San Junipero: imanência e transcendência entre o Dasein e o Mitsein

Compartilhe este conteúdo:

Em 21 de outubro de 2016 estreou na plataforma Netflix o episódio San Junipero, da série Black Mirror, que trata principalmente de temáticas sobre ficção científica e assuntos existenciais entremeados por questões tecnológicas já observadas no mundo contemporâneo. Ao longo de 61 minutos, sob a direção de Owen Harris, acompanhamos a história de Kelly e Yorkie, vividas pelas atrizes Gugulethu Sophia Mbatha e Mackenzie Davis. Em um mundo futurista é possível que as pessoas passem longos períodos em uma realidade virtual, de profunda imersão e possibilidade de experiências e vivências e, eventualmente, alcançando um estado de permanência espaço-temporal e memorial não corpórea do existir, de uma forma praticamente transcendental, por meio de recursos neurológicos e tecnológicos.

Em uma destas realidades possíveis o bar San Junipero torna-se o ponto de encontro destas consciências em imersão compartilhada, virtual e tecnologicamente conectadas naquele lugar específico. É a partir deste plot inicial que a história e trajetórias das protagonistas se cruzam, real, virtual e existencialmente, nos convidando a um mergulho em questões sensíveis do estar consigo e com o outro, do abrir-se ao diálogo, desejo e sentimentos, ora em momentos de plenitude ora de esvaziamento do e de ser, tal como o Dasein do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976).

O Dasein heideggeriano pode ser definido como o ente humano, que é e está na diferença ôntico-ontológica de todos os demais entes do mundo; o Dasein também pode ser compreendido como dádiva, dúvida e fardo, ao mesmo tempo, que nos acompanha como seres humanos, estando na posição do aí (Da) do ser (sein), em espacialidade, temporalidade e existencialidade únicas, como ser-no-mundo. Como existência, uma das traduções possíveis para o Dasein, estamos tanto condicionados como direcionados à liberdade, como um projeto de inacabamento do devir existencial.

Fonte: encurtador.com.br/dfNSZ

Finitude, infinitude, melancolia e alegria são elementos e estados da consciência, inteligência artificial, relação entre transcendência-imanência-corporeidade que são trabalhados em San Junipero, e que podem ser encontradas em filmes como Blade Runner (1982), Her (2013) e Ex Machina (2015) – com algumas referências ao longa Thelma e Louise, de 1991 -, herdeiros de obras literárias como Frankenstein ou o prometeu moderno, de Mary Shelley, autores e autoras como Isaac Asimov, Mary Rosenblum, Arthur C. Clarke, Mari Wolf, Hiromi Arakawa e Philip Dick.

A conexão entre inteligência artificial, mundo digital e informacional e as ideias heideggerianas sobre a analítica existencial possuem já um panorama de desenvolvimento acadêmico e artístico (PRESTON, 1993; TEIXEIRA, 2009; MASÍS, 2009). O que observamos no episódio de Black Mirror é um outro, especial e rico, exemplo de como trabalhar de forma sensível muitos dos dilemas e questões do existir e devir da existência. Mais que explorar situações existenciais e espirituais/metafísicas pelo humano e a I.A, San Junipero opera em condições de aplicação e demonstração de temas metafísicos, ontológicos e comuns a diferentes teorizações filosóficas, humanistas, sociais e psicológicas no limiar entre o Dasein e o Mitsein (ERICKSEN, 2017)..

Nas palavras do próprio Heidegger, o Dasein, como ser-aí e existência: “Chamamos existência ao próprio ser com o qual a presença pode relacionar-se dessa ou daquela maneira e com o qual ela sempre se relaciona de alguma maneira. Como a determinação essencial desse ente não pode ser efetuada mediante a indicação de um conteúdo quididativo, já que sua essência reside, ao contrário, em sempre ter de possuir o próprio seu como seu, escolheu-se o termo presença para designá-lo enquanto pura expressão do ser.” (HEIDEGGER, 2008, p. 48).

Fonte: encurtador.com.br/tyPV8

Os elementos ficcionais, oitentistas e estéticos em San Junipero servem como o plano de fundo para a união possível do eu com o outro, mediados pelo ser-aí heideggeriano. Se se cabe ao Dasein abrir-se para o sentido de si próprio e do mundo, então seja no plano imanente das paisagens do episódio ou transcendente, de uma realidade temporal fictícia imaginariamente compartilhada, o que irá imperar é a condição especial do ser-se humano, aberto ao (in)finito de seu próprio devir. Ao longo do episódio da série há elementos temáticos sobre existência, questões pós-morte, o propósito do existir, sentimentos, envelhecimento, temporalidade, alteridade, espacialidade e (i)racionalidade tornando-se perpassagens do devir como abertura ôntico-ontológica do saber-se e des-conhecer-se, como liberdade com e ao outro que nos in-completa (STEIN, 2001; ASTRADA, 1942).

Pela condição do daseinphaenomen, ou seja, o fenômeno existencial, temos o percurso de uma vida como uma miríade de escolhas, estados de consciência, emoção, sensação, percepção e, principalmente, experiências circunstanciais com e no mundo. Ao longo das paisagens, lugares, falas e interações das personagens de Gugulethu Sophia Mbatha e Mackenzie Davis acompanhamos esta condição humana do Dasein que é: “portanto, o existir em cada caso particular, no aí, no ‘estar sendo’ de cada um. Assim, o existir fático determina  um  modo de  compreensão da  existência  que  já  se  dá  no interior e  a  partir  de  si  mesma, de  tal forma que esta nunca pode ser contemplada ‘de fora’, como um objeto perante um sujeito. Somente o Dasein – efetivo e em cada caso – compreende sua existência (Existenz)”. (PÁDUA, 2005, p. 10).

