão do excesso de atividades, esses pontos acabam gerando um desgaste emocional e mental.

(En)Cena: Como foi seu trajeto até chegar na Graduação?

Estudante: Eu estudei em escola pública a vida inteira, tive inúmeras experiências boas e também ruins, algumas dessas experiências foram limitantes,  mas também tiveram aquelas que foram potencialmente validantes, e quando chegou a hora de pensar em ingressar no Ensino Superior eu me vi diante de algumas opções de instituição de ensino e entendi que antes de pensar em qual entrar eu precisava me preparar muito para o ENEM,  realmente tinha a necessidade de passar numa faculdade pública ou conseguir alguma bolsa, se fosse de outra forma não conseguiria estar na graduação no momento, foi um desafio, está sendo um desafio, mas olho para todo esse trajeto e celebro, pois apesar de tudo o ensino público nos oportuniza espaços em lugares onde podemos sim realizar nossos sonhos.

(En)Cena: Há algum ensinamento que você aprendeu em sala de aula e que leva para vida?

Estudante: Sem dúvidas, aprendi muito sobre perseverança, sobre acreditar em mim, e sobre respeito a mim e aos meus limites, como também aprendi e aprendo sobre respeito ao outro e sua história de vida e particularidades no processo. Entendo que esse entendimento supera qualquer um outro, pois é onde baseiam os demais saberes, precisamos olhar para quem éramos, quem somos, e quem desejamos ser, e isso precisa passar também pelo próximo. O mercado de trabalho precisa ser pautado pela ética profissional, e isso é possível quando me vejo e enxergo o outro como um ser humano em seu processo de contínua formação.

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Desafios da formação em mestrado na rede de ensino pública

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O ato de aprender carrega singularidades e desafios que devem ser considerados no processo de formação, aspectos econômicos, sociais, culturais e geográficos são alguns dos elementos que podem estar diretamente associados ao nível de escolaridade alçado e à valorização da formação acadêmica como estratégia de superação da realidade. Fica a pergunta: como se formar em meio a tantos desafios?

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes estudantes, da rede pública e privada para falarem sobre os desafios da formação acadêmica no Brasil. Nesta série de entrevistas eles falam sobre trajetória acadêmica, os aprendizados e os desafios que ainda precisam ser superados. As narrativas nos mostram o cenário atual de precarização não só das estruturas de formação, mas também do baixo índice de criticidade e autonomia dos alunos sobre seu processo de formação. Precisamos (re)aprender a aprender.

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de aprender livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados e das instituições de ensino. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, estudantes da rede pública e privada de nosso país.

O entrevistado nessa oportunidade é um estudante de Mestrado da  Rede Pública onde o mesmo conta um pouco do seu trajeto até o mestrado, pontuando a formação atual como uma oportunidade não só de apenas mais um passo dado, mas relata sobre a satisfação pessoal na área da pesquisa e no quanto isso pode facilitar outros estudantes em seus processos. Essa é uma entrevista rica de experiências que vale a pena conferir.

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

(En)Cena: Qual a importância da graduação na sua vida?

Estudante: Eu vejo a pós-graduação por dois lados: no primeiro, ela é importante pois é um dos passos na carreira acadêmica que desejo prosseguir, enquanto consigo trabalhar na minha área de formação e com algo que eu me interesso. Apesar de surgir dúvidas relacionadas aos próximos passos, ainda mais considerando que o trabalho de pesquisador do Brasil não é tão valorizada (ao mesmo tempo que é exigido dedicação integral, a bolsa paga pelo Estado é bem baixa e está sem reajuste a quase 10 anos), o plano de seguir no Doutorado e lecionar se mantém. Caso deseje seguir uma carreira no mercado de trabalho geral, o título oferecido pela graduação também será fundamental para me validar. Pelo segundo lado, me sinto mais útil desenvolvendo pesquisa que ajudará pessoas fora da Universidade, me faz sentir que esteja fazendo alguma diferença, e retornando ao meu país o investimento dado a mim.

(En)Cena: Como você acha que a universidade te auxilia para alcançar seus objetivos de vida?

Estudante: Agradeço muito ao meu orientador pelo suporte e confiança que ele me dá e ao meu trabalho. Considero isso um dos maiores auxílios da universidade, pois me ajuda a me organizar em alcançar meus planos futuros e também como exemplo de conduta e gerenciamento de tempo, pesquisa e networking. Obviamente, o título também auxiliaria como uma forma de validação externa da minha pesquisa para os próximos passos, porém adiciono que algumas disciplinas mudaram um pouco como eu via o fazer ciência em um modo geral, e isso é importante para ser um bom pesquisador no geral. Na graduação eu não tinha essa visão tão clara como tenho agora na pós; nunca por exemplo me passaria na cabeça que uma pesquisa que não tenha um resultado melhor do que o presente no estado da arte tem a mesma importância que uma que avance o conhecimento atual, mas saber que algo não funciona (caso ninguém nunca tenha tentado) também é importante para poupar os próximos pesquisadores da sua área.

(En)Cena: O que você acha do modelo de ensino vigente?

Estudante: Um lado bom e ruim ao mesmo tempo é que tanto para o mestrando quanto para o doutorado é comum você fazer boa parte do trabalho por si mesmo, sem cobranças cotidianas e podendo escolher o seu próprio ritmo. Por um lado bom, esse modelo de ensino no mestrado é bem mais flexível, as matérias obrigatórias ocupam bem menos tempo da semana pois seu foco deve ser justamente na defesa de que você sabe fazer uma pesquisa (a partir da minha experiência pessoal e individual). Porém, ao mesmo tempo, você fica sem guia e tem que aprender algumas coisas na base da tentativa e erro, dependente da sorte de ter um orientador mais presente ou não. Apesar de eu ter tido a sorte de ter um que caso eu queira marcar uma reunião abre um espaço na agenda para mim, já ouvi casos de mestrandos que estavam a mais de 2 meses sem conseguir se comunicar mesmo mandando e-mail e mensagens. E no mestrado, o senso de comunidade entre os discentes é bem menor do que durante a graduação, já que as pessoas com que você faz as poucas aulas necessárias estão em projetos diferentes do seu e o convívio conjunto é menor.

(En)Cena: Você enxerga o contexto acadêmico como inclusivo?

Estudante: Não. Apesar de que o ingresso na universidade em si não ser exclusiva, permitindo que pessoas das mais diversas origens possam entrar no curso, acho que falta um suporte para os alunos e um auxílio de permanência estudantil. Tive colegas de turma que por exemplo não tiveram uma base teórica e matemática forte em suas graduações, e alguns ficaram desanimados por não estarem compreendendo bem as aulas e decidiram largar o mestrado. Acho que aliado a isso, após o ingresso é comum o aluno não encontrar muito com o orientador até as disciplinas obrigatórias serem cumpridas (eu tive a sorte que tinha feito meu estágio com o meu orientador, mas vi casos de colegas que ficaram quase um ano perdidos). Acho que falta um pouco que o corpo docente entenda que às vezes a presença e auxílio são importantes para evitar a exclusão dos alunos, ainda mais para ajudar os com mais dificuldades de aprendizado, pelo menos recomendando material para estudo.

(En)Cena: Você acha que a universidade pode afetar a saúde mental dos estudantes?

Estudante: Sim, pois aliado a essa falta de acompanhamento, os prazos para entrega estão sempre como uma nuvem beirando os mestrandos, incluindo uma baixa remuneração neste conjunto de preocupações universitárias. Caso o aluno esteja com dificuldades, essa pressão constante pode até alimentar um ciclo de estar nervoso demais para produzir, porém o nervosismo vem pela falta de produção de resultados. Para alunos que conseguem trabalhar e publicar muito (como no caso de um amigo), o problema toma outra dimensão: os orientadores deles podem achar que esse ritmo é saudável e o aluno menos assertivo, e em uma relação menor de poder, acaba submetendo-se a uma carga de trabalho que ocupa até mesmo as noites e os finais de semana. A UFSCar oferece plantão psicológico até, porém acho que o horário é limitado e não daria conta caso todos os estudantes fossem atrás de tal serviço.

(En)Cena: Como foi seu trajeto até chegar na Pós Graduação?

Estudante: Após me formar no Ensino Médio, eu entrei em seguida num curso superior de 5 anos. Tive a sorte do meu eu adolescente não ter feito uma escolha fora dos meus gostos ao ponto de não ter me decepcionado com o curso em si. Apesar de ser formado em Engenharia Elétrica, consegui me manter na mesma área no mestrado (processamento de imagens digitais e visão computacional). Tive bastante dificuldade de encontrar estágio na área e o estresse gerado na época até atrapalhou no desenvolvimento do meu TCC. Assim, finalizei meu curso com 7 anos. Tive a sorte de conseguir o estágio com meu orientador atual no final do 6º período de faculdade, e a partir daí consegui desenrolar o processo final de graduação. Após formado, meu orientador me convidou para continuar o trabalho do estágio com ele na pós, e aproveitei um ano para me desestressar enquanto cursava disciplinas como aluno especial e me preparava para o processo de inscrição do mestrado (no caso de Ciências da Computação, existe uma prova anual e nacional chamada POSCOMP que tem sua nota usada para ingresso em diversas faculdades).

(En)Cena: Há algum ensinamento que você aprendeu em sala de aula e que leva para vida?

Estudante: Acho que um dos ensinamentos que mais me marcaram foram os relacionados à metodologia científica, de como olhar algo no mundo, mesmo fora da sua área de pesquisa e conhecimento, e ter esta ferramenta que lhe permite analisar melhor os argumentos apresentados. Como conseguir analisar algo por estudos, e que acaba evitando por exemplo que caia em golpes em que é ofertado algo sem nenhuma comprovação de fato ou em até jogadas de marketing, que dizem que tal produto faz mal sendo que não há nenhum experimento que conclua isso. Para não ficar muito vago, cito a questão do parabeno, que muitos dizem que fazem mal em shampoos e condicionador, que deixa o cabelo mais “plastificado”, mas com esta ferramenta eu percebo que não há nenhum estudo que colabore com tal afirmação, e acaba me deixando menos preocupado no mercado. Eu me considero mais racional de natureza, mas a metodologia científica aprendida na faculdade me deu um guia, que até ajuda a manter a calma neste mundo atual com manchetes alarmistas.

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Educação Inclusiva: obstáculos e conhecimentos na modernidade

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No Brasil, constata-se que desde a década de 1990, ocorreu um grande empenho público para o aumento do número de matrículas nas escolas públicas, entretanto, instaurar uma política de propriedade na educação que as escolas seguem exercendo. A Constituição Federal de 1988, bem como a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, ressalta a relevância e emergência de efetuar a Inclusão Educacional como critério orientador de nacionalidade.

Conforme as pesquisas, destaca-se que existiu e existe uma briga pelos direitos das pessoas com deficiências. A Constituição de 1988 assegura que é obrigação do estado e da família: “os garotos e as garotas com deficiência não necessitariam e não precisariam estar fora do ensino infantil e fundamental das escolas regulares, convivendo na classe e ensino especiais”. E ainda estabelece que “deve ser assegurado a todos a passagem as graduações mais altas do ensino, da pesquisa e da criação artística, conforme o potencial de cada um”.

Destaca-se que esse tema surgiu através da demanda de entender e buscar responder as dúvidas, assim como aumentar os saberes sobre a educação inclusiva de maneira a resolver o problema que dominava durante as investigações sobre esse tema, que era “quais são os principais obstáculos superados por alunos e professores na educação inclusiva”?

A inclusão de pessoas com necessidades especiais possui um escopo de grandes analises, argumentações e conversas, e mesmo diante de tantas políticas públicas inclusivas ainda se deseja contestar à exclusão, tão acentuada em nossa comunidade (Borges; Paini, 2016, p. 6).

Para que a Educação suceda com êxito, a Lei de Diretrizes e Bases, em seu Art. 59, contempla como devem ser acolhidos os alunos com necessidades especiais, em que ressalta as principais diretrizes para o atendimento desses alunos.

Para tal, a educação tem como suporte quatro pilares: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver; e aprender a ser. Instituir a educação inclusiva em todos esses suportes é assegurar que a aprendizagem de crianças e jovens com deficiência ocorra através das múltiplas possibilidades de desenvolvimento que podemos encontrar na escola (Ferreira, 2018, p. 4).

A inclusão é uma norma que se aplica aos múltiplos espaços físicos e simbólicos e é uma tarefa da sociedade que se utiliza no trabalho, na arquitetura, no lazer, na educação, na cultura, mas, essencialmente, no pensar e no agir, de si e do outro. (Camargo, 2017, p. 1).

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Katiuscia C. Vargas. Exclusão e inclusão: dois lados da mesma moeda. v. 2, nº 3, jan. /jun. 2016. Disponível em: http://www.ufjf.br/facesdeclio/files/2014/09/3.Artigo-D2.Katiuscia.pdf. Acesso em: 5 maio 2019.

BORGES, Adriana Costa; OLIVEIRA, Elaine Cristina Batista Borges de; PEREIRA, Ernesto Flavio Batista Borges; OLIVEIRA, Marcio Divino de. Reflexões sobre a inclusão, a diversidade, o currículo e a formação de professores. 2013. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/congressomultidisciplinar/pages/arquivos/anais/2013/AT01-2013/AT01-040.pdf. Acesso em: 10 maio 2019.

BORGES, Marilene Lanci; PAINI, Leonor Dias. A educação inclusiva: em busca de ressignificar a prática pedagógica. Universidade Estadual de Maringá – UEM. 2016. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2016/2016_artigo_edespecial_uem_marilenelanciborgessenra.pdf. Acesso em: 10 mai. 2019.

