Bebida alcoólica na gravidez: quais as consequências?

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O Transtorno do Espectro Alcóolica Fetal – TEAF é uma doença congênita (de nascimento) provocada pelo consumo de bebida alcoólica na gravidez e causa alterações no sistema nervoso central, sendo a principal causa de deficiência intelectual e de anomalias congênitas não hereditárias em crianças. Por essa razão, representa um grande problema de saúde pública.

Quando ingerido pela gestante, o álcool cruza a placenta e penetra no feto diretamente pelo cordão umbilical. Em cerca de uma hora, a taxa de álcool no sangue do feto é a mesma encontrada no sangue da mãe.

Alguns sintomas que podem estar presentes em maior ou menor grau são: baixo peso ao nascer, microcefalia, falha de crescimento (baixa estatura e peso), deformação facial, deformidades do esqueleto e dos membros, malformações em órgãos como coração e rins, distúrbio de visão, má coordenação, má-nutrição, perda de audição, deficiência intelectual, problemas na fala e fenda palatina ou labial.

Fonte: encurtador.com.br/xFW02

A síndrome é irreversível. O tratamento precoce pode ajudar a reduzir alguns sintomas. Como não se conhece a quantidade de álcool que pode provocar o TEAF – Transtorno do Espectro Alcoólica Fetal, a abstinência é a única forma de prevenção. Entre os sintomas cognitivos e neurológicos dessa síndrome, podem-se destacar: dificuldades de concentração, memória e aprendizado; limitações de coordenação motora e de equilíbrio; impulsividade; dificuldade de habilidade na solução de problemas e no entendimento de consequências.

Ao longo da vida, os indivíduos que nasceram com síndrome alcoólica fetal podem apresentar uma série de dificuldades dentre elas estão, tendência ao abuso de álcool e de outras drogas; agressividade; depressão, ansiedade e hiperatividade; disfunções sexuais; anorexia e outros distúrbios alimentares; dificuldade de julgamento e distinção entre certo e errado; baixo desempenho escolar; habilidades cognitivas prejudicadas no geral; aumento no risco de suicídio, morte precoce, como consequência de acidentes ou devido a suicídio.

Fonte: encurtador.com.br/cuU79

Não há um exame específico que detecta essa síndrome, o diagnóstico é clínico, a criança apresenta traços faciais sindrômicos característicos que podem ajudar no diagnóstico, mas estudos apontam que a maioria das crianças que têm SAF não possuem as características morfológicas clássicas e isso dificulta muito o diagnóstico, que muitas vezes passa despercebido, ou é confundido com outras condições até a fase adulta.

Para as mulheres que são dependentes de bebida alcoólica e/ou outras substâncias psicoativas, é interessante procurar os Centros de Atenção Psicossocial – CAps, lá são prestados serviços de saúde e poderá ajudá-las a encontrar a melhor estratégia para que possa ter uma gravidez mais segura tanto para a mãe, como também para a saúde do bebê.

Estudos não mostram até o momento qual é a dose segura para evitar essa síndrome, logo, é importante que a gestante não ingira bebida alcoólica em nenhum período gestacional. Se houver dúvida sobre estar grávida, faça o teste de gravidez, e caso você aprecie uma bebida opte por bebidas sem graduação alcoólica.

Autoras: Márcia Mascarenhas Grise e Ana Paula De Lima Silva

 

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Dialética e TFC ajudam mulheres gestantes no mercado de trabalho

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Na contemporaneidade, a discriminação contra profissionais gestantes é um tema recorrente, pois muitas são desrespeitadas a partir do momento em que engravidam. Cabe lembrar que, apesar da lei impedir que profissionais gestantes com Registro na Carteira de Trabalho sejam demitidas sem justa causa, a realidade perdura, fazendo com que muitas mulheres sejam humilhadas diariamente e submetidas a níveis de estresse muito altos, além de serem vítimas de assédio moral.

Assim, esse cenário na vida da mulher nos papéis de mãe e trabalhadora pode gerar desequilíbrio emocional, decorrente do quadro de que a maternidade é vista como uma variável agravante, fazendo com que os gestores cometam comportamentos violentos, tais como: retirar a autonomia da trabalhadora gestante ou contestar, a todo momento, suas decisões; vigilância excessiva seguida de manipulação de informações; isolar fisicamente o trabalhador e presumir que a carga horária da mulher deve ser reduzida apenas por conta da gestação.

O que é Dinâmica de grupo?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupo (2006, p. 1), “dynamis é uma palavra de origem grega que significa força, energia, ação”. E, Segundo Tatiana Wernikoff, (Instituto de Psicologia Organizacional) “Qualquer situação em que você reúne pessoas para uma atividade conjunta, com um objetivo específico, caracteriza uma dinâmica”.

Em um artigo publicado em 1944 por Kurt Lewin, Dinâmica de Grupo é o “estudo das forças que agem no seio dos grupos, suas origens, consequências e condições modificadoras do comportamento do grupo”.

A Dinâmica de Grupo consiste em permitir que os indivíduos participantes desenvolvam suas habilidades e se tornem mais competentes por meio do que já sabem, atingindo quatro dimensões muito importantes: social, interpessoal, pessoal e profissional.

Os exercícios de dinâmicas de grupo são frequentemente utilizados para melhorar o relacionamento entre os diferentes elementos de um mesmo grupo, promovendo a autenticidade nas pessoas, além de permitir que os indivíduos lidem com opiniões e atitudes divergentes, promovendo o crescimento pessoal.

Fonte: Imagem por pch.vector no Freepik

 

O que é Dialética?

A Dialética é um método de diálogo que se concentra na contradição e oposição de opiniões, um jogo de ideias que se contradizem porque são diferentes umas das outras, podendo gerar novas ideias. A Dialética pode ser o debate ou a arte da persuasão, estando intimamente relacionada à retórica.

Jung define a Dialética como simplesmente uma discussão entre duas ou mais pessoas, que logo resulta em duas definições igualmente concisas, um método de construir novas sínteses.

O que é Terapia Focada na Compaixão?

A Terapia Focada na Compaixão (TFC) tem como objetivo ajudar as pessoas a acessar e estimular suas motivações, emoções e competências de autocompaixão. É uma terapia que integra conceitos do budismo, da psicologia evolucionista e das neurociências.

De acordo com Paul Gilbert (2009), a terapia centrada na compaixão decorre da percepção de que os pacientes se tratam com muita severidade, cheios de críticas, hostilidade, raiva e desprezo. Nesse sentido, um dos principais objetivos é que os pacientes desenvolvam uma atitude mais compassiva em relação a si mesmas, desenvolvendo assim a autocompaixão, onde o paciente permite se aceitar, diminuindo as cobranças e a autocrítica.

Fonte: Imagem no jcomp no Freepik

Cabe lembrar, ainda, a diferença entre autocrítica severa e autocorreção compassiva, visto que a autocrítica se refere a uma forma de autojulgamento e auto avaliação negativos, que podem ser direcionados a diversos aspectos do self, como a aparência física, as emoções, os comportamentos, os pensamentos, a personalidade e os atributos intelectuais. Ao contrário da autocrítica, considera-se que a autocompaixão é uma resposta alternativa mais adaptativa à falha percebida. Na autocrítica severa os indivíduos funcionam como seus próprios inimigos, se auto agredindo e punindo de forma constante diante de falhas, remoendo e cultivando sentimentos de raiva, arrependimento e culpa. Já na autocorreção compassiva, o objetivo é procurar compreender que é possível aprender com os erros, que faz parte da natureza humana errar e sofrer, é parte natural da vida. Com uma atitude de aceitação e acolhimento se torna possível evoluir, aprendendo com os erros e situações adversas da vida.

”O sofrimento faz parte da vida. Que eu seja gentil comigo mesma neste momento. Que eu possa dar a mim mesma a compaixão de que preciso.”- Neff; Kristin.

Sendo assim, percebe-se que, com o uso regular das práticas supracitadas, será possível que as gestantes atinjam maior compreensão acerca da sua realidade e conquistem melhor qualidade de vida.

 

Referências bibliográficas

AFONSO, MARIA LUCIA MIRANDA. Oficinas Em Dinâmica de Grupo: Um Método de intervenção psicossocial. Casa do Psicólogo, 2007.

ANDRADE, Suely Gregori. Teoria E Pratica de Dinâmica de Grupo: Jogos E. Casa do Psicólogo, 1999.

CABRAL, João Francisco Pereira. “Dialética”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/dialetica.htm Acesso em 07/06/2022.

COSENZA. BRUNA. Maternidade e trabalho: o preconceito com as mães no mercado. 07 de maio de 2021. Disponível em https://www.vittude.com/empresas/maternidade-e-trabalho-como-combater-o-preconceito/#:~:text=Quando%20o%20assunto%20%C3%A9%20ma acesso em 07/06/2022

GARCIA. C. F, VIECILI. J. Implicações do retorno ao trabalho após licença-maternidade na rotina e no trabalho da mulher. Fractal, Rev. Psicol. 30 (2) • Ago 2018 https://www.scielo.br/j/fractal/a/4zVSP8j3SKn9Rf9TtNvzWzn/? Acesso em 07/06/2022

LARA. C. A importância do apoio psicológico no pré-natal. Disponível em https://leiturinha.com.br/blog/apoio-psicologico-no-pre-natal/#:~:text=Para%20al%C3%A9m%20dos%20inc%C3%B4modos%20naturais,sombra%20de%20d%C3%BAvidas%2C%20acompanhamento%20psicol%C3%B3gico. Acesso 07/06/2022

LUZ, G. A. R. A EVOLUÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO. Disponível em https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-evolucao-mulher-no-mercado-trabalho.htm#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20artigo,homens acesso em 07/06/2022

Maternidade e trabalho: como as empresas podem ajudar nesse desafio? (Autor desconhecido.) 05 de julho de 2021. Disponíveis em https://paraempresas.catho.com.br/maternidade-e-trabalho/ aceso em 07/06/2022

PASQUALINI, Juliana C.; MARTINS, Fernando Ramalho e EUZEBIOS FILHO, Antonio. A “Dinâmica de Grupo” de Kurt Lewin: proposições, contexto e crítica. Estud. psicol. (Natal) [online]. 2021, vol.26, n.2, pp. 161-173. ISSN 1413-294X.  http://dx.doi.org/10.22491/1678-4669.20210016. Acesso em 07/06/2022

PENIDO. M. A. Terapia Focada na Compaixão – Esclarecendo dúvidas com a professora Maria Amélia Penido. 28 de janeiro de 2021. Disponível em https://www.focotcc.com/post/terapia-focada-na-compaix%C3%A3o-esclarecendo-d%C3%BAvidas-com-a-professora-maria-am%C3%A9lia-penido#:~:text=A%20Terapia%20Focada%20na%20Compaix%C3%A3o%20tem%20por%20objetivo%20ajudar%20as,de%20voz%20e%20outros%20exerc%C3%ADcios. Acesso em 07/06/2022

PORFIRIO. F. Dialética. Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/dialetica.htm. Acesso em 07/06/2022

RÓS. L, OLIVEIRA. M. Maternidade. 05 de abril de 2018. Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2018/04/05/elas-foram-perseguidas-e-assediadas-no-trabalho-ao-anunciarem-a-gravidez.htm acesso em 07/06/2022

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DINÂMICAS DE GRUPO (SBDG). Dinâmica de grupo: conhecendo a história da dinâmica dos grupos no Brasil. Blumenau: SBDG, 2006.

SOUZA. F. O que é a Terapia da Compaixão? Paul Gilbert. Disponível em https://www.psicologiamsn.com/2015/12/o-que-e-a-terapia-da-compaixao-paul-gilbert.html acesso 07/06/2022

Autores:

Bruna Teixeira Rabelo

Clara Eliza Ata Nepomoceno

Gabriella Gonçalves de Oliveira

Larissa Rosa de Oliveira Izac

 

 

 

 

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Juno: gravidez na adolescência e os riscos psicológicos

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Juno, um filme de Jason Reitman com Elliot Page, Michael Cera que nos leva a discutir de maneira ampla a gravidez na adolescência e os riscos psicológicos existentes nesse contexto. A sexualidade por muito tempo foi um tabu na sociedade, tornando de certa forma assunto omisso nas famílias, essa dificuldade de orientação sobre a sexualidade ainda é vista com timidez ou ausência de conhecimento dos pais. Na escola, os adolescentes até recebem orientações sobre sexualidade, porém, de forma reduzida não atingindo o que seria essencial para a preparação para a vida sexual.

O filme apresenta uma discussão extremamente relevante nesse contexto, visto que na visão conservadora da sociedade ao fim da adolescência, o adolescente deveria estar ajustado aos valores e normas atribuídos pelo meio social como constituir uma família, ter qualificação profissional entre outros.  No entanto, na sociedade capitalista que vivemos, nem todos os adolescentes tem acesso às possibilidades propostas pela sociedade, o que afeta seu desenvolvimento, pois além das transformações peculiares desta fase da vida ainda enfrenta dificuldades no mundo do trabalho, impedindo de usufruir deste período.

Fonte: encurtador.com.br/aoOUW

Desta maneira, a gravidez precoce, além das dificuldades econômicas e sociais, também se constitui como um fator que reflete no desenvolvimento do adolescente que exige medida de responsabilidade ainda não adquirida. A gestação é um momento fisiológico na vida reprodutiva da mulher.

A gravidez ocorre conforme determinismos impostos pela natureza humana, segundo diretrizes genéticas milenares preestabelecidas, por isso, não pode ser tratada como doença, malgrado, a própria saúde pública considere a gravidez, para fins assistenciais e programáticos, de baixo e alto risco. A gestação evolui com características próprias, sem percalços e óbices em mais de 80% dos eventos gravídicos. (MONTENEGRO; REZENDE FILHO, 2008).

Assim, quando as inesperadas gestações ditas normais não ocorrem, depreende-se que se trata de algo patológico, tais gravidezes acontecem secundárias a numerosos fatores de risco biopsicossociais e outros. Não é aceitável supervalorizar o patológico e tornar mínimo o fisiológico, pois o parto cesariano de origem cultural vem substituindo com vantagens o parto vaginal, sendo um jeito negado pela maioria dos pesquisadores.

Referências:

MONTENEGRO, C. A.; REZENDE FILHO, J. A gravidez na adolescência e a Psicologia. São Paulo: Ed. Guanabara Koogan, 2008

FICHA TÉCNICA

Título: Juno (Original)

Ano produção: 2007

Dirigido por: Jason Reitman

Duração: 96 minutos

Classificação: Não recomendado para menores de 10 anos

Gênero: Comédia Drama Romance

País de Origem: Estados Unidos da América

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Psiquiatria perinatal: diagnóstico e tratamento

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O livro Psiquiatria Perinatal Diagnóstico e Tratamento é livro de extrema relevância a ser discutido, especialmente pelo avanço constante acerca da investigação dos transtornos mentais da lactação e gravidez. Torna-se válido enfatizar nesse contexto a depressão pós-parto, visto que se tem uma diferenciação conceitual entre depressão pós-parto (DPP), baby blues e psicose puerperal, considerando que são termos utilizados no contexto deste estudo.

O livro discute de uma maneira dinâmica e clara todos esses conceitos, fator que por sinal leva-nos a perceber a necessidade de discutirmos cada vez mais acerca da Psiquiatria Perinatal. A manifestação da depressão pós-parto (DPP) acontece geralmente a partir das primeiras quatros semanas após o nascimento do bebê, alcançando sua intensidade máxima durante os seis primeiros meses posteriores.

Interessante observar que pode ser de intensidade leve, transitória ou agravar-se até uma neurose ou desordem psicótica. Os primeiros dias após o nascimento do bebê são um misto de sentimentos para as mães, sendo os hormônios os principais responsáveis por essa mudança.

Os sintomas da depressão pós-parto (DPP) iniciam como os sintomas do baby blues, más pioram cada vez mais quando não há procura de ajuda. A puérpera sente-se incapaz de cuidar do bebê, medo de machucar, exausta, nervosa, com vontade de sumir ou morrer. A (DPP) requer acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. (MORAES et al., 2006).

O baby blues é o distúrbio de maior frequência, é caracterizado por uma melancolia ocasionada pelas alterações hormonais que acontecem com a mãe após o parto, quando a produção de leite se inicia e os hormônios que estavam relacionados à gestação sofrem mudanças, não dar para prevenir, porém é um quadro passageiro que é caracterizado por hiperemotividade, estado de fragilidade, falta de confiança e de incapacidade para cuidar do bebê. É considerado um quadro leve e transitório, tendo remissão espontânea.

Os sintomas são: irritação, ansiedade, medo, vontade de chorar sem motivo, entre outros. Isso acontece devido às mudanças hormonais e também insegurança frente ao novo momento de vida. (SCHWENGBER; PICCININI, 2003).

FICHA TÉCNICA

Título Original: Psiquiatria Perinatal – Diagnóstico e Tratamento

Autores: Alexandre Augusto Jatobá Vasconcelos, Chei-Tung Teng

Editora: Atheneu -RJ

ISBN:  853880166X 9788538801665

Formato: Capa comum

Páginas: 176

Ano: 2010

REFERÊNCIAS

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual técnico pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Brasília (DF): MS; 2006.

MORAES, I. G. S. et. al. Prevalência da depressão pós-parto e fatores associados. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 65-70, ago. 2006.

SCHWENGBER, D. D., & PICCININI, C. A. O impacto da depressão pós-parto para a interação mãe-bebê. Estudos de Psicologia, Natal, v. 8, n. 3, p. 403-411, set. / Dez, 2003.

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Gestantes na Pandemia: 5 sinais de alerta para Depressão Pós-Parto

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Durante a pandemia houve um aumento dos casos de Depressão Pós-Parto. Psiquiatra esclarece os principais sintomas

A pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que mais de uma em cada quatro brasileiras apresenta sintomas de depressão pós-parto entre 6 e 18 meses após o nascimento do bebê. A psiquiatra Vanusa Vaz, especialista na Clínica Holiste, alerta que apesar da romantização da maternidade, a gestação é um período de muitas dúvidas e preocupações – ainda mais durante a pandemia – e, por isso, é preciso estar atento a alguns sintomas que indicam a hora de buscar ajuda.

“Ser responsável por uma nova vida gera muitas dúvidas e expectativas. Junta-se a isso todas as alterações hormonais, acompanhadas dos tão famosos enjoos, tonturas, sono excessivo, lombalgia e oscilações do humor, trazendo com eles a realidade que gestar pode não ser esse conto de fadas que muitos propagam. E quando falamos sobre engravidar em meio a pandemia, todas essas dificuldades ainda podem se tornar secundárias porque ser gestante é considerado fator de risco para quadros graves da COVID -19 e exige cuidados adicionais”, comenta a psiquiatra.

Nesse cenário complexo e, muitas vezes, solitário – uma vez que pelas restrições de isolamento social, muitas mães e pais de primeira viagem passam pelos primeiros meses sem a rede de apoio formada por amigos e familiares -, os riscos de gatilhos emocionais aumentam e, quando persistentes, indicam um quadro de Depressão Pós-Parto.

Fonte: encurtador.com.br/yBKNU

Aumento da Depressão Pós-Parto na Pandemia

De acordo com o estudo da Universidade de Calgary, no Canadá, os sintomas – que costumam afetar entre 10 e 25% das gestantes – superaram os 35% durante a pandemia. A psiquiatra Vanusa Vaz aponta que, após o parto, acontecem novas mudanças hormonais, somadas a privação de sono, à sobrecarga de funções e à amamentação, junto aos medos e incertezas já inerentes a este momento, trazem consigo os riscos para possíveis desequilíbrios emocionais.

A profissional explica que os primeiros 15 dias são os mais difíceis e podem desencadear situações de choro e frustração na maioria das mulheres, este período é conhecido como “baby blues”. “Entre 40-80% das genitoras podem apresentar choro fácil, irritabilidade e instabilidade emocional, ansiedade, sentimento de culpa e frustração por não se sentir feliz. Quando esses sintomas se estendem por mais de 4 semanas – segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders V – ou até mesmo 1 ano, levanta-se a possibilidade da Depressão Pós-Parto”.

5 sinais de alerta para a Depressão Pós-Parto

Vanusa ensina que é provável que a própria mãe não perceba essas mudanças no comportamento, ou tenha resistência em pedir ajuda – sobretudo porque existe uma tendência a anular as próprias dores e focar apenas no bebê, uma atitude que não é benéfica nem para a mãe e nem para o bebê.  Assim, muitas vezes é necessário que os familiares e acompanhantes mais próximos fiquem atentos aos seguintes sinais de alerta:

  1. Preocupações exageradas com o bebê e com sua própria competência materna;
  2. Medo de ficar sozinha com o bebê ou de machucá-lo;
  3. Pensamentos obsessivos;
  4. Mudanças do humor;
  5. Ter um histórico de Depressão no passado.

“Caso esses fatores estejam presentes por mais de 15 dias, é importante que essa mãe seja encaminhada para atendimento especializado com psicólogo e psiquiatra para avaliação, acompanhamento em psicoterapia e, se necessário, tratamento medicamentoso”, finaliza. A Depressão Pós-Parto tem cura e tratamentos adequados para o período de puerpério e amamentação, o essencial é buscar ajuda.

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Rede Cegonha: Psicóloga Lhivia fala do projeto

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O Governo Federal, através do Sistema Único de Saúde – SUS, criou a Rede Cegonha por meio da Portaria n° 1.459, de 24 de junho de 2011, publicada pelo Ministério da Saúde que propõe uma melhoria no atendimento à mulher durante sua gravidez, durante o parto e o pós-parto.

O projeto ainda beneficia os recém-nascidos e às crianças com até 02 (dois anos) de idade. É um projeto que propõe uma maior disponibilidade de atendimento pré-natal, com garantia de realização de todos os exames necessários, inclusive um exame de ultrassonografia.

Além das questões básicas, a Rede Cegonha busca realizar encaminhamentos e atendimentos de casos que houverem complicações durante a gravidez. Assim, o intuito deste projeto governamental é poder levar o melhor atendimento para as gestantes que utilizam o SUS para uma boa gestação.

Considerando a importância da Rede Cegonha, acadêmicos de Psicologia do CEULP/ULBRA, com a colaboração do (En)Cena, entrevistaram Lhivia Lourençoni Barbosa, Psicóloga e Doula, Coordenadora da Equipe Matricial de Humanização do Hospital e Maternidade Dona Regina.

Foto: Hospital e Maternidade Dona Regina

(En)Cena – Porque é tão importante o pré-natal para a saúde da mãe e do bebê?

Lhivia Lourençoni Barbosa – Para evitar as morbidades para a mãe e a criança; preservar a saúde desta mãe para uma gestação saudável, oferecendo mais tranquilidade para mãe, consequentemente o bebê será mais saudável e terá melhor desenvolvimento. Para ter um parto mais seguro e saudável, a rede cegonha propõe uma continuidade pré-natal, parto e pós-parto, cuidando da criança até os 2 anos, preservando a saúde da mãe e do bebê para evitar mortalidade materna neonatal e infantil neste período.

(En)Cena – Já ouvi falar que o acompanhamento pré-natal se estende para os homens (pais) também. É verdade? Pode me explicar o porquê?

Lhivia Lourençoni Barbosa – A rede cegonha prioriza que a família viva o pré-natal junto. A mulher, se tiver alguma doença, precisa ser tratada em conjunto com parceiro. Ou seja, é estendido a ele também o acompanhamento tanto no pré-natal, parto e pós-parto. Ficam num alojamento para serem orientados nestes cuidados com o bebê, para eles saírem preparados para casa.

(En)Cena – O que mudou com a criação da rede cegonha?

Lhivia Lourençoni Barbosa – A mulher passou a ter direito ao acompanhante, de livre escolha dela. Ela pode escolher a posição do parto. É incentivado o trabalho de parto na posição vertical e oferecido o trabalho farmacológico de alívio da dor.

(En)Cena – Quais os benefícios que a rede cegonha trouxe para a saúde pública?

Lhivia Lourençoni Barbosa – O contato pele a pele, quando o bebê não requer cuidados especiais, ficando um período de 1 hora com mãe logo após nascer, amamentação na primeira hora de vida. O bebê que mama neste momento, tem amamentação mais prolongada em relação as outras crianças. É trabalhado o incentivo ao aleitamento materno pois isto gera consequências até na vida adulta do bebê. Alojamento conjunto com acompanhante. Para a saúde da mulher é muito melhor, pois quando ela é bem assistida acaba tendo benefícios evitando consequências ruins. A rede incentiva o parto normal que é um grande benefício para mãe e o bebê evitando a morbimortalidade (mobilidade + mortalidade).

(En)Cena – Qual o principal objetivo da rede?

Lhivia Lourençoni Barbosa – O principal objetivo é diminuir o índice de mortalidade materna e infantil neonatal.

(En)Cena – Você consegue ver alguma falha na rede cegonha? Se sim, quais?

Lhivia Lourençoni Barbosa – Como o próprio nome diz, a proposta é uma rede de cuidados, ou seja, cuidado continuado tanto do pré-natal, passando pelo hospital e retornando à unidade básica de saúde. Neste momento, na comunicação entre o hospital e a unidade básica de saúde é que a rede perde um pouco. Por mais que existam ações para esta atenção básica, na prática se perde esta mulher no meio do caminho, ou seja, na comunicação entre o hospital e a unidade básica.

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CFP se posiciona a favor da descriminalização e legalização do aborto no Brasil

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STF discute liberação do aborto até a 12ª semana de gestação

O Supremo Tribunal de justiça (STJ) intensifica debate sobre a descriminalização e legalização do aborto no Brasil. O Debate é construído por pessoas favoráveis e contrárias a legalização. O aborto é proibido no Brasil respaldado pelo artigo 128, incisos I e II do Código Penal Brasileiro. Hoje o aborto só é permitido em três casos: feto anencéfalo, estupro e/ou que cause risco à vida da mulher.

De acordo com a Folha de São Paulo, em dez anos, o Brasil teve entre 9,5 e 12 milhões de abortos provocados. Sendo estimado que exista meio milhão de abortos clandestinos por ano no país e que provavelmente 50% tem complicações. Resultando em um gasto de R$ 500 milhões, pelo SUS, em uma década.

Diante do cenário, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da descriminalização e legalização do aborto no Brasil. Em carta o CFP se posiciona: ‘A autonomia das mulheres sobre seus corpos deve ser ampliada para que as mesmas tenham condições de decidir ou não interromper uma gravidez. A Psicologia deve se posicionar agindo sobre as situações que favorecem situações de vulnerabilidade social e psicológica, que provocam intensas situações de sofrimento psíquico, como é o caso da manutenção de uma gravidez que não foi escolhida pela gestante’. A carta aberta pode ser lida na integra no endereço https://site.cfp.org.br/cfp-defende-descriminalizacao-legalizacao-aborto-brasil/ .

Fonte: encurtador.com.br/mopvC

Joice Reitz, acadêmica de Psicologia do CEULP – ULBRA, se posiciona: ‘Sou a favor da legalização do aborto por que percebo, com o estudo que tenho do assunto, que temos muito mais a ganhar com isso. Entendo o choque inicial que a proposta pode causar na população, mas basta parar um pouco para pensar e perceber que, além de maior autonomia feminina, a prática legalizada vem para melhorar questões de saúde pública, uma vez que a mesma permite toda uma estrutura para a mulher que deseja o aborto, com apoio médico (não de açougueiros clandestinos), psicológico e social. Não dá mais para fechar os olhos para este assunto. Todos sabem que a prática ocorre a todo o momento e em todo lugar. A legalização dessa prática não se trata de uma ação “demoníaca” e “pecadora” como muitos alegam (e cabe aqui ressaltar que o Estado é laico), mas se trata de uma ação que dá visibilidade para uma realidade triste, dura e camuflada. Nosso país precisa de representantes políticos e cidadãos que tomem decisões e tenham posturas e atitudes livres de suas crenças pessoais, que sejam capazes de pensar no todo, no coletivo, e não somente no próprio umbigo.“

REFERÊNCIAS

TUROLLO, Reynaldo. STF começa debate sobre legalização do aborto até 12ª semana de gravidez. Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/stf-comeca-debate-sobre-legalizacao-do-aborto-ate-12a-semana-de-gravidez.shtml > acessado em 03/08/2018.

COLLUCCI,Cláudia. FARIA, Flávia. SUS gasta R$ 500 milhões com complicações por aborto em uma década. Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/07/sus-gasta-r-500-milhoes-com-complicacoes-por-aborto-em-uma-decada.shtml acessado em 03/08/2018.

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Gravidez na Adolescência – (En)Cena entrevista Roberta Sales

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A Casa de Marta, fundada em 2002, é uma Instituição Filantrópica, de iniciativa da Igreja Católica, pertencente à Arquidiocese de Palmas. Ainda, é um Centro de Apoio a gestantes menores de idade, de 12 a 17 anos, expostas à insegurança, fragilidade e em situação de risco.

Além disso, a Casa oferece oficinas (alguns trabalhos manuais e confecção do seu próprio enxoval); treinamento de cuidados com os bebês; atendimento psicológico; momento de reflexão e espiritualidade, além de visitas domiciliares. Vale ressaltar que a Casa não funciona sob regime de internato, porém suas atividades são realizadas três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 8h30 às 16h30). No que tange à manutenção, a Casa conta com o voluntariado, além de doações externas (COMPROMISSO, 2014, p.1).

Roberta Sales (nome fictício) ingressou na Casa de Marta aos 15 anos de idade, enquanto ainda estava grávida de 6 meses. Hoje (10 de abril de 2018), Roberta tem 16 anos e sua filha está com 9 meses de idade.

Fonte: encurtador.com.br/gimvY

 

 (En)Cena – Como você ficou sabendo da existência da Casa?

Roberta Sales – Foi pela madrinha do meu esposo, ela é do Conselho Tutelar. Ela falou sobre a Casa de Marta. Falou uma coisa que não é: que eles ensinavam a banhar a criança porque eu não sabia de nada, cuidar, essas coisas assim. Aí falou que davam as coisas, o enxoval, essas coisas assim.

 

(En)Cena – Quais sentimentos envolveram você durante o período em que estava grávida e hoje como mãe?

Roberta Sales – Antigamente, eu era muito fechada. Sempre fui na minha. Nunca fui de conversar com ninguém não. As meninas (outras adolescentes que também frequentam a Casa) vieram falar comigo, aí eu falei pra elas que não era de conversar com ninguém e aí eu falei que não queria falar com elas. Eu falei bem assim pra elas. Aí elas ficaram assim… Eu comecei a ficar na minha, mas mesmo assim elas puxavam assunto comigo e eu mesmo assim não queria conversar. Aí nós acabamos conversando porque eu era muito besta com o “negócio” do meu marido. Eu achava que as outras pessoas chegavam em mim só pra querer meu marido. Aí a gente começou a virar amigas.

 

(En)Cena – Você percebeu alguma mudança no seu corpo?

Roberta Sales – Demais. Muita estria. Eu fiquei muito feia depois que eu ganhei a neném. Agora que eu estou me ajeitando mesmo, mas assim, no começo eu ficava arrependida de ter filho porque eu estraguei muito o meu corpo, depois que eu ganhei.

 

(En)Cena – A sua rotina foi alterada?

Roberta Sales – Foi. Eu era muito de sair. Aí depois que eu ganhei, eu deixei de sair. Enquanto estava grávida também deixei de sair porque eu me achava muito feia. Aí depois que a minha autoestima foi levantando. As pessoas falando que eu estava bonita e eu achando. Eu sempre fui otimista. Sempre me acho bonita. Assim, quando estou arrumada. Quando não estou, não falo que sou bonita não.

 

(En)Cena – Qual a ideia que você tem sobre ser mãe?

Roberta Sales – Responsabilidade grande porque eu não tinha. Antes de eu vir pra cá, eu não gostava da minha mãe, não conversava com ela. E eu fui entender as coisas que a minha mãe falava pra mim depois que eu fui ser mãe. Aí eu fui entender as coisas direito. Assim, eu me sinto uma pessoa melhor, sabia? Minha vida mudou bastante, eu era muito “desandada” antigamente. Eu nunca amei ninguém de verdade e hoje eu amo ela bastante (filha). As pessoas falavam que a mãe dava a vida pelo filho. Eu não acreditava nessas coisas, mas hoje eu dou minha vida pela minha filha. Eu mudei demais.

 

(En)Cena – Teve algum momento de rejeição, que você pensou talvez em abortar…

Roberta Sales – Não. Foi no começo da gravidez que eu parei de falar com a minha mãe porque ela queria que eu abortasse. Ela não queria que eu tivesse filho. Aí ela me deu remédio. Eu tomei, mas assim eu não queria tomar. Meu pai já era o oposto, falava que não era pra eu tomar, mas eu tomei e não aconteceu nada. Aí eu briguei com a minha mãe porque ela estava insistindo muito nisso. A gente se afastou. Aí depois que eu ganhei, quando eu voltei a falar com ela.

 

(En)Cena – Você tomou o remédio por muito tempo?

Roberta Sales – Não, eu tomei uma vez só.

 

(En)Cena – Que tipo de apoio você mais precisa ou de quem?

Roberta Sales – Eu conto mais com a minha mãe e com aqui, a Casa de Marta mesmo porque eles me ajudam bastante. No dia que eu estava precisando, que eu não tinha nada pra comer lá em casa, eles me deram uma cesta básica, um monte de coisa. Quando eu estou precisando lá em casa, eu venho aqui e peço, que eles me dão.

 

(En)Cena – Que tipo de profissional você acha que poderia atuar ou auxiliar você?

Roberta Sales – Uma psicóloga e uma das irmãs, que não são mais daqui. Elas me falavam as coisas, fez eu ter menos ódio da minha mãe. É porque a minha mãe nunca gostou de mim. Hoje ela gosta de mim, mais por causa do neném. Minha mãe é preconceituosa. Ela não gostava de mim por causa da minha cor porque eu era “mais moreninha”. Minha irmã é branca e ela só me aceitou agora porque a mina filha é branca. Só por causa disso. Ela disse que se tivesse um filho “preto”, moreno, ela disse que não ia aceitar nem gostar.

 

(En)Cena – Ao deixar de frequentar a Casa, você iniciou alguma outra atividade?

Roberta Sales – Até comecei a trabalhar aí o lugar que eu estava trabalhando como recepcionista, não quis me pagar. Aí eu não fui mais.

 

(En)Cena – Você já percebeu alguma mudança em sua vida desde que ingressou na Casa?

Roberta Sales – Ajudou em relação à minha mãe. Ajudou com comida, no momento que eu realmente estava precisando, passando fome mesmo. Aí eu pedi para uma das irmãs e ela me deu uma cesta básica. Ela foi lá em casa e viu que eu realmente estava precisando e me deu.

 

(En)Cena – Você consegue planejar algo? Seja para amanhã, daqui a 2 anos, 5 anos…?

Roberta Sales – Eu tenho. Eu quero voltar a estudar. Já falei que vou voltar a estudar ano que vem. Aí vou entrar no exército também ano que vem.

Referências:

COMPROMISSO com a vida. Palmas, TO: Casa de Marta, 2014.

 

Nota: A entrevista foi realizada com autorização dos dirigentes da Casa de Marta no período do desenvolvimento do Estágio Específico em Saúde Mental, do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, com a supervisão da Profa. Dra Irenides Teixeira.

 

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Gravidez na Adolescência – (En)Cena entrevista Ana Laura

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A Casa de Marta, fundada em 2002, é uma Instituição Filantrópica, de iniciativa da Igreja Católica, pertencente à Arquidiocese de Palmas. Ainda, é um Centro de Apoio a gestantes menores de idade, de 12 a 17 anos, expostas à insegurança, fragilidade e em situação de risco.

Além disso, a Casa oferece oficinas (alguns trabalhos manuais e confecção do seu próprio enxoval); treinamento de cuidados com os bebês; atendimento psicológico; momento de reflexão e espiritualidade, além de visitas domiciliares. Vale ressaltar que a Casa não funciona sob regime de internato, porém suas atividades são realizadas três vezes por semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira das 8h30 às 16h30). No que tange à manutenção, a Casa conta com o voluntariado, além de doações externas (COMPROMISSO, 2014, p.1).

Ana Laura (nome fictício) ingressou na Casa de Marta aos 14 anos de idade, enquanto ainda estava grávida de 3 meses. Hoje (25 de abril de 2018), está 16 anos e sua filha está com 8 meses de idade.

Fonte: encurtador.com.br/BLPS1

 (En)Cena – Como você ficou sabendo da existência da Casa?

Ana Laura – Através de outras meninas que participavam também. Elas moravam ao lado da casa da minha mãe. Aí elas me chamaram para vir e eu vim. 

(En)Cena – Quais sentimentos e pensamentos estiveram envolvidos durante sua gravidez?

Ana Laura – Tantos. Medo e alegria. Eu sempre quis ter um bebê. Quando eu conheci o pai da neném eu tinha 13, 14 anos e a gente se envolveu muito cedo e ele tem outra filha. Por causa disso, eu via o jeito dele com ela que era totalmente diferente do jeito que ele agia ao comigo. Eu meio que queria ter isso pra mim. O medo, porque quando eu descobri a gravidez eu estava separada dele. Ele quis voltar comigo, só que eu não queria muito, aí eu tinha medo de voltar, de como ia ser, se a neném ia sofrer, se eu não ia ter condição pra cuidar dela, se sentiria a falta do pai. Só que depois a gente voltou e as coisas foram se ajeitando… Meu medo era mais por causa das coisas que tinha que ter e as vezes a gente não tinha condições para comprar.

(En)Cena – Você percebeu alguma mudança no seu corpo?

Ana Laura – Eu emagreci muito enquanto estava grávida. Não ganhei peso. E quando eu tive ela, não vi mudança, só nos seios. Mas durante a gravidez eu não senti diferença.

(En)Cena – Qual a ideia que você tem sobre ser mãe?

Ana Laura – Não há felicidade maior do que ser mãe. Ser mãe é ótimo. Às vezes, passa por dificuldade porque criança dá trabalho, só que na hora que a gente vê o sorriso compensam muitas coisas. Muitas coisas mesmo. Na hora que a gente vê o sorriso da criança, a gente pode estar meio estressado, mas a criança dá um sorriso pra gente e tudo muda. É ótimo ser mãe! Acho que não voltaria atrás, se fosse pra escolher outra coisa. Se não fosse por causa disso, eu já tinha feito muita coisa. Eu era muito de sair e acho que se eu não fosse mãe eu não pararia quieta. Hoje eu agradeço por ter engravidado. Foi ruim porque eu estava nova e gostaria de ser mais velha para estar trabalhando e conseguir minhas coisas porque eu não gosto muito de depender dos outros, mas é ótimo. Para mim foi ótimo. Eu amo ser mãe.

(En)Cena – Que tipo de apoio você acha que mais precisa? Algum tipo de suporte?

Ana Laura – Apoio acho que não preciso muito. Porque como ele trabalha (pai da criança), a gente não precisa ficar pedindo nada para os outros. Ele corre muito atrás das coisas, nunca deixou faltar nada em casa. As vezes as roupas da neném vão se perdendo, porque ela está crescendo muito rápido e a minha mãe, às vezes, ajuda também.

(En)Cena – Você se sente apoiada pela sua família?

Ana Laura – Muito. Ela (bebê) é o xodó da minha família. Todo mundo me ajuda. A família dele não é muito assim, não. Eu moro do lado da casa da mãe dele, mas a bebê não gosta muito dela porque quando eu estava descobri a minha gravidez ela falava um monte de coisa pra mim e eu acho que criança sente. E também porque a família dele, uma hora está de boa e outra hora, não. A minha sogra não fala com o irmão do meu marido há mais de três anos por uma briga boba. Meu marido também já ficou sem falar com ela. Por parte deles eu não tenho muito apoio, não. Nós estamos morando lá porque a gente ia separar e ele foi morar junto com ela. Mas a gente mora em casas diferentes, ao lado dela. A gente está querendo mudar de lá. Ela já discutiu comigo, falou um monte de coisa pra mim. Então, eu não me sinto apoiada por eles porque eles não me ajudam. Na verdade, eles nunca ajudaram nem para comprar um pacote de fraldas. A minha mãe já ajuda bastante, já comprou leite quando eu precisei, fraldas, essas coisas. Quando eu estou precisando, ela me ajuda. Mesmo sem eu pedir, ela compra roupa pra ela, tudo.

(En)Cena – Que tipo de profissional você acha que poderia auxiliar você?

Ana Laura – Acho que psicólogo. Eu pego tudo pra mim. Eu fico guardando tudo pra mim e eu preciso, às vezes, desabafar. Às vezes as pessoas acham que eu estou exagerando, mas não, só quem passa por isso sabe. Às vezes eu preciso desabafar e acho que um psicólogo ajudaria mais na minha questão.

(En)Cena – Como foi para você passar esse período aqui na Casa?

Ana Laura – Foi bom, eles me ajuda bastante. Porque, às vezes, tem cesta básica… Mesmo que a gente não esteja precisando, mas na minha família quando tem gente precisando eu posso pegar e dar pra eles. As coisas que eu fiz pra neném aqui, eu uso bastante (fraldas). Eu usei, não dei nenhuma. Tudo me ajudou. Foi ótimo passar por aqui e eu gosto de vir pra cá. É bom, eu gosto.

(En)Cena – Você já percebeu alguma mudança na sua vida desde que começou a participar da Casa?

Ana Laura – Eu percebi. A gente muda bastante. A gente vai aprendendo coisas novas, a gente não fica quieta. Eles me ensinaram a viver mais, saber lidar comigo mesma, a fazer as coisas só, porque aqui a gente trabalha ali, tem uma curiosidade de fazer curso disso e começar a trabalhar. Eu tenho vontade de trabalhar com costura e depois que eu comecei a trabalhar aqui, me deu vontade de trabalhar. O pai da neném já trabalhou com costura, aí só ele que costura lá em casa. Depois que eu comecei aqui, dá vontade. Tem cursos… Eu só não venho para os cursos que têm aqui porque eu cuido do meu irmão e não tem como eu ficar vindo aqui e também tenho que levar ele à escola. Mas mudou bastante a minha vida.

(En)Cena – Quais são seus planos para o futuro?

Ana Laura – Estudar, trabalhar e dar uma vida boa para a minha filha. E, caso eu estiver trabalhando e tiver uma boa vida, quero dar um irmão para ela, mas só se isso acontecer porque as coisas são muito difíceis. Depois que eu ganhei ela, eu percebi o quanto a gente tem que dar valor a nossa mãe. Porque antes eu brigava muito com a minha mãe. Eu morava com a minha mãe e brigava muito com ela. E depois que eu virei mãe, eu percebi que a mãe é muito importante, que a mãe deu à luz e passou por tudo aquilo…

Referências:

COMPROMISSO com a vida. Palmas, TO: Casa de Marta, 2014.

Nota: A entrevista foi realizada com autorização dos dirigentes da Casa de Marta no período do desenvolvimento do Estágio Específico em Saúde Mental, do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp/Ulbra, com a supervisão da Profa. Dra Irenides Teixeira.

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