O Tratamento do deficiente intelectual e múltiplo: um olhar profissional

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A primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) foi fundada em dezembro de 1954 na cidade do Rio de Janeiro, que na época era a capital do Brasil. Caracteriza-se por ser uma instituição responsável pelo cuidado com os deficientes intelectuais e múltiplos e tem como missão a promoção e articulação das ações de defesa de direitos e prevenção, orientação, prestação de serviços e apoio à família, direcionadas à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência e à construção de uma sociedade justa e solidária. O trabalho com os deficientes intelectuais e múltiplos é algo de extrema importância mas bastante negligenciado e desconhecido, devido às dificuldades e falta de conhecimento sobre essa área poucos profissionais decidem por essa atuação. Devido a sua importância porém pouca visibilidade decidimos entrevistar parte da equipe multiprofissional da saúde da APAE de Paraíso do Tocantins. Convidamos a Terapeuta Ocupacional Talita Dias, formada pela facudade PUC do Goiás, e ingressou no mercado de trabalho na área dos cuidados com pessoas especiais, através da Apae de Paraíso há mais de 10 anos, e no ano de 2022 abriu sua clínica particular Integrar Paraíso (@integrarparaiso) que é um Centro de Reabilitação Infanto Juvenil, composta por uma equipe multidisciplinar com o intuito de trabalhar com esse mesmo público. Também entrevistamos a Psicóloga Savanna Ferreira Dala, formada pela faculdade Ceulp/Ulbra de Palmas – TO, já trabalhou na Secretaria da Educação como Psicóloga Escolar e atualmente trabalha com o público de deficientes intelectuais. 

(En)Cena: Como vocês chegaram até a Apae?

Savanna: Quando eu cheguei na apae eu já tinha uns dois anos de formada e trabalhava na Diretoria Regional de Ensino, na parte de psicologia educacional.  Após perder o emprego, a presidente da época me convidou para vir trabalhar aqui, eu não conhecia o trabalho das APAEs e nunca nem tinha trabalhado com crianças especiais apesar de trabalhar na área da educação, era voltado para crianças de ensino regular. 

Talita: Me formei em Goiânia na PUC, após 6 meses que eu estava desempregada  recebi a proposta aqui de paraíso, na época eu nem sabia que existia essa cidade, eu vim através da Dona Daura que era presidente na época e isso já faz 16 anos. Eu costumo dizer que caí aqui de paraquedas, já conhecia o trabalho das APAEs através de estágios na faculdade mas nunca tinha tido um contato tão profundo. 

(En)Cena: Como funciona a atuação profissional na APAE?

Savanna: O trabalho da psicologia aqui é bem versátil, tem muitas áreas da psicologia aqui que a gente trabalha aqui dentro, dois exemplos que podemos citar é a psicologia escolar e clínica porque a gente trabalha com orientação de professores, a parte cognitiva das crianças, a aprendizagem e também questões emocionais, familiares, orientação de pais, entre outros. Já tentamos algumas vezes fazer grupo de pais mas não é algo muito fácil de ser realizado porque eles não aceitam e não aderem ao trabalho, às vezes vem e param de vir mas o foco acaba sendo também a família e não somente o aluno.

As crianças que têm o entendimento para trabalhar o emocional, atividades voltadas para o convívio social a gente trabalha e as crianças que não tem esse desenvolvimento cognitiva a gente acaba trabalhando esse desenvolvimento cognitivo de aprendizagem, raciocínio, atenção, concentração, muito voltado para essas duas vertentes, então depende muito do desenvolvimento e do comprometimento cognitivo de cada um, a patologia e o CID que cada um tem. 

Talita: Eu trabalho a parte cognitiva de forma lúdica, a reabilitação física de membros superiores e trabalho a parte de AVDs (atividades da vida diária). 

(En)Cena: Quais os maiores desafios que você enxerga em relação ao seu trabalho? 

Savanna: Eu vejo que uma grande dificuldade é a falta de aceitação dos pais em relação à realidade do filho, porque quando o pai aceita, adere e abraça o história do filho, vê as dificuldades que o filho tem, aceita que aquilo é uma realidade e que se não ajudarem a criança pode não evoluir, se eles aceitam temos um tratamento mais eficaz e uma evolução melhor, mas quando o pai não aceita encontra-se muitas limitações, tanto emocionais quanto de fazer o que se pede, porque precisamos lembrar que o tratamento não é só aqui dentro, muitas vezes orientamos a uma mudança de rotina ou uma atividade diferenciada em casa pra dar continuidade ao que é ensinado aqui, tem pais que fazem e abraçam e tem pais que não. Outra questão que eu vejo também é a frustração que temos como profissional, no começo eu ficava bastante assim, porque o paciente, algumas vezes, não tem a evolução que esperamos devido a patologia, muitas vezes o paciente consegue atingir algo em uma semana e na próxima semana ele já regrediu novamente e quando eu cheguei aqui eu me cobrava bastante achando que eu ficaria a vida inteira trabalhando a mesma coisa sem alcançar uma evolução mas depois eu comecei a entender que é uma área diferente de atuação dentro da psicologia, não é como trabalhar em uma escola regular ou atender um paciente na clínica particular com uma criança sem deficiência intelectual, é totalmente diferente e por isso a gente entende que qualquer ganho é positivo. Eu vejo também que por causa desses fatores para trabalhar aqui é necessário ter um gosto pelo trabalho porque se não, dificilmente o profissional vai permanecer. 

Talita: O maior desafio aqui na clínica são os pais que não ajudam, a equipe multidisciplinar na clínica orienta os pais a dar continuidade no tratamento dentro de casa, e consegue-se enxergar  nitidamente diferença  da evolução dos pacientes em que a família dá esses suporte daqueles que não possuem esse suporte familiar. Outra dificuldade que temos aqui é a questão financeira, porque às vezes precisamos de um equipamento, algo que é mais caro, mas que a instituição não pode comprar e acaba tendo que passar por licitações que acaba sendo demorado ou nem chega. Tem coisas que vão além do que fazemos aqui, um exemplo disso é o desfralde, eu não consigo trabalhar um desfralde sem a ajuda de um pai, ou a seletividade alimentar também, são coisas que não podemos fazer sem a cooperação dos pais no processo. 

                                                                                                                fonte pixabay

(En)Cena: Já aconteceu de um paciente estagnar nas respostas terapêuticas?, Se sim, como proceder? 

Savanna: Chegar ao ápice do desenvolvimento não é algo que acontece, o que pode acontecer é da família não aceitar que o paciente chega em uma certa idade em que ele não vai passar daquilo. Que ele já alcançou na parte cognitivo porque dentro da idade que ele possui para conseguir ir além. Vai ser em passos mais lentos do que já foi até o momento presente. Por exemplo às vezes o paciente tem trinta anos e não conseguiu falar, e a mãe quer que ele fale ou o responsável quer que ele leia, e o desenvolvimento cognitivo dele mostra que ele não vai ser capaz de ler fluentemente. Ele pode até reconhecer letras mas não consegue ler. Pode ser devido a idade ou questões cognitivas mesmo. Esse impasse existe muito e na maioria das vezes a família não aceita, então se a gente tira determinado paciente do tratamento para dar oportunidade para alguém que tem cinco anos de idade e que a gente sabe que vai conseguir desenvolver melhor porque ela ainda tem essa flexibilidade no cérebro de desenvolvimento. A elasticidade ainda está boa para aprendizagem e por isso ela vai conseguir e já um cérebro de trinta anos já se encontra com mais dificuldades, então acaba sendo melhor dar oportunidade para o paciente de cinco anos, sempre relacionando isso sobre as vagas, porque o atendimento na instituição é bem concorrido. Mas é claro que se pudéssemos atender a todos, essa seria a nossa opção. 

Outra coisa que a gente busca fazer é manter em sintonia com a área pedagógica da instituição, por que às vezes a professora vai conseguir evoluir com ele algumas coisas que seriam trabalhadas aqui com a gente, e isso acaba abrindo vaga para os novos pacientes aqui na clínica. 

Talita: Chegar ao ápice da evolução nunca aconteceu dentro da terapia ocupacional, o que aconteceu foi que o paciente conseguiu alcançar tudo o que eu tinha listado e de certa forma não tinha mais o que fazer. Teve um caso aqui na instituição em que a minha paciente já tinha alcançado tudo na parte sensorial, ela também tinha relações cognitivas para serem tratadasmas ela já estava em outra escola e instituições que trabalhavam as mesmas coisas, então para dar vaga pra outros eu acabei dando alta pra ela. Nesse processo a gente chama a família, orienta, explica os motivos da alta que estamos dando, isso acontece bastante nas crianças da estimulação precoce, quando elas conseguem alcançar os marcos principais como, subir escada, caminhar, correr, pular então nós chegamos nós pais e avisamos aquilo que ele já conseguiu fazer e damos alta orientando a família nos próximos passos a serem feitos.

(En)Cena: Quais os ganhos para vocês como profissionais trabalhando aqui na instituição?

Savanna: Na minha visão, vejo que abriu nossa mente para essa área do desenvolvimento, seja ele infantil, cognitivo, de que tem crianças lá fora que precisam da gente também. Tanto que acabei expandindo e abrindo um consultório particular nessa área.E aqui abriu muitas portas pra mim profissionalmente por que eu vejo que aprendi muita coisa que nem sabia que existia. E com o tempo eu aprendi coisas que não aprendi na faculdade, porque a gente acaba não aprendendo tudo lá, a gente fica mais no campo da teoria, mas na prática, a realidade é mais trabalhando mesmo e eu considero que eu fiz outra faculdade aqui. 

Talita: Entre tantas coisas que eu posso pontuar aqui, eu vejo que meu olhar clínico foi muito aguçado e melhorado ao decorrer dos anos., Hoje a gente  que trabalha nessa área da avaliação já consegue identificar com mais facilidade pessoas que possuem traços de atraso no desenvolvimento, claro que tem aquelas crianças que te deixam dúvida, mas a maioria dos casos é bem certeiro mesmo, e isso é muito bom até porque quanto mais cedo algo é identificado, mais cedo o tratamento pode ser iniciado e mais eficaz ele vai ser. Com todos esses anos aqui eu também tive meus olhos e desejo abertos para estudar mais esse mundo do autismo, que tem sido uma queixa que tem crescido cada vez mais. A gente acaba buscando muita qualificação fora da instituição, porque a gente sabe que muitas vezes a realidade da instituição não consegue proporcionar formações mais eficazes pra gente. muitas vezes por uma questão financeira mesmo, de tantas demandas. Eu estou aqui já há dezesseis anos e pra mim é quase uma vida e eu realmente pude aprender muito. 

                                                                                                                          fonte pixabay

Que dica você deixa para algum estudante ou  profissional formado que gostaria de seguir nessa área?

Savanna: Olha, eu digo que essa área é apaixonante para aqueles que pegam gosto, e essa área em especial não tem como ser feito sem amor, nao tem como fazer por obrigação ou pelo dinheiro, porque os desafios são diversos, não que em outras áreas de atuação não tenha desafios, mas quando se trata de crianças especiais a gente sabe que tudo tem que ser e dobro, a paciência, o amor, a dedicação. Então eu digo que primeiramente precisa existir um gosto mesmo pela área de atuação  para conseguir vencer todos os obstáculos que vem pela frente quando se decide por essa prática, é claro que eu também digo que é necessário, assim como todas as áreas de atuação dentro da saúde, buscar um conhecimento fora daquilo que é falado na faculdade, porque a gente sabe que o conhecimento que a faculdade nos passa é só a ponta do iceberg de um mundo de conhecimento que nós vamos precisar na hora da prática, então acredito que sempre buscar mais conhecimento é essencial também, e por último eu diria para não ter medo de praticar, sempre com muito respeito e zelo pela vida que está sendo confiada a você.

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(En)Cena entrevista a psicóloga Maria Aires Gomes Estevão de Souza

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O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense, que ocorrerá do dia 25/05/22, abordará diversos temas relevantes para o mundo acadêmico e profissional, dentre eles está a orientação profissional no transtorno do espectro autista, que será ministrado pela Psicóloga Maria Aires Gomes Estevão de Sousa, egressa do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.

Fonte: Arquivo Pessoal

Em entrevista concedida ao portal (En)Cena, a palestrante respondeu algumas perguntas sobre o universo da psicologia.

En (Cena) – Há quanto tempo atua no mercado como psicóloga? Quais são suas especialidades e áreas de atuação?

Maria – Atuo na área há 3 anos, sou especialista em TCC, e estou me especializando em Intervenção em ABA para pessoas com TEA e DI

En (Cena) – Qual foi o ponto crucial que te levou a escolher este tema para apresentar no 3º Simpósio de Avaliação Psicológica Tocantinense?

Maria – No momento na clínica o meu maior público de atendimento são crianças, adolescente e adultos dentro do espectro autista. Trabalho com grupos de Habilidades Sociais para Adolescentes com TEA.  E fazemos orientação profissional, por isso o tema escolhido

En (Cena) – Esse tema escolhido por você para apresentar no O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense, como ele está presente na sua atividade profissional?

Maria – É uma demanda crescente e carente desse atendimento especializado.

En (Cena) – Qual a importância da orientação profissional no transtorno do espectro autista?

Maria – O público do Espectro autista tem dificuldade quando se fala em reconhecer suas habilidades e competências, além das emoções. Aspectos essenciais na escolha da profissão que melhor se enquadra ao seu perfil.

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Um alerta sobre a Síndrome de Exaustão (Burnout)

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A leitura do livro Síndrome de exaustão Burnout nos leva a perceber o quanto o assunto é de extrema relevância no contexto social e profissional. A síndrome de burnout, em uma análise minuciosa evidencia-se através de uma série de aspectos a serem avaliados, visto a importância em analisarmos as próprias relações humanas, desde a maneira como nos relacionamos com o mundo, até a forma como lidamos com nós mesmos, as nossas fragilidades, nossas angústias e cobranças, inclusive o amontoado de sentimentos que carregamos ao longo da vida.

Os avanços da modernidade, as atualidades organizacionais, técnicas e tecnologias, ligadas ao aumento moderno e significativo do estresse ocupacional têm obrigado constantes adaptações das pessoas. Atualmente o estresse é reconhecido como um dos riscos ao bem-estar psicossocial do indivíduo, associado a alterações no estado de saúde (GUIDO et al., 2011).

Torna-se válido potencializar a percepção sobre como a humanidade tem vivido e criado hábitos próprios de lidar com as inúmeras demandas que a vida acaba exigindo diariamente de cada um de nós, e isto se mostra válido ao nosso trabalho, nossas demandas sociais e familiares. Observe abaixo alguns aspectos relevantes:

A despersonalização se torna uma tentativa de se defender da exaustão emocional, na qual esse indivíduo desenvolve uma insensibilidade emocional, de maneira que predomina a dissimulação afetiva, afastamento, impessoalidade, desinteresse, alienação e egoísmo. O fracasso profissional identificado pela auto avaliação negativa associada às próprias atividades laborais, implica sentimento de inadequação pessoal e profissional (FIGUEIREDO; SENTO SÉ; SILVA, 2017).

Fonte: encurtador.com.br/zLOZ4

Sabe-se que a síndrome de burnout é um distúrbio psíquico que ocorre a partir do momento em que a pessoa vivencia uma exaustão extrema no seu ambiente de trabalho, sendo que é possível analisarmos desde já os inúmeros aspectos que exigiram desde o princípio da humanidade que o homem fosse em busca de conquistar e desbravar o mundo na garantia por sobrevivência, todavia este mesmo trabalho não deve ser encarado sem que saibamos respeitar as nossas limitações físicas e mentais.

A realização da atividade profissional permeia dimensões físicas, sociais e emocionais que são propícios ao equilíbrio mental, satisfação e desenvolvimento de capacidades, no entanto também podem ser a causa de sofrimentos e esgotamento e que levam a alterações do estado de saúde do indivíduo (ALVES et al., 2014).

A fala do autor acima se mostra de grande relevância na discussão apresentada, visto que enquanto seres humanos acabamos nos esquecendo do quanto é importante vivenciarmos momentos de lazer, momentos em que apesar de termos de lidar com a necessidade de trabalhar por razões de sobrevivência, é preciso que saibamos o quanto as nossas relações com a família, amigos ou até mesmo com si próprio são fundamentais para o nosso bem-estar mental. Interessante nos atentarmos ao que o autor abaixo menciona:

Definida por um quadro de exaustão emocional. Sendo assim a primeira resposta causada pela sobrecarga de trabalho, conflito social e estresse decorrente das constantes exigências, o que pode acarretar, como estratégia de enfrentamento, o distanciamento emocional e cognitivo do profissional em relação ao seu trabalho (GASPARINO; GUIRARDELLO, 2015).

Atualmente deparamo-nos de maneira significativa com pessoas que trabalham horas exaustivas, em algumas situações, sem o mínimo de apoio para exercerem seus papeis e funções dentro do ambiente de trabalho. Para a maioria das pessoas, o ambiente de trabalho, pouco a pouco vai se tornando um lugar mais frequentado e vivenciado de maneira plena que o próprio lar, mas o artigo nos traz a discussão acerca de termos uma atenção especial para situações como esta.

Dentro desse contexto é preciso que saibamos o quanto é importante para o ser humano, uma compreensão satisfatória acerca das situações que podem ser uma ameaça significativa à sua própria saúde mental, e que saibamos priorizarmo-nos em situações como esta para que os sintomas não se tornem mais intensos e repetitivos. 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Autores: Michael Delbrouck

Editora: Climepsi

Idioma: Português

ISBN: 9727962289 9789727962280

Formato: Capa comum

Páginas: 270

REFERÊNCIAS

ALVES, A.P. et al. Prevalência de transtorno mentais comuns entre profissionais de saúde. Revista enfermagem UERJ, v. 23, n. 1, p. 64-9, jan/fev. 2015.

FIGUEIREDO, R.P. et al. Burnout e estratégias de enfrentamento em profissionais de enfermagem. Revista arquivos brasileiros de psicologia, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p. 130-145, 2017.

GASPARINO, R.C.; GUIRARDELLO, E.B. Ambiente da prática profissional e Burnout em enfermeiros. Revista Rene, v.16, n. 1, p.90-6, jan-fev. 2015.

GUIDO, L.A. et al. Estresse, doping e estado de saúde entre enfermeiros hospitalares. Revista da escola de enfermagem da USP, v. 45, n. 6, p. 1434-9, 2011.

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Acadêmicos tem capacitação a partir do Trilhas Psi 2018

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Todas as disciplinas do curso de Psicologia do ceulp/ulbra serão envolvidas na ação

Em virtude da multiplicidade de conteúdos abordados no curso de Psicologia e da necessidade de retomá-los constantemente para o aprimoramento da prática profissional, o colegiado do curso – sob a coordenação das professoras Dra. Irenides Teixeira e Me. Cristina Filipakis – resolveu oportunizar aos acadêmicos contextos para (re)pensarem os temas vivenciados nas disciplinas ao longo da graduação. Surge então o Trilhas Psi 2018, evento que ocorre de 05 a 10 de novembro e que pretende incentivar a autonomia dos acadêmicos, revisar conteúdos, bem como auxiliar na tomada de decisão com relação à carreira profissional. Tudo isso a partir de um grande movimento que o curso irá fazer tendo em vista a capacitação dos psicólogos em formação.

Programação referente ao dia 05 de novembro

Trata-se de projeto que visa proporcionar aprendizagem em relação aos conteúdos da graduação em Psicologia a partir de metodologias alternativas. Os professores de cada disciplina organizarão aulas que contextualizem os conteúdos abordados ao longo do semestre, utilizando-se de recursos metodológicos variados. Será oferecido aos acadêmicos a oportunidade de escolher quais trilhas de aprendizagem irão seguir, de modo que eles tanto poderão permanecer nas disciplinas nas quais estão matriculados quanto poderão se direcionar às demais. A carga horária total é de 12 a 30 horas, a depender de quantas oficinas o acadêmico participar.

De acordo com a coordenadora Profa. Dra. Irenides Teixeira, ‘além de oportunizar aos acadêmicos uma imersão nos conteúdos abordados no curso de Psicologia, o Trilhas Psi pretende se consolidar com um evento fixo para o segundo semestre letivo, bem como propiciar aos acadêmicos de início de curso uma visão dos conteúdos ofertados, e aos acadêmicos de final de curso auxiliar na tomada de decisão em relação à carreira profissional’.

Para participar, os acadêmicos devem se inscrever nas intervenções cadastradas – em torno de 40 -, de acordo com os dias e horários em que estão cadastrados. Eventuais dúvidas podem ser dirimidas diretamente com os professores, ou na coordenação do curso – prédio 2 do Ceulp/Ulbra.

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Minha jornada no SUS: de profissional a usuária

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Com o avanço na área da saúde brasileira advindo da criação do SUS, o país enfrenta, entre outros, dois grandes desafios a serem vencidos pelo próprio sistema: primeiro é a ampliação do acesso a suas ações e o entendimento por parte da população, de seu uso, fluxo e rotinas considerando os pressupostos da universalização das suas ações e serviços. Em segundo lugar, a ampliação dos processos formativos para uma melhor atuação dos trabalhadores e operadores do SUS junto aos usuários.

Para equacionar o segundo desafio, o Ministério da Saúde editou a Portaria nº 198/GM em 13 de fevereiro de 2004, instituindo a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor, considerando sua responsabilidade constitucional de ordenar a formação de recursos humanos para a área de saúde e de incrementar, na sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico, provendo políticas orientadoras da formação e desenvolvimento de trabalhadores para o setor, articulando os componentes de gestão, atenção e participação popular com o componente de educação dos profissionais de saúde.

Fonte: https://bit.ly/2talgZb

É neste contexto que me insiro como trabalhadora e operadora do Sistema Único de Saúde na gestão, de 1994 até 2016, acompanhando cada fase de sua constituição, seja representando os profissionais de saúde nos recém-criados Conselhos Municipais e Estadual de Saúde na década de 90, seja na gestão de serviços de saúde de município e estado, seja na gestão de politicas de saúde e no estabelecimento de redes de atenção junto a gestores municipais através de Comissões Intergestores Regionais.

Com o intuito de buscar um maior aprimoramento das ações por mim desenvolvidas, procurei acessar os dispositivos de educação permanente oferecidos pelo SUS através do Ministério da Saúde: ENSP/FIOCRUZ, ENSP/ ESPJV, OPAS/ UNODC, e da Secretaria Estadual de Saúde (ETSUS-TO)  em seus diferentes níveis  de capacitação (Atualizações, Formações, Especializações, MBA), não só para cumprir os requisitos da Lei 8080/90, mas sobretudo para empoderar o trabalho com conhecimento qualificado no arcabouço das tecnologias leves que o SUS oferece aos seus trabalhadores.

Meu primeiro contato com a Política de Educação Permanente do SUS aconteceu em 1995, quando foi ofertado aos técnicos, vários treinamentos para a atenção de pacientes com Diarreia e Infecção Respiratória Aguda (IRA). Desde então, vários outros treinamentos foram disponibilizados e em 1997 pude fazer minha primeira especialização em Saúde Coletiva, através de um consórcio entre Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde em Araguaína, Universidade Federal do Tocantins – UFTe Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ.

Fonte: https://bit.ly/2JORWCa

Após o término desta especialização, a Secretaria Estadual de Saúde e a ENSP/FIOCRUZ disponibilizou aos trabalhadores de Saúde Mental, o primeiro Curso de Especialização em Saúde Mental e Saúde Coletiva e fui selecionada para participar deste curso. Outros cursos se seguiram, tais como Curso de Especialização em Educação Permanente em Saúde (o primeiro do país, e que ocorreu em nosso Estado do Tocantins), e o curso para tutores em Educação Permanente todos capitaneados pela SES/ ENSP/FIOCRUZ, além de um MBA em Gestão de Projetos Governamentais SES/ PMI-GO/ UNITINS

Na área de Saúde Mental, pude fazer mais algumas especializações em Saúde Mental, Álcool eoutras Drogas pela UNODC/ MS/SENAD e por ultimo tive o privilégio de cursar a Especialização em Gestão de Redes de Atenção à Saúde que me proporcionou uma maior visão do campo de atuação dos profissionais no contexto da regionalização e na construção de Redes de Atenção à Saúde no Estado.

Neste sentido, percebi que os trabalhadores do SUS têm a oportunidade de se capacitarem de forma efetiva a partir de suas vivências no trabalho, aumentando o nível de capacidade técnica operacional dos serviços ofertados aos usuários dos serviços de saúde de forma universal, regionalizada e equânime.

Vale ressaltar que os processos formativos desenhados pelos dispositivos educacionais no SUS ocorrem de forma permanente e continuada, sem custo para os trabalhadores, visando uma maior troca de saberes entre as equipes, proporcionando a Inter e a transdisciplinaridade nos processos de trabalho, e contribuindo para o aprimoramento científico. Segundo Maturana (1997), “A ciência desempenha um papel central na validação do conhecimento em nossa cultura ocidental e, portanto, em nossas explicações e compreensão dos fenômenos” (p.256).

Fonte: https://bit.ly/2MD97UI

Finalmente, percebo que apesar dos grandes desafios que a efetivação do SUS impõe a todos os envolvidos no processo, as iniciativas operacionalizadas pelos profissionais de saúde através das instancias de gestão existente, faz com que esta poderosa política pública chamada SUS se imponha como uma das mais abrangentes e complexas politicas de saúde pública do mundo, na qual eu me beneficio tanto profissionalmente quanto como usuária de sua atenção nos mais diversos níveis.

REFERÊNCIAS:

BRASIL _ Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 198/GM Em 13 de fevereiro de 2004 Institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor e dá outras providências.

MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, p. 256. 1997.

http://conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8080_190990.htm, Acesso em 25/05/2018 às 23h 51m

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Ética em psicologia: uma apropriação

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Quando se fala de postura ética profissional de um profissional psicólogo, logo somos remetidos ao nosso código de ética, que mais orienta uma postura e uma atuação do que regulamenta leis e normas de conduta;já que este código nos acompanha desde a iniciação acadêmica.

 No que diz respeito a disciplina de ética e legislação no curso de psicologia hoje, tivemos contato direto com esse código e fomos levados a indagar a necessidade de um código que também orientasse a conduta de um acadêmico de psicologia. Esta orientação, desde a formação do profissional psicólogo, é de extrema importância, pois o acadêmico esta imerso em atuação desde o primeiro período do seu curso.

Fonte: https://bit.ly/2lfnKRW

Tão cedo este acadêmico vai ter contato com a realidade dos profissionais em suas diversas áreas e o código de ética do profissional, apesar de se preocupar em tanger também atuação de um acadêmico, ele não entra em linhas de discutir a sua atuação em todos os momentos do seu curso, é mais em linhas gerais. Então ter a quem ou a o que recorrer no momento de dúvida sobre como agir em determinadas situações faz extremo sentido quanto ao amparo desde psicólogo em formação.

No momento de discussão e da elaboração de um código de ética que orienta a atuação do acadêmico foi tocado, por diversas vezes, no assunto de quantas normas já existem hoje que orientam esse acadêmico na sua formação, mas que nem sempre há um contato com elas desde o início. O acadêmico entra na instituição muito perdido, são muitas informações, normas ao mesmo tempo que ele tem que se dar conta. Se adaptar ao formato da instituição nas suas burocracias, normas e diretos como também aos seus locais de estágio é sua realidade naquele momento.

Fonte: https://bit.ly/2HUDhiN

É importante também ressaltar a necessidade de que ter uma mistura dessas normas em um local acessível, de linguagem fácil que ajude esse acadêmico a ter noção do que diz respeito a ele na sua formação. Ele vai poder se orientar tanto nas vias institucionais, nas vias do seu próprio curso, atuação, direitos, normas, deveres, como nas orientações que serão voltadas exatamente ao seu dia a dia. E poder participar da construção dessas orientações vai empoderá-lo já de início nesta jornada.

Essa imersão do acadêmico vai gerar nele um sentimento de amparo, de ter um norteador desde o princípio e também vai acostuma-lo a estar sempre buscando orientar a sua atuação. Então esse contexto vai gerar profissionais mais conscientes da necessidade de buscar melhorar sempre e garantir que seja normatizado e executado tudo que está diante dele como dever, ou mesmo direito.

Isso garante um profissional mais preocupado com a situação da sua classe trabalhista, do que está bom e do que não está; vai gerar um profissional que queira participar das conquistas da sua classe tanto pela melhoria na sua profissão quanto na qualidade de serviço que estará sendo levada para seu cliente. E ele vai saber o quanto isso é importante para uma boa atuação. Ainda mais quando se trata de um profissional que visa saúde e bem-estar mental de indivíduos.

Fonte: https://bit.ly/2JIeC6S

Não estou dizendo que os profissionais já formados que não tiveram oportunidade de ter essa preocupação desde a sua vida acadêmica, seja um profissional despreocupado com a sua classe e com a sua orientação. Eu estou apenas ressaltando que acontece e muito de uma pessoa terminar a sua graduação, montar a sua clinica, seu local de trabalho, conquistar o seu espaço no mercado e se esquecer que faz parte de um conjunto de profissionais que são altamente influenciados pelo conjunto, no que diz respeito a psicologia como uma ciência nova.

Diante disso temos uma profissão hoje que está em ascensão, que está buscando ter seu espaço na sociedade. Empoderar seus profissionais, abrir caminhos e regulamentar uma serie de condutas ainda não exploradas, pois nosso objeto de estudo está em constante mudança. O homem está nessa mudança. Não podemos fechar os olhos para isso e fazer uma atuação imutável, que não acompanhe os processos que o homem, tanto individualmente como em sociedade está em constante mudança.

Como profissionais que visam a saúde, não podemos nos esquecer a importância que todo esse contexto tem na nossa atuação. Então gerar profissionais mais atentos a estas questões vai exatamente garantir uma nova atuação todos os dias. Novas modalidades, busca por melhoria, tanto na sua condição quanto na condição do seu paciente. E juntos teremos uma classe, tanto acadêmica quanto profissional que vai estar preocupada com esses pontos. Por isso é tão importante essa orientação desde o começo.

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Desafios éticos na ludoterapia

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A infância é um processo dialético, isto é, passível de transformações e mudanças, e para que ocorram essas modificações a criança passa por várias fases e em cada uma delas a mesma ocupa diferentes lugares nas relações humanas. (VYGOTSKI, apud ARCE, 2004). ALudoterapia é um procedimento psicoterápico para tratamento infantil, através da ação de brincar, usando brincadeiras, jogos, brinquedos, os quais a criança brincando projeta seu modo de ser.

O terapeuta observa e interpreta suas projeções para compreender seu mundo interno e a dinâmica da sua personalidade. O objetivo da ludoterapia é proporcionar um espaço de construção de novos significados das experiências vividas pelas crianças dentro de um processo de intervenção psicológica. O brincar da criança, de acordo com Vygotsky, possibilita a construção dos signos psicológicos, a apropriação do mundo externo e a construção da representação interna do meio externo.

O CEULP/ULBRA oportuniza o acadêmico de Psicologia entrar em contato com as práticas profissionais do psicólogo,para desenvolver a capacidade de observar, descrever, analisar, interpretar e orientar os problemas de origem psicológica, tais como: cognitivos, emocionais, comportamentais e ecológicos, visando abranger aspectos sócio-político-econômicos, dentro de uma formação generalista.

Fonte: https://bit.ly/2ynweQq

Ao início do processo terapêutico é esclarecido aos pais e responsáveis como se dará o acompanhamento da ludoterapia e como se trata a assistência dos estagiários com as crianças. É colocado que a sala tem um vidro onde todo o atendimento será observado por estagiário do CEULP/ULBRA e é firmado um combinado entre os pais e a professora orientadora quanto a presença das crianças e a procedência diante de faltas.

Também colocado à disposição dos pais a possibilidade de procurar professora orientadora para eventuais conversas sobre os filhos, bem comoencaminhamentos para grupo de orientação de pais, encaminhamento médico, tudo que vá promover a saúde e bem-estar destas crianças, como é previsto no código de ética do profissional psicólogo (2005, p. 8).

“Art. 1º – f) fornecer, a quem de direito, na prestação de serviçospsicológicos,informações concernentes ao trabalho a serrealizado e ao seu objetivo profissional; g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação e serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário; h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho; ”

Diante de identificação de casos violência, abuso ou quaisquer outros atos que comprometam a saúde física e mental das crianças, os alunos juntamente com a professora, não devem ficar alheios, fazendo a tomada de decisão de intervenção para o cuidado desta criança. É assegurado ao profissional psicólogo que faça uso de intervenções maiores, como intervenções judiciais e civis para denunciar os atos citados no artigo 2º do código de ética: “Art. 2º – a) praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizemnegligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão; ”.

Fonte: https://bit.ly/2JXzNBe

No final do semestre letivo é dever do acadêmico produzir um relatório para a instituição com base no que foi aprendido na prática pré-profissional. Este relatório deve respeitar o código de ética (2005, p.13) no que diz respeito ao sigilo profissional: “Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissionala fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidadedas pessoas, grupos ou organizações, a que tenhaacesso no exercício profissional. ”

Esta primeira experiência coloca o acadêmico a par da necessidade de respeito que cabe dentro da atuação clínica, mesmo que de início sua atuação tenha sido de observação, o acadêmico aprende a ter um olhar mais seguro de como deve agir dentro de uma psicoterapia em grupo e individual, pois a professora mostra em todos os méritos a melhor forma de agir diante dos casos. A mesma se preocupa com toda a organização do atendimento, desde a roupa que os acadêmicos estarão usando até o contato que eles terão com estas crianças. É uma oportunidade de experiência riquíssima que aproxima os acadêmicos da pratica profissional somado ao aprendizado da conduta ética que o profissional psicólogo deve ter.

REFERÊNCIAS:

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA.LEI NO 5.766: Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, 2005. 18 p. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf>. Acesso em: 06 set. 2016.

VIGOTSKY, L.S. A formação social na mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos. São Paulo: Martins Fontes, 1984

Ludoterapia como um Vygotskiano faz. Disponível em: <http://www.ipaf.com.br/arquivos/artigos/ludoterapia.pdf>. Acesso em: 7 set. 2016.

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O SUS e a formação profissional

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O presente relato é fruto de minha experiência no SUS (Sistema único de Saúde). Para início de conversa vou falar um pouco da formação acadêmica vivenciada na primeira turma de Psicologia do CEULP/ULBRA Palmas. Na grade curricular não existiam disciplinas diretamente relacionadas ao SUS. Apesar de o nosso curso ter se iniciado em 2000 a discussão sobre a formação dos profissionais de saúde é bem mais antiga.

A história começa há algumas décadas, pois a partir da instalação do Conselho Federal de Educação, fica definida a tramitação para a autorização de funcionamento dos cursos superiores. A Lei Federal n° 5.540, de 12/11/1968 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Superior), definiu o conceito de currículo mínimo, o que deu espaço para a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei Federal n. 9.394, de 20/12/1996. O currículo mínimo, em regime disciplinar, representava um conjunto de estudos e atividades correspondentes a um programa de formação que deveria ser desenvolvido seguindo critérios pré-fixados. Em 1997, em decorrência da nova LDB, esse arranjo disciplinar começou a ser revisto (CECCIM; CARVALHO, 2006).

Fonte: https://goo.gl/C7WCDt

Entre 2001 e 2004, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação da área de saúde, considerando as necessidades sociais da população, a integração com o SUS, a prevenção e promoção da saúde e a humanização, entre outros aspectos (CECCIM; CARVALHO, 2006).

A minha graduação se deu em 2005 e fui aprovada no mesmo ano em dois concursos públicos como Psicóloga, no Estado do Tocantins e no Município de Palmas. No Estado fui lotada no IML, onde já trabalhava antes como Assistente Administrativo. Na prefeitura primeiramente fui lotada em Taquaralto e depois na Policlínica do Aureny I. Essa unidade de saúde, ambulatorial de especialidades, já contava com psicólogos desde 1998. Essa experiência foi impactante, apesar de ter feito estágios numa unidade de saúde enquanto acadêmica, na função profissional fiquei muito perdida, pois tudo que tinha visto na faculdade era muito diferente dos desafios profissionais da minha realidade. Em Taquaralto eu dividia a sala com o serviço social e a passadeira, o armário não trancava, a mesa não possuía mais as gavetas, as cadeiras rasgadas, as paredes da sala contava com janelas de vidros enormes e não possuía cortinas, sendo atravessada pelo calor ardente do sol tocantinense. A fila de espera de pacientes para atendimento psicológico era tão gigantesca, sinceramente eu não soube o que fazer. A antiga psicóloga fui informada que teria levado os arquivos para casa por não ter onde guardar. Nessa situação eu pedi um prazo para iniciar e fui embora, fiquei com vontade de não voltar mais. Na verdade, não dormi a noite inteira.

No dia seguinte me ligaram dizendo que havia surgido uma vaga na Policlínica do Aureny I. Ao chegar à Policlínica havia um consultório apenas para psicólogo, uma das minhas professoras da faculdade, Kathia Nemeth Perez já atuava no local como psicóloga, me orientou no que eu precisava. Conseguimos montar um serviço que em menos de seis meses se tornou referência de atendimento ambulatorial para a Capital, havia diálogo entre as profissionais, porém vivíamos muitas dificuldades materiais, institucionais e profissionais. Um dos norteadores de nossa ação foi à criação de protocolos de atendimentos, que esclareciam as funções e metas do trabalho específico de psicologia na unidade. Em paralelo a esta atividade municipal, participei como representante do CRP-09 no Conselho Municipal de Saúde, como trabalhadora e esta experiência foi importante para consolidar minha compreensão do sistema único de saúde, vencendo embaraços, incompreensões e o movimento contraditório de várias tendências que discutem nessa instancia representativa de governo, usuários e trabalhadores, não somente toma ciência, mas delibera sobre as ações de saúde do município de Palmas.

Policlínica do Jardim Aureny I. Fonte: https://goo.gl/WMxUYz

Mesmo assim as dificuldades eram muitas e desafiadoras, por isso procurei me especializar, onde me dediquei a duas especializações, uma em Saúde Pública com Ênfase em Saúde Coletiva e da Família pelo ITOP e outra em Processos Educacionais em Saúde, pela FIOCRUZ.

Permaneci na prefeitura durante três anos, concomitante ao trabalho desenvolvido no IML como psicóloga. Por motivos pessoais houve uma mudança de município para Gurupi e no novo local, optei em pedir a exoneração do cargo da prefeitura. Quanto ao Estado foi possível uma transferência e fui lotada no Hospital Regional de Gurupi.

No novo município participei de uma seleção para professor na UNIRG e me tornei professora das disciplinas de Saúde Pública, entre outras. Na área hospitalar a partir dessa nova experiência em Gurupi, procurei e realizei diversos cursos de formação. Permaneci em Gurupi de 2008 até o ano de 2017.

Ao retornar para Palmas no ano de 2017, fui lotada pelo Estado no Hospital Infantil de Palmas, onde permaneço atuando como Psicóloga e participei de uma seleção para preceptor do PET (Programa de Educação pelo Trabalho). Nos dias atuais faço parte do grupo de psicologia (no PET) e no ampliado da região Xerente. Espero ainda poder contribuir com o SUS, nas atividades atuais no nível hospitalar público e com o PET, pois o SUS para mim é o melhor sistema de saúde, apesar de necessitar de muitos ajustes do setor governamental.

Fonte: https://goo.gl/wVPSMD

REFERÊNCIAS:

 BRASIL, Ministério da Educação. Lei n° 9.394/1996. Estabelece as diretrizes e Bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em: 02 Jan. 2018.

CECCIM, R. B.; CARVALHO, Y. M. Ensino da saúde como projeto da integralidade: a educação dos profissionais de saúde no SUS. In: PINHEIRO, R.; CECCIM, R. B., MATTOS, R. A. (Org.). Ensinar Saúde: a integralidade e o SUS nos cursos de graduação na área da saúde. 2.ed. Rio de Janeiro: IMS/UERJ: CEPESQ: ABRASCO, 2006. p.69-92.

 

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Visita ao IPUB e as Novas Abordagens em Saúde Mental

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Dos dias 01 a 03 de Junho, juntamente com os demais membros da equipe do (En)Cena, tive a oportunidade de cobrir o III Fórum Internacional Novas Abordagens em Saúde Mental, na capital do Rio de Janeiro. O evento, em parceria com a UFRJ, contou com congressistas internacionais, diversos palestrantes e também usuários dos serviços.

O último dia do Fórum foi realizado no IPUB/UFRJ (Instituto Psiquiátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e consistiu principalmente em apresentações de trabalhos. O (En)Cena apresentou quatro trabalhos em diferentes ambientes durante o dia, todos com recepções muito positivas por parte dos ouvintes, que se demonstraram surpresos com o tamanho do Portal e seus conteúdos.

Foi intensamente gratificante ouvir um comentário de uma das participantes do evento, nos dizendo que o Portal é parte das novas abordagens às quais o Fórum se dedicou. Esse tipo de reação nos confirmou o que acreditamos para o nosso trabalho: trabalhar com Saúde Mental de forma inovadora, promissora e criativa. Após uma de nossas apresentações, cujo tema foi o “Impacto da Pós-Modernidade na Saúde Mental de Jovens”, pudemos discutir com psicólogos de vários estados, questões psicológicas e sociológicas da atualidade e sua influência nos indivíduos.

Ao assistir a apresentação do trabalho “A Assembleia do CAPS como dispositivo de Reabilitação Psicossocial”, apresentado pela psicóloga paranaense Dafne Boni, não pude deixar de me lembrar dos meus estudos em Psicologia Comunitária e me surpreender com o vigor da psicóloga ao instaurar a assembléia com os usuários do CAPS onde trabalha. Medidas como a adotada por Dafne são fundamentais para se pensar Saúde Mental, pois valorizam os usuários com projetos pensados de acordo com suas demandas, e construídos com as suas vozes.

Conversar com profissionais da Saúde Mental de todo o país e notar seu engajamento foi muito proveitoso, pois em nossas conversas ocorreram trocas de ideias, sugestões, compartilhamento de demandas e conhecimentos. Saber das diferentes realidades de outros lugares nos possibilita vislumbrar o panorama nacional e formular objetivos conjuntos. Ver as pinturas e ilustrações nas paredes do IPUB e ter contato com os usuários e profissionais com realidades tão diversas, me fez pensar quantas vozes já haviam passado e passarão por aquele lugar. Creio que todas devem ser ouvidas, e fico feliz em saber que elas têm muito a dizer.

Essa viajem e experiência foram de grande importância para minha formação profissional e pessoal. A equipe do Portal conseguiu apresentar os trabalhos de forma harmônica e competente, pudemos aprender várias novas técnicas, e acima de tudo nos propor novos desafios. Minha visita ao IPUB me proporcionou novos conhecimentos e emoções, e certamente não será esquecida.

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