A cientista e psicóloga que negou a teoria de superioridade masculina

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Leta hollingworth

fonte: arquivo pessoal

Nascida em maio de 1886, no oeste de Nebraska. Sua história de vida já começa marcada pelos paradigmas do patriarcado. A história conta que sua mãe  Margaret Danley Stetter, enviou várias cartas ao seu pai, que estava trabalhando longe, tentando fazer com que ele voltasse para casa, para ver seu nascimento e ao chegar e vê-lá  sua primeira reação foi dizer: ‘’ Eu daria US$1.000 se fosse um menino’’. infelizmente era algo comum na época em que acreditava-se que mulheres eram fisicamente e mentalmente inferiores a homens.

Anos mais tarde  isso pareceria como o destino, pois as visões de Leta  passariam a desafiar os paradigmas da época. Por séculos homens mistificaram os ciclos menstruais, alegando que mulheres não deveriam fazer parte do ensino superior ou do trabalho, por sua instabilidade durante a menstruação. Médicos identificaram  essas condições com causas físicas e mentais, pois consideravam mulheres como ‘’excessivamente emocionais’’ surgindo então o termo histeria.’A causa da histeria era atribuída ao útero, que teria o poder de se movimentar dentro da mulher, por ser um ser vivo autônomo, podendo ocorrer então a sufocação da matriz, do útero – origem da palavra histeria (Ávila & Terra, 2010; Leite, 2012). O diagnóstico era sério, levando a tratamentos duvidosos e até a internação.

fonte:http://encurtador.com.br/bdBMR

A fim de refutar a fragilidade feminina, Leta conduziu vários testes diários em seis mulheres e dois homens durante meses, que avaliavam agilidade física e habilidades escritas. O resultado foi um desempenho igualitário entre homens e mulheres, inclusive no período de  menstruação. Baseando-se nesses teste e em seu conhecimento publicou no seu artigo em 1914 ‘’ “homens que escreveram com autoridade sobre qualquer assunto sem que possuíssem conhecimento confiável ou especializado” não hesitaram em fazer afirmações não comprovadas sobre as habilidades intelectuais e físicas das mulheres durante seus ciclos menstruais.

Por meio de seu trabalho, também  se envolveu na luta pelo voto feminino, que resultou na  ratificação da 19ª Emenda nos Estados Unidos, que assegurou a participação de algumas mulheres na eleição de 1920. Ela acreditava que os poderes da sugestão social e da opinião pública eram umas das muitas maneiras em que homens exerciam poder sobre as mulheres. De acordo com pesquisas feitas atráves do artigo da revista forbes(2020): Em um artigo publicado no “American Journal of Sociology”, em 1916, a cientista sugeriu que o governo norte-americano obrigava as mulheres a terem filhos, tornado ilegal a divulgação de informações sobre controle de natalidade: “Enquanto apontam que o objetivo da natureza feminina é a maternidade e o cumprimento dos deveres maternos”, escreveu Leta, “a sociedade restringe as possibilidades para as mulheres”.

Leta, assim como outras mulheres, encontrou na ciência sua forma de lutar. Sua carreira profissional começou como professora, depois de se formar na universidade de Nebraska em 1906. Prosperando nesse emprego, se mudou para Nova York juntamente com seu noivo Harry Hollingworth, em 31 de dezembro de 1908 . Leta pretendia dar aulas em Nova York, mas descobriu que a cidade tinha uma política em que mulheres casadas não tinham permissão de ensinar. Ela então continuou  escrevendo e ocupando-se de tarefas domésticas, mas com o tempo vendo que não conseguia contribuir financeiramente começou  a se sentir entediada, frustrada, começando então a desenvolver depressão. Tentou então ir à pós-graduação, mas foi impedida pela descriminação de gênero da época, o que fez ela começar a questionar o papel da sociedade em relação às mulheres e a desigualdade de oportunidades.

Em 1911 ela pode começar a sua pós graduação, devido a uma bolsa de pesquisa que seu marido conseguiu pela coca-cola, ele a contratou como assistente de direção dos estudos, além de arcar com partes dos custos. Durante a pós-graduação ela passou a se concentrar em aspectos femininos. Nos anos seguintes publicou a série de estudos que questionaram a diversidade intelectual masculina. Para Leta, as mulheres eram tão inteligentes (e ignorantes) quanto os homens. Segundo a revista forbes(2020)  Em 1914 juntamente com Henrietta e membros da aliança feminista, enviaram uma carta ao presidente norte americano Woodrow Wilson, pedindo apoio para uma emenda constitucional determinando que “nenhum direito civil ou político deve ser negado a qualquer pessoa por causa do sexo”, de acordo com para o jornal “The Sun”.

Alguns feitos de Leta foram: a primeira a escrever um livro sobre crianças superdotadas, bem como dar um curso sobre crianças superdotadas. Foi a primeira a estudar crianças com quocientes de inteligência (QI) acima de 180. Publicou mais de 30 estudos sobre pesquisas e desenvolvimento talentosos e pioneiros em ambientes naturais. Desenvolveu terapia de centro infantil e treinou Carl Rogers . 

Hollingworth afirma em seu artigo,  “Sem dúvida, um dos problemas mais difíceis e fundamentais que hoje enfrentam as mulheres pensantes é como garantir para si mesmas a chance de variar de seu modo de vida. sexo e, ao mesmo tempo, procriar, em uma ordem social que foi construída sobre a suposição de que há pouca ou nenhuma variação de gostos, interesses e habilidades dentro do sexo feminino. É um problema que nunca me confrontou . ” [15] Embora seja algo escrito em 1914 podemos olhar frente a isso como um paradigma atual, mulheres ganham cada vez o seu espaço, mas ainda não são valorizadas pela variação de seus gostos, ainda existindo espaços em que ‘’não são para mulheres’’.

Leta morreu em 27 de novembro de  1939, aos 53 anos, deixando um legado de contribuição  para a eugenia na educação americana que foram fundamentais para a fundação e disseminação de programas para superdotados e talentoso, além de contribuir de uma pequena forma para mudar as visões em relação às mulheres levando as mulheres a terem o direito de votar em uma nação que por muito tempo as negou esse direito. Hoje, assim como muitas mulheres da ciência, sua história nos inspira e nos motiva mulheres a buscar seu lugar de igualdade.

 

 

REFERÊNCIAS

JENNINGS,Katie. Leta Hollingworth: a cientista do século 19 que refutou as teorias de superioridade masculina.Forbes, 2020 . Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/forbes.com.br/colunas/2020/08/conheca-a-cientista-do-seculo-19-que-refutou-as-teorias-de-superioridade-masculina/%3famp>. Acesso em: 15 de abr de 2022.

Leta Stetter Hollingworth. Stringfixer. Disponível em <https://stringfixer.com/pt/Leta_Stetter_Hollingworth> acesso em 15 de abr de 2022.

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Bioimpressão de órgãos

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Nas longas sessões de filmes clássicos da sessão da tarde, onde existem cenários futurísticos com carros voadores nos jetsons ou blade runner, até teorias físicas e astrofísicas presentes de forma cartunesca para justificar eventos e fatos nos quadrinhos da marvel, temos uma ideia de como a indústria do entretenimento ou a arte  imagina – inspira- os próximos passos da ciência.

Nos últimos anos, o ramo de tecnologia aplicada à medicina parece estar iniciando o caminho para a geração de órgãos sintéticos. Sim! como o corpo do homem bicentenário, ou o olho do Thor. Mais além, como a arte imagina a ciência, por que não uma mão e olhos aprimorados como em cyberpunk 2077? O futuro é promissor, mas vamos entender melhor como essa tecnologia funciona e qual é o status atual tanto de sua utilização no mercado quanto da capacidade atual de gerar tecidos e órgãos.

A tecnologia de Bioimpressão possui etapas similares à da impressão 3D. Sendo basicamente as seguintes etapas [1] :

  • Etapa de pré-processamento, nesta etapa necessita-se de um BioCAD / Blueprint ou simplesmente do projeto do tecido para a bioimpressão;
  • Etapa de processamento ou bioimpressão 3D, nesta etapa são utilizados componentes, como células ou esferóides, materiais sintéticos ou biomateriais, hidrogéis e biomoléculas;
  • Etapa de pós-processamento é a etapa de maturação do tecido bio impresso. Ela necessita de sistemas fechados e controlados para a maturação do tecido bio impresso, podendo ser equipamentos chamados biorreatores, essenciais para o desenvolvimento do tecido bio impresso.
Fonte: Imagem no Freepik

Há portanto uma importante relação multidisciplinar que propicia a existência dessa tecnologia. Para isso, os ramos da engenharia tecidual, da biofabricação, da bioimpressão e da tecnologia da informação se entrelaçam dando origem à possibilidade de construção de órgãos funcionais sintéticos.

Vale destacar que a engenharia de tecidos já existia desde os anos 80, período no qual já era possível cultivar células de um coração. Outros avanços que merecem menção são: o desenvolvimento de uma orelha nas costas de um camundongo em meados dos anos 90 e, em 2019, a impressão de um cubo 3cmx3cmx3cm de um coração humano [2]. Para um leigo parece pouco ou inexpressivo, mas se trata de um grande avanço, que demarca o início do foco de mais estudos na área que possibilitará o desenvolvimento completo de órgãos.

A implementação da impressão se dá objetivamente pela inserção de célula por célula – seja muscular, endoteliais ou células tronco – fixadas por hidrogel de textura semelhante ao gel de cabelo que obviamente é composto por materiais biologicamente compatíveis com as células que comporão o tecido ou órgão em questão. Em alguns artigos esse hidrogel pode ser de biotina ou fibrina. Conforme pode ser visto no vídeo abaixo.

Vídeo – Bioimpressão de órgãos humanos

“Atualmente temos próteses e implantes adequados para tecidos ósseos e para cartilagem. Mas por conta dessa complexidade bioquímica e biomecânica dos osteocondrais, não existe um biomaterial comercialmente adequado para esse tipo de implante. Por isso, os médicos acabam tendo bastante dificuldade de tratar lesões nos joelhos dos pacientes, por conta da dificuldade da especificidade da região osteocondral”[3].

“Nos últimos anos, ocorreu bastante progresso na pesquisa referente a tecnologia de bioimpressão e sua aplicação na geração de análogos de tecidos, incluindo pele, válvulas cardíacas, vasos sanguíneos, ossos, cartilagem, estruturas da córnea, fígado, tireoide e tecido cardíaco” [1].

Fonte: Imagem no Freepik

Consoante a isso, há o problema de não ser possível, ainda, a impressão de órgãos plenamente funcionais, portanto há alguns passos que precisam ser dados antes de se alcançar o patamar desejado, a bioimpressão também enfrenta dificuldades para encontrar materiais que promovam o melhor ambiente possível para o crescimento das células que formariam o órgão. Os polímeros sintéticos utilizados na impressão, apesar de serem fortes e adaptáveis para melhorar a viscosidade e a capacidade de se imprimir os órgãos, não são biodegradáveis e não possuem uma boa adesão para suportar o crescimento adequado de células, ou seja, não possuem uma boa biocompatibilidade. Por outro lado, polímeros naturais não são tão fortes nem possuem a adaptabilidade dos sintéticos, porém oferecem uma adesão melhor para o crescimento de células. Estudos estão sendo feitos para que um material que combine as qualidades dos dois tipos de polímeros, como na Universidade de Swansea, que propôs a utilização de polímeros baseados na utilização de plantas, combinando a resistência da célula vegetal com a adesão para o suporte do crescimento das células [4].

Outro problema com a bioimpressão é a vascularização dos tecidos impressos, uma vez que as ferramentas atuais muitas vezes não possuem a capacidade de criar a vascularização de calibre apropriado para os tecidos. No corpo os vasos sanguíneos carregam nutrientes e oxigênio para as células e levam das células o lixo celular [5]. Assim como o problemas dos polímeros, existem estudos sendo feitos para solucionar esse problema, como uma nova impressora da Cellink and Prellis Biologics[6] e o modelo SWIFT de impressão, do Instituto Wyss de Harvard [7].

Por fim, para avançar nessa área deve se ter ciência que esse estudo agora é muito mais sistemático, e necessita de uma nova abordagem computacional para compreender  sistemas biológicos complexos de tecidos. Com isso, o BioCAE (plataformas integradas para estimar processos biológicos) poderá se tornar a chave para etapas importantes dos processos de Biofabricação e Bioimpressão de tecidos”[1]. Para o sucesso do BioCAE na área da bioimpressão, é imprescindível o avanço no conhecimento biológico e  na compreensão da relação entre células e tecidos.

“Compreender o fenótipo celular e tecidual, redes de interação de linhagens celulares, células induzidas/editadas e de tecidos é crucial para o desenvolvimento de novos Bioprocessos e Bioprodutos, como a biofabricação de tecidos e futuramente órgãos”[1]. O conhecimento é a chave para o desenvolvimento em qualquer área de conhecimento, e uma das barreiras no contexto da bioimpressão é entender a fundo como as células funcionam e suas relações, por isso a importância da análise sistemática. “A análise sistemática e o uso de métodos computacionais como o BioCAE auxiliará de forma significativa o desenvolvimento de Bioprocessos e Bioprodutos, minimizando os custos, o tempo e o uso de animais”[1].

Em vista dos fatos apresentados, poder gerar um órgão utilizando tecnologia deixa de ser algo distante dos filmes de  ficção científica e se torna algo possível de se alcançar. Graças à sua evolução, a ciência dá passos cada vez mais largos em direção a este objetivo, deixando as pessoas esperançosas com os incontáveis avanços na área da saúde que serão proporcionados pela bioimpressão de órgãos e fabricação de bioprodutos. É entendido que ainda há bastante obstáculos pela frente, além de vários erros a serem cometidos, mas devemos nos manter confiantes no progresso, pois como dizia Carl Sagan, “existem muitas hipóteses em ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável, eles são a abertura para achar as que estão certas”.

Fonte: Imagem no Freepik

REFERÊNCIAS

[1]https://www.biofabricacao.com/bioimpressao-3d

[2]https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/09/20/bioimpressao-o-futuro-nos-orgaos-humanos-impressos-em-laboratorio.htm

[3]https://www1.cti.gov.br/pt-br/noticias/cti-renato-archer-lidera-ranking-do-cen%C3%A1rio-de-pesquisa-em-bioimpress%C3%A3o-na-am%C3%A9rica-latina

[4]Bioprinting organ challenges: an emerging technology (medicaldevice-network.com)

[5] Recent advances and challenges in materials for 3D bioprinting – ScienceDirect

[6] CELLINK and partner Prellis Biologics awarded Merck Innovation Award – Cellink Global

[7] A swifter way towards 3D-printed organs (harvard.edu)

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A importância da Ciência na história e construção da humanidade

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Já imaginou um mundo sem internet, computador, tik tok, Instagram e celular? Difícil, imaginar essa realidade, para quem já nasceu na era da revolução tecnológica, em que tudo é muito rápido. O mundo nem sempre foi assim, ao invés de e-mail as pessoas se correspondiam por cartas. Houve um tempo, que para viajar para o exterior, era preciso ir de navio. Ainda bem, que a história de toda humanidade ficou marcada pelo avanço da ciência, que trouxe conquistas significativas para a permanência da espécie, bem como aumento da qualidade de vida e longevidade. 

Martins e Paixão (2011) refletem que as invenções tecnológicas modificaram profundamente a vida pessoal, familiar, profissional e social, além de aumentar o bem-estar as pessoas, e a criação de novos hábitos de vida, com o advento de novas descobertas no ramo tecnológico.  Entre os exemplos destaca-se a tecnologia das comunicações. Atualmente, as pessoas realizam lives, nas redes sociais, para se comunicarem com seu público. Não é mais preciso alugar um salão para discutir novas ideais acerca de um assunto com sua audiência.

As conquistas da ciência são diárias, recentemente, o mundo viveu a maior crise sanitária, que afetou os quatros cantos do planeta, a pandemia da Covid19, que dizimou mais de quatro milhões de vida, até o momento, conforme Organização Mundial de Saúde (OMS). E para conter o avanço do vírus, houve uma corrida científica na busca pela vacina por pesquisadores de diferentes nacionalidades, elaborada em tempo recorde.

Fonte: encurtador.com.br/mPTY7

De acordo com a OMS, a primeira vacina a ser aprovada para uso emergencial foi a americana Pfizer. Enquanto, no Brasil, foi a Coronavac, elaborada na China e desenvolvida pelo Instituto brasileiro Butantã. A vacina está entre as grandes descobertas da ciência, por reduzir a mortalidade e aumentar a expectativa de vida das pessoas.  A história do imunizante teve início, no século 18, na Inglaterra, a partir de estudos para conter o avanço da varíola, com o médico e pesquisador. Edward Jenner. Outra conquista da ciência foi a descoberta da penicilina, primeiro antibiótico a ser usada pela humanidade, fator que reduziu consideravelmente a morte das pessoas por infecção.  O autor do feito foi o cientista Alexander Fleming. 

Entre outras vitórias científicas, que vai além das vacina, está a invenção do computador, um objeto indispensável para a realização diária de atividades, criado em 1946, pela Electrical Numerical Integrator and Calculator (Eniac).  Nos dias atuais, é comum as pessoas usarem os celulares como se fosse um computador para realizar todo tipo de atividade. Este cenário foi possível com o surgimento da internet que teve seus primeiros estudos, no durante a Guerra Fria, pela necessidade de enviar e receber mensagens, sem o conhecimento do inimigo.

Ozório e Martins (2011) observam que o conhecimento científico e tecnológico marca, de diferentes formas, as sociedades dos países desenvolvidos. Para eles, o crescimento dos países considerados, de primeiro mundo, foi associado ao uso das tecnologias. Ou seja, a ciência e tecnologia como instrumentos “poderosos de serviço da humanidade”. Uma perspectiva realista, já que o desenvolvimento da ciência é inerente a melhor qualidade de vida das pessoas, até porque, em muitos sentidos, torna-se um facilitador. Por isso, se fala tanto em qualidade de vida.

Referências

Almeida, JMF. Breve História da Internet (2005). Disponível em <  https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/3396/1/INTERNET.pdf > Acesso, 10, de out, de 2010.

Martins, I; Paixão P. Perspectivas actuais ciência-tecnologia-sociedade no ensino e na investigação em educação em ciência(2011).  Disponível em < https://blogs.ua.pt/isabelpmartins/bibliografia/CapL_13_IPMartins_FPaixao_Perspectivas_CTS_2011.pdf >. Acesso  14, de out. de 2021.

Organização Mundial de Saúde (OMS) https://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/

OSÓRIO, C.; MARTINS, I. P. La Educación Científica y Tecnológica para el Espacio Iberoamericano de Conocimiento(2011).

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Niède Guidon e sua contribuição para a ciência e história brasileira

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Fonte: http://encurtador.com.br/acyH1

Niède Guidon é uma arqueóloga brasileira, pesquisadora, nascida em Jaú, interior de São Paulo, no dia 12 de março de 1933, hoje com 88 anos, formada em História Natural pela USP, com doutorado em pré-história pela Sorbonne e especialização na Université de Paris. Se mudou para a França, após o golpe de 1964, devido a sua militância política, construindo portanto, sua carreira como arqueóloga. Em 1963 quando estava expondo pinturas rupestres de Minas Gerais no Museu Paulista, conheceu um morador de São Raimundo Nonato no Piauí, informando-lhe que lá existiam pinturas semelhantes, algo que despertou curiosidade na pesquisadora, que já seguia com estudos voltados para a descoberta de vestígios do homem mais antigo das Américas, como assistente da grande arqueóloga francesa Annete Emperaire.

Niède Guidon é conhecida mundialmente como uma arqueóloga que dedicou seus estudos para demonstrar a presença do homem nas Américas, através dos sítios arqueológicos encontrados na região de São Raimundo Nonato, deixando portanto, sua vida de docência na França para se estabelecer no Brasil, e assim intensificar sua pesquisa nessa área, diante de evidências da passagem do homem nesse local. Considerada como uma das arqueólogas mais premiadas no mundo, no ano passado foi homenageada na conquista do renomado Prêmio Hypatia Awards, sendo a única sul americana prestigiada nessa premiação, como reconhecimento pelo seus trabalhos de pesquisas desenvolvidas no Piauí.

Sua trajetória de estudos, portanto, é marcada pela sua mudança em 1992 para a cidade de São Raimundo Nonato, onde inicia suas atividades de pesquisa, porém desde 1973 integra a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, concentrando seus trabalhos nesse local, se tornando uma grande lutadora para que suas pesquisas sejam subsidiadas financeiramente e assim possam ser continuadas e ampliadas, mas acima de tudo reconhecidas. Nesse percurso, muitos já foram os desafios superados nesse sentido, porém a valorização dos estudos e suporte financeiro para sua continuidade, como a manutenção das atividades de estruturação turística, pagamento de funcionários, entre outras despesas, ainda são vivenciados pela pesquisadora, que segue lutando isoladamente para que os trabalhos no Parque Nacional da Serra da Capivara permaneçam acontecendo.

Fonte: http://encurtador.com.br/CLNST

Niède Guidon afirma que o material arqueológico encontrado no Piauí, indica que o homem chegou no local cerca de 100 mil anos atrás e apesar de ser alvo de questionamentos, por diversos estudiosos, a pesquisadora acredita que o Homo Sapiens veio da África, por via marítima, atravessando o oceano atlântico, chegando então até o Piauí. Sua teoria se sustenta na constatação que, diante da seca enfrentada na África, o homem teria ido buscar alimentos pelo mar, que a distância entre a África e a América eram muito menores, sendo esses os argumentos que explicam, porém sua teoria se choca com a defendida pela arqueologia tradicional, ao qual relata que a chegada do homem nas Américas tenha acontecido cerca de 13 mil anos atrás, vindo da Ásia, pelo estreito de Bering.

A luta de Niède Guidon perpassa pelo incentivo necessário para manutenção de pesquisas no país, algo relevante, pois as descobertas são contribuições imprescindíveis para aprofundamento e ampliação do conhecimento. A arqueóloga enfrenta o desafio de manter a gestão do Parque Nacional da Serra da Capivara em funcionamento, por meio da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), porém na atual conjuntura da pandemia, enfrenta a batalha do custeio dos trabalhos, com grandes prejuízos para o andamento das pesquisas.

Em 2015, a pesquisadora viu seus trabalhos serem paralisados, por falta de recursos, mesmo sendo retomados logo depois, a luta se intensificou para que os projetos e pesquisas não mais tenham grandes prejuízos, apesar da necessidade ser bem maior, que os recursos atualmente disponíveis, revelando uma dura realidade enfrentada por muitos pesquisadores no Brasil. Ainda assim, Niède Guidon, se coloca na linha de frente de defesa do maior tesouro arqueológico brasileiro, e acima de tudo, da ciência como um campo a ser desbravado e fonte de crescimento e desenvolvimento de um país.

Fonte: http://encurtador.com.br/COS24

Niède Guidon acredita com seus estudos poder reescrever a versão da história demográfica do homem e mesmo existindo aspectos controversos, contestados por outros estudiosos, a pesquisadora acumula evidências científicas, que fortalecem suas hipóteses, com grandes descobertas de sítios arqueológicos e centenas de fósseis localizados na região de São Raimundo Nonato.

Além da pesquisadora ser perseverante no cuidado à manutenção dos vestígios arqueológicos, com toda certeza, o impacto da criação do Parque Nacional da Serra da Capivara é bastante positivo para o contexto turístico da região. Uma cidade no interior do Estado do Piauí, que tem um crescimento no seu turismo, pela intensificação da movimentação de visitantes, sem dúvida, tem com isso uma modificação no cotidiano dos seus moradores, contribuindo para um desenvolvimento social e econômico no local.

Niède Guidon define sua luta como algo primoroso e se preocupa com o avanço da sua idade frente a direção da Fumdham, como uma necessidade de passar esse trabalho para outra pessoa com igual interesse em manter as pesquisas e o funcionamento do Parque. No entanto, segue ainda no comando, lidando com escassez de recursos, para o mais importante sítio arqueológico do país, mas acreditando na promessa de novos repasses por parte do Governo, no apoio de outras entidades colaboradoras e principalmente, nos resultados já alcançados pelos seus estudos, que fortalece diariamente a sua luta.

REFERÊNCIAS:

DUARTE, Cristiane Delfina Santos. A mulher original: produção de sentidos sobre a arqueóloga Niéde Guidon. 2015. 242 p. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem e Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, Campinas, SP. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/271103. Acesso em: 24 abr. 2021

MARTIN, Gabriela. PESSIS, Anne-Marie. Entrevista: Niède Guidon. Clio Arqueológica, v35N1, p.1-13, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/clioarqueologica. Acesso em: 24 abr. 2021.

MUSEU DO HOMEM AMERICANO. A arqueóloga Niède Guidon. Disponível em: http://www.fumdham.org.br/museu-do-homem-americano. Acesso em: 24 abr. 2021.

GAUDENCIO, Jessica. Niède Guidon: a cientista brasileira responsável pelo tesouro arqueológico nacional. História da ciência e Ensino: construindo interfaces, vol. 18, pp 76-87, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.23925/2178-2911.2018v18i1p76-87. Acesso em: 24 abr. 2021.

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CAOS 2020: Encerramento tematiza possibilidades de avaliação de pessoas trans

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Evento também discutiu métodos de avaliação psicológica envolvendo o uso de testes.

No dia 6 de novembro de 2020 às 19 horas, ocorreu a palestra de encerramento do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS 2020), organizado e promovido pelo Centro Universitário Luterano de Palmas. A palestra de encerramento, mediada pela professora Muriel Correa Neves Rodrigues (CRP23/377) recebeu a psicóloga, Bruna Sofia Morsch de Souza (CRP 12/16721) que trouxe o tema da primeira palestra “A clínica, a pessoa trans e os laudos psicológicos”.

A psicóloga Bruna debateu criticamente o método de avaliação de pessoas que estão no processo de realizar a cirurgia de transição à luz da psicanálise de Freud e Lacan. A palestrante explicitou que na comunidade acadêmica, que utilizam a psicanálise como base científica, a pessoa trans é vista automaticamente como psicótica e por isso o laudo para a autorização da cirurgia não é concedido e desse modo, há uma barreira na escuta da pessoa trans.

Fonte: Arquivo Pessoal

A palestrante também expôs que é necessário avaliar o que sustenta a transexualidade para desenvolver o laudo para o procedimento cirúrgico. Além disso, também é de grande importância o trabalho juntamente com a/o profissional de psicologia antes e a após a cirurgia, e se não ocorrer, pode ocorrer as ideações e tendências de desvalorização da vida. Pois haverá o luto do corpo que se vai e a atenção ao corpo que se revela.

A segunda palestra foi apresentada pelo psicólogo egresso do CEULP/ULBRA Ruam Pedro Pimentel (CRP 23/1394) com o tema “Quando a avaliação envolve testagem: como escolher?”. O palestrante desenvolveu sua fala de modo técnico, explicando o objetivo da avaliação psicológica, a metodologia envolvida no processo avaliativo, qual os testes que podem ser utilizados, de acordo com as demandas que surgirem.

Fonte: Arquivo Pessoal

O psicólogo Ruam também mostrou alguns exemplos que envolvem escalas, inventários, autorrelatos, heterorrelatos, observação de comportamentos, entre outros, que podem ser utilizados durante o processo. Além disso, deu ênfase em como o planejamento é importante e necessário no decorrer das avaliações psicológicas assim como as devolutivas e o rapport. Ruam diz que “A relação entre o sujeito e o avaliador não se constrói de um dia para o outro”, mostrando o quando a vínculo irá interferir no andamento.

O CAOS 2020 trouxe como tema Psicologia e Profissão: a avaliação psicológica em destaque. O evento teve início no dia 3 de novembro e se encerra no dia 7 do mesmo mês com a Assembleia geral dos estudantes de Psicologia do Tocantins (9h de sábado, 7). O congresso contou com palestras, rodas de conversa, minicursos e sessões técnicas.

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Caos 2019 irá abordar o olhar da ciência sobre a homofobia e reorientação Sexual

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Entender os contextos político, social e psíquico pelos quais opera a lógica do preconceito é de fundamental importância, tendo em vista o caráter social e humanista presentes na prática profissional dos/as psicólogos/as.

Dois dos temas mais emergentes da Psicologia, a homofobia e a reorientação sexual, terá espaço na palestra de encerramento do Caos 2019, que será ministrada pelo psicólogo mineiro Fábio Baía, no dia 24 de maio de 2019, às 19h, no auditório central do Ceulp/Ulbra.

A homofobia, hoje, é pauta recorrente na intervenção clínica por causar de uma série de danos psicológicos às vítimas. Neste sentido, entender os contextos político, social e psíquico pelos quais ela opera é de fundamental importância, tendo em vista o caráter social e humanista presentes na prática profissional dos/as psicólogos/as.

Na mesma perspectiva, Fábio Baía irá abordar a problemática da reorientação sexual, e o papel da Psicologia no processo de quebra de preconceitos, além da necessidade dos profissionais, ao seguir os princípios éticos, combater a prática da reorientação sexual, bem como promover a diversidade e da dignidade humana. Toda a palestra será balizada pelo que há de mais atual em termos de paradigmas científicos.

Fonte: Arquivo Pessoal

Fábio Baía é psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2006), mestre em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília (2008) e doutor em Ciências do Comportamento pela Universidade de Brasília (2013). Foi membro do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás.

O palestrante também foi presidente da Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr) biênio 2016-2017 e diretor da Faculdade de Psicologia da UniRV 2015-2018. Atualmente é professor titular da Universidade de Rio Verde, Líder do Grupo de Pesquisa ‘Análise do Comportamento nos três níveis de seleção’, membro do Grupo Internacional de Pesquisadores Culturo Behavior System Sciences e coordenador do Laboratório de Psicologia Experimental (LAPEX-UniRV). Fábio também tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Experimental, atuando principalmente nos seguintes temas: fenômenos sociais, metacontingência, práticas culturais, macrocontingência.

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Nos profundos vales da galáxia e da solidão humana em “High Life”

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Nesse verdadeiro tratado sobre a solidão no espaço, “tabu” e “reciclagem” são conceitos-chave para entender High Life

Uma nave em algum lugar no espaço profundo, para além do sistema solar, ruma a 99% da velocidade da luz na direção de um buraco negro. Um homem dedica-se a cuidar da sua pequena bebê, em meio aos corredores escuros e um desordenado jardim de onde tira alimentação e oxigênio. Como pararam ali? De quem são os cadáveres mantidos em uma câmara criogênica? Quais os efeitos da viagem na velocidade da luz em uma tripulação perdida no vazio em uma missão potencialmente suicida? High Life (2018), da diretora francesa Claire Denis, não é propriamente um sci-fi convencional: em uma narrativa elíptica e em flash-backs tentamos reconstituir o passado e estimar o futuro daquela estranha missão. Uma viagem estranha e surreal pelos profundos vales da galáxia e da solidão humana. No espaço cósmico o homem nada descobrirá, a não ser a si mesmo. E isso pode não ser uma boa coisa.

No momento em que foi comprovada a existência de buracos negros pela primeira foto real de um dessas misteriosas entidades cósmicas, assistir ao filme High Life (2018) é uma experiência oportuna. Não pela curiosidade científica, mas pelo simbolismo cinematográfico ou mundano desse fenômeno astrofísico: aquilo que se esconde por trás do horizonte de eventos de um buraco negro poderia ser uma nova oportunidade de renovação. Mais precisamente, de “reciclagem”.

Ao lado da palavra “tabu”, são os dois conceitos centrais para entender o que representa o buraco negro no primeiro filme falado em inglês da diretora francesa Claire Denis – Deixe a Luz do Sol Entrar (2017), Bastardos (2013).

High Life emula os sci-fi cerebrais dos anos 1970, mas a comparação com 2001: Uma Odisseia no Espaço é inevitável. Não temos mais um HAL 9000 que dizima a tripulação de uma nave, mas uma cientista obsessiva com suas experiências em reprodução humana no espaço – a “xamã do esperma”, como diz cinicamente um dos astronautas de uma nave cujo nome é apenas um número: “sete”.

E nem o destino da missão é nobre: a tripulação não passa de cobaias em uma missão suicida: ex-condenados, alguns deles à morte, pela justiça na Terra e que aceitaram fazer essa jornada sem volta no espaço profundo. A missão: comprovar o chamado “Processo Penrose”, teoria do matemático Roger Penrose de que é possível extrair energia de um buraco negro em rotação.

Mas tudo isso é apenas o pano de fundo científico para discutir o “demasiado humano” – a solidão humana no espaço como o momento em que a espécie se confronta consigo mesma. Quanto mais longe da Terra, mais o homem encontrará a si mesmo. E isso pode não ser uma boa coisa.

Fonte: encurtador.com.br/hlwM3

O Filme

Em algum lugar do espaço profundo, muito além do sistema solar, uma nave viaja em direção a um buraco negro. No seu interior, uma tripulação que há muito morreu, mas todos estão conservados em sacos de plásticos criogênicos e tubagem industrial. Ainda há vida remanescente a bordo, um homem chamando Monte (Robert Pattinson) e sua bebê chamada Willow (Sacarlett Lindsey). Por entre corredores escuros e jardins desordenados em grandes estufas que fornecem oxigênio e alimentação, Monte ensina sua pequena filha a andar, alimenta-a e dedica toda sua atenção a sua única companheira viva.

No mesmo dia em que retira os cadáveres da sala criogênica e joga-os para fora no vácuo do espaço, Monte sintetiza sua sabedoria para sua pequena filha: “nunca beba o próprio mijo e a própria merda, mesmo que esses excrementos estejam reciclados e apresentando outra forma em que nada se assemelhem à forma original… isso se chama tabu”.

Nesse verdadeiro tratado sobre a solidão no espaço, “tabu” e “reciclagem” são conceitos-chave para entender High Life

Fonte: encurtador.com.br/uy159

Como compreenderemos nos constantes flash-backs em uma narrativa não-linear (Claire Denis está menos interessada em explicações e muitos mais em dar pistas elípticas), toda a tripulação é composta por condenados – os mais diferentes tipos de desajustados e excluídos numa sociedade sobre a qual não temos muito detalhes. Uma coleção de seres humanos reciclados e transformados em cobaias numa missão suicida. O número que carregam nos uniformes (“sete”) parece indicar que eles não são os únicos: outras naves-prisões também foram enviadas.

Os sistemas de suporte vital da nave devem ser renovados a cada 24 horas e se eventualmente não restar ninguém vivo para fazer esse trabalho, a nave se autodestruirá.

Havia um piloto e supostamente o capitão da nave, mas quem parecia realmente comandar a tripulação era a Dra. Dibs (Juliette Binoche), médica encarregada de cuidar de todos a bordo. Porém, na verdade está obcecada com a colheita de óvulos e sêmen de todos para suas próprias experiências de reprodução e fertilidade humana.

Com seus cabelos longos e aparência obsessiva, Dibs mais parecia uma bruxa, a “xamã do esperma”, como 

E mais: ela ainda conta com uma máquina chamada “fuckbox” – uma câmara no qual os tripulantes se masturbam e Dibs recolhe os preciosos fluidos humanos. Ela tenta sucessivas inseminações de óvulos fertilizados, porém os fetos tendem a morrer devido ao envenenamento pela irradiação espacial.

Fonte: encurtador.com.br/ixzBU

Monte é o único que se recusa a fornecer esperma à Dra. Dibs. Ele quer “guardar os fluidos para si mesmo” numa espécie de celibato proto monástico. Por isso, Monte é chamado de “monge” por todos. Apesar de serem criminosos tirados do corredor da morte das prisões, suspeitam que Dra. Dibs deva ter cometido crimes bem além da imaginação de todos.

Perversão, religião e ciência

O que é marcante em High Life é que não há relação sexual naquela nave composta por homens e mulheres. Não há cópulas, apenas perversões e muitos fluidos como leite materno, esperma e sangue menstrual.

Monte e Dra. Dibs criam a polaridade Ciência versus Religião para abordar os conceitos de reciclagem e tabu. A obcecada Dibs vê naquela tripulação de condenados à morte as cobaias perfeitas para suas pesquisas obscuras – a plasticidade da vida e as possibilidades infinitas de reciclagem e mutação são os paradigmas das suas pesquisas eticamente condenáveis.

Enquanto o “monge” Monte procura manter a integridade individual diante da máquina científica enlouquecida – condenados no espaço em uma missão suicida para buscar uma fonte infinita de energia nas bordas de um buraco negro. Sua abstinência e renúncia a desejos e emoções é quase uma atitude estética para fazer frente às frenéticas experimentações da Dra. Dibs.

Fonte: encurtador.com.br/kvHO7

Para Monte, são necessários tabus para criar algum tipo de limite ético entre as possibilidades infinitas da Ciência e o indivíduo mortal.

Para quem procura ficção-científica com efeitos especiais, design de áudio com assobios, blips, explosões e muito design futurista, High Life é a produção errada: sua força está muito mais no roteiro elíptico que lentamente vai cobrindo os espaços em branco dos porquês, do que nas convenções do gênero – o design da nave, da vestimenta dos astronautas e painéis da nave parecem desgastados, velhos, parecendo muito mais um escritório comercial abandonado.

High Life lembra em muitos aspectos 2001, só que numa odisseia muito mais obscura: o destino não é uma lua de Júpiter no qual a humanidade encontrará o seu futuro “Starchild”. Aqui, não: a nave-caixão ruma para o seu fim num buraco negro perdido no espaço profundo.

Claire Denis reserva ao espectador um final ambíguo, para além do horizonte de eventos daquele aspirador cósmico – Monte e sua filha Willow, agora crescida (Jessie Ross), verão no buraco negro a morte ou o renascimento. Ou será apenas uma reciclagem? 

FICHA TÉCNICA DO FILME:

HIGH LIFE

Título original: High Life
Direção: Claire Denis
Elenco:  Robert Pattinson, Juliette Binoche, André Benjamin
País: França, Alemanha, Reino Unido, Polônia
Ano: 2018
Gênero: Ficção científica

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Eugenia e etnocentrismo, uma sociedade segregada

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A luta pela sobrevivência deflagrou uma nova ideologia para melhorar a raça humana por meio da ciência.

Quando Charles Darwin escreveu sobre a seleção natural e difundiu a ideia de que a sobrevivência dos organismos dependia de sua adaptação no ambiente, importantes pensadores inclinaram-se sobre este conceito e destilaram novas teorias. A luta pela sobrevivência deflagrou uma nova ideologia para melhorar a raça humana por meio da ciência.

Francis J. Galton é o nome associado ao surgimento da genética e da eugenia, que significa “bem nascer”. Teorizando, seria o estudo dos fatores socialmente controláveis que podem elevar ou rebaixar as qualidades raciais das gerações futuras, tanto física quanto mentalmente. Por meio de casamentos e uniões seletivas, Galton acreditava que poderia modificar a natureza das pessoas, separando aqueles que supostamente eram “perfeitos” e preservando assim a qualidade das futuras gerações.

A degeneração biológica passou a ser uma preocupação e a proibição de uniões indesejáveis era algo bastante coercivo. Propostas políticas de higiene ou profilaxia social passaram a surgir em vários países, dentre eles o Brasil. Em 1923, foi fundada a Liga Brasileira de Higiene Mental, pelo psiquiatra Gustavo Riedel, que ganhou sustentação nos pressupostos eugenistas, atingindo, posteriormente, o campo social. A eugenia era vista por Riedel como o “paraíso terrestre”, reafirmando os pressupostos de Renato Kehl, o mentor da eugenia no Brasil.

Fonte: https://goo.gl/qmFsfJ

“A mulher é vigiada não apenas para ter um feto saudável, com saúde perfeita.” – — Breno Rosostolato

O aspecto cultural e social da eugenia é o que chama a atenção, em vários países, inclusive o Brasil. As explicações para as crises econômicas e políticas isentavam as elites e imputavam toda a responsabilidade ao povo. Ou seja, os problemas de uma sociedade eram justificados através de uma constituição étnica e na presença de raças inferiores.

Na Alemanha, a Lei de Nuremberg, alicerçada nos pressupostos eugênicos, proibia o casamento de alemães com judeus, o casamento de pessoas com transtornos mentais, doenças contagiosas ou hereditárias. Propunha-se a esterilização de pessoas com problemas hereditários e que poderiam comprometer a saúde da raça ariana, associado a isso toda a perversidade e crueldade de uma mente doentia de um ditador como Hitler, que desejava conquistar o mundo. O documentário “Homo Sapiens – 1900”, do diretor sueco Peter Cohen, aborda de maneira enfática as práticas eugênicas durante o holocausto. Um verdadeiro genocídio cruel e injustificável.

Esta concepção de eugenia traduz-se, hoje, no biopoder difundido por estudiosos e intelectuais, com o propósito de estudar estratégias de intervenção sobre a vida cotidiana. Entretanto, alguns preconceitos revelam-se como absurdos propagados pelo biopoder, pois se atribuem à marginalização de “raças inferiores” os conflitos sociais, a pobreza, o aumento da violência, as drogas e por aí vai. Questões como o racismo e o sexismo são reveladas. O aconselhamento genético, por esse ponto de vista, é um espaço de poder e controle, ancorado nas concepções dessa nova genética, determinando a subjetividade das pessoas, pois não temos identidade, mas bioidentidades.

Fonte: https://goo.gl/81DHAU

A mulher é vigiada não apenas para ter um feto saudável, com saúde perfeita. O seu corpo sofre muito mais intervenções médicas, comparado ao do homem. A identidade da mulher é influenciada por essas exigências. Na maioria dos casos, o homem permanece numa posição despreocupada. São inúmeros as técnicas e procedimentos resultantes do biopoder como controle populacional e de natalidade, fertilização in vitro, diagnóstico pré-natal e pré-implantação, aborto terapêutico e clonagem reprodutiva.

Métodos científicos estão a serviço da saúde e da sociedade e possuem como alicerces ideológicos um controle adequado e seguro de doenças, a ponto de antever o surgimento de deficiências ou patologias congênitas, do crescimento descontrolado da população e, por último, o mapeamento do DNA. A genética é a área que se utiliza desses estudos científicos, difunde conceitos, ponderações e determina os aspectos adequados para a existência humana. São métodos eugênicos que estão por trás desses propósitos de prever eventuais problemas.

Porém, a eugenia não cessou. Este movimento social reforça o conceito de etnocentrismo que impera no mundo. Sociedades segregadas por diferenças religiosas são motivos para guerras infinitas e exterminações sumárias. A intolerância sexual, como a misoginia e o antifeminismo, assassina mulheres simplesmente por serem mulheres. A homofobia, lesbofobia e transfobia são intransigentes quanto às identidades sexuais, uma visão rebuscada da heteronormatividade. O racismo é enraizado na sociedade e se manifesta de maneira escancarada, para quem quiser ver. Vivemos um momento social em que essas seleções naturais são praticadas sim, defendidas amplamente por extremistas, fanáticos e radicais. Um sectarismo que não admite a opinião contrária, uma pasteurização social que assola e enfraquece esta infeliz civilização. Civilização?

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Técnicas Computacionais aplicadas em prol da saúde

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O progresso contínuo da reconstrução computadorizada de imagens médicas tem apresentado uma influência e impacto na sociedade cientista e tecnológica. O processamento de imagens tornou-se um assunto que vem impulsionando diversos campos da área da medicina. Desde então, a Inteligência Artificial (IA) obteve uma maior exploração na solução de problemas, se ramificando em novas áreas e proporcionando uma análise da forma de interação dos humanos com os sistemas inteligentes.

Contudo, entende-se que a utilização de técnicas específicas permite que seja possível uma visualização aprimorada das imagens, como se fossem reais. Dougherty (2009) afirma que o processamento de imagens é uma disciplina prática e a melhor maneira de aprender é fazendo, ou seja, teoria e prática estão ligadas, cada uma reforçando a outra. Ainda assim, a automação completa de processamento de imagem é algo que está em constante estudo. O fator humano permanece insubstituível na interpretação, diagnóstico e análises do paciente.

Fonte: https://goo.gl/sx4DDV

 Atualmente, grande parte da interpretação de diagnósticos médicos são realizados via olho nu, sem auxílio de uma tecnologia mais precisa. Portanto, devido ao positivo avanço das técnicas de Inteligência Artificial, estão sendo fornecidas soluções mais precisas para reconstruções de imagens médicas e estas soluções são vistas como métodos futuros aplicáveis no setor da saúde.

O avanço nessa área proporcionou um progresso nos estudos dos setores de automação, desenvolvimento de jogos, diagnóstico médico, controle autônomo, robótica e outros mais. Já foram desenvolvidas aplicações que fazem uso de Inteligência Artificial para a solução de problemas relacionados à esfera da saúde. Técnicas que abrangem áreas de estudo como Machine Learning, Diagnóstico Auxiliado por Computador (CAD), Visão Computacional entre outras. De modo geral o CAD pode auxiliar em vários tipos de diagnósticos, sendo mais comum o seu uso nas áreas de neurologia, radiologia e mamografia

A segmentação de imagens é o processo de particionamento de uma imagem em regiões homogêneas e que não se sobrepõem. Em geral, essas regiões terão uma grande correlação com os objetos em uma determinada imagem. Em geral a segmentação é uma das mais difíceis tarefas em processamento de imagem. Esse passo no processamento determina o eventual sucesso ou falha de toda análise.

EXEMPLO DA SEGMENTAÇÃO DO NÓDULO MAMOGRÁFICO (FONTE: AZEVEDO-MARQUES, 2001)

Na figura é apresentado um exemplo de segmentação de imagem de um nódulo mamário, nesta imagem é possível observar o nível de realce da imagem no ato da segmentação da imagem. O processo de identificação de lesões mamárias é realizado por meio de atributos relacionados ao tamanho, forma, quantidade e distribuição espacial da lesão concentrada na mama. Portanto, a utilização destes atributos pode servir de auxílio na decisão de especialistas se a lesão é maligna ou benigna.

A segmentação automática de imagens médicas é uma tarefa difícil, pois as imagens médicas são de natureza complexa e raramente apresentam qualquer característica linear simples. Além disso, a saída do algoritmo de segmentação é afetada devido a:

– Efeito de volume parcial.

– Inomogeneidade de intensidade.

– Presença de artefatos.

– Proximidade em nível de cinza de diferentes tecidos.

Fonte: https://goo.gl/Uw4dQ1

Embora uma série de algoritmos tenham sido propostos no campo da segmentação de imagens médicas, este continua a ser um problema complexo e desafiador. Diferentes pesquisadores utilizam diferentes técnicas. Atualmente, do ponto de vista do processamento de imagens médicas, algo comum é a segmentação com base no nível de cinza e na textura. Extratores de recursos são utilizados para converter as imagens em conjuntos de pixels, que então são usados como dados de entrada em modelos de Deep Learning. E a principal arquitetura de aprendizado profundo que vem sendo utilizada com sucesso para estas atividades é a arquitetura de Rede Neural Convolucional (Convolutional Neural Network – CNNs ou Convnets).

A aplicação da tomografia computadorizada (TC) de baixa dose emergiu como um método comprovado e eficaz para detectar câncer de pulmão mais cedo, o que pode reduzir a mortalidade em até 20%. Embora a tecnologia tenha se mostrado eficaz, vários esforços de pesquisa exploraram o uso de outra tecnologia em ascensão – inteligência artificial (IA). Essa tecnologia pode melhorar ainda mais a detecção, classificação e dimensionamento de nódulos, além de reduzir as taxas de falsos positivos. Uma sessão na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte de 2017 (RSNA) explorou o potencial da IA ​​para ajudar radiologistas na avaliação de diagnósticos de câncer de pulmão em exames de tomografia computadorizada.

Fonte: https://goo.gl/XYcbqA

A segmentação de imagens por meio de técnicas de classificação, portanto, seria mais uma das ferramentas de auxílio ao profissional da saúde, pois podem dar maior agilidade e qualidade ao resultado. Entretanto, essas técnicas não substituem o trabalho técnico médico, trata-se de um apoio em sua atividade. E de fato, o que mais impressiona, é a rapidez no diagnóstico médico. Todos sabemos que quanto mais cedo uma doença for descoberta maiores são as chances de cura do paciente e menores serão os gastos no tratamento. Portanto é imprescindível o incentivo na computação para aprimorar os diagnósticos e levar a um resultado cada vez mais preciso, nunca deixando de lado o fator humano que é necessário para tomar a decisão final.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO-MARQUES, Paulo Mazzoncini de. Diagnóstico auxiliado por computador na radiologia. Radiol Bras, São Paulo, v. 34, n. 5, p. 285-293, out.  (2001).   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842001000500008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 14 abr.  2018.

DOUGHERTY, Geoff. Digital Image Processing for Medical Applications. California State University: Cambridge University Press, (2009). 447 p. Disponível em: <http://ultra.sdk.free.fr/docs/DxO/Digital%20Image%20Processing%20for%20Medical%20Applications.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2018.

SLED JG, ZIJDENBOS AP. A nonparametric method for automatic correction of intensity nonuniformity in MRI data. IEEE Trans Med Imaging. 1998;17(1): 87-97.

ZAGOUDIS, JEFF. Inteligência Artificial Melhora a Detecção do Câncer de Pulmão. 2018. Disponível em: <https://www.itnonline.com/article/artificial-intelligence-improves-lung-cancer-detection>. Acesso em: 17 jun. 2018.

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