Abertura do CAOS 2021 aborda atuação da Psicologia na tragédia de Brumadinho

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Teve início na manhã desta quarta, dia 3, a 6ª edição do CAOS – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia, com o tema “Psicologia e Atuação Psicossocial em Situações de Emergência”, um tema que gerou muita expectativa ao ser divulgado. O esquenta cultural que começou as 08h45 dessa manhã de quarta-feira teve muita música com Victória Cardoso, e a cerimônia de abertura contou com a participação do Reitor Marcelo Müller, o pastor Heitor Stahnke e a coordenadora do curso de psicologia Dra. Irenides Teixeira.

Fonte: Divulgação CAOS

A palestra que tratou do Impacto na Atenção Psicossocial e Saúde Mental da População de Brumadinho Após a Tragédia, contou com a brilhante apresentação do especialista em saúde mental e Mestre em estudos psicanalíticos Bernardo Dolabella Melo e mediação do Prof. Me. Sonielson Luciano de Sousa, e foi transmitida pelo Youtube no canal do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.

A tragédia que aconteceu em Brumadinho, no ano de 2019, não foi só um desastre ambiental, mas o maior acidente de trabalho no Brasil e tirou a vida de 264 pessoas e outras continuam desaparecidas. O rompimento da barragem da Vale S.A. teve impacto na economia, no abastecimento de água da região e impactos ambientais gigantescos, principalmente no Rio São Francisco e Paraopeba que mesmo após um ano continuam contaminados, mas o impacto social se sobressai, regiões inteiras tiveram que ser evacuadas e muitas pessoas perderam tudo que tinha, isso impacta diretamente na visão de futuro das pessoas, saúde mental e do senso de comunidade.

O Me. Bernardo Dolabella começou a palestra com uma introdução a história da psicologia dos desastres e emergências, uma área relativamente nova da psicologia que mostra como deve ser a atuação dos profissionais de psicologia nesses casos. Os estudos sobre os eventos de desastre e emergência são aproveitados para que os profissionais e a população estejam cada vez mais precavidos em eventos futuros, como disse o palestrante: “Todo caos gera um aprendizado”.

Fonte: CAOS

Durante a apresentação os participantes do congresso comentavam no chat, fazendo pontuações e questionamentos sobre o assunto. Isso ocorreu durante todo o evento, e o professor se mostrou disponível para esclarecer as dúvidas, que foram muitas já que ele participou pessoalmente do acidente em Brumadinho juntamente com uma equipe de 40 psicólogos voluntários. Segundo o Me. Bernardo Dolabella o principal objetivo dos psicólogos(as) nesses casos é oferecer um espaço para as pessoas depositarem suas dores e incentivar o resgate da autonomia.

O primeiro evento do CAOS resumiu bem o clima do congresso, assuntos muito interessantes, alunos e professores engajados em trabalhar juntos para compartilhar conhecimento, uma grande satisfação com a oportunidade de ter contato com essa área da psicologia que é tão importante atualmente e a empolgação para os demais eventos da semana. Para se inscrever basta entrar no site e seguir a programação.

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A eletroconvulsoterapia em pauta: o cérebro como fetiche

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Dias atrás, no meu percurso cotidiano, passei em frente a uma banca de jornal e notei algo que não havia notado até então: uma fileira de 12 revistas expostas, todas se referindo ao tema cérebro e, quase todas, expunham na capa uma imagem do cérebro. Imediatamente me veio à memória o que aquela mesma banca expunha há cerca de 20 anos atrás: os corpos nus das mulheres. Reflito então: o que aconteceu nos últimos 20 anos que fez com que o cérebro fosse exibido nesse lugar de fetiche?

Não é novidade a tentativa de encontrar uma relação direta entre nossa psique e a estrutura ou funcionamento do cérebro. O tema já aparecia nas discussões filosóficas de Platão e Hipócrates, mas que no século XIX que surge uma ciência do cérebro, o marco teria ocorrido em 1810, com o médico anatomista e fisiologista Franz-Josef Gall e sua cranioscopia: um método de investigação que concebia uma correspondência direta entre protuberâncias e depressões do crânio e do cérebro. Tal método abre o caminho para a frenologia, uma teoria que supunha ser possível analisar as faculdades mentais de um indivíduo por meio da inspeção do seu crânio. No auge desta teoria, o frenologista Alexandre David afirma ter descoberto no desenho da cabeça de Descartes todas as faculdades intelectuais, perceptivas e individuais responsáveis pela filosofia do pensador.

Temos assim, que a procura por compreender o cérebro e ser capaz de relacioná-lo com nosso componente psicológico não é nova, todavia, os aparatos tecnológicos capazes de tornar o cérebro vivo um objeto da ciência, só surgem nas últimas décadas. O termo neurocientista, por exemplo, se estabelece na década de 1990, que é, inclusive, chamada de “década do cérebro”, e se caracteriza por grande investimento em pesquisas nesse âmbito. O surgimento das tecnologias de exames por imagens alimentaram a fantasia de que observar o cérebro pensando, seria o mesmo que alcançar o pensamento em si, como se o pensamento fosse uma espécie de secreção do cérebro.

Fonte: https://bit.ly/2RXCmTO

Chegamos assim ao sujeito contemporâneo, o “sujeito cerebral”, a figura antropológica que incorpora a ideia de que o ser humano é essencialmente reduzível a seu cérebro. Já o termo “neurocultura” é cunhado para explicar o impacto social que o desenvolvimento das neurociências provocou na ciência, na filosofia, na medicina, na educação, na mídia, nas políticas públicas, na arte, ou seja, em todos os campos da cultura, dando ao cérebro um lugar privilegiado.

Um bom exemplo da proporção que essa neurocultura alcançou é notado num programa vespertino de TV da Rede Globo – Encontro com Fátima Bernardes – no qual participa diariamente um médico neurocientista e neurocirurgião, que se dispõe a explicar ou abordar, qualquer tema ali tratado, sob a ótica das dinâmicas neuroquímicas e cerebrais. Numa delas, por exemplo, “o doutor” se dispõe a explicar as fases de um relacionamento amoroso e possíveis modos de fazê-lo “dar certo”, utilizando explicações neuroquímicas. Sob tal ótica, o cérebro não é um órgão objeto da ciência biológica, mas num ator, um agente social, o que torna possível tratar dos entraves das relações amorosas por meio de explicações do funcionamento cerebral. Em última análise, nossos cérebros é que amam ou não amam.

Assim, a cerebralidade parece ser um resultado natural do progresso da ciência e das tecnologias utilizadas para pesquisar o cérebro, no entanto, é preciso compreender o quanto ela pactua com uma ideologia individualista de saúde mental, muito própria da contemporaneidade, no qual tratar-se significa se tornar uma espécie de empreendedor de si mesmo. A popularização das terapêuticas comportamentais e das ferramentas coaching, por exemplo, seguem nessa direção. Apartados de uma noção de coletividade, mergulhados num individualismo narcisista e numa política econômica neoliberal, que defende e valoriza a meritocracia, adotar a ideia de que qualquer fracasso ou dificuldade que uma pessoa enfrente possa ser localizado em seu cérebro, cumpre duas funções ideológicas importantes: oferta respostas individuais para problemas que seriam do laço e do contexto social, e promete, com mais presteza, rapidez e eficiência, indicar os reparos necessários ao cérebro-sujeito.

Fonte: encurtador.com.br/IJKS9

Obviamente, que essas duas concepções, quando associadas, abrem um mercado consumidor importante para as terapias do cérebro. A multiplicação de diagnósticos e medicamentos psiquiátricos se alimenta de tal lógica, mas há outras que também se dispõem a atuar na estrutura ou bioquímica cerebral, tal como a eletroconvulsoterapia, estratégia que tomou à cena nas últimas semanas depois de ser citada, numa nota técnica, como recurso terapêutico indicado dentro das novas diretrizes da política de saúde mental.

O eletrochoque no Brasil – o nome originário dessa terapêutica – se tornou um método historicamente condenado, com o advento dos movimentos para garantia de direitos dos doentes mentais e o fim dos manicômios, atrelados ao movimento da reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial. No entanto, tais procedimentos, animados pelo avanço das neurociências, ressurgem com novas denominações, uma roupagem mais humanizada e critérios de indicação mais rigorosos.  A promessa é intervir diretamente no cérebro, a fim de tratar sintomas psiquiátricos graves, persistentes e refratários a outros recursos terapêuticos.

Sem entrar da discussão da eficiência ou não de tal ferramenta em alguns casos pontuais e específicos, onde o risco seja menor que o dano, o mais importante é perguntar: em se tratando de política pública, qual o real impacto que uma tecnologia tão restrita dessas trará para o campo da política de saúde mental? Quem compreende a lógica do SUS e da medicina sanitária que lhe respalda, sabe que investir em tecnologias mais básicas e de maior amplitude de alcance, são muito mais eficazes do que investir nas tecnologias mais complexas e especializadas, além de serem muito mais baratas e de produzirem efeito em cadeia e de longo prazo, pela mudança de cultura e pela formação de compromisso com o coletivo. Nessa lógica, investir em grupos de orientação e em programas de atividade física para hipertensos, por exemplo, é muito mais eficaz do que equipar hospitais para realizar cirurgias cardíacas, e ainda, quanto mais investimos no trabalho de atenção comunitária, tanto menos unidades especializadas em emergência cardíaca serão necessárias.

Fonte; https://bit.ly/2tlW7KY

Sendo assim, resgatar a eletroconvulsoterapia dentro da política pública de saúde mental sem uma discussão ampla – um método historicamente comprometido com as atrocidades de um passado manicomial que ainda tem feridas abertas – já seria controverso apenas por um motivo: por desrespeito ao movimento de luta antimanicomial, um movimento de trabalhadores, usuários e familiares de saúde mental que desconstruiu o modelo desumano dos manicômios, abrindo outro modo de olhar para a doença mental. Além disso, trata-se de uma tecnologia muito especializada que não trará nenhum impacto realmente importante para o campo da saúde mental, nenhum efeito de saúde coletiva, nem de mudança de cultura, ou de aprendizagem social. A eletroconvulsoterapia é apenas resultado desse nosso fetiche pelo cérebro, que produz um tipo de política de saúde mental que não  se interessa por pela promoção de saúde comunitária, pelo cuidado psicossocial, pela inserção social, pela a redução de estigmas ou pelo apoio as famílias.

A grande sacada da política não manicomial – e isso não significou apenas desconstruir o manicômio – foi entender a doença mental como uma questão de responsabilidade coletiva, partilhada, como algo que se instala no laço entre as pessoas e não dentro delas. Tanto é assim, que uma característica peculiar da doença mental é que ela precisa do outro pra existir. Sem o outro, o sintoma do doente mental não seria identificado, por isso, a recusa social e o isolamento é sempre uma constante nesses casos, especialmente nos mais graves. Sob a ótica psicossocial, a doença mental é uma ferida do laço que nos une aos outros, é um desencontro de linguagem, é uma deficiência de afeto. Nesse caso, as terapêuticas que atuam na organicidade dos sujeitos são apenas coadjuvantes no processo de tratamento, o mais importante será restaurar o laço e a comunicação do sujeito com aquilo que ele ama ou deseja. Uma política de saúde mental não manicomial é aquela compreende que uma pessoa adoecida não tem um cérebro doente, ela está com seus laços e vínculos doentes; seu cérebro pode sofrer os efeitos disso, mas não é o local onde se atua terapeuticamente.

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Inscrições para o 6º Congresso de Saúde Mental Reabertas

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O adiamento para setembro não tira nosso ânimo. Faremos um Congresso cidadão, em defesa de uma Saúde Mental Coletiva e uma Rede de Atenção Psicossocial de boa qualidade e digna de um Sistema de Saúde voltado para a integralidade, a equidade e com acesso universal. Nosso Congresso reveste-se de especial importância por ser em Brasília, em ano eleitoral e em um momento em que uma série de retrocessos favorece interesses privatistas e de uma ideologia ultrapassada, privilegiando a exclusão de pessoas com problemas psíquicos, a volta dos manicômios, as comunidades terapêuticas e facilitando a priorização de procedimentos invasivos, como o eletrochoque e a lobotomia, na contramão dos Direitos Humanos e da Lei 10.216/2001. A precarização do trabalho e o desfinanciamento do SUS completam este quadro nefasto. Mas vamos continuar nos contrapondo a estas adversidades. Continuaremos fazer ouvir a nossa voz. SUA PARTICIPAÇÃO É IMPORTANTE. TODOS A BRASÍLIA!

MANTENHA SUA INSCRIÇÃO OU INSCREVA-SE! Através da página http://www.congresso2018.abrasme.org.br/

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Desigualdades Sociais e Saúde: um panorama inconveniente

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A obra “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à  saúde“ (Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009), da médica Rita Barradas, com experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, é organizada em seis capítulos, que apresentam informações detalhadas, baseadas em pesquisas e estudos quantitativos, sobre como a desigualdade social faz mal à saúde e o por que da sua ocorrência.

As desigualdades sociais são amplas e envolvem as desigualdades de classe social, de raça ou etnia e de gênero. Sendo um livro que contém dados quantitativos sobre os fatos é possível ser comprovado as hipóteses do senso comum e se surpreender com outras, como riqueza e bem-estar não é necessariamente uma relação mútua. O livro retrata  sobre  os impactos que essas desigualdades causam na saúde (patologias causadas pela insalubridade, pelo estresse, pela falta de informações entre outros fatores).

Fonte: encurtador.com.br/msvT0

O primeiro capítulo tem como título: ‘O que queremos dizer com desigualdades sociais em saúde?’. Desigualdades sociais, nesse contexto, são diferenças no estado de saúde entre grupos definidos por características sociais, tais como riqueza, educação, ocupação, raça e etnia, gênero e condições de local de moradia ou trabalho. A palavra desigualdade está se referindo às situações que implicam algum grau de injustiça, isto é, diferenças que são injustas porque estão associadas a características que sistematicamente colocam alguns grupos em desvantagem com relação ao acesso à saúde. Em todas as sociedades as situações de risco, dos comportamentos relacionados à saúde e o estado de saúde física e mental tendem a variar entre os grupos sociais, existe um gradiente entre as posições sociais e os efeitos sobre a saúde e não há um limiar a partir da qual as diferenças desaparecem.

Na falta de uma teoria, tenta-se explicar as desigualdades sociais em saúde de maneira relativamente simplista. Como a explicação de que os serviços à saúde é diferenciado para os vários grupos e, portanto, os efeitos são decorrentes de problemas na utilização dos recursos disponíveis, mas esta explicação é derrubada pela constatação de que as desigualdades não desaparecem países em que existe sistemas nacionais de saúde com garantia de acesso universal para todos os grupos sociais. Esta e outras explicações, como: a doença como principal determinante da posição social, estilo de vida e explicações baseadas em fatores genéticos não são válidas para compreender as desigualdades sociais em saúde e deixa clara a necessidade de estudos que possibilitem a compreensão desse fenômeno.

