Vivência pós-depressão: de frente com meu 1º relato publicado no (En)Cena

Compartilhe este conteúdo:

A Depressão é um Transtorno Mental correntemente encontrado na população em geral. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (2020), os problemas mentais têm sido uma predisposição global, nisso, 5,8% da população no Brasil tem sintomas depressivos, sendo o segundo nas Américas, ficando atrás dos Estado Unidos, com 5,9%.
Para o Ministério da Saúde, a Depressão é “um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si” (BRASIL, 2015).

No sexo feminino o transtorno depressivo tem sido mais evidente e fortemente relacionado ao suicídio. Além de que, a doença provoca grande sofrimento e afeta diretamente na qualidade de vida, podendo gerar tentativas de suicídio ou o suicídio propriamente dito (CREMASCO; BAPTISTA, 2017).

Quando se fala em Depressão dentro das universidades, supõe-se que 15% a 25% dos universitários manifestam ao menos um transtorno psiquiátrico em seu período de formação acadêmica, sendo a depressão um dos aspectos dominantes (CAVESTRO; ROCHA, 2006). As alternâncias nas etapas da vida que contribuem para o desenvolvimento biológico, psicológico, cultural e social, faz com que cada indivíduo dê significados a suas experiências. Nisso, as vivencias nas universidades pode caracterizar, aos jovens, mudanças culturais, corte umbilical dos pais, inserção nos grupos/medo de não ser aceito, enfim, transformações no seu estilo de vida antes vivido.

Fonte: encurtador.com.br/bquKY

Em uma pesquisa realizada por Bonifácio, Silva, Montesano, e Padovani (2011), com 17 alunos (7 homens e 10 mulheres) das séries finais (4º ano e 5º ano) do curso de Psicologia, na Universidade Federal de São Paulo, permite considerar que demandas de moradia em repúblicas, adaptação ao ensino e aprendizagem, necessidade de organização do tempo e de atividades, o estabelecimento das novas relações interpessoais evidenciam o desenvolvimento de fatores potencialmente estressantes para uma parcela significativa da população universitária.
Nesse sentido, será analisado o relato de experiência escrito por mim em processo depressivo no ano de 2018 e publicado no Portal (En)Cena do Ceulp/Ulbra. Sou Lizandra Paz de Oliveira, vulgo Índia Lii, 10° período de Psicologia.

Vivemos em um campo de batalha contínua…

O sentimento de se sentir sozinha vai além do sentimento de solidão. É uma combinação de desespero, vazio, turbilhão de sentimentos sem nexo, de dor. Não é sobre ter medo do escuro ou do que pode acontecer amanhã. É sobre você não saber o sentido da sua existência; é sobre não compreender aonde os valores e princípios foram abandonados pela sociedade; é sobre carregar nas suas costas a culpa de não estar fazendo algo para salvar o mundo, o seu mundo.

Sabe como é beber um iogurte e não sentir se o seu sabor é morango, coco ou pêssego? Pois é, o ato de não sentir o gosto da sua comida favorita maltrata. Não ter vontade de fazer o que pulava o muro de casa para fazer escondido dos seus pais. Não conseguir levantar da cama sentindo um cansaço nos ombros que sem cessar pesa dentro do seu corpo.

Fonte: encurtador.com.br/gpyzC

Quantos gritos internos damos sem ecoar um som se quer. Quantas vezes em um momento de desistir de tudo, você resolve tentar mais um pouco, mais um dia. Pedi a ajuda, mas as pessoas acreditam que você é forte o suficiente para passar por mais essa “fase”. Realmente sou forte, não sabem o que tenho que fazer para pelo menos abrir os olhos e saber que mais um dia chegou.

Onde está meu lar? Onde estão os médicos, os psicólogos, os psiquiatras? Onde eu estou? Já procurei ajuda, mas até agora tenho usado minha bateria reserva. Não sei de onde vem às lagrimas, muito menos onde elas querem chegar, a única coisa que sei é que é a única coisa que traz alívios passageiros a minha alma.

Vivemos em um campo de batalha contínua, com monstros e sem armas para combater. Difícil matar algo que está dentro de nós. Queria poder alcançar com as mãos e arrancar de dentro de mim esse tumor chamado depressão. Meu cérebro está cansado; meu corpo está cansado; quero apenas dormir, descansar. Sei que não seria a solução para tudo, será tão egoísmo meu pensar apenas por hoje em mim? Por quanto tempo coloquei as outras pessoas na frente de tudo? Sempre foram minha família, meus amigos, meus colegas de trabalho; agora quero cuidar de mim. Preciso dormir, apenas isso.

Fonte: encurtador.com.br/moy03

Não quero publicações no meu facebook. Não quero flores no meu túmulo. Não quero lamentações. Todos os sentimentos por mim deveriam ser manifestados agora que preciso sentir algum valor na minha existência. Depois que minha matéria deixar de existir, apenas uma estatística serei, um número. Ter significado na minha morte pela falha em vida.

Índia Lii, abril de 2018.

O texto é iniciado com um desabafo que no decorrer é permitido captar a Depressão em seu estágio mais profundo, a exteriorização da procura de “matar a dor/os pensamentos”. Para compreender esse contexto de busca de entender os sentimentos durante os sintomas depressivos, Viktor E. Frankl em seu livro “Em busca de Sentido” relata que:

“Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa conquistar a consciência de que ela é única e exclusiva em todo o cosmo-centro deste destino sofrido. Ninguém pode assumir dela isso, e ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento. Mas na maneira como ela própria suporta este sofrimento está também a possibilidade de uma vitória única e singular. Para nós, no campo de concentração, nada disso era especulação inútil sobre a vida. Essas reflexões eram a única coisa que ainda podia ajudar-nos, pois esses pensamentos não nos deixavam desesperar quando não enxergávamos chance alguma de escapar com vida. O que nos importava já não era mais a pergunta pelo sentido da vida como ela é tantas vezes colocada, ingenuamente, referindo-se a nada mais do que a realização de um alvo qualquer através de nossa produção criativa. O que nos importava era o objetivo da vida naquela totalidade que incluiu a morte e assim não somente atribui sentido à “vida”, mas também ao sofrimento e à morte. Este era o sentido pelo qual estávamos lutando!” (FRANKL, 1984).

Em ocorrências de sofrimento, dor e em pensamentos de possibilidades de morte, a reflexão não é somente sobre qual o sentido da vida, também é sobre qual seria o sentido desse sofrimento, dessa dor, da morte.

De fato, a dor e o sofrimento, pertencem somente a pessoa que está sentindo ou atravessando determinadas transformações nas etapas da vida, até porque nossas experiências são únicas, intransferíveis, subjetiva e individuais. Só você, eu, podemos encontrar na dor e sofrimento os mais profundos sentimentos de esperança, sonhos e novas perspectivas que possam caracterizar em um novo significado a nossa existência. Como é possível fazer isso ocorrer? Com o apoio e intervenção profissional.

É um processo doloroso, na qual requer ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras para fazer alcançar os sentimentos positivos e ajudar a traçar novas formas de vivenciar os conflitos do dia a dia. É importante saber que não se estar sozinho nessa jornada, somos 5,8% da população. Não se escolhe estar em depressão ou não, mas se escolhe o que os caminhos a serem percorridos quando se identifica os sintomas. Procure ajuda, procure um psicólogo!
Lizandra Paz de Oliveira, 28 anos, funcionária pública, estudante do 10° período de psicologia.

Referências:
BONIFÁCIO, S. P.; SILVA, R. C. B.; MONTESANO, F. T.; PADOVANI, R. C. Investigação e manejo de eventos estressores entre estudantes de Psicologia. Rev. bras. ter. cogn. vol.7 no.1 Rio de Janeiro jun. 2011. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872011000100004> Acesso em: 23 de abril de 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Depressão. Brasília. 09 de setembro de 2015. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/2049-depressao> Acesso em: 23 de abril de 2021.
CAVESTRO, J. M.; ROCHA, F. L. Prevalência de depressão entre estudantes universitários. J. bras. psiquiatr. vol.55 no.4 Rio de Janeiro, 2006. Disponível em < https://doi.org/10.1590/S0047-20852006000400001> Acesso em: 23 de abril de 2021.
CREMASCO, G. S.; BAPTISTA, M. N. Depressão, motivos para viver e o significado do suicídio em graduandos do curso de psicologia. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 8, n. 1, p. 22-37, jun. 2017. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/eip/v8n1/a03.pdf> Acesso em: 23 de abril de 2021.

FRANKL. V. E. Em Busca de Sentido. Edição Norte Americana – de 1984. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/58/o/Em_Busca_de_Sentido_-_Viktor_Frankl.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2021.
LII. I. Vivemos em campo de batalha contínua. (En)Cena. pub. 05 de abril de 2018. Disponível em: < https://encenasaudemental.com/narrativas/vivemos-em-um-campo-de-batalha-continua/> Acesso em: 22 de abril de 2021.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Aumenta o número de pessoas com depressão no mundo. Brasília: OPAS/OMS. Disponível em: < https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5354:aumenta-o-numero-de-pessoas-com-depressao-no-mundo&Itemid=839> Acesso em: 23 de abril de 2021.

Compartilhe este conteúdo:

Minha participação no coletivo virtual Redemunho

Compartilhe este conteúdo:

Ao fazer estágio no (En)Cena, tive que escolher um tema dentre 9 conteúdos; preferi a temática “Psicanálise e Política”. Um dos motivos, ao optar por esse tema no estágio, foi porque tive bastante interesse em relação à psicanálise. Assim, conheci o Redemunho. Trata-se de um coletivo suprapartidário, tem como intuito a invenção e promoção de estratégias políticas democráticas, não autoritárias e que consideram como aliados os afetos e os desejos. Muitas vezes, utiliza como ferramenta a psicanálise como forma de compreender a extrema direita e os fenômenos de massa, seu modo discursivo e de exercício de poder.

Durante os dois meses que estou no estágio, tive vários encontros online com o grupo, e compreendi a imensa importância para mim e para minha futura formação profissional. Destaque para as discussões que ocorrem entre os membros do grupo para a construção de caminhos e estratégias com intuito de suportar as consequências dos resultados das últimas eleições em nossa saúde mental, como resistir e atuar politicamente, principalmente neste novo contexto político com características fascistas no Brasil.

Durante o estágio, percebi a grandeza de Paulo Freire para a minha formação acadêmica. Entrei em contato com a literatura desse gigante da educação por meio das obras, dos artigos, dos vídeos referentes a este autor, das discussões que ocorre no grupo. Assim, a literatura de Paulo Freire me ajuda compreender a importância de escuta da fala do outro; compreendê-lo como sujeito de discurso para que eu tenha como objetivo aprender mais sobre o ambiente em que aquele indivíduo está inserido; suas vivências, seus conhecimentos, seus receios, medos, como ouvinte aprendo ter a tolerância, entrar em contato com a diversidade para eu ter uma escuta de qualidade.

Assim, lembrei de algumas falas de Riobaldo, personagem protagonista da obra Grande Sertão Veredas. Ele narra sua vida para um “doutor” (ouvinte), como “Viver é muito perigoso”, “Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o lugar”, “O sertão está dentro da gente”, “Mestre é aquele que de repente aprende”. Para Riobaldo, dialogar requer, necessariamente, que haja uma escuta. Em que o “Doutor”, ou “Letrado” se coloque numa posição de abertura, de forma horizontal.

Desta forma, compreendo que ao ler os textos ricos de Paulo Freire vou entrar nesse sertão imenso dentro de mim, ao estar inserida em um cenário trágico em que vivo no meu país, pois viver nunca foi tão perigoso… onde entendo que no contexto cotidiano a maldade de certos governantes expõe sentimentos de raiva, impotência e indignação. Assim, infelizmente, no momento o Brasil está convivendo com um governo de extrema direita,  uma vez que está bem nítido o descaso com a vida por meio de frases e expressões insensíveis como “Eu não sou coveiro”, “E daí?”; e ao menosprezar temas sérios, como a vacinação, com frases como “Toma vacina vira Jacaré”. 

Ao mesmo tempo tenho enfrentado os meus medos, minhas angústias em relação à pandemia que mudou meu contexto de forma mais rápida, assim, comparo-me ao Jagunço Riobaldo. Este necessita enfrentar a brutalidade, os baques, os medos, os desamparos para a travessia do sertão. Dessa forma, eu preciso perpassar pela travessia no estágio do (En)Cena com todos esses enfrentamentos supracitados para seguir o curso da minha vida, sair da minha zona de conforto para questionar a minha existência para uma dimensão política. 

Assim como Riobaldo, em suas andanças, em algumas situações caminha solitário e segue ao encontro de descobrir-se para alcançar à completude, à autonomia, sigo meu caminho. Como diz Freire: “A liberdade, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz”. Diante disso, concluo que preciso ir ao encontro da minha autonomia, seja na dimensão psicológica ou política; preciso adentrar no sertão que há dentro de mim.

Compartilhe este conteúdo:

Amor e Sexo: juntos e separados

Compartilhe este conteúdo:

Paixão é fogo que passa, e as vezes volta, ou se sopra para acender de novo. Por que será que amor e paixão são sentimentos tão confundidos pela humanidade? Quem nunca teve a dúvida se amou de verdade?  

Uma pergunta que não cala, do mais novo ao mais velho dos corações. Viver apaixonado seria o formato de amor líquido: trocar de par quando a paixão acabar ou continuar? Ascender o fogo da paixão, dando forma ao amor, um novo jeito de viver e aprender a amar? Dar um novo significado para a paixão e para o amor em um novo lugar em nossas vidas e na nossa história.

Quem nunca teve dúvida sobre isso talvez ainda não se percebeu. Uma crise, ou várias, em muitos momentos da vida, relacionadas ao amor e a paixão. Dúvida e até muitas vezes o próprio caos, que nos fazem crescer.

A dor de não estar certo, a procura do que nos faz feliz, a decisão que faz escolher os caminhos, todos os instantes a cada respiração. 

O amor, quem nunca pensou sobre ele? Quem nunca sequer pensou sobre um outro alguém como objeto de desejo? Porque os relacionamentos amorosos, de qualquer natureza que sejam, fazem parte do nosso ideal de vida? Será que a força motriz disso seja apenas biológica, ligada a uma energia sexual que nos move, ou, ainda, baseada no instinto de preservação da espécie? A história evolutiva das relações conjugais leva a crer que esse intuito de união sofreu e sofre alterações. A evolução das relações amorosas ainda é uma constante amparada num processo evolutivo atrelado aos aspectos socioculturais e psíquicos aos quais estamos inseridos.

Ainda que o amor seja uma pauta atemporal, as raízes do que se concebe do amor remontam aos povos das cavernas, que o retratavam em pinturas rupestres. Pesquisas indicam que o amor é um conceito universal, isto é, ele está presente em todas as culturas que se conhece (Vincent, 2005). Historicamente o amor e os relacionamentos amorosos ocuparam diferentes importâncias para a vida social, valores ora mais marginais ora mais centrais, de acordo com o contexto as concepções de indivíduo que a mesma encerra. Inúmeros sistemas filosóficos e teológicos estabeleceram um lugar de destaque para esse sentimento.

A formação das relações amorosas pode depender de diferentes ideias estabelecidas na sociedade, as quais podem sofrer modificações ao longo dos anos. Estudar e teorizar sobre o amor deve envolver um entendimento sobre ele como um produto de forças históricas, biológicas, sociais e conceituais sem perder, contudo, o sentido da evolução da conduta doa nossa espécie em diferentes meios culturais. Zordan (2010, p. 27) aponta que a união conjugal sempre esteve presente na história da humanidade, contudo assume contornos e características diferentes de acordo com o contexto “político, social, religioso, cultural e econômico de cada momento histórico”. O entendimento mais detalhado desse fluxo relacionado às experiências amorosas permite a reflexão mais consciente e consistente sobre as intenções e buscas dos indivíduos em diferentes sociedades e quais os aspectos que mais as influencia.

Feiler explica que (2019, p. 32) “o amor não é eterno e imutável; está sempre em evolução e sempre evoluindo. O amor não é um momento no tempo, é a passagem do tempo. Foi assim para Adão e Eva e é assim para nós”. Adão e Eva, inclusive, fazem parte da primeira história de amor já citada nos livros da cultura judaico-cristã. Basta ver como nos lembramos deles, não é apenas sobre Adão, tampouco apenas sobre Eva, mas é sobre Adão e Eva, o casal. Um nome raramente é mencionado sem o outro. E assim, nasce a primeira história amorosa que se teve notícia, a qual, por meio da Bíblia (2008), foi anunciada, tal qual se anunciou o modelo do romance adequado, conforme trecho prescrito em Gênesis 2:24, onde está prescrito que o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher para se tornar uma só carne.

Perguntas são saudáveis e com elas um vasto terreno de possibilidades. Isso é também bom. As paixões e o amor na verdade caminham dentro da gente, é preciso buscá-las. Isso por muitas vezes é demorado, é chato, e dói. Mas quem procura acha, quem procura dentro, acha com assertividade. Porém, como é trabalhoso, é comum deixarmos muitas vezes à cargo do destino.

Amor e sexo são palavras que deixam qualquer criança, adolescente e ainda adultos não preparados, confusos. Nossa história, herança psicológica, social e cultural, construiu homens e mulheres com muitas crenças, valores e tabus, paradigmas que geraram dificuldades e crenças que nem sempre ajuda na maturidade da pessoa e dos relacionamentos. 

Ainda que hoje percebamos o sexo a solta, o amor ainda é raro. Muita informação, hoje tudo está aberto, saímos de um extremo de restrição para outro de ampla explanação. Muitas perspectivas e percepções externadas, e as pessoas buscando fora o que deveriam construir dentro de si, o que faz sentido, quem faz sentido. 

Saímos de um modelo onde o certo era cumprir regras, fizesse sentido ou não. Agora cada um fazendo a suas regras, antes o olhar estava muito no outro. Outrora, voltando o olhar pra si, ainda se caminha rumo à dificuldade de amar e seu amado. O equilíbrio de olhar para si, amar a si, com empatia suficiente para amar além de si ainda é uma conquista a ser almejada, em meio a tantos relacionamentos líquidos. Então sofremos!

Existe uma mistura de sentimentos dentro de cada um, muitos ainda não conseguem assumir suas verdadeiras posições preferidas, pois ne sequer as conhece. É preciso avançar nos diálogos, nas rodas de conversas, conversas internas, conversas a dois, em casa, nas ruas, nas famílias. É preciso experimentar estar só, se amparar, para poder amar e amando juntos, gerar fortalecimento e um eu saudável, que se revigora no nós também saudável. 

Com amor e sexo saudável, uma relação que não adoece, que contribui para o crescimento e amadurecimento dos envolvidos. Aprendemos com informação, conversas, experiências boas, outras ruins, modelagem, modelação, e essas experiências tanto trazem nossa liberdade, para um mundo a ser conquistado em nós, quanto podem trazer dores e traumas pra uma vida toda enquanto pessoa, enquanto casal e para família, se não forem ressignificadas. Sexo é por cause de… Amor é apesar de. 

Para Freud toda libido de vida estaria ligada as questões sexuais desde a infância, e se bem resolvidas ou não, nos trazem comportamentos saudáveis ou adoecedores. Essa libido surge como um instinto, algo primitivo, biológico e do temperamento, que da cor às relações e se consolida na forma de se relacionar, na visão de mundo e na personalidade de cada um e dos envolvidos nessa relação.

O Amor segundo Erik Fromm é uma arte, que se desenvolve, é um construir de si para junto, de pessoas maduras. Como amar sem respeitar? Não é possível respeitar uma pessoa sem conhece-la, cuidado e responsabilidade seriam cegos, se não fossem guiados pelo conhecimento.

Talvez não se escolha quem por quem se apaixonar, mas de decida por quem amar.

Compartilhe este conteúdo:

Se na presença já existia ausência, como fica a falta no virtual?

Compartilhe este conteúdo:

Um cansaço tem me tomado diariamente, constantemente, faço tanto, faço mais e ainda estão faltando, não acaba mais, me socorro diante de tamanha cobrança e não raro, mas com frequência percebo pessoas tão bem preparadas, agora afetadas pela aceleração da vida e de tudo, uma nova forma nascendo, acelerando sempre dentro de nós.

Tento olhar com calma e de posse das emoções, nomeá-las, saber de onde veem e por que veem, se têm sentido e pra onde irão, como irão, um turbilhão de exigências, muita comparação, muito volume, pouco aproveitamento e pouca aplicação. 

Ampliaram-se os graus de exigências pelas salas virtuais, reuniões virtuais, encontros virtuais, cafés virtuais e uma nova forma de adoecimento e alegria virtual, relacionamentos e vazios se conectam e como fica o isolamento, não o físico, mas sim o psicológico.

Novos padrões me fazem questionar, o que pode em mim caber, o que faz sentido seguir ou ter, ou ser. Tão rápida a informação, tão frágil, tão fake, com tanta potência e impacto para tantos. 

Como não entrar nesse turbilhão, e se entrar como não se perder nele, como se encontrar diante de tantas possibilidades e caminhos perdidos.

Fica aqui uma reflexão para os nossos porões, nossos pequenos quartos fechados, colados pra dormir, que acordem, que se abram portas e se entre ar para limpar os pulmões dos cômodos e gavetas fechadas. Que o ar traga fluidez e recompensa pelas escolhas feitas, as bem-feitas e as mal-feitas, que fazem parte de um crescer, apenas desejo que cada um possa perceber e em si se encontrar, na presença do seu eu, real, não virtual.

Não é apenas meu este sentimento, escrevi porque ouço relatos, escuto depoimentos do dia cansado, das conquistas efêmeras, pouco aproveitadas e pouco curtidas, na maioria isolada. Tão rápida outra já nem pede licença, mas entra e invade sem nem perguntar.

Assim vão seguindo sem presença, na presença, nem no virtual, uma falta sem fim. Busca em cima de busca, que não acaba mais, olhe a sua volta, depois de olhar-se no espelho, será que só eu estou cansada.

Compartilhe este conteúdo:

Crenças e valores pessoais

Compartilhe este conteúdo:

Estar na sala de aula para a disciplina de Gênero e sexualidade é um anseio semanal. A professora é inovadora e audaciosa. Logo nas primeiras semanas após a discussão do texto WEEKS, Jeffrey:  O corpo e a sexualidade, ela solicita para a turma que traga na a próxima semana um objeto pequeno de valor sentimental que a gente possa deixar com ela durante o decorrer do semestre. – Mas o que tem a ver esse objeto com a disciplina? – Perguntei a mim mesma. Não tentei responder, pois confio nela. É experiente, linda e, como já dito, audaciosa. Fiquei tão tranquila que me esqueci da atividade, mas no dia predestinado uma colega nos lembrou no grupo da turma (Bendita seja!) – Putz! O que levo? – Me ocorreu na mente vários objetos: um dominó musical, o véu que usava na igreja, os pares de meias dos sobrinho quando bebês, um copo de côco vindo da Serra Umã/PE, o menor livro legível do mundo, outros objetos, e todos foram descartados. E de repente me lembrei de um – Tomara que eu encontre, pensei. Revirei a estante de livros, as gavetas no armário, mas só o encontrei numa caixinha de objetos que não consigo desfazer. Assim quando o peguei tive certeza que era ele: um diapasão de garfo. O diapasão de garfo é um instrumento metálico em forma de forquilha (garfo de dois dentes), que serve para afinar instrumentos e vozes através da vibração de um som musical de determinada altura.

Pensar em um objeto que tenha valor sentimental e que eu possa “emprestar” para alguém por uns tempos, mesmo que seja para ficar guardado, é um exercício que nos força a pensar o desapego, pois por uma ironia do destino esse objeto pode não voltar para você. Então escolher o diapasão para esta atividade teve haver com a facilidade que eu teria para encontrar outro no mercado e pôr de volta na minha caixinha e que me remetesse às mesmas lembranças. Este garfo, para mim, me faz lembrar da minha adolescência onde se deu minha iniciação na música fazendo parte de uma orquestra juntamente com meus irmãos (que são 5), meu pai e outros parentes. Eu não o usava, pois meu instrumento era de teclas, órgão eletrônico, mas os demais instrumentistas sim. Também me lembro de um tempo não muito distante, exatamente um semestre antes de ingressar na universidade, onde eu participei do coral municipal da Capital do Tocantins. A maestrina regia com maestria!

Fonte: encurtador.com.br/bpPVY

Depois da exposição individual de cada um chegou a hora de abrir mão do apego. Fui a primeira a deixar o objeto na caixa – se não voltar eu compro outro- pensei. E depois fiquei pensando nessa afeição que nos faz ter objetos que não nos servem mais, mas que não conseguimos desfazer. Daí me lembrei da pergunta inicial: “Mas o que tem a ver esse objeto com a disciplina?” Valores e crenças enraigados em demasia, sem reflexão, nos fazem ter um conceito formado antecipadamente nos causando cegueira moral, o que é conhecido por pré-conceitos. Faz sentido, pois para quem era acostumada a ouvir instrumentais e gospel na adolescência eu tive dificuldade para aprender a ouvir determinados ritmos populares. O mesmo vem acontecer a temas tão melindrosos como os da sexualidade. Se não tivesse me despido de opiniões pré-formadas em outros tempos, hoje estaria apontando para determinados grupos e pessoas e os considerando impuros, patológicos, imoral e doente. Penso que estou em um momento de formação de novas opiniões, mas consciente de não abrir mão de meus princípios. Para surpresa da turma passados 15 dias do dia em que a professora recolheu nossos pertences ela os trouxe de volta, devolveu a todos. Ninguém precisou ficar longe de seu objeto de estimação! Mas cientes que precisamos nos distanciar de opiniões julgadoras e estigmatizadas.

Compartilhe este conteúdo:

A difícil saga de uma mulher com mais de 40

Compartilhe este conteúdo:

A difícil saga de uma mulher com mais de 40, sem filhos, querendo marcar um encontro com as amigas ha ha ha…

Eu preciso escrever sobre isso…

Ser uma mulher solteira e sem filhos pode ser o sonho para muitas…Afinal, quantas vezes já ouvi dizer ” Você que é feliz com sua liberdade”.

Confesso que tem seus encantos, mas nem tudo são flores…

Afinal, uma mulher com mais de 40 e sem filhos, ainda, é uma EXCEÇÃO…

Por isso, passamos por cada situação hilária…como quando vamos tentar marcar encontro para sairmos com umas amigas…

Uma amiga escreve no grupo ” Meninas, vamos nos ver? Vamos agendar um encontro?”

Minha mente de mulher solteira e sem filhos já imagina o lugar “Um PUB que toque muito rock”…. idealizo o horário “21h”…Crio o figurino ‘Aquele vestido que comprei antes da pandemia”….enfim…

Quando eu ia escrevendo ‘Eu TOPO!”, outra amiga responde ‘Um almoço seria perfeito!”- sinto um balde de água fria jorrar nos meus planos noturnos.

Mas tudo bem! Encontrar com as amigas é o que importa, independente de horário e lugar…Modifico completamente meus pensamentos para o restaurante…..

Escolhi até o cardápio….

Uma das amigas contraria “Almoço, não, gente! Almoço em casa com filhos e marido. Complicado sair”

Nossa! Super compreendo. Afinal, “Alimentar-se também é, sobretudo, um ato social.” Tudo a ver com marido e filhos.

Enquanto tricoto minhas ideias, a amiga propõe ‘Que tal um chá da tarde?”

Nossa! Que ideia MARAVILHOSA! Sempre achei chás da tarde super chiques …Lembra um pouco o charmosíssimo chá das 5 dos britânicos. Aqui em Belém, há lugares maravilhosos para esse “Chá das 5”.

Quando eu ia escrevendo “EU TOPO”..a amiga escreve ” 4 da tarde, está bom? Tenho que levar, todo dia, meu filho à aula particular, antes disso”

Pensei “Tudo bem! Chá das 5, Chá das 4, Chá das 3,…. NÃO IMPORTA! O que vale é reencontrar as amigas. E SUPER COMPREENDO que quem tem filhos possui outra logística de vida. Tem mais é que cuidar da educação dos filhos mesmo.

Quando eu ia escrever ‘Eu TOPO!”…. Alguém se adianta “Na sexta, pode ser?”

Quando eu ia escrevendo ‘Eu TOPO!”…Uma se manifesta “Não dá, tenho que levar meu filho ao médico”…Outra se solidariza ” E eu vou ao médico também”

Então, eu, mais uma vez, SUPER COMPREENDO….Afinal, ser mãe é estar sempre presente, sobretudo, no cuidado com os filhos…

E reflito que SUPER COMPREENDO as pessoas irem ao médico, à tarde…Logo, diferente sou eu, que não tenho filhos, nem marido e nem faço check up…..

