O Grupo é orientado pela Prof. Dra Ana Beatriz Dupré Silva
As acadêmicas do curso de Psicologia do Ceup/Ulbra Adrielly Martins, Karlla Garcia e Nayara Ferreira, com o apoio da professora doutora Ana Beatriz Dupre Silva, realizam uma intervenção em conjunto com o colégio O Sagrado Coração de Jesus, em Porto Nacional. O intensivo de Orientação Profissional, proporciona o condensamento de 8 encontros em dois dias. Logo, divididas em dois momentos, as atividades ocorreram entre sexta feira (26/10) e sábado (27/10). Os encontros contou com a participação de 17 adolescente e no total, teve duração de 13h.
As ações realizadas tiveram o intuito de propiciar aos adolescentes, vivências grupais que levam ao autoconhecimento, possibilitando identificar as variáveis que envolvem a escolha da futura profissão e conhecimento sobre as áreas de atuação e práticas profissionais especificas.
Fonte: Arquivo Pessoal
Para a acadêmica Karlla Garcia, uma das coordenadoras do grupo em questão, “a experiência de conduzir um grupo de orientação profissional, representa um momento de grande aprendizado e primordialmente, crescimento individual para cada participante envolvido, é nítido no final do encontro a gratidão dos adolescentes”.
OGrupo de Orientação Profissionalé um projeto de extensão vinculado ao curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, coordenado pela professora Doutora Ana Beatriz Dupre Silva, e atualmente, conta com a participação de 16 acadêmicos. As ações têm como principal foco, adolescentes que estão finalizando o Ensino Médio.
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‘Ser psicólogo é desenvolver a empatia’: (En)Cena entrevista Ulisses Franklin
Ulisses Franklin Carvalho da Cunha é psicoterapeuta clínico. Mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente (UFT – 2018). Graduado em Licenciatura Plena em Geografia (UFT, 2011). Bacharel em Psicologia pelo CEULP/ULBRA (2017). Pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Rio Sono e em Gestão Pública e Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins – UFT. Atualmente exerce cargo efetivo de Técnico de Nível Superior junto à Universidade Estadual do Tocantins – UNITINS, atuando como psicólogo Educacional no Núcleo de Apoio Psicossocial e Educacional (NAPE).
Fonte: Arquivo pessoal
(En)Cena – Vi que antes de cursar psicologia você já era graduado em Geografia. O que te fez querer adentrar nesse universo tão vasto da psicologia?
Ulisses Franklin – Na realidade fazer Psicologia já era um sonho antigo, todavia, o curso era e ainda é de difícil acesso: nas Universidades públicas costuma ser em regime integral e nas particulares costuma ter um alto custo, então, não era acessível a mim de início; depois que me formei em Geografia e as formas de acesso à Psicologia se ampliaram foi que tive a oportunidade de entrar no curso.
(En)Cena – Como foi a experiência de concluir a faculdade? Você se deparou com uma realidade diferente do que imaginava? Como as enfrentou?
Ulisses Franklin – Como eu já tinha outra formação e conhecia como funcionava o mercado de trabalho não tive dificuldades em enfrentar os obstáculos de recém-formado. Quando concluí o curso já era servidor efetivo de uma universidade na área administrativa, então, quando concluí o curso de Psicologia pedi uma oportunidade para trabalhar como psicólogo e desta forma contribuir com a universidade e permitir que eu ficasse na minha área de formação recente.
(En)Cena – Para além do CRP, o que te torna psicólogo?
Ulisses Franklin – Essa pergunta é bastante pertinente. Acredito que ser psicólogo é desenvolver a capacidade de enxergar o outro com as lentes da empatia, do não julgamento, da solidariedade e da humanidade; características estas que devem pautar o nosso fazer em qualquer uma das áreas de atuação.
(En)Cena – Dentro do ramo da psicologia, quais suas áreas de atuação profissional?
Ulisses Franklin – Atualmente estou atuando como psicólogo educacional em uma universidade pública, trabalhando com processo de escuta clínica institucional à comunidade acadêmica (alunos, professores e servidores), bem como elaboração e implantação de projetos e ações de prevenção e cuidado em saúde mental. Também estou atuando como Psicoterapeuta Clínico na iniciativa privada em consultório particular. Também estou me dedicando a um Mestrado Acadêmico, visto que estar na condição de estudante é outra área de atuação que deve sempre fazer parte da nossa rotina enquanto profissionais da Psicologia.
(En)Cena – Na sua atuação clínica, qual é o seu maior público? E qual a maior demanda?
Ulisses Franklin – Na clínica meu maior público são mulheres adultas jovens (entre 18 e 30 anos, em média) que me procuram com demandas relativas a relacionamentos afetivos conturbados, seja com as figuras paternas ou com seus companheiros.
(En)Cena – Você tem alguma filosofia de trabalho? Se sim, poderia nos falar mais sobre ela?
Ulisses Franklin – Eu diria que minha filosofia de trabalho é dar o melhor de mim sempre, procurar melhorar minhas habilidades de escuta, meus conhecimentos teóricos e práticos acerca do fazer psicológico.
(En)Cena – Dentre todos os estigmas e preconceitos sociais que o trabalho do psicólogo clínico passa, qual é o principal conselho que você dá para as pessoas que precisam buscar ajuda, mas se sentem resistentes ao processo?
Ulisses Franklin – Infelizmente o senso comum e a maioria das pessoas ainda nos veem como profissionais que tratam da loucura e que só devem ser procurados quando o adoecimento psicológico já se encontra instalado e operando num nível patológico, onde a vida do sujeito se encontra comprometida pelo adoecimento; todavia, sempre que tenho a oportunidade de desconstruir essa visão limitada eu a faço: Buscar ajuda não é sinal de fraqueza ou incapacidade, pelo contrário, buscar ajuda é sinal de força e coragem! Problemas e sofrimento faz parte da vida de todos nós, a Psicologia é a ciência e profissão que busca encontrar métodos e estratégias para amenizar a dor, para ressignificar situações dolorosas, para fazer brotar dentro de cada um seu potencial de superação e de resiliência.
(En)Cena – Como profissional você sente que os pacientes/clientes chegam com um conceito diferente da profissão?
Ulisses Franklin – Às vezes eles depositam em nós todas as suas esperanças e acreditam que vamos dar respostas prontas e pontuais para os problemas que os trazem até nós, e às vezes se decepcionam quando descobrem que não é bem assim! O que fazemos é ajuda-los a descobrir essas respostas, o trabalho de psicoterapia é totalmente conjunto e colaborativo!
(En)Cena – Como Palmas ainda é nova, a importância do papel do psicólogo está começando a ser compreendida no momento atual. Quais as dificuldades você encontra diante de tal desafio?
Ulisses Franklin – Penso que os principais obstáculos que ainda temos a enfrentar está relacionado à ampliação do fazer da Psicologia para além do modelo clínico e curativo e também na ampliação dos campos de atuação do psicólogo, por exemplo, nas escolas da educação básica, onde ainda há alguns entraves à nossa atuação;
(En)Cena – Quais são os principais fundamentos teóricos que embasam sua maneira de atuar? Costuma-se usar técnicas estrangeiras? Qual a sua visão relacionada à construção de técnicas científicas nacionais?
Ulisses Franklin – Tive contato com os diversos teóricos e fundamentos epistemológicos que embasam a Psicologia ao longo da graduação; Posso dizer que conheço um pouco de cada uma das principais abordagens e dos principais autores desta Ciência; Embora esteja atuando na clínica dentro do referencial cognitivista, não me encerro somente nesta perspectiva, abrindo mão às vezes de técnicas e autores de outras perspectivas também, claro que sempre dentro da ética da profissão, do cuidado com o outro, enfim, antes de ser terapeuta de abordagem X ou Y, somos psicólogos e isso por si só já nos traz uma grande responsabilidade e seriedade. Com relação a técnicas estrangerias, como estou me aprofundando na TCC – Terapia Cognitiva Comportamental, que é de origem norte americana, acabo tendo contato com estudos e pesquisas vindo de lá, mas é claro que é preciso ter bom senso para fazer as devidas considerações observando que somos de contexto bem diferente. Considero que seja de vital importância o aprofundamento de pesquisas e estudos de base nacional para a consolidação da Psicologia aqui no Brasil.
(En)Cena – Quais as suas expectativas em relação ao futuro da profissão de psicologia?
Ulisses Franklin – As melhores possíveis, com certeza! Sonho com o dia em que nossa profissão será amplamente reconhecida e legitimada em todos os lugares e campos de atuação.
(En)Cena – Você tem atuação clínica, desenvolve projetos ou faz intervenções em grupos em prol de uma minoria, como comunidade LGBT, mulheres negras? Você tem um posicionamento militante quanto a isso? Faz parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?
Ulisses Franklin – Atualmente devido à sobrecarga de trabalhos e atividades que desempenho não tenho estado envolvido com as demandas dos segmentos minoritários, como os que você cita na pergunta, mas é claro que sempre que tenho a oportunidade me coloco à disposição destes para falar em prol deles, em prol desta luta por direitos e reconhecimento, que é super válida, necessária e que deve ser uma luta de todos nós. Meu posicionamento acerca destas temáticas é sempre a do respeito às individualidades e do reconhecimento da diversidade humana.
(En)Cena – Para você, qual a importância do engajamento político da classe, principalmente dxs psicólogxs com atuação clínica?
Ulisses Franklin – Penso que todo ato de reconhecimento ou de luta por direitos é um ato político, em si. Não diria que somente os profissionais com atuação clínica devessem engajar-se em questões políticas, pelo contrário, pensar na construção e implantação de políticas públicas e de direitos da pessoa humana é dever de todos da categoria, independente da área de atuação.
(En)Cena – Qual a sua opinião sobre o sindicato dos psicólogos que foi recém-criado, em relação a importância desse órgão para a classe?
Ulisses Franklin – Penso que é uma iniciativa válida e necessária, todavia, considero que é importante ainda consolidar primeiramente a atuação do nosso Conselho Regional, tornando-nos mais participativos e presentes junto ao nosso órgão representante.
(En)Cena – Para finalizar, você poderia deixar um conselho para os futuros profissionais que pretendem atuar na área clínica?
Ulisses Franklin – A área clínica, embora ainda seja nosso carro-chefe, é a área onde mais se demora para consolidar na carreira e no mercado de trabalho, devido aos estigmas, às dificuldades iniciais e aos custos, todavia, acredito que essas dificuldades podem ser enfrentadas e vencidas, se tiveres um trabalho pautado na ética, no compromisso com a profissão, na seriedade e no respeito à figura humana. Ademais, sugiro estudar sempre, ampliar seus horizontes de atuação, seus conhecimentos e sua visão de homem e de mundo, para assim possuir maiores recursos e argumentos para se legitimar no mercado e ser reconhecido pelo que faz em prol da categoria e da profissão. Obrigado pela oportunidade!
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Psicologia do Ceulp participa da Semana da Responsabilidade Social
O evento aconteceu no Colégio da Polícia Militar do Tocantins
Na manhã desta quinta-feira (20/09), o curso de Psicologia esteve presente, em parceria com o curso de Direito do Ceulp/Ulbra, em uma ação que faz parte da Semana da Responsabilidade Social.
A ação realizada pelos cursos teve a participação das acadêmicas e estagiárias do Portal (En)Cena. “Quem é Você na Rede?” foi a intervenção que teve como proposta trabalhar com os impactos cibernéticos na vida de pessoas que sofrem violências nas redes por meio de discursos de ódio.
Acadêmicos do Colégio Militar durante a ação. Foto: Irenides Teixeira
Os temas de racismo, homofobia, xenofobia e machismo foram explicitados por meio de comentários que foram proferidos em redes sociais e casos que geraram grandes repercussões nos últimos tempos.
Além das reflexões e compartilhamento de vivências, houve também a contribuição do curso de direito para tratar da parte jurídica, conscientizando os alunos sobre as leis que resguardam os direitos humanos, ressaltando ainda que a internet “não é um mundo sem leis”, muito pelo contrário, atualmente há delegacias especializadas para crimes cibernéticos.
Acadêmicos do Colégio Militar durante a ação. Foto: Irenides Teixeira
A intervenção aconteceu das 9h às 12h, cerca de 300 alunos participaram. Para a aluna do Colégio Militar Aryalha Ruviere a Semana da Responsabilidade Social significa várias coisas, uma delas é que “podemos ter consciência dos temas que cada profissão trabalha e como fazem isso”.
O evento contou ainda com a participação de outros cursos de Administração Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina, Ciência da Computação, Ciências Contábeis, Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética, Educação Física, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia de Minas, Engenharia de Software, Farmácia, Fisioterapia, Medicina Veterinária, Odontologia e Sistemas de Informação.
Acadêmicos do Colégio Militar durante a ação. Foto: Irenides Teixeira
O Dia da Responsabilidade Social faz parte da Campanha Nacional da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), que tem o propósito de estabelecer uma ponte entre o setor acadêmico e a sociedade, trazendo benefícios para a comunidade e proporcionando um momento de conscientização por meio das atividades desenvolvidas pela instituição.
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Uma perspectiva Organizacional: onde cabe o psicólogo?
Ao visitar uma grande loja de variedades com o intuito de fazer uma compra rápida, pude reparar na disposição do ambiente e em como os funcionários se distribuíam nas funções.
O horário em que estive presente na loja era relativamente um horário de pico e uma grande parte dos clientes (pelo o que pude perceber) se dirigia a loja com o mesmo intuito que o meu, fazer compras rápidas, para não atrasar os demais compromissos do dia.
A loja é de grande porte e vende uma grande variedade de produtos, como de higiene pessoal, roupas, livros, papelaria, guloseimas, alimentos e entre outros. Esses produtos estão bem expostos e de fácil acesso, o que facilita o cliente na hora da compra.
Porém, o que se pode perceber, não é a dificuldade na variedade de opções ou em achar o produto nas prateleiras, mas sim, na organização do quadro de funcionários que, em primeiro lugar pode-se considerar pouco e principalmente, mal destruídos em suas funções.
Fonte: https://goo.gl/6JQeui
Em um horário significativo do dia, onde se espera um grande fluxo de clientes (horário de almoço), os funcionários estavam na entrada da loja conversando e organizando mercadorias (o que dificultava o acesso dos clientes, principalmente dos que estavam acompanhados e/ou com pressa).
Logo, pode-se perceber uma quantidade muito maior de funcionários designados a essa função do que o necessário e era notável outros colaboradores dispersos, espalhados pelo o ambiente.
Ao entrar na loja o cliente logo ouvia o som – muito auto por sinal- de músicas infantis, extremamente agitadas e repetitivas (o ambiente tinha uma proporção muito maior de adultos e quase não se avistava crianças), e foi possível ouvir de outros clientes reclamações da altura e do tipo de música tocada.
Essa reclamação foi compartilhada essencialmente na fila do caixa, que devido o lento processo de pagamento da mercadoria escolhida, causava um grande acumulo de clientes irritados.
Fonte: https://goo.gl/qwWrbe
Havia na loja cerca de 10 caixas, mas somente um estava sendo operado pelo atendente de caixa. Isso causava mais constrangimento, pois uma única fila era compartilhada pelos clientes que possuíam vários produtos e por clientes que possuíam somente um.
Eu por exemplo, esperei na fila por 15 minutos para pagar um pos-it de $10 reais. Em outras situações, com certeza, eu não haveria esperado e me retiraria do local (barulhento, sem funcionários dispostos a ajudar e uma fila enorme para pagamento) sem efetuar minha compra, o que pelas minhas observações, percebi muita gente fazendo. Percebi ainda, clientes com o produto na mão se direcionando até o caixa, mas ao avistar o tamanho da fila, desistia de consumir.
Concomitantemente a tudo o que foi supramencionado, podemos convidar a Psicologia Organizacional para traçar possíveis meios de mudanças e melhoria dessa organização. Vieira (2013) traz a perspectiva de um Psicólogo Organizacional capaz de atuar de forma crítica e interdisciplinar, buscando intervenções com embasamento científico e metodologicamente consistente pois, através disso, haverá conquistas de espaços para se desenvolver ações que agregará cada vez mais a organização em questão.
Prontamente, o psicólogo terá que fazer uma observação minuciosa na organização, buscando se atentar a cada detalhe em todos os âmbitos, investigando de forma minuciosa a realidade da organização, para só depois, se pensar possíveis intervenções que visam melhoria para o bem da empresa como um todo, incluído, seus clientes.
Fonte: https://goo.gl/z5eiW7
Ainda de acordo, cabe também ao psicólogo buscar contribuições para a relação empregado-empregador, de forma a mediar os conflitos inerentes ás relações de trabalho, promovendo a negociação de interesses de forma mais humanizada e intervenções apropriadas ao contexto (ZANELI apud VIEIRA, 2003, p. 313).
Portanto, visualizamos que, o psicólogo organizacional, possivelmente, terá seu trabalho voltado para melhorar as relações profissionais, aliando os interesses dos empregados aos dos empregadores e vice-versa, pois dessa maneira, a organização mudara sua postura frente aos relacionamentos interpessoais dentro da empresa, algo que refletira automaticamente na conduta dos colaboradores para com os clientes.
Outra possível melhoria visível a essa empresa proporcionada pelo psicólogo organizacional seria o investimento no processo de recrutamento, seleção e treinamento, dessa maneira, iria-se buscar contratar pessoas mais qualificadas e treina-las, mas caberia também, o reconhecimento de potenciais já existentes dentro da empresa e treina-los para um novo cargo (Zanelli, 2009). Além da empresa ganhar com o fato de fidelizar a equipe, os colaboradores se sentirão valorizados e percebidos dentro do seu ambiente de trabalho o que lhe impulsara para um trabalho mais prazeroso e fidedigno a empresa.
Toda essa multiplicidade de tarefas, nos mostra o quanto o fazer da psicologia organizacional é amplo, mas nos mostra principalmente, o quanto a psicologia e o ramo das organizações ganham por andar juntos.
REFERÊNCIAS:
VIEIRA, Fernando de O.; MENDES, Ana M.; MERLO, Alvaro R. Crespo. Dicionário crítico de gestão e psicodinâmica do trabalho. Curitiba: Juruá, p. 313, 2013.
ZANELLI, José Carlos. O psicólogo nas organizações de trabalho. Artmed Editora, 2009.
Quando pensei em falar de Cássia, imediatamente me recordei da música da banda Francisco, hel Hombre, “triste, louca ou má”. A música libertária, expressa em melodias todo o significado de ser mulher na sociedade, ressaltando as opressões, repressões e os desafios desse papel.
Contrapondo tudo isso, Juliana Strassacapa, cantora integrante da banda, canta ao som da melodia sua alforria a todas essas imposições sociais. Logo, lembrar-se de cássia é inevitável. Uma música contemporânea dedicada a um ícone de desconstrução e (re)construção.
“Prefiro queimar o mapa Traçar de novo a estrada Ver cores nas cinzas E a vida reinventar”
Seria uma protagonista do confronto a “receita” social? NEGOU, várias vezes, imposições e prescrições. Cássia Rejane Eller queimou o mapa. Queimou tudo aquilo que lhe deram como pronto e refez caminhos, com muitas dores – acredito -, e viu cores onde jamais imaginara.
Fonte: encurtador.com.br/cdqPR
Como podemos descrevê-la? Limitá-la em palavras? Seria uma moça TRISTE? A menina tímida, reprimida, antissocial, filha de um militar, nascida no Rio de Janeiro em 1962, mas que mudava de cidade constantemente e, somente em 1981 quando retornou a Brasília, se apresentou artisticamente para a música.
Seria então LOUCA? Chocou a sociedade se mostrando confortável ao afrontar padrões, permitindo expressar a “Cássia” que ela quisesse e principalmente, a que não tinha nenhum medo de dizer através da música, seus ideais.
Mulher, homossexual com uma configuração diferente de relacionamento. Cássia foi casada durante 14 anos com Maria Eugenia Vieira e as duas não faziam questão de esconder a configuração conjugal diferente do formato tradicional. Antes de morrer a cantora deixou em vida, o desejo de que seu filho Francisco Eller ficasse com sua esposa. No Brasil, Cássia e Eugênia abriram caminho para a guarda homoafetiva.
Fonte: encurtador.com.br/kJLX2
Na visão sexista, um “macho”. Cabelo curto, roupas folgadas, voz rouca, comportamentos agressivos, pegava no “saco” em público e afirmava em alto e bom som, sua vontade de ter um pinto. Muito louca, como que aquela “mulher macho”, ela, que não hesitava em mostrar seus peitos durante os shows, apareceu grávida, usando vestido? Contraditória.
MÁ? Há possibilidades de ela também ter sido considerada uma mulher má, já que não se encaixava em nenhum estereótipo social. Cássia teve seu nome sugerido por sua avó, devota de Santa Rita de Cássia. Irônico, não? Pelas más línguas, Cássia era conhecida como triste, louca e/ou má.
Cássia dizia que:
Cantando eu sei mais de mim, você pode pensar que me conhece um bocado se um dia já conversou comigo, se leu alguma coisa que eu escrevi, se já foi para a cama comigo. Mas pode crer, você se espantará quando me ouvir cantar.
ROCK IN RIO – RIO DE JANEIRO 13/01/2001. Fonte: https://goo.gl/UL5WNP
Cássia em seus shows era conhecida por sua intensidade, suas interpretações cheias de sentimentos. Sua postura era carregada de significado e militância, a cantora chegou a gravar oito discos.
Álbum – Cássia Eller (1994). Fonte: encurtador.com.br/ekloM
“Cássia Eller” foi seu terceiro álbum, lançado em 1994, após o nascimento do seu filho Francisco Eller. O disco foi marcado por todas as características supracitadas, houve algumas regravações, mas também, lançamentos inéditos das músicas “Malandragem” e “ETC”. Malandragem acabou consagrando a voz da cantora e se tornou a número 1 na lista das músicas mais ouvidas no Brasil.
Álbum – Com você meu mundo ficaria completo (1999). Fonte:https://goo.gl/67dmGz
“Com você… meu mundo ficaria completo” lançado em 1999, foi o disco que se destacou pelo curso musical mais calmo que Cássia estava tomando. Após receber críticas de seu filho Chicão, Cássia procurou um estilo mais complacente para interpretar suas músicas. Para lhe auxiliar nesse desafio, se inspirou e procurou a ajuda do cantor, compositor e produtor musical Nando Reis. Desta vez, se mostrava mais contida em suas expressões corporais, mas jamais deixaria de expressar todas as emoções através de sua voz e dos acordes musicais peculiares.
Esse disco marcou a transição da cantora do rock “pesadão” para a MPB, mas Cássia não deixou de encantar seu público, ela provou mais uma vez que “Cássia Eller” era o símbolo das interpretações musicais e dava vida para tudo aquilo que reproduzia.
Álbum – Cássia Eller Acústico MTV 2001. Fonte: https://goo.gl/AgzJSD
Seu último disco em vida, “Acústico MTV” foi lançado em 2001; também foi produzido por Nando Reis com participação de Luiz Brasil. Foi o disco que alcançou seu maior público, com mais de um milhão de cópias vendidas e pela terceira vez, a música Malandragem ficou entre as mais ouvidas no Brasil.
Mas quem era Cássia longe de toda essa construção social? Quem era Cássia longe de todo o preconceito disfarçado? Cássia era tímida, contida, reservada. Quem sabe, ela realmente ainda não era uma garotinha.
Cássia afirmava que “não nasceu para compor, nasceu para interpretar” e durante toda a sua carreira musical, esse traço sempre foi muito nítido. Digamos que a cantora passava por um processo de sublimação, e usava a música como um mecanismo de defesa, transformando os impulsos indesejados em algo menos prejudicial, em algo socialmente aceito.
“Música para mim foi uma fuga da minha incapacidade de viver socialmente com as pessoas, de se partilhar e compartilhar assim de uma conversa. Foi uma fuga, fuga da minha timidez” Cássia Eller
Fonte: https://goo.gl/A3mAJS
A música sem dúvidas, foi a libertação de Cássia, foi onde ela depositou toda a sua capacidade de se recriar dentro das suas limitações. Cássia Eller foi aceita pela música, como arte e como um meio de cultura. A música lhe abriu caminhos e lhe introduziu na sociedade repressora e preconceituosa, onde só depois do seu grande sucesso como artista, as pessoas foram dando espaço para a subjetividade da cantora.
Hoje, eu percebo a grande influência que Cássia Eller teve/tem no mundo LGBT, nos caminhos que a cantora abriu para pessoas pertencentes a essa classe. Mulher, lésbica, mãe, filha, cantora, doida, triste, louca, má… Para os infinitos adjetivos que lhe dão, eu só consigo imaginar Cássia na sua essência, naquilo que ela queria ser, longe de qualquer estigma.
Fonte: https://goo.gl/KrZR3B
Eu gostaria de poder ouvi-la interpretar essa música “triste, louca ou má”, porque na minha insignificante leitura de sua vida, consigo imaginá-la em cada estrofe.
“Eu não me vejo na palavra Fêmea: Alvo de caça Conformada vítima
Prefiro queimar o mapa Traçar de novo a estrada Ver cores nas cinzas E a vida reinventar
E um homem não me define Minha casa não me define Minha carne não me define Eu sou meu próprio lar”
Por fim, espero que ao ouvirem a música, consigam identificar Cássia do início da sua jornada até o dia de sua morte. Porque o que ela fez até o último momento, foi lutar contra o título de “mulher” que lhe deram ao nascer.
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Psicologia Organizacional: Ângela Rebouças atua na área há 32 anos
A psicóloga Ângela Rebouças compartilha de suas práticas profissionais e experiências no ramo a qual trabalha há 32 anos. Ela possui graduação em Psicologia pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília, atualmente é diretora executiva da Rebouças Consultoria Empresarial Ltda, tem experiência na área de Psicologia Organizacional, com ênfase em Recrutamento e Seleção, realiza palestras, treinamentos e consultoria estratégica. A entrevista foi realizada pelas acadêmicas do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, em colaboração com o (En)Cena.
(En)Cena –Conte-nos sobre sua formação acadêmica:
Ângela Rebouças – Me formei em Psicologia Clínica, em 1986, sendo assim, tenho 32 anos de atuação na área da Psicologia Organizacional. Na minha graduação tínhamos poucas matérias que focavam está área.
(En)Cena –Desde quando atua na área organizacional?
Ângela Rebouças – Desde a graduação, ou seja, já trabalhava em uma empresa e a mesma já me convidou para atuar na área.
(En)Cena – Já teve oportunidade de atuar em outras áreas da psicologia?
Ângela Rebouças – Oportunidade sim, mas sempre fiz a opção pela organizacional.
(En)Cena – O que te levou a optar por esta área da psicologia?
(En)Cena – Ângela Rebouças – O principal motivo foi o sustento da família.
Dentre as suas funções, o recrutamento e seleção é o mais lembrado pelos profissionais? Quais instrumentos utiliza para realizar este trabalho?
(En)Cena – Ângela Rebouças – Recrutamento e seleção é a maior demanda, ou seja, é o que mais aparece ou pelo menos é noticiada. Os principais instrumentos que utilizei na época em que trabalhava com estes métodos foi entrevista estruturada e testes psicológicos, dentre eles estavam o Paleógrafo, BPF, G-38. AC.
Quais outras funções desenvolve com a equipe?
(En)Cena – Ângela Rebouças – O Desenvolvimento de pessoas é o mais utilizado, no entanto na atualidade efetua o trabalho mais com os gestores ou lideranças. Acreditamos que o gestor pode interferir de forma positiva na equipe.
(En)Cena – Quais principais barreiras você encontra no seu dia a dia profissional?
Ângela Rebouças – Um dos principais entraves é a visão dos gestores, pois acham que investir na capacitação é gasto e não investimento, e às vezes perdem profissionais excelentes por não reconhecerem que há uma necessidade de investir nestes profissionais.
(En)Cena – Quantas horas semanais você se dedica a uma empresa? Possui outros empregos?
Ângela Rebouças – Na atualidade trabalho com projetos (consultoria), então dedico-me quanto tempo for necessário para a boa execução do mesmo. Não tenho outro trabalho.
(En)Cena – O que seu trabalho exige que você não aprendeu na universidade?
Ângela Rebouças – Dentre inúmeros fatores, posso elencar um que considero primordial, que é “lidar” com pessoas, ou seja, o que fazer para que as pessoas possam engajar-se no que se propuseram a fazer. Outro ponto que a faculdade não ensina é como gerir seu próprio negócio e os desafios que o mesmo oferece.
(En)Cena – O que você aconselharia aos acadêmicos que pretendem seguir essa área de atuação profissional?
Ângela Rebouças – Afirmo que quando você termina o curso, aí que você começa a aprender, devido durante a graduação você ter várias disciplinas e “aprender de tudo” e não focar em nada. Então aconselho que se deve focar em algo, ou seja, faça uma escolha em relação ao que você queira e se dedique a sua escolha. Outra sugestão é que se escolha um mentor para caminharem juntos, pois assim, o processo tende a ficar mais leve.
(En)Cena – Você considera que houve mudanças na psicologia organizacional desde a sua graduação até a atualidade?
Ângela Rebouças – Sim, na atualidade a presença do psicólogo é bem mais valorizada que anteriormente, no início da minha inserção no mercado de trabalho a atuação do psicólogo na organização era muito confundida com o trabalho de RH. Na minha opinião a área que mais evoluiu dentro da Psicologia Organizacional em especial na cidade de Palmas, foi em treinamento e desenvolvimento de pessoas, ou seja, na atualidade as empresas já estão mais dispostas a pagar por estes serviços. Outro ponto relevante é que as mesmas já estão solicitando a avaliação de desempenho com o propósito de acompanhar esses profissionais. Tudo depende do profissional e como ele se porta no mercado de trabalho.
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Desafios da Psicologia Organizacional: (En)Cena entrevista Karla Klein
Karla Barbosa Klein é doutoranda em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Tocantins; Mestra em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Tocantins; Graduada em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (2008) e Especialista em Gestão de Pessoas pela Faculdade Católica do Tocantins. A entrevista foi realizada pelas acadêmicas do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, em colaboração com o (En)Cena.
Fonte: https://goo.gl/Q6yLfQ
(En)Cena – Conte-nos um pouco sobre sua formação e sua atual área de trabalho, como chegou onde está hoje?
Karla Barbosa Klein – Me formei pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – Minas Gerais, e como meus pais já moravam aqui no Tocantins resolvi vir para cá onde acabei fazendo um mestrado na UFT, em Desenvolvimento Regional e atualmente, trabalho na UFT como psicóloga organizacional, também atuo na área clínica já prestei consultoria em diversas instituições. Atualmente não estou clinicando nem estou trabalhando na UFT, porque estou de licença para fazer meu doutorado. Assim quando cheguei no Tocantins fui contratada pelo GHP para trabalhar na área organizacional e em paralelo prestava consultoria para uma empresa de seleção e recrutamento de Palmas. Então trabalhei muito com recrutamento e seleção, com toda aquela parte de análise de pesquisa, testagem, viajava o estado todo fazendo isso. Como eu tinha uma base muito forte em saúde mental eu não conseguia atuar na área organizacional sem trazer essa bagagem, então comecei a levar isso para o HGP, na época fizemos intervenções em alguns setores, comecei a fazer algum tipo de pesquisa, por exemplo, na época fizemos um tipo de pesquisa sobre saúde mental no trabalho, quais as causas dos afastamentos, quais profissionais se afastavam mais. E logo em seguida passei no concurso para o UFT.
(En)Cena – Há quanto tempo você é formada?
Karla Barbosa Klein – 10 anos
(En)Cena – Trabalhar com Psicologia Organizacional foi uma opção? Durante sua graduação você já demonstrava interesse pela área em particular?
Karla Barbosa Klein – Não. Foi acontecendo, quando entrei na faculdade tinha muita afinidade com a área social e clínica, a faculdade onde formei é uma faculdade muito tradicional em Minas Gerais, trabalha muito com a psicanálise muito com a saúde mental e desde o primeiro período eu sempre fiz estágios então passei por diversas áreas como centro de reabilitação, hospital psiquiátrico, CAPS por 2 anos, ONG’s, com egressos do sistema prisional, então fui passando por diversas áreas, criminal, organizacional e social. Então eu tinha certeza que quando saísse da faculdade iria trabalhar na área social. E não foi isso que aconteceu, me formei e foi o que apareceu e no final eu me identifiquei e hoje sou apaixonada e não trocaria por nada.
(En)Cena – Poderia nos falar um pouco sobre as características do trabalho de um psicólogo organizacional, como é o dia a dia na relação com a empresa e com os candidatos.
Karla Barbosa Klein – Vai depender de local para local, na UFT como é uma instituição pública nós não interferimos no processo de recrutamento e seleção, até porque é feita por meio de concurso público. Sendo assim passamos a atuar no dimensionamento de pessoal, para que o concurso ocorra é feito um levantamento em cada setor e área para saber quais os cargos estão com déficit de funcionários, para quais atividade, porque essas pessoas são importantes e avaliar a real necessidade para realizar um concurso para provimento de vagas. Sempre priorizar o que precisa o que vai mais vai funcionar, pois nunca terá vaga para todo mundo. A rotina de trabalho é avaliar por exemplo: qual setor pode colocar tecnologia, o que pode ser contratado terceirizados, o que vai precisar de um profissional mais qualificado. É esse o dimensionamento que fazemos. Faz dimensionamento de carreiras, avaliação de desempenho.
(En)Cena – Segue alguma abordagem teórica?
Karla Barbosa Klein – Na verdade, a área organizacional não é uma área que muito demanda por abordagem, claro que terá influência de grandes teóricos como Christophe Dejours da França um psicanalista, e eu não abro mão desse tipo de leitura, de ter essa troca porque eu acho que é muito rico e é necessário, mas é muito mais voltada para intervenções de grupos, de clima organizacional. No geral eu vejo que a área organizacional é bastante neutra nesse aspecto, usa-se a abordagem comportamental, por exemplo, no meu consultório eu usava a linha comportamental.
(En)Cena – Há quanto tempo você trabalha nesta organização?
Karla Barbosa Klein – 8 anos
(En)Cena – Quais são as principais dificuldades que um psicólogo organizacional hoje encontra na sua atuação?
Karla Barbosa Klein – Primeira coisa a nossa área é extremamente desvalorizada do ponto de vista de investimento econômico de dinheiro mesmo, às vezes tem-se até bons salários, mas você não tem nenhum centavo para fazer serviço nenhum, você precisa de teste e a empresa não quer comprar. Sem ferramentas é muito difícil de atuar, tem que ter uma sala adequada, espaço adequado, ferramentas necessárias. Eu vejo que as instituições cada vez mais estão reconhecendo o papel do profissional isso é fato, estão demandando a presença dos mesmos nas instituições, mas ainda é muito difícil conseguir recursos para trabalhar. Falta investimento por parte dos gestores tanto na empresa pública como na privada.
(En)Cena – Qual é o recado que você deixa para os acadêmicos interessados em trabalhar com Psicologia Organizacional?
Karla Barbosa Klein – Eu vejo que é uma área que vem crescendo cada vez mais, é uma área muito valorizada, as empresas têm muitas demandas há uma procura grande por profissionais qualificados. Quem tem interesse e quer desenvolver na área tem sim grandes demandas e oportunidades. É uma área que precisa muito de mais pesquisas científicas, então é interessante está estudando e desenvolvendo pesquisa e fazendo coisas novas nessa área, porque é uma área que realmente é a MELHOR ÁREA.
Na década de 80, enquanto Sigmund Freud (1856-1939) cursava a faculdade de medicina e tendo a oportunidade de entrar em contato com Joseph Breuer (1842-1925) à respeito do caso de Anna O., considerado um dos eventos decisivos da história da psicanálise, acreditou ter detectado um apego de Anna em relação ao terapeuta Breuer que anteriormente era relacionada ao seu próprio pai. Mais tarde, Freud usou o termo de transferência para referir-se a esse apego ao terapeuta, o que, no processo analítico, é de fundamental importância.
A contratransferência foi um conceito que surgiu após as observações de transferência com resistência, aquelas em que o indivíduo evitava falar sobre determinados assuntos que evocavam o cerce de seus problemas levados à análise. Freud poucas vezes chegou a falar claramente neste conceito, mas os momentos que abordou deixaram claro a ambiguidade de sua opinião em relação à contratransferência.
Fonte: https://bit.ly/2wgDRDH
A contratransferência é, ao contrário da transferência, os sentimentos do terapeuta em relação ao paciente. Assim, ela pode ser manifestada por resistência inconsciente do analista advinda de seus próprios complexos infantis ou por conta de uma resposta à transferência do paciente. Neste último caso, faz-se necessária o manejo da resistência, que encontra duas dificuldades: o uso da transferência pelo paciente como resistência (que poderia ser solucionada com uma conduta diferente por parte do analista) e o inconsciente do analista provocando reações de transferência no paciente.
Existem as abordagens clássica e contemporânea para avaliar a contratransferência. A abordagem clássica, é compreendida como obstáculo e resistência inconsciente do analista para as associações livres e o andamento da análise. Surgiu com base na primeira publicação do termo em textos científicos, “As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica” (ZAMBELLI et al, 2013).
Essa abordagem compromete o processo de associação livre do paciente e desviar todo investimento do tratamento para uma relação fantasiosa e sintomática com o analista. Pode surgir resistência no paciente ao recordar alguma situação aflitiva e fortemente recalcada, parte incógnita do psiquismo (ZAMBELLI et al, 2013). O contexto analítico pode provocar certos tipos de transferências de conteúdos transferencial do analista no paciente de modo inconsciente, provocando reações também inconscientes no paciente.
É essencial o analista analisar, primeiro a si próprio, tomar consciência dos próprios movimentos inconscientes e processos transferenciais, pois podem influenciar o psiquismo do paciente. A abordagem contemporânea é observada como aliada ao processo terapêutico, ou seja, a contratransferência é percebida na sua totalidade de emoções e sentimentos que surgem no analista, permitindo assim, uma compreensão maior do paciente.O inconsciente do analista torna-se, então, parte da relação analítica por afetar e ser afetado pela situação transferencial (ZAMBELLI et al, 2013).
Fonte: https://bit.ly/2N7dcAv
Neutralidade do terapeuta
Freud (1915), aponta o fenômeno da transferência como uma advertência contra qualquer inclinação contratransferencial. O analista deve, portanto, perceber que os sentimentos do paciente são produtos da situação analitica e não dos atributos do terapeuta em questão, desse modo, não são motivos de orgulho. Para tanto, a experiência de se deixar levar pelos sentimentos relacionados ao paciente seria perigosa, uma vez que o controle sobre si nem sempre é tão completo. Logo, a neutralidade para com o paciente, adquirida ao manter controlada a contratransferência, não deve ser abandonada.
Assim, Freud (apud ZAMBELLI et al, 2013) aponta a análise pessoal como essencial para o controle da contratransferência, pois é trabalho do analista promover seu autoconhecimento para ter ciência desses sentimentos contratransferenciais para lidar com eles de maneira adequada, mantendo a neutralidade.
Para Freud, “a técnica analítica exige do médico que ele negue à paciente que anseia por amor a satisfação que ela exige. O tratamento deve ser levado a cabo na abstinência.” (1915, p. 103). Em vista disso, a postura neutra e a abstinência na relação analítica são indispensáveis para o processo de investigação do inconsciente, favorecendo o processo de atenção (FREUD,1912 apud ZAMBELLI et al, 2013). A neutralidade seria, portanto, uma “máscara” de defesa contra a carga emocional advinda da transferência do paciente, permitindo que o analista utilize seu próprio inconsciente para reconstruir o inconsciente do paciente, com liberdade e atenção na escuta (ZAMBELLI et al, 2013).
Para concluir, cabe pontuar alguns aspectos que envolvem a contratransferência na prática clínica, sendo o primeiro o fato da terapia psicanalítica ter ampliado seu alcance de análise resultou em novas perspectivas quanto à origem, reconhecimento e manejo da contratransferência, podendo está ser manifesta por meio de percepções físicas, somatossensoriais e emocionais (ZIMERMAN, 2008).
Fonte: https://bit.ly/2N7ywpJ
Durante uma análise, nem tudo que o terapeuta venha a sentir é resultado de uma contratransferência do paciente, podendo ser até mesmo um processo de transferência do analista. Existem algumas situações que podem ocasionar a contratransferência, sendo elas: em relação à pessoa do paciente, ao conteúdo verbalizado ou sentido pelo paciente ou mesmo a reação negativa do paciente em relação ao analista. Cabe pontuar que a medida que o analista ganha experiência, esse consegue converter o processo de contratransferência em empatia (ZIMERMAN, 2008)..
A contratransferência pode ser de natureza concordante – que pode ser considerada como sendo benéfica, pois possibilita um contato psicológico com o self do paciente – ou de natureza “complementar” – em cujo caso ela costuma ser prejudicial, pelo fato de que pode acarretar que o analista se contra-identifique com os objetos superegóicos que habitam o psiquismo do paciente e, por conseguinte, reforçar aos mesmos, assim impedindo que ele se liberte de suas identificações patogênicas (ZIMERMAN, 2008p.152).
Por fim, a contratransferência pode gerar efeitos distintos no analista, podendo ela ser patológica ou mesmo o terapeuta se colocar na posição de culpabilizar o paciente pelos sentimentos gerados pelo processo de análise ( em um processo de transferência do analista) ocasionando prejuízos ao processo de análise construído até o momento. Ou então, o analista, ao reconhecer o processo de contratransferência, pode adotar uma postura continente e torná-la em um processo empático (ZIMERMAN, 2008).
Novas perspectivas da Contratransferência
Reconsiderando o conceito de contratransferência, podemos citar dois autores, Ferenczi e Heimann. Ferenczi (1992c) pontua que há uma mudança na postura do analista ao considerar a importância dos cuidados com o paciente, pois a benevolência é um dos aspectos da compreensão que o analista oferece ao paciente e, portanto, a forma mais adequada para usar a contratransferência (ZAMBELLI et al, 2013). Ao adotar essa postura, o analista pode compreender de maneira mais ampla os traumas de seu paciente, e isso pode resultar em evitar traumas da infância do mesmo.
Ferenczi ressalta que, a contratransferência não precisa ser enxergada apenas como algo negativo, que precisa-se mascarar ou dominada. Dessa forma, a abertura mental do analista aos seus próprios sentimentos torna-se elemento essencial para a escuta e compreensão empática do paciente (Jacobs, 2002).
Para Heimann (1995), a contratransferência deixa de ser um problema, uma dificuldade técnica do analista. A autora trouxe novos questionamentos e reflexões com o intuito de quebrar determinados tabus de imparcialidade do analista em relação ao paciente durante as sessões. Antes, entendia-se que, o analista não deveria possuir nenhum tipo de sentimentos em relação ao paciente.
Entende-se então a partir dessa autora que, a relação analílica deixa de ser predominantemente unilateral e torna-se bilateral. Portanto, a individualidade do analista, seus sentimentos e sua contratransferência são aspectos participantes dessa relação (ZAMBELLI et al, 2013).
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Desafios do CVV no TO: (En)Cena entrevista a psicóloga Ana Paula Santos
Após a programação do “3° Encontro sobre Saúde Mental: Centro de Valorização à Vida conversando sobre o Suicídio” no auditório do Instituto Federal do Tocantins Campus Palmas (IFTO), evento que teve como finalidade a inauguração do primeiro posto do Centro de Valorização à Vida – CVV no Tocantins, o (En)Cena teve a oportunidade de entrevistar a psicóloga Ana Paula Cavalcante dos Santos, uma das idealizadoras da implantação do CVV em Palmas. Ana Paula é psicóloga (bacharelado e licenciatura), mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio (2003) e doutora em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ (2010).
Fonte: arquivo pessoal
Abaixo, confira os principais temas abordados por Ana Paula:
(En)Cena – Na sua opinião, existe um fator sociocultural que fará a comunidade de Palmas se sentir mais à vontade com um CVV regional?
Ana Paula – Eu acho que sim. Eu acho que o CVV fará um trabalho bacana aqui, como tem feito no Brasil todo. Acho que o Tocantins só tem a ganhar.
(En)Cena – Haverá apoio psicológico para os voluntários do CVV durante os atendimentos?
Ana Paula – Eu ainda não sei informar. O PSV (Programa De Seleção De Voluntários) vai informar isso melhor, mas na época em que eu trabalhei no CVV do Rio de Janeiro, não tinha. A gente tinha encontros para reciclagem, mas não era um psicólogo trabalhando com o grupo.
(En)Cena – O posto do CVV vai ser localizado no IFTO. Você acredita que as comunidades acadêmicas, como em maioria jovens, terão o CVV como um fator de proteção contra o suicídio?
Ana Paula – Eu acho que sim, também.
Fonte: https://bit.ly/2MkUvwL
(En)Cena – Por você já ter sido voluntária do CVV, qual orientação você deixa para os futuros voluntários?
Ana Paula – Bem, é preciso persistência, além de estudo. A gente tem muito material pra ler nesse próprio curso de 5 encontros, o instrutor mandou pra gente. Além de tudo, eu acho que esse comportamento altruísta faz muito bem para quem é voluntário. Tem um lado sofrido um pouco, mas o que eu guardo de memória são os tantos suicídios que eu na relação com a pessoa, evitamos que acontecesse. Muitas vezes a pessoa ligava pra falar “olha, estou ligando pra me despedir” e no momento em que a gente conversava, como eu contei aqui, ela ria ou só de falar já aliviava aquele peso todo. Então isso é tão engrandecedor, sabe? Eu acho que o mundo só vai mudar, melhorar, ficar equilibrado e bom de viver no momento em que as pessoas se apoiarem, que elas se unirem.
Eu só consigo ver isso, estamos todos conectados, isso é uma idéia da física quântica que é atual. A gente só vai pra frente se ajudando, se apoiando, e o CVV é isso, é um trabalho gratuito e, que ninguém ganha nada. Como eu falei, a gente corre atrás pra conseguir patrocínio, leva porta na cara, desanima um pouco e fica triste mas segue em frente pois o objetivo é esse. Então o que o voluntário tem que ter em mente é a persistência, ele pode sair triste, mas segue em frente porque a vida é assim, é dinâmica.
(En)Cena – Há muitas pessoas que foram atingidas indiretamente pelo suicídio: amigos, familiares e pessoas próximas. Você acredita que pessoas atingidas pelo suicídio podem participar como voluntários como meio de ressignificação?
Ana Paula – Se elas têm esse perfil de querer trabalhar pelo outro, de gostar de ouvir o outro, não só elas como qualquer outra pessoa. Quando esses casos acontecem, todos nós ficamos impactados, imagina quem está muito próximo, deve ser muito difícil. Então, talvez elas sejam mais sensíveis a essa questão porque passaram por isso, e a ideia é: se aquela pessoa que cometeu suicídio, talvez, tivesse a oportunidade de ter falado e dividido aquilo, poderia não ter acontecido, a gente não pode afirmar. Então se ela tem esse perfil e essa vontade eu acho que ela e qualquer outra pessoa deve ser um voluntário.