BRASIL. Educação inclusiva: v. 3: a escola. Brasília: MEC/Seesp, 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf. Acesso em: 8 maio 2019.

______. A inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deffisica.pdf. Acesso em: 4 jun. 2019.

______. Decreto nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Inter-Americana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm. Acesso em: 4 jun. 2019.

______. Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm. Acesso em: 4 jun. 2019.

CAMARGO, Eder Pires de. Inclusão social, educação inclusiva e educação especial: enlaces e desenlaces. Ciênc. Educ., Bauru, v. 23, nº 1, jan./mar. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132017000100001. Acesso em: 26 fev. 2019.

CARDOSO, Silvia Helena. Diferentes deficiências e seus conceitos. Disponível em: http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/41/docs/diferentes_deficiencias_e_seus_conceitos.pdf. Acesso em: 3 Jun. 2019.

GOMES, Claudia; CARDOSO, Cristiane dos Reis; LOZANO, Daniele; BAZON, Fernanda Vilhena Mafra; LUCCA, Josiele Giovana de. Colaboração pedagógica na ação inclusiva nas escolas regulares. Rev. Psicopedagogia, São Paulo, v. 34, nº 104, 2017. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000200006. Acesso em: 12 maio 2019.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva. Brasília, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 11 maio 2019.

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O adeus à Anna O.

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Já nos aproximamos do final do semestre letivo. Todas as atividades se tornaram urgentes e inadiáveis e ontem vivi um desafio interessante: precisei me despedir da minha primeira paciente na clínica escola a quem chamarei simbolicamente de Anna O, em homenagem à analisanda de Breuer e Freud que inaugura os estudos de psicanálise.

Sobre verdadeira Anna O. é preciso dizer, ao menos, que também não tinha esse nome. Era Bertha Pappenheim, que aos 21 anos quando foi diagnosticada com histeria, doença exemplar da época Vitoriana, pelo médico Joseph Breuer.

A jovem estava recolhida em seu quarto sofrendo de contraturas, de paralisia no lado esquerdo do corpo, mergulhada em mutismo e delírios diversos quando recebeu os primeiros cuidados por meio de catarse e hipnose de Breuer.

Anos depois, em decorrência do tratamento de Freud, por meio da psicanálise, Bertha Pappenheim se tornou a primeira assiste social da Alemanha dedicando-se a acolher jovens judias pobres e inúmeras órfãs que eram levadas a prostituição.

O caso de Anna O. descrito por Freud no Livro Estudos Sobre Histeria, deixa claro que era preciso ouvir e interpretar as falas que vinham do inconsciente, o que os sonhos poderiam revelar e fazer de toda dor, sofrimentos banais. Com isso, Freud inaugura a psicanálise, tratamento que propõe a cura pela fala; inicia a noção da sexualidade na origem das neuroses, desenvolve a ideia da reversibilidade dos sintomas histéricos e, também, identifica evidências do amor de transferência.

Fonte: Imagem no Freepik

Voltemos à história da minha Anna O.!

Confesso que adiei o dia da despedida ao máximo, afinal, esses momentos propiciam os temíveis feedbacks e as avaliações. E eu estava insegura sobre qual seria a percepção da minha primeira paciente sobre o resultado do nosso ano de terapia.

Quanto a isso é preciso destacar que o trabalho desenvolvido com ela, que é estudante de psicologia, foi muito marcado pela transferência e pela contratransferência. Desde uma interação facilitada por uma transferência positiva iniciada nos primeiros contatos, até os desafios intensos do manejo continuado de transferência negativa, nos dois meses finais. Além, da inegável, contratransferência causada pelo fato de a minha Anna O. ser estudante de psicologia, conhecer das teorias e técnicas que eu aplicava nas sessões e, por fim, utilizar-se deste conhecimento como meio de resistência ao processo terapêutico.

Para o dia da despedida, eu ensaiei ao máximo todas as saídas previsíveis a fim de ter apoio em caso de dificuldades. E se ela não dissesse nada, isso significaria que ela não havia gostado do trabalho? E se ela fizesse uma crítica dura, ainda poderia ser interpretada como transferência negativa?

Enfim, como eu iria lidar com o meu ego narcisista de psicóloga em formação ante ao feedback da paciente que pegou o início da minha prática ainda tão rudimentar?

Foi assustador! Mas como os prazos não esperam, me lancei ao desafio.

E no final deu tudo certo. Ela chorou a sessão toda. Confessou que também tinha medo do dia da despedida. Agradeceu a disponibilidade e o trabalho desenvolvido: mais por ela do que por mim. Que fique claro! Disse ter ficado surpreendida com a clínica de ênfase em psicanálise, pois quando se dispôs a iniciar a terapia imaginava que ia apenas “se conhecer melhor” e não esperava que a experiência e a transferência fossem provocar tantas dores e tantas conquistas.

Fonte: Imagem no Freepik

Confesso que eu só não chorei, porque, afinal psicólogo não chora! Faz semblante de analista!

Mas que eu precisei lembrar disso várias vezes, eu precisei.

O bacana da experiência foi perceber na prática que o esforço do estudo, do empenho e da coragem de se arriscar mesmo sendo ainda tão iniciante trouxe resultado útil à paciente, apoiando-a a alcançar alterações concretas em suas relações e no manejo dos seus sintomas.

Quando eu lembro que perdi noite de sono preocupada com a possível ideação suicida de Anna O., mal consigo reconhecer a moça que falava comigo na última sessão. Sua libido não estava mais regredida, ela conseguiu trabalhar, não deixou a faculdade, não tinha mais crises de insônia ou de ansiedade, nem levantava a cada 10 minutos para ir ao banheiro durante a sessão.

Contudo ela ainda continua a ser minha Anna O. E como se dispôs a manter a terapia na clínica escola da Ulbra, na ênfase da psicanálise, certamente será o maravilhoso desafio de outro colega a partir do próximo ano.

REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund, 1856-1939. Obras completas, volume 2 : estudos sobre a histeria (1893-1895) em coautoria com Josef Breuer / Sigmund Freud ; tradução Laura Barreto ; revisão da tradução Paulo César de Souza — 1a ed. — São
Paulo: Companhia das Letras, 2016.

FREUD, Sigmund, 1856-1939 Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1909) / Sigmund Freud.

SANTOS, Manoel Antônio. A transferência na clínica psicanalística: a abordagem freudiana. Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994

ISOLAN, Luciano Ransier. Transferencia erótica uma breve revisão. 189 Transferência erótica – Isolan Rev Psiquiatr RS maio/ago 2005;27(2):188-195

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Dia das Crianças: data para refletir sobre o valor e importância da infância

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Comemorado no dia 12 de outubro, o Dia das Crianças celebra a importância da garotada, na vida dos adultos, além de valorizar a fase da infância, responsável pela construção de sua identidade. Doce, pipoca, diversão e muita risada não podem faltar, nessa data tão especial aos pequenos. No entanto, é preciso relembrar que a criação de uma criança precisa acontecer na saúde, educação e condições sociais favoráveis ao seu desenvolvimento físico e psicológico.

Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a criança e o adolescente devem usufruir de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, mas na prática difere-se bastante. Diariamente a mídia notícia os disparates das desigualdades entre as classes sociais, no Brasil. Todas as crianças têm direito a frequentar uma escola, mas nem todas estão matriculadas. Nesse contexto, Ana Maria Frota aponta que nem todas as crianças vivem no país da infância, e destaca que alguma são nascidas em bolsões de misérias.

Fonte: Freepik

Sua análise faz alusão as diferenças sociais nos quatro cantos do país, que não oferecem as mesmas condições de desenvolvimento na infância.  Fator preocupante, porque a construção de um adulto confiante e seguro começa na fase da infância. Mukhina (1996) considera que o desenvolvimento máximo das qualidades das crianças, no que diz ao aprendizado são alçados quando se consideram suas peculiaridades, em diferentes idades. Por isso, a necessidade de a criança crescer em um ambiente familiar seguro e saudável.

De acordo com Cardoso (2012) a promoção do brincar é um grande facilitador para seu aprendizado, em especial, quando a criança toma a iniciativa. Para ele, essa atitude cria um ludicidade inerente ao saber infantil junto com a participação do adulto nessa descoberta, no caso é a brincadeira. Cardoso conceitua esta ideia como um desempenho assistido. Esse apoio ofertado à criança faz com ela sinta-se segura e confiante para novos aprendizados.  Nesse sentido, faz-se ser indispensável a presença do adulto.

Fonte: Freepik

Rossana Coelho e Barbara Tadeu observam que o brincar da criança deve ser levado para sala de aula, no artigo “A importância do Brincar na Educação da Criança”. Segundo a publicação, cabe aos educadores orientar os espaços em que as crianças devem ficar para o desenvolvimento de atividades lúdicas focados no ensino aprendizagem, além de um bom material pedagógico.  A relação positiva entre pais e professores contribuem para o crescimento das crianças no que diz ao aprendizado, enquanto futuros adultos também.

Para proteger as crianças e adolescente vítimas de violência doméstica o Governo Federal, por meio do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos disponibiliza o disque 100, forma gratuita denunciar. Essa informação é pertinente porque, conforme dados ministério 81% das violências contra esse público acontecem dentro de casa.  Vamos brincar, celebrar e salvar vidas.

REFERÊNCIAS

Brasil. Lei n. 8069, 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso 07, de out. 2021.

Brasil. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2021/julho/81-dos-casos-de-violencia-contra-criancas-e-adolescentes-ocorrem-dentro-de-casa. Acesso 07 De out 2021.

Cardoso, G. B. (2010). Pedagogias participativas em creche. Cadernos da Educação de Infância.

Cardoso, M. G. (2012). Criando contextos de qualidade em creche: ludicidade e aprendizagem. Minho: Universidade do Minho, Instituto de Educação.

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“Pequena Miss Sunshine”: um olhar psicológico

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O filme “Pequena Miss Sunshine”, dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, com roteiro de Michael Arndt conta a história da família Hoover, moradores do Novo México. O pai da família, Richard, é uma espécie de coaching, palestrante motivacional que está tentando vender seu programa de autoajuda chamado Nove Passos, que promete transformar qualquer pessoa em um vencedor. Richard repete sempre que só há dois tipos de pessoas: vencedores e perdedores.

Sheryl, a mãe é uma mulher que trabalha fora, faz as funções domésticas e é responsável por apaziguar os conflitos dentro da família.

Seus filhos são Dwayne e Olive. Dwayne resolveu fazer o voto do silencio até conseguir se integrar na escola de pilotos da força aérea: está sem falar há meses e segue o niilismo, um dos princípios presentes na filosofia de Friedrich Nietzsche. Se sente um incompreendido e gosta de ficar sozinho no seu mundo, sem ser incomodado. Olive é uma menina de nove anos que sonha em se tornar miss.

Fonte: encurtador.com.br/enJL2

Frank é irmão de Sheryl, um professor universitário que se diz maior conhecedor sobre a vida do escritor Marcel Proust, é gay, foi rejeitado pelo parceiro e recentemente tentou o suicídio. Completa o grupo Edwin, o pai de Richard, um senhor que foi expulso do asilo por ser viciado em heroína.

O conflito se inicia quando Olive recebe um telefonema para participar de um concurso chamado de Little Miss Sunshine, no sul da Califórnia. Mesmo com dinheiro insuficiente, a família decide partir para realizar o sonho da menina. Resolvem viajar todos juntos e se esforçam ao máximo para chegar no local em que ocorrerá o concurso de beleza.

Logo no início, o carro da família, uma Kombi amarela, quebra e eles são obrigados a empurrar toda vez que precisa dar partida no veículo. É nesse momento que se mostra a unidade da família. Apesar das diferenças, todos se unem para atingir o objetivo: realizar o sonho de Olive, um sonho incentivado pela cultura americana.

Fonte: encurtador.com.br/htxPR

Durante o trajeto, várias situações vão delineando um pouco da visão dos personagens. Por exemplo, quando param para lanchar e a garota Olive pede um sorvete, o pai tenta dissuadi-la da ideia, utilizando argumentos como o fato de que as modelos geralmente são mulheres magras. Antes ele havia perguntado à garota se ela estava competindo por competir ou competindo para ganhar, tendo ela concordado em competir para vencer o concurso.

Em uma cena anterior, a garota relata sobre seu medo de não vencer e de desapontar o seu pai. O avô explica a ela que perdedor é quem desiste de seus sonhos por medo, e que se ela vai tentar, não é uma perdedora. Ao longo da viagem, muitos contratempos acontecem, o primeiro deles é a decepção do pai, que precisa lidar com o fracasso e rejeição do seu programa de autoajuda. Richard vai até um hotel e procura o responsável, a fim de obter aceitação para o seu programa, numa cena que demonstra uma dualidade: Richard está sem os trajes adequados e os meios para persuadir alguém, está com uma moto que pegou de um estacionamento, contrariando totalmente o pacote de sucesso que pretendia vender, o que acentua a noção de fracasso.

Ao longo da viagem, o perfil dos personagens vai sendo construído: o silêncio de Dwayne, a depressão de Frank, o fracasso de Richard, o desejo de retorno ao passado de Hoover e a impotência de Sheryl se misturam para compor uma cena em que não se sabe o que esperar de cada personagem.

Fonte: encurtador.com.br/oJMQT

Durante esse meio tempo, o avô, Hoover, morre enquanto dormia o que desestabiliza ainda mais a família e gera outros contratempos, como o enterro do avô, que ocorre de forma conturbada e já dá um indício da essência transgressora da família.

Em seguida, numa brincadeira em que Olive pergunta sobre uma letra de cor vermelha no centro de um cubo, tio Frank descobre que Dwayne é daltônico, ocasião em que o garoto entra em desespero, grita, reclama da falta de estrutura da família e se afasta de todos, numa espécie de surto. Nesse momento, e expressa através da fala e quebra o silêncio com a família, vindo a expressar um processo de maturidade nas cenas seguintes.

Ao chegar a Califórnia, estão atrasados para as inscrições do evento e são rechaçados por uma das organizadoras do concurso, que demonstra a total falta de empatia pela garota e sua família. Conseguem realizar as inscrições graças a outro profissional, que critica a postura da senhora e se propõe a resolver a situação em poucos minutos.

Fonte: encurtador.com.br/qGW17

No início do concurso, já se observa uma deformação da realidade: um concurso de miss infantil, onde as crianças parecem plastificadas, com roupas, cabelos e trejeitos de adultos, em contraposição à pequena Olive, que é desengonçada e se comporta de forma espontânea. Seu figurino também se diferencia: enquanto as meninas usam roupas mais femininas, Olive se apresenta com um short, blusa, sobretudo, gravata e chapéu, compondo um figurino mais livre e irreverente.

A coreografia ensinada pelo seu avô é ousada e divertida, porém não agrada ao público bem-comportado e conservador, que vaia, faz tumulto e tenta impedir o fim da apresentação, numa resposta clara à transgressão da música/dança/comportamento.

Como forma de reação, os pais da menina invadem o palco a fim de impedir que ela seja retirada de lá e conseguem que ela termine a apresentação. Aqui chega-se ao clímax da narrativa, que tem como resultado a união crescente da família.

Fonte: encurtador.com.br/beiCD

 Apesar de não ter vencido o concurso, a garota demonstra alegria com o resultado, o que foi possível graças às palavras do avô, que desconstrói a ideia da competição, e ao incentivo da família.

Pode-se dizer que a viagem foi uma experiência reveladora, na medida em que vai descortinando a complexidade dos personagens, que estão longe de ser uma-visão-única-uma-coisa-só, que produzem no espectador uma sensação de afeto e compreensão diante dessas pessoas, a quem foi prometido o sonho americano, e das situações decorrentes da não- realização desses sonhos.

FICHA TÉCNICA

Título: Pequena Miss Sunshine
Título Original: Little Miss Sunshine
Origem: EUA
Ano de Produção: 2006
Gênero: Aventura/Comédia/Drama
Duração: 102 minutos
Elenco: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano
Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris

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Sacrifício e resiliência – (En)Cena entrevista a médica Susana Silva

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“Acho que só outra mulher conseguiria entender o sofrimento de uma mulher que está na linha de frente contra o COVID, é o medo de perder a família medo de contaminar a família, e se identificar com os pacientes, com as famílias dos pacientes e de se esquecer toda a vaidade de ser mulher para garantir a segurança de não transmitir a doença”
Susana Bernardes da Silva

Como podemos pensar a saúde mental das mulheres que lideram a linha de frente contra a COVID 19? O Portal (En)Cena conversa com a médica Susana Bernardes da Silva, chefe da UTI COVID da Unimed de Palmas-TO, para entender sua perspectiva acerca dos desafios de ser mulher, no Brasil da pandemia.

Susana Bernardes da Silva – Foto: arquivo pessoal

A entrevistada apresenta os sacrifícios diários do bem-estar e da vaidade como parte da dura rotina na linha de frente do combate ao coronavírus. Além disso, retoma as dificuldades enfrentadas usualmente pelas mulheres para serem reconhecidas como sujeitos capazes pela família e pela sociedade. Por fim, a médica destaca como soluções para as mulheres no pós-pandemia: a importância de ter foco e de manter a capacidade de crescer; apesar das inegáveis marcas que o sofrimento psíquico causado pela atual situação de calamidade deixará em profissionais da linha de frente, pacientes e cuidadoras.

(En)Cena – Considerando o seu lugar de fala de: mulher, médica, profissional da linha de frente na luta contra a COVID 19, líder de equipe e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID 19?

Dra Susana Bernardes da Silva – O que é ser mulher durante essa pandemia? Para mim, ser mulher sempre foi se desafiar, sempre foi tentar vencer uma luta todos os dias. Então nessa pandemia me sinto exercendo com mais vigor e com mais força aquilo que sempre vivenciei. Se desafiar a encontrar um lugar melhor para si e para todos que te cercam, mostrar para si e para os outros que você é capaz. Capaz de unir forças para vencer a dor, o medo, o pavor e cuidar e recuperar a vida das pessoas.

 (En)Cena – Na sua opinião, como podemos compreender o sofrimento emocional das mulheres que estão na linha de frente da luta conta a pandemia no Brasil?

Dra Susana Bernardes da Silva – Acho que só outra mulher conseguiria entender o sofrimento de uma mulher que está na linha de frente contra o COVID. Em resumo: é o medo! Medo de perder a família, medo de contaminar a família. É se identificar com os pacientes, com as famílias dos pacientes e se esquecer de toda a vaidade de ser mulher para garantir a segurança de não transmitir a doença. Eu tendo que tomar vários banhos por dia e lavar o cabelo duas ou três vezes ao dia, não posso usar maquiagem ou joias e preciso manter o uso de várias roupas que dificultam ir ao banheiro. É também anular a vaidade e até seu bem-estar para garantir a segurança de quem você ama. Sacrifícios que as mulheres são mais acostumadas a suportar.

Fonte: encurtador.com.br/prBPY

(En)Cena – Quais são os maiores desafios e quais são os maiores aprendizados da sua experiência como médica coordenadora da uti da Unimed-Palmas durante a pandemia?    

Dra Susana Bernardes da Silva – Acredito que o maior desafio e aprendizado nesta pandemia é a resiliência, é como se Deus estivesse testando nossa capacidade de resistir, enviando em forma de ondas de mortes o recado para continuarmos focados em ficarmos mais voltados para nossas próprias famílias. No entanto, nós da saúde precisamos nos dividir entre cuidar das nossas e das outras famílias.

Fonte: encurtador.com.br/acjJP

(En)Cena – Segundo seu conhecimento profissional, como a experiência da COVID pode afetar a saúde mental das mulheres enquanto pacientes? E enquanto cuidadoras?

Dra Susana Bernardes da Silva – Acho que todos ficaremos afetados pelo terror e pavor de estar muito próximos da morte. As pacientes que cuidamos na UTI, acredito que passam por uma sensação de ter renascido e uma eterna gratidão, muitos terão crises de ansiedade. As cuidadoras também sofrem com ansiedade por exaustão, tanto física como mental.

Fonte: encurtador.com.br/kuDNY

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Dra Susana Bernardes da Silva – O caminho para as mulheres pós pandemia é manter a capacidade de crescer e manter o foco, mesmo em momentos de extrema adversidade. Não creio que seja algo novo para as mulheres. Como disse no início, sempre vivemos em adversidades e crescemos cada vez mais, dentro da sociedade e da família.

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Seja apenas outra alma humana: (re)construção com um grupo de adolescentes

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Participar desta intervenção mudou completamente minha concepção de grupo, de adolescência, de família, de escola, mas principalmente do significado da palavra amizade e afeto.

Coordenar um grupo não é uma tarefa fácil. De adolescentes então? Será um dos meus maiores desafios! Foram exatamente esses os meus pensamentos quando soube qual seria o público ao desta intervenção. E realmente, não foi uma tarefa fácil, isso porque me deparei com 19 adolescentes, totalmente diferentes, mas com angústias praticamente iguais.

Fonte: https://bit.ly/2IEcGak

Vi a dor, o medo, a solidão, o desespero, desamparo, o ódio, a raiva, e tantos outros sentimentos que a maioria daqueles adolescentes compartilhavam. Mas também vi a vontade de viver, ser feliz, de amar, sonhar e o cuidado em cada um deles. E como me sinto grata por isso. Como me sinto realizada em saber que pessoas tão novas, mas que viveram tantos momentos de dor, se sentiram à vontade para compartilhar comigo momentos significativos de sua vida.

A cada encontro, a cada história, a cada lágrima e a cada abraço, eu via a certeza de que ações como essa podem mudar vidas, que o fazer a psicologia é muito gratificante, é construir novas possibilidades e isso, para mim, (re)constrói um novo significado do ser psicólogo, do ser gente.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. ”

(Carl Jung)

Fonte: https://bit.ly/2tJlFS0

Destaco também a importância do aprendizado em grupo, assim como as supervisões, discussões e escutas compartilhadas das experiências, em cada um dos grupos, pois foram muito enriquecedores, não somente pela troca de conhecimento, mas pela harmonia e afetos presentes nos encontros.

Concluo este semestre com o sentimento de realização e crescimento profissional e humano, confirmando minhas expectativas ao escolher esse campo e sabendo que as experiências vivenciadas nos últimos meses levarei para a minha vida e prática como futura psicóloga.

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