Há quatro teorias principais que visam fornecer elementos para compreensão do processo de produção da saúde e da doença e seus reflexos sobre a distribuição do estado de saúde na população. A teoria mais antiga e mais facilmente aceita é a estruturalista ou materialista, que confere maior importância à estrutura econômica da sociedade. De acordo com ela o montante de renda ou riqueza dos países grupos sociais dos indivíduos é o principal determinante do estado de saúde, a falta ou insuficiência dos recursos materiais para enfrentar de modo adequado os estressores ao longo da vida acaba por produzir a doença e diminuir a saúde, essa teoria é capaz de explicar a grande parte das desigualdades mas tropeça diante do paradoxo de que nem sempre a riqueza de um país vem acompanhada de melhor nível de saúde.

Fonte: encurtador.com.br/beCFK

Outra teoria desenvolvida para enfrentar o paradoxo entre riqueza e nível de saúde é a psicossocial. Ela dá mais importância à percepção da desvantagem social como fonte de estresse desencadeador de doenças. Na América Latina a discussão sobre as desigualdades sociais vem sendo feita principalmente à luz da teoria da determinação social do processo saúde-doença. Essa teoria analisa a constituição do próprio sistema capitalista com ênfase aos mecanismos de acumulação do capital e à distribuição de poder, prestígio e bens materiais deles decorrentes. A posição de classe e a reprodução social passam a ser vistos como os principais determinantes do perfil de saúde e doença.

E por fim a teoria ecossocial que chama a atenção para processos de incorporação pelos organismos humanos dos aspectos sociais e psíquicos predominantes no texto nos quais os indivíduos vivem e trabalham, esta teoria considera impossível a separação entre o biológico, o social e o psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/efOR5

As quatro teorias apresentadas compreendem o processo saúde-doença como intrinsecamente histórico, isto é, determinado pelas condições estruturais e conjunturais em que vivem as populações humanas. As relações econômicas, sociais e políticas afetam a forma como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e, desse modo acabam por moldar os padrões de distribuição das doenças, sendo assim toda e qualquer doença e sua distribuição populacional produtos da organização social, o que significa que todos devem ter acesso e utilizar os serviços indispensáveis para resolver as suas demandas de saúde, independente do grupo social ao qual pertençam, e aqueles que apresentam maior vulnerabilidade em decorrência da sua posição social devem ser tratados de maneira diferente para que a desvantagem inicial possa ser reduzida ou anulada.

No segundo capítulo fala sobre a posição social, de acordo com a concepção de Marx, e Weber e seus reflexos sobre a saúde. As explicações sócio-históricas das desigualdades em saúde baseiam-se na ideia de que saúde é um produto social e algumas formas de organização social são mais sadias do que outras. Assim, os mesmos processos que determinam a estruturação da sociedade são aqueles que geram as desigualdades sociais e produzem os perfis epidemiológicos de saúde e doença. Conceito-chave nessas abordagens é o processo de reprodução social que por sua vez implica a reprodução de diferentes domínios da vida como a reprodução biológica do indivíduo o das relações com o ambiente e o da cultura.

Fonte: encurtador.com.br/qGMY1

Todos esses processos produzem impactos sobre a saúde e a doença dos indivíduos, cujo resultado final será a preservação da saúde, a ocorrência da doença ou agravos à saúde. Na concepção marxista as classes sociais são definidas como grandes grupos de indivíduos que se diferenciam entre si pela posição que ocupam no sistema de produção historicamente determinado, pelas relações que estabelecem com os meios de produção, pelo papel que desempenham na organização social do trabalho e pelo modo como se apropriam de parte da riqueza social.

O conceito engloba as dimensões econômicas, sociais jurídicas, políticas e ideológicas. O conceito de classe social é importante para que possam pode ser identificados grupos definidos a partir de seus vínculos sociais estruturais que são os determinantes mais imediatos das condições de vida das famílias e, portanto, da situação de saúde dos indivíduos.

Na concepção weberiana a posição social dos indivíduos decorre da classificação segundo três dimensões: classe econômica, prestígio e poder político. Os estratos sociais são compostos por indivíduos que compartilham determinadas características de inserção econômica (ocupação), prestígio social (escolaridade) e poder ou riqueza (renda), características essas utilizadas para alocá-los em uma escala ou gradiente de valores crescentes ou decrescentes.

As desigualdades sociais em saúde podem se manifestar em relação ao estado de saúde e ao acesso e uso de serviços de saúde para ações preventivas ou assistenciais. Na população brasileira segundo dados da pesquisa Mundial de Saúde a auto avaliação do estado de saúde varia marcadamente com o nível de escolaridade, a prevalência de doenças crônicas também varia com os anos de escolaridade após ajuste por idade. E uso de serviço de saúde também é influenciado pelo grau de escolaridade mas as diferenças são muito menores a criação do Sistema Único de Saúde possibilitou o acesso para a grande maioria da população brasileira.

Fonte: encurtador.com.br/hsA19

A análise dos eventos de saúde em relação ao local de moradia tomando o espaço geográfico como um indicativo das condições de vida da população que nele reside mostra que os indicadores socioeconômicos dos países têm impacto sobre o nível de saúde da população. As desigualdades sociais em saúde repetem-se também no interior dos países em suas regiões e cidades. Há um nítido gradiente de mortalidade infantil que acompanha o PIB per capita em cada capital brasileira, mostrando que quanto maior riqueza menor a taxa de mortalidade infantil.

A posição social dos indivíduos e grupos sociais, medida por indicadores de classe social, variáveis isoladas como escolaridade e classes ocupacionais, ou a partir das condições de vida em determinados espaços geográficos, é um poderoso determinante do estado de saúde das populações, atuando sobre o perfil de morbidade e mortalidade e também sobre o acesso e utilização dos serviços de saúde. Há inúmeras investigações científicas demonstrando a existência das desigualdades sociais em saúde buscando modelos de interpretação para as mesmas, procurando entender os processos sociais e processos mediadores entre as condições concretas de vida e a saúde no âmbito populacional.

Neste capítulo (Ser rico faz bem à saúde?), o terceiro, Barata adentra a correlação comumente feita seja de que a riqueza traz mais qualidade de vida a partir do pressuposto de que se pode evitar situações como fome, doenças atribuídas a pobreza e a morbidade em geral, as pesquisas em diferentes países indicam que uma coisa não necessariamente está atrelada a outra, pois as correlações não indicam necessariamente causalidade.

As comparações seriam viáveis, no entanto, se existissem no âmbito de análise que se restringe apenas aos países desenvolvidos, onde o índice de riqueza absoluta atesta para as necessidades sociais básicas como atendidas. Em 1980, Wilkinsons demonstrou, após pesquisar nove países desenvolvidos, que menores taxas de mortalidade infantil estavam mais ligadas a uma boa distribuição de renda do que, de fato, PIB per capita. Outros estudos mostram que embora o nível de satisfação e bem-estar geral aumente com o acúmulo de riqueza no país, estes níveis são bem maiores em países com uma boa distribuição de renda. Temos, portanto, que uma boa distribuição de renda traz, no geral, mais benefícios quanto à saúde do que aumento de riqueza absoluta de um país.

Fonte: encurtador.com.br/cFXYZ

O quarto capítulo aborda as influências dos grupos étnicos nas desigualdades sociais na posição social, na saúde e na inserção social. Existe uma complexidade em explicar as causas das desigualdades étnicas e/ou raciais, pois ela abrange vários aspectos, como o contexto socioeconômico, histórico, político e cultural.

Essas visões de mundo que competem na explicação das desigualdades e iniquidades sociais, entretanto, não dão conta das iniquidades relacionadas com o pertencimento a determinados grupos étnicos, uma vez que os indivíduos não são livres para escolher a qual grupo pertencer, nem esta determinação está relacionada diretamente com a posição de classe. Qualquer consideração das desigualdades sociais em relação a grupos étnicos carrega a dupla determinação: a posição social que tais grupos ocupam na sociedade e a aceitação/rechaço que possam ter frente aos grupos majoritários (BARATAS, 2009, p. 56).

A raça ou etnia não é definida biologicamente, mas sim como uma construção sociopolítica, que dividiu grupos de acordo com suas peculiaridades (costumes, crenças, cor). Essa construção sociopolítica tem impacto nas condições de saúde, no acesso ao mesmo e também contribui para  que esse grupo seja inserido na sociedade da pior maneira. O Brasil não tem uma segregação racial explícita, ele é considerado como um país  miscigenado e multicultural (e ele é), porém é notório que as minorias étnicas sofrem uma desvantagem social. A maioria dos negros encontram-se presentes nos bairros periféricos, têm menor escolaridade, têm pior acesso ao trabalho, saneamento básico, saúde, educação  e seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é inferior aos demais povos.

A discriminação é uma ideologia que se apresenta através das interações, tendo uma dominação, à custa das minorias, dos grupos superiores a frente dos outros, privando-os e os excluindo. O racismo é uma forma de discriminação, onde as vítimas são as minorias étnicas. Um dos aspectos fundamentais dos direitos humanos é a igualdade no tratamento, não podendo então haver nenhum tipo de discriminação, seja ela qual for.

Fonte: encurtador.com.br/boFY2

O quinto capítulo refere-se a gênero e sua relação com as desigualdades sociais. Embora a palavra ‘gênero’ possua diferentes significados dentro do seu contexto de utilização, biológico, gramatical ou da saúde, em termos gerais significa conjunto de objetos ou seres que possuem características compartilhadas e têm mesma origem. No âmbito da saúde, a palavra gênero vem para contrastar o masculino e o feminino, seus comportamentos no contexto social e para o acesso aos serviços de saúde.

Segundo a epidemiologista Nany Krieger, o termo gênero passa a ser usado na saúde a partir do ressurgimento do movimento feminista em meados do séc. XX. Essa inserção vem calcada na observação de inserção dos gêneros nos papeis sociais e sua repercussão dentro da saúde coletiva. Para Krieger, somos todos sexo e gênero. Sexo biológico, que influencia algumas de nossas condições de saúde, mas também gênero, este uma construção social, processo sociocultural, que define os papeis masculinos e femininos na sociedade e define as relações entre ambos.

A importância de salientar as diferenças entre os conceitos se dá pois um não toma o papel do outro, a variável sexo não dá conta das questões de gênero enquanto saúde, por um ser um processo sociocultural. Esse ressurgimento dos movimentos feministas no séc. XX vai atribuir uma grande importância ao gênero dentro do sistema de saúde e dos processos saúde-doença e seus atendimentos, pois ao nascer o indivíduo já está inserido neste paradigma e as suas consequências são inevitáveis, seja na questão social, cultural, da saúde etc. Como essas relações construídas permeiam todos os aspectos sociais, é impossível não levar em consideração quando se pensa em saúde pública e suas políticas.

Levando essas diferenças para o âmbito da saúde, as pesquisas indicam que há uma maior taxa de mortalidade para o gênero masculino em todas as faixas etárias, tirando situações com onde o infanticídio feminino e precariedades no parto são grandes. Esses dados, no entanto, refletem a diferença de gênero, pois não seria uma questão do sexo biológico, mas sim do gênero e sua imposição em relação à identidade cultural, nos trabalhos insalubres, na construção social, modo de vida etc. Paradoxalmente, o gênero feminino possui indicadores de saúde menores e recebe menos por horas de trabalho efetuadas, ao ponto que o homem recebe mais com menor grau de exigência e maior autonomia, sendo que as mulheres geralmente são forçadas a exercerem cargos com trabalhos mais monótonos e de perspectivas mais curtas, vínculos trabalhistas mais precários e maior desgaste psicológico e emocional.

Fonte: encurtador.com.br/EHJQ0

Não apenas isso, mas o uso dos serviços de saúde também reflete diferenças socioculturais apontadas por questões econômicas, de idade, etnia e de gênero. Embora o uso de consultas médicas aumente consideravelmente com a condição socioeconômica, a presença majoritária é de mulheres, aumento da diminuição do contraste de gênero ao ponto onde a condição socioeconômica aumenta. Para o estado de saúde, a maior desigualdade de gênero é observada entre famílias com até dois salários mínimos, mas as condições de saúde ruins e regulares são encontradas nas famílias com renda média.

O gênero, enquanto construção social, parece adentrar as várias camadas da sociedade na dimensão macrossocial e microssocial, ao ponto que os gêneros representam seus papeis em diversas esferas, esses papeis que são impostos.  Quanto ao sistema de saúde, a conclusão a que Barata (2009) chegou é de que não parece haver discriminação nos serviços de saúde quanto à gênero, uma vez que a maior utilização do sistema se dá pelas mulheres. No entanto, esse uso poderia ser decorrente das políticas públicas voltadas à saúde reprodutiva das mulheres, acarretando nesse maior uso das unidades de saúde.

No sexto e  último capítulo, Barradas (2009) sugere algumas políticas para o enfrentamento das desigualdades. É necessário políticas públicas de controle à gravidez indesejada, incentivo ao pré-natal, possibilidade de boa alimentação, grupos informativos sobre tabagismo na gravidez, pois estes atos juntamente com a pobreza são fatores de risco para incidência de baixo peso em recém-nascidos.

Fonte: encurtador.com.br/juHP0

Existem  três níveis diferentes de ação política para reduzir as desigualdades sociais, essas ações  dependem do contexto social e político de cada país. As políticas macrossociais, como as políticas que modificam a estratificação social,as condições de exposições e vulnerabilidade dos grupos sociais ou políticas de saúde que ajam sobre as consequências ruins das desigualdades, minimizando seus efeitos impactantes. As políticas redistributivas têm positiva ligação com a menor mortalidade infantil, simultaneamente, o nível de distribuição de renda e a esperança de vida estão altas, tais acontecimentos são comuns nos governos social-democratas.

Os princípios para a ação política devem ser o compromisso ético com a equidade; a abordagem baseada em evidências científicas; a preocupação com todo o gradiente de desigualdades, e não apenas com os extremos da distribuição ou com as diferenças individuais; a atuação na vida cotidiana, pois é nela que experimentamos o impacto da estrutura social; e a consciência de que as evidências são importantes, mas há outros ingredientes na tomada de decisão, dentre as quais talvez a mais relevante seja a vontade de transformar as evidências disponíveis em estratégias para a ação. As experiências levadas a efeito para promover a equidade em saúde incluem políticas de redução da desigualdade de renda e de redução da pobreza, políticas fiscais progressivas, controle sobre o capital volátil, perdão da dívida e novas fórmulas de cálculo baseadas na atenção às necessidades básicas, políticas de redução da vulnerabilidade e investimentos em saúde (BARATAS, 2009, p. 101).

Temos ainda que:

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é uma política setorial em que vacinas são disponibilizadas de forma continuada  na atenção primária (ex. postos de saúde), tendo Campanhas de Vacinação para que a prevenção  atinja toda a comunidade. Apesar da abrangência da vacinação, ela apresenta diferenças entre as camadas socioeconômicas da população. Algumas pessoas da classe alta não usufruem do PNI, não por falta de acesso às informações, mas por outros motivos, dentre eles, a desconsideração das vacinas tradicionais e a vacinação em setores privados. Já as pessoas de classe baixa não vacinam por falta de informações da gratuidade do serviço e dos seus direitos sociais. Assim, mesmo um programa de ampla abrangência como o de imunizações não consegue em sua execução superar todas as desigualdades geradas na estrutura social. O fato de pertencer a uma determinada classe ou estrato social significa não apenas poder desfrutar de determinadas condições materiais, mas também acaba por moldar toda uma visão de mundo com complexas implicações para a saúde (BARATAS, 2009, p. 104).

É indispensável  a atenuação das desigualdades sociais com ofertas de serviços de saúde, quando outras medidas como a modificação da estratificação social e da vulnerabilidade dos grupos diferentes não atingem toda população. Além da inquietação em executar  sistemas de saúde para proteção às famílias  dos efeitos nocivos das doenças, há um cuidado para que  as pessoas não  sofram desigualdades sociais pelos profissionais  dos serviços de saúde.

Fonte: encurtador.com.br/uBORZ

O sistema nacional de saúde com acesso universal juntamente com a distribuição correta de serviços e de equipamentos no espaço geográfico são essenciais para que os indivíduos os utilizem, independentemente de suas particularidades. Além do mais é necessário um preparo dos profissionais e das instituições de saúde para trabalharem da melhor forma. A obra de Barata é rica em informações sobre as desigualdades sociais — classe social, etnia, gênero e inserção social— que afetam negativamente à saúde, pois através dos fatos em que ela está embasada (estudos e pesquisas quantitativas), são vistos a veracidade da obra. A autora que é uma médica social mostra os impactos que as desigualdades sociais têm na saúde, de tal maneira que nos faz refletir sobre tais impactos, impulsionando-nos a contribuir para mudar essa realidade.

Os profissionais da saúde mental que agem especificamente no social são o psicólogo social e o comunitário, trabalhando diretamente com as pessoas que vivenciam, nitidamente, as desigualdades sociais, e que também sofrem, pois a demanda é grande e existem poucos profissionais para atendê-la e também demais fatores não colaborativos para melhor execução da profissão. Barata expôs as informações de uma maneira fácil para avaliação e compreensão das contingências envolvidas na saúde. Portanto, o ideal é que os profissionais da saúde tenham acesso ao conteúdo do livro. Além disso, o Ministério da Saúde deve implantar políticas públicas para amenização desse quadro.

 

REFERÊNCIAS:

BARATA, Rita Barradas. Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde. 1ª Ed.Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. 120p. (Coleção Temas em Saúde).

* Trabalho resultante da disciplina de Antropologia, ministrada pelo prof. Sonielson Sousa.

 

 

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Depressão: perspectiva biológica e psicológica

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Ainda desconhecida e em determinados aspectos controversa, a etiologia da depressão tem, para efeito de estudos, seus fatores divididos em: causas biológicas e psicossociais. Áreas estas que interagem intensamente entre si na expressão patoplástica da doença (BAHIS, 1999).

Bahls (1999) expõe possíveis causas biológicas da depressão, sendo uma destas a deficiência de neurotransmissores, tendo as monoaminas como principais responsáveis, entretanto, estudos com algumas substâncias que provocam o aumento ou a diminuição imediata destes neurotransmissores não produzem os efeitos esperados, o que coloca em cheque esta hipótese. Alguns estudos também mostraram um aumento no número de receptores destes mesmos neurotransmissores em autópsia de suicidas, o que levou a crer que teriam alguma influência na depressão, embora o aumento de tais receptores se dê como medida compensatória dado a redução da substância nas sinapses.

Fonte: http://zip.net/bctGRJ

Outro fator que vem sendo observado diz respeito à morfofisiologia do cérebro. Notou-se que, em pessoas depressivas, algumas áreas cerebrais encontravam-se alteradas tanto em sua forma como em seu funcionamento. Soma se a isto, o fator hormonal que, também, age sobre os neurotransmissores de diferentes formas resultando em influências diversas em homens e mulheres quanto à tendência depressiva e à fases biológicas mais propícias para ocorrência da depressão.

Entretanto, há controvérsias sobre as causas biológicas. Caponi (2011) faz uma crítica no sentido de que as explicações para as enfermidades psiquiátricas não podem ser determinadas da mesma forma que outras patologias que contam com um marcador biológico a partir do qual se desenvolve a explicação dos sintomas e se define a terapêutica mais eficaz. Na depressão, ao contrário,

é a partir do antidepressivo que se inicia a busca de causas biológicas. Ele permite identificar quais são os mecanismos biológicos, os receptores neuronais afetados, e então se poderá postular a causa orgânica, cerebral, dos padecimentos (CAPONI, 2011).

Sabendo que o humano é considerado um ser biopsicossocial e espiritual [1], é preciso considerar esta complexidade no estabelecimento de causas para as patologias psiquiátricas, esquivando-se dos possíveis reducionismos biológicos que, apesar de esclarecer alguns aspectos do adoecimento não podem ser tomados como explicações satisfatórias para a depressão.

Fonte: http://zip.net/brtGXp

O modelo cognitivo pressupõe que a cognição é fator determinante da doença, e o primeiro sintoma que se segue a isto são as construções negativistas do pensamento. A depressão é, portanto, oriunda do modo como a pessoa vê e interpreta o mundo e como se posiciona frente a ele. Uma característica dos depressivos é a alta expectativa sobre si mesmo, que geralmente gera frustração e leva a um ciclo vicioso, pois a não aceitação de si leva ao pessimismo e afasta os outros, que por sua vez reforçam a experiência de rejeição e aumentam o sofrimento da pessoa.

Com base na análise do comportamento, “Muitos teóricos (por ex., Hersen, Eisler, Alford, & Agras, 1973) argumentaram que uma falta de reforço social é particularmente importante para o surgimento e a manutenção da depressão” (DOUGHER e HACKBERT, 2003), junte-se a isto um repertório social inadequado e possivelmente a pessoa estará se comportando de maneira aversiva e provocando reações de evitação nos outros. Os autores destacam diversos fatores de influência como histórias de punição prolongadas, reforço de comportamento de angústia, comportamentos verbais negativos, influências culturais, dentre outros provocadores e mantenedores de estados depressivos.

Fonte: http://zip.net/bttHCC

Por parte da psicanálise temos ainda toda uma construção da subjetividade baseada em uma organização psíquica que considera o inconsciente, as pulsões, o ego, o superego, falhas na integridade narcísica, dentre outros aspectos que influenciam sobre a personalidade e o adoecimento. Não obstante, seja em que abordagem for, há que se considerar os fatores sócio culturais e as exigências da sociedade de consumo, que atuam como um peso sobre as concepções de ser e sobre a própria identidade da pessoa. Considerando essas perspectivas os fatores psicológicos podem desencadear alterações químicas e físicas sobre o corpo humano provocando a depressão orgânica.

REFERÊNCIAS:

[1] Parte da psicologia considera a dimensão da espiritualidade humana como aquilo que transcende e é constituinte de sua totalidade.

BAHLS, Saint-Clair. Depressão: uma breve revisão dos fundamentos biológicos e cognitivos. Interação em Psicologia, v. 3, n. 1, 1999.

CAPONI, Sandra. Uma análise epistemológica do diagnóstico de depressão.Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health, v. 1, n. 1, p. 100-108, 2011.

DANIEL, Cristiane; SOUZA, Mériti de. Modos de subjetivar e de configurar o sofrimento: depressão e modernidade. Psicologia em revista, v. 12, n. 20, p. 117-130, 2006.

DOUGHER, Michael J.; HACKBERT, Lucianne. Uma explicação analítico-comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 2, p. 167-184, 2003.

JUSTO, Luís Pereira; CALIL, Helena Maria. Depressão: o mesmo acometimento para homens e mulheres. Rev Psiq Clín, v. 33, n. 2, p. 74-9, 2006.

 

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Congresso de Saúde Mental: políticas, formação e atenção a saúde mental em diversos eixos temáticos

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Formação e a Produção do Conhecimento em Saúde Mental é um dos eixos do Congresso


O 4º Congresso de Saúde Mental que ocorrerá em Manaus(AM), de 4 a 7 de Setembro traz o tema: “Navegando pelos rios da Saúde Mental na Amazônia: Diversidades culturais, saberes e fazeres do Brasil”. Serão trabalhados durante o congresso 16 eixos temáticos que envolvem saúde, políticas publicas, arte, cultura e economia no âmbito da saúde mental.

Veja alguns dos eixos: Formação e a Produção do Conhecimento em Saúde Mental, Políticas em Saúde Mental: Primazia do Público Sob (re) o Privado, Atenção Psicossocial e novas formas de cuidado no contexto da Saúde Mental, Práticas Cidadãs: Participação Social (des)construção dos Sujeitos e Processo de Trabalho no cotidiano dos serviços: experiências em Saúde Mental.

Para participar das discussões os interessados deverão se inscrever pelo site do Congresso (http://www.congresso2014.abrasme.org.br/inscricoes/capa) e garantir sua vaga e ver mais sobre a programação.

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Crises na Rede – Estratégias em Saúde Mental

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O evento acontece no CEULP/ULBRA e promove uma roda de debates sobre a Crise na Atenção Psicossocial.


Na semana da Luta Antimanicomial, o (En)Cena – A Saúde Mental em Movimento em parceria com a Turma de Intervenção em Situações de Crise do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA (2014/1) promove uma roda de debates sobre a Crise na Atenção Psicossocial.

 A roda “Crises na Rede: Estratégias em Saúde Mental” tem por objetivo de discutir de forma interdisciplinar o enfrentamento à crise e sua articulação do à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no município de Palmas/TO.


Tema – Intervenção em Situações de Crise na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Palmas/TO.

Local – Mini Auditório do CEULP/ULBRA (Sala: 543).

Data – 21/05/2014.

Horário – 14h às 17h.


Programação:

13h50 – Credenciamento

14h00 – Abertura

Mediadores: Hudson Eygo e Karla Lúcia Lagares

14h10 – Momento Cultural

14h30 – Composição da Roda

Ester Maria Cabral

Atualmente é concursada – Secretaria Estadual de Saúde de Tocantins. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, e Saúde Mental, atuando principalmente nos seguintes temas: trabalho e educação em saúde e saúde Mental.

Micheline Pimentel Ribeiro Cavalcante

Possui graduação em Odontologia pela Universidade Federal de Alagoas (1999), mestrado em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (2005) e doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (2013). Atualmente é efetiva da Prefeitura Municipal de Palmas – TO, professora no Centro Universitário Luterano de Palmas. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Pública, atuando principalmente nos seguintes temas: epidemiologia, saúde pública, dengue, câncer de boca e câncer do colo do útero.

Domingos de Oliveira

Possui Graduação e Licenciatura em em Enfermagem pela Universidade de Passo Fundo (1994), aprimoramento em Administração em Saúde Mental Coletiva pela Universidade de Passo Fundo, Especialização em Saúde da Família pela Universidade Federal do Amapá (2002) e Mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001). É professor universitário na Comunidade Evangelica Luterana São Paulo – CEULP/ULBRA, em Palmas – Tocantins. Tem experiência na área de Enfermagem, Saúde Coletiva, Saúde da Família, Saúde Mental e na Gestão Pública de Saúde Mental.

César Gustavo Moraes Ramos

Psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul [2002]; Mestre em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul [2007]. Atuou como Assessor Especial e Diretor Interino de Direitos Humanos na Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul, professor do curso de Pós-graduação em Direito da Criança e do Adolescente na Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul e Consultor da Política Nacional de Humanização SUS – Ministério da Saúde / Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Atualmente é Coordenador do Curso de Graduação em Psicologia CEULP/ULBRA, professor do Curso de Graduação em Direito CEULP/ULBRA e Consultor da Política Nacional de Humanização SUS – Ministério da Saúde/ Organização Panamericana de Saúde Tem experiência nas áreas de Relações Interpessoais e Projetos Sociais, atuando principalmente nos seguintes temas: Direitos Humanos, Criminologia, Análise Institucional, Saúde Mental, Educação e Humanização em Saúde.

Rosana Carneiro Tavares

Psicóloga, doutorado em psicologia na PUC Goiás, mestrado em psicologia e especialista em saúde mental, pela Universidade Católica de Goiás, e em Políticas Públicas, pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professora da Fundação Universidade do Tocantins e do CEULP/ULBRA – Palmas – Tocantins, com experiência no ensino presencial e a distância na graduação e pós-graduação. Atua na área de Psicologia Social, Saúde Coletiva e Políticas Públicas, com ênfase em processos grupais e saúde mental. Trabalha principalmente com os seguintes temas: dialética inclusão/exclusão social, teoria sócio-histórica, processos de trabalho, saúde coletiva, saúde mental e reforma psiquiátrica. Desenvolve pesquisas no campo das políticas públicas; dos direitos sociais; da infância e adolescência; e da saúde mental.

15h30 – Relato: Herbert Braga, Psicólogo, Residente em Saúde Mental.

16h00– Perguntas.

16h45 – Encerramento.

Para mais informações sobre o evento, acesse: https://www.facebook.com/crisesnarede

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O uso de tecnologias psicossociais na atenção à crise

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O (En)Cena conversou com a Psicóloga Marinês Santos de Oliveira (CRP03/06586), sobre o Programa de Atenção Domiciliar a Crises de Pacientes Psicóticos Graves (PADAC), uma estratégia em Saúde Mental implantada em Salvador – BA que compreende três eixos principais: saúde mental, atenção domiciliar e pacientes psicóticos graves.

Foto: Arquivo Pessoal

O projeto que visa capacitar os alunos de Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) a lidar com a saúde mental pautando-se nos princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica, é resultado do Laboratório de Estudos Vinculares e Saúde Mental (LEV) em parceria com o Centro de Atenção Psicossocial Osvaldo Camargo em Salvador – BA.

(En)Cena – Olá, relata para nós como nasceu o PADAC?

Marinês Oliveira –. O PADAC começou em agosto de 2008, concebido como projeto de estágio docente-assistencial, coordenado pelo psicólogo e professor Marcus Vinicius de Oliveira Silva, da Universidade Federal da Bahia, junto ao Centro de Atenção Psicossocial Oswaldo Camargo. Um projeto que tem tudo a ver com os princípios da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, uma vez que ele dialoga com os princípios e diretrizes do SUS.  Sabemos que a crise é um momento delicado para o paciente, para a família, que se torna complexa também para muitos serviços. Neste contexto é pensado o Programa de Atenção Domiciliar à Crise (PADAC).

(En)Cena – Quando foi o início do projeto?

Marinês Oliveira – Na verdade, o PADAC, é posterior a um outro projeto docente-assistencial, também coordenado pelo professor Marcus: o Programa de Intensificação de Cuidados (PIC), que funcionou entre 2004 e 2008, vinculado a um dos hospitais psiquiátricos da rede estadual em Salvador, com 40 leitos e serviços de emergência e atendimento ambulatorial. Na época, o município ainda não contava com a rede de CAPS. O PIC teve duração de quatro anos e meio, capacitando ao todo 115 estagiários, para o trabalho em saúde mental, utilizando o domicilio, o acompanhamento terapêutico, a oferta de suporte psicossocial as famílias como tecnologias de cuidado. Deste modo, 37 pacientes com históricos de repetidas internações, com uma carreira manicomial cronificada, após este período tornaram-se estabilizados, com vínculos mais fortalecidos e uma rede de cuidado mais ampla através do matriciamento, melhorando significativamente a qualidade de vida destes sujeitos. Após o término do PIC, o PADAC é apresentado, agora em parceria com um serviço substitutivo, todavia pautado também em um ponto nevrálgico e de grande desafio da rede de saúde mental: a crise. Tem suas atividades finalizadas em agosto de 2013.

(En)Cena – Em Salvador há muitos casos como este?

Marinês Oliveira –  Em Salvador, o cuidado ampliado em saúde mental ainda está em construção. Todavia, percebe-se que a cultura da internação, a cultura manicomial ainda é forte. Tínhamos uma quantidade significativa de hospitais psiquiátricos que foram fechados sem pensar na construção da rede substitutiva de cuidado a estes sujeitos, com o destino desses internos, muito menos com suas famílias. E, neste contexto, a família é um ponto também importante que precisamos problematizar. Ao longo da história da loucura sempre esteve afastada do cuidado desse sujeito. Outrora, ela foi vista como a gênese da doença mental. De repente, vem uma reforma, que propõe: “A partir de agora a família também vai cuidar desse sujeito”. Sim, mas há algum tempo atrás a família não era afastada? Quais são os dispositivos que essa família tem agora para cuidar desse sujeito?

(En)Cena – O estado, se eximindo do seu papel, quis depositar na família toda a responsabilidade para com o cuidado com o sujeito em sofrimento mental?

Marinês Oliveira – Neste ponto a família é colocada em dois polos: ou ela “é culpada e responsável por esse sujeito, ou ela é culpada e irresponsável”, como aponta algumas discussões neste campo. Outra questão que tem se apresentado como problematizadora é a sobrecarga familiar. É interessante como as reuniões familiares e o termo família sobrecarregada estão bem presentes nos serviços E a gente pensa: não é quenão possuam importante lugar, todaviase a família sofre, cansa, é preciso problematizar qual é a oferta de cuidado que está sendo oferecido a ela. Quais são os dispositivos de cuidado que a reforma psiquiátrica dispões aos familiares? Quais os lugares e dispositivos de cuidados ofertados e direcionados as famílias nos serviços? Por outro lado, ainda há de se pensar que quando eu só digo, e repito, e carrego o tempo todo este jargão da família sobrecarregada,como fica o sujeito portador de transtorno mental que compõe este núcleo, que faz esta escuta de sobrecarga neste contexto, que é apontado na família como o que produz um “peso” seja emocional, financeiro ou físico?

(En)Cena – Os Serviços de Atenção Psicossocial de hoje também estão sobrecarregados?

Marinês Oliveira – Ainda temos uma rede escassa, fragilizada e, muitas vezes, mal gerida. A gente precisa pensar como essa rede está sendo criada e, principalmente, fortalecida. Como esta rede se articula com outras redes, com os campos de convivência e de existência destes usuários. Quais as verdadeiras histórias destes sujeitos, que com certeza fogem as que estão nos prontuários.Que história é essa de ela ser substitutiva, e mesmo assim, produzir modelos de atenção institucionalizado, de continuar fora da comunidade, do território. A gente produziu instituições de cuidado substitutivo e desinstitucionalizante, mas ela ainda manda o usuário em crise para o hospital. Ela ainda gera horários e lógicas das instituições totais. Não estou generalizando, mas estou fazendo uns recortes do que desponta de ruim, das mazelas de cuidado no campo da atenção psicossocial.

(En)Cena – A medicação entra como estratégia de intervenção? Você concorda com o uso de medicamentos no atendimento à crise?

Marinês Oliveira –  Não dá para falarmos com “ingenuidade”. Quando se fala em crise, a gente pensa só os sintomas e aí, pensa-se logo em medicar. Mas se compreendermos a crise como uma dificuldade da relação do sujeito com o mundo, e até consigo mesmo, a medicação vai entrar em outro contraponto, como estratégia para diminuir os sintomas, a ansiedade, a angústia, a “voz que eu não estou suportando ouvir” etc, a medicação tem sua importância, o excesso dela que não! Agora, cuidar da crise não é somente a supressão do sintoma, é muito além. É pensar nos vínculos, na qualidade de vida do sujeito, nas suas contratualidades sociais…

(En)Cena – O PADAC busca essa compreensão da crise, como algo relacional?

Marinês Oliveira – Sim. O projeto pensa a crise como fator relacional, para pensar na questão do suporte psicossocial eno modo como o profissional vai mediar essas relações. É preciso ver a questão do cuidado, do apoio, dos aspectos sociais desse sujeito… Nosso projeto surge nesse cenário.

 (En)Cena – Como era desenvolvido o trabalho dentro do CAPS?

Marinês Oliveira – Fizemos busca ativa de alguns casos. Alguns deles estavam realmente em crise e, quando ele está em crise, geralmente o sujeito se afasta do convívio social e do CAPS. Aqui precisamos contextualizar dois tipos de crise: a do sujeito para fora, gritando, esbravejando. E, a crise para dentro, aquela na qual o sujeito se isola do mundo, e fica recluso, em silêncio. Outra frente de atuação no Programa eram as tardes de supervisão, com estudos dirigidos e reuniões com a equipe do CAPS. Quando o sujeito então sai da crise era matriciado novamente no CAPS ou em outro dispositivo de cuidado da rede.

(En)Cena – Como era feito esse acompanhamento terapêutico do sujeito em crise?

Marinês Oliveira – O sujeito era encaminhado aos estagiários pela equipe do CAPS, no momento da reunião técnica, no qual frequentávamos também para a discussão dos casos. Entravámos em contato com a família e marcávamos o atendimento domiciliar. A partir deste momento, em dupla, o trabalho da construção do vínculo, da oferta do suporte psicossocial a família, da intensificação do cuidado, da escuta qualificada e da presença orientada adentrava a casa dos sujeitos e seu entorno social. O domicilio como tecnologia de cuidado. Todavia, isto significava, muitas vezes, uma visita, duas, três por semana a depender da demanda, ou, toda semana, por muitos meses para o sujeito querer apenas nos ver ou nos deixar chegar na porta, na sala. Um exercício de delicadeza diário, de sutileza. Sem contar as grandes vulnerabilidades sociais existentes nos bairros, nas casas, que muitos residiam.

(En)Cena – Esse processo de acompanhamento e construção do vínculo acontecia com naturalidade, ou houve intercursos?

Marinês Oliveira – Todos os intercursos que você imaginar (risos).A clínica no território é isto, não se sustenta aqui padrões formais e rígidos da clínica convencional… é outro setting terapêutico… são outros modos de operar! E daí, acontece de tudo, todavia a presença orientada, regida por uma ética e uma técnica produz instrumentos de intervenções preciosos. Então, a gente tem caso de estagiário que ficava no meio da rua falando com o sujeito, o povo passando e olhando aquela cena sem nada entender, e a resposta dele era a fumaça do cigarro pela fresta da janela até que um dia ele desce e vai até a rua falar com elas…

 (En)Cena – Quais foram as principais dificuldades na execução do projeto PADAC quando implantado e seus resultados?

Marinês Oliveira – A gente começa com a quase ou total falta de conhecimentos dos estagiários acerca da psicose. Uma outra limitação foi a distância da abordagem técnico-teórica da instituição e dos estagiários. Quanto aos resultados, ao final do programa, em agosto de 2013,tivemos 60 famílias e 70 pacientes em crise atendidos e 38 estudantes de Psicologia aptos ao trabalho em saúde mental. Quanto aos usuários, através do cuidado no domicilio, foi possível fortalecer os vínculos, orientar a família e o entorno a lidar com os sintomas expressos dos sujeitos, ampliação do suporte familiar e social, destensionamentos das relações deflagradoras da crise paciente-família-comunidade. Em 2013, o PADAC foi escolhido pelo Laboratório de Inovações em Atenção Domiciliar como uma das dez melhores experiências em Atenção Domiciliar no Brasil e a única em Saúde Mental.

 (En)Cena – No PADAC, como o domicilio é visto como lugar de cuidado?

O domicilio, como tecnologia, é posto como lócus de cuidado e produção de autonomia dos sujeitos, visto como o espaço dos amores e desamores, dos tensionamentos e também da lugar de produzir e fortalecer novas relações. É proposto aqui um cuidado que transponha as práticas institucionalizadas, de forma a contribuir para a produção da integralidade e da continuidade deste cuidado ofertado ao sujeito.

(En)Cena – Você consegue se lembrar de um caso marcante que teve influência significativa na sua vida e formação acadêmica?

Marinês Oliveira – Todos os casos tem um aprendizado… seja meu, seja dos colegas… o senhor que não sai de casa há mais de 25 anos, me faz pensar que há um crise para dentro que, muitas vezes, nem chega ao serviço, talvez por não “incomodar” tanto como “a crise para fora”, e depois de tantas e tantas semanas ele sobe a ladeira, e ver a rua, e a vida do lado de fora novamente… a moça que se embrulha dos pés à cabeça,no começo dos encontros com os estagiários, sentados ali no seu quarto toda semana por duas horas ou mais, sem uma palavra, um som que vai se desembrulhando a ponto de no final do trabalho sugerir o último passeio pelo bairro, o “homem do lixo” e suas negociações com as minhas colegas para a intervenção da Limpeza Urbana, a senhorinha descabelada no CAPS que a todos assustavam, sentada tempos depois na calçada do serviço contando suas peraltices quando moça no Rio de Janeiro, o moço que vai ensinar as estagiárias frescobol na praia… o moço passado para a equipe por quebrar tudo em casa, sentado ali na sala ouvindo Biquíni Cavadão e todas suas elucubrações acerca do Raul Seixas e Renato Russo e seus projetos de futebol americano para Salvador… Como dizem por ai. “Furos nos muros dos manicômios”. Não há como não ser significativo para a vida pessoal e profissional.

(En)Cena –  Como o PADAC se relaciona com o SUS?

Marinês Oliveira – Atravésdo suporte psicossocial que ofertamos para esse sujeito em seu domicilio, possibilitamos a construção e fortalecimento da rede, a territorialização e integralidade do cuidado e a efetivação da clínica ampliada. Há um trabalho que é ao mesmo tempo substitutivo e desinstitucionalizante e de base comunitária. A gente vai a casa do sujeito. Lá tem: o pai; a mãe; o irmão; a cunhada; a sobrinha; a vizinha etc, A residência, o entorno social é habitada por múltiplas transferências. A transferência não é só entre o sujeito e o profissional, mas entre o profissional e toda a comunidade.

(En)Cena – Analisando os resultados positivos do PIC e do PADAC, você acha que faltam mais políticas voltadas para a saúde mental no Brasil?

Marinês Oliveira – Muita coisa está sendo feita, mas ainda está tudo muito aquém de como poderia ser. É preciso garantir não somente a implantação da RAPS, mas o fortalecimento da rede; o trabalho territorial em saúde mental; a geração de renda dos usuários dos serviços; o vínculo de trabalho, a formação e educação permanente dos profissionais das mais diversas instituições em saúde mental; serviços verdadeiramente substitutivos e desinstitucionalizantes; E, a formação dos estudantes em saúde mental. Deste modo, o PIC e o PADAC propõem uma possibilidade de construção de formas de manejos vinculares, intervenção e cuidado em saúde mental, principalmente, a pacientes em crise, bem como a formação docente assistencial.

(En)Cena – Obrigado por sua contribuição Marinês. Para encerrar: Quem tiver interesse em conhecer o PIC ou o PADAC, como deve fazer para obter informações?

Marinês Oliveira – Temos uma revista chamada “INTENSA-EXTENSA – Programa de Intensificação de Cuidados a Pacientes Psicóticos” referente ao trabalho executado no PIC, disponível na internet. Quanto ao PADAC, estão construindo uma publicação. Mas, no site da OPAS, temos a exposição do trabalho realizado pelo PADAC, acesso:http://apsredes.org/site2013/atencao-domiciliar/


Transcrição: Isadora Santana Fernandes

Edição: Hudson Eygo

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Programa “Crack, é possível vencer” em Palmas

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No último mês de maio, o Governo Federal, junto ao Ministério da Saúde, lançou o programa “Crack, é possível vencer” que irá destinar R$ 230 milhões para a construção de novos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS) e unir Saúde, Segurança Pública, Ministério da Educação e Assistência Social em prol do melhor atendimento para usuários do crack.

 “Este é um avanço na reorganização do SUS que a gente precisa fazer para aliviar o sofrimento das vítimas da dependência química e de seus familiares. Estamos ajudando a construir uma rede e oferecer tipos de atendimento diferentes para situações diferentes. Terão Consultórios na Rua para abordagem e cuidados dos usuários que moram na rua; teremos centros como este para acompanhamento não só do usuário como da família e teremos ainda as Unidades de Acolhimento para internações mais prolongadas e leitos também em hospitais”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante a inauguração no Centro de Atenção Psicossocial 24 horas (CAPS) do Boqueirão, em Curitiba – PR.

No Tocantins, ações do programa serão iniciadas em setembro e para isso a Prefeitura de Palmas investirá R$ 600 mil para os trabalhos que serão desenvolvidos ainda este ano. Na capital, o CAPS AD III, que atende 24 horas por dia e tem, em média, 300 atendimentos por mês, espera-se que o programa “Crack, é possível vencer” traga melhorias significativas.

“O programa sendo efetivado será muito bom para nós, pois humaniza o atendimento e faz com que os usuários percam o medo de procurar ajuda, já que há casos de usuários que são agredidos por policiais”, disse Márcia Nascimento, coordenadora do CAPS AD III.

Márcia falou ainda sobre a importância da união de vários setores públicos para o sucesso do programa.“Atualmente, o atendimento varia de acordo com cada setor. Não adianta o Ministério da Saúde ver o paciente de uma forma e a Polícia, por exemplo, tratar de forma ríspida ou inadequada. E a Educação será importante também para conscientizar a população, principalmente os jovens nas escolas”, completou.

O investimento no programa não será apenas para os CAPS, mas também para a criação das Unidades de Acolhimento (UAs) e CREAS POP (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a População em Situação de Rua) que têm como objetivo atender nas ruas e/ou nos locais onde se encontram os usuários. O atendimento não será apenas motivacional, mas também médico, tratando de possíveis ferimentos do paciente.

“A unidade móvel do CAPS irá auxiliar na abordagem, no atendimento e primeiros cuidados com usuários, já que muitos chegam aqui com queimaduras nas mãos por causa da latinha utilizada para o uso do entorpecente e ferimentos nos pés por causa dos locais onde é feito o consumo”, concluiu a coordenadora.

Para saber mais:

VÍDEO – Anúncio da ampliação do investimento para os CAPS: http://www.youtube.com/watch?v=y6jJBOtBI84

VÍDEO – Programa “A Liga”. Tema: Rede CAPS: http://www.youtube.com/watch?v=7CClVbqt7wY

INFOGRÁFICO – O poder do crack (efeitos e diferença das outras drogas):http://veja.abril.com.br/infograficos/efeitos-crack/

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