Mas reflito, bem no meu íntimo, que se tivéssemos marcado para sairmos à noite, seria diferente…. Mas sou solteira, não tenho filhos (já escrevi isso mil vezes rs…) Portanto, se marcarem para nos encontrarmos no RIO de JANEIRO….eu junto minhas milhagens…simplesmente, arrumo as malas e vou……

Fonte: encurtador.com.br/nwW57

Mas, sou UMA EXCEÇÃO…

Não somos melhores e nem piores…

Somos mulheres independentes que escolheram caminhos diferentes para suas vidas. E esse PODER DE ESCOLHA QUE NOS TORNA EMPODERADAS, com ou sem filhos…casada ou solteira….

ESSE É O SEGREDO!

Uma hora, a gente acerta um horário em que todas possam ir…. em uma data comum a todas…..E faremos nosso encontro…

E, finalmente, vou escrever ‘EU TOPO!” ha ha ha

E, com certeza, nossas conversas serão inspiração para outro conto dessa VIDA DE MULHER MODERNA!

Compartilhe este conteúdo:

Nasce uma estrela: relato de um atendimento pelo SUS

Compartilhe este conteúdo:

A chegada de um filho é sempre eivada de expectativas, insegurança e, até mesmo de receios e medos quanto à assistência médica/hospitalar. Considerando as diretrizes e os princípios do SUS, de assistência a todos os brasileiros, indiscriminadamente, partamos para o caso do nascimento do bebê de Rafaela:

Recém Nascida (Rn): Luíza Rafaeli Miranda Curi Lopes
Mamãe: Rafaela Alves Miranda
Papai: Luiz Gustavo Curi Lopes

Luíza Rafaeli Miranda Curi Lopes, nasceu em Palmas- Tocantins, no dia10/03/2017, no  Hospital Maternidade Dona Regina.

Do pré-natal: o pré-natal fora assistido na Unidade Básica de Saúde da 712 Sul, próximo à residência da gestante, como declina a descentralização em UBS, para assistência social da população próxima. Assistida a partir do teste positivo para gravidez. Fora oportunizado à mãe fazer os exames dos mais simples, como exames de sangue aos mais complexos, como ultrassonografia, sendo atendida preferencialmente, bem como, orientada que o parto ocorreria no Hospital Maternidade Dona Regina. As consultas do pré-natal foram feitas pela médica obstetra, mensalmente e, após a 38ª semana a assistência à gestante passou a ser quinzenalmente.

Da internação ao parto: quando a mãe entrou em trabalho de parto, seguiu direto para o Hospital Maternidade Dona Regina, como dantes orientada. Lá chegando, recebeu atendimento prioritário, sendo encaminhada para a triagem, bem como, com fito em fazer os exames para avaliar a saúde do bebê, com resultados imediatos, fora colhido material para exames de Sífilis e HIV, este último, se a mãe for soro positivo, não poderia amamentar, sendo–lhe explicado e informado nos mínimos detalhes, a razão de tal zelo. Fato novo para a mãe que em seu primeiro parto, não houve esses prestimosos e essenciais cuidados.

Ato contínuo, Rafaela fora imediatamente internada em virtude da maturação do bebê, sendo encaminhada para centro cirúrgico, face ao parto ser uma cesariana. O parto ocorreu de forma tranquila, mãe assistindo à chegada de seu bebê, o qual fora colocado sobre ela, para que mãe e bebê, pudessem tocarem-se para promoção das primeiras trocas de energias e afeto entre ambas.

Após o parto, mãe e bebê ficaram em observação na sala de recuperação por aproximadamente 3 horas, para depois acomodarem-se no quarto.

Cuidado e zelo para com o bebê fora notório, no decorrer dos dias de internação, período de 3 (três) dias, desde o incentivo ao aleitamento até aos exames de controle e prevenção `a saúde do bebê, foram de excelência.

No segundo dia de nascimento, nas dependências do hospital, fora feitos os exames da orelhinha, os exames do ouvido, olhinho, pezinho e sangue, para saber o tipo sanguíneo, foram colhidos na UBS, onde ocorrera o pré-natal.

Enquanto ainda na maternidade, o bebê tomou algumas vacinas como a BCG e Hepatite B. Sempre era avaliada pelos médicos, tais como dentista, fonoaudiólogo, nutricionista, pediatra e até assistente social. Um detalhe importantíssimo, cartório de registro de nascido vivo dentro das dependências do Hospital, nenhuma criança recebe alta se não registrada.

Fonte: encurtador.com.br/pQS15

Do incentivo ao aleitamento:     

Desde o momento do nascimento, Luiza já fora incentivada a alimentar-se com o leite materno, porém, não conseguia sugar, uma enfermeira estava sempre a postos para, de 3 em 3 horas, motivar e ensinar como retirar o leite da mãe, para ofertar ao bebê, explicando-lhe a importância do aleitamento materno, ensinando-lhe como amamentar seu bebê  sem uso de mamadeiras e similares, usando o dedo indicador envolto em uma gaze e umedecido com o seu próprio leite e, às vezes que Rafaela não tinha leite o suficiente, não era problema, a maternidade é preparada para não faltar leite materno ao recém nascidos, assim,  a enfermeira trazia-lhe do banco de leite, existente nas dependências da própria maternidade, leite que são doados pelas lactantes fartas na produção desse líquido poderoso e oferecia à Luiza.

Outro fato muito peculiar, na maternidade há fraldas descartáveis para os bebês. Alimentação balanceada e preparada por nutricionista.

Para receber alta, a pequena Luiza fora, mais uma vez, avaliada pelo Pediatra com a certeza que ela já havia desenvolvido a sucção, sendo a sua mãe também, pela última vez, avaliada pelo o obstetra. E assim, finaliza este relato com as hosanas à equipe do Hospital Maternidade Dona Regina.

A pequena estrela: agora que tudo está perfeitamente bem, já consigo sugar o leite da mamãe, é hora de partirmos para casa, conhecer meus irmãos, explorar e experienciar todas as novidades desse universo que acabei de chegar.

Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!

Hasta La vista , baby!!!

Fonte: encurtador.com.br/bdpIM
Compartilhe este conteúdo:

Psicologia hospitalar frente à terminalidade da vida

Compartilhe este conteúdo:

Sobre a atuação da Psicologia Hospitalar Simonetti (2004, p. 15), caracteriza como “um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”.

Este relato tem como objetivo descrever a vivência de estágio curricular em Psicologia no campo hospitalar durante o período de agosto de 2019 a março de 2020, do curso de graduação promovido pelo CEULP/ULBRA. O estágio foi realizado na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do Hospital Geral de Palmas-TO (HGP), supervisionado pelas Psicólogas Izabela Querido e Muriel Rodrigues. As vivências das estagiárias (Diane Karen, Karla Roberta e Thais Raianny) possibilitaram um olhar voltado aos processos de adoecimento e terminalidade bem como favorecer desdobramentos e conexões com a teoria vigente sobre o assunto. O livro central em discussão foi concebido pela autora Claudia Arantes (2016) denominado “A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver”.

Sobre a atuação da Psicologia Hospitalar Simonetti (2004, p. 15), caracteriza como “um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”. Desse modo, o conteúdo surge a partir do momento em que o sujeito se esbarra com a doença. Circunstância que se manifesta carregada de particularidades, que incorporam o paciente, a família e a equipe de saúde.  No que se refere à duração dos atendimentos neste espaço a psicologia hospitalar configura-se por sua natureza breve, voltada ao aqui-agora onde emergem as demandas de caráter imediato. Devido a imprevisibilidade a permanência do paciente, óbito ou alta, troca de plantões, há necessidade de certa flexibilidade e estratégia. Por vezes a oportunidade de contato com paciente chega a ser um atendimento único. Sendo assim deve ser objetivo, ter início, meio e fim (SIMONETTI, 2004).

Meu primeiro dia de estágio começou em uma manhã de quinta-feira, um dia ensolarado, cheio de expectativas. Cheguei na portaria do hospital cumprimentando todos com um largo sorriso no rosto, vesti meu jaleco e me dirigi para a UCI com entusiasmo, nada escapava do meu olhar curioso naquele curto trajeto da portaria do hospital até a UCI. Assim que entrei na unidade, a Psicóloga Izabela Querido, dispondo de toda sua simpatia e carisma me cumprimentou e logo em seguida comunicou sobre o óbito ocorrido nas primeiras horas daquela manhã, e que iríamos realizar nossa primeira tarefa do dia “suporte a notícia de óbito”.

Fonte: encurtador.com.br/yCDK5

Nesse momento fiquei paralisada por segundos. Segundos esses em que vivenciei sensações ansiogênicas, estava visivelmente nervosa com o novo desafio, meus pensamentos foram tomados por dúvidas e incertezas, “o que falar para uma pessoa que acabou de perder seu ente?”, “e se eu errar?”. Enquanto eu esperava os familiares chegarem, fui até o leito onde o paciente se encontrava, ali o enfermeiro responsável prestava os seus últimos atendimento por aquele paciente já sem vida.

Foi só nesse momento, com o contato com a morte e o morrer que refleti sobre o desafio que é falar da vida por esse caminho. A morte é um tabu na nossa sociedade, Arantes (2016, p. 17) diz que no curso de medicina se aprende sobre muitas coisas, menos sobre mortalidade.  “Na faculdade não se fala sobre a morte, sobre como é morrer. Não se discute como cuidar de uma pessoa na fase final de doença grave e incurável”. Nesse sentido falta espaço de reflexão para discutir a finitude da vida não só nos cursos de graduação, como também nos espaços sociais que envolva toda comunidade.

Kübler-Ross (2017) diz que ao estudar o enfrentamento da morte entre povos e culturas arcaicas se tem a impressão que o fenômeno sempre foi rejeitado e até mesmo abominada. A psiquiatria explica a morte do ponto de vista que é negado pelo inconsciente, ou seja, o inconsciente nega o fim da vida quando se trata da própria finitude, e se o morrer for aceito, será remetida a algo ruim. Portanto, desde os tempos antigos a morte é ligada a fenômenos malignos, a um acontecimento detestável.

Fonte: encurtador.com.br/doyz5

Em seguida os familiares do paciente chegam a UCI, e com ela toda dor e sofrimento de encarar a morte. Participar e dá apoio ao comunicado de óbito é sempre uma tarefa difícil, necessita de um grande dispêndio de energia. A difícil tarefa de comunicado a notícias difíceis é papel do médico(a) responsável pelo paciente. Entretanto a função primordial para o profissional de saúde é preservar a vida, não estando preparados para lidar com a morte. Não é raro ouvir relatos que o profissional médico perdeu sua sensibilidade diante da morte por ser muito técnico, chegando a ter uma postura frio. Na UCI do Hospital Geral de Palmas observamos que a equipe médica, assim como os demais profissionais que ali trabalham exercem uma conduta acolhedora quando se fala de terminalidade da vida.

Arantes (2016, p. 38) relata que estar com uma pessoa em estado terminal “não é viver pela pessoa o que ela tem para viver”. Destaca dois sentimentos que nos difere das demais espécies, a empatia e a compaixão. Empatia é a capacidade psicológica de sentir o que o outro está sentindo se caso estivesse vivenciando a mesma situação que ela. O que pode ser um risco para o profissional de saúde, pois corre o risco de assumir a incapacidade de cuidar. A compaixão é diferente da empatia, ela permite entender o sofrimento do outro é buscar meios para o alívio da dor, é um estado emocional de piedade. “A empatia pode acabar, mas compaixão nunca tem fim. Na empatia, às vezes cega de si mesma, podemos ir em direção ao sofrimento do outro e nos esquecermos de nós. Na compaixão, para irmos ao encontro do outro, temos que saber quem somos e do que somos capazes”. O que Arantes transpassa é a importância de se ter compaixão e o risco de se colocar no lugar de sofrimento dos pacientes.

A(O) Psicóloga(o) no seu papel de suporte a notícia de óbito (comunicado de má notícia) é de facilitador entre a comunicação da equipe de saúde e os familiares do paciente, é sobretudo se fazer presente, compreender os fenômenos psicológicos, acolher, demonstrar interesse e respeito, fazer uso quando necessário de estratégias de intervenção em crise. “A(O) psicóloga(o) atuando junto à equipe deverá intervir sempre que identificar demandas emocionais de sofrimento e desadaptações, sem esperar ser solicitado […]” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019, p. 71)

Fonte: encurtador.com.br/cHJOY

A UCI é uma ala que recebe muitos pacientes em estado terminal, a maior parte dos pacientes são idosos acometidos por câncer, acidente vascular encefálico, traumatismo cranioencefálico, doenças pulmonares, cardiovasculares e degenerativas ou por alguma condição crônica de saúde. Me recordo quando um paciente recebia alta hospitalar, toda equipe banhava-se de felicidade, mas quando o mesmo paciente retornava dias depois, a equipe junto com os familiares expressava tristeza. Tristeza por ver todo o sofrimento e dor daquele mesmo paciente que dias antes estava estável, tristeza por estar acompanhando o fim do ciclo da vida, mas tendo a certeza que todos os esforços e recursos estão sendo aplicados para o paciente viver com qualidade de vida.

O ambiente hospitalar é ligado a tristeza, dor e sofrimento. A dor é uma experiência sensorial e/ou emocional vivenciada de forma única por cada sujeito, passando por mecanismos exclusivos de percepção, expressão e comportamento. O sofrimento é descrito como um estado de aflição que ameaça à integridade física, sendo absoluto e único para cada pessoa. Nessa perspectiva temos os Cuidados Paliativos que consiste em um conjunto de práticas de assistência de uma equipe multidisciplinar, que objetiva a qualidade de vida do paciente incurável e de seus familiares, diminuindo assim seu sofrimento (ARANTES, 2016).

A criação dessa especialidade médica titulada “Cuidados Paliativos” se deu pela busca da humanização para o atendimento em equipe de pacientes que se encontram sem possibilidade terapêutica de cura de uma determinada doença. Os Cuidados Paliativos no contexto da Psicologia se trata de uma modalidade na qual a(o) profissional dessa área, trabalha com o objetivo de propiciar uma melhor compreensão do paciente acerca da sua condição atual de vida, visando oferecer conforto para suas aflições e consequentemente aliviar as dores emocionais, dessa forma respeitando o seu tempo diante da finitude de seu ciclo vital (REZENDE; GOMES; MACHADO, 2014).

Uma das experiências marcantes no estágio diante da terminalidade, foi com a filha de uma paciente da UCI (chamaremos a paciente internada de Liz), que estava vivenciando seus momentos finais de vida. A equipe do hospital solicitou a realização de uma conferência a fim de obter assentimento do familiar responsável sobre a nova modalidade de cuidados (os paliativos). Visando também com essa ação estabelecer a confiança e uma parceria com a filha (que chamaremos aqui de Glória). Contudo ela se recusou, pois acreditava muito no reestabelecimento das condições vitais da mãe. Glória sempre quando a visitava, estimulava reações físicas, contato, comunicação com a paciente, ainda que estivesse sedada ou inconsciente. E da maneira dela, de forma surpreendente foi capaz de estabelecer uma comunicação com a mãe. O que motivava Gloria a acreditar em uma recuperação.

No entanto, apesar das tentativas de restabelecimento, o intenso cuidado depositado pela filha, e de toda equipe da UCI, Liz já não tinha mais perspectiva de cura para sua doença. E as medidas até então adotadas eram invasivas e apenas aumentavam sua dor. Assim foi solicitado uma conferência familiar com Gloria, para que autorizasse a inclusão de Liz na perceptiva de cuidados paliativos, pois muito ainda podia se fazer pela paciente, na perspectiva de oferecer uma maior qualidade de vida. O que mais uma vez foi recusado pela filha de Liz, possivelmente pelas crenças sobre o tipo de cuidado. Desse modo a Psicologia entrou não para confronto, apontando sua negação a morte, menos ainda para convencimento do melhor tipo de cuidado, mas como parceira. Afinal, a familiar compreendia bem o que estava acontecendo, entretanto escolheu enfrentar daquela forma. E a decisão foi respeitada até o momento em que sua mãe veio a falecer.

O dia-a-dia de cuidados na UCI é cansativa. Diariamente são realizados inúmeros procedimentos junto ao paciente, além de atividade administrativas e preenchimento de protocolos. Muito se pensa que o ambiente hospitalar é silencioso e tranquilo, entretanto a realidade é o oposto. A UCI é um ambiente estressor tanto para os profissionais quanto para os pacientes. O local é ruidoso devido o funcionamento dos equipamentos; o clima é gelado 24 horas; não há janelas, com isso os pacientes não conseguem se orientar quanto ao tempo, não sabendo se é dia ou noite; as visitas são controladas, sendo realizadas em horário pré-determinado com duração de uma hora, muitas vezes é necessário conceder visita estendida e autorizar um número maior de visitantes. Portanto a UCI é um local ansiogênico, onde a dor, o medo e a morte estão sempre presentes.

A experiencia de atuar no campo da Psicologia Hospitalar nos proporcionou vivenciar momentos de alegria, tristeza, medo, afeto, empatia, compaixão, surpresa e até mesmo momentos inusitados, onde tivemos que muitas vezes mediar conflitos entre equipe e familiar do paciente, ouvir palavras desagradáveis ao comunicar uma má notícia. Contudo, estabelecemos um vínculo afetivo com os pacientes, familiares e principalmente com a equipe de profissionais que nos acolheu como parte da família UCI.

E assim finalizamos nosso ciclo de estágio com o sentimento de pertencimento a ciência de codinome Psicologia, levando o desejo de atuar profissionalmente no campo hospitalar.

 

REFERÊNCIAS

ARANTES, Ana Cláudia. A morte é um dia que vale a pena viver. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS. Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas .1. ed. Brasília-DF : CFP, 2019.

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: O que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. WWF Martins Fontes, 2017.

PESSINI, Léo. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. Bioética, Brasília, v. 10, n. 2, p. 51-72, 2002.

REZENDE, Laura Cristina Silva; GOMES, Cristina Sansoni; MACHADO, Maria Eugênia da Costa. A finitude da vida e o papel do psicólogo: perspectivas em cuidados paliativos. Revista Psicologia e Saúde, 2014.

REZENDE, Laura Cristina Silva; GOMES, Cristina Sansoni; MACHADO, Maria Eugênia da Costa. A finitude da vida e o papel do psicólogo: perspectivas em cuidados paliativos. Revista Psicologia e Saúde, 2014.

Compartilhe este conteúdo:

Quando ocorre uma verdadeira revolução pelo princípio da Inclusão

Compartilhe este conteúdo:

O documentário “Crip Camp: Revolução pela Inclusão” foi produzido nos Estados Unidos em 2020 e disponibilizado na plataforma Netflix neste mesmo ano. Este documentário traz uma série de memórias audiovisuais da década de 1970, sob a produção e direção de Nicole Newnham e James Lebrecht, um cadeirante que se utilizou de suas recordações de um acampamento de verão exclusivo para pessoas com deficiência, e mais tarde como este acampamento influenciou o movimento pela luta política em defesa dos direitos civis.

O acampamento Jened era o único naquele período destinado a esses jovens e adultos com necessidades especiais, se iniciando na década de 50 e em 1977, fechado em decorrência de questões financeiras. Lebrecht inicia o documentário falando da sua deficiência e das barreiras encontradas durante o seu crescimento, em termos de escola e sociedade, e o momento em que descobriu e participou pela primeira vez de Jened, deixando claro como “este campo mudou o mundo e ninguém sabe a sua história”, que é contada no decorrer do documentário.

De acordo com Barbosa e Moreira (2009), “quando se trata de pessoas com deficiência, os processos excludentes são ainda mais perversos.” Esse pressuposto fica bastante evidente no documentário, quando Lebrecht entrevista os campistas no acampamento, e estes retratam suas deficiências e os modos excludentes da sociedade naquela época que até então não existiam leis que garantissem a inclusão, como acesso a escolas, rampas nas ruas e acesso aos ônibus.

Durante o documentário e o relato dos participantes sobre o acampamento, eles colocavam que ali era um lugar onde não existia mundo externo, que era uma oportunidade para fazer coisas diferentes, que os adolescentes pudessem ser adolescentes sem os estereótipos e rótulos existentes. E que lá eles perceberam que o problema não era com as pessoas que possuem deficiência, mas sim as que não possuem.

Fonte: encurtador.com.br/glwW9

Na primeira parte do documentário são mostrados fotos e vídeos do campus bem como a história de vida de alguns campistas, e acima de tudo a vivência desses jovens sem a presença de seus pais ou responsáveis durante os dias de acampamento, o ciclo de amizades, descobertas e sexualidade, numa dinâmica onde poderiam fazer o que quisessem tornando o documentário muito além do que “pessoas que necessitavam de piedade”, mas de um grupo de jovens que possuem sentimentos, inseguranças e que são otimistas, como todos da sociedade naquela época em que predominava o contexto político e de guerra.

Outro ponto bastante retratado era referente à educação, no qual cita a vontade em cursar escolas como as outras crianças, no entanto algumas questões eram levadas em consideração , seja pelo uso de cadeira de rodas (que algumas instituições não aceitavam) e dessa forma eram ensinadas em casa pelas mães, e em outros casos, pelas vagas limitadas em escolas especiais, e estas eram localizadas no porão das instituições escolares. Um campista em um de seus relatos diz: “as crianças normais eram chamadas de ‘crianças de cima’ pois ficavam sempre acima de nós”. Trazendo um pouco para o nosso contexto aqui no Brasil, a educação inclusiva, segundo Mantoan (2000), (…) inicia-se no século 19, quando os serviços dedicados a esse segmento de nossa população, inspirados por experiências norte-americanas e européias, foram trazidos por alguns brasileiros que se dispunham a organizar e a implementar ações isoladas e particulares para atender a pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais. (MANTOAN, 2000).

Fonte: encurtador.com.br/exRW5

Izabel Maria (2010), secretária Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, no livro “História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil”, coloca que o que despertou nas pessoas com deficiência estabelecerem grupos e promoverem uma forte mobilização de participação política no âmbito do processo de redemocratização do Brasil foi elas serem vistas por muitos anos com desconsideração e afronta quanto aos seus direitos.

Podemos ver isso bem claro nos Estados Unidos, explícito no documentário, onde não eram aceitos em escolas, tinham dificuldades em vários acessos, e quando iniciaram o Movimento das Pessoas com Deficiência, achavam que por meio de ameaças eles iriam desistir do que queriam, era só virar as costas que ninguém insistiria.

Algumas falas feitas no documentário deixam clara a colocação do parágrafo anterior, como a questão de quando crescem com deficiência eles não são considerados um homem ou uma mulher, e que é difícil começar qualquer tipo de relação pelo fato de ser visto como um deficiente e não como uma pessoa com deficiência, e segundo filmes que começaram a serem lançados na época e programas de televisão os deficientes eram colocados como pessoas que deveríamos sentir pena e medo.

A segunda parte do documentário mostrou um pouco sobre a história do movimento político das pessoas com deficiência física e como o acampamento Jened com toda a sua flexibilidade e integração influenciou na busca pelos direitos, já que alguns  campistas estavam à frente das manifestações.

Fonte: encurtador.com.br/ahJK8

Judy Heumann (1977), na manifestação no qual invadiram o gabinete quando a lei foi ignorada porque não queriam ter gastos com o projeto de reabilitação e antidiscriminação, coloca que pessoas com deficiência sentem todos os dias que o mundo não nos quer por perto. Sempre vivemos com essa realidade, pensando se vamos sobreviver se vamos revidar e lutar para estar aqui, essa é a verdade. Se quiser chamar de raiva, eu chamo de motivação, é preciso estar disposto, se não vai conseguir. (HEUMANN,1977).

No Brasil no fim da década de 70 também houve movimentos políticos em prol dos direitos das pessoas com deficiência, sendo o maior deles intitulado “Nada sobre nós, sem nós”.  Segundo Sassaki, (2011), o lema “Nada sobre nós, sem nós” comunica a idéia de que política alguma deveria ser decidida por nenhum representante sem a plena e direta participação dos membros do grupo atingido por essa política. Assim, na essência do lema está presente o conceito de participação plena das pessoas com deficiência.

O movimento político das pessoas com deficiência no Brasil aos poucos foi ganhando força e teve grande motivação após a ONU em 1981 proclamar aquele sendo o Ano Internacional das Pessoas Deficientes. Vale lembrar que o país ainda estava em tempos de ditadura militar no qual se prevalecia à censura e falta de liberdade no país, sendo assim havia um movimento não só das pessoas com deficiência, mas da maioria populacional do Brasil.

Segundo Junior (2010), os movimentos sociais, antes silenciados pelo autoritarismo, ressurgiram como forças políticas. Vários setores da sociedade gritaram com sede e com fome de participação: negros, mulheres, índios, trabalhadores, sem-teto, sem-terra e, também, as pessoas com deficiência. Esse processo se reflete na Constituição Federal promulgada em 1988. A Assembléia Nacional Constituinte (1987-1988), envolvida no espírito dos novos movimentos sociais, foi a mais democrática da história do Brasil, com canais abertos e legítimos de participação popular.

Fonte: encurtador.com.br/sSY79

A Constituição Federal de 1988 é denominada como Constituição Cidadã e é ela que rege todo o ordenamento Jurídico do Brasil, sendo assim trouxe também um princípio de proteção às pessoas com deficiência. A partir da nova Constituição vale destacar a Lei 7.853/89 na qual garante o direito ao trabalho, à educação e garantia dos mesmos direitos civis para pessoas com deficiência desde 1989, sendo assim tal lei vem com intuito de igualdade na qual tem como objetivo a não descriminalização dessas pessoas, tendo no parágrafo c) a promoção de ações eficazes que propiciem a inserção, nos setores públicos e privado, de pessoas portadoras de deficiência.

A mais recente Lei que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência é a lei 13.146 de Julho de 2015, destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. (Brasil 2015).

 Em meio a tudo isso, pode-se dizer que houve um grande avanço em relação à forma legislativa na qual eram tratadas as pessoas com deficiência, porém, como qualquer constituição e leis, estas demandam de aprimoramento constante.

Fonte: encurtador.com.br/cfCDP

Vale ressaltar aqui o que essas Leis e avanços têm se mostrado na prática, visto que há uma questão fortemente apontada e criticada em relação à eficácia da inclusão, pois, na prática, o que ainda se tem visto em grande escala é a integração social. Segundo Sassaki (2004), o paradigma da integração social consiste em adaptarmos às pessoas com deficiência aos sistemas sociais comuns e, em caso de incapacidade por parte de algumas dessas pessoas, criarmos  sistemas  especiais  separados  para  elas.  Neste sentido, temos  batalhado por políticas,  programas,  serviços  e  bens  que  garantissem  a  melhor adaptação  possível  das pessoas com deficiência para que elas pudessem fazer parte da sociedade. (SASSAKI, 2004).

Enquanto o ideal seria uma inclusão social, onde Sassaki (2004) conclui que “o paradigma da inclusão social consiste em tornarmos a sociedade um lugar viável para a convivência entre pessoas de todos os tipos e condições na realização de seus direitos, necessidades e potencialidades.” Assim são denominados os inclusivistas que estão à frente das mudanças, seja dos bens, tecnologias ou estruturas sociais de bem comum.

Durante o documentário em vários diálogos é perceptível que só a integração não basta, embora tenha sido um modelo inicial, não é o modelo ideal, visto que o que as pessoas com deficiência buscam vai, além disso, de banheiros com assentos para deficientes e rampas de acesso, deve-se pensar também na equidade já que tal princípio é um grande norteador dos Direitos Humanos Universais.

FICHA TÉCNICA

CRIP CAMP: REVOLUÇÃO PELA INCLUSÃO

Título Original: Crip Camp: A Disability Revolution
Direção: James LebrechtNicole Newnham
Elenco:  Larry Allison, Judith Heumann, James LeBrecht, Denise Sherer Jacobson e Stephen Hofmann.
Ano: 2020
País: EUA
Gênero: Documentário

REFERÊNCIAS

BARBOSA, A. J. G.; MOREIRA, P. de S. Deficiência mental e inclusão escolar: produção científica em Educação e Psicologia. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 15, n. 2, p. 337-352, maio/ago. 2009.

BRAGA, Mariana Moron Saes; SCHUMACHER, Aluisio Almeida. Direito e inclusão da pessoa com deficiência: uma análise orientada pela teoria do reconhecimento social de Axel Honneth. Soc. estado.,  Brasília ,  v. 28, n. 2, p. 375-392,  Aug.  2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922013000200010. Acesso em 20 de Abril de 2020.

BRASIL. Lei. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 07 de jul.2015. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/DOU/2015/07/07 Acesso em 20 de Abril de 2020.

JÚNIOR, Mário Cléber. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. 2010.

MANTOAN, Maria. Teresa. Eglér. Análise do documento – Parâmetros Curriculares Nacionais – Incluindo os excluídos da escola. FE/UNICAMP: 2000.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Pessoas com deficiência e os desafios da inclusão. Revista Nacional de Reabilitação, ano VIII, n. 39, 2004. Disponível em: https://docplayer.com.br/16418200-Pessoas-com-deficiencia-e-os-desafios-da-inclusao.html Acesso em 20 de Abril de 2020.

Compartilhe este conteúdo: