O Movimento Ecológico Decolonial e o Paradigma do ‘Bem Viver’: repensando o desenvolvimento sustentável

Compartilhe este conteúdo:

O Movimento Ecológico Decolonial surge como uma resposta essencial aos desafios ambientais e sociais contemporâneos. Este movimento, que enfatiza a necessidade de revisar as práticas de desenvolvimento globais, é marcado pelo resgate de saberes tradicionais e práticas sustentáveis. Enraizado na sabedoria indígena e nas lutas sociais da América Latina, ele desafia o paradigma desenvolvimentista, frequentemente alheio às realidades ecológicas e culturais locais.

No coração do Movimento Ecológico Decolonial está o conceito de “Bem Viver”, que transcende a teoria para se tornar uma prática viva. Este paradigma ressalta a interdependência entre seres humanos e meio ambiente, desafiando o antropocentrismo das políticas de desenvolvimento tradicionais. O “Bem Viver” centra a natureza e a diversidade cultural nas decisões políticas e econômicas, promovendo uma existência que respeita os limites dos ecossistemas e a diversidade das formas de vida.

Personalidades como Malcom Ferdinand e Ailton Krenak são fundamentais na articulação do Movimento Ecológico Decolonial. Ferdinand propõe uma ecologia decolonial, afastando-se do ambientalismo tradicional, e Krenak ressalta a urgência de mudança nas políticas de desenvolvimento, diante do esgotamento da Terra. Ferdinand enfatiza: “Diante de um habitar colonial devorador de mundo, os quilombolas colocaram em prática outra maneira de viver junto e de se relacionar com a Terra”​​ (Ferdinand, 2022). Krenak (2022) alerta: “Vai chegar uma hora que a terra não vai responder mais. Vai ser uma terra morta”.

Além do aspecto ambiental, o movimento aborda questões sociais enraizadas em sistemas de poder coloniais. Há um esforço para transformar estruturas estatais, visando uma democracia mais inclusiva e participativa. A plurinacionalidade e a pluralidade cultural são vistas como cruciais para a construção de sociedades resilientes e adaptáveis, particularmente diante dos desafios contemporâneos como as mudanças climáticas.

O “Bem Viver” propõe uma nova concepção de prosperidade e bem-estar, que valoriza a relação com a natureza e entre as pessoas, em vez da mera acumulação material. Este paradigma se estende do rural ao urbano, incentivando as cidades a repensar suas relações com o meio ambiente e com seus habitantes, promovendo uma vida urbana mais sustentável e equitativa.

O Movimento Ecológico Decolonial não se limita a uma crítica teórica, mas também propõe ações práticas e modelos alternativos de convivência. Ele enfatiza a necessidade de uma economia que esteja em harmonia com o meio ambiente, propondo sistemas de produção e consumo que respeitem os limites dos ecossistemas. Esta abordagem busca equilibrar as necessidades humanas com a preservação ambiental, incentivando um estilo de vida mais sustentável e respeitoso com a natureza.

                                                                    Fonte: Imagem gerada por DALL·E

 

Um aspecto crucial do Movimento Ecológico Decolonial é a ênfase na justiça ambiental e social. Ele reconhece que as desigualdades socioeconômicas e os problemas ambientais estão interligados e frequentemente exacerbados por políticas e práticas que negligenciam as comunidades mais vulneráveis. Por isso, o movimento busca integrar as lutas por direitos sociais e ambientais, promovendo uma abordagem mais holística e inclusiva para o desenvolvimento.

No contexto global, o Movimento Ecológico Decolonial ressoa com movimentos similares em outras partes do mundo, criando um diálogo intercultural sobre práticas sustentáveis e respeito à diversidade. Esta interconexão global reforça a ideia de que as soluções para os desafios ambientais e sociais devem ser buscadas coletivamente, transcendendo fronteiras nacionais e culturais. A troca de conhecimentos e experiências entre diferentes culturas e regiões é vista como fundamental para o enriquecimento e a eficácia do movimento.

Finalmente, o Movimento Ecológico Decolonial desafia as futuras gerações a repensar sua relação com o meio ambiente e a sociedade. Ele incentiva uma educação voltada para a sustentabilidade e a consciência ecológica, formando indivíduos que não apenas entendam a importância da preservação ambiental, mas que também estejam equipados para agir de maneira responsável e inovadora. Este aspecto educacional é vital para garantir a continuidade e o crescimento do movimento, assegurando que o legado do “Bem Viver” seja transmitido e evolua com o tempo.

O Movimento Ecológico Decolonial não se limita a uma crítica teórica, mas também propõe ações práticas e modelos alternativos de convivência. Ele enfatiza a necessidade de uma economia que esteja em harmonia com o meio ambiente, propondo sistemas de produção e consumo que respeitem os limites dos ecossistemas. Esta abordagem busca equilibrar as necessidades humanas com a preservação ambiental, incentivando um estilo de vida mais sustentável e respeitoso com a natureza.

Um aspecto crucial do Movimento Ecológico Decolonial é a ênfase na justiça ambiental e social. Ele reconhece que as desigualdades socioeconômicas e os problemas ambientais estão interligados e frequentemente exacerbados por políticas e práticas que negligenciam as comunidades mais vulneráveis. Por isso, o movimento busca integrar as lutas por direitos sociais e ambientais, promovendo uma abordagem mais holística e inclusiva para o desenvolvimento.

No contexto global, o Movimento Ecológico Decolonial ressoa com movimentos similares em outras partes do mundo, criando um diálogo intercultural sobre práticas sustentáveis e respeito à diversidade. Esta interconexão global reforça a ideia de que as soluções para os desafios ambientais e sociais devem ser buscadas coletivamente, transcendendo fronteiras nacionais e culturais. A troca de conhecimentos e experiências entre diferentes culturas e regiões é vista como fundamental para o enriquecimento e a eficácia do movimento.

Finalmente, o Movimento Ecológico Decolonial desafia as futuras gerações a repensar sua relação com o meio ambiente e a sociedade. Ele incentiva uma educação voltada para a sustentabilidade e a consciência ecológica, formando indivíduos que não apenas entendam a importância da preservação ambiental, mas que também estejam equipados para agir de maneira responsável e inovadora. Este aspecto educacional é vital para garantir a continuidade e o crescimento do movimento, assegurando que o legado do “Bem Viver” seja transmitido e evolua com o tempo.

Referências

FERDINAND, M. Uma ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho. São Paulo: Ubu Editora, 2022.

KRENAK, A. Entrevista para o livro Povos Indígenas no Brasil 2017-2022, 2022.

Compartilhe este conteúdo:

K-POP: apoio emocional em relações parassociais dentro dos fandoms

Compartilhe este conteúdo:

O movimento do kpop é mais do que uma febre. Para várias pessoas, ele significa vida, alegria, e força para viver mais um dia

Ídolos não são figuras completamente desconhecidas na cultura pop. Eles podem ser encontrados até mesmo em 1954, com o surgimento de Elvis Presley na indústria musical americana. A sociedade não é estranha ao ato de ser fã, de idolizar indivíduos que trazem alegria a certo grupo de pessoas das quais acompanham esse ídolo. Muitos escutam as músicas de seus ídolos em busca de divertimento, para aproveitar um tempo sem preocupações. Cercados de preocupações com vida social, relacionamentos, estudos, trabalho, problemas familiares, o ser humano está em uma constante busca por alívio do peso imposto sobre elas.

O K-pop é um gênero musical que tem seu marco inicial em 1992, com o lançamento da música Nam Arayo de Seo Taiji&Boys que misturou elementos musicais coreanos, hip-hop, coreografias e letras dos quais os ouvintes jovens poderiam se identificar. Conhecido como movimento Hallyu (onda coreana), o gênero musical está se desenvolvendo no mercado musical internacional, constantemente revelando diversas camadas de gêneros e estilos musicais, imagens estéticas, e letras que ressoam com o público que as escuta. A ascensão mundial lenta porém constante se dá desde que Psy abriu as portas com a viralização de Gangnam Style em 2012.

O K-pop veio como um movimento capitalista de comercialização de música e imagem em uma tentativa bem sucedida de melhorar a economia da Coreia. No entanto, essa parte da cultura hallyu que engloba música, produtos de beleza, dramas de TV (conhecidos como doramas ou K-dramas), figuras culturais e vestimenta, se tornou muito mais do que isso para diversas pessoas.

BTS atualmente é o grupo coreano que está na frente do movimento de popularidade da música coreana. Lançado em 2013, o grupo é composto por sete membros que variam de 28 a 23 anos de idade. Cinco anos atrás, o BTS não possuía o reconhecimento que atualmente tem. Mas hoje, oito anos depois do debut (ou seja, lançamento) do grupo, existem poucas pessoas que nunca ouviram falar deles. Há oito anos, o grupo com sete membros luta contra a corrente em indústrias (tanto norte-americana quanto a coreana) que os recusam afirmando que certos membros não têm talento, que não têm beleza o suficiente, não cantam bem o suficiente, e até mesmo o racismo norte-americano desenfreado.

(BTS, grupo coreano composto por sete membros. Fonte: bit.ly/38leF2o)

Recentemente em uma entrevista do site americano Billboard divulgada em 28 de Agosto de 2021 a pessoa responsável por conduzir a entrevista abertamente acusou BTS, os fãs, e a empresa responsável por eles — Hybe Entertainment, de manipulação dos charts da Billboard. Na realidade, o esforço do fandom (fã-clube), é terminantemente mais intenso do que quaisquer outros fandoms por conta dessa barreira de racismo. Tal situação não acontece com artistas de origem americana, pois a viralização de algo americano, em inglês ou não, não é visto com estranheza pela indústria. As portas são conscientemente fechadas para esses artistas por uma clara representação de racismo e desrespeito.

Tal fidelidade, tal foco e amor aos grupos de k-pop e seus membros se dá pelo apoio emocional que muito frequentemente é fornecido aos fãs.

O apoio emocional se caracteriza como a capacidade de oferecer apoio, cuidado, conforto e segurança frente a momentos de estresse. Esse tipo de apoio faz parte de uma dimensão que engloba alguns modelos básicos de apoio social, incluindo autoestima, rede de vínculos e outros elementos que vão desde saber instruir os indivíduos na resolução de problemas a oferecer os recursos necessários para uma assistência concreta (CUTRONA; RUSSELL, 1990). O crescimento emocional está diretamente ligado ao processo de apoio emocional, por este estar diretamente ligado ao fato de que ao adquirir apoio emocional, o indivíduo encontra liberdade de desabafo, expressão das emoções, e crescimento psicológico.

Devido a diversos movimentos de desenvolvimento tecnológico e social do século XXI, foi criada uma subjetividade quanto ao que pode se apresentar como apoio emocional. Pela tecnologia, pessoas de países diferentes podem se unir em apoio e cuidado, utilizando de interesses em comum e vivências similares para dar forças uns aos outros. Tal movimento foi maximizado por conta da pandemia, e houve uma aproximação emocional dentro do distanciamento social.

Muitos fãs e ídolos entram em um processo de apoio emocional que pode até mesmo se apresentar de forma mútua. O apoio emocional por parte dos fãs é uma narrativa constante dentro desse universo, relatos dos quais os fãs afirmam que um grupo salvou a vida delx, que por causa de um grupo elx tem força para viver mais um dia, dentre diversas outras falas. O apoio emocional de fã para fã também é visível, visto que muitos passam por experiências similares de transtornos mentais tais como ansiedade, depressão, e até mesmo ideação suicida.

Grupos de K-pop perceberam a sua voz, o alcance que eles possuem, e começaram a estender a mão para os fãs da melhor forma possível.

Em Setembro de 2018 o grupo BTS entregou o primeiro discurso na câmara da UNICEF, no evento “Youth 2030: The UN Youth Strategy”, do qual tinha o objetivo de debater e levar a frente movimentos de melhoria no futuro dos jovens de todo o mundo. Foi o primeiro discurso de um total de dois (o segundo sendo feito em 2020 de forma remota), e o primeiro grupo do gênero a praticar tal ato. O discurso foi feito para levantar a campanha Love Myself, da qual eles unem forças com a UNICEF para promover doações e vendas dos quais os fundos são utilizados para proteger crianças de violência.

(BTS, grupo composto por 7 membros durante promoção em 2020 da campanha Love Myself. Fonte: https://www.love-myself.org/eng/home/)

No discurso RM, o líder do grupo também conhecido como Namjoon, disse:

“[…] E eu gostaria de começar falando sobre mim mesmo. Eu nasci em Ilsan, uma cidade próxima de Seul, na Coreia do Sul. É um lugar muito bonito, com um lago, montanhas, e até mesmo com um festival anual de flores. Eu tive uma infância muito feliz lá. E eu era apenas um garoto comum. Eu costumava olhar para o céu para pensar, e eu costumava sonhar os sonhos de um garoto. Eu imaginava que eu era um super herói que podia salvar o mundo.

E na introdução de um dos nossos primeiros álbuns, tem uma frase que diz: ‘Meu coração parou quando eu tinha nove ou, talvez, dez anos’. Olhando para trás, acho que foi quando eu comecei a me preocupar sobre o que outras pessoas pensavam de mim, e comecei a me enxergar pelos olhos deles. Eu parei de olhar para o céu à noite e para as estrelas. Eu parei de sonhar acordado.

Ao invés disso, tentei apenas me encaixar nos moldes criados por outras pessoas. Logo, comecei a calar minha própria voz e passei a escutar as vozes dos outros. Ninguém chamava meu nome, nem eu mesmo chamava. Meu coração parou e meus olhos fecharam-se. E é assim, dessa forma, que eu, nós, todos perdemos nossos nomes. Nos tornamos fantasmas.

Mas eu tinha um refúgio, e era a música. Tinha uma pequena voz dentro de mim que dizia: ‘Acorde, cara. E escute a si mesmo!’ Mas demorou um tempo para que eu ouvisse a música chamando meu verdadeiro nome.

[…] E eu posso ter cometido um erro ontem, mas o eu de ontem ainda sou eu. Hoje, eu sou o que sou com todos os meus defeitos e erros. Amanhã, eu posso ser um pouco mais sábio, e isso também será eu. Essas falhas e erros são o que eu sou, compondo as estrelas mais brilhantes da constelação da minha vida. Eu aprendi a me amar pelo o que eu sou, pelo o que eu fui, e pelo o que eu espero me tornar.

Eu gostaria de dizer mais uma última coisa. Depois de lançar a série de álbuns ‘Love Yourself’ e a campanha ‘Love Myself’, eu comecei a escutar histórias impressionantes de nossos fãs pelo mundo, de como nossa mensagem os ajudou a superarem as dificuldades da vida e de como eles passaram a se amar. Essas histórias constantemente nos lembram de nossa responsabilidade.

Então, vamos todos dar mais um passo. Aprendemos a nos amar. Agora, eu insisto que falem por si mesmos. Eu gostaria de perguntar a todos vocês: Quais são seus nomes? O que anima vocês e o que faz seus corações baterem? Me digam suas histórias, eu quero ouvir suas vozes e ouvir suas convicções.

Não importa quem você seja, de onde você venha, sua cor de pele, sua identidade de gênero, apenas fale! Encontre seu nome e sua voz, falando por si próprio.”

O impacto de seu discurso foi tamanho que os fãs desenvolveram um movimento mundial dos quais eles filmavam vídeos curtos, faziam tweets, posts no Facebook e Instagram relatando suas vivências, dizendo seus nomes e suas origens. Por conta disso, houve uma reação em cadeia de apoio emocional e cuidados promovidos pelos próprios fãs pela validação das falas de cada um deles seguidos de respostas de apoio nos comentários desses posts.

Atualmente, a campanha tem um valor arrecadado acumulado de 2,600,000,000 KRW, que fazem cerca de 11 bilhões de reais. A campanha continua em andamento até hoje, e os efeitos sociais de Love Myself permanecem e marcam fãs até hoje.

Siga ligadx no site (En)Cena para a segunda parte.

REFERÊNCIAS

Bhrescya Ayres ABADE; Ana Letícia Guedes PEREIRA. Ídolos e Apoio Emocional: Reflexões Sobre a Dinâmica do Fã Adolescente Contemporâneo. JNT- Facit Business and Technology Journal. QUALIS B1. 2021. Julho. Ed. 28. V. 1. Págs. 74-92.

MADA, Larissa Sumi.  A experiência de ser k-popper no brasil – uma visão fenomenológica sobre os armys. Universidade Federal de São Paulo. Santos, 2017.

Kpop como aliado no tratamento de doenças mentais. K4us, 2019. Disponível em <https://k4us.com.br/kpop-como-aliado-no-tratamento-de-doencas-mentais/>. Acesso em 28 de Ago. de 2021.

CRUZ, Caio Amaral da. E precisa falar coreano? Uma análise cultural do K-Pop no Brasil. 104 f. il. 2016. Monografia – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

BTS Cover Story: Inside the Band’s Business & Future. Billboard, 2021. Disponível em <https://www.billboard.com/articles/news/9618967/bts-billboard-cover-story-2021-interview>. Acesso em 30 de Ago. de 2021.

BTS Struggles & Hardships. Amino, 2017. Disponível em: <https://aminoapps.com/c/btsarmy/page/blog/bts-struggles-hardships-what-can-we-learn-from-this/xpjw_WpXh2uwG56agBwlaG33zkB2PvGjGZN>. Acesso em 29 de Ago. de 2021.

Compartilhe este conteúdo:

Sofrimento e arte – (En)Cena entrevista a artista Laís Freitas

Compartilhe este conteúdo:

“A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem”.

O Portal (En)Cena entrevista a artista plástica Laís Freitas, de Palmas-TO, para conhecer o que significa ser mulher no Brasil na pandemia pelo olhar da jovem pintora de 18 anos que utiliza das redes sociais como meio para divulgar e comercializar seu trabalho.

Durante a conversa, Laís explica como é ser jovem, mulher e pretender viver de arte no Brasil, apontando os desafios impostos pelo machismo estrutural. A artista também fala sobre os aspectos de saúde mental na sua obra mais recente, a série de quadros “ilusão”. Para ela, o pintar e a possibilidade de se expor e se expressar têm efeito terapêutico e chama a arte de “salvação” que oportuniza tanto ao artista como ao expectador, acessar e entender sentimentos que nunca haviam sido percebido.

(En)Cena –  Considerando o seu lugar de fala, mulher, jovem, artista  e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Laís Freitas (@aloisam_) – Como jovem artista, vejo que ser mulher nos dias atuais de pandemia é uma constante luta, em todos os aspectos. Ao longo da história conseguimos como feministas muitas conquistas, mas ainda existem muitas pautas a serem tratadas. Com um olhar sensível, observo que o sofrimento da mulher, incluindo o meu, parte de um sentimento de solidão, diante de uma cobrança muito grande que fomos ensinadas desde pequenas, o peso do mundo em nossas costas, que claro, parte de um machismo estruturado da nossa convivência.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –  Ao falar sobre a sua série de quadros “ilusão” no post do Instagram , @aloisam, do dia 25/04/2021  você afirma ter descoberto que o pintar te salva, quando permite contar a sua história. Como você entende a relação entre arte e saúde mental?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Como disse na minha postagem, vejo o momento da pintura como uma “quase meditação”, é o momento que mais me sinto conectada comigo mesma, pelo processo ser demorado e estar transcrevendo meus sentimentos em símbolos.

 Nunca fui de me abrir conversando sobre meus problemas, mas sinto que me encontrei na minha pintura. Acho mais fácil escrever sobre o que estou passando e transformar em desenhos, me expresso dessa forma. Às vezes quando falo sobre esse processo com alguém, brinco que se não pintasse eu explodiria, porque desconheço forma mais eficiente de expressão. A arte é salvação, tanto para o artista quanto para o expectador, com ela conseguimos acessar e entender sentimentos que nunca tínhamos percebido, ela é sensível, conta uma história.

(En)Cena –    Como artista jovem em 2021, qual sua perspectiva diante do mercado de trabalho tão modificado e adaptado pela pandemia, com inúmeras possibilidade de interações comerciais online por meio das redes sociais?

Laís Freitas (@aloisam_) –  Com a pandemia, todos tivemos que nos reinventar. Já havia o pensamento de ter uma renda com o mercado online, mas não como eixo principal. Essa adaptação, para mim, abriu meus olhos para outras oportunidades e uma interação com o público muito rápida. A necessidade de criar conteúdo nas redes sociais confesso que me assusta um pouco, percebo que é mais fácil falar com mais pessoas, mas conseguir manter uma visibilidade e crescer em cima disso é mais difícil. Em relação a vendas, uma queda bem grande, a arte querendo ou não, no sistema econômico que vivemos quem compra é quem tem dinheiro, e com a pandemia trabalho está escasso então ninguém tem renda para contribuir no trabalho de um artista.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena – Quais os desafios de ser mulher e querer viver de arte no Brasil?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Lembro-me da primeira vez que fui ao MASP, logo quando entrei havia um poster enorme do grupo Guerrilla Girls (de Nova York) com um texto adaptado “as mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?” e logo embaixo dados afirmando que apenas 6% dos artistas do acervo em exposição eram mulheres (2017).

Como mulheres, não temos visibilidade, ainda mais na arte que temos pouquíssimas referências ao longos dos movimentos. Por exemplo, em 1909 foi lançado o “Manifesto Futurista” de F. T. Marinetti que fundamentou a vanguarda europeia “futurismo”, em que dizia em seu texto ”Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.”. Sabemos que a arte, assim como todas práticas intelectuais, sempre foram afastadas das mulheres mas, porque ainda não temos visibilidade até hoje?

A resposta é que homens amam homens, podem até ser heterossexuais mas pelo prazer sexual. Homens glorificam o mesmo sexo, não consomem conteúdos feitos por mulheres, tem apreço apenas ao que eles próprios fazem. Essa, na minha visão, é a maior dificuldade de ser mulher e querer viver de arte, não temos a representação e a fama que um homem teria fazendo a mesma coisa. Por isso acho tão importante o movimento de mulheres apoiarem umas as outras, pois outros não vão fazer isso por nós.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Alguns dos seus quadros trazem imagens de rostos, mãos e órgãos humanos. Num tempo de pandemia em que o corpo e a saúde viraram pauta de constantes sofrimentos físicos e mentais, de que tratam os corações da retratados na sua arte?

Laís Freitas (@aloisam_) –    A arte que faço é completamente minha, todas as faces mesmo que não sejam meu rosto, de alguma forma sou eu, assim como os corações e mãos. Minha última série “ilusão”, foi uma tentativa de me colocar em primeiro lugar, sem ter vergonha de mostrar fragilidade, por isso são todos autorretratos. Antes me escondia por medo de demonstrar sentimentos, tanto que publicava os quadros, mas não conseguia escrever sobre eles para explicar para o público o intuito do quadro.

Com muito esforço de passar por um processo de autodescoberta e aceitação, consegui parar de ter medo de demonstrar sentimentos através dos textos sobre os quadros. No primeiro quadro da minha série, que deu início a todos os outros, explico sobre essa “ilusão” de idealizar o sofrimento e até fugir dele, com medo da solidão. Mas a partir do momento que me permito sentir essa dor e percebo que faz parte do processo, essa solitude não incomoda mais, e até passo a gostar dela.

Para mim, o coração é o símbolo dos sentimentos e desse sofrimento. Demonstro as etapas da minha vida como as sensações que sentia no meu coração. Demonstrei ele pertencente a alguém, livre, sereno e também com fome.

Fonte: Arquivo Pessoal – @aloisam_

(En)Cena –   Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Laís Freitas (@aloisam_) –   Acredito que com essa pandemia, conseguimos ver ainda mais o que as mulheres passam em casa. As taxas de feminicídio só aumentam, relações abusivas disfarçadas de amor é o que mais têm. Que essa solidão que falei sirva de aprendizado, o sofrimento da cobrança em cima de nós é muito grande.

Revoluções assim, são de extrema importância. Todas entendemos o conceito de feminismo, ainda que tenha muito tabu em cima, devemos nos apoiar, creio que seja a única saída, o movimento de mulheres para mulheres.

Compartilhe este conteúdo:

Impactos políticos e psicológicos do discurso feminista

Compartilhe este conteúdo:

Recente palestra apresentada pela egressa do curso de Psicologia Lilian Julian da Silva Guimarães abordou a temática do Movimento Feminista, citando inicialmente as três e importantes Ondas que deram origem e força ao Movimento histórico, na qual cada fase termina sendo marcado por conquistas no âmbito intelectual, político e filosófico que compõem o Movimento, em um panorama de lutas. Assim, entre outros assuntos pertinentes a temática proposta, justifica como chegou a uma escolha pelo tema e ainda a influência da filósofa, escritora, professora e militante feminista brasileira Marcia Tiburi, que norteou seu Trabalho de Conclusão de Curso, além é claro de Beauvoir e Betty Friedan.

No livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, principal obra que marca a revolucionária caminhada rumo aos libertários direitos femininos, aos quais nós enquanto mulheres somos gratas a essa inquietante filósofa e escritora, as importantes conquistas para o nosso atual protagonismo feminino; ainda que seja necessário muitos avanços. De certa forma, enquanto mulher podemos nos sentir amparadas, e até mesmo reconhecidas em nossas angústias, ao nos deparamos com a célebre frase: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Nesse sentido, a palestra em sua maioria assistida por mulheres conseguiu trazer como pano de fundo o papel da mulher na atualidade e acirrar um debate sobre as disparidades, violência e desigualdades ainda presentes em uma sociedade impregnada pelo machismo.

Fonte: https://goo.gl/PFK2DC

Falou por exemplo que a primeira onda possui como marco a Revolução Francesa e a extensão do direito de voto. Na segunda onda, aparecem nomes importantes como Simone de Beauvoir (1908-1986) e Betty Friedan (1921-2006). Na terceira onda, historicamente reconhecida na década de 1990, marcada por questionamentos dentro do próprio movimento que permitiu uma importante redefinição das falhas dos movimentos anteriores, argumentando as diferenças e as condições étnicas e sociais, com intuito de negociar espaços e direitos de forma detalhada.

Além disso, adentrou assuntos como o protagonismo da mulher negra e lésbica, que não se sentiam contempladas no Movimento Feminista das primeiras fases, ou Ondas. Além disso, outra problemática apontada foi a influência desse movimento na vida do homem, como por exemplo, a perda de identidade e as vantagens desse movimento na vida deles. Importante lembrar que o movimento foi amplamente criticado por representar mulheres brancas e de classe alta, havendo de certa forma uma divisão dentro do próprio Movimento.

Foram ressaltados também aspectos culturais envolvidos nas questões de gênero, como a visão da mulher como o “sexo frágil”, a inversão objetal e as críticas ao feminismo. Ademais foram relatados aspectos que evolvem a mulher, seu corpo, o aborto, o mito da maternidade. Citando ainda Butler sobre as complexas estruturas que normatizam e reproduzem as questões de gênero que escreve em nossos corpos um discurso politico marcadamente violento e excludente de ser mulher.

Fonte: https://goo.gl/HYGKq1

O feminismo é um movimento político que tem buscado desde sempre, direitos iguais entre os gêneros; nesse contexto torna-se necessário trazer a tona um debate essencial para o entendimento de que vivemos numa sociedade patriarcal, ao qual Marcia Tiburi muito bem nos lembra, sobre o machismo presente nas mais simples e cotidianas relações às quais é marcadamente imposto pelas diferenças entre os gêneros, segundo ela, derivadas das crenças e também da cultura que é impregnada na história por um cenário discursivo e simbólico desse patriarcado, um legado que traz como centro o gênero masculino em detrimento do gênero feminino como segundo plano. Nesse ponto, incentivando para que a mulher tenha um lugar politico e de criação, sujeito histórico.

Marcia Tiburi apresenta o Feminismo como revolucionário, e nos alerta que a classe conservadora, os que têm medo da mudança, é essa sim que dizem que o feminismo é ultrapassado. Ela aponta o movimento como uma constante dialética, uma prática que é uma teoria e vice versa, sempre em voga e as pessoas devem se apropriar dele, nos fazendo pensar como uma grande questão que nos move. O feminismo é plural, e segundo ela, são muitos escapes que trazem à tona temas como gênero que hoje em dia de certa forma o sistema ainda esconde para que a mulher não perceba seu verdadeiro papel nesse contexto histórico.

Fonte: https://goo.gl/FpVMD5

O Feminismo é uma pergunta que devemos nos fazer: o porquê de tantos privilégios? E o porquê de manter uma sociedade de privilégios? Assim, Tiburi adentra a filosofia de Marx que aponta, sobre como percebeu as mulheres como sendo os proletários do proletário, observando no cerne da classe operária e proletária, o lugar que a mulher operária ocupava como subalterna, sofrendo mais que o homem operário. Devemos quebrar com essa opressão, e o Movimento é forte por lutar pela quebra do domínio patriarcado, e a lógica do machismo é sempre atacar o feminismo.

Dessa forma, foi um debate rico em questões atuais que envolvem a realidade que as mulheres vivenciam na sociedade. O debate contribuiu de forma significativa para o entendimento das questões de gênero, pois proporcionou um momento de reflexão sobre a temática. O Feminismo é uma ética, e historicamente todos os movimentos sociais estão de certa forma, interligados ao Movimento Feminista e suas reivindicações por direitos iguais entre os gêneros. Quando a mulher se auto-proclama feminista ela está marcando sua causa, seu lugar de criação que marca sua territorialidade, sua liberdade, e principalmente pela luta de tantas mulheres que foram e ainda são mortas todos os dias, nesse sistema institucional patriarcal.

Compartilhe este conteúdo:

Movimento pela vida – colocando vida no movimento

Compartilhe este conteúdo:

Imagine um encontro de pessoas, das mais diversas raças, cores e credos. Mas que, ao priorizar a vida, oferecem várias formas de vivê-la, em várias esferas: espiritual, artístico, científico, filosófico e – acima de tudo – humano. Assim foi a 15ª Edição do o Movimento Pela Vida, realizado em Palmas/TO, entre os dias 12, 13 e 14 de setembro de 2014, no Campus da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

Já na abertura, fomos abençoados e colocados em direção ao sagrado, seja Ele qual for. Estavam presentes representantes de mais de 10 religiões, e cada um, conforme sua espiritualidade “abençoou” o evento (o abençoar está entre aspas pois em algumas espiritualidades não se tem a crença da benção). As energias positivas estavam no ar, as vibrações entraram em sintonia, os espíritos da luz já haviam sido chamados… então iniciou o 15º Movimento Pela Vida.

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

No dia seguinte a programação seria vasta, muitas opções, ir em todas era impossível, confesso que me senti indeciso muitas vezes. Mas para ajudar a decidir, procurava alguma atividade que não era de meu costume, ou ainda não tinha tido oportunidade de participar. Com esse objetivo em mente, na primeira manhã joguei búzio e tarô e fiz uma consulta de radiostesia, que conforme as vibrações emitidas por meu corpo/mente fazia mover um pêndulo que me informava algumas coisas em relação a minha vida, saúde, amigos, casa, e outros. Para finalizar a manhã assisti um documentário, repleto de entrevistas, com as mais variadas pessoas dos mais variados âmbitos, tratando a respeito do Eu, da felicidade/tristeza, e propósitos da existência humana.

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

Só por essa manhã já teria valido a pena. Estava inquieto com os temas expostos. Mas voltando a mim, sai a tirar fotos pelo campus da UFT, até o almoço (gratuito). Isso é algo que quero enfatizar, O Movimento Pela Vida não cobra nada (R$) dos participantes. Mesmo com tantas opções e coisas para fazer, o número de participantes, a meu ver foi bem reduzido. Tinha filas para os atendimentos individuais, porém para as atividades em grupos não se fazia presente quantidades significativas de pessoas, com algumas exceções.

Continuando com minhas descobertas e aventuras, participei de uma oficina de teatro, onde descobri o teatro de Augusto Bual, que inspirado pela pedagogia do oprimido de Paulo Freire cria o teatro do oprimido, que antes que nada é a participação do público na peça, afinal de contas, o que seria do teatro sem o público? Descobrir essa técnica foi apossar-me de uma ferramenta a mais para minha futura profissão.

Como o tempo passa e com o término das oficinas, fui procurar outra atividade, me deparei com um tema ainda não muito conhecido nem explorado por mim, astrologia. Declaro que é necessário ter uma cabeça muita aberta para entender bem a astrologia. Talvez eu não tenha, não entendi com destreza. Pretendo pesquisar mais o tema (depois que passar as provas da faculdade).

Com a cabeça girando e o corpo também, me despedi desse dia. O dia em que decidir me movimentar pela vida. Algumas horinhas de sono, e… Bom dia! Amanheceu, fiz a rotina matinal e corri para o último dia do Movimento Pela Vida, este foi um dia… um dia… mágico, espiritual, humano.

Foto: Ruam Pedro Francisco de Assis Pimentel

Fiz massagem pela primeira vez na minha vida, e espero muito que não seja a última, pois é algo de outro mundo, só pode, e quero ir para este outro mundo novamente. Ao sair da sala de massagem me sentia em outra atmosfera, me direcionei ao Tai Chi Chuan, que pelo controle da energia e direcionamento da mesma, me senti vivo. Agora sim eu poderia afirmar que estava em outro mundo, ao término da atividade entrei num encontro que se apresentavam flautas xamânicas, algo inacreditável, sopros, sons, de natureza, de espíritos, o som do Sagrado. Estava praticamente em contato com o Sagrado depois de tudo isso.

Foto: Arquivo pessoal

Ao me dirigir para o refeitório, me deparei com uma oficina de circo, ali, digo que pseudoaprendia arte do tecido e do malabarismo com claves. Almoço. Conversa. Depois de ajudar a guardar as coisas do circo, fui para um encontro com o Islã, descobri mais dessa religião, desse modo de viver, e participei de seu momento em contato com o Sagrado. Momento incrível.

Assim foi minha participação no 15° Movimento Pela Vida. Espero participar de muitos outros “movimentos”!

Compartilhe este conteúdo:

Meditação em movimento como prática integrativa

Compartilhe este conteúdo:

Foto: Bia Cruvinel

 

Durante a IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica e Saúde da Família, em Brasília/DF, a instrutora, médica sanitarista, psicodramatista Carmem De Simoni apresentou a vivência Corpo e Movimento, com técnicas de relaxamento através da música e expressão corporal direcionada, desenvolvida pelo Sistema Rio Aberto.

O Rio Aberto é um sistema de técnicas psico-corporais, desenvolvido na Argentina nos anos 60 por Maria Adela Palcos. A prática, de acordo com Carmen, trabalha o acolhimento do sofrimento para o desenvolvimento do ser humano. “A ideia é que por meio do movimento e do desbloqueio das travas, que são dificuldades físicas e também energéticas que estão colocadas no corpo, o indivíduo consiga transitar por diferentes personagens”, comenta.

 

Foto: Bia Cruvinel

No trabalho de música e movimento, são utilizadas várias técnicas como trabalho sobre si – dinâmica grupal, encontro personalizado, encontro em grupo, massagens, dramatizações, trabalho com a voz entre outros. É possível mover as energias, travas e dar conta do sofrimento que o indivíduo possa apresentar.

O sistema Rio Aberto está incluído no sistema único de saúde no município de Campinas com mais de 40 grupos de vivência. Os benefícios das técnicas são físicos e psicológicos. De Simoni explica esses resultados: “observamos uma mudança na qualidade de vida de quem participa. Há maior autonomia e socialização, diminuição expressiva do consumo de hipnóticos que induzam ao sono, ou seja, os benzodiazepínicos e etc”. A psicodramatista também comenta que a médio e longo prazo, a pessoa vai obter a capacidade de meditar em movimento, “e quando se chega lá, é um lugar de puro prazer, alegria e saúde”, conclui.

Foto: Bia Cruvinel

Compartilhe este conteúdo: