CAOS 2021: Lauriane dos Santos irá conduzir debate sobre o documentário “Pandemia do sistema”
19 de outubro de 2021 Marcelo Araújo Pinheiro
Mural
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No dia 04 de novembro de 2021 das 14h às 17h haverá o evento Psicologia em Debate acerca do documentário: Pandemia do Sistema, este acontecerá no segundo dia do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS, conduzido pela professora do Centro Universitário Luterano de Palmas, Lauriane dos Santos Moreira, graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (2006). Tem especialização em Saúde Pública com Ênfase em Saúde Coletiva e da Família (2010) e em Análise Comportamental Clínica (2013). É mestre em Desenvolvimento Regional (UFT). Atualmente é professora no curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA). Atua principalmente nos seguintes temas: Políticas Públicas de Saúde Mental, Psicologia Social Comunitária e Análise do Comportamento e Cultura.
Fonte: encurtador.com.br/gjuDW
O documentário com direção de Naná Prudêncio e realização da Zalika Produções, o filme aborda fatores como o racismo, o desemprego, a insuficiência no atendimento de saúde nesses territórios e como todos esses elementos, juntos, resultam em uma fórmula genocida. Epicentro da crise sanitária no Brasil, o distanciamento social foi decretado na cidadede São Paulo em março de 2020. Pandemia do Sistema mostra o retrato da desigualdade na cidade mais rica do Brasil, ademais documentou a mobilização de moradores para ajudar vizinhos durante o período de quarentena em regiões como Sapopemba, Heliópolis, Brasilândia, Capão Redondo, Cidade Ademar, Pedreira e o município de Taboão da Serra. Na capital mais rica do país, os índices de mortes por Covid-19 se mostraram até 10 vezes maiores nas periferias e nos bairros com maioria negra. O filme constata que o vírus não foi a única causa das mortes e que a desigualdade é a epidemia mais antiga, grave e crônica na história brasileira. Em primeira pessoa, Pandemia do Sistema denuncia as ausências do estado e confirma que nos lugares mais pretos e pobres ‘Nóis só tem nóis’.
Por fim, Vale lembrar que o Congresso acontecerá entre o dia 03 (três) ao dia 06 (seis) de novembro de 2021, além do evento Psicologia em Debate, haverá mesa redonda, minicursos, sessões técnicas concernente ao tema “Psicologia e atuação psicossocial em emergências e desastres” será realizado viagoogle meet. As inscrições podem ser efetuadas no site do CAOS, https://www.ulbra-to.br/caos.
O Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA informa que irá de forma online promover o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia- CAOS, que ocorrerá entre os dias 03 e 06 de Novembro de 2021, com o tema: A Psicologia e Atuação Psicossocial em situação de emergência. Inscrições pelo site. O evento irá ocorrer via Google Meet e também pelo Youtube.
Dentre as programações do congresso, haverá a mesa redonda com subtema: A negligência na assistência psicossocial primária como fonte de psicopatologia. A ocorrer dia 05/11 às 9h via Youtube.
Contará com a participação da Psicóloga Thays Stephanie Costa de Sousa, graduada pela Universidade Positivo direcionada à Psicologia Hospitalar e atualmente Residente em Urgências e Emergência em São José dos Pinhais-PR.
Fonte: encurtador.com.br/afiCF
Outra convidada a compor a mesa será a Psicóloga Dhieine Caminski, graduada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Especialista em Atenção Básica/Saúde da família, tendo sido responsável pela Gerência de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palmas/TO.
Fechando a composição da mesa; a psicóloga Marilena Ribeiro, graduada pelo Ceulp/Ulbra, egressa, com atuação no Centro de Referência da Assistência Social, no Centro de Atendimento Sócio Educativo do Governo do Estado/TO, psicóloga Redutora de Danos no Projeto Palmas Que Te Acolhe, atualmente psicóloga clínica.
Na mesa redonda será explorada a Atenção Primária em Saúde e a Assistência Psicossocial, considerando como parte indivisível da Instituição Saúde as demandas sociais; reconhecendo que o surgimento da Rede de Atenção Psicossocial se deu após a Reforma Psiquiátrica, onde adoecimento mental ganhou outro viés, reconhecendo variáveis sociais, e que psicopatologias não são isoladas em sinais e sintomas, destacando que quando saúde psicossocial é negligenciada vira situação de intervenção em urgência e emergência.
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‘O Silêncio dos Inocentes’ e as relações humanas sob uma perspectiva fenomenológica-existencial
O filme aborda aspectos como os traços psicóticos da personalidade de serial killer, o reflexo dos traumas de infância no desenvolvimento e suas consequências na vida adulta
Considerado um clássico do terror psicológico, ‘O Silêncio dos Inocentes’, lançado no início dos anos 90, apresenta uma narrativa extremamente cativante, capaz de prender o espectador com maestria durante duas horas de filme. A história, permeada de suspense, se desenrola e ganha intensidade a cada minuto até atingir seu clímax. Vencedor de cinco prêmios Oscar em 1992, a obra é, sem dúvidas, um dos grandes marcos e uma das maiores contribuições do diretor Jonathan Demme para o cinema.
Muito além de apenas uma narrativa de suspense e terror, “O Silêncio dos Inocentes” convida o espectador a refletir sobre a natureza humana e suas infinitas peculiaridades, apresentando personagens com perfis psicológicos complexos e bem trabalhados. Acompanhamos a dura trajetória de Clarice Starling, a tímida, mas forte e determinada detetive do FBI, durante o desenrolar do caso Buffalo Bill. Seus encontros com o psiquiatra e temido assassino em série Hannibal Lecter não só a tocam profundamente como contribuem para o próprio processo de investigação criminal.
Fonte: https://bit.ly/2XYcDij
Esses encontros desempenham um papel importante na trama e formam uma peça chave para entender como se dá na prática a relação fenomenológica entre dois sujeitos totalmente inversos em valores e vivências. O encontro entre a doçura e determinação da jovem Clarice e a postura intimidadora do sagaz e analítico Hannibal Lecter é o eixo narrativo que deverá pautar a discussão ao longo do texto, de modo a tecer considerações a respeito da fenomenologia existencial como base filosófica para compreender as relações humanas.
Resumo do Filme
Clarice Starling é uma estagiária do FBI que é designada para desempenhar um grande papel nas investigações do caso Buffalo Bill, um serial killer de mulheres cujas motivações seguem desconhecidas pelas autoridades. Como parte da investigação, ela é também a estagiária escolhida por seu superior para exercer uma tarefa um tanto quanto assustadora: visitar o terrível assassino Hannibal Lecter em sua cela, de modo a obter informações a respeito do caso. Na sua primeira visita, Clarice é intimidada e confrontada pelo psiquiatra, que chega a provocá-la com comentários irônicos e ofensivos, mas a jovem detetive consegue manter sua postura e conduzir a investigação sem demonstrar estar se sentindo atacada.
O diálogo entre os dois segue permeado por uma atmosfera de tensão, e Hannibal cada vez mais demonstra interesse pelas particularidades da personalidade da jovem detetive. A expectativa quanto ao interesse de Lecter em ajudar nas investigações era baixa, mas ele decide colaborar a seu próprio modo: utilizando-se de enigmas, anagramas, pistas e jogos mentais, envolvendo Clarice em sua teia de manipulação. Dessa forma, ele rejeita o questionário investigativo proposto pela detetive e faz sua primeira jogada, dando a ela a primeira pista sobre o caso, escondida atrás de um anagrama.
Seguindo as orientações e pistas de Hannibal, Clarice chega a uma garagem e encontra o cadáver de um homem, tendo o primeiro êxito na investigação. Sua segunda visita à cela do psiquiatra é ainda mais reveladora, e o vínculo entre os dois começa a se desenvolver com mais propriedade. A vítima encontrada na garagem era conhecida por Hannibal, mas não havia sido assassinada por ele, mas sim pelo próprio Buffalo Bill, que já havia tido um laço amoroso com o homem. Enquanto isso, o serial killer segue atrás de vítimas. Ele consegue enganar e sequestrar a filha de uma importante senadora, o que moverá ainda mais as autoridades posteriormente na trama.
Fonte: https://bit.ly/2Cn02vM
Trazendo mais pistas para o caso, um dos corpos das cinco vítimas do assassino é encontrado. Durante a necrópsia, é identificado na boca da mulher um objeto um tanto quanto incomum: uma pupa de mariposa. Esse item torna-se um dos padrões observados em cada vítima, além do fato de serem mulheres de corpos grandes e de terem tido suas peles retiradas.
Quando o sequestro da filha da senadora torna-se de conhecimento público e surgem os primeiros indícios de que ela teria sido mais uma vítima de Buffalo Bill, as investigações ganham mais intensidade. Em uma das cenas mais memoráveis do filme, Hannibal concorda em ajudar Clarice com mais pistas, sob uma condição: que ela exponha o mais íntimo de sua alma a ele. Inicialmente hesitante, a jovem detetive acaba por revelar uma importante parte da sua história a Lecter, contando sobre sua difícil infância. Órfã de pai aos dez anos, Clarice foi morar na fazenda de seu tio, mas uma situação fez com que ela fosse encaminhada para um orfanato: uma criação de ovelhas estava sendo mantida em cárcere para que tivessem suas peles posteriormente retiradas. Os gritos dos animais levaram a jovem Starling a tentar resgatar uma das ovelhas, mas, infelizmente, ela foi encontrada com o animal após fugir dos limites da fazenda. Hannibal, fascinado com a história, faz um paralelo entre a situação e o comportamento atual da detetive, que se vê obrigada a ajudar as jovens sequestradas pelo serial killer. O encantamento do psiquiatra com Clarice torna-se ainda mais evidente, e o vínculo entre os dois ganha mais força.
Em outra visita a cela de Hannibal, a jovem propõe outro acordo a ele: caso seus esforços para colaborar com a investigação e o resgate da filha da senadora sejam frutíferos, ele será presenteado com regalias especiais, como poder passar momentos numa ilha sob escolta policial. É organizado um encontro entre ele e a senadora, e mais informações são passadas. Ainda não convencida das intenções do psiquiatra, Clarice o visita uma última vez e tenta retirar dele a verdade sobre a identidade do serial killer, mas seu tempo com ele acaba e ela é retirada à força do local. Numa cena envolvida em tensão, dois policiais visitam a cela do psiquiatra para trazer comida, e ele consegue traçar uma estratégia de fuga, matando ambos e retirando a pele do rosto de um deles, para logo após trocar de roupa com ele, de modo a enganar as autoridades e a ambulância. É encontrado no teto do elevador um corpo com as roupas de Hannibal, mas é revelado que, na verdade, se tratava do corpo de um dos policiais. Dessa forma, o possível sobrevivente levado na ambulância era o próprio Hannibal, disfarçado com roupas de policial e com o rosto retirado da vítima. Com essa estratégia, Dr. Lecter consegue mais uma vez enganar as autoridades e fugir.
Fonte: https://bit.ly/2Favuz7
Enquanto isso, a jovem filha da senadora é atormentada por seu sequestrador, que a mantém presa dentro de um buraco. O serial killer, excessivamente maquiado e vestido com roupas femininas, faz uma grande pressão psicológica na vítima. Nas cenas que mostram seu esconderijo, entramos em contato com o fato de que Buffalo Bill é, na verdade, um transexual, ou que ao menos se enxerga dessa forma, e que o sequestro e assassinato das mulheres sempre teve como propósito usar suas peles para finalidades estéticas, de modo que ele conseguisse se sentir na “pele” de uma mulher. As pupas de mariposa, cuidadosamente alojadas na boca das vítimas, simbolizavam a transformação desejada pelo assassino e concretizada com a retirada das peles das vítimas.
As pistas dadas por Hannibal levam as autoridades a um caminho, mas Clarice, seguindo a sua intuição, decide continuar a investigação por si mesma. Ela visita a casa da primeira vítima do serial killer e descobre mais informações relevantes para o caso, inclusive o fato dele estar usando as peles para fazer suas próprias roupas. Reunindo pistas e informações, a detetive chega a casa do assassino, enquanto o FBI segue as orientações dadas por Hannibal e chega a outra casa. Clarice, sem ter ideia disso, conversa com o próprio Buffalo Bill buscando por mais informações, e só tem a certeza de que o homem em sua frente é o assassino que ela procura quando enxerga ao fundo uma mariposa exótica voando – a mesma espécie cujas pupas eram colocadas na garganta das vítimas. Inicia-se então o que pode ser classificado como o ápice do filme: a detetive persegue o homem dentro de sua própria casa e encontra a filha da senadora dentro do buraco.
Em um dado momento, as luzes são desligadas e somos levados a crer que o serial killer conseguirá matar Clarice, mas a jovem, com sorte, consegue mirar e atirar nele, encerrando de vez o caso e, finalmente, “silenciando as ovelhas”. Clarice consegue muito prestígio e reconhecimento pelo FBI e pela sociedade, e, no final do filme, Hannibal lhe faz uma ligação, parabenizando-a pelo seu sucesso, deixando evidente sua admiração e carinho pela jovem detetive.
Fonte: https://bit.ly/2TC2nxv
Análise
‘O Silêncio dos Inocentes’ é, sem dúvidas, um prato cheio para o estudo da psicologia. Repleto de nuances que trabalham a complexidade da psique humana, o filme aborda aspectos como os traços psicóticos da personalidade de serial killer, o reflexo dos traumas de infância no desenvolvimento e suas consequências na vida adulta, e questões para além do campo psicológico, como o machismo no ambiente de trabalho. Indo ainda mais além do que já foi citado, há presente no filme algo ainda mais delicado e complexo de se debruçar sobre: a relação entre Hannibal e Clarice.
O primeiro contato entre a detetive e o psiquiatra dá-se quando ainda há um grande distanciamento entre os dois, expresso não só pela cela que separa Hannibal da jovem, como também pela própria história, personalidade e universo de ambos. Os encontros, para Clarice, possuíam um único e claro objetivo: colher informações sobre o caso Buffalo Bill. Para Hannibal, a presença da detetive significava uma rotina já vivenciada por ele inúmeras vezes antes, repleta de interrogatórios, questionários e entrevistas. As percepções individuais de cada um dos polos envolvidos na relação, no caso, Hannibal e Clarice, refletem a história de vida de cada um, ou seja, seus modos de existir, o ser-no-mundo.
Para a fenomenologia existencial, o ser-no-mundo reflete a maneira de existir de cada ser humano, baseada em suas vivências e percepções (TEIXEIRA, 1997). As formas de existir estão atreladas a três tipos de relações: o homem com o meio que o cerca, o homem com o outro e o homem consigo mesmo. Trazendo para o contexto do filme, Clarice e Hannibal, com a soma de suas vivências individuais e suas vivências sociais com seus respectivos meios, se encontram na dimensão da relação eu-outro, construindo assim um vínculo inicial que se desenrolará ao longo da trama.
Conforme Teixeira (1997), o ser-no-mundo torna-se patológico quando as relações do indivíduo são infrutíferas no âmbito pessoal, ou seja, quando o ser é incapaz de adentrar seu mundo interno e estabelecer conexões saudáveis consigo mesmo. Partindo desse ponto, o indivíduo também seria incapaz de manter boas relações nas outras esferas (eu-outro e eu-meio). Essa dinâmica é observada em Hannibal, cujas atitudes e vivências no mundo foram conduzidas de modo a trazer sofrimento ao outro e satisfazer o próprio desejo.
Fonte: https://bit.ly/2HwMSjq
A incapacidade do indivíduo de tecer uma reflexão sobre as próprias atitudes ao relacionar-se consigo mesmo levaria à incapacidade desse mesmo indivíduo de se relacionar com o meio e com outras pessoas. Dessa forma, o primeiro encontro entre os dois personagens é permeado pelo fenômeno patológico de Hannibal, que se manifesta na relação através de comentários irônicos, sarcásticos e até mesmo ameaças contra a detetive. Essa dinâmica de relação pouco a pouco sofre alterações. De encontro a encontro, Clarice e Hannibal fortalecem o vínculo e passam a enxergar além dos rótulos de detetive e assassino para enxergarem a essência de cada um, o ser-no-mundo como ele é. Para isso, um elemento mostra-se indispensável.
De acordo com Silva (2013), o diálogo é a base para que a relação eu-outro seja construída e se desenvolva de maneira saudável. Sem a presença de uma relação dialógica, a dimensão eu-outro é ineficaz e não gera frutos. Como observado no filme, os diálogos entre Hannibal e Clarice, apesar de serem poucos e acontecerem em curtos períodos de tempo, servem como uma ponte entre o muro que os separa. A aproximação entre os dois personagens atinge o ápice quando o psiquiatra pede que a jovem conte sobre sua infância e seus traumas – dessa maneira, o rótulo “detetive” é substituído pela pessoa Clarice, e o foco da relação acontece no encontro entre duas pessoas, muito além do significado social da existência de ambos.
Feijoo e Mattar (2014) atentam para os preceitos filosóficos da fenomenologia de Sartre. Entre eles, as autoras citam um aspecto que norteia a visão fenomenológica como um todo: a importância de ver as coisas como elas são, para além da objetividade e subjetividade. O objeto, para a fenomenologia, deve ser apreendido pelo ser da maneira mais pura e reduzida possível, ou seja, sem um viés objetivo e prático e muito menos emocional, subjetivo ou individual. Enxergar o mundo dessa forma significa, em outras palavras, enxergá-lo como ele acontece – sem ideias pré-concebidas, sem o peso de uma análise. Em O Silêncio dos Inocentes, tanto Hannibal quanto Clarice sentem-se desafiados e até mesmo intimidados pela presença um do outro, e apreendem a realidade da relação entre eles de um modo carregado de análises, percepções e hipóteses.
A redução fenomenológica (epoché), ou seja, o ato de reduzir o fenômeno ao modo como ele acontece, puro e simplesmente, apresenta-se como um desafio durante a trama. O distanciamento evidente entre Hannibal e Clarice dificulta que a relação seja construída desprovida de estigmatizações e hipóteses. Entretanto, uma aproximação acontece entre os dois, ainda que tímida e com restrições, e nela o vínculo é formado. A curiosidade de Hannibal em conhecer a individualidade da jovem, mesmo servindo como uma forma de colher material para análise, o aproxima da essência de Clarice. Há, então, uma tentativa de chegar ao núcleo desse objeto (o outro), atravessando as inúmeras barreiras sociais entre os dois, a cela real e simbólica que os divide. É possível dizer que, após esse nível de percepção ter sido alcançado, Hannibal passa a enxergar Clarice como uma pessoa, humanizando-a. A relação do psiquiatra com o outro é baseada na desumanização.
Fonte: https://bit.ly/2u8Vl4m
Dessa forma, cria-se um distanciamento entre a sua pessoa e a pessoa da vítima, que é tratada por ele como um pedaço de carne, literalmente. Deve-se ao vínculo formado entre ele e Clarice e pela relação embasada no diálogo e na vivência real, sem interferência de elementos externos, o fato da jovem não se tornar um dos seus alvos no final do filme. A própria tem certeza de que não será perseguida pelo psiquiatra quando este consegue fugir.
Outro fenômeno relevante presente na trama, já mencionado anteriormente, é o modo como as vivências passadas de Clarice afetam seu aqui e agora. Barco (2012) conceitua o fenômeno da presentificação ou presentação como o ato de direcionar a consciência para o momento presente, agindo sobre o agora, ainda que os meios para chegar a esse estado sejam pela imaginação ou fantasia. Atrelada aos traumas de seu passado, é possível inferir, ainda que esse não seja o propósito de uma abordagem fenomenológica, que a detetive age no presente guiada por experiências de seu passado, como a morte do pai (por um assaltante) e seu insucesso em salvar as ovelhas que teriam as peles retiradas. Ambos os eventos podem estar diretamente relacionados com o contexto de sua vida adulta: sua atuação no FBI, guiada por um senso de justiça possivelmente despertado logo após a morte do pai e também dos animais, e sua atuação no caso Buffalo Bill, onde as vítimas tinham o mesmo propósito das ovelhas. A solução de seus conflitos do passado é presentificada e vivida na cena que conclui o caso, quando a detetive atira e mata o serial killer, fazendo justiça pelas vítimas e, em analogia, pelas ovelhas e seu pai.
Sem dúvidas, há uma complexidade de relações intra e interpessoais que são trabalhadas em O Silêncio dos Inocentes, e são inúmeras as possibilidades de interpretação dos personagens e eventos da trama. A aproximação de Hannibal e Clarice, inusitada pela diferença de valores e preceitos de cada um, convida o espectador a refletir.
O filme evidencia que, por mais diferentes que sejam os indivíduos, um encontro é possível – e a relação sempre terá como resultado um produto capaz de tocar a essência de cada sujeito que esteja em interação. Ser-no-mundo é individual e intrapessoal. Ser-com é um convite para o encontro, para o estabelecimento de relações interpessoais. E as duas maneiras de existir se completam para formar um produto que é dotado de possibilidades: o ser humano, com seus fenômenos e complexidades, capaz de transformar e de ser transformado.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
Fonte: https://bit.ly/2TFfTR0
O SILÊNCIO DOS INOCENTES
Título original:The Silence of the Lambs Direção: Jonathan Demme Elenco: Jodie Foster, Anthony Hopkins, Ted Levine, Scott Glenn; País: EUA Ano: 1991 Gênero: Suspense; Terror
REFERÊNCIAS:
BARCO, Aron Pilotto. A constituição do espaço na
fenomenologia de Husserl. 109 f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012.
FEIJOO, Ana Maria; MATTAR, Cristine Monteiro. A Fenomenologia como Método de Investigação nas Filosofias da Existência e na Psicologia. Psicologia: Teoria e Pesquisa; Out-Dez 2014, Vol. 30, n. 4, pg. 441-447.
SILVA, Edna Maria. O ser na relação com o outro. Revista de Psicologia, Edição I. pg. 123-124, 2013.
TEIXEIRA, José A. Carvalho. Introdução às abordagens fenomenológica e existencial em psicopatologia (II): as abordagens existenciais. Análise Psicológica, 2 (XV). pg 195-205. 1997.
Segundo Vygotsky o desenvolvimento cognitivo se dá por meio da interação social, interação esta que possibilita novas experiências e conhecimento. O conhecimento permite o desenvolvimento mental que se dá através da relação com o outro, é uma troca dialética. A importância do contato social na infância e na constituição do sujeito dá-se ao interagir. A subjetividade construída socialmente se manifesta, modificando ativamente a situação estimuladora como uma parte do processo de resposta a ela. (Coelho, 2012 apud Vygotsky, 1984.)
Para Vygotsky, o desenvolvimento depende da aprendizagem e é promovido pela convivência social e a maturação, que é onde se dão os processos mentais superiores. Vai depender da internalização dos conceitos e das atividades que primeiramente serão mediadas por outros para depois se tornarem autônomas. Quanto mais instrumentos o sujeito internaliza maior a gama de atividades que ele pode aprender e maior será seu desenvolvimento.
No filme Nell, percebe-se que o protagonista teve um modelo de aprendizagem diferente do modelo comum da sociedade, e este modelo que sua mãe lhe passou regeu o seu desenvolvimento, a sua forma de executar as coisas, a sua forma de se relacionar com o ambiente, com as pessoas. Por exemplo, Nell não saia de casa durante o dia, pois a sua mãe a ensinou que isso era perigoso, logo ela desenvolveu toda uma rotina que girava em torno de dormir durante o dia e realizar suas atividades durante a noite.
Isso exemplifica bem a questão da convivência social para a aprendizagem, a única convivência social de Nell era com sua mãe e irmã, as duas adoravam este padrão de rotina, então esta era a rotina que conhecia e reproduzia.
Fonte: encurtador.com.br/lsIN5
Segundo Vigotsky, linguagem e pensamento têm raízes genéticas diferentes, porém se cruzam no momento do desenvolvimento. O pensamento se realiza por meio das palavras e a linguagem auxilia no processo de internalização de conceitos. A linguagem se desenvolve primeiro socialmente/externamente para depois se converter internamente e a soma desta com o pensamento produz a capacidade de planejar, prever, de controlar ações e impulsos.
O desenvolvimento da linguagem da Nell foi a partir de uma linguagem diferente, mas isso não impediu que ela o desenvolvesse, inclusive ela desenvolveu bem a sua linguagem e apresentou ter todo o domínio esperado que a relação pensamento x linguagem propõe.
Mesmo sendo uma linguagem mais restrita, com menos palavras, cheia de expressões corporais e facial, a sua linguagem é uma mescla da linguagem verbal e não verbal, tendo visto que sua mãe tinha uma deficiência que comprometia a fala, então precisava se comunicar também com gestos e essa linguagem é evidente em Nell.
Pela análise do filme, Nell provavelmente não tem deficiência mental nem transtornos psiquiátricos, pode sim, ter um atraso mental, pelo fato que não teve interação com outras pessoas além da sua mãe por quem foi criada em uma floresta, que pode ser a resposta para determinados comportamentos, como o repertorio linguístico de Nell, no qual a prendeu com sua mãe que era deficiente, não era uma linguagem totalmente errada e sim diferente.
Fonte: encurtador.com.br/ginQ5
Mudanças de Nell
Nell não saia a noite porque sua mãe a ensinou que era perigoso, assim Nell só saia durante a noite, para nadar no lago. Após alguns reforços dados pelo Dr. Lovell, Nell passou a sair durante o dia e desfrutar das coisas que ela ainda não conhecia por não sair durante aquele horário. Nell não conversava com outras pessoas, tinha medo e preferia se esconder ou agredi-las. Após um convívio com o Dr. Lovell e a Dra. Olsen, Nell foi se acostumando com outras pessoas, chegando ao ponto de falar em público em um julgamento.
Mudanças dos amigos
O Dr. Lovell no começo não queria cuidar de Nell, mas logo depois de conhecer a história dela, passou a ter compaixão e curiosidade por Nell. Também não conhecia a linguagem de Nell e tinha dificuldades de entendê-la, assim como de entender as expressões físicas de Nell, mas após um convívio maior com Nell e o desempenho em querer compreendê-la, passou a entender sua linguagem.
Dra. Oslen que antes considerava que o melhor para Nell era interná-la em um hospital psiquiátrico, passou a ter outra visão quando conheceu a história de Nell.Diante dessas mudanças e de acordo com a teoria de Vygotsky podemos dizer que todos passaram por um processo de aprendizagem e desenvolvimento. Principalmente Nell, com todo esse seu contexto atual desenvolveu as suas funções psicológicas, passou a se comunicar mais e a ser menos agressiva. Dessa forma aprendemos que o desenvolvimento é mutável e não universal, ou seja, pode ser mudado de acordo com suas interações sociais.
A linguagem também teve um papel importante nessa história, pois o desenvolvimento na fala de Nell e a aprendizagem dessa linguagem pelo Dr. Lovell facilitou a interação ente os dois. Pois segundo a teoria de Vygotsky “a linguagem é um sistema de signos que possibilita o intercambio social entre indivíduos que compartilhem desse sistema de representação da realidade”. (REGO,1995, p.54)
FICHA TÉCNICA DO FILME:
NELL
Título Original: Nell
Direção: Michael Apted Elenco: Jodie Foster, Liam Neeson, Natasha Richardson País: EUA Ano:1994 Gênero: Drama
Referência
COELHO, Luana; PISON, Silene. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação. 2012. Disponível em: <http://facos.edu.br/publicacoes/revistas/e-ped/agosto_2012/pdf/vygotsky_-_sua_teoria_e_a_influencia_na_educacao.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2019.
REGO, Teresa Cristina, Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ : Vozes, 1995.
MOREIRA, Marcos Antônio; Teorias da Aprendizagem, EPU, São Paulo, 1995.
A nomenclatura Psicologia Social foi utilizada pela primeira vez em 1908, quando os limites entre a sociologia e a psicologia ainda não eram muito claros. Os autores eram pensadores oriundos de vários campos do saber, como: filosofia, antropologia, biologia, entre outros. Naquela época o papel profissional do psicólogo social ainda não havia sido instituído, neste contexto, merecem destaque os estudos de Darwin e Spencer na Inglaterra, Wundt na Alemanha e Durkheim, Tarde e Le Bon na França (FERREIRA, 2011).
A teoria da evolução de Charles Darwin foi e é considerada uma das mais poderosas e populares inovações, tendo exercido também grande influência sobre a psicologia. A partir desse momento, o ser humano constitui‑se como o produto final de um processo evolucionista que envolveu todos os organismos vivos, aparece como animal social que desenvolveu maior capacidade de se adaptar física, social e mentalmente às mudanças ambientais e sociais (FERREIRA, 2011).
Fonte: encurtador.com.br/cwO01
Consequentemente, Herbert Spencer, fundamentando‑se na teoria da seleção natural, converte‑se em um dos principais líderes do movimento conhecido como darwinismo social, sendo dele a expressão “sobrevivência do mais adaptado” (grifo autora). No livro Princípios de psicologia, publicado em 1870, ele aplica as ideias de Darwin sobre o desenvolvimento da espécie humana ao desenvolvimento de grupos, sociedades e culturas, enfatizando a existência de uma continuidade entre ambos. (FERREIRA, 2011).
A autora evidencia que seu principal argumento era o de que as nações e os grupos étnicos podiam ser classificados na escala evolucionista de acordo com o seu grau de desenvolvimento, organização, poder e capacidade de adaptação, neste sentido os povos mais civilizados e avançados em termos culturais eram hierarquicamente superiores aos povos mais atrasados no que tange à escala evolucionista.
Wilhelm Wundt inicialmente defendia que a psicologia científica deveria ser vista como uma ciência natural que se ocupava do estudo da mente, principalmente dos processos mentais básicos como: sensação, imagem e sentimentos. Para Wundt, esse tipo de investigação deveria ser conduzido por meio da introspecção, ou seja, mediante a auto‑observação rigorosa e controlada do modo pelo qual esses fenômenos ocorriam (FERREIRA, 2011).
A autora evidencia que em virtude dessas preocupações, Wundt criou em 1879, na cidade de Leipizig, o primeiro laboratório de psicologia do mundo, tendo ali realizado uma série de experimentos com o objetivo de estudar os processos mentais básicos, além de ter fundado o primeiro periódico de psicologia experimental. Tais ações levaram‑no a ser considerado também o fundador da psicologia experimental.
Fonte: encurtador.com.br/wDM57
Com o passar do tempo, porém, Wundt sentiu necessidade de estudar os processos mentais mais complexos ou superiores, como a memória e o pensamento, tendo constatado que o método experimental não era adequado a tal estudo. Assim, propôs uma distinção entre a psicologia experimental, responsável pelo estudo dos processos mentais básicos, e a Völkerpsychologie (psicologia dos povos), dedicada ao estudo dos processos mentais superiores por meio do método histórico‑comparativo. Com isso, ele estabelece uma clara distinção entre os fenômenos psicológicos mais externos, que estariam na periferia da mente, e os fenômenos mais profundos, que constituiriam a mente propriamente dita (FERREIRA, 2011).
Entre os precursores da psicologia social na França encontram‑se Durkheim, Tarde e Le Bon. Emile Durkheim é considerado um dos fundadores da sociologia, tendo publicado várias obras nas quais aborda a evolução da sociedade, os métodos da sociologia e a vida religiosa. Desenvolveu o conceito de representações coletivas que exerceu significativa influência sobre a psicologia social europeia (FERREIRA, 2011).
A autora evidencia que para ele, as representações coletivas, como a religião, os mitos, e outras representações, constituem‑se em um fenômeno ao nível da sociedade e distinto das representações individuais, que estão no nível do indivíduo. Nesse sentido, formula que os sentimentos privados só se tornam sociais quando extrapolam os indivíduos e associam‑se, formando uma combinação que se perpetua no tempo, transformando‑se na representação de toda uma sociedade.
Fonte: encurtador.com.br/nxCOQ
A psicologia social começa a adquirir o status de uma disciplina independente no início do século XX, duas obras publicadas no ano de 1908, marcaram a fundação oficial da psicologia social moderna: Uma introdução à psicologia social, de William McDougall; e Psicologia social de Edward Ross (FERREIRA, 2011).
A autora ainda descreve outro expoente, Edward Ross sociólogo norte‑americano que, influenciado pelas obras de Tarde e de Le Bon, caracterizou a psicologia social como o estudo das uniformidades de pensamentos, crenças e ações decorrentes da interação entre os seres humanos. Segundo Ross, os fenômenos subjacentes a essa uniformidade são a imitação, a sugestão e o contágio, o que explicaria a rápida uniformidade verificada entre as emoções e as crenças das multidões.
Os Estados Unidos foi o principal berço para a ascensão do behaviorismo, segundo o qual uma psicologia verdadeiramente científica deveria estudar e explicar apenas o comportamento humano observável, sem considerar construtos mentais não observáveis, como a mente, a cognição e os sentimentos. Neste sentido, os psicólogos sociais progressivamente abandonam as explicações do comportamento social em termos de instintos, passando a adotar uma psicologia social eminentemente experimental e focada no indivíduo. (FERREIRA, 2011)
A divisão entre uma psicologia social psicológica e sociológica aprofunda‑se na medida em que a psicologia passa a ser vista muito mais como uma ciência natural do que como uma ciência social, conforme Ferreira (2011) cita Pepitone (1986). Cabe mencionar que o primeiro experimento em psicologia social ocorreu ainda no século XIX, tendo sido conduzido por Tripplett em 1897 (FERREIRA, 2011).
Também surge no contexto norte americano e europeu a psicologia social sociológica, cuja principal vertente era o interacionismo simbólico e que tem, nas figuras de Charles Cooley e George Mead seus precursores, sendo que Cooley era sociólogo influenciado pelos saberes de Spencer, defendido uma concepção evolucionista da mente e da sociedade (FERREIRA, 2011).
Eu refletido no espelho, foi a expressão utilizada por Cooley, para explicar a formação da identidade e designar o fato de que tal formação está eminentemente associada ao modo pelo qual a pessoa imagina que aparece diante das outras pessoas, assim como ao modo pelo qual ela imagina que as outras pessoas reagem a ela e aos sentimentos daí decorrentes, que podem ser de orgulho ou de decepção. Para Cooley, o desenvolvimento da identidade ocorre no contexto da interação com os outros e por meio do uso da linguagem e da comunicação (FERREIRA, 2011).
Fonte: encurtador.com.br/hlV13
Essas formulações serviram de base para influenciar Mead, que também adotou a expressão “eu refletido no espelho” ao discorrer sobre a identidade. Sendo que a linguagem desempenha um papel fundamental no pensamento de Mead, a ponto de ele considerar o ato comunicativo como a unidade básica de análise da psicologia social, afirmava que linguagem era um fenômeno inerentemente social e, consequentemente, as atitudes e os gestos só adquirem significado por meio da interação simbólica (FERREIRA, 2011 p 23).
A psicologia social europeia veio crescendo progressivamente em tamanho e influência principalmente a partir da década de 70; ela inicialmente caminhou próximo com a psicologia social psicológica, até que começou a adquirir sua própria identidade e a demonstrar maior preocupação com a estrutura social.
Nesse sentido, Ferreira (2011 p 25) apud Graumann (1996) afirma que os temas de estudo mais frequentes entre os psicólogos sociais europeus são as relações intergrupais, a identidade social e a influência social, que remetem a uma psicologia dos grupos. Entre os principais representantes dessa moderna psicologia social europeia, destacam‑se Henri Tajfel e Serge Moscovici.
Tajfel (1981) procurou enfatizar a dimensão social do comportamento individual e grupal, postulando que o indivíduo é moldado pela sociedade e pela cultura. Apoiando‑se em tal perspectiva, desenvolveu a teoria da “identidade social” (grifo nosso), onde defende que as relações intergrupais estão intimamente relacionadas a processos de identificação grupal e de comparação social (FERREIRA, 2011 p 25).
Moscovici (1976), segundo a autora, desenvolve os estudos sobre “influência social”, introduz o conceito de “influência das minorias”, tendo realizado investigações com o intuito de averiguar a inovação e a mudança social introduzida por essas minorias. Ferreira (2011 p 25) evidencia que outro campo de estudos a que Moscovici (1981) se dedicou, as “representações sociais”, derivado do conceito de representações coletivas de Durkheim e caracterizado como modos de compreensão da realidade caracterizando‑se hoje como uma das principais tendências da psicologia social europeia.
Muitos psicólogos sociais latino americanos iniciam um forte movimento de questionamento à psicologia social psicológica norte americana no final da década de 70, marcada pelo experimentalismo. Empurrados de certa forma pelos regimes militares e pela grande desigualdade social do continente, esses psicólogos sociais defendiam uma ruptura radical com a psicologia social tradicional (FERREIRA, 2011).
Passaram a praticar o que na época até nossos dias foi denominado de psicologia social crítica, conforme Ferreira, (2011 p 26) apud Álvaro e Garrido (2007) ou psicologia social histórico crítica Mancebo e Jacó‑Vilela (2004) referenciado pela autora. Expressões que abarcam diferentes posturas teóricas, como, por exemplo, o sócio construcionismo (Gergen, 1997), a análise do discurso (Potter e Wetherell, 1987), a psicologia marxista, entre outras.
A psicologia social crítica, caracterizava‑se por romper com o modelo neopositivista de ciência e, em consequência, com suas posições sobre a necessidade de o conhecimento científico apoiar‑se na verificação empírica de relações causais entre fenômenos. Em contraposição a tese modelo, defendia o caráter relacional da linguagem e a importância das práticas discursivas para a compreensão da vida social. (FERREIRA, 2011)
Fonte: encurtador.com.br/eCDMU
Os psicólogos sociais brasileiros também participam ativamente do movimento de ruptura com a psicologia social tradicional ocorrido na América Latina. Assim, a partir da publicação, em 1984, do livro organizado por Silvia Lane e Vanderley Codo, intitulado Psicologia social: o homem em movimento, Ferreira (2011) afirma que surgiram vários outros estudos brasileiros de psicologia social com Campos e Guareschi (2000); Jacques et al. (1998); Lane e Sawaia (1994); Mancebo e Jacó‑Vilela (2004) na perspectiva da psicologia crítica.
Para encerrar esta síntese de capítulo, fica o registro da fundação em 1980, da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), estabelecida com o propósito de redefinir o campo da psicologia social e contribuir para a construção de um referencial teórico orientado pela concepção de que o ser humano constitui‑se em um produto histórico social, de que indivíduo e sociedade implicam‑se mutuamente.
Referência:
FERREIRA, M.C. Breve História da Moderna Psicologia Social. IN: TORRES, C. V e Outros. Psicologia Social: Principais Temas e Vertentes, ARTMED, São Paulo: 2011.
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São Paulo sediará Simpósio de Psicologia e Compromisso Social
8 de março de 2018 Sonielson Luciano de Sousa
Notícias
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Ocorrerá dos dias 21 a 23 de maio de 2018, em São Paulo- SP, o 2º Simpósio Nacional de Psicologia e Compromisso Social. Organizado pelo Instituto Silvia Lane, o evento terá como tema a “Psicologia e a construção da crítica: outros embaraços no percurso”.
Depois do sucesso do primeiro evento, contando com mais de 800 pessoas em 2017, o evento contará com uma conferência e uma mesa redonda sobre cada um dos eixos temáticos definidos para a segunda edição. Entre eles, a dificuldade com que se lida com a noção de sujeito em Psicologia; a negação de incorporar a desigualdade social que marca a vida nacional da produção como ciência e profissão; e a limitada capacidade de lidar com as condições subjetivas da vida social.
Mais informações sobre o evento, programação e inscrições podem ser obtidas no site do evento.
Fonte: https://goo.gl/FZHgQs
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A família como instituição de controle e disparador do comportamento suicida
O suicídio pode ser conceituado como uma morte resultante de um ato voluntário da vítima para si. Emile Durkheim faz desse fenômeno seu objeto de estudo em sua renomada obra “O Suicídio” (2000), livro que serve de base para esse ensaio acadêmico, e chega a conclusão de que, apesar de aparentar ser um ato privado, as causas do suicídio podem ser encontradas em fatores sociais.
Ao estudar as relações entre indivíduo e sociedade, Durkheim percebe que deve existir certo equilíbrio nas relações entre ambos. Quando os limites são atendidos, ou seja, quando o indivíduo possui um nível de integração com os seus grupos, essa relação se torna benéfica a ele, servindo até como um potencial controlador do comportamento suicida. Mas quando seus níveis de integração social saem do eixo, se tornando muito altos ou muito baixos, essa relação leva para o aumento de taxas de suicídios.
Para ele, toda sociedade oferece em seus elementos constituintes um contingente de suicídios que não age isoladamente, mas sobre grupos sociais. Porém, aquilo que oferece imunidade aos indivíduos, também pode servir de disparador do comportamento suicida, isso dependerá das relações indivíduo-sociedade e dos diferentes contextos sociais nos quais essas mortes voluntárias emergem.
Fonte: encurtador.com.br/dguQ0
Observando que a instituição familiar é uma das maiores e mais importantes constituintes da estrutura social, e levando em consideração a alta imunidade dos casados em relação ao suicídio em comparação aos solteiros, esse ensaio acadêmico propõe um enfoque na família e seus níveis de influência sobre o indivíduo enquanto desempenha o papel de instituição de controle do comportamento suicida, e também considerando as situações na qual ela faz o caminho inverso, sendo produtora do fenômeno.
Faz parte do senso comum a ideia de que pessoas casadas vivem uma vida mais difícil que as pessoas solteiras, pois um grande número de responsabilidades e privações que acompanham o casamento e a vida familiar atinge somente os primeiros e não os segundos. Seguindo essa lógica, a vida conjugal e familiar deveria favorecer a disposição do indivíduo.
No entanto, Durkheim desfaz esse ponto de vista em sua obra O Suicídio, através de uma detalhada comparação entre as taxas de suicídios de pessoas solteiras e casadas. Por meio dos dados expostos, torna-se claro que os casados não só se matam menos que os solteiros como obtém uma grande vantagem em relação a estes, ou seja, o matrimônio diminui consideravelmente o perigo de suicídio. E é esse curioso dado que irá direcionar o seguinte ensaio acadêmico. Além de discutir as causas dessa imunidade obtida pelos indivíduos casados, queremos saber em que situações ela também se faz perder dentro da vida conjugal e familiar.
Uma observação mais profunda da conjugalidade nos leva a perceber que existem dois diferentes elementos que compõem o meio doméstico: o cônjuge e os filhos. Conforme Durkheim (2000, p. 224-225): “Uma deriva de um contrato e de afinidades eletivas, a outra de um fenômeno natural, a consaguinidade”. Vendo que ambas têm diferentes naturezas, pode-se afirmar que elas também podem produzir diferentes efeitos e, por esta razão, Durkheim separa dois grupos: os casais com filhos e os casais sem filhos. Esse ato foi realizado justamente para medir a influência do casamento sobre o suicídio e descobrir de onde surge a imunidade observada no primeiro dado apresentado: se a pequena disposição ao suicídio é resultado apenas da relação conjugal, ou se ela está ligada a algum outro fator que a vida doméstica traz consigo.
Fonte: encurtador.com.br/jsuBG
Antes de expor as informações obtidas com a análise, é necessário explicar o significado da expressão coeficiente de preservação que irá aparecer com frequência no decorrer desse ensaio. Trata-se de um termo que indica quantas vezes um determinado grupo se mata menos que outro. Ou seja, quanto maior for o número do coeficiente, maior é a vantagem do grupo, pois seu número de suicídios em relação ao outro é muito menor.
A análise confirmou que o coeficiente de preservação dos homens casados sem filhos era maior do que os solteiros da mesma idade, porém o coeficiente chegava a dobrar quando se tratava dos homens casados com filhos. Outra informação importante obtida é a de que os homens viúvos com filhos apresentam uma imunidade maior ao suicídio que os homens casados sem filhos. É claro que a tendência ao suicídio aumenta após a morte do cônjuge, pois, independente da intensidade, instala-se uma crise no sujeito. Mas quando a morte do cônjuge não tem fortes repercussões nesses números, como notou na pesquisa, é correto afirmar que o matrimônio em si, apesar de ter uma influência positiva sobre os homens casados, não é quem contém a tendência ao suicídio.
Mas é no sexo feminino que a pouca eficácia do casamento se torna evidente quando não há a presença dos filhos. Na França, as mulheres casadas sem filhos se matam mais que a metade das mulheres solteiras de mesma idade. A mulher é, na maioria das culturas, desprivilegiada no casamento e o matrimônio pode até agravar sua tendência ao suicídio, mas é um fato que será discutido posteriormente. O que nos interessa agora é que os casamentos com presença de filhos amenizam esse mau efeito do casamento para as mulheres.
Fonte: encurtador.com.br/dfk37
Percebe-se então que a imunidade dos indivíduos casados em relação aos solteiros se deve não à sociedade conjugal e sim à sociedade familiar, pois a presença de filhos no casamento aumenta o coeficiente de preservação consideravelmente. No entanto, vale lembrar que o matrimônio também tem sua influência sobre a imunidade dos indivíduos casados, porém ela é muito restrita ao sexo, mostrando-se mais influente no sexo masculino, já que as mulheres sofrem um agravamento nas taxas de suicídio quando não têm filhos.
Os cônjuges detêm desse privilégio não por desempenharem o papel de marido e mulher, e sim de pais e mães. Por isso a morte de um cônjuge aumenta a tendência do outro ao suicídio, pois a ausência de um resulta numa crise no meio familiar que se torna difícil adaptação. Ou seja, a sociedade doméstica é um potente preservativo contra o suicídio. E essa preservação é mais completa quanto mais densa é a família, e quando se fala de densidade não se refere somente ao grande número de filhos, mas também da participação regular deles na vida familiar. Esse fato contradiz completamente com o que foi dito inicialmente, pois a propensão ao suicídio diminui à medida que estes encargos na vida doméstica aumentam.
Uma família fortemente integrada possui uma energia particular difícil de dissipar, pois todas as consciências individuais que compõem a família experimentam os sentimentos coletivos, sentimentos esses que repercutem um sobre os outros. É por essa razão que a intensidade dessa energia torna-se mais forte quando número de consciências que estão compartilhando e reforçando os sentimentos, lembranças, experiências, tradições dentro desse grupo.
Fonte: encurtador.com.br/rzKRW
Essa imunidade relacionada a uma forte integração que compreende a sociedade doméstica não é exclusiva dela, mas também compreende outros grupos sociais como a religião e a política. O indivíduo fortemente integrado, seja na família ou em outras esferas, está menos propenso ao suicídio, pois uma sociedade fortemente integrada mantém os indivíduos sob sua dependência. Ou seja, quando o indivíduo está engajado e a serviço de tais grupos sociais, o “eu” pessoal não está acima do “eu” coletivo, portanto não colocam os seus fins acima dos fins comuns. É isso o que justifica a pequena tendência dos casados com filhos ao suicídio. A sociedade familiar tem poder sobre o indivíduo e não os permite dispor de seus interesses privados, pois a morte interrompe os deverem que esse indivíduo tem com ela.
Numa sociedade coerente e viva, há entre todos e cada um entre cada um e entre cada um e todos uma troca contínua de ideias e de sentimentos e como que uma assistência moral mútua, que faz com que o indivíduo, em vez de ficar reduzido as suas próprias forças, participe da energia coletiva e nela venha recompor a sua quando esta chega ao fim (DURKHEIM, 2000, p. 259).
Para que a vida seja suportável, o indivíduo precisa se ligar a algo, ele deve possuir alguma razão que lhe prenda a vida e veja valor nela. O homem não é capaz de viver por si só, pois a essência da vida é muito frustrante. O ser humano é limitado no espaço e tempo e não importa todos os nossos esforços em vida, no fim nada irá nos restar. Portanto, se não tivermos um objetivo fora de nós, resta ao homem somente si mesmo, o que não é suficiente para camuflar toda essa angústia e o apavoro que dessa inevitável anulação, e assim, o homem fica sem forças para agir.
Existem funções que só interessam ao indivíduo: as funções orgânicas; e as realizando, o homem se torna capaz de bastar a si mesmo. É o que ocorre durante a infância e velhice. Mas ao entrar na vida adulta e na civilização que a compõe, uma infinidade de necessidades que não dizem respeito a manutenção da vida física o inundam. Essas necessidades, sentimentos e ideias implantadas em nós (religião, moral, ética, política, etc), foram criadas pela própria sociedade e são a ela que se referem. Ou melhor, Durkheim diz que “são a própria sociedade encarnada e individualizada em cada um de nós” (2000, p. 263). E é por isso que para termos apego a vida, é necessário termos apego à sociedade.
Fonte: encurtador.com.br/bfkr3
À medida que os grupos sociais se desintegram ou perdem força sobre o indivíduo, ele se vê inclinado ao suicídio, pois o homem é físico e social. Quando o segundo se enfraquece, tudo o que há de social em nós também se perde. Se a única vida que o homem coletivo conhece se perdeu, e a única fundada no real (orgânica) não responde mais as nossas expectativas, o homem não encontra mais razões para viver. O tipo de suicídio que resulta dessa desintegração, onde o eu individual é preponderante ao eu social, é chamado de suicídio egoísta, justamente porque há uma individualização desmedida onde o sujeito não se vê mais dependente do social e estando dependente apenas de si mesmo, as regras de conduta que valem para ele são apenas aquelas que o interessam.
É parte da nossa constituição moral, dentro da sociedade na qual estamos inseridos, um objetivo que nos ultrapasse e determine o valor da existência. A família é uma das principais instituições que realizam esse papel com êxito, tornando-se uma instituição de controle do comportamento suicida. No entanto, em algumas situações, ela pode se tornar a disparadora desse comportamento.
Nos casamentos precoces (dos 15 aos 20 anos) há um enorme agravamento no coeficiente de preservação do número de suicídio, principalmente nos homens que, na França, chegam a se matar 473% que as mulheres. O número de suicídios começa a cair após os 20 anos, onde tanto os homens quanto as mulheres se beneficiam de um coeficiente de preservação, que cresce até os 40 anos, com relação aos solteiros. Pode-se perceber que o matrimônio serve como um disparador do comportamento suicida quando ele ocorre muito cedo, sendo muito mais prejudicial aos homens do que as mulheres.
Em outros casos, ou melhor, na maioria deles, a mulher é o sexo prejudicado no casamento. Ao comparar a participação de cada sexo nos suicídios das dois estados civis (solteiros e casados), percebeu-se que a imunidade entre os sexos é desigual: as mulheres casadas se matam mais na categoria de suicídio dos casados do que as mulheres solteiras na categoria de suicídios de solteiros. Isso não significa que a mulher casada está mais exposta ao suicídio que a solteira, e sim que a mulher se beneficia muito menos com o casamento do que o homem. Também como já foi apontado nessa discussão, a sociedade conjugal é prejudicial para a mulher quando há a ausência de filhos enquanto o homem, mesmo sem filhos, possui um coeficiente de preservação considerável. Ou seja, a vida familiar é a responsável pela minimização dos efeitos do matrimônio para a mulher.
Fonte: encurtador.com.br/dpzCD
Quando se fala em divórcios, sabe-se que os indivíduos não só se matam consideravelmente mais do que os casados, como também mais que os viúvos. Trata-se de um dado curioso, pois geralmente o divórcio é algo desejado. Ao analisar esses números, Durkheim percebe que o coeficiente de preservação das mulheres casadas aumentam à medida que os divórcios são mais frequentes. Já nas sociedades em que o divórcio é pouco praticado, as mulheres tendem a ser menos preservadas que o seu marido. O inverso acontece com o homem, ele é menos preservado à medida que o número de divórcios crescem.
Essas novas informações se relacionam com a já exposta: o casamento é benéfico ao homem, tão benéfico que quando ele o perde, sua propensão ao suicídio aumenta; enquanto a situação da mulher melhora à medida que o suicídio é praticado. Assim, entende-se que, o sexo masculino é o responsável por essa alta taxa de suicídio dos divorciados. Essa não é uma verdade absoluta em todas as sociedades, mas é uma realidade que se repete em muitas delas. Esses efeitos tão opostos do casamento sobre o sexo se dá porque seus interesses dentro desse regime são antagônicos.
A sociedade moderna é marcada por uma desorganização; há um estado de falta de objetivos e regras que se faz perder a identidade. Esse fenômeno é entendido por anomia. Para controlar os efeitos negativos da anomia na sociedade, instituiu-se diversas medidas que pudessem amenizá-las e conter os indivíduos, pois a ausência de limites gera uma perseguição interminável que nunca será satisfeita, consequentemente levando ao caos e muitas vezes ao suicídio. O casamento, principalmente o monogâmico, é uma das instituições que possuem essa função. Ele regula a vida passional do indivíduo, obrigando-o a se ligar a uma única pessoa e fechar seu horizonte. E como diz Durkheim (2000, p. 346), é disso que o homem tira vantagem:
É essa determinação que constitui o estado de equilíbrio moral de que o homem casado se beneficia. Por não poder, sem faltar seu dever, buscar outras satisfações além das que lhe são assim permitidas, ele limita a elas seus desejos. A disciplina salutar à qual é submetido faz com que deva encontrar felicidade em sua condição e, por isso mesmo, fornece-lhe os meios para isso.
O homem por culturalmente possuir uma liberdade maior, precisa ser regulado, pois definindo os seus prazeres, o homem irá garanti-los estabelecendo o equilíbrio mental que ele necessita. O que não acontece na vida do homem solteiro, onde a anomia assume um caráter sexual. Por não ter um regime que o regule, a vida de solteiro é repleta de frustrações porque, por não ter limites, o homem quer tudo e por isso, nada o satisfaz. “Quando não somos detidos por nada, não podemos deter a nós mesmos” (2000, p. 346).
Fonte: encurtador.com.br/iIOSZ
E da mesma maneira que o homem não se dá definitivamente a ninguém, nada a ele pertence também, condenando-o a um futuro instável e incerto. Disso resulta um estado de perturbação e insatisfação que aumenta as probabilidades de suicídio. E é isso o que ocorre no divórcio. A regulamentação estabelecida no casamento se enfraquece e os limites que eram colocados aos seus desejos já não são tão rígidos, podendo facilmente se deslocarem. A estabilidade e tranquilidade que o homem casado experenciava dá espaço para uma inquietude por não conseguir se ater ao que tem.
Contudo, enquanto o homem possui uma intensa liberdade que deve ser contida para o seu próprio bem, a mulher precisa de liberdade. A mulher sempre esteve presa a moldes sociais que até hoje influenciam muito na nossa cultura, mesmo que aos poucos sejam quebrados pelo movimento feminista. As necessidades sexuais da mulher têm um caráter menos mental em comparação aos homens, pois não se permitia que isso se desenvolvesse nelas. Portanto, a mulher não precisa de um meio de regulamentação como o casamento, pois ela já o faz há muitos séculos por imposições sociais.
Não só a mulher sofre com essa limitação de horizontes trazida pelo matrimônio, o homem também se vê numa condição complicada. Mas enquanto o segundo ainda é capaz de obter privilégios com o rigor desse regime, a primeira só sai perdendo. Além do casamento não ser útil para conter seus desejos que já são naturalmente limitados pela sociedade machista, o casamento tira dela a esperança de um futuro diferente e que realmente almeja, pois historicamente as mulheres sempre estiveram mais inclinadas ao casamento, como uma obrigação. Por essa razão o matrimônio é muitas vezes intolerável para a mulher, pois é um encargo muito pesado e sem vantagem; e assim, qualquer coisa, como a presença de filhos, vem a suavizar essa desvantagem que explica sua propensão maior a suicídio quando a única coisa que ela tem é o casamento.
Fonte: encurtador.com.br/opE08
Em determinado momento da vida, o homem também é afetado da mesma maneira que a mulher pelo casamento, mesmo que por outras razões. Isso ocorre com os homens jovens, e é por isso que o número de suicídio de homens casados entre 15 a 20 anos é tão alto como dito anteriormente. Eles não são capazes de se submeter aos limites impostos pelo casamento, pois suas paixões são muito intensas e ele não as consegue controlar. Os efeitos positivos do casamento só se vem sentir mais tarde, quando a idade tranquiliza o homem e a disciplina passa a se fazer necessária. Mas mesmo com esse contraponto, é ao homem que a instituição do casamento favorece, pois ele que necessita de coerção, tem o que precisa; e ela que precisa de liberdade, se vê mais presa.
A liberdade à qual o homem renunciou só podia ser para ele uma fonte de tormentos. A mulher não tinha as mesmas razões para abandoná-la e, sob esse aspecto, podemos dizer que, submetendo-se à mesma regra, foi ela que fez o sacrifício (DURKHEIM, 2000, p. 353).
De modo geral, é assim que o matrimônio pode se tornar um disparador do comportamento suicida para a mulher, enquanto serve como uma instituição de controle para o homem. Por essa razão, o divórcio a protege a mulher do suicídio que recorre mais facilmente a ele, enquanto inclina homens à morte voluntária.
Considerações Finais
A imunidade que os indivíduos casados desfrutam em relação aos solteiros se deve, em sua maior parte, não ao matrimônio e sim à vida doméstica que surge dela. Os coeficientes de preservação aumentam consideravelmente quando há a presença de filhos no casamento e a imunidade se torna maior quanto mais densa for a família. Uma família fortemente integrada, onde as consciências individuais que a compõem estão reforçando seus laços, serve como uma instituição de controle do comportamento suicida. E quanto mais membros ativos existirem na vida doméstica para alimentar essa energia particular, mais benéfica essa instituição se torna. Quando há um elevado, mas ainda estável, nível de comprometimento dentro do seio familiar, eliminar a própria vida não se torna uma opção porque o “eu” social é mais forte que o “eu” individual, tamanha é a importância que a família tem para esse sujeito.
Entretanto, o suicídio varia inversamente a integração desse ser dentro nos grupos. Assim, quando a instituição familiar se desintegra e/ou perde sua força, o indivíduo se isola da vida social e os fins sociais não possuem mais importância que os fins próprios. Desta maneira, essa estrutura pode agir como disparador do comportamento suicida. Por si só, o casamento tem seus benefícios, contudo, ele só atende a um dos sexos, sendo o sexo masculino o beneficiado na maioria das vezes. É correto afirmar que o ser humano precisa de algo que o regule em todas as esferas, e no âmbito afetivo quem faz esse papel é o casamento.
O homem precisa do matrimônio, pois enquanto solteiro, seus desejos são ilimitados e insaciáveis e assim, as normas regem a sociedade não correspondem os seus objetivos de vida. Uma vez que o indivíduo não se identifica com essas normas sociais, o suicídio passa a ser uma alternativa. Por isso, ao limitar seus horizontes, o homem passa a ter apenas um objeto de desejo, e ao limitar a esse objeto seus desejos e ele proporciona a si meios de satisfazê-los. Por essa razão o casamento, ao fazer essa regulação social, serve como um dispositivo de controle.
Fonte: encurtador.com.br/bdFHL
Enquanto isso, o casamento atua como um disparador do comportamento suicida às mulheres. Ao contrário dos homens, por toda a história, a elas foi imposto que deveriam regular seus desejos, e assim elas os fazem naturalmente, sem a necessidade de uma instituição com esse papel. Por isso, quando elas se casam, a liberdade da qual elas necessitavam e da qual os homens sempre desfrutaram, se perde. Se vendo ainda mais presa e sem esperanças de um futuro que atenda suas necessidades, a mulher se torna mais propensa ao suicídio.
Diante dessas informações, podemos pintar um cenário desvantajoso para as famílias contemporâneas quando falamos sobre suicídio. À medida que os anos passam, o número de filhos por casal diminuem, filhos esses que saem da casa dos pais com muito mais facilidade; pais superocupados com uma rotina repleta de afazeres e obrigações e que, por consequência, não dão a devida atenção para o cenário familiar e filhos desamparados dentro de seus próprios lares. Tudo é mais “eu” e menos “nós”. Todos esses fatores que moldam a família pós-moderna, favorecem a sua desintegração e a fraqueza dos laços internos que, como pudemos ver nesse ensaio, favorece a propensão ao suicídio.
Já para as mulheres, o cenário é vantajoso. A grande força que o movimento feminista ganhou nas últimas décadas garantiu às mulheres um espaço muito maior do que elas detinham e uma liberdade até então nunca experienciada. Tendo em vista que é isso o que a mulher necessita, talvez a sua perspectiva do casamento se altere com o passar dos anos, e a realidade apresentada aqui mude.
REFERÊNCIAS:
DURKHEIM, Émile.O Suicídio:Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 2000. 513 p. Tradução de: Monica Stahel.
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Ecovilas: alternativa a estruturação Capitalista da Sociedade
José Paulo Netto (2012) afirma que duas inferências são inquestionáveis em relação as mudanças proporcionadas pelo Capitalismo nos últimos anos, que nenhuma das transformações modificou a exploração e dominação inerente a forma atual de estruturação da sociedade e que o capital esgotou a sua capacidade civilizatória.
Segundo o filósofo Herbert Marcuse, membro da primeira geração do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, a sociedade atual é caracterizada pelo pensamento unidimensional, implementação de uma única forma de pensamento que leva o homem a perceber apenas um horizonte possível de existência, dando-lhes uma aparente liberdade de escolha e um ilusório estado de bem-estar, exigindo em troca submissão a lógica capitalista. Segundo ele a Sociedade Unidimensional oscila entre duas possibilidades históricas, a saber: “1) a de que a sociedade industrial desenvolvida seja capaz de sustar a transformação qualitativa durante o futuro previsível; 2) a de que existem forças e tendências que podem romper essa contenção e fazer explodir a sociedade” (MARCUSE, 1978, p. 14).
A necessidade de uma transformação qualitativa da sociedade visando o estabelecimento de uma ordem fundada na possibilidade de suavizar a vida de todos os seus membros é necessária porque quando o arranjo social estabelecido é comparado com outras maneiras possíveis de ordenamento fica escancarada a sua irracionalidade.
Não existe organização social que não apresente possibilidade de felicidade. A felicidade e a liberdade oferecida pela sociedade capitalista visam à manutenção da ordem social para o progresso e elevação do capital.
Fonte: https://goo.gl/GZhVZ8
Segundo Aldous Huxley, no prefácio ao livro “Admirável mundo novo”, publicado em 1934, a dominação só pôde ser estabelecida mediante uma grande transformação na mentalidade e nos corpos dos indivíduos. Parece que foi exatamente esta transformação que o capitalismo possibilitou. Os homens abdicaram de uma liberdade de construção da própria vida por uma ilusória promessa de bem-estar permanente. A racionalidade da sociedade capitalista é irracional porque ao mesmo tempo em que cria abundância produz escassez, miséria e destruição da natureza.
Como apontou Herbert Marcuse existem na sociedade projetos alternativos que nos levam a perceber um outro modo de organizar a vida individual e coletiva, dentre essas tendências os modelos sustentáveis de vida, conhecidos como ECOVILAS, são excelentes exemplos que estão se consolidando como opções concretas.
As ECOVILAS, são assentamentos humanos sustentáveis, que estruturam um novo modo de vida fundamentado na preservação das riquezas naturais e na economia solidária.
Segundo Marcio Bontempo (2011) “Ecovilas são comunidades organizadas, preferencialmente rurais, compostas por pessoas que se identificam em ideais ou princípios, que procuram viverem em harmonia com as leis naturais, através de um estilo de vida ambiental, econômica e socialmente sustentável. No escopo das ecovilas estão itens como a produção orgânica dos alimentos, a geração de energia limpa, o destino adequado dos resíduos sólidos e líquidos, a reciclagem e o reuso, a economia solidária e de troca, a recuperação de áreas degradadas e a conservação das florestas e mananciais de água”.
A proposta de organização social sustentável já está presente em todos os continentes como forma de vida alternativa que vem se firmando como uma maior capacidade civilizatória. O documentário intitulado ECOVILAS BRASIL – Caminhando para a Sustentabilidade do Ser, “ visitou 10 lugares para entender quais aspectos e valores as Ecovilas estão trazendo para a humanidade e como estes podem colaborar para uma mudança de paradigma do nosso modelo civilizatório”. Vale a pena assistir o documentário, as Ecovilas são formas de percebermos que sempre existiram formas distintas de organizar a vida, elas nos fazem lembrar que inúmeras possibilidades estão abertas. Na sociedade coexistem forças opostas, o capitalismo que busca harmonia e coesão social e, ao mesmo tempo, existe uma força capaz de romper essa ideologia de coesão.
No site do Movimento Brasileiro de Ecovilas é possível encontrar uma lista com informações sobre Ecovilas instaladas no Brasil.
Nota: Relato de Experiência elaborado como parte das atividades da disciplina de Antropologia do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, sob supervisão do prof. Sonielson Sousa.
Recente Psicologia em Debate discorreu sobre Sexualidade trans e identidade de gênero, a partir de pesquisa realizada pela acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra Fernanda Bonfim. O transgênero é o indivíduo que não se identifica com seu sexo biológico. A identidade seria, neste caso, de como essa pessoa se vê, se sente, se percebe e é percebida.
Os transgêneros podem ser homossexuais ou heterossexuais. São considerados homossexuais quando se relacionam com o mesmo gênero de sua escolha de identidade (quando uma pessoa é biologicamente mulher, mas sua identidade de gênero é homem e este se relaciona com um homem). E são transgêneros heterossexuais quando se relacionam com o sexo oposto a sua identidade de escolha (quando uma pessoa biologicamente é mulher, com identidade de gênero sendo de homem e se relaciona com uma mulher). É possível observar a manifestação da transgeneridade bem cedo na vida de um sujeito, através das escolhas que essa pessoa faz por suas roupas, seus interesses e desejos por temas e objetos que seriam “comuns” ao sexo biológico oposto ao seu.
Fonte: http://zip.net/bbtKMx
A cirurgia para adaptar o corpo é realizada depois que um diagnóstico é fechado por vários profissionais, que incluem psiquiatras, psicólogos, entre outros. No Brasil, o Sistema Único de Saúde, pela portaria Nº 457, autoriza que a partir dos 18 anos de idade a pessoa pode dar início ao tratamento para adequação de sexo, que dura dois anos, até que o diagnóstico seja concluído. Porém a cirurgia só pode ser realizada a partir dos 21 anos de idade (BRASIL, 2008). Até o ano de 1985 a homossexualidade era considerada um transtorno mental pelo Conselho Federal de Medicina, e no final dos anos 80 vários organizações iniciam um amplo processo de despatologização desta orientação, que passa a ser considerada dentro da diversidade humana.
Sampaio e Coelho (2013) ao citar Harper e Scneider (2003), afirmam ser este grupo marginalizado pela discriminação, violência sofrida principalmente em seu convívio familiar e social em algum momento, geralmente na adolescência, ao qual a pessoa se encontra em maior fragilidade, o que pode dificultar o acesso a educação, melhores vagas de emprego e moradia. A estimativa de vida para os transsexuais é de no máximo 35 anos de idade, pelas violências acometidas a eles, sendo que 20% dos crimes são cometidos contra jovens com menos de 18 anos. Somente 10% dos crimes viram processo e 31% das vítimas são alvejadas com arma de fogo.
Fonte: http://zip.net/bqtLSC
Algumas ponderações podem ser observadas a partir da palestra, sobretudo ao ter feito a analogia de “ser cristão e por isso preconceituoso”, “gays perseguidos por pessoas cristãs”. Como se, no fritar dos ovos, a culpa fosse de Cristo. Das duas uma, ou há ensinos errôneos sobre o que o Evangelho realmente ensina sobre ser cristão, ou ouvintes relapsos que dão sua própria interpretação. E, ainda, a soma dessas duas ações que criam generalizações de fontes interpretativas erradas. Se Jesus Cristo fosse preconceituoso, ele não teria estado no meio de todos os tipos de sujeitos – os marginalizados da época.
Em nenhum momento Jesus desprezou, julgou, condenou ou incitou algum tipo de violência a quem quer que seja. Aliás, Ele acolhia, recebia e era recebido por pessoas que também eram desprezadas ou criticadas. Jesus confrontou “os seus”, os escribas e fariseus, como diz o texto em Jo1:11, “Veio para o que era seu e os seus não o receberam.” Se Jesus se apresentasse na contemporaneidade, é com estas pessoas que ele estaria.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cirurgias de Mudança de Sexo são Realizadas pelo SUS desde 2008.Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/cirurgias-de-mudanca-de-sexo-sao-realizadas-pelo-sus-desde-2008>. Acesso em: 05 jun. 2017.
SAMPAIO, Liliana Lopes Pedral; COELHO, Maria AThereza Ávila Dantas. A TRANSEXUALIDADE NA ATUALIDADE: DISCURSO CIENTÍFICO, POLÍTICO E HISTÓRIAS DE VIDA. Ufba,Bahia, v. 1, n. 1, p.1-12, 13 jun. 2013.