Um corpo que sente e é sentido: a experiência de transitar a vida durante e depois de um transtorno alimentar

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Um relato do começo da minha adolescência com anorexia.
Atenção: esse texto contém relatos sensíveis sobre transtornos alimentares.
Autoria anônima

A adolescência é marcada por diversas mudanças fisiológicas e psicológicas, além de ser uma fase em que a influência das redes sociais é notável. Tendo isso em vista, muitas meninas adolescentes são atingidas pelas demandas da sociedade com relação ao corpo. Neste contexto, o desenvolvimento de transtornos alimentares pode ser um risco, uma vez que a cultura da magreza é posta como algo essencial para o valor feminino e isso é acentuado durante a adolescência.
Segundo Silva e Daniel (2020) os transtornos alimentares (TAs) são condições psiquiátricas determinadas por uma alteração crítica do comportamento alimentar, o que pode comprometer a saúde física e psicossocial. O transtorno que será tratado aqui é a Anorexia Nervosa (AN), que pode ser descrita como um distúrbio no qual o indivíduo faz uma restrição na ingestão calórica em relação às suas necessidades diárias, chegando até a parar de comer completamente. O temor persistente com o ganho de peso e a desordem na percepção do próprio corpo é uma característica observada em pessoas que apresentam esse transtorno.

Também existe a bulimia nervosa, que é caracterizada quando o indivíduo tem episódios regulares de compulsão alimentar, desordem na percepção do corpo e comportamentos de compensação pelo alimento ingerido durante a compulsão alimentar. Esses transtornos podem se tornar mais evidentes durante a adolescência devido às mudanças citadas.

Eu fui uma das adolescentes atingidas pela anorexia nervosa, me vi envolvida em demandas que nem sempre foram minhas e recorri ao que estava mais próximo de mim , ou seja, as redes sociais. Quando eu estava no auge dos meus 12 anos comecei a encontrar defeitos no meu corpo e não sabia o que fazer com eles, pra onde levar, como resolver? Vi no Tumblr a saída ideal: parar de comer. Claro que não consegui parar totalmente de um dia para o outro, mas fui aos poucos.

Comecei a não tomar café da manhã, algo que eu gostava tanto, para um sacrifício maior. Tudo o que eu estava fazendo fazia sentido na minha cabeça, se eu não tomar café meu corpo vai ficar com o aspecto mais magro por mais tempo, mas logo isso não foi o suficiente. Depois disso fui procurar dicas em site da internet de como poderia emagrecer mais rápido e encontrei páginas, perfis que além de dar essas dicas postavam fotos de meninas magérrimas (anoréxicas) e de como elas estavam felizes pois conseguiram atingir o objetivo maior, o único que importava, que era o de ser magra.

Parti de não tomar café da manhã para tomar somente água com gelo quando sentia fome e a almoçar sozinha, para que tivesse a cozinha somente para mim e pudesse jogar a maior parte da comida que estava no prato fora. Isso tudo trouxe consequências, me sentia fraca o tempo inteiro, estava irritada, dormia muito e me sentia terrivelmente triste, claro que eu achava que era porque eu não estava magra ainda mas era por falta de nutrientes. Isso não passou despercebido pela minha família.

Meus pais estavam preocupados comigo porque além de estar irritada o tempo inteiro eu estava engordando. Na época isso foi um dos motivos de ter continuado porque pensei como assim não está funcionando? Ficar sem comer por horas e saciar minha fome em “besteiras” parecia o caminho certo, o que mais eu precisava fazer? Recorri novamente à minha fiel plataforma social e procurei mais afundo dicas, formas, jeitos milagrosos de não sentir fome e finalmente emagrecer.

Nisso encontrei novos objetivos para mim que eram como metas, primeiro eu preciso que os ossos da minha clavícula estejam à mostra, depois que minhas pernas não encostem uma na outra, que os ossos das minhas mãos estejam mais acentuados e assim vai. Criei essa rotina de fantasiar meu corpo ideal constantemente quando estava com fome e comer muito pouco quando era obrigada. 

Para as anoréxicas, os limites do corpo quase se apagam diante das circunstâncias em que vivem, do cotidiano de seus relacionamentos, dessa rede de relações concretas e afetivas em que estão submersas. Toda condição e situação que a rigor está matizada nessa imagem disforme que a anoréxica tem de si mesma e que se expressa pela insatisfação com o tamanho do seu corpo e a perda de peso (GIORDANI, 2006).

Depois de um tempo passei a notar pequenas mudanças, meu anel que usava todos os dias não ficava mais no meu dedo, meu cabelo começou a cair, se eu me machucava a ferida demorava o dobro do tempo para cicatrizar, meus ossos da clavícula finalmente começaram a aparecer e o pior de tudo, não conseguia dormir durante a noite. Em meio a essas mudanças, eu sentia vontade constante de não estar viva e não ter que lidar com meu próprio corpo, não queria mais ter os braços que eu tinha, o rosto que eu tinha e os peitos que eu tinha.

Quando aqueles ao meu redor notaram que eu estava mais magra me elogiavam e aquilo alimentava a minha fome, eu pensava que precisava ficar mais magra ainda porque só assim eu seria feliz, eu teria notas boas, eu teria mais atenção dos amigos e vestiria roupas mais bonitas. Além de notar minha nem tão repentina magreza, minha família notou a irritação, os fios de cabelo que eu deixava para trás e a tristeza aos poucos me consumindo.

Em um dia que eu guardei comigo eu fui passear na chácara do meu tio e não tinha me sentido bem daquela forma em muito tempo, peguei sol, tomei banho no lago e fiquei longe do celular. Na volta fui olhando a natureza e sentindo o vento no rosto pensei que talvez a vida não fosse somente sobre o nosso corpo, sobre ser magra, talvez eu poderia pensar em outras coisas. Quando voltei para casa a realidade bateu no peito e senti que estava traindo tudo aquilo que “acreditava” e todas aquelas pessoas que eram da minha comunidade de anoréxicas. 

Enquanto tudo isso acontecia eu já estava mais velha, com 14/15 anos e sentia que estava entrando em um buraco sem fundo, o sentimento de não me encaixar e de ter que emagrecer diminuiu e a tristeza tomou conta. Talvez foi uma consequência do que eu fazia antes ou de onde eu navegava pela internet mas me vi nesse lugar diferente mas muito parecido com antes. 

Minha recuperação só começou porque enquanto eu estava pesquisando sobre como emagrecer ou como não existir mais de forma menos dolorosa eu também encontrava posts que diziam que eu poderia melhorar, que eu precisava de ajuda e que ser magra não é tudo. Procurei ajuda profissional quando senti que não aguentava mais, ou era isso ou não era mais nada. 

Enquanto ia melhorando com a ajuda de medicação, psicóloga e dos meus amigos foi caindo a ficha do dano que eu tinha feito no meu próprio corpo, eu não lembrava de coisas que tinha estudado, não lembrava de acontecimentos importantes e menos cabelo e mais cicatrizes. Apesar de me sentir melhor, ainda existia uma voz na minha cabeça que dizia que eu precisava emagrecer, não era o suficiente ser feliz e me sentir bem, eu precisava daquilo para a minha vida fluir melhor.

Fui crescendo, melhorando, comendo e consequentemente engordando, era uma sensação estranha estar bem e ainda assim não ser magra. Atribui meu peso novo a minha felicidade e ao estar bem com o meu corpo e cheguei a conclusão que quanto mais magra eu era mais triste eu estava e vice versa, isso ia contra tudo o que as pessoas na minha comunidade acreditavam então larguei de vez o aplicativo, exclui todas as fotos de corpos magros que tinham no meu celular e segui a vida. 

Hoje enquanto adulta vejo o real dano que tudo isso fez na minha vida, passei por coisas que ninguém deveria passar e pensei em diversas formas de destruir o meu corpo pouco a pouco, mas ao mesmo tempo me perdoei, porque eu não sabia pra onde jogar a cobrança da sociedade e era muito nova para entender completamente o que estava acontecendo.

A voz que diz que preciso ser magra ainda ecoa dentro de mim, ainda me pego com hábitos alimentares péssimos, me pergunto de onde eles vem e encontro a resposta na adolescente de 15 anos que absorveu tudo o que a cultura da magreza tinha para dar para ela. Mas encontrei pessoas que passaram pelas mesmas dificuldades, aos trancos e barrancos também se recuperaram e hoje temos o que pode ser chamado de rede de apoio para quando tudo isso voltar. 

A influência que as redes sociais tinham sobre mim era imensa, eu estava me vendo como alguém no mundo e me deparei com defeitos e erros que nem sequer existiam visto que eu estava mudando e passando por um processo natural dos seres humanos. Eu me alimentava de ódio pelo meu corpo e por todos aqueles que se pareciam comigo, sem ver o que estava perdendo do começo da adolescência e comprometendo o futuro.

Se você se identificou com esse relato, saiba que é possível se sentir melhor. Busque ajuda e se acolha junto aos seus… você não está só. Abaixo estão as informações sobre como buscar ajuda. Acesse: https://www.wannatalkaboutit.com/br/ e busque por ajuda <3 

Referências

DA-SILVA, Giulia Gomez; DANIEL, Natália Vilela Silva. Relação do uso de redes sociais com risco de transtorno alimentar e insatisfação corporal em adolescentes escolares. Artigo Original,[s. l], p. 1-9, 2020.

GIORDANI, R. C. F.. A auto-imagem corporal na anorexia nervosa: uma abordagem sociológica. Psicologia & Sociedade, v. 18, n. 2, p. 81–88, maio 2006.

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Transtorno Obsessivo Compulsivo em “Melhor é Impossível”

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A análise crítica de uma obra cinematográfica, com viés psicológico, demonstra um senso crítico interessante sobre o comportamento humano. Neste tipo de produção são explorados todos os aspectos emocionais e imaginários de um indivíduo.

Normalmente, obras de drama, suspense, terror e ação são as preferidas para abordarem questões complexas envolvendo algum distúrbio ou transtorno característico, estereotipando o portador de alguma enfermidade como uma pessoa monstruosa, como o caso da psicopatia.

Porém, não só de negatividade vivem os transtornos humanos, muitas vezes as situações podem ser representadas como cômicas e servir para entreter o público em geral. Esse foi o caso do clássico de comédia Melhor é Impossível (1998), dirigido por James L. Brooks.

O filme narra a história do excêntrico escritor Melvin Udall (Jack Nicholson) que é portador do conhecido Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Udall possui um senso de humor extremamente preconceituoso, principalmente com homossexuais, sendo seu alvo favorito o artista Simon Bishop (Greg Kinnear).

Fonte: Google Imagens

O TOC de Melvin está em um nível extremamente agravado, como é possível observar no filme, pois ele não pisa as linhas do chão; para trancar a porta de casa, ele gira a chave diversas vezes; somente lava a mão com água quente e dois sabonetes diferentes, que são descartados após o uso; seus chocolates são divididos em potes por cores.

Além disso, não encosta-se a ninguém e faz de tudo para evitar que toquem nele; só sai de casa para se encontrar com seu médico, editora ou para almoçar no restaurante de sempre, na mesma mesa, no mesmo horário, ser atendido pela mesma garçonete e comer a mesma coisa em talheres descartáveis que ele mesmo leva. O cenário do filme também expõe a gravidade de seu TOC, como sua coleção de discos e garrafas d’água organizadas.

Como é cediço, o Transtorno Obsessivo Compulsivo é uma condição que basicamente reúne a ansiedade com crises recorrentes de obsessões e compulsões. Fica muito explícito no filme essas situações quando Melvin apresenta seus “rituais” do cotidiano.

A obsessão de Melvin em repetir os mesmos padrões é uma característica marcante no personagem, sendo uma das razões para este ser sempre atendido pela mesma garçonete Carol Connelly (Helen Hunt), pois esta é a única que aparenta lhe suportar.

Udall, assim como muitas das pessoas portadoras destes transtornos, não fazia o acompanhamento médico adequado, tampouco fazia uso das medicações que lhe ajudariam a reduzir os sintomas.

Porém, dada situações inesperadas, Udall se vê obrigado a cuidar do pequeno cachorro de estimação do seu vizinho Simon. Inicialmente há muita relutância de sua parte, entretanto, o carisma do pequeno animalzinho acaba conquistando aos poucos Melvin.

Fonte: Google Imagens

Ademais, Udall se descobre apaixonado por Carol, a atendente do restaurante e, na tentativa de conquista-la, resolve retomar ao tratamento do seu transtorno. Imperioso destacar que Melvin se encontrava em uma situação totalmente desvantajosa no início do filme, falido e com uma necessidade gigantesca de se redescobrir como indivíduo para se conectar novamente com a sociedade.

É perceptível que já existia dentro deste os interesses de mudança, sem Carol, assim como o pet do seu vizinho, pontos de ignição para o despertar um novo e melhorado Melvin.

O filme até os dias atuais é aclamado pela extraordinária atuação dos atores, tendo sido um marco na vida do já famoso Jack Nicholson que levou o Oscar daquele ano pelo papel representado.

Fonte: Google Imagens

É possível extrair do filme um significado profundo sobre o comportamento humano, principalmente quando o indivíduo se afasta da ignorância de sua personalidade e descobre as razões que lhe levam a ter uma conduta excêntrica que muitas vezes é mal vista pelos seus pares. Também mostra como é possível, até para os mais difíceis casos, uma melhoria na qualidade de vida quando há o comprometimento e dedicação da pessoa portadora do TOC.

FICHA TÉCNICA

Título: As Good As It Gets (Original)

Ano produção: 1998

Dirigido por: James L. Brooks

Duração: 138 minutos

Classificação: Livre

Gênero: Comédia, Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

 

REFERÊNCIAS

CORREA, Luanna Carolline Machado. Melhor é Impossível: análise funcional do comportamento de Melvin. Portal (EN)Cena. Disponível em <https://encenasaudemental.com/cinema-tv-e-literatura/melhor-e-impossivel-analise-funcional-do-comportamento-de-melvin/>. acesso em 01 jun 2022.

Rosario-Campos, Maria Conceição do e Mercadante, Marcos. Transtorno obsessivo-compulsivo. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2000, v. 22, suppl 2 [Acessado 14 Junho 2022] , pp. 16-19. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000600005>. Epub 24 Jan 2001. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000600005.

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Um panorama geral sobre transtornos alimentares

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Quando a comida faz o papel de vilão na vida de uma pessoa, e ela tem uma relação disfuncional com o ato de se alimentar, algo pode estar muito errado. Não sejamos ingênuos de achar que os transtornos alimentares são somente preocupações com comida e peso.  Na maioria das vezes é um panorama muito mais amplo do que isso.

Os transtornos alimentares (TA) fazem parte da categoria dos transtornos psicológicos que são caracterizados por distúrbios graves e persistentes nos comportamentos alimentares e pensamentos e emoções angustiantes associados ao comportamento de comer. São frequentemente associados a preocupações com comida, peso ou forma, ou com ansiedade sobre comer e as consequências de comer certos alimentos. Mas além disso, são condições complexas que começam a partir de uma combinação de fatores comportamentais, emocionais, psicológicos, interpessoais e sociais de longa data.

Os tipos de transtornos alimentares incluem compulsão alimentar periódica, anorexia nervosa, bulimia nervosa, e patologias ligadas como ingestão alimentar restritiva e uso de métodos inadequados para manutenção e perda de peso, além da prática de exercícios físicos de forma compulsiva. Esses comportamentos podem ser conduzidos de maneiras que se assemelham a um vício.

Fonte: encurtador.com.br/myCHW

O comer transtornado (CT) abarca todo tipo de comportamento alimentar disfuncional ou que possa ser conceituado como não saudável, tendo grandes chances de desenvolver um TA, como por exemplo dietas restritivas, uso de medicamentos para o controle de peso, jejum prolongado, utilização de substitutos para refeições como shakes ou suplementos, ingestão muito baixa de alimentos ou outros tipos de comportamentos que têm como objetivo reduzir a quantidade de alimento consumido e o controle de peso de forma problemática. O comer transtornado (disordered eating) pode aumentar a probabilidade de desenvolvimento de TA, visto que ele apresenta particularidades parecidas dos transtornos alimentares, o que muda é a frequência e gravidade dos sintomas, que são diminuídos.

Os transtornos alimentares são condições muito graves que afetam a função física, psicológica e social, e abrangem até 5% da população, na maioria das vezes se desenvolvem na adolescência e na idade adulta jovem (de 12 a 35 anos). Normalmente estão mais relacionados às mulheres, mas todos estes comportamentos podem ocorrer em qualquer idade e afetar qualquer gênero.  Nos últimos anos, tem-se observado o aumento do número de homens acometidos, embora a proporção estimada seja de um para cada 10 casos.

Fonte: encurtador.com.br/jmJQX

Geralmente ocorrem em conjunto com outros transtornos, como transtornos de humor e ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e problemas de abuso de álcool e drogas. As evidências sugerem que os genes e a hereditariedade desempenham um papel importante, motivo pelo qual algumas pessoas correm maior risco de apresentar em algum momento da vida um transtorno alimentar, mas esses distúrbios também podem afetar aqueles sem histórico familiar da doença. Pessoas que sofrem de uma dessas condições costumam usar a comida na tentativa de compensar sentimentos e emoções que, de outra forma, podem parecer esmagadores. Para alguns, fazer dieta, compulsão e purgação podem começar como uma maneira de lidar com emoções dolorosas e se sentir no controle de suas vidas. Mas, ao passar do tempo, esses comportamentos prejudicarão a saúde física e emocional deste indivíduo, sua autoestima e o senso de competência e controle.

A literatura traz algumas características de personalidade que podem ser percebidas nas pessoas que possuem algum TA. Estudos apontam que eles podem vir em forma de uma preocupação em excesso com a aprovação social, alterações na sua percepção corporal, tentativa de se encaixar nas expectativas dos pais, sentimento de vazio e sintomas depressivos. A hipervalorizarão da magreza na atualidade pode contribuir para sentimentos de depressão, culpa, raiva, estresse e insegurança nas pessoas menos confiantes que se percebem longe de um padrão socialmente valorizado do corpo ideal.

O DSM-5 traz como sinais e sintomas da anorexia nervosa por exemplo alguns critérios como a recusa em manter o peso corporal saudável, medo intenso do ganho de peso ou de se tornar obeso, ainda que esteja abaixo do peso, distorção na forma de perceber o corpo e o peso, ou negação da seriedade da atual perda de peso. Em mulheres, consideram-se como critério diagnóstico a ausência de menstruação e restrições alimentares com um padrão alimentar atípico e extrema perda de peso, induzida e mantida a todo custo, além de um medo intenso de engordar. Já para a Bulimia Nervosa incluem episódio de compulsão alimentar seguido de comportamentos compensatórios (episódio bulímico). Desse modo, a preocupação excessiva com relação ao controle do peso corporal conduz a uma alternância entre uma ingestão excessiva de alimentos e vômitos autoinduzidos, ou até uso de métodos purgativos, como estratégias compensatórias para o grande volume de alimentos ingeridos (Associação Americana de Psiquiatria, 2003).

Fonte: encurtador.com.br/fxIMX

Como os transtornos alimentares têm causas multifatoriais, e levando em consideração a complexidade dos transtornos, tanto no início dos sintomas como na manutenção do quadro como um todo, o tratamento dos TA deve envolver uma abordagem multidisciplinar, envolvendo nutricionista, endocrinologista, psicólogo e psiquiatra. O tratamento deve abordar complicações psicológicas, comportamentais, nutricionais e outras complicações médicas. A ambivalência em relação ao tratamento, a negação de um problema com a alimentação e o peso ou a ansiedade sobre a mudança dos padrões alimentares não são incomuns, mas com técnicas comportamentais o paciente pode começar a perceber algumas mudanças, como maior controle da ansiedade, diminuição dos sintomas, maior auto controle, diminuição do sentimento de culpa, desenvolvimento de estratégias para lidar com as crises, melhora da autoestima, equilíbrio do peso e a mudança na relação com o ato de comer e com o corpo, deixando de enxergar a alimentação como vilã e fazendo as pazes com o comportamento de comer.

O tratamento deve ter como objetivo restaurar a nutrição adequada do paciente, e a compulsão e o exagero devem ser reduzidos de forma que o hábito alimentar do paciente se torne algo prazeroso, sem culpa e, principalmente, saudável.

REFERÊNCIAS

Comer transtornado e o transtorno de compulsão alimentar e as abordagens da nutrição comportamental. Revista Interciência, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/estpsi/a/Cxfh6QpdC9cM57xLsQZjFfv/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 04/04/2022.

Aconselhamento em saúde: fatores terapêuticos em grupo de apoio psicológico para transtornos alimentares. Estudos de Psicologia, 2014. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/Downloads/302-Texto%20do%20artigo-1229-1-10-20210713.pdf. Acesso em 05/04/2022.

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Cruella – o alter ego de uma criança traumatizada

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Quem nasceu no século passado tinha alguns filmes e animações bem característicos para o público infantil, um destes fora os 101 Dálmatas. No enredo da história uma pacata família possui uma “pequena” ninhada de cachorros da raça dálmatas que são perseguidos pela vilã Cruella De Vil, que almeja criar uma peça de roupa de moda com o pelo dos pobres animaizinhos.

Recentemente foi lançado o filme da própria vilã, titulado de Cruella (2021). O filme, dirigido por Craig Gillespie, conta a história da pequena Estella (Emma Stone) e sua transformação na poderosa Cruella De Vil.

Estella é uma criança hiperativa, que sofre de uma condição rara chamada Piebaldismo, que faz com seja alvo de bullying na infância, fazendo com que esta tenha um comportamento agressivo como defesa das agressões e uma personalidade histriônica, que utiliza de sua aparência física de forma provocadora para chamar atenção dos seus pares. Esta condição da Estella é tão forte em sua personalidade que esta é fascinada pelo mundo da moda e suas pirotecnias.

Essa forma de agir é facilmente percebida pelo público no primeiro ato, quando a pequena Estella modifica seu uniforme escolar de uma forma pitoresca e extravagante, arrumando confusões sem fim.

Fonte: https://images.app.goo.gl/Jg6owZSEq1pAmMYW9

A personalidade de Estella em sua infância foi muitas vezes “contida” pela presença da mãe adotiva da garotinha, Catherine Miller (Emily Beecham), que consegue controlar as impulsividades da jovem personagem.

O filme busca apresentar ao público o lado oculto da vilã, os aspectos por trás de sua aversão pelos animais da raça Dálmatas, além de outras condições mentais que a personagem apresenta nos clássicos da Disney. Por esta razão, temos o arco do maior trauma da vida de Estella.

Sua mãe adotiva viaja uma longa distância para casa de uma “velha amiga” em busca de ajuda, e, ao chegar ao local, pede para a pequena Estella ficar no carro para que não arrume confusões, mas, no local que estavam ocorria uma grande e luxuosa festa de moda, tudo que a jovenzinha gostaria de vivenciar, razão pela qual entra de penetra e causa o maior alvoroço.

No meio desta confusão, os cachorros da anfitriã avançam atrás da Estella e esta foge para os jardins da propriedade, porém, estes continuam avançando e acabando assassinando a mãe adotiva de Estella que fica traumatizada com o ocorrido e foge, passando a morar na rua com seus novos amigos Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser). Fato interessante é que, após o falecimento de sua mãe adotiva, Estella torna-se mais “contida”, evitando chamar atenções para si, inclusive tingindo o cabelo para uma coloração “discreta”.

Estella cresce nas ruas, aplicando pequenos golpes para sobreviver com seus amigos, mas sempre manteve em sua mente o desejo de trabalhar para ser uma estilista famosa. Sua audácia como Estella é notável, entrando em confusões e causando problemas em uma loja de roupas de luxo, com sua visão exótica e excêntrica, acaba chamando atenção da poderosa Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), que a convida para trabalhar em sua equipe, dando início a trama principal.

No início de seu trabalho com a Baronesa, Estella cria uma relação afetiva muito forte, com grande admiração pela poderosa e influente estilista, buscando sempre se destacar nas atividades que são ordenadas.

Ocorre que, em um diálogo entre as personagens, Estella descobre que a pessoa que causara toda a tragédia de sua vida tinha sido a própria Baronesa, que acusa a mãe adotiva de Estella de ladra por ter apresentado um joia como forma de pedir ajuda.

Essa situação faz aflorar em Estella todos os sentimentos reprimidos, trazendo à tona a poderosa Cruella, apresentando neste momento os traços do transtorno bipolar que a personagem tem consigo. Cruella é o alter ego de Estella, ambas em pleno processo de simbiose atuando em conjunto, mas em momentos distintos.

Fonte: https://images.app.goo.gl/fV84FqxtX5V1kqU16

Importante destacar que, apesar de aparentar ser outra pessoa, Cruella sempre fez parte da personalidade de Estella, sendo, no entanto, reprimida muitas vezes, o que é diferente do Transtorno Dissociativo de Identidade – TDI, onde a pessoa muitas vezes não tem noção daquela “pessoa” que vive em sua mente (como é o caso de Jack e Tyler Durden do clássico Clube da Luta).

No bipolarismo, possui uma oscilação muitas vezes entre o maníaco e o melancólico, sendo que em alguns casos uma dessas condições prevalece por mais tempo sobre a outra. Interessante sobre este ponto é quanto a personagem diz “Voilà! Cruella passou muito tempo em uma caixa. Agora é a Estella quem vai fazer participações especiais”, mostrando os fortes indícios da bipolaridade da personagem e os aspectos individuais de cada personalidade.

Cruella, com seu transtorno histriônico e sua bipolaridade aflorada por uma vilã que possui fortes traços de psicopatia e narcisismo, é uma personagem marcante, irreverente, única em toda a trama, que consegue cativar o público de formas inimagináveis.

No arco final do filme, a personagem principal descobre ter parentesco com a vilã Baronesa, descobre ainda que durante toda a gestação fora uma criança rejeitada, sem o amor de sua mãe biológica e que esta havia fingido sua morte para todos.

Esta informação é recebida por Estella/Cruella cheia de muitos significados, com isso há um monólogo magnífico onde há a transformação completa da jovem Estella para a vilã Cruella:

“Hoje é um dia confuso. Minha inimiga é a minha verdadeira mãe. E ela matou a minha outra mãe.

Acho que você sempre teve medo. Não é? Temia que eu fosse uma psicopata como a minha mãe de verdade. Isso explica aquela história de ‘controle-se, tente se adaptar’. ‘Moldar-me com amor’, creio eu, era a ideia.  E eu tentei. Eu realmente tentei porque eu te amava.

Mas a verdade é que eu não sou a doce Estella. Por mais que eu tentasse. Eu nunca fui. Eu sou Cruella. Eu nasci brilhante. Eu nasci má e meio maluquinha. Eu não sou como ela. Eu sou melhor. Enfim, é vida que segue. Há muito que vingar, reivindicar e destruir. Mas eu te amo. Sempre.”

O trecho acima da narrativa reforça que a personagem tem conhecimento e aceita, ao final, sua insanidade, assumindo o manto de Cruella De Vil, a horrível vilã perseguidora de Dálmatas para fazer casacos de pele.

Pelo pode ser extraído do filme, a transformação de Estella em Cruella leva em consideração seus aspectos genéticos e também seus estresses pós-traumáticos que influenciaram na sua forma de perspectiva de vida e ainda na construção de todo os mecanismos de defesa psicológicos que a vilã apresentou durante a trama.

FICHA TÉCNICA

Título: Cruella (Original)

Ano produção: 2021

Dirigido por: Craig Gilespie

Duração: 134 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Aventura – Comédia – Família

País de Origem: Estados Unidos da América

 

REFERÊNCIAS

ALDA, Martin. Transtorno bipolar. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 1999, v. 21, suppl 2 [Acessado 2 Março 2022] , pp. 14-17. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005>. Epub 04 Out 2000. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005.

ZANIN, Carla Rodrigues e VALERIO, Nelson Iguimar. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de personalidade dependente: relato de caso.Rev. bras. ter. comportamento. cogno. [on-line]. 2004, vol.6, n.1, pp. 81-92. ISSN 1517-5545.

De Oliveira Pimentel, F., Della Méa, C.P., & Dapieve Patias, N. (2020). Vítimas de Bulliyng, sintomas depressivos, ansiedade, estresse e ideação suicida em adolescentes. Acta Colombiana de Psicología, 23(2), 205-216. http://www.doi. org/10.14718/ACP.2020.23.2.9

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A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla deste ano busca transformar o conhecimento em ação

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A Semana reforça a necessidade de cumprir o que está na legislação brasileira para a garantir os direitos das pessoas com deficiência  

Com o tema ‘É tempo de transformar conhecimento em ação’, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla inicia amanhã, 20, e vai até o dia 28 de agosto, com a finalidade de realizar ações focadas na promoção do conhecimento dos direitos dessa parcela da população para que sejam respeitados e cumpridos efetivamente.

A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla foi criada pela Federação Nacional Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) que inicialmente foi titulada de Semana Nacional da Criança Excepcional pelo Decreto n° 54.188, de 1964, mas em 2017 foi alterada pela Lei n° 13.585 com o nome atual.

Durante a Semana Nacional, Secretaria de Cidadania e Justiça (Seciju), juntamente com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) do Tocantins, levará informações a fim de sensibilizar as pessoas sobre o tema e assegurar direitos igualitários, inclusão social e cidadania às pessoas com deficiência.

Fonte: Apae Brasil

A gerente de Diversidade e Inclusão da Seciju, Nayara Brandão, fala que a Pasta vai trabalhar o tema com blitzes informativas em diversos pontos públicos da cidade, como shoppings centers, parques e feiras, além da entrega de cestas básicas às famílias. “A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é de suma importância e tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da inclusão, do respeito e dos direitos. Durante esta semana a Gerência de Diversidade e Inclusão Social estará levando informações para toda a sociedade através de blitz educativa com entrega de cartilhas”, explica a gerente.

A Semana

A diretora da Apae de Palmas, Ruth Coelho Dias Cavalcante, esclarece que a campanha permeia os trabalhos desenvolvidos pela instituição ao longo de todo ano, como instrumento de defesa e garantia de direitos e mobilização social. “O objetivo é divulgar conhecimento sobre as condições sociais das pessoas com deficiência intelectual e múltipla, como meio de transformação da realidade, superando as barreiras que as impedem de participar coletivamente em igualdade de condições com as demais pessoas”, frisa a diretora.

“Hoje o Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo no que se refere à garantia de direitos das pessoas em situação de deficiência, no entanto, na prática, a maior parte do que se assegura na lei não é acessível a todos e o tema veio provocar o debate nacional sobre direitos a partir de conteúdos acessíveis sobre transporte, moradia, acesso à educação, saúde e assistência social, pensando em como assegurar que esses direitos se efetivem na vida diária dessas pessoas”, enfatiza a diretora da Apae.

Fonte: encurtador.com.br/yHN04

O que é deficiência intelectual e múltipla

De acordo com a Apae, a deficiência intelectual é um transtorno de desenvolvimento que faz com que o indivíduo tenha um nível cognitivo e comportamental muito abaixo do que é esperado para sua idade cronológica. Já a deficiência múltipla é quando pessoas são afetadas em duas ou mais áreas, caracterizando uma associação entre diferentes deficiências, com possibilidades bastante amplas de combinações.

Apae

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) nasceu em 1954 no Rio de Janeiro e hoje está presente em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional e só na Apae do Tocantins, mais de 14 mil pessoas são atendidas nas 32 unidades do Estado.

Na Apae de Palmas, o trabalho debruça-se em promover a inclusão social das pessoas com deficiência intelectual e múltipla em todos o seu ciclo de vida, por meio das atividades nas áreas da educação, assistência social, proteção dos direitos, saúde, esportes, auto defensores, artes, danças, fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia com implementação Pedsuit, todos atendimentos gratuitos às famílias dos assistidos.

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Sobrecarga e equilíbrio – (En)Cena entrevista a professora Vanessa Oster

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“Falar de saúde mental neste período é algo difícil, vivo no limite. Existe uma linha muito tênue entre a sanidade e o surto. Durante o dia tenho várias alterações de humor e isso reflete em todas as minhas atividades, principalmente no trabalho”.

O Portal (En)Cena entrevista a professora e pesquisadora do Instituto Federal de Tecnologia do Tocantins (IFTO), doutoranda  em educação pela UNICID, Vanessa Oster, para entender sua perspectiva acerca dos desafios que o Brasil da pandemia impõem à  mulher, profissional, cientista, esposa, mãe de duas crianças em idade de alfabetização no ensino remoto.

Em sua fala, a professora relata pontos como a intensificação da sobrecarga da mulher no período da pandemia, devido ao acúmulo de atribuições domésticas, das atividades escolares dos filhos às tarefas ordinárias da vida profissional. Nesta perspectiva, a entrevistada destaca a importância da saúde mental para oportunizar uma melhor interação entre as pessoas envolvidas na dinâmica do trabalho, tornando a rotina mais agradável e produtiva e conduzindo todos a decisões assertivas. Por fim, Vanessa Oster aponta preocupações com os retrocessos sociais no que tange ao atraso nas conquistas relativas à equidade de gêneros em decorrência do período de calamidade causado pela COVID-19.

Figura 1 – Foto pessoal

(En)Cena –  Considerando o seu lugar de fala, de mulher, professora do IFTO, pesquisadora, mãe e professora dos filhos em aula online e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Vanessa Oster – Ser mulher durante a pandemia é um exercício diário de fé, paciência e persistência. São muitas demandas, é preciso ser uma boa mãe, uma excelente profissional, uma dona de casa exemplar e tudo isso acontecendo ao mesmo tempo no mesmo ambiente. As tarefas se confundem, trabalho e cuido das crianças simultaneamente. Isso para mim é o mais complicado. A sobrecarga da mulher é evidente no período da pandemia, ficou muito claro que as atribuições domésticas e as atividades dos filhos são das mulheres.

(En)Cena – Como a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres interfere em tomadas decisões acertadas ou equivocadas no trabalho?

Vanessa Oster – Falar de saúde mental neste período é algo difícil, vivo no limite. Existe uma linha muito tênue entre a sanidade e o surto. Durante o dia tenho várias alterações de humor e isso reflete em todas as minhas atividades, principalmente no trabalho. O meu desempenho profissional está diretamente ligado ao meu estado de espírito. Se estou bem a aula ministrada por mim, a metodologia aplicada é exitosa caso contrário nada flui de forma prazerosa. A manutenção da saúde mental é de fundamental importância para que eu tenha condições de realizar as minhas atividades pessoais e profissionais com qualidade. Estando com uma boa saúde mental o convívio (mesmo que virtual) com os colegas propiciará uma interação/ socialização mais agradável e produtiva, o que automaticamente conduzira para decisões assertivas. Sendo assim, neste período, várias decisões tomadas foram erradas em função de uma instabilidade emocional.

Figura 2 – Mari_C/Getty Images

(En)Cena – Quais os desafios de ser ensinar e produzir ciência sendo mãe e mulher, durante a pandemia?

Vanessa Oster – Produzir ciência não é fácil em nenhuma condição, agora então exige uma maior dedicação. Ser mãe e fazer ciência, ao mesmo tempo e no mesmo ambiente é uma equação com muitas variáveis e nem sempre é possível chegar a um resultado, algumas coisas se perdem pelo caminho. Em vários momentos a mãe precisa elencar prioridade as quais lhe tomarão mais tempo. Neste período de pandemia eu optei em priorizar meu tempo com as meninas, até por elas estarem nas serem iniciais e precisarem receber uma alfabetização e um letramento de qualidade. Historicamente e socialmente, a mãe é tida como responsável pelas crianças e responsável por tornar o ambiente doméstico um bom lugar para a família conviver.

Como neste período de pandemia tudo acontece dentro de casa, fazer ciência e ser mãe demandou que muitas horas de sono fossem dedicadas a leitura para que a minha produção acadêmica não parasse. Com muita dedicação, muitos momentos de surtos e sem muita compreensão das crianças eu tenho conseguido fazer ciência. Não sei se manter a produção acadêmica é uma decisão assertiva no momento, devido à sobrecarga, mas é muito satisfatório ter resultados de um trabalho seu publicado. Seja como capítulo de livro, artigo ou qualquer outra forma de documentar a minha contribuição para a ciência. E assim vamos seguindo entre uma tarefa e outra das crianças um artigo é lido, depois que elas dormem é que consigo escrever.

Figura 3 – freepik

(En)Cena – Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Vanessa Oster – Antes da pandemia estávamos em um “momento feminino”, estávamos nos aproximando de uma equidade de gêneros, porém com a crise da covid-19 talvez a vida de muitas mulheres mude e tenha um “retrocesso” no que se trata da equidade. Em função do convívio mais intenso entre os cônjuges, devido fatores econômicos e vários outros acontecimentos da pandemia, aumentou muito o número nos casos de violência doméstica. Algumas meninas que estavam em idade escolar, viraram adultas no período de pandemia começaram a trabalhar e terão dificuldades para voltar a escola, algumas mulheres saíram do trabalho para cuidar dos filhos pois não tinham com quem deixar as crianças, tornando-se assim dependentes financeiramente dos seus cônjuges. A meu ver são alguns fatores que podem levar uma submissão feminina. Por outro lado, algumas mulheres se destacam no período pandêmico devido ao potencial de liderança e facilidade de mediar conflitos nos Governos e nas Empresas. Sendo assim acredito que existirá dois grandes grupos, as mulheres independentes e estáveis profissionalmente (não sei se com saúde mental) que estarão à frente de grandes projetos sociais, grandes empresas e até mesmo líderes de governo e aquelas que retroagiram e tiveram que postergar o sonho da igualdade de gênero por mais uns anos. O que ambos os grupos terão em comum, é serem formados por mulheres sobrecarregadas e que estão em constante busca de equilíbrio.

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Estreia em outubro filme brasiliense sobre Personalidade Borderline

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Um dos transtornos de personalidade mais recorrentes na atualidade, o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), é tema do filme “Eu Sinto Muito”, que estreia dia 10 de outubro nas principais salas de cinema do Brasil.

No filme “Eu Sinto Muito” acompanhamos a trajetória do cineasta Júlio (Rocco Pitanga) na produção de um documentário sobre o Transtorno de Personalidade Borderline. A partir deste guia, conhecemos a história dos cinco entrevistados, Isabelle (Juliana Schalch), Paula (Camila Alencar), Guilherme (Victor Abrão), Marta (Carol Monte Rosa) e Cláudio (Wellington Abreu).

Dirigido por Cristiano Vieira, os personagens centrais estão ligados de diferentes formas: ou foram diagnosticados ou se relacionam de forma íntima com algum paciente. No longa, é possível acompanhar seus relacionamentos, a forma como lidam com o tratamento e as crises e como o Borderline se manifesta em situações cotidianas, por exemplo, na espera do parceiro fazer um almoço, em uma festa com amigos ou ao ser contrariado.

Também conhecido por Transtorno de Personalidade Limítrofe a doença atinge cerca de 6% da população e é responsável por 20% das internações psiquiátricas e são até 10% dos pacientes atendidos em ambulatórios. Os principais sintomas, segundo Sérgio Ricardo Hototian, psiquiatra no Hospital Sírio-Libanês[1], são a impulsividade, a mudança de humor brusca, autoflagelação e carência. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que no Brasil esse transtorno atinja entre 1 e 3% da população, podendo chegar a 6 milhões de pessoas.

Fonte: Divulgação

“Entendemos que falar sobre o transtorno de forma honesta poderá salvar não só relacionamentos, mas vidas, pois sabemos que muitas vezes o transtorno leva a situações trágicas. Vemos o filme como uma oportunidade singela tornar provocar o debate público sobre o transtorno e conscientizar sobre o tratamento àqueles que precisam”.

Cristiano Vieira, julho/2019

Produzido pela Studio 10 Filmes, “Eu Sinto Muito” tem distribuição da Elo Company. Parte do Projeta às 7, parceria da distribuidora com a Cinemark para abrir uma nova janela no circuito comercial, o longa estará, a partir de 10 de outubro,  em 20 salas de 19 cidades do país, com sessões de segunda a sexta-feira às 19h e preços de R$12 (inteira).

SINOPSE

Isabelle, Guilherme e Marta enfrentam emoções intensas que sabotam suas vidas e seus relacionamentos amorosos, enredo encontrado por Júlio para seu documentário sobre o Transtorno de Personalidade Limítrofe (Borderline).

Fonte: Divulgação

Borderline

A expressão Borderline, em inglês, pode ser traduzida por aquilo que está na fronteira, no limite. O TPB é  tratado no âmbito da Saúde Mental e deve ser acompanhando, prioritariamente, pelos campos da psicologia e da psiquiatria.

As pessoas diagnosticadas com esse tipo de transtorno alternam atitudes de forma impulsiva, podendo ter surtos de ódio e de felicidade e, em casos extremos, o sofrimento pode levar ao suicídio.

A pessoa border  tem um padrão de instabilidade nas relações pessoais, na autoimagem e nos afetos, com impulsividade acentuada que surge na primeira fase da vida adulta. O médico psiquiatra, diretor secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Dr. Claudio Meneghello Martins, explica que pessoas diagnosticadas com essa síndrome têm “Muita dificuldade de estabelecer vínculos afetivos reais e temor contínuo de ser abandonada. Passa testando o seu meio para comprovar se é amada, mas como sua conduta é inadequada, acaba afastando as pessoas de seu convívio”.  

Fonte: Divulgação

Utilidade Pública

O diagnóstico difícil e a carência de uma política pública direcionada, comprometem o conhecimento sobre o tema e alimentam tabus em torno do problema. Ao tratar do tema, o filme “Eu Sinto Muito” entra para a lista de longas-metragens com viés de Utilidade Pública por tratar um tema da saúde mental.

A Síndrome de Borderline compõe o grupo de Transtornos Mentais, que hoje afetam 12% dos brasileiros.  Essa síndrome também leva ao sofrimento quem está ao lado da pessoa com a síndrome, gerando tensões familiares, com amigos e nas relações amorosas. “O tema borderline fez parte de minha vida quando passei por um relacionamento conturbado com uma ex-companheira. No fim do nosso relacionamento ela revelou ser diagnosticada com o transtorno, mas que não aceitava, não se tratava”, relata o diretor da filme.

A Personalidade Limítrofe (Borderline) carece de políticas públicas específicas, e gratuitas, que deem respostas ao avanço do transtorno com tratamentos adequados. Atualmente o Instituto de Psiquiatria (IPq), que compõem o Complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, realiza atendimento a pessoas com TPB. “As políticas de saúde Mental do Ministério da Saúde encontram-se num processo de mudanças de modelos assistenciais significativas, que visam uma melhoria”, informa o psiquiatra da ABP.

Fonte: Divulgação

SOBRE O DIRETOR

Cristiano Vieira é diretor estreante de longa-metragem de ficção com o “Eu Sinto Muito”. Realizou o longa-metragem documentário “Um Domingo de 53 Horas” em 2016 que participou de festivais prestigiados como o 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e o 8º Festival Internacional de Cinema Político de Buenos Aires – FICiP. Em 2005 realizou o curta-metragem “BUCHE: Mais uma História” e em 2018 realizou o curta-metragem de animação infantil ” O Extraordinário Cisco do Bispo”. Fundou a Studio 10 Filmes e há 5 anos desenvolve conteúdo como documentários, filmes de ficção, séries dramáticas e animações infantis para TV e VoD.

FICHA TÉCNICA

Direção: Cristiano Vieira

Produção Executiva: Bruno Caldas e Cristiano Vieira

Produção: Studio 10 Filmes

Roteiro: Cristiano Vieira, Antônio Balbino e Tui Segall

Elenco: Juliana Schalch, Rocco Pitanga, Victor Abrão, Carol Monte Rosa, Wellington Abreu, Camila Alencar e Eduardo Cravo

Direção de fotografia: Marconni Andrade

Direção de arte: Didi Colado

Som direto: Apollo Menezes

Montagem: Cristiano Vieira, Esdras Menezes e Fred Fernandes

Trilha sonora: Ed Staudinger

Trilha sonora original: “Método para a Loucura” – Banda Humbold

Desenho de som: Estúdio Muzak

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Psicologia hospitalar: acolhimento ao doente mental

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O campo de atuação denominada saúde mental surgiu com o objetivo de oportunizar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participações em ações sociais, com o intuito de tratar e respeitar o paciente de maneira singular

O tratamento para a loucura surgiu no século XIX através de uma proposta terapêutica do médico Philippe Pinel, colaborando para a eclosão da psiquiatria. Antes de Pinel, qualquer pessoa que representasse risco social era enclausurada sem assistência médica. Tais pessoas eram: loucos, mendigos, ladrões, leprosos, mães solteiras e órfãos. Isto por que a cura era buscada através do isolamento social, e caso não acontecesse, o destino era a exclusão (FOUCAULT, 1997).

Através da movimentação de Pinel e do cenário de castigo e exclusão, abre portas para diversos movimentos, com o intuito de denunciar as péssimas condições de trabalho, precariedade dos ambientes, condições insalubres, isolamento em celas e tratamento violento como forma de punição. Assim como a Reforma Psiquiátrica Brasileira (AMARANTE, 1995), que por influência da Reforma Democrática Italiana, foi instaurada no Brasil na década de 70.

Fonte: encurtador.com.br/mBHNY

O campo de atuação denominada saúde mental surgiu com o objetivo de oportunizar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participações em ações sociais, com o intuito de tratar e respeitar o paciente de maneira singular (NETO, 2008). Logo, o paciente passou a ter voz. A partir da necessidade de dar a voz do saber ao paciente, para buscar melhor entendimento, e resultar em um tratamento mais eficaz, abrangendo o psicossocial e descentralizando o modelo biomédico, surge os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

[…] são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários, que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dessas pessoas através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários (BRASIL, 2005, p. 27)

A participação do psicólogo na equipe multidisciplinar se torna fundamental, visto que o psicólogo promove escuta terapêutica individual e grupal, assim como trabalha na produção de informações de tratamento e redução de danos, direcionada ao doente, a família e a sociedade em que o doente está inserido.

Fonte: encurtador.com.br/tX179

É sabido que transtornos mentais, neurobiológicos e/ou problemas sociais decorrentes do uso e abuso de álcool e outras drogas é um problema social grave. Quando um indivíduo necessita de cuidados especializados, que não se enquadram aos serviços oferecidos no CAPS, o encaminhamento hospitalar é realizada. A internação é realizada em uma Unidade Psiquiátrica situada em Hospitais Gerais. A ala psiquiátrica é composta por profissionais de diferentes áreas, como psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistes sociais, entre outros (COLITO, 2016).

Por fim, é importante ressaltar que nem sempre existiu o termo Psicologia Hospitalar no Brasil. O surgimento ocorreu em 1970, com a primeira investigação biopsicossocial de um paciente da ala de ortopedia de um hospital de São Paulo. Segundo Castro e Bornholdt (2004) a terminologia é inexistente em outros países. É importante diferenciar a psicologia hospitalar e a psicologia da saúde. A primeira faz parte da segunda, no entanto tem um campo delimitado, o ambiente hospitalar. “Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento” – aquele que se “dá quando o sujeito humano, carregado de subjetividade, esbarra em um ‘real’, de natureza patológica, denominado doença…” (SIMONETTI, 2004, p. 15 apud MOSIMANN; LUSTOSA, 2011). Já a segunda tem uma maior amplitude, pois abarca desde escolas a hospitais. “A Psicologia da Saúde é a ciência que busca responder questões relativas à forma como o bem-estar das pessoas pode ser afetado pelo que se pensa, sente e faz” (STRAUB, 2005, apud MOSIMANN).

Acolhimento psicológico ao doente mental na ala psiquiátrica

O acolhimento deve estar presente em qualquer situação de humanização da saúde. No atendimento não tem um local específico de realização, visto que ele pode ser no corredor, no leito e/ou no consultório. O intuito é acolher e dar suporte ao paciente de acordo com suas queixas e necessidades físicas e psicológico.

[…] postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas, no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes. Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os serviços de saúde […]. (BRASIL, 2015, S/P)

A preparação do psicólogo é importante, pois o mesmo precisa planejar a intervenção considerando, além dos fatores psíquicos, os fatores sociais em que o paciente está inserido e que pode ser potenciador do adoecimento (SIMONETTI, 2016). Não é trabalhado a cura completa, visto que paciente internado, pode ter um longo histórico de internação e/ou de experiências de crises, que podem deixar sequelas, impossibilitando o alcance do reajuste psíquico anterior. Desta forma, novos reajustes são/podem ser feitos, com o intuito ter uma melhor qualidade de vida diante da limitação psicológica.

Fonte: encurtador.com.br/wyKS5

É importante que o psicólogo se mantenha calmo, para que possa passar tranquilidade e segurança ao paciente, visto que o acolhimento não é um ambiente de agitação. Isto por que um paciente em crise geralmente é agitado, e o psicólogo precisa saber o momento certo de fazer a contenção de ansiedade (SIMONETTI, 2016). O paciente em crise, geralmente, é inundado por um real simbólico, e a intensidade dos sintomas pode ser ´´assustadora“ para o profissional que está iniciando, o que aumenta a importância de uma preparação antes de se iniciar em tal campo.

Inicialmente, se faz necessário que o psicólogo faça um breve exame do estado mental, investigando informações do paciente para ter ideia do grau de adoecimento psíquico. O exame do estado mental é a pesquisa sistemática de sinais e sintomas de alterações do funcionamento mental, realizado durante a entrevista psicológica e psiquiátrica. É analisado: Consciência, Atenção, Orientação, Memória, Afetividade, Pensamento, Juízo Crítico, Linguagem, Cognição, entre outros. Comorbidades também são comuns, logo o psicólogo precisa analisar com cautela a queixa do paciente, e saber diferenciar sintomas do transtorno mental, do medicamento, de algum outro transtorno (não diagnosticado) e/ou de alguma doença orgânica.

Pode acontecer de alguns pacientes em crise não conseguirem se localizar no tempo e no espaço, assim como não ter juízo crítico da doença, e/ou retardo mental, etc. Tal cenário fomenta a importância do atendimento a família, a fim de obter informações que auxiliem no tratamento do paciente. Muitas vezes o acolhimento da família também se faz necessário como forma de promover escuta terapêutica e/ou de educar a família quanto aos sintomas e tratamento da doença. Pois pode ser o primeiro surto e/ou internação, e o parente não se enxergar capaz de passar pelo enfrentamento da situação, não entender a doença e/ou o tratamento, se culpar, negar e ter medo. Pode acontecer, também, de o parente já estar esgotado fisicamente e mentalmente, visto que cuidar de um doente mental não é uma tarefa fácil, e exige muita paciência e gasto de energia.

Fonte: encurtador.com.br/fmtH0

Por fim, o psicólogo precisa delimitar o foco, que é ajudar o paciente e/ou familiar a passar pelo processo de adoecimento, enquanto houver internação. Desta forma os atendimentos são breves, objetivos e informativos. A duração de internação do paciente cabe a necessidade de cada paciente, podendo durar dias ou semanas. É responsabilidade, também, do psicólogo de frisar a importância da continuação do tratamento após a alta, informando que existe uma rede de apoio, fora do ambiente hospitalar, que o doente e família pode recorrer.

Referências

AMARANTE, P. (1995). Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz.

BRASIL. Ministério da Saúde. Dicas em saúde: acolhimento, 2015.

Brasil. (2005). Ministério da Saúde. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. Brasília, DF. http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/relatorio_15_anos_caracas.pdf.

CASTRO, E. K. & BORNHOLDT, E. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v. 24, n. 3, p. 48-57, 2004. Acesso em: 22 mar. 2017.

COLITO, Eliana, A. Assistência à pacientes portadores de transtornos mentais em unidades de emergência e urgência: capacitação dos profissionais de saúde. 2016. 20 f. Monografia (Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Atenção Psicossocial) – Curso de Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

FOUCAULT, M. (1997). A história da loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva.

LUSTOSA, M. A. A difícil tarefa de falar sobre morte no hospital. Rev. Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 203-227, 2011.

MOSIMANN, Laila T.; LUSTOSA, Maria Alice. A Psicologia hospitalar e o hospital. Santa Casa da Misericórdia do RJ-CESANTA. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v.14, n.1, jun. 2011.

KUBO, O. M., & BOTOMÉ, S. P. (2001). Formação e atuação do psicólogo para o tratamento em saúde e em organizações de atendimento à saúde. InterAÇÂO, 5, 93-122. Recuperado em 26 ago., 2009, de http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewFile/3319/2663.

SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. PERES, Girlane Mayara e LOPES, Ana Maria Pereira. Acompanhamento de pacientes internados e processos de humanização em hospitais gerais. Psicol. Hosp. (São Paulo), v.10, n. 1, p. 17-41, 2012.

SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. 8. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2016.

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Garota Interrompida: transtornos da personalidade antissocial e borderline

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As particularidades e manifestações de ambos os transtornos vivenciados pelas duas jovens emergem no convívio dentro do manicômio, gerando atritos em relacionamentos e dificuldades interpessoais.

O filme “Girl, Interrupted”, “Garota, Interrompida”, em português, dirigido por James Mangold e lançado em 1999, narra a trajetória de Susanna Kaysen, uma jovem de 18 anos em conflito existencial e posteriormente diagnosticada com transtorno de personalidade limitante (atualmente, mais conhecido como transtorno limítrofe ou borderline). Após tentar suicídio, durante uma conversa com seu psiquiatra, Susanna assina seu protocolo de internação e passa meses sob cuidados profissionais em uma instituição manicomial.

No local, conhece várias outras mulheres que também tiveram o curso de suas vidas interrompido por um transtorno, entre elas Lisa, uma jovem diagnosticada como sociopata. Oscilando entre momentos de extrema angústia e satisfação, Susanna constrói vínculos no lugar e vive as dificuldades de seu transtorno, além de se envolver em diversas situações conflituosas durante seu tempo de internação.

Focado na percepção da jovem em relação ao mundo, o filme aborda as peculiaridades de uma personalidade afetada por um transtorno, as dificuldades e especificidades das relações interpessoais do sujeito diagnosticado e também traz reflexões sobre os tratamentos manicomiais e psiquiátricos, conforme o contexto histórico da trama, que se passa nos anos 60, perpassando o conceito de loucura vigente na época e ainda hoje reforçado.

Susanna, interpretada pela atriz Winona Ryder, tem 18 anos e mora com seus pais. Contando apenas com o seu diário para externalizar seus pensamentos e emoções, a jovem, no auge de seus conflitos internos, desconhecendo as motivações de suas tristezas e inquietações, tenta suicídio ingerindo diversas pílulas. O incidente a leva a consultar um psiquiatra, que propõe a ela que tire um tempo de sua vida para descansar afastada do convívio social dentro de uma casa de repouso, ou seja, em uma instituição psiquiátrica. Alencar, Rolim e Leite (2013), numa revisão histórica sobre o conceito de loucura, falam sobre as primeiras práticas asilares pensadas para tratar o que viria a ser chamado de transtorno ou disfunção mental, logo durante o surgimento da psiquiatria (alienismo) no século XVIII.

Fonte: encurtador.com.br/rtBGT

É exposto pelas autoras que, com o advento dessa área, o conceito de loucura/doença mental sofreu várias alterações. Entre elas, trazendo uma contribuição positiva, pode-se ressaltar o distanciamento entre a instância psíquica e questões espirituais, algo defendido pela sociedade como um todo. Explicações metafísicas sobre a doença mental foram sendo substituídas por estudos científicos, e o fenômeno passou a ser visto como uma condição médica passível de cura. Entretanto, de acordo com Júnior e Medeiros (2007), muitos teóricos de saúde mental alegam que as contribuições da psiquiatria para o entendimento dos transtornos mentais são reducionistas e biologicistas, colaborando para, muitas vezes, intensificar no indivíduo o que é chamado pela sociedade de loucura.

Os autores afirmam que esse conceito, analisado pelas lentes dos estudos em psicologia e saúde mental, é mais abrangente e engloba uma série de condicionantes sociais e culturais, indo além de explicações meramente orgânicas. A estigmatização social imposta ao indivíduo considerado louco, para essas abordagens teóricas, constitui a própria condição mantenedora do transtorno, que é carregado de rótulos e estigmas legitimados pela prática da psiquiatria (JÚNIOR e MEDEIROS, 2007). Apesar das concepções acerca do conceito de loucura e doença mental terem sofrido alterações durante os séculos e as discussões e práticas direcionadas a cura de pacientes psiquiátricos terem ganhado força, o modelo de internação, ao longo da história, assumiu como principal finalidade retirar do convívio social o indivíduo considerado louco, não chegando, muitas vezes, a adotar uma perspectiva terapêutica propriamente dita. Essa dinâmica foi sendo modificada com o tempo, mas a segregação social promovida pelos manicômios e asilos continuou constituindo um pré-requisito para o tratamento da loucura, conforme exposto na trama.

O psiquiatra de Susanna adota esse modelo de tratamento, trazendo atrelado a ele uma série de problemas que serão observados ao longo da trama, no que se refere ao modo como o transtorno mental é concebido dentro da instituição e como as práticas terapêuticas são conduzidas e aplicadas. Como uma dessas problemáticas, pode-se citar o fato da própria jovem desconhecer seu diagnóstico, somente entrando em contato com ele na metade do filme, quando ela e as outras garotas invadem a sala do psiquiatra e leem as pastas referentes ao caso de cada uma. Susanna passa meses de sua internação sendo submetida aos tratamentos de rotina sem de fato entender os motivos de estar tomando os remédios e estar frequentando as sessões, assim como o resto das pacientes.

As práticas dentro do manicômio da trama tornam-se, assim, mecânicas e vazias de sentido, privilegiando um modelo de assistência pautado na hegemonia e superioridade do profissional de saúde, que detém todo o conhecimento sobre a condição dos pacientes e segura em suas mãos o destino dessas pessoas. As garotas do filme, dessa forma, mostram-se totalmente alienadas quanto às suas condições de saúde, e possuem pouco ou nenhum controle do processo terapêutico que estão vivenciando. O engajamento nas atividades propostas pelos profissionais do local é incentivado e até mesmo exigido, entretanto, mesmo quando esse engajamento existe, as pacientes contribuem com o processo tendo em mente uma possibilidade de sair do local e serem curadas de uma condição que nem mesmo as próprias entendem ou conhecem.

Fonte: encurtador.com.br/iuyLX

Apesar dos inúmeros aspectos negativos inerentes às próprias práticas manicomiais presentes no filme, é preciso levar em consideração o contexto histórico em que se passa a trama. As discussões a respeito de saúde mental, nos anos 60, ainda eram frágeis e muito pautadas no discurso biologicista, e as contribuições da psiquiatria ajudavam, como já discutido anteriormente, a legitimar práticas desumanas. É possível também, olhando por outra perspectiva, observar vários pontos positivos no que tange ao manejo e cuidado das pacientes durante o filme.

Como uma prática que foge aos modelos de internação em que as pessoas são isoladas da sociedade, durante o filme, pode-se citar uma atividade promovida pela enfermeira Valerie, em que as pacientes saem do encarceramento e vivem uma espécie de dia de lazer fora das dependências do manicômio. Apesar de em alguns pontos perderem a sensibilidade com as mulheres, a maioria dos funcionários do local são colaborativos e desenvolvem afetividade pelas pacientes, como é o caso de Valerie, que, em várias cenas do filme, demonstra um enorme carinho tanto por Susanna quanto pelas outras garotas, até mesmo pelas consideradas mais problemáticas, como Lisa.

A partir dessas considerações, pensando também no contexto histórico e social do que é considerado loucura e como essa condição tem sido tratada ao longo dos séculos, podem ser tecidas algumas discussões a respeito dos transtornos de Susanna e Lisa.

Reflexões sobre saúde mental

Susanna e Lisa, vivida por Angelina Jolie, são as personagens principais do filme, ambas diagnosticadas com transtornos de personalidade distintos. Numa das primeiras aparições de Lisa no filme, ela é apresentada como sociopata, uma das categorizações dentro do chamado transtorno de personalidade antissocial. Já Susanna, alheia às motivações de seus sentimentos e comportamentos, só descobre seu diagnóstico quando acessa a sua pasta no consultório psiquiátrico.

Fonte: encurtador.com.br/adrtA

As particularidades e manifestações de ambos os transtornos vivenciados pelas duas jovens emergem no convívio dentro do manicômio, gerando atritos em relacionamentos e dificuldades interpessoais. Retomando as discussões anteriores, é possível afirmar, principalmente no caso de Susanna, que tanto a maneira como seus pais, a sociedade e os profissionais do manicômio encaram o seu transtorno é rotuladora, visto que seus conflitos poderiam ser abordados de outra maneira que não através da internação psiquiátrica.

O estigma de “louca” recai sobre a personagem como um peso, agravando, pode-se inferir, sua condição. Para entender o funcionamento das duas personagens no mundo e o modo como ambas interagem com este, com as pessoas e consigo mesmas, faz-se necessário tecer algumas reflexões a respeito dos dois transtornos e seus respectivos contextos históricos.

Atualmente, tanto o transtorno de personalidade borderline como o antissocial estão presentes no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), encaixados na categoria dos transtornos de personalidade. Entretanto, as concepções e nomenclaturas a respeito dos transtornos psicológicos nem sempre foram bem definidas como na última década. O diagnóstico de borderline, por exemplo, foi estruturado apenas em 1980, na publicação do DSM-III (DALGALARRONDO & VILELA, 1999). A utilização do termo borderline pela primeira vez se deu em uma publicação de um autor chamado Stern, em 1938.

O transtorno era tido como uma espécie de esquizofrenia latente, onde haveria uma flutuação entre o estado de psicose e neurose. A categorização desse conjunto de sintomas como borderline se deu, definitivamente, pelos estudos de Robert Knight, em 1953, o que permitiu o surgimento das primeiras classificações desse transtorno nas edições do DSM e sua consequente desvinculação com a esquizofrenia, sendo tratado como um transtorno de personalidade (DALGALARRONDO & VILELA, 1999). A edição mais recente do DSM cita como uma das características próprias do transtorno de personalidade borderline a instabilidade nas relações, na autoimagem e uma impulsividade acentuada.

Fonte: encurtador.com.br/koqAL

Essas características são observadas no comportamento de Susanna ao longo do filme, principalmente durante suas explosões de raiva ou angústia movidas por impulsos. Como um exemplo da sua instabilidade nas relações, é possível citar seus padrões de relacionamentos amorosos, que são de curto prazo e desprovidos de apego emocional significativo. A impulsividade da jovem se manifesta em seus comportamentos autodestrutivos, como a tentativa de suicídio, que, inclusive, configura como um critério para o diagnóstico do transtorno, conforme o DSM-V. Também há prevalência de instabilidade no humor, o que é observado durante as explosões de raiva, tristeza e euforia da personagem.

Apesar de todas essas características, que certamente reúnem dados o bastante para ser firmado um diagnóstico, o próprio DSM-V alega que há um contexto cultural influente sobre indivíduos diagnosticados com borderline (principalmente adolescentes e adultos jovens), onde existe a presença de atitudes e vivências inerentes a questões existenciais experienciadas por esses indivíduos que são percebidas como possíveis sintomas de um transtorno, e assim patologizadas e tratadas. Como discutido anteriormente, no contexto histórico da trama, os conflitos e questões de ordem psicológica, ainda mais do que atualmente, eram diagnosticados e trabalhados a partir de um viés estigmatizador, reforçando a perspectiva manicomial, farmacológica e psiquiátrica, sem considerar a subjetividade do sujeito no processo.

Abrangendo esses fatores, pode-se então levantar a hipótese de que Susanna foi inserida nessa dinâmica, sendo rotulada e tratada como uma paciente psiquiátrica, ainda que não se encaixasse nessa classificação. Carneiro (2004) aponta para alguns problemas referentes a práticas que promovem o isolamento de pessoas com uma possível sintomatologia e diagnóstico de borderline, visto que o encarceramento de pessoas nessa condição pode reforçar crenças e pensamentos autodestrutivos além de problemas com a autoimagem, aproximando-as do “limite da loucura”. A autora classifica o transtorno como um estado transitório entre a loucura e a razão, sendo assim, tais práticas levariam o paciente a apresentar com mais frequências os sintomas (CARNEIRO, 2004). Isso é observado durante os primeiros momentos de Susanna na instituição, mas, com seus próprios esforços e com o apoio de colegas e funcionários, a jovem consegue reverter o contexto de seu transtorno e sair do isolamento manicomial, no final do filme.

Por outro lado, como antagonista da trama, há Lisa, uma jovem diagnosticada como sociopata. Susanna, antes mesmo de conhecê-la, descobre sobre sua enorme influência dentro da instituição, entrando em contato com o fato de que até mesmo uma ex-paciente do local havia cometido suicídio devido a ausência de Lisa (que, como fez anteriormente e continuou fazendo ao longo do filme, havia fugido da instituição). Conforme Hodara, a sociopatia é um dos vários desvios de personalidade incluídos dentro da classificação de Transtorno de Personalidade Antissocial. Como uma das características desse transtorno, pode-se citar o desprezo pelo sentimento dos outros (redução ou ausência de empatia) e por regras e normas da sociedade. (HODARA). O DSM-V aponta ainda, como um critério próprio do transtorno, a recorrência de episódios em que a agressividade é manifestada fisicamente e/ou verbalmente.

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Lisa, durante todo o filme, demonstra o seu descaso para com todas as pessoas de seu convívio, sejam elas suas colegas da instituição ou os funcionários. Em uma das cenas mais fortes do filme, a personagem chega a servir de gatilho para que uma jovem, ex-paciente da instituição, cometa suicídio em sua própria casa, após desmoralizá-la verbalmente. O acontecimento se deu quando a personagem fugiu do manicômio e se hospedou na casa da jovem, levando com ela Susanna.

Sua reação ao suicídio da garota foi de total indiferença, enquanto Susanna se desestabilizava e chorava diante da cena. Em várias outras ocasiões, a personagem agiu com extrema crueldade e frieza ao tratar-se com os outros. Não só agressiva no sentido verbal, Lisa também mostrou ser capaz de usar da agressividade física, como quando os funcionários a trouxeram de volta para a instituição após uma de suas fugas. Os autores Pereira e Biasus ressaltam que, apesar dos aspectos de sociopatia e psicopatia estarem sob o prisma dos Transtornos de Personalidade Antissocial, nem todos os indivíduos diagnosticados com Transtorno de Personalidade Antissocial são necessariamente psicopatas ou sociopatas.

O que determina essa diferenciação, ainda de acordo com os autores, é a capacidade de controlar ou não os impulsos para a agressividade e hostilidade. Diagnosticada como sociopata, Lisa apresenta, como já discutido, uma grande tendência a manifestar em seus comportamentos traços das características citadas, sendo, de fato, relacionada às condutas referentes à psicopatia e sociopatia. Entretanto, uma das características mais marcantes da personagem, e também algo bastante manifestado em seu comportamento, citada também como uma das características próprias de indivíduos diagnosticados com TPAS, é sua capacidade de manipulação. Visando os próprios interesses, Lisa com frequência influencia as colegas de convívio a fazerem o que ela deseja. Até mesmo Susanna acaba sendo vítima dessa manipulação quando decide fugir da instituição junto da personagem. Em outra situação, quase no final do filme, Susanna recebe alta.

A informação chega a Lisa, que, buscando um meio de manter a colega no local provocando nela uma crise, expõe o diário da jovem às outras mulheres do local, cheio de desabafos e ofensas direcionadas às pacientes. Várias das mulheres, guiadas por Lisa, se juntam para intimidar Susanna. A personagem chega a se sentir mal e fica perto de ter uma crise, mas consegue devolver para Lisa todo o ódio destilado por ela. Assim, pela primeira vez, a antagonista sente na pele o peso das ofensas e humilhações, entrando em crise ao invés de Susanna. A cena revela um lado sensível da personagem, mantido em segredo atrás de muros de hostilidade construídos com o intuito de protegê-la do mundo (ou de si mesma). Nessa situação específica, Lisa utiliza seu poder de manipulação para um propósito bem mais abrangente do que apenas humilhar a colega. A intenção da personagem, pode-se afirmar, era manter Susanna na instituição, visto que a jovem havia construído com ela um vínculo, ainda que abusivo e mantido por relações de poder.

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Conclusão

Garota, Interrompida” passa longe de ser um filme em que os transtornos mentais são estereotipados e banalizados. Apesar de nem todos os distúrbios apresentados pelas várias personagens serem trabalhados a fundo, há no filme um grande foco nas relações interpessoais desenvolvidas por indivíduos diagnosticados com um transtorno, principalmente os que se enquadram na categoria de desvio de personalidade.

Algo observado na trama, bastante pertinente para futuras discussões a respeito das psicopatologias, é a subjetividade dos sujeitos implicada em seus respectivos adoecimentos. Um exemplo disso se expressa por Lisa, que, apesar de ser diagnosticada com um transtorno cujas características são a falta de empatia e sensibilidade, consegue construir um vínculo interpessoal, ainda que frágil e sabotado, além de demonstrar momentos de vulnerabilidade emocional.

Susanna, apesar de sua condição existencial limitante, consegue reverter muitos de seus impasses e se direciona à autorrealização. A mensagem final, e talvez a mais importante, consiste em olhar para o indivíduo não como um depósito de sintomas e rótulos psicopatológicos, mas como um sujeito além de estereótipos, dotado de uma subjetividade capaz de proporcionar mudanças. Para que esse entendimento de ser humano seja alcançado, ainda é necessário um longo e árduo trabalho de conscientização, lutando contra os conceitos generalizantes de loucura e normalidade e as perspectivas manicomiais de internação. É um caminho a ser trilhado e um desafio a ser abraçado pelos profissionais de saúde mental e pela sociedade como um todo.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

GAROTA INTERROMPIDA

Título original: Girl, Interrupted
Direção: James Mangold
Elenco: Winona Ryder, Elisabeth Moss, Angelina Jolie
País: EUA, Alemanha
Ano: 2000
Gênero: Drama,Biografia

Referências

ALENCAR, A.V. ROLIM, S.A.; LEITE, P.N.B. A história da loucura. Revista de Psicologia, novembro de 2013, vol.1, n.21, p. 15-24. ISSN 1981-1189.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (2013).
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition. Arlinton, VA: American Psychiatric Association.
CARNEIRO, Lígia.
Borderlineno limite entre a loucura e a razão. Ciências & Cognição, 2004; Vol 03: 66-68.
DALGALARRONDO, Paulo; VILELA, Wolgrand.
Transtorno borderline: história e atualidade. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., II, 2, 52-71, 1999.
HODARA, Ricardo.
Sociopatia.
JÚNIOR, Francisco; MEDEIROS, Marcelo.
Alguns conceitos de loucura entre a psiquiatria e a saúde mental: diálogos entre os opostos? Psicologia USP, 2007, 18(1), 57-82.
PEREIRA, Lucas; BIASUS, Felipe.
Transtorno de personalidade antissocial: um estudo do estado da arte.

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