Quando o cuidado se torna dependência

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Análise da relação entre os irmãos Kate e Kevin da série “This is us”

“This is us” é uma série de drama, criada por Dan Fogelman, que conta a história cotidiana da família Pearson, em diferentes linhas de tempo, apresentando passado, presente e futuro. Rebeca (Mandy Moore) e Jack (Milo Ventimiglia) se encontram grávidos de trigêmeos, mas durante o parto um dos filhos morre; coincidentemente, naquela mesma noite um bebé recém-nascido que foi abandonado é levado por um bombeiro para o hospital, então Jack decide adotá-lo, sendo então seus filhos: Randal (Sterling K. Brown), e os gêmeos Kate (Chrissy Metz) e Kevin (Justin Hartley). 

Para fins de objetividade e clareza, esse texto irá focar na relação dos irmãos gêmeos Kate e Kevin.  Desde o início a série apresenta a relação deles com bastante ligação, se percebendo e se ajudando em diversas situações, e isso apesar de feito com muito carinho e cuidado, acaba apresentando certo grau de dependência, gerando falta de autonomia. 

Personagens Kevin e Kate da série “This is us”.
Fonte https://bityli.com/5PkFp

No episódio piloto Kate vai à um encontro com Toby (Chris Sullivan), o cara que ela conhece no grupo de apoio, ao final do encontro ela o convida para entrar na sua casa, e quando está prestes a beijá-lo, Kevin aparece, perguntando porque ela não atendeu suas ligações e começa a expor seus problemas no meio de seu encontro com Toby, e essa é apenas uma das diversas cenas que exemplifica a relação de difusão estabelecida entre eles. 

Essas situações podem ser explicadas a partir da perspectiva de Nichols (2007), onde afirma que as famílias possuem estruturas, sendo elas determinadas por padrões organizados e são esses padrões que vão determinar como as famílias interagem, além de repercutir sobre seus subsistemas. 

No decorrer da série, por exemplo, podemos ver que o modelo de interação entre Kevin e Kate se encontra na relação de Rebeca com sua mãe e posteriormente na relação de Rebeca com seus filhos, ou seja, Rebeca teve uma relação de emaranhamento com sua mãe sendo apresentado na série no momento em que Rebeca deseja namorar Jack mas acaba não recebendo aprovação da mãe, ou quando Rebeca recebe sua mãe como visita em sua casa e ela fica tentando controlar a maneira que Rebeca administra sua casa. A partir desse padrão aprendido, Rebeca acabou reproduzindo com seus filhos, em especial com Randall que pôde ser percebido quando Rebeca acaba tomando decisões sobre a vida de Randal que deveriam ser dele, como por exemplo o envolvimento com o pai biológico, logo Kate e Kevin também perpetuaram esse padrão dentro de sua relação. 

Esse padrão caracteriza-se pela presença de fronteiras difusas, onde existe bastante apoio mútuo entre os integrantes do sistema/subsistemas, mas à custa da independência e da autonomia. Isso nos leva a refletir sobre quando o cuidado que temos e/ou recebemos das pessoas que amamos, se torna dependência, e nossa identidade passa a existir a partir de outro alguém.

Para que isso não aconteça precisamos estar muito esclarecidos sobre nossos limites e nossos diferentes papéis sociais (filho/a, irmão/ã, esposo/a amigo/a, etc) para que não venhamos a nos perder em meio a atuação dos mesmos. 

Foto ilustrativa para representar laços familiares
Fonte Pixabay

Referências

ADORO CINEMA: This is Us. Disponível em <  https://www.adorocinema.com/series/serie-19992/ > Acesso em 23 fev. 2023. 

NICHOLS, Michael. Terapia Familiar: Conceitos e Métodos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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Álcool, o frágil limite entre prazer e destruição

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Todos os anos o dia 20 de fevereiro é dedicado ao combate e conscientização da dependência do álcool, e é de suma importância que haja uma reflexão individual sobre o papel que a bebida exerce em nossas vidas e como ela pode impactar nossa realidade.

O álcool, diferente de outras drogas, pode estar presente desde muito cedo na vida das pessoas e a dependência que ele muitas vezes causa afeta milhões mundialmente. Socialmente muito bem aceito, e proposto em quase qualquer ocasião, a falta de controle no seu consumo às vezes está relacionado à busca de alívio da tensão e do estresse do dia a dia, entre outras razões. Seja para ser bem aceito num grupo, seja para perder a timidez, ou tantos outros motivos, a bebida é muitas vezes vista como uma boa alternativa.

O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), na sua última edição (DSM-5) atualizou o abuso e dependência de álcool que antes era chamado de alcoolismo, para Transtorno por Uso de Álcool (TUA), sendo uma condição na qual uma pessoa tem desejo ou necessidade física de consumir bebidas alcóolicas, mesmo que isso tenha um impacto negativo e traga consideráveis prejuízos em sua vida. É uma forma de extrema dependência em que a pessoa tem uma necessidade compulsiva de ingerir álcool para ser funcional nas suas atividades diárias.

Atualmente são identificados quatro padrões de consumo de álcool: o consumo moderado, sem risco; o consumo arriscado, que tem o potencial de produzir danos; o consumo nocivo, que se define por um padrão constante de uso já associado a danos à saúde; e o consumo em binge, que diz respeito ao uso eventual de álcool em grande quantidade.

Fonte: encurtador.com.br/syCT0

Alguns autores trazem este abuso como uma doença crônica, com fatores genéticos, psicossociais e ambientais influenciando seu desenvolvimento e suas manifestações, ou seja, as teorias levam em conta a complexidade do transtorno e reconhecem que geralmente é causado por uma combinação de fatores.

Mas porque referir-se a este assunto como um frágil limite entre prazer e destruição?

O álcool atua sobre o sistema de recompensa do cérebro, através da liberação de dopamina (entre outros neurotransmissores), trazendo a sensação de prazer e recompensa. Por ser uma droga lícita, difundida e muito usada até mesmo como ferramenta de aceitação e desenvoltura social, entender o mecanismo por trás deste sistema de gratificação que o cérebro produz e as consequências deste tipo de condicionamento, nos fazem perceber quão tênue é esta linha entre o prazer e o perigo.

Segundo o psiquiatra Dr. André Gordilho, “o paciente pode desenvolver tolerância, precisando de uma quantidade cada vez maior da bebida para sentir os efeitos que ele busca. Às vezes ocorrem sintomas físicos, como insônia, irritabilidade, e outros sintomas de abstinência”, completa.

Para um diagnóstico eficaz, ele traz que a atenção ao histórico do paciente é essencial. Normalmente a pessoa começa a estreitar o intervalo dos dias em que bebe, passando a consumir álcool de forma cada vez mais frequente. Também pode passar a ter comportamentos inadequados, como beber em locais em que não deveria, como no trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/ckmwN

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o abuso de álcool é responsável por 3,3 milhões de mortes todos os anos no mundo. Dentre outras consequências podemos listar algumas patologias como: cirrose e outras doenças do fígado, depressão, crises de ansiedade, tremores e etc.

O álcool pode piorar os sintomas de depressão e ansiedade já existentes, além de aumentar as explosões emocionais. Muitas vezes, os alcoólatras têm uma falta de controle emocional (autoregulação) e às vezes podem causar perturbação nos contextos onde estão inseridos se estiverem altamente intoxicados.

O vício em álcool é perigoso, e ele vai aumentando gradativamente sem que o indivíduo perceba. O usuário não pensa que tem um problema, e quando vai se dar conta já não consegue assumir o controle em relação ao comportamento de beber ou à quantidade consumida.

Esta prática, além de conduzir o indivíduo a sérios malefícios para a saúde, contribui para a deterioração das relações sócio familiares e de trabalho, causando sérios prejuízos para a pessoa tanto fisicamente, quanto psicológico, emocional e socialmente.

Fonte: encurtador.com.br/rvQX9

Alguns sinais e sintomas do transtorno incluem:

  • beber sozinho ou em segredo;
  • não ser capaz de limitar a quantidade de álcool consumida;
  • não ser capaz de lembrar alguns espaços de tempo;
  • ter rituais e ficar irritado se alguém comentar sobre esses rituais, por exemplo, bebe antes, durante ou depois das refeições ou depois do trabalho;
  • perder o interesse em hobbies que eram apreciados anteriormente;
  • sentir muita vontade de beber;
  • sentir-se irritado quando os horários de beber se aproximam, especialmente se o álcool não estiver disponível;
  • armazenamento de álcool em lugares improváveis;
  • bebe para se sentir bem;
  • adquire problemas com relacionamentos, leis, finanças ou trabalho que resultam da bebida;
  • precisa cada vez mais de mais álcool para sentir seu efeito;
  • sente náuseas, sudorese ou tremor quando não está bebendo;

O tratamento da dependência possui algumas características particulares, visto que o indivíduo precisa de um programa bem personalizado, específico para ele. As perspectivas trabalhadas são medicação, abstinência, psicoeducação e responsabilização, dentro de uma visão multidisciplinar, envolvendo profissionais como psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e quaisquer outras especialidades como hepatologistas por exemplo. Para cada uma dessas abordagens é realizado um tratamento específico que vai depender do estágio que o paciente se encontra.

O primeiro passo deve partir da pessoa e o desejo de mudar aquele comportamento, reconhecendo que o consumo excessivo, progressivo e abusivo de bebidas alcoólicas está causando problemas em sua vida. A rede de apoio (familiares, amigos) é essencial para o sucesso da restauração da saúde e bem estar do usuário.

Um retorno ao consumo normal de álcool é muitas vezes possível para indivíduos que abusaram do álcool por menos de um ano, mas, se a dependência persiste por mais de cinco anos, os esforços para retornar ao consumo social geralmente levam à recaída.

Fonte: encurtador.com.br/bjIO3

Existe uma negação muito grande em reconhecer a doença por causa do estigma que ela carrega. E por ser tão bem socialmente aceito, as pessoas demoram a reconhecer e a procurar tratamento. Existe também muita vergonha envolvida nesse processo, e acaba sendo em alguns casos uma situação velada, e muitas vezes nem os próprios familiares conseguem se mobilizar para ajudar a pessoa que sofre com isso, às vezes por falta de informação ou por falta de acesso a estes meios de assistência.

Algumas formas de abordar e reduzir os níveis de consumo nocivo de álcool podem vir da promoção de conhecimento sobre saúde na população, fornecendo evidências da relação do consumo de álcool e os danos causados pelo abuso. A conscientização precisa ser mais bem trabalhada na sociedade como um todo, e precisa haver uma quebra de paradigmas, e buscarmos desmistificar o processo de tratamento, para a não normalização da doença e como qualquer outro transtorno ou patologia, procurando ajuda, pois é possível com tratamento superar e melhorar a qualidade de vida significativamente dos indivíduos prejudicados, tanto o portador do transtorno quanto seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

O mais importante (e na verdade essencial) neste processo é que não se abra mão de um olhar psicossocial do indivíduo, que esteja ampliado e atento às relações deste sujeito, que ele seja protagonista nesta trajetória, e que haja este olhar nas interações entre os profissionais de saúde e o usuário e a sua rede de apoio, para um tratamento humanizado, que respeite as vontades do sujeito e busque sua melhora gradativa, de acordo com o seu caso e seu contexto.

REFERÊNCIAS

Transtorno do Uso de Álcool: uma comparação entre o DSM IV e o DSM – 5, NIH – National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism, outubro de 2021. Disponível em:  <https://www.niaaa.nih.gov/sites/default/files/publications/AUD-A_Comparison_Portuguese.pdf> . Acesso em: 15/02/2022.

O que é Transtorno por abuso de Álcool e qual é o Tratamento?, Seu Amigo Farmacêutico, 2019. Disponível em: < https://www.seuamigofarmaceutico.com.br/artigos-e-variedades/o-que-e-transtorno-por-abuso-de-alcool-e-qual-e-o-tratamento-/404#:~:text=O%20alcoolismo%2C%20agora%20conhecido%20como,era%20chamada%20de%20%22alco%C3%B3latra%22 >. Acesso em 15/02/2022.

Alcoolismo pode ser um inimigo invisível, Holiste, 27/05/2019. Disponível em: <https://holiste.com.br/alcoolismo-pode-ser-um-inimigo-invisivel/>. Acesso em: 15/02/2022.

Os cinco tipos de problemas com a bebida são mais comuns em diferentes idades, Third Age, 2019. Disponível em: < https://thirdage.com/the-five-types-of-problem-drinking-are-more-common-at-different-ages/>. Acesso em 16/02/2022.

Alcoolismo, Rede D’or, 2021. Disponível em: <https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/alcoolismo>. Acesso em 16/02/2022.

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Como você tem se saído como gerente de sua mente?

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A forma de um indivíduo pensar é traduzida em suas diversas ações, em diferentes lugares, seja em casa, no ambiente de trabalho ou apenas em uma fila de supermercado. Já observou que, no último caso, sempre tem uma pessoa estressada que reclama o tempo todo, até chegar ao caixa para efetuar o pagamento. Mas, por que existem comportamentos tão diferentes? O psiquiatra e escritor, Augusto Cury (2015) explica que toda atitude, passa em primeiro lugar pelo campo da mente, e por isso é necessário a gestão de pensamentos.

Atualmente fala-se muito sobre gestão de tempo. No entanto, o que seria a gestão de pensamentos? Cury (2015) declara que o termo consiste na compreensão da formação do pensamento, ou seja, a busca pelo autoconhecimento sobre sua construção. Por isso, segundo o escritor, é imprescindível a produção do pensar positivo, em detrimento ao negativo.  “Critique, cada ideia pessimista e preocupação excessiva e capacite o seu eu” Cury (2015).

A preocupação excessiva vai ao encontro do volume de informação recebida diariamente. Desde cedo, a pessoa acorda e checa o celular para saber se recebeu algum tipo de informação, posteriormente verifica as redes sociais, e por fim liga a televisão. Antes mesmo de sair de casa, ela foi bombardeada por diferentes tipos de informações, que influenciarão na sua forma de pensar, no dia.  Burgos (2014) observa que todo aparato tecnológico deveria ser um meio para se crescer como pessoa, não como um fim em si; ou seja, a excesso de informação influencia na elaboração do pensamento acelerado.

Fonte: Freepik

Como solução Burgos (2014) aponta que a autoanálise, tomar consciência e o monitoramento dos hábitos são algumas das estratégias possíveis no processo de relação mais sadia com a tecnologia. “Creio que o uso moderado das ferramentas que temos à disposição – do smartphone às redes sociais – pode ser certamente mais enriquecedor que a negação total, e o tempo necessário para uma desaceleração pode variar bastante de pessoa pra pessoa” (BURGOS, 2014).

Nessa perspectiva Carr (2014) alerta sobre o mau uso da tecnologia, no dia a dia, como forte influenciador na produção de pensamentos, sem passar pelo autoconhecimento e análise. “Nossa tendência é usar tecnologias para facilitar nossa vida, não para dificultar e, com os computadores em rede, esse desejo por conveniência está tendo uma enorme influência sobre nossas vidas intelectuais, assim como em nas físicas. Acho que existem evidências de que essa tal facilidade pode obstruir nosso aprendizado e nossa memória, e talvez até mesmo nossa disposição para a empatia.” (Carr, 2011).

Carr (2011) explica que a dependência excessiva pelas tecnologias tem prejudicado o ser humano no processo de formação de ideias e do saber. Ou seja, as pessoas estão deixando de serem críticas, produtores de ideias e pensamentos, e estão absorvendo, sem nenhuma análise, o conteúdo exposto na internet.

Fonte: Freepik

Adorno (1971) destaca que a infância tem um papel primordial para a formação do pensamento do indivíduo, bem como acrescenta que a construção do caráter do mesmo acontece quando criança. Compactuando com a ideia de Adorno, que Cury (2015) relata que uma criança de sete anos possui mais informação do que tinha um imperador, na Roma antiga.  Nesse sentido, é preciso regular o tempo de uso das redes sociais, se a forma de pensar de um adulto é influenciada pelo consumo de conteúdo, como enfatizou Carr (2011), imagina uma criança que está em processo de formação do caráter.

A projeção de um adulto crítico, que não deixa se influenciar por tudo que está exposto, no universo da internet, inicia na infância, e como alertou Augusto Cury (2014) uma criança tem mais informação que uma pessoa da antiguidade.  Por isso, é necessário a gestão de tempo, das crianças com as mídias digitais, para futuramente ser uma pessoa que tenha uma gestão de pensamento. Ou seja, somos aquilo que pensamento e permitimos. E para que se tenha pensamentos saudáveis e saber impor limite ao outro sobre as relações interpessoais, começa na infância.

REFERÊNCIAS

Adorno, T W. Emancipação e Educação. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1971.

BURGOS, Pedro M. Conecte-se ao que importa: Um manual para a vida digita saudável. São Paulo: LeYa, 2014.

CARR, Nicholas. A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros. 1ª Ed. Tradução de Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir, 2011.

Cury, A. Gestão da emoção: Técnicas de coaching emocional para gerenciar a ansiedade. 2015.

Cury, A. Ansiedade: como enfrentar o mal do século: a Síndrome do Pensamento Acelerado: como e porque a humanidade adoeceu coletivamente, das crianças aos adultos.  Primeira edição. Saraiva. 2014.

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Características psicológicas da Geração Floco de Neve

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Quando falamos de floco de neve logo nos vem em mente não só sua beleza, mas também sua fragilidade e vulnerabilidade, e essas duas características são as que definem pessoas que atingiram a fase adulta na década de 2010. A “geração floco de neve” (“snowflakes”), “milênio” (“millenial”) ou geração “Y”, é uma geração formada por pessoas extremamente sensíveis em pontos de vista que desafiam sua visão de mundo, jovens adultos que se acham melhores e mais especiais que os outros e são tratados como flocos de neve, pois “derretem” com muita facilidade.

Essa expressão teve origem no filme Clube da Luta, quando Brad Pitt fala “vocês não são especiais, não são um floco de neve, o único, o singular. Vocês são feitos da mesma matéria de que vai se decompor como todo mundo”. Essa geração geralmente tem a atitude de filtrar e só permitir entradas de opiniões que não irão ferir sua sensibilidade tendo como suas possíveis consequências à preparação de mentes frágeis do ponto de vista da saúde mental e maus profissionais para o mercado, já que sempre vai existir a diversidade de pensamentos e comportamentos entre as pessoas.

O fato de se achar especial e melhor que os outros acabam deixando o jovem muito mais vulnerável, segundo a psicóloga Jean Tweng, geralmente essas pessoas crescem em famílias onde qualquer atitude da criança os pais já o tratam como se fosse diferente dos outros, ela dá como exemplo uma criança que faz um traço em um papel e seus pais já trata como se fosse Picasso, a criança vai crescendo com muita pressão vinda das pessoas ao seu redor, tanto para sobrevivência financeira quanto para suas ações, que devem ser sempre extremamente legais, amáveis e corretos, havendo assim certo determinismo sócio histórico pressionando e fazendo com que essas crianças cresçam como uma grande projeção narcísica dos pais, que sempre se enchem de expectativas sobre os filhos, imaginando e criando assim uma personalidade que seus filhos devem seguir.

Segundo Luiz Felipe Pondé o crescimento das expectativas dos pais de hoje está ligado a diminuição do número de filhos, pois com o passar do tempo houve essa diminuição e isso consequentemente acabou fazendo os pais colocarem todas suas expectativas e neuras em uma criança.

Estes Jovens acabam se tornando super dependentes dos pais, demoram mais a sair da casa dos pais e ao saírem acabam afundando uma parte de sua vida, já que geralmente ganham menos que seus genitores, tendo relacionamentos líquidos por terem dificuldade e medo do desejo, pois ao entrar em um relacionamento longo começam a lidar com pessoas reais (o que é uma das maiores dificuldades dos jovens), e cada vez menos querem ter filhos, já que será uma responsabilidade muito grande cuidar e bancar um filho. Ao sair de casa o jovem precisa trabalhar, agir como adulto, tendo cada vez mais que se preocupar com as coisas ao seu redor, não podendo depender ou correr para seus pais no primeiro problema a sua frente.

Fonte: Freepik

Como dito, na visão da chamada geração floco de neve, as pessoas se negam as frustrações da vida cotidiana, buscando sempre estarem em suas zonas de conforto, na “mesmice” não a espaço para novas experiências e, portanto novos possíveis fracassos. A humanidade deveria rumar à alteridade, a capacidade de reconhecer e conviver com o diferente e a diversidade, pois este é um belo caminho para evolução.

Atualmente as redes sociais tem sido um mecanismo de espaço de fuga para expressão da geração floco de neve. Nesse espaço virtual é cada vez mais fácil fazer comparações surreais e injustas com a vida de pessoas com realidade completamente distintas, o que gera a frustração na pessoa de pensar que nunca poderá chegar a determinado “pódio” e devido a isso se acomodar em sua rotina, seu cotidiano sem ambição e sem vontade de ir além. As pessoas dessa geração também expressam extrema sensibilidade, uma fragilidade e um papel de vítima, indivíduos que por tudo se ofendem.

Nesse sentindo, tem sido estabelecido nas universidades aos redores do mundo o chamado “espaço seguro”, que se trata de uma reclusão aceitável e voluntaria daqueles que não se sentem à vontade em dialogar, ouvir ou falar sobre determinados assuntos que possam o infringir como individuo por algum motivo, independente de qual seja. Todavia esse espaço pode acabar se tornando uma bolha de reclusão daqueles que não enfrentam determinadas questões, e isso pode influenciar muito na evolução desta pessoa. Pois nem sempre nos meios em que ela se encontrará haverá essa opção de se opor ao debata fala ou escuta.

“Eu não me sinto confortável”, “não aguento mais” ou “isso não é para mim’ são frases marcantes desta geração em questão, de pessoas que privam de realizar e ir em direção aos seus sonhos e objetivos, por se encaixarem na zona de conforto, se colocam em posição de vítima por ser uma válvula de escape mais fácil do que sair em busca de um sentido a sua vida.

Quanto a essa geração no âmbito profissional, estima-se que em 2025 o mercado de trabalho será 70% composto por jovens pejorativamente chamados “flocos de neve”. As características deste grupo no mercado de trabalho são diversas, observa-se muitas vantagens e contribuições na inserção e atuação deste grupo dentro das organizações, contudo, há também muitos pontos a serem discutidos.

Fonte: Freepik

Lombardia (2008) define a Geração Y como “as pessoas nascidas entre 1980 a 2000, conhecida como a geração dos resultados, tendo em vista que nasceu na época das tecnologias, da Internet e do excesso de segurança”. E Oliveira (2009) ressalta que “ela não viveu nenhuma grande ruptura social, vive a democracia, a liberdade política e a prosperidade econômica”.

Após estudos e pesquisas realizadas por grandes autores comprometidos com o assunto em questão, observou-se que os adultos jovens pertencentes à Geração Y são inovadores, criativos, buscam crescimento dentro das organizações, dominam a tecnologia, gostam de serem desafiados, precisam ser constantemente motivados e valorizados pelo seu chefe ou superiores, sempre procuram um lugar que se sintam satisfeitos e precisam trabalhar felizes, se sentindo bem.

Em empresas que são comandadas por essa geração, geralmente os colaboradores são livres para trabalharem quando e como quiserem, eles também possuem espaço de lazer e diversão dentro da empresa que pode ser acessado caso estes atinjam suas metas, e caso isso ocorra, eles ainda podem ganhar premiações para se sentirem valorizados.

Em contrapartida, esta geração “sofre” muitos questionamentos e falta de propósito, estão desacostumados a reconhecer seus erros e a lidar bem com frustrações. Conhecida também como a geração “mimimi”, se faz constantemente de vítimas e transferem a culpa de seus fracassos a terceiros, são imediatistas e visto também como ressentidos e hipersensíveis.

De acordo com Lipikin e Perrymore, os jovens Y não enxergam o chefe como uma figura superior que está lá para ser respeitada, mas sim alguém cujo dever é ajudá-las e orientá-las – sendo uma pessoa que merece respeito como qualquer outra.  Isso retrata também que colaboradores da geração Y não lidam bem com hierarquia, vêem seus superiores como colegas de trabalho e não são nada flexíveis a hierarquia tradicional, além de apresentarem pouca predisposição a escuta, e isso se constitui como um desafio para as empresas.

Referências

Augusta de Oliveira Melo, Fernanda. Cristina dos Santos, Daniele. Cristiane Mendes de Souza, Cleiva.  A Geração Y e as Necessidades do Mercado de Trabalho Contemporâneo: “um Olhar sobre os Novos Talentos”. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia 2013, Volta Redonda – Rio de Janeiro, vol 1, p. 6. Outubro, 2013.

COVEY, Franklin. Os principais desafios da geração Y no mercado de trabalho: Quais são os desafios da geração Y no mercado de trabalho?. In:  Artigo. 01. ed. Não consta: Franklin Covey, 29 abr. 2019. 00. Disponível em: https://franklincovey.com.br/blog/geracao-y-no-mercado-de-trabalho/. Acesso em: 25 nov. 2021.

PONDÉ, Luiz Felipe. Geração Floco de Neve. Youtube, 22/04/2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X7rdZwSA4G0&t=2128s. Acesso em 25/11/2021

TORRES, Leonardo. As redes sociais e a geração “floco de neve”. Campo Grande News, 2019. Disponível em: https://amp.campograndenews.com.br/artigos/as-redes-sociais-e-a-geracao-floco-de-neve. Acesso em:25/11/2021.

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Dependência Emocional: Você é capaz de perceber quando ela está presente nos relacionamentos interpessoais?

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A expressão “amar demais”, aparentemente pode ser vista como algo positivo, em primeiro momento, no entanto a sua mensagem traz algo que muitas vezes é desconhecido para muitas pessoas, a dependência emocional. Um ciúme de cá, um ciúme de lá, uma desconfiança que vai além do normal, um sentimento de posse pelo outro, aquele desejo de atenção em tempo integral, são comportamentos que indicam sinais de dependência afetiva. É preciso levar em consideração esses sinais que não podem ser tidos como normais, apesar de todo romantismo que propagou-se em novelas brasileiras, no decorrer de décadas. Quando a mocinha sofria muito para conseguir a atenção do bem-amado.

Sentimentos que podem tornar-se destrutivos quando não tratados com um profissional da área da psicologia, aborda o psicólogo e escritor Walter Riso, em sua obra Amar ou Depender? Sobre as consequências da dependência emocional, as quais podem ser devastadoras.  Por isso, a importância do desenvolvimento do amor-próprio, o que difere de um vício, comportamento inadequado e prejudicial à saúde psíquica.

Fonte: encurtador.com.br/pCHK2

Sobre o tema, Martini (2012) refere-se que a insegurança e falta de confiança são causas inerentes a padrões comportamentais de pessoas com dependência. Segundo ela, estas ações são explicadas pela maneira que o indivíduo foi formado na sua infância, em especial, quando não teve um ambiente seguro familiar. Nesse sentido, ainda reforça que essa insegurança ainda na infância não favorece o desenvolvimento da capacidade de autonomia e tomada de decisões, o que acarretara um adulto com dificuldades de adquirir relações saudáveis, podendo se tornar alguém dependente. 

Bowlby (2002) observa que existe uma forte relação entre as experiências que o indivíduo vivenciou com sua família de origem e a forma como estabelecerá seus vínculos afetivos e relações sociais. Por isso, a importância de uma criança desenvolver sua identidade e valores em um lar saudável, suprida com o amor paterno e materno para ser um adulto completo, sem a necessidade de buscar no outro o preenchimento emocional, que foi negado na infância. 

Beattie (1987) compara a dependência emocional com a dependência química.  De acordo com a escritora, muitas mulheres são viciadas em relacionamentos destrutivos e acreditam que o sofrimento ao qual são inseridas é indispensável para conquistar a pessoa desejada. Para isso, será necessária uma mudança profunda para transformar o paradigma de relacionamento. Em sua concepção, a pessoa precisa entender que o problema está em si, e não no outrem para buscar a saúde emocional.

Fonte: encurtador.com.br/yLPS8

De acordo com Norwood (1989), pessoas oriundas de lares desajustados têm uma grande predisposição a desenvolver dependência emocional, pelas suas necessidades não terem sidos supridos na infância, como foi mencionado por Martini. Nesse contexto, muitas mulheres em busca de algo que não teve quando criança buscam em relacionamentos suprir suas ausências, quando tornam-se dependentes emocionais. Fazendo com que a ausência afetiva dos pais venha contribuir para esse tipo de comportamento, quando o vício em depender da presença de alguém é confundido com amor.

Baseado em sua obra Mulheres que Amam Demais, criou -se, no Brasil, o Mada, grupo de homônimo ao livro, o qual acolhe mulheres dependentes emocionais, que sofreram ao extremo por conta de relacionamentos tóxicos. Muitas vindas de relacionamentos abusivos, em que a violência doméstica fora presente. Para isso, o Mada reúne mulheres, as quais não precisam se identificar para contar sobre suas dores. O movimento vem ganhando força no Brasil, e tem se espalhado pelos estados.

Com o intuito de ajudar mulheres que amam demais o Mada realiza o programa de 12 passos para autorrecuperarão. Para se identificar com o grupo, é disponibilizado, uma lista com algumas características de uma dependente emocional. Ter medo de ser abandonada com o fim do relacionamento, está mais em contato com o sonho do que a realidade e habituada à falta de amor em relacionamentos interpessoais. São alguns aspectos da dependência. 

Referências

Beattie Melody. 1987. Co dependência Nunca Mais: Para de controlar os outros e cuide de você mesmo. 

Martini, Juliana. 2012. Dependência Emocional Familiar: possíveis manifestações nos filhos. Disponível em < file:///C:/Users/Daniel/Downloads/12430-Texto%20do%20artigo-46320-2-10-20121023.pdf>. Acesso 06. de Out. 2021.

Grupo de apoio Mulheres que Amam Demais (Mada). Disponível em: https://grupomadabrasil.com.br/ Acesso 06. de Out. 2021.

Riso, Walter. 2010. Amar ou Depender?. Tradução Marlova Assev. Porto Alegre. 

Norwood, Robin. 1989.  Mulheres que Amam Demais.

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A rápida decomposição da rosa: relacionamentos abusivos

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Os relacionamentos atuais (inclusive o meu) estão, em grande escala, baseados na posse e este sentimento de posse, pode ser o motivo da ´´morte“ de muitos relacionamentos. Este trabalho tem como ideia principal, fazer uma analogia da rápida decomposição da rosa comparando com os relacionamentos possessivos. Minha inspiração foi um rico ensinamento de  Osho: Se você ama uma flor, não a colha. Por que se você colhê-la, ela morre e deixa de ser o que você ama. Então se você ama a flor, deixe-a estar. O amor não está na posse. O amor está na apreciação.

Fotografei a rosa por 14 dias, aos quais vou relatar adiante.

Analogia: Eu sou a sádica (dominadora/sedutora) e a rosa a masoquista (dominada/seduzida)

1° Dia

Cheguei a floricultura e vi uma encantadora rosa, era linda e cheirosa, me apaixonei e a tomei para mim. Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi colocá-la em uma garrafa com água fresca. Foi fotografada pela 1ª vez as 17 horas. A textura da pétala era macia e aveludada, extraia de mim o deseja de abraçá-la e cheirá-la por horas, pois seu cheiro era fresquinho e delicioso. Sua cor me encantava os olhos, era um vermelho vivo e vibrante. Sua estrutura era ereta, estava lá confiante de “cabeça erguida“. Havia também 2 (duas) folhas verdinhas e apesar de ser uma rosa aberta, seu botão estava estreito e justinho, acompanhado por um talo longo e verde.

2° Dia

A textura da pétala continuava macia e aveludada, com cor viva e vibrante. Ah, seu cheiro continuava fresco e gostoso. Aquele cheiro me satisfazia, continuava com o desejo de passar o dia a cheirando. Continuava lá, firme e ereta, com 2 folhas verdes e um talo longo e verdinho. Apesar de seu botão ter aberto um pouco, mesmo assim fui gentil e troquei sua água. A levei para dois cômodos da casa.

3° Dia

Continuava macia e aveludada, me agrava o toque. Seu vermelho continuava vivo e vibrante. O cheiro fresquinho e gostoso. Estava em posição ereta. Continha ainda suas 2 (duas) folhas e um talo verdinho. Me agradava muito, como recompensa lhe troquei a água. Deixei-a na varanda tomando ar fresco.

4° Dia

Apesar das pontas das pétalas estarem um pouco secas, o botão um pouco mais aberto e o cheiro não tão fresco, ela continuava me agradando, pois suas pétalas estavam macias e aveludadas, sua cor era um vermelho vivo e vibrante e seu aroma ainda estava gostoso. Sem falar que continuava com 2 (duas) folhas, ereta e com talo verdinho. Transitei com ela por 3 (três) cômodos da casa.

5° Dia

Acordei irritada com ela, pois sua textura não era mais tão macia como antes. Sem falar que sua cor estava saindo do vermelho e indo para o vinho. Seu cheiro não estava tão agradável, começou a feder. Sua estrutura tendia para o lado, não estava mais ereta como antes. Suas duas folhas estavam com uma aparência seca, com textura dura e de cor verde amarelado, no entanto seu talo continuava verde. Diante de tanta decepção a insultei e ameacei, pois ela não estava me agradando como antes. Não lhe troquei a água, pois não merecia.

6° Dia

Ao olhar pra ela, fiquei extremamente irritada. As pétalas estavam com as pontas secas e duras, o inicio das pétalas estavam vermelhas, mas suas pontas tendiam para a cor preta. Seu cheiro fedia a morte, sua estrutura ao invés de tender para o lado, agora tende para baixo. 1 (uma) folha já caiu, permanecendo apenas 1 (uma), e ainda por cima pendurada por um talo seco. O talo da rosa estava com 2 cores, verde na ponta e próximo ao botão estava amarelado. O botão estava bem aberto. Mesmo diante desta decepção fui muito gentil ao trocar sua água. No entanto ela precisava de uma lição para aprende a me respeitar. Eu a puni, deixei 24h dentro de um quarto fechado e escuro, na qual ela ficou próxima a parede que batia sol.

7° Dia

A ingrata estava morta. Mesmo depois de tudo que fiz por ela, não fiquei triste, fiquei com ódio. Sua textura estava seca, indo para o duro. Sua cor estava mesclada entre roxo, amarelo e preto. Ela simplesmente fedia a morte. Sua estrutura estava virada para baixo. Já sem folhas, o talo saía do verde, indo para o preto e sua espessura perto do botão estava cada vez mais fina. Para recompensar sua morte, a deixei no ar-condicionado.

8° Dia

A textura estava seca e dura. A cor amarelo queimado mesclado com vinho e preto. O cheiro era de folha seca. Sua estrutura estava totalmente para baixo. O talo se encontrava preto e fino, mas a parte que estava coberta por água estava hidratada e se encontrava com cor verde escuro. Como forma de demonstração de me afeto por ela, eu quis agradá-la, troquei sua água, molhei suas pétalas e a levei para tomar ar fresco na varanda.

9° Dia

A rosa estava como no dia anterior, textura seca e dura, com amarelo queimado mesclado entre vinho e preto. Cheiro de folha seca. Inclinada para baixo, cada vez mais seca e preta, apenas o meio do talo permanecia verde escuro. Eu a insultei, como pode tanta ingratidão?! Mesmo assim ainda a levei para tomar ar fresco na varanda.

10° Dia

A rosa estava igual a dia anterior. Meus insultos não adiantavam. Parece que ela se acostumou. Adaptou-se rápido. Ela precisa de mim, eu via isso. Novamente eu a insultei.

11° Dia

A única mudança mais visível foi em relação ao talo, a cor do meio, que estava verde escuro, agora estava passando para a cor preta. Eu não lhe dei muita atenção, fiquei distante.

12º Dia

Continuava como no dia anterior e cada vez mais estava dependente de mim. Eu a insultei.

13° Dia

Enfim seu talo ficou totalmente preto. Coitada, totalmente dependente dos meus generosos cuidados.

14° Dia

Continuava como no dia anterior. Tirei-lhe da água. Eu tinha total domínio sobre ela.

Relacionamento Abusivo

Em entrevista ao Repórter Unesp, a psicóloga Raquel Silva Barreto, declarou que uma “Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar. ” E no meu relato com a rosa esta relação é bem nítida. Eu vi a rosa extremamente linda e a tomei para mim, comecei a controla-la de modo sutil, onde eu punia e reforçava aos poucos, lhe causei sofrimento e morte (do eu), até ter domínio total sobre ela.

Eu me encontrei na posição de Dominador-sedutor pois eu detinha poder/posse sobre a rosa, e meu objetivo era ser a coisa mais importante para ela. Como eu a tirei de seu lugar de origem, ela dependia de mim para ser molhado, tomar ar fresco etc. No momento em que ela não me agradava, eu a punia, mas ao mesmo tempo eu a compensava, o que fez com que ela ficasse fortemente ligada e dependente. Para isso, muitas vezes a inferiorizei, até que ela ficou totalmente curvada, sem vida e dominada, vendo em mim as qualidades que ela não possuía.

Experiência pessoal

Fazer este trabalho foi muito significativo, pois já vivi um relacionamento em que sempre tive um sentimento muito grande de posse. Quando eu comprei a rosa ela estava maravilhosa. Fiquei encantada, e com o passar dos dias, a ver morrendo me deixou bem triste. Quando eu a puni do 6° dia, não esperava que ela estaria morta no 7° dia, mas ela estava morta e quando a vi chorei muito. Fiquei totalmente desolada e angustiada. Refleti muito sobre o relacionamento que tive e percebi o quanto eu fiz mal ao meu namorado em todas as vezes que eu o privei de ser ele mesmo, tentado transforma-lo em alguém com qualidade e características que somente eu gostaria que ele tivesse.

Depois de punir a rosa, a deixei no quarto com o ar-condicionado ligado, a molhei, troquei sua água, a levei para diferentes cômodos da casa, mas nada adiantou, nada lhe trouxe a vida de volta. Tive domínio e superioridade diante da rosa, no entanto a rosa não era mais a mesma, estava sem vida e sem personalidade própria.

Este trabalho me ajudou e enxergar a beleza e riqueza das diferenças dentro de um relacionamento. Hoje não penso em ter um namorado que viva apenas por e para mim, mas o quero para o mundo, e que a escolha seja dele de estar e permanecer comigo. Fazer o contrário, do que fiz com a rosa, em meus relacionamentos, fez com que eu potencializasse as qualidades dos parceiros que tive e que tenho. Diante disto, a reciprocidade, o amor e o respeito se tonou evidente em minhas relações, sendo saudáveis e gostosas de se permanecer.

Referências:

Repórter Unesp. Psicóloga explica relacionamentos abusivos: o que é e como lidar com essa situação. Acessado em<

http://reporterunesp.jor.br/2015/08/20/psicologa-explica-relacionamentos-abusivos-o-que-e-e-como-lidar-com-essa-situacao/ > no dia 22/03/08/19

ZIMERMAN, David. Manual de Técnica Psicanalítica. Editora: Artmed,  2003

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Take your Pills: a psicofarmacologia do TDAH

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No documentário Take your pills é mostrado que os Estados Unidos são o país que mais diagnosticam jovens com TDAH, em média 11% deles são identificados com transtornos e a maioria faz tratamento por meio de medicação.

De repente você toma algo (medicamento, vitamina, energético), que melhora seu desempenho no trabalho, nos estudos, amplia suas habilidades no esporte e faz com que você seja bom em quase tudo que requer atenção ou foco. Esse é um dos efeitos da Ritalina, do Concerta e da Ritalina LA, medicamentos utilizados no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Sendo conhecidos como psicoestimulantes do Sistema Nervoso Central, e tendo como princípio ativo o Metilfenidado, a Ritalina pertence à família das anfetaminas, da qual são estimulantes mentais, assim são utilizadas para aumentar a concentração, a velocidade mental e a capacidade de execução das tarefas cotidianas.

Um dos processos cognitivos bastante utilizado pelo ser humano é a atenção, que pode ser definida segunda Lima (2005), como a capacidade do indivíduo responder a determinados estímulos que lhes são significativos sem prejudicar os demais. Dessa forma, o Sistema Nervoso é capaz de manter um contato seletivo com informações que chegam através de órgãos sensoriais, dirigindo atenção para aqueles estímulos relevantes e garantindo uma interação eficaz com o meio (BRANDÃO, 1995).

O processo de atenção é imprescindível para que o sujeito possa desenvolver a aprendizagem, bem como se relaciona com outros processos básicos como: inteligência, pensamento, memória, linguagem, sensação e percepção. Cuja função é fazer com que o indivíduo consiga identificar os estímulos dispostos no meio e possa ser capaz de se relacionar bem com ele, selecionando as informações, filtrando o que é pertinente e organizando as informações conforme a necessidade de serem utilizadas.

Fonte: encurtador.com.br/stD09

Logo, o ato de prestar atenção, independente da modalidade sensorial, aumenta a sensibilidade perceptual para discriminação do alvo, além de reduzir a interferência causada por estímulos distratores (PESSOA, et al, 2003).Em relação ao Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH), as pessoas apresentam dificuldades em focar no objeto ou estímulo presente no ambiente, pois algumas áreas do cérebro são afetadas e consequentemente elas se comportam de modo distraído.

No documentário Take your pills é mostrado que os Estados Unidos são o país que mais diagnosticam jovens com TDAH, em média 11% deles são identificados com transtornos e a maioria faz tratamento por meio de medicação.

As medicações estimulantes como metilfenidato (MPH), um derivado anfetamínico, constituem-se nos agentes farmacológicos mais utilizados nos transtornos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e podem propiciar alívio sintomático importante, com melhora comportamental e melhora de rendimento escolar (DAMIAN, DAMIAN, CASELLA, 2010).

O problema maior expresso no filme é o uso indiscriminado do remédio, pois alguns jovens possuem interesse em ter o transtorno, assim podem fazer uso da medicação e superar suas limitações e não apenas isso, eles acham interessante terem o desempenho melhorado com o uso dela, fazendo com que haja uma disputa, por exemplo, nas universidades. Não apenas para usufruir dos benefícios delas, mas principalmente pelo fato dela poder levá-los ao sucesso.

Outros estimulantes também são mostrados no documentário, como por exemplo a Benzendrina, também composta pela Anfetamina; no começo ela foi testada para ser utilizada como um Decongestionante Nasal, porém sua composição causava sentimentos de euforia, confiança, entre outras características. Depois de anos de estudo os cientistas perceberam o potencial do fármaco para outros problemas, empregando-o na Depressão e Obesidade; também criaram a Dexendrina para cuidar de modo mais profundo dessas enfermidades.

Fonte: encurtador.com.br/pqOS0

Na obra cinematográfica os profissionais falam de como funciona esses estimulantes enunciando que “os estimulantes são drogas que estimulam as pessoas, fazem elas sentirem animadas, despertas, e ficam alegres”. Eles ressaltam que existe dois tipos principais de estimulantes: a Anfetamina e o Metilfenidato, a primeira é o princípio ativo do Adderall e do Vyvanse, o segundo resulta na Ritalina e no Concerta.

Essas classes de estimulantes agem no Sistema Catecolamina do cérebro, apresentando -se em duas partes a Noraepinefrina (também conhecida como Adrenalina) e a Dopamina. Os dois agem liberando a Catecolamina ou bloqueia a recaptação delas, aumentando também a tolerância a dor. Isso faz com que os jovens passem mais tempo realizando coisas que consideram chatas, tomando mais consciência das coisas, selecionando estímulos mais adequados para seu contexto.

É importante ressaltar que o uso de medicamentos para auxiliar em um transtorno é algo válido, desde que a pessoa seja bem informada sobre como utilizar esses remédios, além dos benefícios como aumento da capacidade de concentração e melhoramento da performance em alguns aspectos da vida. É imprescindível que saibam também dos efeitos adversos como, dores de cabeça, taquicardias, insônia, aumento da pressão arterial, crises de ansiedade e até ataques de pânico.

No mais, tais medicamentos podem causar dependência química. Então é preciso orientar os pacientes sobre os efeitos da droga no Sistema Nervoso Central, como isso pode modificar de modo significativo o comportamento do indivíduo e pode também mudar a forma dele se relacionar com o mundo.

FICHA TÉCNICA: 

Take Your Pills

Título original: Take Your Pills
Ano produção: 2018
Direção: Alison Klayman
Gênero Documentário
País: Estados Unido

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, M. L. (Org). 1995. Psicofisiologia. São Paulo: Atheneu.

DAMIAN, D. DAMIAN. D.; CASELLA. E. Hiperatividade e déficit de atenção – O tratamento prejudica o crescimento estatural?. Arq Bras Endocrinol Metab. 2010;54/3.

LIMA, R. F. Compreendendo os mecanismos atencionais. Ciências & Cognição 2005; Vol 06: 113-122.

PESSOA. L.; et al. (2003). Neuroimaging studies of attention: from modulations sensory processing to down control. J. Neurosci., 15 (10), 3990 – 3998.

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Beautiful Boy: Vício em Drogas Fragmentando o Indivíduo e sua Família

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A faca se aproximou da minha garganta novamente,
eu quase voltei a ligar o gás,
mas quando os bons momentos chegaram,
não lutei contra eles como um adversário.
Deixei-os me levarem, deleitei-me com eles,
fiz com que fossem bem-vindos em casa.
“Let It Enfold You,” by Charles Bukowski

Beautiful Boy (Querido Menino) é uma adaptação de dois livros de memórias: Beautiful Boy (2008), de David Sheff; e Tweak: Growing Up on Methamphetamines (2009), de Nic Sheff. Ambos são pai e filho e mostram na descrição de suas memórias como as consequências do vício podem produzir feridas profundas no indivíduo e em sua família. O filme traz à tona a história real de David e Nic, interpretados respectivamente por Steve Carell e Timothée Chalamet a partir da perspectiva de David, o pai, em sua tentativa de entender e ajudar o filho Nic, de 18 anos, em sua complexa jornada de dependente químico.

O desafio do diretor Felix Van Groeningen foi distinguir este filme de tantos outros sobre o mesmo tema (como os espetaculares Trainspotting e Requiem for a Dream, ou o drama adolescente estrelado por DiCaprio, The Basketball Diaries). Assim, quando o diretor concentrou-se na relação pai e filho, apresentou alguns diferenciais na trajetória por vezes tão repetitiva do vício (uso, reabilitação, sobriedade e recaída). Nessa direção, ao acompanharmos as angústias de David, vimos as indagações de tantos pais antes e depois dele: “Por quê?” Por que seu filho inteligente, sensível e carinhoso se tornou um dependente químico? Que momento ativou a mudança de comportamento? De quem é a culpa? Nenhuma dessas indagações tem uma resposta satisfatória, muitas delas nem têm respostas.

Várias gerações leram na adolescência o livro O Estudante, de Adelaide Carraro, publicado pela primeira vez em 1975. O livro é um alerta a pais, jovens e professores sobre as múltiplas faces do dependente químico, mostrando que qualquer pessoa pode se envolver nesse universo, logo não há distinção de classe social, idade etc., e muitas vezes, não há um porquê, por exemplo, um trauma na infância ou adolescência motivador da mudança de comportamento. Em Beautiful Boy é essa ausência de motivo que torna a jornada do pai ainda mais angustiante. Ele é um escritor, sempre buscou elementos em suas histórias que fossem condutores dos seus personagens, estava acostumado a identificar estímulos que geravam mudanças de comportamento. E justamente na história protagonizada por seu filho, esses estímulos lhe pareciam obscuros. Talvez porque o ambiente e suas variáveis são assimilados diferentemente por cada indivíduo, o que para o pai não parecia ter sentido, para Nic, estar sob o efeito de uma droga que lhe permitisse ter sensações novas, aflorava sua sensibilidade e sua percepção.

Para mostrar como funciona a mente do pai nessa jornada em entender os motivos que levaram seu querido menino ao vício, o diretor trabalha com flashbacks dos momentos da infância à adolescência de Nic, sempre mostrando a relação dos dois. O filme não tem uma sequência linear, todo esse vai e vem de lembranças, ao final, reforçam a tentativa de David em entender em que momento perdeu o filho, ou em que momento algo foi potencialmente acionado e que transformou de forma aparentemente definitiva o menino que ele criou, que ele ama.

A metanfetamina, que é a principal droga usada por Nic, é um estimulante extremamente potente que afeta várias áreas do Sistema Nervoso Central (SNC). Segundo Gouveia (2017, apud LINEBERRY and BOSTWICK, 2006; ALAM-MEHRJERDI et al, 2015):

Há vários efeitos sistêmicos associados ao consumo de metanfetamina, destacam-se no nível psiquiátrico: ansiedade, irritabilidade, paranoia e o comportamento compulsivo e obsessivo; no nível cardíaco: taquicardia, hipertensão, palpitações, arritmias e síndrome coronário agudo; no sistema pulmonar: taquipneia, dispneia e edema agudo do pulmão; no sistema renal: insuficiência renal aguda e rabdomiólise; no nível dermatológico: escoriações, úlceras e queimaduras químicas; e, por fim, no nível metabólico: hipertermia e acidose metabólica.

Para entender o que se passava no organismo do filho, especialmente como a droga afetava sua mente, David procurou ajuda de um médico, e a resposta que recebeu foi devastadora. Segundo o psiquiatra, a metanfetamina muda fisicamente o cérebro, pois há uma perda dos receptores de dopamina. Além disso, o médico mostrou uma imagem do cérebro de um viciado em metanfetamina e apontou para dois pontos vermelhos, que representavam uma hiperatividade na amígdala, a região do cérebro ligada à ansiedade e ao medo. No caso de um viciado nesta droga, “a amígdala está gritando”, segundo o psiquiatra “isso mostra que há uma base biológica que pode fazer com que os usuários desta droga sejam incapazes, não sem vontade, mas sim incapazes de participar de programas de reabilitação tradicionais”.

Enquanto David sai em sua cruzada para entender as consequências da droga no organismo do seu filho na esperança de encontrar algum meio para ajudá-lo, Nic se afasta cada vez mais do garoto que ele foi. Usa várias drogas até se viciar em metanfetamina. Nesse percurso é mostrado desde o garoto de personalidade introspectiva, muito inteligente e sensível, brincalhão e carinhoso com seus irmãos mais novos, fã de David Bowie e um leitor voraz das poesias de Charles Bukowski até o rapaz fragmentado, confuso, sem forças para lidar contra o vício e com uma aparência modificada pelo uso excessivo da droga. Ao final, pouco lembra o “beautiful boy” que dá título ao filme.

Na poesia de Charles Bukowski, lida por Nic, há um trecho que diz “paz e felicidade para mim eram sinais de inferioridade, inquilinas de uma mente fraca e confusa, mas enquanto eu prosseguia com minhas lutas no beco, meus anos suicidas, […] me ocorreu que eu não era diferente dos outros, eu era o mesmo, eram todos cheios de ódio, encobertos por pequenas queixas”. A homogeneização potencializada pelo uso de drogas favorece uma interpretação mais perturbadora dessa poesia. Nic e sua namorada, assim como outros viciados que aparecem no filme, começam a evidenciar angustiantes semelhanças, até no aspecto físico.

Um dos pontos mais emocionantes do filme ocorre no depoimento de uma mãe em uma reunião de apoio a familiares de dependentes químicos. Ela inicia o depoimento dizendo que sua filha tinha morrido de overdose naquela semana, e depois acrescenta: “Estou de luto, mas eu percebi outra coisa, na verdade estou de luto há anos, porque, mesmo quando viva, ela não estava lá. Quando você fica de luto pelos vivos, é um jeito duro de viver.” Além de todos os problemas causados no organismo do dependente químico, as drogas também deixam um rastro de dor, desespero, vergonha e culpa. Nas reuniões com os familiares, há uma tentativa de minimizar tais sentimentos negativos por meio do compartilhamento de vivências.

Ao final, talvez a mensagem mais contundente seja a transmitida por alguns versos do Bukowski em sua poesia “Let It Enfold You”: “Cautelosamente me permiti sentir-me bem às vezes. Eu encontrei momentos de paz em quartos baratos apenas olhando para os botões de alguma cômoda ou ouvindo a chuva no escuro, quanto menos eu precisasse, melhor me sentia.” Mas, sentir-se bem nem sempre é possível, nem sempre é algo que dependa somente da pessoa, nem sempre nosso organismo contribui com nossos lampejos de enfrentamento. Assim tão relevante quanto apreciar as coisas simples da vida, é importante ter empatia com o outro. E, neste contexto, prestar atenção ao outro que sofre compreende a atenção ao dependente químico e aos seus familiares, cujas relações foram fragmentadas em meio a resíduos de dor, violência e desesperança.

FICHA TÉCNICA DO FILME

BEAUTIFUL BOY

Título original: Beautiful boy
Direção: Felix Van Groeningen
Elenco: Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Drama

Referências
ALAM-MEHRJERDI, Z., MOKRI, A., DOLAN, K. Methamphetamine use and treatment in Iran: A systematic review from the most populated Persian Gulf country. Asian journal of psychiatry. 2015; 16:17-25.

GOUVEIA, P. J. B. Psicoses induzidas por anfetaminas: Um trabalho de revisão. Dissertação de Mestrado. Março, 2017. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/104590/2/195181.pdf.

LINEBERRY, T.W., BOSTWICK, J.M. Methamphetamine abuse: a perfect storm of complications. Mayo Clinic proceedings. 2006; 81(1):77-84.

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Wifi Ralph: a amizade quebra a internet?

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Concorre com 1 indicação ao OSCAR:

Melhor Animação

Prometo cuidar de você,
mesmo quando tudo não parece mais ter solução
Ralfh

Ralph e seus amigos estão de volta em 2019, para lacrar mais uma animada aventura da Disney. A nova trama gira em torno da grande amizade construída entre Ralph (Detona Ralph) e Vanellope (Sugar Rush). Os dois passam a ser inseparáveis, e embora isso seja maravilhoso no começo, depois de um tempo o Grandão começa a cuidar dela de modo até exagerado.

Tudo começa quando Vanellope questiona Ralph sobre ele querer mais do que já têm. O simples e tranquilo ex-vilão simplesmente diz que já tem tudo o que ele poderia querer, mas como se sente responsável em realizar os desejos da menina, decide deixar seu jogo ainda mais divertido. Quando tudo não sai conforme o planejado, eles resolvem procurar ajuda na desconhecida Internet e concidentemente o Sr. Litwak (dono do famoso fliperama), decidiu aderir a ferramenta mais utilizada no mundo todo, o Wifi (ou seria Wifai? Uaifai?). Tudo para poderem salvar o jogo de Vanellope e não deixarem que quinze lindas crianças fiquem desabrigadas.

Fonte: encurtador.com.br/aqFZ6

O filme explora bastante esse novo ambiente, agora digital, com inúmeras referências da rede como: Google, Twitter, Amazon, Ebay, Facebook, entre outras plataformas digitais e Streaming. Os usuários da rede são mostrados como avatares em forma de Pixels, eles andam pela rede para acessar determinados conteúdos e as vezes pegam atalhos (os famosos pop-ups). Não podendo faltar seus próprios easter eggs, a Disney mostra seu site Oh My Disney, onde as princesas se encontram em cena fora dos filmes, expondo o que todos acham das personagens mais adoradas do estúdio ou odiadas (elas só servem para serem salvas por um príncipe bonitão?). Os diretores Moore e Johnson expõem isso no filme e mostra que elas são mais que rostinhos bonitos, quando desempenham papel importante no longa.

Nesse novo filme Ralph está diferente, ele se importa mais com as pessoas, em especial sua melhor amiga Vanellope, porém nosso amado protagonista esconde sua insegurança e ansiedade, frente o medo de perder “aquilo que ele mais valoriza”, que é sua amizade. Mais uma vez ele enfrenta tudo e todos pela baixinha, chega até a sair de sua zona de conforto, para que ela não saia do fliperama.

Fonte: encurtador.com.br/aiqw5

Na literatura científica a amizade é reconhecida como uma importante fonte de felicidade e de bem-estar subjetivo, uma vez que proporciona o suporte social, o compartilhamento de experiências, de interesses, de sentimentos e de emoções (Cheng, & Furnham, 2002; Hartup, 1996). Borsa (2013) reforça que os laços de amizade permitem ao indivíduo o aprendizado de habilidades sociais importantes para a formação de relações interpessoais relevantes e harmoniosas ao longo de todo o ciclo vital.  Na trama Vanellope explora bastante essa relação afetuosa; ainda que de forma satisfatória, embora sempre esteja aberta a novas possibilidades e amizades. Já Ralph para de investir em tudo que diga respeito a ele mesmo (diferente do outro filme) e passa a dar mais ênfase à vida da pequena amiga.

Quando os dois chegam nesse novo espaço cheio de possibilidades, Vanellope logo se apaixona pela Corrida do Caos (jogo inspirado em GTA V); diferentemente da corrida doce, o game de corrida é cheio de adrenalina, desafios e personagens ousados. Como a Shank, uma corredora, que não é heroína nem vilã, ela é somente uma personagem que ama o que faz: dirige ousadamente com seus amigos e evita a todo custo que seu maravilhoso carro seja roubado. Diferente de sua amiga, Ralfh não quer explorar esse lugar, ele vai junto com ela para a corrida e teme que sua amizade seja abalada por Shank. Dependente emocional de sua amizade, Ralfh toma péssimas decisões no filme. Rompendo com a confiança da baixinha, ele mete os pés pelas mãos e arruma muita confusão.

Fonte: encurtador.com.br/ghMW1

Bornstein e Cecero (2000) propõem que uma relação de dependência pode ser definida por quatro elementos: motivacional, afetivo, comportamental e cognitivo. Elas são classificadas em dois tipos: as Genuínas e Mediadas, dentro das genuínas se encontra a dependência emocional, do qual é manifestada na relação entre Ralph e Vanellope.  Esta foi definida por Moral e Sirvent (2008) como um padrão crônico de demandas afetivas insatisfeitas, que buscam ser atendidas através de relacionamentos interpessoais caracterizados por um apego patológico.

Logo, no primeiro filme Ralph era o vilão que não sabia ser mais do que isso, mas quando conhece a menina consegue visualizar a importância de ser herói para uns e vilões para outros. Nessa nova animação ele quer que tudo permaneça igual, incluindo sua amizade com Vanellope. Por isso, ele se sente inseguro e infeliz, tendo crises de ciúme quando a nanica começa a se afeiçoar a Shank. Desse modo, o protagonista se encontrava tão frustrado e arrasado por achar “que perdeu sua amiga”, que começa a agir descontrolado, sem levar nada em consideração, ameaçando quebrar tudo até a internet.

FICHA TÉCNICA :

WI-FI RALPH

Título original: Ralph Breaks the Internet: Wreck-It Ralph 2
Direção: Rich Moore, Phil Johnston
Elenco: Gal Gadot, Sarah Silverman, John C. Reilly, Taraji P. Henson;
País: Estados Unidos da América
Ano: 2018
Gênero: Aventura, comédia

REFERÊNCIAS:

BORNSTEIN, R. F., & CECERO, J. J. (2000). Deconstructing dependency in a five-factor world: A meta-analytic review.Journal of Personality Assessment, 74(2), 324-343. doi: 10.1207/S15327752JPA7402_11

BORSA. J. C.  O papel da amizade ao longo do ciclo vital. Psico -USF vol.18 no.1 Itatiba Jan./Apr. 2013

CHENG, H., & FURNHAM, A. (2002). Personality, peer relations, and self-confidence as predictors of happiness and lonelinessJournal of Adolescence, 25(3),327-339.

HARTUP, W. W. (1996). The company they keep: friendships and their developmental significanceChild Development, 67(1),1-13.

MORAL, M. V., & SIRVENT, C. (2008). Dependencias sentimentales o afectivas: Etiología clasificación y evaluación. Revista Española de Drogodependencias, 33(2), 151-16

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