Karina Leiko Mito: Relacionamentos Abusivos

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Desafios e preocupações relacionados a relacionamentos abusivos.

(En)Cena entrevista a Psicóloga Karina Leiko Mito, especialista em psicologia clínica e psicologia do trânsito. Jaiana possui pós-graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental, Inteligência Socioemocional, Psicologia Positiva, Formação de Coaching e Psicologia do trânsito. Também possui Master in Business Administration em Desenvolvimento de pessoas.

Karina, em seu perfil nas redes sociais, compartilha conhecimentos, tira dúvidas, promove reflexões e dá dicas para uma melhor qualidade de vida. Adepta aos reels, alcança seus seguidores com uma criação de conteúdo divertida e leve. Um conteúdo muito discutido em suas redes sociais é o de relacionamentos abusivos, respeito e conflitos relacionais. 

Fonte: Foto do feed do Instagram da entrevistada

(En)Cena: O relacionamento abusivo é uma realidade preocupante que afeta muitas pessoas, tanto homens quanto mulheres, em diferentes contextos sociais. Identificar os sinais e padrões desse tipo de relacionamento é fundamental para compreender a dinâmica e buscar uma solução adequada. Quais são esses sinais e padrões comuns de um relacionamento abusivo?

Karina: Existem duas maneiras de identificar esses sinais, a maneira, talvez mais importante, objetiva, tendo como instrumentos as regras legais e forma de lei, e a maneira subjetiva levando em conta os sintomas e queixas do paciente. Subjetivamente esses sinais e padrões podem variar muito de pessoa para pessoa. Enquanto psicólogos é importante a neutralidade para não haver julgamentos nem rotulações estando atento ao relato e sintoma de cada paciente.

(En) Cena: Reconhecer se estamos em um relacionamento abusivo nem sempre é fácil, pois muitas vezes as dinâmicas abusivas podem se desenvolver gradualmente. No entanto, é essencial entender os indicadores comuns desse tipo de relacionamento para tomar medidas necessárias e buscar apoio. Como posso identificar se estou em um relacionamento abusivo?

Karina: O limiar é: Tudo que ultrapassa nossos limites através de força ou poder excessivo, atitudes e ordens verbais que humilham e causam mal pode ser considerado abusivo. A importância de procurar ajuda psicológica é identificar se o que o este abuso que afeta meu bem estar e qualidade de é causado pelo “abusador” ou por uma ferida aberta que existe em mim.

(En)Cena: Um relacionamento abusivo pode ter um impacto significativo na saúde emocional e psicológica das pessoas envolvidas. Compreender as principais consequências emocionais desse tipo de relacionamento é fundamental para iniciar um processo de cura e recuperação. Quais são as principais consequências emocionais de um relacionamento abusivo?

Karina: Sim, isso é sobre as feridas que mencionei na resposta anterior. As consequências podem ser desde a pessoa se fortalecer até se anular e se tornar uma ferida aberta, se afetando e se machucando diante de qualquer situação que seja “desconfortável”.

(En)Cena: Em um relacionamento abusivo, é comum que a vítima se sinta isolada e sem recursos para buscar ajuda. Como é possível construir uma rede de apoio e buscar ajuda durante um relacionamento abusivo?

Karina: Dependendo da condição de cada pessoa, essa rede de apoio pode vir, desde ajuda profissional psicológico até de vizinhos, amigos ou familiares mais próximos.

(En)Cena: Sair de um relacionamento abusivo é um passo corajoso, mas o processo de recuperação pode ser desafiador. Quais são as etapas do processo de recuperação após sair de um relacionamento abusivo?

Vai depender muito de qual tipo de sequela esse relacionamento deixou. É de suma importância o psicólogo estar atento aos sintomas relatados de cada pessoa. Mas os sintomas podem variar desde pânico, ansiedade, transtorno pós traumático… ou seja, as etapas do processo de recuperação variam e não há uma regra de como vão acontecer.

(En)Cena: A autoestima é frequentemente afetada em relacionamentos abusivos, deixando marcas emocionais profundas. Reconstruir a autoestima é um processo importante para recuperar o amor-próprio e a confiança em si mesmo após sair de um relacionamento abusivo. Como posso reconstruir a  autoestima após um relacionamento abusivo?

Karina: Pode se dizer que a pessoa que suporta e se mantém em um relacionamento abusivo é carente e não tem autoestima. E com certeza isso é agravado, pois traz outros prejuízos, como falta de confiança em si, crenças de desamor, desvaler e tantas outras sequelas. Mas recuperar a autoestima e curar-se dos traumas é importante para não se envolver em outro relacionamento por carência. Uma pessoa que está em relacionamento abusivo acredita que merece aquilo, e não sai por carência e medo de não encontrar outra pessoa. A autoestima pode ser construída através de terapia ou esforço de consumir conteúdos sobre o assunto.

(En)Cena: Estabelecer limites saudáveis é essencial para criar relacionamentos saudáveis e evitar situações abusivas no futuro. Quais são as estratégias para estabelecer limites saudáveis em relacionamentos futuros?

Karina: Uma pessoa só consegue estabelecer limites saudáveis se ela estiver saudável. Limites não é qualquer pessoa que consegue impor. Para alguém fragilizado é quase uma missão impossível. As estratégias saudáveis só pode ser criadas a partir da pessoa saber o que é saudável para ela. O que muitas vezes ela nem sabe e suporta tudo por acreditar que a função dela é aquela.

(En)Cena: Sentimentos de culpa e vergonha são comuns após um relacionamento abusivo, mesmo quando a vítima não tem culpa pela situação.  Como lidar com sentimentos de culpa e vergonha após um relacionamento abusivo?

Karina: Geralmente, a vítima de abuso é submetida a manipulações persuasivas, o manipulador faz a vítima se culpar e se envergonhar. Lidar com sentimentos como estes não é tarefa fácil. Em terapia utilizo uma técnica de troca de papéis e dessensibilização desses sentimentos.

(En)Cena: Existem diversos recursos e programas disponíveis para apoiar e ajudar as vítimas de relacionamento abusivo. Conhecer esses recursos e saber onde buscar ajuda é fundamental para iniciar o processo de recuperação. Quais recursos e programas estão disponíveis para ajudar vítimas de relacionamento abusivo?

Karina: Mulheres em relações abusivas podem buscar ajuda na Central de Atendimento a Mulher discando 180, em casos diversos, podem acionar a polícia discando 190.

(En)Cena: Desenvolver habilidades de comunicação saudáveis e assertivas é essencial para estabelecer relacionamentos saudáveis e evitar situações de abuso.  Como posso desenvolver habilidades de comunicação saudáveis e assertivas para evitar relacionamentos abusivos no futuro?

Karina: É importante ressaltar que, infelizmente, não podemos controlar o comportamento do abusador. Independente de qual comunicação usamos o abusador pode cometer abuso. As habilidades emocionais vão apenas nos garantir se afetar menos ou não se afetar pelo abuso, que mesmo assim continuará sendo abuso. Toda forma de controle, humilhação, constrangimento, manipulação, deboche, chantagem ou ameaças, menosprezo, diminuição, mentiras ou enganação, maltrato e agressões, são formas de abuso. Saber conversar pode evitar ou amenizar sim as formas de abuso mas não é garantia de nada. Essas habilidades podem ser desenvolvidas através da terapia e técnicas de inteligência emocional.

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Eu não estou sozinha: os desabafos após um relacionamento abusivo

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Como um relacionamento abusivo pode impactar na recuperação da vítima, que permanece em sofrimento após o fim.

Relato anônimo

Eu tinha dezoito anos quando experienciei um relacionamento que, a princípio, foi a melhor coisa que já havia me acontecido. Ainda existe muito isso, essa confusão sobre o que é o amor, sobre como demonstramos o amor, e com ela vem o perigo: o disfarce entre abuso e carinho. Entrar nessa situação é extremamente fácil, parece o correto a se fazer, porque você está sendo muito bem cuidada e é o homem da sua vida. Por outro lado, sair é a decisão mais difícil que você precisa tomar, ainda que seja a melhor.

Relacionamentos abusivos são caracterizados por comportamentos e dinâmicas prejudiciais, onde uma pessoa exerce poder e controle sobre a outra, geralmente através de abuso emocional, físico, sexual ou financeiro. Esses tipos de relacionamentos são extremamente prejudiciais e podem ter consequências negativas tanto para a vítima quanto para o agressor. Os relacionamentos abusivos podem ocorrer em diferentes contextos, como namoro, casamento, parcerias domésticas ou relacionamentos entre familiares. É importante destacar que tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas de abuso, e os agressores podem ser de qualquer gênero.

Lembro-me de me sentir cega, já que todo mundo parecia enxergar tanta coisa e eu não. Também recordo-me de me afastar aos poucos de todos ao meu redor, porque não aguentava tanta pressão, comentários e confusão em minha mente. Quando você percebe está sozinha. Sem amigos, sem família, ninguém sabe o que está acontecendo. Tudo começou com as redes sociais. Uma vistoria completa no celular, indagações absurdas sobre minhas intenções, acusações, até que tudo o que havia era culpa. Culpa por ter causado um desentendimento, por não entender as necessidades do meu parceiro, por errar tanto, por ter amigos, por tudo.

Ele se tornou controlador, exigindo que eu compartilhasse todos os detalhes da minha vida, controlando minhas interações com amigos e familiares. Eu me sentia presa em suas mãos, e qualquer tentativa de resistir às suas demandas resultava em explosões de raiva e ameaças. 

Então o próximo passo era a punição, o sumiço que se seguia, sem responder mensagens, sem atender ligações, apenas o bom e velho “gelo”. A punição era o suficiente para gerar desespero e aumentar a culpa. Nessa época, não sentia que poderia contar nada a ninguém. Nova e ingênua, acreditava que os relacionamentos eram assim mesmo, que isso era o amor, e que aos poucos íamos nos encaixando e resolvendo as divergências. Passei a controlar todos os meus passos, a omitir informações e até mesmo a mentir sobre assuntos que certamente causariam atritos.

Esse foi um grande erro, porque é muito fácil se sentir culpado sabendo que está fazendo algo errado. Então tudo era minha culpa. Sentia-me incapaz de ser namorada de alguém, de fazer alguém feliz, sentia-me substituível e inferior às outras mulheres, afinal, por que todo mundo conseguia se relacionar amorosamente e eu não? Do meio pro fim, os abusos físicos apareceram. Sutis, mas presentes em cada encontro. Empurrões e tapas “de brincadeira” eram, de repente, sua forma de demonstrar amor. Além disso, haviam os insultos, as provocações, as brincadeiras de mal gosto.

Aos poucos, essas frases entram na cabeça, sabe? A gente realmente acha que não é mais capaz de encontrar outra pessoa. E, ainda, acha que todo mundo tem defeitos, assim como ele tem os dele. Sem mencionar os comentários sobre nossa aparência física, que sempre existem, apenas para nos inferiorizar ainda mais na relação. O fim, de fato, aconteceu. Com dezenove anos me vi livre dessa relação por completo, já que ele nem mesmo morava na cidade. No entanto, não sabia dos prejuízos que esse relacionamento deixaria em mim: nas marcas profundas que me levaram anos para cicatrizar.

Imagem de uma mulher fragmentada.
Fonte: Pixabay

As críticas constantes começaram a minar minha autoestima. Ele me humilhava, me fazia sentir inadequada e repetia constantemente que eu não era boa o suficiente. Eu comecei a duvidar de mim mesma, questionando minha própria identidade e valor como pessoa. A sensação de viver sob constante vigilância me deixava ansiosa e insegura.

Eu me sentia aprisionada em um ciclo vicioso de amor e medo. Apesar de todos os abusos, eu ainda acreditava que havia algo de bom nele, que talvez ele pudesse mudar. Eu mantinha a esperança de que o homem gentil e carinhoso que conheci no início retornasse. Essa esperança me manteve presa por muito tempo.

Soares (2005) abordou o assunto dizendo como o fim de uma relação violenta pode durar anos, já que muitas mulheres permanecem com seus parceiros por ameaças, esperam mudanças de seus comportamentos e possuem vergonha de assumir o fracasso da relação. Por isso, sempre imagino o que teria acontecido se eu não tivesse a oportunidade de sair desse relacionamento, de ter permanecido tão pouco tempo, o que já foi suficiente para deixar marcas em mim.

Com o tempo, a gente fica inseguro para amar novamente. Nunca somos bons o bastante, nosso corpo não é bom, nosso “jeito” não é bom e não somos suficientes para ninguém. Isso é um mal que acontece com muita gente depois de uma experiência assim, eu sei disso, mas é um processo tão individual e que, infelizmente, não tem uma receita de bolo para superar. As marcas permanecem, a desconfiança, a baixa autoestima, o sofrimento, tudo isso permanece com a gente, mesmo depois que ele já foi embora.

A gente se fecha para o mundo, ninguém pode ver nossos defeitos como ele viu tão bem, não podem reparar nas falhas. E é assim que nos esquecemos que pessoas reais possuem problemas reais, que aquelas características não eram defeitos, mas uma forma deturpada de se relacionar com outras pessoas. Que o problema não está em mim, não está em você, mas está nele. Mesmo assim, a insuficiência que sentimos é devastadora, afeta todos os nossos relacionamentos, nosso desenvolvimento enquanto estudante, profissional e pessoa.

Deixar o relacionamento abusivo foi o começo de um longo processo de cura e reconstrução. Levei tempo para reconstruir minha autoestima, aprender a confiar novamente e estabelecer limites saudáveis em meus relacionamentos futuros. Encontrei apoio na terapia, onde pude compartilhar minha história e receber o suporte necessário.

Após esse acontecimento, iniciei uma nova relação com outra pessoa. Lembro-me do choque ao perceber a facilidade de me relacionar com ele, do alívio que senti. Não foi nada fácil. Sentia-me insegura, tive dificuldade de me conectar e, principalmente, de me abrir novamente. Acho que isso é típico de quem sofreu tanto nas mãos de quem tanto estimou.

Ainda me dói lembrar da situação, como se aquela pessoa não fosse eu, porque na lucidez de hoje não consigo me imaginar me submeter àquilo. Porém, é assim que funciona. A gente se cega para a situação, acredita que aquilo é afeto, que esse é um jeito especial de demonstrar carinho e amor, que são apenas defeitos de uma pessoa insegura.

Além de mim, quantas mulheres não passaram por isso? Quantas pessoas caminharam lá fora com nada no peito além de incertezas? Quantas feridas foram cicatrizadas de forma dura e dolorosa? Não só isso, quantas mulheres perceberam o início de algo perigoso, mas se submeteram por se enganarem?

Fonte: Imagem de sweetlouise no Pixabay

O assunto também é abordado por Edwards (2011), ao alegar que entre 31% a 85% dos relacionamentos abusivos continuam por um tempo após o primeiro incidente de abuso. É importante lembrar que a vítima nunca é culpada pelo abuso e que deixar um relacionamento abusivo é um processo complexo e desafiador. É essencial oferecer apoio, compreensão e recursos para as pessoas que estão em relacionamentos abusivos, para que elas possam encontrar a coragem e os recursos necessários para buscar uma vida livre de abuso.

A psicologia desempenha um papel fundamental no entendimento e abordagem dos relacionamentos abusivos. Os relacionamentos abusivos são compreendidos como um padrão de comportamento disfuncional e prejudicial, que envolve desequilíbrio de poder e controle.  É crucial buscar apoio emocional e profissional durante a jornada de reconstrução. Isso pode incluir terapia individual, grupos de apoio ou aconselhamento especializado em violência doméstica. O apoio de amigos, familiares e redes de suporte também é valioso nesse momento.

Após um relacionamento abusivo, é importante dedicar tempo para refletir sobre suas experiências, identificar os padrões abusivos e reconhecer o impacto que tiveram em sua vida. Esse processo de autoconhecimento permite aceitar o que aconteceu e começar a trabalhar na reconstrução.

Lembre-se de que cada pessoa tem seu próprio ritmo de recuperação e reconstrução. Não há um caminho único e definitivo. Permita-se tempo para curar, seja gentil consigo mesmo e celebre os pequenos progressos ao longo do processo. A reconstrução da vida é um processo contínuo, e com o apoio adequado, é possível alcançar uma vida mais saudável, feliz e plena.Se você está passando por uma situação semelhante, saiba que você não está sozinho. Há ajuda disponível e pessoas dispostas a apoiá-lo. Tenha coragem para buscar esse suporte, pois você merece. 

REFERÊNCIAS

  1. EDWARDS, K. Deixando um Relacionamento de Namoro Abusivo: Uma Análise do Modelo de Investimento e da Teoria do Comportamento Planejado. 2011. Tese ou Dissertação (Tese ou Dissertação Eletrônica).
  2. SOARES, M. B. Enfrentando a violência contra a mulher. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. 2005.
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A importância da análise da obra “Relacionamentos Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?”

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E foram felizes para sempre…  Essa frase curta e cheia de emoção foi o roteiro de muitas mulheres que cresceram com as narrativas vendidas pela indústria cinematográfica de Hollywood.  Quem nunca suspirou com o filme Uma linda mulher, interpretada pela talentosa Julia Roberts, que fez um papel de garota de programa, até encontrar com o seu salvador e grande amor, Edward Lewis, personagem vivido pelo galã Richard Gere. Muitas mulheres cresceram com esse enredo, ao acreditar que depois de tanto sofrimento, será recompensada com um relacionamento cheio de amor. 

Foi nesse contexto que muitas acreditaram no sonho do príncipe encantado, sujeitaram-se a vivenciar relacionamentos tóxicos, abusivos, acreditando que não encontrariam outra pessoa melhor. E para quebrar esse paradigma e resgatar a autoestima feminina, a escritora Avery Neal publicou a obra intitulada “Relacionamentos Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?” (2018), no intuito de alertar o público feminino sobre os perigos e traumas de relacionar-se com pessoas manipuladoras. 

Identificar situações de manipulação, reconhecer sinais de alerta sobre relacionamentos abusivos, bem como não entrar mais em uma relação desse tipo são algumas das abordagens do livro que pretende ajudar a trilhar um caminho feliz e saudável.  A ideia da escritora é despertar a autoestima, bem como salvar vidas, haja vista que muitas mulheres são vítimas de violência doméstica. O Brasil está entre os países que mais matam mulheres, pelo crime de feminicídio, ódio e desprezo à figura feminina. 

Fonte: Freepik

Os homens também passam por relacionamentos abusivos, mas as mulheres são as maiores vítimas. Somente no ano de 2020 foram feitas mais de 100 mil denúncias de violência doméstica contra a mulher, pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, pelo número 180.  “Os padrões de qualquer tipo de abuso são semelhantes. Nunca vi um relacionamento fisicamente abusivo que também não o fosse verbal, emocional e psicologicamente” (Neal, 2018).

Neal (2018) aponta que pelo fato do homem ser fisicamente maior e mais forte que as mulheres, estabelece uma diferenciação de poder, “e as mulheres muitas vezes se sentem intimidadas em algum nível, mesmo que de maneira inconsciente.” Esse posicionamento explica porque as mulheres são vítimas de violência doméstica, e bem como os números são altos no Brasil.

Neal (2018) esclarece que existem diferentes tipos de abuso. “O abuso normalmente tende a acontecer de forma sutil e gradual, o que muitas vezes impossibilita a vítima em notar o comportamento abusivo do parceiro” (Neal, 2018). Por isso, a importância da construção de uma base solidificada de amor-próprio e uma alta estima saudável para pôr fim a esse ciclo abusivo.  Por fim, “um relacionamento saudável é aquele que cura, é aquele em que os parceiros se respeitam, se amam, se apoiam e se encorajam” (Lauriano, 2020).

Fonte: Freepik

Referências

Lauriano, Paola. Entre os relacionamentos saudável e abusivo: e “corte de névoa e fúria” de Sarah j. Maas(2020) Disponível em < https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/16258/1/TCC-Letras-2020-Paola-Lauriano.pdf

NEAL, A.  Relações destrutivas: se ele é tão bom assim, por que eu me sinto tão mal? São Paulo, Editora Gente, 2018.

Revista Conexão e Literatura. Relacionamentos. Artigo sobre o livro Relacionamentos  Destrutivos- Se ele é tão bom assim, por que me sinto tão mal?”  Disponível em < http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/2018/04/livro-relacoes-destrutivas-se-ele-e-tao.html>. Acesso: 29, de out, de 2021.

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Steven Universo – um retrato sobre relacionamentos abusivos em “Alone at Sea”

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Steven Universo (ou Steven Universe, nos Estados Unidos) é uma série animada norte americana produzida por Rebecca Sugar para o canal televisivo por assinatura Cartoon Network. Você pode conferir mais sobre o desenho neste link:

No episódio “Alone at Sea”, ou “Sozinhos no Mar” em português, temos uma abordagem sobre relacionamentos abusivos e a dificuldade em seguir em frente em decorrência de traumas. Tudo isso retratada de uma maneira muito delicada para o público.

Sinopse: Steven, Greg e Lapis Lazuli fazem uma viagem de barco para o mar e encontram-se em águas perigosas.

O episódio começa com Steven levando Lapis Lazuli, sua amiga, para uma viagem de barco pelo mar com seu pai, Greg. Steven diz que, embora Lapis tenha passado por uma experiência traumática, onde ficou presa em uma fusão por meses, a água faz parte de quem ela é e ela não deveria ofuscar o quanto ela gosta dela.

Em um breve resumo: meses atrás, Lapis Lazuli, para poder salvar Steven, se fundiu com uma inimiga (Jasper) e a prendeu no mar, não permitindo que a fusão se desfizesse durante meses. A experiência foi extremamente traumática para Lapis, que se encontrava em uma constante luta para não deixar Jasper desfazer a fusão e escapar. Na série, as fusões são retratadas como um relacionamento, onde ambas as partes precisam estar de acordo para funcionar, o que não foi o caso da fusão de Lapis com Jasper, onde as duas passaram meses presas no caos dessa fusão, levando a uma experiência traumática para ambas.

Jasper e Lapis, presas no interior da fusão

Voltando ao episódio, Lapis reforça que não foi apenas uma experiência traumática, dando a entender que foi pior que isso, mas Steven insiste em leva-la para essa viagem, de modo a ver o lado bom de não estar mais passando por isso, e, embora Lapis diga que acha que não mereça, irá tentar.

Durante a viagem, Lapis e Steven se divertem bastante, jogam conversa fora, tentam pescar e admiram a paisagem, mas Lapis constantemente olha para o oceano com uma vista triste e começa a se sentir pra baixo. Mais tarde, alguma coisa bate no barco causa um tremendo barulho, e antes que eles pudessem saber o que era, ocorre outra batida que acaba prejudicando o motor do barco, fazendo com que Greg desça ao motor para saber o que aconteceu.

Enquanto isso, Steven pede desculpas pela viagem estar fracassando, mas Lapis diz que é culpa dela por não conseguir aproveitar a viagem por constantemente pensar sobre a fusão com Jasper e a constante batalha que enfrentou durante os meses que isso durou.

Steven diz que ela não precisa mais se preocupar com isso, pois Lapis não precisa mais estar com Jasper nessa fusão, mas para sua surpresa Lapis diz que sente falta dela. Steven não entende e comenta o quanto Jasper era horrível para ela, mas Lapis diz chama a si mesma de terrível e diz o quanto é culpada por tudo de ruim que aconteceu com ela desde que chegou à Terra, ao mesmo tempo em que grita com Steven questionando se ela estava errada.

O barco bate violentamente em alguma coisa novamente, e então algo começa a subir nele. De repente, Jasper aparece dizendo “finalmente, achei que nunca conseguiria te encontrar novamente”, com uma expressão insana. Lapis questiona se Jasper estava os seguindo, mas Jasper a corrige, dizendo que na verdade era Lapis que estava a procurando. Steven tenta interferir com seu escudo, protegendo Lapis, mas Jasper começa a rir dizendo que Steven está apontando o escudo na direção errada, que era a Lapis que ele deveria temer.

Lapis diz que isso não é verdade, mas Jasper a confronta e diz que sabe do que ela realmente é capaz de fazer. Jasper diz que achava que ela era bruta, mas que agora vê como Lapis é um monstro. Jasper tira Steven do caminho e antes que Lapis pudesse ajuda-lo, Jasper agarra seu braço e ajoelha, pedindo para que se fundissem novamente.

Jasper explica como fundidas as duas eram maiores, mais fortes e podiam até voar. Steven alerta Lapis para não a ouvir. Lapis diz o quanto ela realmente foi horrível para Jasper, odiando-a e descontando toda a raiva nela e na fusão. Jasper começa a implorar, dizendo que Lapis a mudou, que ela é a única capaz “aguentá-la” e que juntas elas seriam imparáveis.

Lapis olha para Steven, que estava esperando que ela fizesse a escolha certa, e diz não. Lapis diz que nunca mais quer sentir o que sentiu quando estavam juntas, mandando Jasper ir embora. Jasper fica furiosa e culpa Steven pela rejeição de Lapis. Ela vai em direção a ele para destruí-lo, mas Lapis usa seus poderes para mandar Jasper pra muito longe, de volta ao oceano.

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O barco começa a afundar e Lapis leva Steven e Greg voando. Steven diz o quanto está feliz por ela ter feito a escolha certa e ter derrotado Jasper. O episódio acaba com Lapis concordando e eles vão embora, aliviados.

 

 

Este episódio faz diversas referências a traumas e relacionamentos abusivos na vida real.

Lapis se sente culpada por tudo de ruim que aconteceu a ela desde que chegou a Terra, chegando a dizer que não merece coisas boas ou ser feliz.

water wangs — i was terrible to you. i liked taking everything...

Quando confrontada por Steven, que diz o óbvio ao mencionar quão horrível era a fusão das duas, algo que no desenho foi sempre retratado como relacionamento, Lapis diz que na verdade sente falta daquilo, mostrando como é difícil para pessoas que se encontram em relacionamentos abusivos se desapegarem ou enxergarem o que estão passando.

Steven Universe Lapis admits she miss being fused to Jasper on Make a GIF

Jasper ajoelha e diz que mudou, colocando-se em uma posição de vulnerabilidade e arrependimento, dizendo que é a única capaz de aguentá-la, fazendo uma chantagem emocional, que depois claramente se mostra falsa quando a mesma tenta atacar Steven, culpabilizando-o, sendo uma referência a como pessoas abusivas culpam as outras pessoas e fatores externos para se livrarem da culpa.

Tantei Armin

Embora Jasper seja a vilã no desenho, o episódio aborda como ambas as pessoas nesse tipo de relacionamento podem ser abusivas umas com as outras, mostrando Lapis como um dos fatores que também contribuiu para que isso acontecesse.

A dificuldade de Lapis para aproveitar a viagem e os momentos bons com Steven mostra a dificuldade que as pessoas que passaram por esse tipo de trauma possuem para conseguir seguir em frente, mesmo quando não estão mais vivendo aquilo, ao mesmo tempo em que se sentem culpadas ou não conseguem ter uma perspectiva diferente e melhor para o futuro.

Ainda assim é possível seguir em frente.

 

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Você vive um relacionamento abusivo?

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Não é fácil definir um relacionamento abusivo, muito menos identificar se você é o abusador ou o abusado. Claro, algumas situações são óbvias, como por exemplo, quando a esposa apanha do marido, quando há uma violência explicita. Mas o relacionamento abusivo não se limita a surras e a danos físicos. O dano psicológico é até mais devastador do que o corpo machucado. Mulheres gostam de apanhar? A não ser em casos de masoquismo, a resposta é “não”. Então por que não se defendem? Por que não delatam o companheiro violento? Por que continuam com ele e ainda inventam desculpas para suas surras? Simples, porque antes de serem abusadas fisicamente, elas foram abusadas psiquicamente.

Antigamente, somente os homens trabalhavam. Eram eles que sustentavam a família. Eram eles que recebiam salário. Eram eles que detinham o poder dentro de casa. O marido mandava e a mulher obedecia. Simples assim. Em famílias mais machistas, o homem poderia trair a esposa, agredi-la física e verbalmente, inclusive diante de outras pessoas, controlar suas amizades, seus relacionamentos familiares, enfim, o homem era o dono e a mulher, a propriedade. A maioria aceitava o fato como se fosse uma lei. No entanto, mesmo aquelas que se revoltavam contra isso, eram obrigadas a aguentar, ou porque não tinham como se sustentar sozinhas, dependiam do marido para tudo, ou porque a família era contra a separação. O aspecto religioso também tinha muita influência na submissão da mulher. O homem era a cabeça, dizia a igreja, e a esposa tinha obrigação de obedecê-lo. Em algumas partes do mundo, até hoje isso é realidade.

Mas e quanto às mulheres que são independentes, livres da dominância masculina e religiosa? Por que não se rebelam contra o relacionamento abusivo? Por que continuam dia após dia ao lado do abusador? Por que inventam desculpas que protegem o homem que as espanca? 

Fonte: encurtador.com.br/jrIJ5

Alguns esclarecimentos 

Para efeito desse artigo, usarei sempre o exemplo de um homem, como abusador, e sua companheira, como abusada. Mas antes de mais nada, é preciso deixar alguns pontos bem claros. Nem todo abusador usa da violência física. A violência psicológica é mais poderosa e duradoura. Não deixa marcas e o dano pode ser irreversível.

Nem sempre o abusador é o homem. Mulheres também podem ser, e muitas vezes são, abusivas.

Qualquer relacionamento pode ser abusivo. Entre pessoas de sexos opostos ou não.

Qualquer relacionamento pode ser abusivo, não apenas entre casais. Pode haver abuso entre amigos, entre pais e filhos, entre professores e alunos.

Nem sempre o abusador sabe que está abusando e nem sempre o abusado percebe que está sendo dominado.

O abusador não tem cara de vilão e o abuso começa aos poucos, discretamente, disfarçadamente. Normalmente ele é encantador, cativante e você não acredita na sorte que teve de encontrá-lo.

Muitas vezes o abusador se torna abusador porque o abusado lhe confere muito poder. Nem sempre é fácil resistir ao poder.

Fonte: encurtador.com.br/vDFQV

Mas no que consiste o abuso?

Como saber se você está em um relacionamento abusivo?

Você começa a perder a voz. Sua voz não é mais ouvida, não tem mais valor.

Você começa a perder os amigos. De repente, não há mais nenhum amigo em sua vida.

Você começa a se afastar dos parentes. Frequenta cada vez menos os eventos, as festas, as reuniões sociais.

Você muda a maneira de se vestir, você para de beber, não dá mais aquelas gargalhadas altas, não faz mais nada divertido.

Você frequentemente se sente inadequada.

Você frequentemente se sente indigna de amor.

Você já não tem mais autoestima.

A única pessoa que te ama verdadeiramente é aquela que está ao seu lado.

Nada do que você faz está certo. Nada do que você faz tem valor.

Você não serve para nada.

Você se olha no espelho e não mais se reconhece.

Quando é maltratada, você acha que mereceu, que a culpa foi sua.

Você tem medo de perdê-lo, pois ninguém mais vai te querer.

Fonte: encurtador.com.br/hJM45

A armadilha

Júlio é encantador. Não necessariamente bonito, mas charmoso. Desde o começo trata Amanda como se ela fosse uma joia rara e delicada. Ele lhe dá presentes lindos, leva a amada a diversos restaurantes, conquista toda a sua família e até os amigos dela incentivam o namoro.

Ele pede que Amanda vá morar com ele e ela prontamente aceita.

Um dia, vão sair para jantar e ele diz, com todo o cuidado, que a roupa dela está muito decotada. Mulher de respeito não usa roupas daquele jeito. O que vão pensar dela? Se ela quiser sair assim mesmo, tudo bem, ele só está zelando por sua imagem. A mulher gosta de sua roupa, mas talvez ele tenha razão. E não custa nada agradá-lo, só dessa vez.

Mas aos poucos, ela começa a usar, cada vez mais, roupas mais sérias e sóbrias. Afinal, não quer que ninguém pense mal dela e seu companheiro só está tentando protegê-la.

Eles vão a uma festa na casa de alguns amigos e na volta ele fica amuado. Quando ela insiste em saber o que aconteceu, Júlio lhe diz que seus amigos são falsos e não gostam dela de verdade. Com exceção do Rafael que está dando em cima dela e só ela não percebe.

A mulher não acredita, mas quando saem com seus amigos novamente, ela começa a procurar sinais em todos eles. Aos poucos, vai se afastando dos homens e restringe sua amizade só às mulheres.

Mas as mulheres também não prestam. A Luciana tem inveja dela e a Raquel está sempre se insinuando para ele. Assim, Amanda começa a evitar suas amigas. Com o tempo, os convites ficam mais escassos e logo a mulher não tem mais com quem sair, a não ser os amigos de Júlio, de quem ela não gosta muito.

O homem também começa a implicar com a família de Amanda. Nada muito óbvio, nenhum insulto claro. Apenas algumas alusões à fatos que ele percebeu: sua família nunca a amou de verdade. O preferido sempre foi seu irmão. Seu pai, obviamente não gosta dele e faz com que ele se sinta um intruso na família.

Aos poucos, Amanda começa a se afastar também da família. Não tem problema, ela está com Júlio, o único que a ama de verdade.

Então, ele começa a fragilizar a confiança da mulher. Ela está engordando. Em tom jocoso, começa a chamá-la de bolota. Seus cabelos estão muito compridos. Seus cabelos estão muito curtos. Ela não vai envelhecer muito bem. Ela está com aparência de doente. Ainda bem que ele não liga para as aparências. Mas ela podia se esforçar um pouquinho mais.

Júlio sempre caçoa de Amanda, chamando-a de burrinha. Tudo o que ela diz, é bobagem. Ela não sabe de nada. Tão tapadinha, coitada.

Ele vai minando as forças da mulher em todas as áreas. Quando ela fica zangada ou ofendida, no dia seguinte ele lhe dá uma dúzia de rosas.

Em um dia, ele lhe agrada. No dia seguinte, ele a despreza.

Amanda passa a viver em uma montanha russa de emoções. Quando acha que não vai suportar mais suas grosserias, Júlio a surpreende com algum presente ou a leva para jantar em seu restaurante favorito. Ele a eleva um pouquinho, para em seguida deixá-la cair de cabeça.

Ninguém jamais vai te amar como eu te amo. Você é burra mesmo. Nossa, você está cada dia mais feia. Quem vai olhar para você? Seu gosto para roupas é muito cafona. Deixa que eu escolho o que você vai vestir. Você não percebe que todo mundo caçoa de você. Fala menos que é melhor. Não sei o que vi em você. Mas não se preocupe, estarei sempre ao seu lado.

A autoestima de Amanda nunca esteve tão baixa. Uma mulher linda, inteligente, independente. Competente em seu trabalho. Respeitada pelos colegas. Mas quando ela se olha no espelho, tudo o que ela vê é uma mulher gorda, acabada, velha, burra, desprezada, um zero à esquerda. Ela não tem mais valor. Ela não tem mais opinião própria. Era viva, alegre, sorridente. Agora mal sorri. Mas Amanda não conta nada a ninguém. Não quer que julguem seu companheiro. Afinal, ele é muito bom para ela. Se às vezes ele a magoa é porque só quer o seu bem. Ele a ama.

Depois de um tempo nesse relacionamento tóxico, Amanda já se acostumou a ser maltratada. Os insultos ficam cada vez piores. As gentilezas cessam. A sutileza some. Uma vez, a comida está sem sal. Ele joga o prato que se espatifa no chão. Furioso ele manda a esposa limpar aquela sujeira. Amanda se recusa. Está magoada e assustada. Júlio, então lhe dá um tapa na cara. Mais tarde, ele vai procurá-la no quarto e diz que ela o força a fazer essas coisas. Ele não quer, mas ela precisa aprender. Amanda, já com seu psicológico completamente fragilizado, passa a acreditar que realmente tudo é culpa dela.

Um dia a mulher chega ao trabalho com o olho roxo. Os colegas perguntam o que aconteceu e ela responde que caiu e bateu o rosto no móvel da sala.

Outro dia ela liga para o trabalho alegando que está doente. Mas quando ela volta a trabalhar, as marcas em seus braços ainda são visíveis.

A violência física e verbal vai se tornando cada vez pior. Amanda pensa constantemente em se separar, mas e se nunca mais alguém gostar dela? Ela é muito amada, tem certeza disso. Quem mais a amaria? Quem mais cuidaria dela como Júlio cuida? Ela não vale nada. Ela é feia, gorda, burra, incompetente. Quem mais ficaria ao lado dela?

E assim acontece com muitas mulheres, nesse mundo moderno, ainda nos dias de hoje. Não há, necessariamente violência física. Nem todos os relacionamentos abusivos chegam até esse ponto. Mas certamente há violência psicológica. E essa é a chave de tudo.

Fonte: encurtador.com.br/kvxGZ

Como então, se proteger?

Você pensa: ah, isso jamais aconteceria comigo. Será? Imagine uma torneira pingando uma gota de água incessantemente. No começo, você não presta atenção. Depois, começa a ficar levemente irritado. Depois acha que vai enlouquecer. Mas as primeiras gotas, você nem percebe. É muito fácil se deixar influenciar sem perceber. Depois de ser bombardeado com determinada informação, o cérebro passa a acreditar naquilo que está ouvindo constantemente. E quem manda é o nosso cérebro.

Lembre-se, nem sempre percebemos essa lavagem cerebral. Precisamos estar constantemente atentos. Isso é possível? Se estivermos sozinhos, será muito difícil. A armadilha é sutil. Nenhum homem maltrata uma mulher logo que a conhece. Primeiro ele a conquista. Depois ele vai minando sua confiança pouco a pouco. As mulheres abusadas não são burras, não gostam de apanhar, não são carentes, não escolheram ser abusadas.

Então não tem saída? Sim, tem. Nunca se isole. Converse sempre com alguém de sua confiança. Você precisa ter pelo menos alguém na sua vida com quem possa conversar sobre tudo, nem que seja um terapeuta. Alguém que não vai julgar, não vai condenar, e vai mostrar uma perspectiva que você não está enxergando. Uma pessoa que possa devolver a sua voz.

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A rápida decomposição da rosa: relacionamentos abusivos

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Os relacionamentos atuais (inclusive o meu) estão, em grande escala, baseados na posse e este sentimento de posse, pode ser o motivo da ´´morte“ de muitos relacionamentos. Este trabalho tem como ideia principal, fazer uma analogia da rápida decomposição da rosa comparando com os relacionamentos possessivos. Minha inspiração foi um rico ensinamento de  Osho: Se você ama uma flor, não a colha. Por que se você colhê-la, ela morre e deixa de ser o que você ama. Então se você ama a flor, deixe-a estar. O amor não está na posse. O amor está na apreciação.

Fotografei a rosa por 14 dias, aos quais vou relatar adiante.

Analogia: Eu sou a sádica (dominadora/sedutora) e a rosa a masoquista (dominada/seduzida)

1° Dia

Cheguei a floricultura e vi uma encantadora rosa, era linda e cheirosa, me apaixonei e a tomei para mim. Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi colocá-la em uma garrafa com água fresca. Foi fotografada pela 1ª vez as 17 horas. A textura da pétala era macia e aveludada, extraia de mim o deseja de abraçá-la e cheirá-la por horas, pois seu cheiro era fresquinho e delicioso. Sua cor me encantava os olhos, era um vermelho vivo e vibrante. Sua estrutura era ereta, estava lá confiante de “cabeça erguida“. Havia também 2 (duas) folhas verdinhas e apesar de ser uma rosa aberta, seu botão estava estreito e justinho, acompanhado por um talo longo e verde.

2° Dia

A textura da pétala continuava macia e aveludada, com cor viva e vibrante. Ah, seu cheiro continuava fresco e gostoso. Aquele cheiro me satisfazia, continuava com o desejo de passar o dia a cheirando. Continuava lá, firme e ereta, com 2 folhas verdes e um talo longo e verdinho. Apesar de seu botão ter aberto um pouco, mesmo assim fui gentil e troquei sua água. A levei para dois cômodos da casa.

3° Dia

Continuava macia e aveludada, me agrava o toque. Seu vermelho continuava vivo e vibrante. O cheiro fresquinho e gostoso. Estava em posição ereta. Continha ainda suas 2 (duas) folhas e um talo verdinho. Me agradava muito, como recompensa lhe troquei a água. Deixei-a na varanda tomando ar fresco.

4° Dia

Apesar das pontas das pétalas estarem um pouco secas, o botão um pouco mais aberto e o cheiro não tão fresco, ela continuava me agradando, pois suas pétalas estavam macias e aveludadas, sua cor era um vermelho vivo e vibrante e seu aroma ainda estava gostoso. Sem falar que continuava com 2 (duas) folhas, ereta e com talo verdinho. Transitei com ela por 3 (três) cômodos da casa.

5° Dia

Acordei irritada com ela, pois sua textura não era mais tão macia como antes. Sem falar que sua cor estava saindo do vermelho e indo para o vinho. Seu cheiro não estava tão agradável, começou a feder. Sua estrutura tendia para o lado, não estava mais ereta como antes. Suas duas folhas estavam com uma aparência seca, com textura dura e de cor verde amarelado, no entanto seu talo continuava verde. Diante de tanta decepção a insultei e ameacei, pois ela não estava me agradando como antes. Não lhe troquei a água, pois não merecia.

6° Dia

Ao olhar pra ela, fiquei extremamente irritada. As pétalas estavam com as pontas secas e duras, o inicio das pétalas estavam vermelhas, mas suas pontas tendiam para a cor preta. Seu cheiro fedia a morte, sua estrutura ao invés de tender para o lado, agora tende para baixo. 1 (uma) folha já caiu, permanecendo apenas 1 (uma), e ainda por cima pendurada por um talo seco. O talo da rosa estava com 2 cores, verde na ponta e próximo ao botão estava amarelado. O botão estava bem aberto. Mesmo diante desta decepção fui muito gentil ao trocar sua água. No entanto ela precisava de uma lição para aprende a me respeitar. Eu a puni, deixei 24h dentro de um quarto fechado e escuro, na qual ela ficou próxima a parede que batia sol.

7° Dia

A ingrata estava morta. Mesmo depois de tudo que fiz por ela, não fiquei triste, fiquei com ódio. Sua textura estava seca, indo para o duro. Sua cor estava mesclada entre roxo, amarelo e preto. Ela simplesmente fedia a morte. Sua estrutura estava virada para baixo. Já sem folhas, o talo saía do verde, indo para o preto e sua espessura perto do botão estava cada vez mais fina. Para recompensar sua morte, a deixei no ar-condicionado.

8° Dia

A textura estava seca e dura. A cor amarelo queimado mesclado com vinho e preto. O cheiro era de folha seca. Sua estrutura estava totalmente para baixo. O talo se encontrava preto e fino, mas a parte que estava coberta por água estava hidratada e se encontrava com cor verde escuro. Como forma de demonstração de me afeto por ela, eu quis agradá-la, troquei sua água, molhei suas pétalas e a levei para tomar ar fresco na varanda.

9° Dia

A rosa estava como no dia anterior, textura seca e dura, com amarelo queimado mesclado entre vinho e preto. Cheiro de folha seca. Inclinada para baixo, cada vez mais seca e preta, apenas o meio do talo permanecia verde escuro. Eu a insultei, como pode tanta ingratidão?! Mesmo assim ainda a levei para tomar ar fresco na varanda.

10° Dia

A rosa estava igual a dia anterior. Meus insultos não adiantavam. Parece que ela se acostumou. Adaptou-se rápido. Ela precisa de mim, eu via isso. Novamente eu a insultei.

11° Dia

A única mudança mais visível foi em relação ao talo, a cor do meio, que estava verde escuro, agora estava passando para a cor preta. Eu não lhe dei muita atenção, fiquei distante.

12º Dia

Continuava como no dia anterior e cada vez mais estava dependente de mim. Eu a insultei.

13° Dia

Enfim seu talo ficou totalmente preto. Coitada, totalmente dependente dos meus generosos cuidados.

14° Dia

Continuava como no dia anterior. Tirei-lhe da água. Eu tinha total domínio sobre ela.

Relacionamento Abusivo

Em entrevista ao Repórter Unesp, a psicóloga Raquel Silva Barreto, declarou que uma “Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o desejo de controlar o parceiro, de tê-lo para si. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar. ” E no meu relato com a rosa esta relação é bem nítida. Eu vi a rosa extremamente linda e a tomei para mim, comecei a controla-la de modo sutil, onde eu punia e reforçava aos poucos, lhe causei sofrimento e morte (do eu), até ter domínio total sobre ela.

Eu me encontrei na posição de Dominador-sedutor pois eu detinha poder/posse sobre a rosa, e meu objetivo era ser a coisa mais importante para ela. Como eu a tirei de seu lugar de origem, ela dependia de mim para ser molhado, tomar ar fresco etc. No momento em que ela não me agradava, eu a punia, mas ao mesmo tempo eu a compensava, o que fez com que ela ficasse fortemente ligada e dependente. Para isso, muitas vezes a inferiorizei, até que ela ficou totalmente curvada, sem vida e dominada, vendo em mim as qualidades que ela não possuía.

Experiência pessoal

Fazer este trabalho foi muito significativo, pois já vivi um relacionamento em que sempre tive um sentimento muito grande de posse. Quando eu comprei a rosa ela estava maravilhosa. Fiquei encantada, e com o passar dos dias, a ver morrendo me deixou bem triste. Quando eu a puni do 6° dia, não esperava que ela estaria morta no 7° dia, mas ela estava morta e quando a vi chorei muito. Fiquei totalmente desolada e angustiada. Refleti muito sobre o relacionamento que tive e percebi o quanto eu fiz mal ao meu namorado em todas as vezes que eu o privei de ser ele mesmo, tentado transforma-lo em alguém com qualidade e características que somente eu gostaria que ele tivesse.

Depois de punir a rosa, a deixei no quarto com o ar-condicionado ligado, a molhei, troquei sua água, a levei para diferentes cômodos da casa, mas nada adiantou, nada lhe trouxe a vida de volta. Tive domínio e superioridade diante da rosa, no entanto a rosa não era mais a mesma, estava sem vida e sem personalidade própria.

Este trabalho me ajudou e enxergar a beleza e riqueza das diferenças dentro de um relacionamento. Hoje não penso em ter um namorado que viva apenas por e para mim, mas o quero para o mundo, e que a escolha seja dele de estar e permanecer comigo. Fazer o contrário, do que fiz com a rosa, em meus relacionamentos, fez com que eu potencializasse as qualidades dos parceiros que tive e que tenho. Diante disto, a reciprocidade, o amor e o respeito se tonou evidente em minhas relações, sendo saudáveis e gostosas de se permanecer.

Referências:

Repórter Unesp. Psicóloga explica relacionamentos abusivos: o que é e como lidar com essa situação. Acessado em<

http://reporterunesp.jor.br/2015/08/20/psicologa-explica-relacionamentos-abusivos-o-que-e-e-como-lidar-com-essa-situacao/ > no dia 22/03/08/19

ZIMERMAN, David. Manual de Técnica Psicanalítica. Editora: Artmed,  2003

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A esposa: o retrato da desvalorização do feminino

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Concorre com 1 indicação ao Oscar:

Melhor Atriz

‘A esposa’ é um filme de drama, lançado em 2017, dirigido por Björ Runge, estrelado por Jonathan Pryce e Glenn Close. O longa foi indicado ao Globo de Ouro na categoria melhor atriz em filme de drama, pela interpretação de Glenn Close.

Joan Castleman e Joe Castleman são casados a mais de 30 anos, e em um dia comum, enquanto dormiam, recebem uma ligação para avisar o senhor Joe que ele era o escolhido do prêmio Nobel de Literatura daquele ano. A felicidade é imensa para Joe, que comemora aos pulos em cima da cama juntamente com sua esposa.

Joe era professor de universidade antes de casar-se com Joan, e foi na universidade que eles se conheceram, quando ela mostrou a ele um de seus escritos na tentativa de futuramente publicá-lo. Na época da academia Joan escrevia muito, no entanto, ela sabia que uma mulher não faria sucesso como escritora naquele período onde apenas os homens tinham créditos por escreverem, e eram os seus livros que saíam das prateleiras para as mãos dos leitores.

Casados, Joe e Joan precisavam arranjar seu sustento, e apostaram na escrita de Joe para a produção de livros. Joan trabalhava em uma editora e ouvindo seu chefe dizer que precisa de um escritor judeu, ofereceu a obra de seu marido. Ao chegar em casa Joan passa a notícia para o esposo, e ele pede que ela dê uma olhada nos seus escritos . E é aqui onde toda a magia acontece!

Fonte: encurtador.com.br/kqKNX

A primeira obra de Joe Castleman é publicada e alcança um grande sucesso! O casal então consegue ganhar dinheiro para comprar uma casa a beira do mar e suas vidas deslancham. Em seguida, eles têm dois filhos, e aparentemente parece ser essa a história comum que o filme irá retratar ao telespectador. Mas não se engane, porque o sucesso que se sucede a partir daqui é fruto de grandes injustiças e humilhações resultantes do machismo e opressão que Joan Castleman sofre por parte do seu esposo.

A personagem Joan interpretada pela atriz Glenn Close, é a chave central do filme e é ao seu entorno que o enredo circula. Joan é a verdadeira escritora de todas as obras de sucesso de seu marido, e nunca recebeu os créditos por elas porque não fariam sucesso usando o nome de uma mulher. Então, a verdadeira história é que era ela quem sentava todos os dias, 8h por dia, em frente a máquina de escrever, e usava o seu “toque de ouro” e transformava as palavras em obra de arte.

Quem dera fosse apenas essa injustiça, mas não. Joe traía Joan com outras mulheres, incluindo as babás dos seus filhos, e quando ela descobria as traições ele aos prantos pedia desculpa e dizia “Use isso Joan, use isso!”, o que significava usar suas traições como inspiração para os personagens dos próximos livros.

Joan permaneceu nesse casamento até o dia da notícia do prêmio Nobel, e é no caminho para Estocolmo que a escritora inicia sua jornada de reflexão e melancolia sobre quem era ela, e o que deixou de ser, por causa do seu casamento e das estruturas do patriarcado e do machismo que a amedrontaram e fizeram desistir do sonho de ser uma escritora reconhecida.

Fonte: encurtador.com.br/ioy45

É angustiante e revoltante ver a atuação de Glenn Close, porque ela leva você a experimentar o sentimento de desvalorização e exclusão apenas por ser mulher, de forma muito autêntica. O desejo que a telespectadora sente a todo tempo é o de livrá-la daquele sofrimento e tirá-la de dentro do filme, e ao mesmo tempo de dizer a cada homem e mulher presente na premiação do Nobel, que ela, Joan Castleman, é a verdadeira escritora e vencedora daquele prêmio. A maneira como a personagem lida com todos os acontecimentos é assustadoramente calma, mantendo uma aparência de serenidade intensa a todos os que a cercam, mas o telespectador consegue ver o grito de sofrimento que se esconde dentro de sua alma.

O ápice do filme que se mostra já ao final da produção, que é marcado por uma cena em que Joan decide abandonar esse casamento que por tantos anos aprisionou a sua alma, e aqui ela diz para Joe tudo aquilo que abdicou e aceitou em prol desse casamento:

“Não, você teve casos. Isso, você chorava no meu colo, implorava por perdão, e eu sempre perdoava, porque, você sabe, de algum modo você me convencia que meu talento causava tudo. E quando estava com muita raiva, furiosa ou magoada para escrever, você largava a famosa mensagem “Use isso, Joan, use”. Por sorte eu achava um lugar para colocar, os críticos adoravam as imagens de Sylvia Fry, derramando lágrimas sobre seu vestido. Eles adoravam! “Outra obra-prima de Catleman”. Seu peito inflava quando lia aquelas resenhas. Inflava… E em vez de me sentir ultrajada, pensar no efeito sobre as crianças, eu observava e dizia: “Meu Deus, como posso captar esse comportamento? Como posso por isso em palavras?” Eu pus. Eu pus bem aqui. Outra obra-prima de Castleman. E…vamos ver. E este eu escrevi depois de você fuder…quem era? Já sei, nossa terceira babá. Minhas palavras, minha dor, horas sozinha naquela sala, transformando seu comportamento vil, literalmente em ouro.”

Fonte: encurtador.com.br/elqGK

A relação conjugal de Joe e Joan configura o típico casal que faz da esposa a cuidadora mor de todos os problemas e necessidades que perpassam a família (esposo e filhos). É ela quem assume o papel de apaziguadora de conflitos e estabelece formas de se relacionar que ajudem todos a conviverem bem. Diante disso, o esposo se isenta de qualquer tipo de postura de responsabilidade por si mesmo e por suas ações, assumindo o característico personagem do “homem isentão”.

Além disso, pode-se perceber a existência de um relacionamento abusivo, que apesar de não conter agressões físicas, existem agressões psicológicas e morais, levando em consideração os casos de traições de Joe que acabavam sendo delegados por ele como culpa de Joan, por causa do seu talento para escrever. Esse comportamento é muito citado entre as publicações feministas, como um meio que o homem encontra para assegurar sua masculinidade diante de uma mulher que é mais talentosa do que ele. Tais meios vão desde agressão física até tentativas de culpabilizar a mulher, humilhá-la, proibi-la em algumas coisas (CORTEZ e SOUZA, 2008).

Para tentar explicar o porquê do permanecimento de Joan nesse relacionamento amoroso que tanto lhe prejudicou Cortez e Souza (2008, p.) trazem que “(…) a figura da mulher heroína/sofredora imperou em relação à da mulher infeliz, prevalecendo o sacrifício pelo bem-estar dos filhos e pelo bem maior que a instituição familiar representa.” Ao final, a sensação que fica é de injustiça pela personagem, e é difícil para as telespectadoras que partem de um pressuposto feminino de igualdade, entenderem as escolhas feitas pela esposa.

Fonte: encurtador.com.br/jkAU0

A atriz Glenn Close foi indicada ao prêmio de melhor atriz em filme de Drama, e recebeu o Globo de Ouro em 2019, por sua interpretação no filme ‘A esposa’. Nada mais merecido…

FICHA TÉCNICA:

A ESPOSA

Título original: The Wife
Direção: Björn Runge
Elenco:
Glenn Close,Jonathan Pryce,Max Irons
Países: Suécia, EUA
Ano:
2017
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS:

CATANI, Letícia Oliveira; SILVA, Juvêncio Borges. POLÍTICAS PÚBLICAS CONTRA O MACHISMO COMO INSTRUMENTO VIABILIZADOR DE RECONHECIMENTO E EFETIVAÇÃO DA CIDADANIA FEMININA. Revista Húmus, São Paulo, v. 7, n. 20, p.33-54, jan. 2017. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahumus/article/view/6756/4835>. Acesso em: 10 jan. 2019.

CORTEZ, Mirian Béccheri; SOUZA, Lídio de. Mulheres (in)Subordinadas: o Empoderamento Feminino e suas Repercussões nas Ocorrências de Violência Conjugal. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Vitória, v. 24, n. 2, p.171-180, mar. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v24n2/05>. Acesso em: 10 jan. 2019.

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Violência contra a mulher: mais de 940 casos registrados

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Os dados referem-se ao período de janeiro a julho. Nudem alerta para a importância rede de atendimentos que ofereça proteção às mulheres.

Dados da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) revelam que 943 denúncias de violência doméstica contras mulheres chegaram à Instituição somente no período de janeiro a julho deste ano, o que sugere uma média de mais de 150 casos por mês. Ao todo, considerando as denúncias e outras situações relacionadas ao assunto, como o contraditório e orientações, entre outras, foram 1.084 atendimentos nessa área.

O relatório do departamento de Estatística da Corregedoria Geral da DPE-TO mostra, ainda, que a maior quantidade do total de atendimentos desta área, no primeiro semestre deste ano, foi em Palmas (570), seguida de Araguaína (318), e Gurupi (121). Em municípios menores do interior do Estado há poucos casos de atendimento nesta área, a exemplo dos registrados em Aurora do Tocantins (1), Novo Acordo (2) e Wanderlândia (3).

Coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da DPE-TO, a defensora pública Vanda Sueli Machado explica que os poucos registros nas cidades do interior não querem dizer que há pouca violência, mas que, possivelmente, existe ainda muito medo em denunciar. “Por residirem em cidade pequena, onde todos se conhecem, o medo e a vergonha de denunciar são maiores”, disse a Defensora Pública.

De acordo com Vanda Sueli, a violência contra a mulher, seja doméstica ou nas ruas, ainda é muito elevada, principalmente para as que possuem menos instrução e consciência dos seus direitos. Nesse cenário, são comuns os atendimentos de casos reincidentes. “Há muitos casos em que a mulher desiste da medida protetiva por dependência financeira. Ela volta para casa somente porque o homem é o responsável pelo sustento do lar. A maioria das mulheres não tem emprego fixo e são subordinadas ao homem”, disse a coordenadora do Nudem.

Lei Maria da Penha
Os casos de violência no Brasil são amparados com medidas judiciais pela Lei Maria da Penha, que completa 12 anos nesta terça-feira, 7 de agosto. Trata-se de um grande marco no combate à violência contra a mulher no Brasil desde que Constituição Federal passou a dar fundamento constitucional ao combate à violência doméstica, obrigando ao Estado criar mecanismos para coibir a violência familiar (artigo 226, § 8º). Testemunhas também podem fazer denúncias de forma anônima.

Fonte: goo.gl/gUD8DD

De acordo com a coordenadora do Nudem, antes da referida Lei as mulheres vítimas de violência estavam completamente desamparadas judicialmente. “As regras não eram tão rígidas e não havia tanta proteção, por isso, muitas mulheres sequer denunciavam por medo de vingança dos companheiros”, considera. Porém, mesmo tendo uma das melhores Leis de combate à violência doméstica, o Brasil ainda tem uma das maiores taxas de feminicídio do mundo, com uma mulher sofrendo algum tipo de agressão a cada 7 minutos.

Nudem
O Nudem é um núcleo especializado, instituído especialmente para atender às mulheres vítimas de violência. Entre as atribuições estão: prestar orientação e apoio de natureza sócio-jurídica, encaminhar os casos de acordo com as suas especificidades à rede de proteção e defesa da mulher, desenvolver ações de prevenção mediante atendimento especializado de orientação e assistência jurídica, psicológica e social; e realizar estudos e pesquisas voltadas à temática, com vista à elaboração das políticas públicas dirigidas à proteção da mulher vítima de violência doméstica e familiar, dentre outros.

Denuncie
Os principais meios de denúncias relativas à violência doméstica é o “Ligue 180” e “Disque 190”, que podem ser acionados gratuitamente. Em casos de violência sexual, a vítima deve procurar o Serviço de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual (Savis), que funciona no Hospital Maternidade Dona Regina (HMDR), em Palmas. Pode procurar, ainda, hospitais ou postos de saúde públicos para atendimento de primeiros socorros e narrativa da agressão.

Outra iniciativa é ir à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), registrar Boletim de Ocorrência, requerer as Medidas Protetivas de Urgência (MPU) e/ou representar criminalmente. A vítima pode comparecer ao Nudem da Defensoria ou à DPE-TO em sua cidade para receber orientações jurídicas e requerer representação criminal, bem como ações necessárias, como guarda de alimentos, divórcio, reconhecimento de união estável e danos morais e materiais, dentre outros. O telefone do Nudem é (63) 3218-6771.

Conheça as principais formas de violência doméstica no Brasil:

–  Humilhar, xingar e diminuir a autoestima
–  Controlar e oprimir
–  Expor a vida íntima
–  Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
–  Forçar atos sexuais desconfortáveis
–  Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la a abortar
–  Controlar o dinheiro ou reter documentos
–  Quebrar objetos pessoais

Leia também:

Defensoria disponibiliza arquivo para download com o número do Disque Denúncia 180
http://www.defensoria.to.def.br/noticia/29010

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Venha aqui, mulher

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