E, mais que a conexão, proximidade e, eventualmente, questionamentos tanto sobre a finitude como infinitude da existência, há uma abertura transcendental e utópica em San Junipero ao que Heidegger chamou de Mitsein, que é uma das variações epistemológicas do Dasein, traduzido como ser-com-os-outros, ou apenas ser-com – como variação ao ser-em, também elaborado pelo filósofo alemão. Kelly e Yorkie se (des)encontram tanto no plano ôntico finito como ontológico infinito, permitido, de forma especial e intrigante, por meio da tecnologia e inteligência artificial de um mundo futuro que observamos apenas a silhueta.

O Mitsein como o Dasein que se encontra no des-velamento de si mesmo no outro é a abertura ao (in)finito à outrem, não mais um ente, como corpo-consciência, que assim como o eu, possui a abertura do questionar o ser e a essência de todas as coisas, do sentir o desejo, partilhar as perdas e conquistas e viver, cada momento, da forma mais intensa possível (LEVINAS, 2018). Diálogos, silêncios, sentimentos e partilhas formam a ponte do si ao si, pelo outro, na relação entre as protagonistas do singular episódio de Black Mirror.

Fonte: encurtador.com.br/gkmR6

Referências

ASTRADA, Carlos. El juego metafísico: para una filosofía de la finitud. Buenos Aires: Libreria El Ateneo Editorial, 1942.

ERICKSEN, Lauro. Verdade, desvelamento e ser-com: o entendimento compartilhado do dasein. GRIOT, v. 15, p. 44-59, 2017.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2008.

LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito: Ensaio sobre a Exterioridade. Trad. José Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 2018.

MASÍS, Jethro. Fenomenología hermenéutica e inteligencia artificial: Otra urbanización de la provincia heideggeriana. Buenos Aires, Argentina. Mayo de 2009.

PÁDUA, Ligia Teresa Saramago. A “Topologia do ser”: lugar, espaço e linguagem no pensamento de Martin Heidegger. 2005. Tese (Doutorado em Filosofia) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Janeiro: PUC-Rio, 2005.

PRESTON, Beth. Heidegger and Artificial Intelligence. Philosophy and Phenomenological Research v. 53, n. 1, Mar, p. 43-69, 1993.

STEIN, Ernildo. Compreensão e finitude. Ijuí: Unijuí, 2001.

TEIXEIRA, João de Fernandes. O fenomenólogo, o neurocientista e o engenheiro. Filosofia (São Paulo), São Paulo, p. 36 – 37, 15 jan. 2009.

Compartilhe este conteúdo:

Arkangel: Pais cegos pelo protecionismo exacerbado

Compartilhe este conteúdo:

Na conceituação psicológica o ambiente tem um papel importante para a explicação de comportamentos, tendo em vista que os eventos físicos se relacionam às mudanças do meio

Black Mirror se inspira em um mundo pelo qual as tecnologias dão aos seres potencialidades ainda não atingidas, mas que se chocam com a imperfeição humana. As novas possibilidades dão a capacidade do controle a partir do avanço de inteligências artificiais, que capacitam incongruências. O que hoje é incontingente, se torna verdade nos episódios da série; por sua vez, os humanos apresentam-se com características e limitações averiguadas hodiernamente. Seriam então capazes de administrar tamanho poder sem gerar danos?

Na conceituação psicológica o ambiente tem um papel importante para a explicação de comportamentos, haja vista que os eventos físicos se relacionam às mudanças do meio, tendo como exemplo, os objetos tecnológicos que se configuram nesse quesito. Já os fatores sociais se relacionam as interações presenciais com os indivíduos, tendo como um requisito a simultaneidade de comportamento emitido pelo sujeito (DANNA; MATOS, 2011). 

Dentro da realidade de Black Mirror, as relações ambientais apresentam-se ainda mais tênues, pois o ambiente físico e sua tecnologia avançada geram mudanças nas relações sociais, tornando possível a manipulação do ambiente a fim de obter contingências de comportamento desejáveis a quem opera. 

O episódio instigador a qual me refiro chama-se “Arkangel”, uma tecnologia que funciona como extensão para os olhos dos pais preocupados com a segurança e bem estar dos filhos. Depois do desaparecimento de Sara Sambrell, sendo ainda criança, sua mãe Marie Sambrell vê tal equipamento como necessário, possibilitando seu acompanhamento em qualquer contexto em que ela pudesse se encontrar, assim, a tecnologia de Arkangel era o equipamento perfeito, pois daria possibilidade de um maior controle, diminuindo eventualidades como desaparecimento, como já havia ocorrido. (Atenção, contém spoiler)

As vantagens e a propaganda para seu uso traziam afirmativas exuberantes, como o pedido de busca, localização real da filha, além de detectar os sinais vitais, frequência cardíaca, a qualidade do sangue, e por fim, a possibilidade de ver as mesmas coisas que Sara via, em tempo real, podendo manipular coisas desagradáveis como violência, cenas, ou palavras rudes que ela viesse a ver. Tudo que aumentasse seu nível de cortisol, ou que fosse estressor, aparecia para a criança como um borrão, impossibilitando que ela vivenciasse tais experiências  (sendo opcional o uso do filtro no aparelho Arkangel). 

anigif_sub-buzz-30456-1515015869-7.gif (320×172)
encurtador.com.br/adFI3

Os feedbacks da profissional que vendia a tecnologia eram ótimos, que segundo dito, traziam segurança e paz de espírito. A mãe se impressionava com as boas notícias e aceitou; de agora em diante a vida de sua filha estaria sob seu controle, na palma de sua mão (mais pontualmente, a partir do Tablet todas as informações eram obtidas quando as desejasse). O único que parecia não se agradar com as boas novas foi o avô de Sara, Russ Sambrell, que desejava que as crianças fossem livres como antigamente. Marie rebate seu posicionamento lembrando-se que uma vez quebrou o braço pois seu pai não havia colocado grades na escada, mostrando o quão a segurança, para ela, é de suma importância. 

45_20.gif (458×258)
encurtador.com.br/fsF45

Tempos se passaram, Sara e Marie lidam com o luto de Russ (avó de Sara), que anteriormente tinha como hobby a pintura, a quem durante a história aparece ensinando e incentivando as expressões de sua neta pela arte. Já aparentando estar na terceira infância, Sara mostra-se  incomodada com o fato de não ver ou ouvir assuntos que ela tinha vontade de compreender, mas que por conta do Arkangel e seu filtro, seu entendimento era retalhado. Colegas da escola como Trik, gostavam de luta e vídeos violentos, a não compreensão desses conteúdos pela inibição da tecnologia, ao que se tratava de assuntos taxados como inadequados, frustrava a garota. O filtro proporcionado pelo Arkangel já a incomodava.  

encurtador.com.br/kFNUY

Em seu quarto, Sara faz alguns desenhos com marcas de sangue, pessoas feridas, entretanto, ela não conseguia visualizar seus traços por remeterem a conteúdos agressivos, suas tentativas eram falhas. Não podia ver o sangue que pintava, não podia se expressar, não podia ver as coisas como eram. Sara pega um de seus lápis apontados e começa furar seus dedos. Tudo fica borrado, como de costume, seus níveis de cortisol aumentam, e logo Marie recebendo tal mensagem corre até o quarto e tenta contê-la, Sara acaba machucando a mãe. Tudo foi bastante preocupante, pois apesar de todo protecionismo, podia ela afirmar que estava fazendo o melhor para sua filha?

tumblr_ov8xhoYZH61u7cof9o5_540.gif (540×215)
encurtador.com.br/ftJKR

Marie vai até o psicólogo, onde há desenhos sobre a mesa, feitos pela própria Sara, todos com cunhos sobre violência. Acessando a garota por meio do lúdico, o psicólogo falou sobre as retaliações que Arkangel já sofreu na Europa, cujo haveria de ser banido a algum tempo em seus terrenos também. Apesar das suposições/receios de Marie de que sua filha tivesse graus de autismo, o psicólogo disse que seus comportamentos não se adequavam ao quadro TEA. Depois disso, ela decide desligar seu monitoramento, já que o implante que o possibilita é irremovível.

Foi um passo difícil para a mãe. Pela primeira vez ela teve de manter-se confiante sobre sua criação, portanto, Sara obteve seus primeiros contatos com a sensação do medo, pornografia, vídeos agressivos. Ela nunca lidou com limites antes, sua redoma de vidro foi rompida, só por meio das experiências ela podia compreender sobre regras, sensações de angústia e ansiedade. Nada tamparia sua visão da realidade dessa vez. 

Segunda a teoria da Gestalt Terapia a autoconscientização diz respeito ao reconhecimento da natureza auto reguladora do organismo, que compreende a consciência de si e do mundo que está em volta. Por conta das inibições que vivera, Sara ainda não concretizou seu Self, que em síntese, pode se compreender por processamentos de expansão de auto consciência. Na realidade, sua mãe promoveu uma fuga de consciência, que inibiu seu desenvolvimento psicológico. Seu processo de adaptação como ser humano, sobre seu meio externo e interno estaria agora em construção, em meio aos débitos da superproteção materna; grandes descobertas viriam nesse decorrer.

Na visão da psicologia Analítica, segundo Jung, a posição de Marie que arrebata a dificuldade de deixar Sara iniciar seu ciclo de independência de ideias e ações. Isso é explicado a partir da teoria da mãe devoradora, no livro ‘O Caminho dos Sonhos’:

“A Mãe Natureza é o útero da vida. Ela dá sem cessar e sem reserva. Mas ela é também a tumba. Cruelmente ela mata e devora tudo o que vive. A primeira mulher na experiência de um homem é sua mãe. Seu único propósito na vida é saciar sua fome, cuidar do seu corpo, prover seu conforto. Seu poder é imenso. Seus beijos aliviam a dor, seus braços o embalam no sono. Ela satisfaz suas necessidades físicas e emocionais. Essa relação entre mãe e filho é dos mais belos mistérios da natureza. Mas a natureza é também cruel. Ao entrar na vida adulta, o homem deve abandonar o calor do ninho da infância para poder entrar no mundo e construir o seu próprio. Psicologicamente, para tornar-se homem ele deve separar-se de sua mãe e renascer num tipo distinto de relacionamento. Se assim não for, ele poderá ser devorado pela mãe e permanecer para sempre um filho cuja capacidade de relacionamento fixou-se no pesadelo da dependência infantil e no incesto psicológico” (FRAZ-1992).

Sara se torna finalmente adolescente, já lida naturalmente com alguns estímulos que tempos atrás eram amedrontadores por serem desconhecidos. Entretanto, ainda havia muito a se explorar, afinal, era jovem e aparentemente curiosa. A série mostra a ânsia que ela vivencia sobre experiências novas, tal qual muitos jovens sem um diálogo aberto com os pais, pelo medo da incompreensão, retaliação sem diálogo ou acordos, ou apenas para não haver preocupação excessiva deles, acabam por mentir sobre locais ou companhias, pelo desejo de experienciar. Sara mente sobre o local onde irá sair, e acaba demorando mais que o combinado. Muito preocupada depois de ligar para a casa da colega onde disse que iria, Marie liga o Arkangel, localiza-a e vê através de seus olhos. Sara estava perdendo sua virgindade com Trik, e ela acaba vendo parte daquela cena. 

arkangel.gif (361×166)
encurtador.com.br/jyADP

Trik, um garoto que desde criança mostrava-se agressivo, agora tinha se tornado traficante. Sara desejou experimentar cocaína. Mesmo com a tentativas de impedi-la, Trik acabou cedendo. Marie, ainda preocupada com as mentiras ditas a ela, olha novamente através da tecnologia, e acaba vendo o momento do uso, assim como o rosto do garoto, a quem tirou satisfação e ameaçou. Pediu que não se envolvesse mais com sua filha. O afastamento repentino dele deixou Sara confusa e deprimida. 

tumblr_p22qmsIon01qhjyfeo1_500.gif (500×214)
encurtador.com.br/eCU08

Marie, supondo que a filha não havia se protegido na relação sexual, comprou um abortivo e misturou a uma vitamina. Sara sentiu-se enjoada e, em seguida, já na enfermaria de sua instituição de ensino, recebe a notícia que seu aborto foi bem sucedido. Ela não compreendeu o motivo dessas palavras, voltou então até sua casa, onde achou no lixo a caixa do remédio, logicamente procurou o Arkangel, que quando pegou, mostrou as cenas visualizadas pela mãe. Tomada pelo ódio, Sara quebra o Tablet no rosto de Marie, enquanto a nocauteia. Quando o aparelho quebra, ela vê sua mãe extremamente machucada e foge de casa. 

encurtador.com.br/acHIN

Marie, ainda consciente, procura Sara em um total desespero. Apesar de todos os esforços para mantê-la segura, suas atitudes fizeram com que o afastamento de Sara fosse abrupto. Assim como em nossa sociedade, dificilmente os pais trabalham a autoconsciência das crianças, estão sempre barganhando um bom comportamento, sem que haja absorção de motivos para as regras, em um desenvolvimento amplo de consciência, formando super egos acríticos e despreparados para vivências com o outro, tornando-se inflexíveis e frágeis. O temor dos pais está interligado com a educação falha que não os assegura de que o conhecimento foi dado e absorvido. Os pais estão trocando seus papéis de andaime, ou não fazendo-o para o crescimento saudável e progressivo. 

A realidade mostrada pelo episódio de Black Mirror está mais perto do que imaginamos. Em uma entrevista ao The Telegraph, o cientista Richard Gray explica sobre a possibilidade de “Hackear” memórias, pois quando as lembranças voltam a consciência, apesar de anteriormente serem concretas e sólidas, nesse estado elas podem ser modificadas. Isso abre brechas para que assim como Arkangel, nossas memórias sejam selecionadas, filtradas. Podendo levar as vivências traumáticas a serem substituídas por outras.  

Apesar de parecer extremamente positivo, será que como humanos aprenderemos antes disso a  respeitar o espaço do outro? E se nos déssemos o poder de modificar momentos negativos por proteção de alguém, até quando a liberdade alheia seria uma regra? Infelizmente, estaríamos fadados a desastres parecidos como em Black Mirror. Laços desatados, vivências cortadas, aprendizados negligenciados, e erros sobre uma tela ao vivo. Se pudéssemos espiar quem amamos para sua proteção? É sempre tentador, e mais uma vez o poder se esbarra em nossas imperfeições morais de nossa atual humanidade. Arkangel é um futuro próximo, eu diria. E você, usaria? 

Referências: 

FRANZ. Mari, O Caminho dos Sonhos (1992). Disponível em: https://www.academia.edu/35203988/Marie_Louise_Von_Franz_O_Caminho_dos_Sonhos_doc_rev_._WwW.LivrosGratis.net_ . Acessado em: 04 de julho

FUSCO. Cientistas descobrem como “apagar” memórias dolorosas (2016). Disponível:

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/02/cientistas-descobrem-como-apagar-memorias-dolorosas-e-implantar-novas.html. Acessado em: 26 de junho de 2019.

PAPALIA., DUSKIN.,  Aprendendo a observar. AMGH editora LTDA (2013). Disponível em: http://sandrachiabi.com/wp-content/uploads/2017/03/desenvolvimento-humano.pdf. Acessado em: 26 de junho de 2019.

 

Ficha técnica

encurtador.com.br/qwEM1

Título original: Arkangel

Direção: Jodie Foster

Elenco:  Rosemarie DeWitt como Marie Sambrell.

Brenna Harding como Sara Sambrell.

Nicholas Campbell como Russ Sambrell.

Owen Teague como Ryan “Trick”

Local:  Série Britânica

Ano: 2017

Gênero:  Ficção científica

Compartilhe este conteúdo:

#CAOS2018: A apropriação da crítica pelo sistema é tema do Psicologia em Debate

Compartilhe este conteúdo:

O Psicologia em Debate Especial é parte da programação do CAOS

Na noite dessa terça-feira (22) ocorreram as apresentações do Psicologia em Debate Especial Black Mirror, como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2018. Na ocasião a acadêmica Talita Lima apresentou sua análise do episódio “Quinze Milhões de Méritos”, da série britânica Black Mirror.

No episódio, o jovem Bing vive em um futuro distópico, onde a maioria da sociedade deve pedalar bicicletas de exercícios para produzir eletricidade e ganhar uma moeda chamada “Méritos”. Revoltado com a maneira como o sistema tratou Abi, a mulher pela qual era apaixonado, Bing se revolta, mas têm sua crítica apropriada pelo sistema que o manipula mais uma vez.

Para Evelly Silva, acadêmica de psicologia e ouvinte na apresentação, “Black Mirror é a personificação de muitos dos temores e das disfunções na sociedade contemporânea. Nesse sentido, abordar criticamente esses temas é um modo de buscar compreender as diversas causas e movimentos incutidos nesse processo.

No episódio 15 Milhões de Méritos, abordado na apresentação da acadêmica Talita Lima, é possível verificar o quanto o sistema capitalista está enraizado em nosso modo de enxergar o mundo. Mesmo quando existe uma crítica contundente a esse processo ou um movimento que distoa do que é pregado ou padronizado, esse mesmo sistema em primeira instância o reprime e não havendo supressão, se apropria da crítica em prol da mercantilização das ideias, dos corpos, das subjetividades.”, pontua.

Mais informações sobre o evento podem ser obtidas no site: http://ulbra-to.br/caos/edicoes/2018#programacao

Compartilhe este conteúdo:

#CAOS2018: O modelo panóptico através da tecnologia é tema do Psicologia em Debate

Compartilhe este conteúdo:

O Psicologia em Debate Especial é parte da programação do CAOS.

Na noite dessa terça-feira (22) ocorreram as apresentações do Psicologia em Debate Especial Black Mirror, como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2018. Na ocasião as acadêmicas Larryssa Araújo e Alessandra Araújo apresentaram o episódio “Manda quem pode”, da série britânica Black Mirror.

O episódio, que retrata a vida de um jovem chantageado ao ter seus segredos mais íntimos observados, foi comparado ao modelo Panóptico de Michel Foucault, que retrata uma máquina que dissocia o par ver-ser visto. De acordo com o modelo, no anel periférico da máquina se é totalmente visto mas sem ver os outros, configuração muito usada em prisões, manicômios e escolas.

Para Laryssa Araújo, a internet é um dispositivo de controle pois “ela regula os comportamentos adequados e pune os inadequados assim como qualquer outro dispositivo dessa natureza. A internet tem acesso às informações dessas pessoas, que podem ser a todo momento numeradas ou vigiadas, assim como também colaboram para a noção de certo ou errado nessas situações”.

Mais informações sobre o evento podem ser obtidas no site do evento: http://ulbra-to.br/caos/edicoes/2018#programacao

Compartilhe este conteúdo:

(En)Cena lança série analítica sobre Black Mirror

Compartilhe este conteúdo:

Textos problematizam os desafios da Psicologia frente o advento das tecnologias contemporâneas

O portal (En)Cena acaba de lançar a série “Angústias contemporâneas em Black Mirror: um olhar da Psicologia”, sobre as implicações das tecnologias contemporâneas nas subjetivas. Há vários textos assinados por acadêmicos e professores associando os temas da série às problemáticas levantadas por diferentes linhas teóricas da Psicologia.

Fonte: https://goo.gl/N8Ayyt

Dentre os temas abordados há o fato de as tecnologias se configurarem como uma extensão da consciência humana, além da relação da Inteligência Artificial com o fechamento e também abertura de novos postos de trabalho. A série também discute como a robótica atua desde a execução de cirurgias complexas, passando por sistemas de vigilância e, por fim, culminando na indústria de diversão e do sexo, através dos bonecos sexuais inteligentes, e os impactos desta dinâmica na subjetividade humana.

A Psicologia é pressionada a dar respostas a este momento histórico desafiador. Isto porque toda transformação de ordem social e tecnológica remete primeiramente a um movimento cuja gênese está na subjetividade. É a vontade humana, consciente ou inconsciente, que gera volição e, depois, as mudanças, no que Freud já relatava sobre o pensamento como o ensaio da ação.

A Série

Black Mirror é uma ficção científica de sucesso que já está na quarta temporada e que aborda de modo satírico e, por vezes, obscuro, temas típicos da pós-modernidade, sobretudo em relação às consequências imprevisíveis do exagerado uso das tecnologias.

Criada por Charlie Brooker, a série replica em sua estrutura narrativa uma dinâmica comum na liquidez da contemporaneidade, a saber, nenhum episódio é continuação de outro, e todo o elenco muda a cada tópico abordado. As estórias às vezes parecem caricaturais, mas em muito alerta para dinâmicas que já ocorreram e que podem ser naturalizadas, com o passar do tempo, como no exemplo do primeiro episódio da terceira temporada, que aborda um hipotético momento em que, para se ter ascensão social, é necessário viver sob o escrutínio de terceiros, a partir do recebimento de avaliações constantes e positivas em redes sociais eletrônicas (o que já está ocorrendo no Instagran, diga-se de passagem). Cada episódio espanta, cativa e gera insights transformadores. Com isso, Black Mirror acabou ganhando a graça do público e da crítica especializada, e é fonte de estudo em grupos de Psicologia, Filosofia e Sociologia.

Clique aqui para acessar a série http://encenasaudemental.com/series/serie-black-mirror/

Compartilhe este conteúdo:

Equipe do (En)Cena define diretrizes para o semestre

Compartilhe este conteúdo:

O Portal (En)Cena é um projeto de extensão lançado em 2011

Em reunião realizada na manhã desta quarta, dia 31/01, a equipe do (En)Cena definiu as diretrizes a serem adotadas no semestre. Durante o encontro ficou definido que todas as atividades do corpo docente serão acompanhadas e, quando possível, resultarão em notícias e trabalhos que serão publicados no portal. Com isso, pretende-se dar visibilidade à ampla agenda de eventos, interações e dinâmicas que são demandadas pelos professores e que, por vezes, não chega ao conhecimento da comunidade acadêmica.

Além disso, a equipe está planejando a publicação de duas novas séries, sendo uma relacionando as temáticas do seriado Black Mirror (da Netflix) com as áreas de atuação/intervenção da Psicologia, e outra série sobre os filmes indicados para o Oscar 2018, onde haverá a associação das temáticas com linhas teóricas do curso.

Séries sobre o Oscar de 2014 a 2017.

De acordo com a coordenadora de Psicologia e coordenadora geral do (En)cena, profa. Dra. Irenides Teixeira, as ações deste ano têm como foco a visibilidade das atividades cotidianas do curso, além de fomentar a participação de toda a comunidade na construção de narrativas que aproximem o público em geral da comunidade acadêmica, uma das prerrogativas dos projetos de extensão.

Saiba mais sobre o (En)Cena: http://encenasaudemental.com/

Compartilhe este conteúdo:

Versão de Testes: os efeitos da psicoterapia

Compartilhe este conteúdo:

Diferente dos outros episódios da série Black Mirror, Versão de Testes não traz apontamentos e reflexões sobre questões sociais carregadas de interferências tecnológicas, pelo menos, não de forma clara. Mas, algo a se notar, é a sua analogia aos efeitos da psicoterapia na vida de um indivíduo. O episódio inicia com Cooper (protagonista) saindo de casa de maneira sorrateira, para que sua mãe não o veja. Logo, percebe-se que o personagem é um aventureiro, acostumado a viajar por diversos lugares do mundo. Chegando ao seu destino, na Inglaterra, conhece Sonja através de um aplicativo de encontros, com quem divide a cama por uma noite e, na manhã seguinte, os seus problemas familiares.

Quando decide voltar para casa, Cooper percebe que não há mais dinheiro em sua conta bancária. Ao procurar Sonja para ajudá-lo, ela lhe indica um aplicativo para procurar empregos. Logo, eles encontram uma vaga na Companhia Saito Gemu, uma empresa de jogos de terror, onde Cooper faria parte da fase de testes de um jogo, antes desse ser lançado. Aqui, inicia-se o tom de mistério do episódio e também as analogias implícitas à psicoterapia. Ao chegar na Cia, Cooper é impelido a firmar um compromisso em forma de contrato com a empresa, representada por Katie, com quem Cooper parece sentir-se a vontade. Nesse contrato, fica explícito que tudo o que ocorrer ali, ficará entre ambos.

Fonte: https://goo.gl/BxDxjZ

É nesse ponto que começa-se a observar o início do processo psicoterapêutico, firmado por um contrato, em que suas ações (do psicoterapeuta) diante do cliente são de grande importância para que o contrato não se restrinja a um conjunto de regras de trabalho (como horários, pagamentos, férias, dentre outras) e se constitua num dos momentos fundamentais da relação terapêutica, caracterizando-se pelo engajamento de seus protagonistas quanto a uma proposta específica, seja de promover mudanças, aliviar sintomas ou proporcionar o crescimento emocional do cliente (WOLBERG, 1967 apud NEUBERN, 2010).

O jogo que Cooper está prestes a testar não possui um mapa a ser seguido ou um objetivo específico a ser alcançado, exceto o de sobreviver aos próprios medos. Isso porque, através de um dispositivo chamado cogumelo que fora colocado em sua nuca, seus dados neurais foram carregados e implantados em um óculos de realidade virtual, pelo qual a mente de Cooper cria imagens e somente ele as vê, como se fossem reais no plano físico.

Fonte: https://goo.gl/XPMyzj

Retomando o contrato psicoterapêutico, há de notar-se que Cooper criou um vínculo com Katie (pode-se dizer que ela representa o papel de psicoterapeuta), uma vez que a primeira imagem que sua mente cria é ela ao seu lado indo para a casa no qual o jogo aconteceria e onde ele ficaria sozinho enfrentando seus medos. Outra criação da mente de Cooper mostra Katie lhe entregando um ponto auricular, pelo qual ambos manteriam a comunicação.

Agora, Cooper está sozinho dentro da casa, onde seus maiores medos começam a assombrá-lo, como aranhas e o valentão da época de escola, Josh Peters. A medida que o tempo vai passando (tudo apenas na mente de Cooper) as situações assustadoras vão se intensificando, como uma aranha gigante com o rosto de Peters, um homem assutador com o rosto de Peters e Sonja aparecendo na casa dizendo-lhe que ele está em perigo e que precisa sair dali, um pouco antes de esfaqueá-lo e se transformar em um monstro.

Isso tudo remete ao processo psicoterapêutico, no qual a pessoa que o procura passa a enfrentar os seus maiores medos e monstros internos, trazendo a tona conteúdos passados, que se misturam aos conteúdos presentes e formam a sua história e complexidade. E, obviamente, esse não é um processo fácil, mas contido de dor e algumas resistências.

Fonte: https://goo.gl/aeCc97

O ponto alto do episódio é quando Cooper quer sair da casa, mas Katie lhe diz que ele precisa primeiro encontrar o ponto de acesso, que fica em um quarto no andar de cima. Chegando à porta desse quarto, Cooper resiste muito em abri-la, temendo que irá ver sua mãe ou seu pai pendurados em uma viga. Quando finalmente a abre e pergunta onde está o ponto de acesso, Katie diz que estava apenas o pressionando para ver até onde ele ia. Esse fato mostra uma postura inadequada do psicoterapeuta, cuja pode provocar alguns danos para a pessoa.

O psicoterapeuta deve adotar uma postura de não julgamento, de empatia e de respeito, procurando validar o que o cliente sente e ajudando-o a integrar as novas possibilidades que se vão apresentando, transmitindo assim a segurança necessária para avançar para a mudança. O papel do terapeuta é ajudar a refletir e desafiar em certos momentos, sempre respeitando o ritmo do cliente e transmitindo-lhe responsabilidade pelas suas escolhas (Portal Psiquilibrios).

Como Katie não respeitou o ritmo de Cooper, esse enfrentou um medo para o qual não estava preparado no momento, que era perder suas lembranças por meio do mal de Alzheimer, assim como seu pai. Sua mente cria a imagem dele saindo da empresa e voltando para casa, onde encontra sua mãe chorando e dizendo que precisa ligar para Cooper para ver se ele está bem, não o reconhecendo.

Fonte: https://goo.gl/2Sh3cY

Assim que ela liga para Cooper, a cena se volta para ele, sentado na cadeira de testes se debatendo, chegando ao óbito por interferência da ligação no celular. Até aqui, além da postura inadequada do psicoterapeuta, há de se observar também a influência da participação (ou no caso, a falta dela) da família no processo psicoterapêutico. Cooper queria fugir dos problemas em casa e da falta de vínculo com a mãe, que não sabia nem onde ele estava no momento.

Em analogia ao processo psicoterapêutico, isso é um problema, pois a família é o lugar onde se forma a estrutura psíquica e onde a experiência se caracteriza, em primeiro lugar, por padrões emocionais. A função de socialização está claramente implícita nesta definição, mas a família não está a ser conceptualizada primordialmente como uma instituição investida na função de socialização. Ela é, em vez disso, a localização social onde a estrutura psíquica é proeminente de um modo decisivo.” (Poster,1979 apud BOARINI 2003).

Fonte: https://goo.gl/ExL7T6

Assim, quando ocorre a interferência da mãe de Cooper no meio do processo psicoterapêutico sem que ela tenha conhecimento desse e também procure por mudanças e autoconhecimento, tudo o que Cooper alcançou se desfaz em meio a esse contato, simbolizado pela sua morte. Com tudo isso, fica a necessidade de se refletir sobre esse processo, sobre os papéis desempenhados, tanto pelo psicoterapeuta, como pelo cliente e sua família, onde todos precisam se comprometer e adotar posturas que beneficiem e tragam mudanças significativas e positivas na vida dos envolvidos.

REFERÊNCIAS

BOARINI, M. L. Refletindo sobre a nova e velha família. Psicologia em Estudo, Maringá, n. esp., p. 1-2, 2003. Disponível em: https://goo.gl/4N4tqF. Acesso em 19 de agosto de 2017.

NEUBERN, M. S. O terapeuta e o contrato terapêutico: em busca de possibilidades. Estud. pesqui. Psicol. vol.10 no.3 Rio de Janeiro dez. 2010. Disponível em: https://goo.gl/trGtY7. Acesso em 19 de agosto de 2017..

PSIQUILIBRIOS. O que é a Psicoterapia? Disponível em: https://goo.gl/TxJP8E. Acesso em 19 de agosto de 2017.

 

Compartilhe este conteúdo:

Odiados pela Nação: a tecnologia do ódio

Compartilhe este conteúdo:

A Netflix lançou em 2016,uma série chamada “Black Mirror” com episódios futuristas, uma mistura de tecnologia avançada, terror, suspense e humanidade. No episódio “Odiados pela nação” a série narrou uma trama policial onde a mídia social é o foco principal. Mostra como uma tecnologia aparentemente “boa”, pode em certo grau dissipar pessoas. O ódio espalhado nas redes social não é nada futurista, ao contrário, é bem atual.

A trama inicia-se com uma pessoa sendo hostilizada por onde passa. O indivíduo em questão postou nas redes sociais o que pensara e terminou sendo morto com uma tecnologia robótica criada para substituir as abelhas, que em vez de servir para salvar a natureza foi direcionada a espionar pessoas. A questão mais pontual de todo o enredo é o exacerbado ódio espalhado na mídia contra alguém desconhecido que falou o que pensa sobre algo. No decorrer do filme é percebido que os compartilhadores das “Hashtags” não tinham noção do que estavam compartilhando, o que é outra questão bem atualizada.

Fonte: goo.gl/Stm6G4

O ódio gratuito e os compatilhamentos inadequados, na maioria dos casos sem a leitura do compartilhando, se tornou algo tão “normal” na contemporaneidade que o absurdo na trama são apenas as mortes. Para se notar isso basta dar uma olhada nos sites e outras mídias que será possível  detectar as ameças, ou apenas a sensação de fazer alguém ser constrangido publicamente.

“Odiados pela nação” expõe temas de justiça e tecnologia que precisam ser trabalhados na sociedade, pois são questões que a maioria dos indivíduos não estão sabendo lidar corretamente. A justiça não tem que ser feita com as próprias mãos, pois há competências para isso, e a tecnologia foi criada para trabalhar a nosso favor, não contra nós, é para ser uma facilitadora, porém estão manuseando-a de forma inconsequente e assustadora.

Fonte: goo.gl/YVqotq

A empatia parece se dissipar e dar lugar a hostilidade coletiva, não se vê mais pessoas querendo ajudar ou pelo menos ficar com “dó”, que também não é algo muito louvável porém se torna bem melhor do que querer publicar tudo, compartilhar conteúdos depreciativos, fofocas, acidentes, enfim, tudo de ruim, menos coisas “boas”.
Os conteúdos mais adequados são vistos como antiquados e ultrapassados, até mesmo isso se torna alvo de maldade, falácias e julgamentos. Os valores são invertidos, e o “bom” é ser provocador e falar as suas “verdades” “doa a quem doer”, não importa. Em sua maioria não estão percebendo que somos seres distintos e especialmente únicos, as digitais estão aí para provar, esses indivíduos em questão acham que há apenas uma verdade, e são as suas, porém a mesma é subjetiva, pois cada um tem seu modo de pensar, e apenas tem que haver respeito mútuo.

Compartilhe este conteúdo:

Engenharia Reversa: os impactos dos dispositivos de controle social

Compartilhe este conteúdo:

“Nós controlamos tudo o que você vê”

Arquette

Em “Men Against Fire” ou “Engenharia Reversa”, quinto episódio da terceira temporada de Black Mirror, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. A história é protagonizada por Stripe, um jovem soldado que juntamente com seus colegas e toda a população local, lutam incansavelmente para erradicar por completo a existência de uma “sub-raça” a qual chamam de “baratas”. Em sua primeira ação em campo de batalha, Stripe mata dois desses seres misteriosos, mas é alvejado por um dispositivo que afeta o controle do sistema de máscara. Uma ferramenta desenvolvida pela tecnologia militar, considerada a arma mais poderosa no que tange ao desempenho de soldados em situações extremas.

Ao ser atingido por esse dispositivo, Stripe tem seu desempenho diminuto e acaba por passar numa bateria de exames a fim de descobrir a causa de seus comportamentos estranhos, como sentir o cheiro, ter empatia, medo e esboçar reações emocionais. O que nunca ocorreu antes. Em sua última etapa, passa por uma breve consulta com uma espécie de psiquiatra chamado Arquette, que o induz a crer que tudo está na mais perfeita ordem. Nos momentos subsequentes, Stripe não consegue mais manter sua rotina de sono e percebe cada vez mais as falhas em sua máscara. Na trama, os sonhos são a representação da paz a ser conquistada, a recompensa por ter realizado um bom trabalho aniquilando as “baratas”.

Fonte: goo.gl/YPwdpX

Todos os acontecimentos até então incompreendidos por ele são trazidos à tona com a total falha no sistema de máscara em plena missão. Nesse momento, Stripe se dá conta de que as “baratas” são na verdade seres humanos como todos os outros, mas os implantes/máscaras foram postos para que os militares os enxergassem como ameaças à humanidade ou à linhagem “pura”. A explicação para esse fato ocorre num diálogo entre Stripe e a mulher que ele salva juntamente com o filho em cenas finais quando consegue enxergá-la sem a máscara, como realmente é. Ela afirma que houve uma guerra e 10 anos depois, cientistas iniciam estudos de triagem do DNA, que visa à criação de uma sociedade sem doenças ou problemas genéticos, num movimento explícito de eugenia.

Todas as pessoas que possuíam algum tipo de tendência genética para doenças como o câncer, atrofia muscular, esclerose múltipla, baixo QI, entre outras, deveria ser extirpada na busca por uma sociedade livre de doenças. Além disso, pessoas consideradas tendenciosas ao crime ou a desvios sexuais também não deveriam existir.
O que se percebe com nitidez neste episódio, é o movimento disciplinador de massas causado pelo dispositivo de controle social, que nada mais é do que um conjunto de mecanismos de intervenção que cada sociedade/grupo social possui e que são usados como forma de garantir a conformidade do comportamento dos indivíduos e essas ações podem ser positivas ou negativas (RODRIGUES, 2016).

Fonte: goo.gl/tEqwDh

Aqui exemplificado pela instituição militar, o controle social toma forma tanto de modo interno como externo, de acordo com o indivíduo a ser atingido pela ordem dominante. Os soldados e a população local já introjetaram em seu modo de ser as regras ditadas, e veem os seres humanos que fogem ao padrão imposto como “baratas”. O ódio gerado na população é livre do sistema de máscara e eles sabem que essas pessoas morrem, enquanto os soldados utilizam o sistema de máscara para cumprir a lei geral através de um entorpecimento emocional.

[…] a construção do sujeito dócil, útil e submisso à ordem estabelecida é possível apenas por meio de processos “disciplinadores”, nos quais o corpo e a mente do sujeito são moldados de acordo com o que se pede no meio social. Fenômeno observado em instituições disciplinadoras, como a escola e os quartéis, onde os indivíduos que ali permanecem vivem sob o controle da instituição. O produto desse processo, quando bem-sucedido, seria um sujeito dócil e “útil” ao seu contexto social (FOUCAULT, 1999, p. 123).

Fonte: goo.gl/EmbRVP

Existe também uma referência crítica neste episódio no que diz respeito à xenofobia praticada por diversos países com a chegada de imigrantes advindos da guerra na Síria, por exemplo, que muitas vezes são vistos como inferiores, perigosos, assassinos e violadores da ordem. O que ocorre em “Engenharia Reversa” não se distancia dos dias de hoje e cria um retrato da realidade aumentada do que vivemos no presente, trazendo reflexões importantes sobre o modo como a sociedade vem sendo construída e os valores que são passados transgeracionalmente. O tema, portanto, é de especial importância para os interessados em Psicologia Política, Ética e Psicologia Social.

 REFERÊNCIAS:

 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

LUCAS DE OLIVEIRA RODRIGUES (Brasil). Mundo Educação. Controle Social: delimitando comportamentos. 2016. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/controle-social.htm>. Acesso em: 13 out. 2017.

 

Compartilhe este conteúdo: