O filme lançado em 2022, “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” conta a narrativa de uma mãe imigrante chinesa sobrecarregada (Michelle Yeoh) que se chama Evelyn, apesar da premissa dramática, o filme é do gênero da ficção científica e comédia. Junto com a situação de Evelyn, ela tem que lidar com conflitos familiares e com a lavanderia que comprou com o marido Waymond. Um dos principais conflitos é com sua filha, Joy, que é uma jovem lésbica que procura pela aprovação da mãe e do avô.
A premissa do filme gira em volta de um dia importante para Evelyn e Waymond que vão a receita federal conversar com uma auditora um tanto rígida, porém no elevador a caminho do escritório, Waymond muda completamente de comportamento e personalidade e a avisa que sua vida está em perigo e precisa entender como pode impedir um grande desastre. A partir daí Evelyn embarca em uma jornada confusa e incessável em que ela tem que viajar entre universos para parar a vilã Jobu Tupaki.
Durante a trama é revelado que Jobu é sua filha, Joy, de outro universo, um universo em que Evelyn era uma cientista e levou Joy para além de seus limites até que a mente dela tomou de conta de todos os universos e ela passou a vivenciar tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Se tornando uma antagonista em busca de alguém que a entendesse e esse alguém era Evelyn. Ela é considerada vilã por ter criado um tipo de buraco negro representado por um donut escuro que suga mais do que a luz, Jobu diz que colocou todos seus sentimentos e tudo que aconteceu a ela nesse donut.
Fonte: Divulgação Prime Vídeo
Por outro lado, o dia a dia de Evelyn é interrompido a todo momento por olhos móveis de plástico que Waymond coloca em todos os lugares, segundo ele esses olhos deixam o ambiente que normalmente é carregado e estressante, mais leve e divertido. Waymond encara a vida de uma forma positiva em que mesmo em tempos difícieis e especialmente neles as pessoas precisam ser gentis umas com as outras.
O pensamento niilista de Jobu entra em choque com o pensamento otimista de Waymond, que influencia Evelyn a “vencer” Jobu e recuperar sua filha. A simbologia do buraco negro e do pensamento de Waymond são apresentadas a partir de um círculo preto com o centro branco e um círculo branco com o centro preto, demonstrando que mesmo na falta de esperança e acreditando que nada importa, Jobu ainda tem uma saída e mesmo enfrentando a vida com amor e gentileza, ainda existem momentos ruins.
Fonte: Divulgação Prime Vídeo
Tais conceitos refletem a simbologia de Yin/Yang, que são traduzidos como o princípio feminino e o princípio masculino. Visto que é a ideia de que os dois princípios são opostos, mas se complementam, no Yin existo um pouco do Yang e no Yang existe um pouco do Yin, no sentindo original o Yin é enxergado como nebuloso e sombrio, já o Yang é algo que brilha e ilumina (Wihelm, 2006).
Ao ter aspectos de um em outro, Evelyn e Jobu/Joy encontram um equilíbrio entre si que não se excluem, mas se integram de uma forma que o filme interpreta como a recuperação do vínculo entre mãe e filha apesar da resistência das duas.
Fonte: Imagem por rawpixel.com no Freepik
A forma que vemos essa dualidade na psicologia analítica é através dos arquétipos feminino e o masculino, a anima e o animus. O arquétipo é visto como um potencial inato de imaginação e comportamento que pode ser encontrado nos seres humanos em qualquer lugar, são conteúdos inconscientes.
REFERÊNCIAS
PEREIRA, Aline. O Verdadeiro Multiverso da Loucura. Adoro Cinema, 2022. Disponível em <Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo: Críticas AdoroCinema> Acesso em: 26/08/2022
Wilhelm, R. (2006). I ching: o livro das mutações. São Paulo: Pensamento.
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Reflexões sobre o processo de individuação na perspectiva junguiana: relato de experiência
2 de julho de 2022 Alciléa Carvalho Silva Cruz
Relato
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O presente relato versa sobre a experiência vivenciada no encontro presencial do Grupo de Estudos em Psicologia Analítica do Tocantins – Quíron – do curso de Psicologia, do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), realizado no dia 07 de maio de 2022, das 10h30 às 12h30, na Livraria Leitura, na Cidade de Palmas/TO. O encontro se deu no formato de roda de conversa, mediado pelo professor Sonielson Luciano de Souza, e teve como temática de discussão a obra de Murray Stein “Jung e o Caminho da Individuação: uma introdução concisa.” (STEIN, 2020), com objetivo de discutir sobre as etapas do processo de individuação.
No primeiro momento, o professor trouxe os principais recortes junguianos sobre o conceito de individuação, apresentados na referida obra. A partir de sua explanação, entendemos por individuação o processo de autoconhecimento que nos permite o encontro com nossa realidade e singularidade, com os nossos próprios desejos, para que possamos nos tornar uma pessoa autêntica e viver em busca de nossa autorrealização.
De acordo com Jung, a individuação é um processo dinâmico e permanente, uma tendência inata, de nos tornarmos conscientes e desenvolvermos a nossa consciência ao longo de nossa vida. Para isso, precisamos reconhecer e dialogar com o nosso self, isto é, com o nosso próprio “si-mesmo” (STEIN, 2020). No entanto, compreendemos que não é possível reconhecer toda a potencialidade do self, mas podemos identificar e integrar partes dele.
Fonte: Imagem de JL G por Pixabay
O self é a dimensão mais profunda do ser humano, uma estrutura psíquica que possui uma identidade consciente específica e gerencia a nossa personalidade, sobretudo os seus processos inconscientes (STEIN, 2020). Portanto, reconhecer e integrar o self consiste em “tomar consciência do que nos é dado, quer proceda da biologia, da história pessoal ou coletiva, ou do incessantemente criativo inconsciente, e desenvolver o que recebemos da melhor maneira possível” (STEIN, 2020, p. 12).
No segundo momento, foi proposto a discussão sobre três questionamentos relativos ao processo de individuação do paciente/cliente, percebido pelos psicólogos e estagiários de Psicologia na prática clínica: “se o paciente/cliente reduz a sua função egóica ou percebe que há algo além (self), se ele(a) está disposto(a)a fazer esse encontro com o self” e se está disposto(a) a pagar o preço. Através dos relatos percebemos que muitos pacientes/clientes tendem a persistir na não compreensão de si mesmo e a racionalizar o seu processo de vida, devido à dificuldade e/ou o medo de confrontar a sua realidade, de fazer o ‘mergulho’ em si mesmo e de reconhecer a sua sombra.
O termo “sombra”, na psicologia junguiana, diz respeito aos conteúdos reprimidos no inconsciente. Esses conteúdos são diversos e se referem a todos os aspectos de nossa personalidade que recusamos a reconhecer, tanto características negativas e positivas, quanto pensamentos, sentimentos, emoções, desejos e situações vivenciadas como traumáticas. Todavia, eles se manifestam de alguma forma para nós, sobretudo por meio dos sonhos e de nossas projeções (STEIN, 2006).
Nesse sentido, os diálogos nos possibilitaram uma reflexão importante: o processo de individuação é do paciente/cliente e cabe ao psicólogo reduzir a sua expectativa em relação ao processo terapêutico. Portanto, ele deve acolher o indivíduo (fazer a função ‘continente’), favorecer a construção do vínculo e da transferência positiva (que leva certo tempo e pode ocorrer ou não), e desenvolver sensibilidade e intuição para identificar o melhor momento e a melhor forma de intervir, por meio da dialética e de outras estratégias terapêuticas, sugeridas pelo método analítico, conforme as necessidades e as predileções de cada paciente/cliente.
Fonte: Imagem por storyset no Freepik
No terceiro momento, as discussões foram focadas na persona, um termo que Jung se apropriou e o amplificou no contexto psicológico. Nesse sentido, significa “pessoa tal como se apresenta, não a pessoa como ela é”. Trata-se de um “constructo psicológico e social adotado que se relaciona com o desempenho de papéis na sociedade” (STEIN, 2006, p. 102).
Na clínica, é comum a hiperidentificação do paciente/cliente com as suas personas e, muitas vezes, isso ocorre de forma inconsciente. A esse processo Jung denominou de fixação ou possessão, ou seja, quando a pessoa está fixada em uma persona ou possuída por ela (STEIN, 2006). Logo, é uma das metas da individuação reconhecê-las e aprender a transitar entre elas de acordo com as exigências de cada situação, de forma consciente, sabendo que elas são parte de sua personalidade e não a sua totalidade. A esse processo Jung denominou função transcendente – capacidade de transcender as fixações e encontrar o meio termo. E isso só é possível quando existe um diálogo entre o consciente (ego) e o inconsciente (self).
Por meio dessas reflexões compreendemos que a individuação é um processo constante e dinâmico, que envolve todos os aspectos de nossa vida e nos permite lidar com os conflitos intrapsíquicos e interpessoais, de modo que possamos negociar os nossos próprios desejos com as exigências sociais e viver uma vida que faça, verdadeiramente, sentido para nós.
REFERÊNCIAS
STEIN, M. Jung e o caminho da individuação: uma introdução concisa. Tradução de E. L. Calloni. São Paulo: Cultrix, 2020.
STEIN, M. Jung e o mapa da alma: uma introdução. Tradução de A. Cabral. 5ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
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Sincronicidade: quando o universo te responde
21 de maio de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Insight
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Os seres humanos sempre foram apegados à ideia de uma entidade superior que tem o poder sobre todas as coisas. Para os cristãos, esta figura é representada por Deus, para os budistas, Buda ocupa este posto, assim como tantas outras religiões possuem os seus deuses, no caso do politeísmo.
Mas uma coisa que é comum entre todas as religiões é a crença de que for feito um pedido para a entidade suprema, ela irá responder, caso tenha fé para tal. No cristianismo, por exemplo, é possível encontrar diversas passagens que afirmam que uma pessoa que tenha fé verdadeira poderá alcançar tudo o que desejar (inclusive mover montanhas).
A partir do avanço científico, alguns eventos naturais antes atribuídos a divindades, foram sendo estudados e compreendidos, como o exemplo de Zeus e seus poderosos raios. A ciência comprovou através de diversos estudos que o universo é regrado por leis universais que regem, harmonicamente (ou catastroficamente, a depender do ponto de vista), tudo que existe.
Outro campo científico que ganhou destaque foi o psíquico, com estudiosos de todo o mundo que dedicaram suas vidas para criar um extremo arsenal de informações que possam vir a contribuir para o bom desenvolvimento da mente humana.
Um dos nomes mais conhecidos é Carl Gustav Jung, autor de diversos livros e fundador da psicologia analítica. Jung debruçou sobre quase todos os temas relevantes da vida social, e, dentre eles, dedicou-se ao que veio a chamar de Sincronicidade. Mas o que é a sincronicidade e por quê ela possui alguma relevância no cotidiano das pessoas? Porquê Jung dedicou uma obra literária inteira para discutir sobre esse tema.
A bem da verdade é que esse tema é bastante delicado para algumas pessoas que são mais céticas com os acontecimentos de ordem natural que não creem que existam “forças invisíveis” operando para a construção de determinados eventos.
A sincronicidade pode ser conceituada como a conexão não aparente entre eventos ligados pelo significado, ou seja, o acaso. Outras expressões que podem ser utilizadas para definir a sincronicidade são a coincidência significativa e simultaneidade.
Para se ter uma noção mais completa, faz-se necessário observar a dinâmica da Lei da Causalidade da natureza, todo evento teve um ato precursor que resultou no seu acontecimento. A causalidade é regida em diversos setores, inclusive na ciência jurídica para justificar uma acusação ou condenação é necessária o nexo de causalidade (os eventos precisam estar conectados) para que possam ser compreendidos e, dessa forma, analisados.
A sincronicidade lida com uma conexão não aparente de eventos, com a coincidência das questões, e, por isso, muitas vezes não é levada em consideração. Um exemplo corriqueiro que pode ser dito são os números, ao se deparar com o número 9 em determinada ocasião ele poderá ser revisto diversas vezes no decorrer do dia seja em revistas, mercados, livros, relógios, conversas, e, lá no seu inconsciente ficará gravado a conexão entre o primeiro número 9 e os demais.
Muitos estendem essas “não coincidências” em para um aspecto de significação de um desejo ou concretização de um pedido, por exemplo, uma pessoa fiel à Lei da Atração vive em buscas de sinais no seu cotidiano para afirmar se aquilo que está desejando será concretizado.
O exemplo mais recente que pode ser citado sobre isso é a da subcelebridade Paulinha, ex-participante do Reality Show Big Brother Brasil – BBB, que já obteve mais de 50 (cinquenta) vitórias em jogos de loteria, seja acertando todos os números ou recebendo prêmios menores.
Mas como funciona tal “comunicação” universal? Como citado, existem certas situações que ocorrem durante o cotidiano que apresentam uma série de repetições que, normalmente, são tidas como coincidências pela maior parte das pessoas. Para alguém, entretanto, que possui o conhecimento sobre sincronicidade, tal situação possui mais significado e pode trazer diversos benefícios para o indivíduo que saiba como lhe utilizar.
É claro que para muitos, mesmo tendo pessoas de grande intelecto abordando esse tema, tudo isso não passará de charlatanismo e oportunismo, mas uma coisa é impossível de ser negada, as coincidências estão e estarão presentes na vida de todos, mesmo que não se creia em tais acontecimentos.
REFERÊNCIAS
JUNG, Carl Gustav. Sincronicidade. 13ª Ed. Tradução PE. Dom Mateus Ramalho Rocha. Editora Vozes. Petrópolis. 2005.
HOPCKE, Robert H. Sincronicidade ou por que nada é por caso. Tradução de Lygia Itiberê da Cunha. Rio de Janeiro. Record. Nova Era. 1999.
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Sonhos: a interpretação causalista redutiva freudiana
Os primórdios da psicanálise têm seu gérmen a partir do momento em que Freud entra em contato com a escola de hipnotismo francesa (JUNG, 2013c). Ali, através da hipnose, ele experimenta diretamente a presença e influência do inconsciente na personalidade. Por razões de efetividade terapêutica, mais tarde, junto de Josef Breuer, eles abandonam a prática hipnótica, e passam a usar como prática terapêutica exclusivamente a associação livre. É consolidado assim o método psicanalítico.
Jean Martin Charcot fazendo uma demonstração da hipnose em uma mulher histérica. Fonte: encurtador.com.br/cgJR0
A via para o inconsciente agora se dava através de uma forma interpretativa do discurso, a partir da análise de sintomas e repetições, de forma que o paciente era, ao contrário do método hipnótico, agente participante do seu processo terapêutico. Faltava, porém, uma via direta de diálogo com o inconsciente, sem o filtro da consciência. É nesse contexto então, que se dá a grande descoberta de Freud: o sonho como a via régia para o inconsciente, publicando assim em 1900 a obra “A interpretação dos sonhos”. “[Este livro] contém, mesmo segundo meu julgamento atual, a mais valiosa descoberta que tive a felicidade de fazer. Um insight como esse só nos ocorre uma vez na vida” (FREUD, 2018, contracapa).
Primeira edição da obra “Die Traumdeutung” (1900), traduzido para “A interpretação do sonhos” Fonte: encurtador.com.br/iwEU0
A partir de 1907, Carl Gustav Jung dá início ao seu contato com Freud, que dura até 1913, período de parceria e coparticipação em descobertas psicanalíticas. É embasado na noção psicanalítica, que se inicia o conhecimento de Jung sobre o sonho. Mais tarde, ele a coloca como parte integrante de sua compreensão sobre a fenomenologia do sonho, a nomeando de perspectiva causalista (JUNG, 2013a).
Sigmund Freud (parte inferior esquerda) e Carl G. Jung (parte inferior direita) na mesma foto durante visita aos Estados Unidos em 1909. Fonte: encurtador.com.br/dUY36
Nessa teoria do sonho, ele é compreendido como produto de uma complicada conexão de fenômenos psíquicos, uma obra que tem seus motivos, advindos de cadeias prévias de associações, sempre referindo-se a algo anterior, um passado psíquico, e possui, portanto, um significado. Esse método baseia-se em um procedimento redutivo, exclusivamente causal, que decompõe o sonho nos componentes de reminiscências e nos processos instintivos que lhe constituem a base (JUNG, 2014). Ante a obscuridade e confusão que se apresenta o sonho como o lembramos, dá-se o nome de conteúdo manifesto. Ele seria a fachada pelo qual se esconde a verdadeira ideia do sonho, o conteúdo latente (FREUD, 2018).
O “sonho manifesto”, isto é, o sonho tal como nos lembramos dele, segundo Freud, é como a fachada de uma casa: à primeira vista nada revela de seu interior, que fica oculto por detrás da chamada censura do sonho. Permitindo-se que a pessoa fale sobre os detalhes de seu sonho – obedecidas determinadas regras técnicas – vemos que as ideias que lhe ocorrem seguem todas uma mesma direção, concentrando-se em torno de um assunto específico, de significado pessoal. Inicialmente, essas ideias assumem um sentido que se dissimulava por trás do enredo do sonho. […] Esse complexo específico de pensamentos em que se concentram todos os fios do sonho é o conflito procurado, que se apresenta numa variação condicionada pelas circunstâncias (JUNG, 2014, § 21).
A forma toda especial que adquirirá o conteúdo manifesto do sonho corresponde a disposição psíquica do indivíduo, ou seja, sua individualidade. Nosso estado de espírito no presente depende de nossa história, e, por isso, os elementos de valores, na diversidade de cada pessoa, são os determinantes da constelação psíquica. Acontecimentos que provocam fortes reações de sentimento são de grande importância para o desenvolvimento psíquico posterior. Essas recordações, dotadas de forte carga emocional, formam complexos de associações mais ou menos extensos, que Jung (2013c) dá o nome de “complexos ideoafetivos”.
São, portanto, as associações consteladas pelos complexos que dão forma para o conteúdo manifesto do sonho, e é através dele que se pode fazer o caminho contrário para compreender seu conteúdo latente. Nesse método interpretativo, se volta ao passado para reconstituir certas experiências anteriores, a partir da manifestação de determinados motivos oníricos. Esse percurso é de utilidade em contexto terapêutico por abrir a possibilidade da conscientização de conteúdos inconscientes, ou de revelar fatos que o paciente não queria contar.
Se alguém sonha, por exemplo, com uma mesa, estamos ainda bem longe de saber o que a palavra “mesa” do sonho significa, embora a palavra “mesa” em si pareça suficientemente precisa. Com efeito, há qualquer coisa que ignoramos, e é que esta “mesa” é precisamente aquela mesa à qual estava sentado o pai do sonhador, quando lhe recusou qualquer ajuda financeira posterior e o expulsou de casa como um sujeito imprestável. A superfície lustrosa desta mesa está ali, diante de seus olhos, como o símbolo de uma inutilidade catastrófica tanto no estado de vigília, como nos sonhos noturnos. Eis o que o sonhador entende por “mesa” (JUNG, 2013a, § 539).
Fonte: encurtador.com.br/cnrzW
Os elementos do conteúdo manifesto, em relação ao conteúdo latente, apresentam-se não só de forma difusa e distorcida, como também uma espécie de resumo de um conglomerado de conteúdos psíquicos inconscientes. Em um único sonho, a partir de uma reflexão sobre o mesmo, é possível obter uma infinidade de observações, percepções e associações subjacentes, de forma que todas façam sentido. Esses, revelam os pensamentos oníricos, que são processos correntes na dinâmica psíquica, uma espécie de pauta inconsciente levantada e eliciada pelos processos vivenciados em vigília. São produtos da constelação psíquica do dia a dia.
Segundo Freud (2018), essa multiplicidade se dá devido o trabalho de condensação realizado pela elaboração onírica, um processo em que se incute uma diversa cadeia de significantes em um único sonho. Portanto, da mesma forma que um sonho pode se ligar a mais de um fato, um objeto do sonho pode condensar e se referir a mais do que apenas um elemento. Um bom exemplo é quando no sonho, nos deparamos com uma pessoa que se parece com alguém que conhecemos, mas ao mesmo tempo nos lembra outra pessoa.
Fonte: encurtador.com.br/bxAG4
Outro processo comum e importante do sonho é o deslocamento. Aqui, o pensamento onírico é encoberto por uma espécie de disfarce. “[…] seu conteúdo é ordenado em torno de elementos centrais diferentes dos pensamentos oníricos […] ou seja, arrancado do contexto e, dessa maneira, transformado em algo estranho” (FREUD, 2018, p. 328).
Esse mecanismo do sonho contribui com o processo de censura do conteúdo latente, pois encobre seu significado. A citação usada acima é um ótimo exemplo. A mesa de pinho, como conteúdo manifesto, é um deslocamento do real conteúdo latente: a recusa de auxílio financeiro e expulsão de casa realizada pelo seu pai, que no momento se sentava à mesa de pinho.
Fonte: encurtador.com.br/nuGP8
Freud (2018) em sua teoria interpretativa, postula uma regra geral que se aplicaria ao sentido de todo sonho: ele representa a realização de um desejo reprimido. Todo o processo de censura realizado pelo contudo manifesto – que segundo ele, acontece no processo do acordar – seria justamente para mascarar aquilo que há de recalcado pela consciência. Mesmo os sonhos de angústia seriam distorções devido à defesa contra um desejo que, para a consciência, é insuportável assumir. Para o autor portanto, o sonho teria duas etapas: a realização da fantasia desejante e, após isso, sua censura, que só permite que uma ideia se manifeste quando está tão deformada que o sonhador não a consegue reconhecer, graças a isso, a informação se torna tolerável para consciência.
Tais fantasias se referem a desejos de caráter sexual (FREUD, 1997) que, por demais incompatíveis com a moral do ego, não podem tornar-se conscientes, devido a uma força contraria que se opõe a elas pela consciência: o recalque. A consciência mantém esses conteúdos inconscientes, e isso é sentido durante o processo de análise como resistência, manifestaçãoda força que provocou e mantém o recalque. Para a psicanálise, o recalcado é o protótipo do que é inconsciente (FREUD, 2011).
Fonte: encurtador.com.br/cnDNY
Sendo o inconsciente, para Freud, um conglomerado de conteúdos recalcados devido sua incompatibilidade para com a consciência. É compreensível que ele postule os sonhos como mera manifestação destes. Já Jung não o considera de forma tão redutiva:
De acordo com a ideia original de Freud, o inconsciente é uma espécie de recipiente, ou porão, para material reprimido, desejos infantis e coisas do gênero. Contudo o inconsciente é bem mais do que isso: ele é, simplesmente, a base, a condição preliminar da consciência. Representa a função inconsciente do psiquismo. É a vida psíquica antes, durante e depois da tomada de consciência. Como a criança recém-nascida, que chega ao mundo com o cérebro pronto e altamente desenvolvido, e cuja diferenciação foi formada pela experiência acumulada dos seus antepassados, no decorrer de séculos e séculos sem conta. Assim também a psique inconsciente é formada por instintos, funções e formas herdadas, já pertencentes à psique ancestral (JUNG, 2013b, § 61).
Fonte: Jung (2009)
Sendo suas considerações sobre o inconsciente diferentes das de Freud, também suas perspectivas sobre os sonhos se diferenciam das dele. Melhor dizendo: as concepções de Jung sobre o inconsciente e, logo, sobre os sonhos, consideram os conhecimentos freudianos como componentes da psicologia analítica, e uma etapa do processo de análise. Ou seja, a fenomenologia psíquica do sonho – bem como de todo o inconsciente – para a psicologia analítica, não se reduz à lógica causal, onde se dá um porque para um fenômeno, isso compõe uma parte de sua totalidade, ou melhor, um lado.
Dentre vários motivos, Jung busca outras perspectivas para o fenômeno psíquico pelo fato de a psicologia prestar contas àquele que sofre psicologicamente. Para este, nem sempre a conscientização de conteúdos inconscientes resolve seu problema. A partir desse ponto, os sonhos interpretados pelo método causal apenas continuariam a trazer as mesmas informações já sabidas. Não seria uma grande novidade, pois as causas anteriores se reduzem às bases do sujeito, que são sempre as mesmas.
É necessário compreender também o que o inconsciente e o sonho estão querendo dizer com tal situação, o que ele informa sobre o que pode ser feito. Com isso, entende-se o produto psíquico do ponto de vista de sua finalidade, e o sentido que tende o atual processo psíquico (JUNG, 2014). Não à toa, Carl Jung é um teórico da Individuação.
REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018. 736p. Tradução do alemão de Renato Zwick, revisão técnica e prefácio de Tânia Rivera, ensaio biobibliográfico de Paulo Endo e Edson Souza.
FREUD, Sigmund; SALOMÃO, Jayme. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição ‘Livros do Brasil’, 1997.
FREUD, Sigmund. Obras completes, volume 16: O eu e o id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925). São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Tradução de Paulo César de Souza.
JUNG, Carl G.. A natureza da psique. 10. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 416 p. (OC 8/2). Tradução de Mateus Ramalho Rocha.
JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (OC 16/1).
JUNG, Carl Gustav. Ab-reação, análise dos sonhos e transferência. 9. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2012. (OC 16/2). Tradução de Maria Luiza Appy; revisão técnica de Jette Bonaventure.
JUNG, Carl Gustav. Freud e a psicanálise. 7. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 366 p. (Obras Comp). Tradução de Lúcia Mathilde Orth; revisão técnica Jette Bonaventure.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. 24. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2014. 168 p. (OC 7/1). Tradução de Maria Luiza Appy.
JUNG, Carl Gustav. The Red Book: liber novus. New York, Ny. London: W. W. Norton & Company, 2009. (Philemon Series). Edited by Sonu Shamdasani; translated by Mark Kyburz, John Peck and Sonu Shamdasani.
A tríade do Homem-Aranha, de Sam Raimi, bem como a nova série “O Espetacular Homem-Aranha”, se refere ao processo de desenvolvimento de Peter Parker, e também da nossa diferenciação, enquanto heróis da nossa própria vida. O primeiro filme aborda a aflição que origina o herói: o remorso pela morte do tio Ben. O segundo filme se trata sobre a insegurança de Peter se ele deve continuar sua trajetória de herói ou não. O terceiro é a resolução dessa dúvida, pois Peter se identifica com sua função de herói, o que distingui sua sombra: Venon, que terá que confrontar para o bem de sua integridade anímica. A série atual já modifica a ferida do herói para o abandono dos pais, fato que irá refletir em todos os filmes, principalmente na inseguridade e no sentimento de solidão de Peter. Um estudo mais categórico dessa série só é provável ao seu término, para encaixar um filme ao outro e verificar para onde a aventura está caminhando.
Peter, coerentemente, é um pesquisador, mas tem que responsabilizar-se de seus sentimentos, processos opostos às ideias. Enquanto aranha, ele “flutua” de um oposto anímico para outro, a fim de alcançar a condição de equilíbrio, sem se caracterizar com um ou outro, uma vez que ambos fazem parte da vida e da mente. O azul caracteriza-se à tranquilidade, à pureza, à exatidão, ao frio, à imaterialidade e à espiritualidade. O vermelho é associado à vida, aos instintos, à vigilância, à inquietude. Perceber-se com um deles, sejam eles quais forem, é querer tornar-se um deus, resolver tudo de uma só maneira, como em uma “receita de bolo”, o que nos torna impiedosos para com aqueles que se identificam com o lado oposto. Isso é bem ilustrado no Homem-Aranha 3, na forma como é cruel com Mary Jane e seu amigo. Por isso a aranha, que possui oito patas, faz uma mandala no peito do herói, um símbolo de integridade, de dimensão dos opostos.
Fonte: encurtador.com.br/dhFI4
No primeiro filme, Peter assume o arquétipo de herói, simbolizada pelo uniforme, e tem a identificação com esse arquétipo. No segundo, sente necessidade de coibir a vida de herói, pois acabou deixando outras carências de lado, como a paixão por Mary Jane. Com isso perde seus poderes e fica novamente uma pessoa ignorante e difícil de lidar. Mas a solução para saber conciliar a vida de herói e com as necessidades humanas é a disciplina, e não a repressão. Esta é utilizada pelo sentimento de medo de usar de maneira compulsória seus poderes. Isso só ocorre quando de forma inconsciente de possuir as qualidades opostas, devido à repressão de um dos privilégios. Porém, o Aranha só vai perceber isso no 3º filme, quando descobre o tamanho que pode ser sua maldade.
Os vilões que o Aranha desafia configuram obstáculos em seu psiquismo que ele precisa dominar. Todos eles podem ser classificados em duas categorias: ou são cientistas, ou são objeto/produtos de estudo científico avançado. De alguma forma estão relacionados à atividade intelectual, e acabam por sucumbir ao poder. Os vilões dos dois primeiros filmes e de “O Espetacular Homem-Aranha” são admiradores da performance intelectual de Peter, como que denunciando o perigo de se fixar apenas em uma função ou qualidade psíquica. As quatro funções psíquicas (pensamento e sentimento, sensação e intuição) são formas de orientação da consciência para adaptação à vida. Elas formam pares em oposição, e não podem se desenvolver sem prejuízo da função oposta, pois uma interfere no funcionamento da outra. Por isso, quando o sentimento se desenvolve, a função intelectual não progride, e vice-versa.
As funções que não progridem. alcançam uma feição inferior, primitiva. Caem totalmente ou em parte no inconsciente e a partir daí operam através do indivíduo de forma involuntária, podendo ocasionar acidentes e todo tipo de erro. Isso está explicado de maneira mais extensa na monografia “A intuição e a sensação em dependentes de droga na perspectiva da psicologia analítica”, onde os opostos intuição e sensação são explicados com mais propriedade. Como Peter desenvolveu mais a função pensamento, e é do tipo psicológico intelectual, mas ao mesmo tempo sente necessidade de evoluir seu sentimento, pois percebe que não consegue lidar muito bem com pessoas caras em sua vida. Harry e Marko parecem ser do tipo sentimento, e são os únicos vilões que Peter perdoa.
Fonte: encurtador.com.br/vBHNV
Além do mais (Norman, Otto, Curt e Max) morrem no final, pois configuram diretamente o uso descomedido da inteligência que precisa cessar da vida de Peter. É como se estes representassem personificações de seu intelecto que precisava ser mais objetivo para que ele pudesse perceber seu intelecto melhor.
A expressão do desfecho, é oportuno fazer um link das aventuras do Homem-Aranha com a ordenação das fabulas dos heróis em geral. O herói quase sempre é vencido pelo monstro na batalha final, o que acontece com Peter quando é “devorado” pelo Simbionte, que encobre seu corpo com a indumentária negra. Isso acontece com Jonas, profeta da bíblia. É no interior da baleia que este começa a ajustar contas com ela, que nada na direção do nascer do sol (JUNG, 1991d, §160). No caso, o Aranha ajustou contas com a sombra coletiva na igreja, e depois ao explodi-la, quando o sol desponta. Somente assim Peter perdoa o Homem-Areia, uma menção há renascença.
O universo cinematográfico tem investido pesadamente em séries que narram histórias reais de personagens de índole, no mínimo, duvidosas. Cada vez mais as séries e filmes em que se têm os vilões como protagonistas caíram no gosto dos telespectadores.
Uma série de televisão que deixou sua marca na história, por glamourizar o estilo de vida criminoso foi Breaking Bad. Lançada em 2008, contando com 05 (cinco) temporadas, a série de Vince Gilligan narra momentos da vida de um brilhante professor de química de uma escola de Albuquerque, Novo México, que se envolve com tráfico de Metanfetamina.
Walter White (Bryan Cranston), pai de família, um brilhante químico, conhecido por seus princípios éticos profissionais, sempre trabalhou honestamente para conseguir seu sustento. No início da história, White possui uma dupla jornada de trabalho, como professor e funcionário de uma empresa de Lava Jato, para garantir a subsistências de seus familiares.
Acontece que White já não dispõe de boa saúde, descobre que possui câncer de pulmão e que teria somente 18 meses de vida. Essa descoberta o leva a ter diversas preocupações, principalmente em como ficaria a vida de seus familiares após sua partida.
Consciente de sua morte iminente, White busca encontrar meios de garantir renda para sua família e, certo dia, em uma confraternização de familiares, enxerga a oportunidade de levantar uma grande quantia em um curto espaço de tempo: traficando uma droga que possui um poder destrutivo e viciante gigantesco, a metanfetamina.
Apesar de ser um brilhante químico, Walter não conhecia o submundo do crime, mas sua inexperiência não o impediu de seguir com seu plano. Com a ajuda de um ex-aluno, Jesse Pinkman (Aaron Paul), White começa a construir um império e passa a se intitular de Heisenberg – uma homenagem a Werner Karl Heisenberg, físico alemão ganhador do Nobel Física de 1932 “pela criação da mecânica quântica, cujas aplicações levaram à descoberta, entre outras, das formas alotrópicas do hidrogênio”.
Heisenberg atraiu muito dinheiro e muitos problemas. Os espectadores acompanharam a transformação de um humilde professor que tinha certeza de sua morte em um traficante extremamente perigoso que passa a ter prazer naquilo que faz.
Essa transformação do personagem pode ser observada, nos ensinos de Carl Gustav Jung (Psicologia Analítica), como uma aproximação sucessiva com o lado destrutivo da sombra. Para essa abordagem, a sombra faz parte de todos os indivíduos, faz parte dos instintos que mais desejamos controlar (raiva, medo, ódio, luxúria, inveja etc.). Pode ser interpretada como a parte obscura da psiquê, entendida como o lado negativo de cada indivíduo, algo complexo e dotado de vitalidade autônoma.
Com Heisenberg a história não é diferente, momentos decisivos de conflito interno vão dando indícios de sua personalidade oculta se aflorando. Sua ambição financeira, seu desejo pelo poder, sua arrogância e complexo de superioridade. Todas essas características são apresentadas de forma sutil, até que somos surpreendidos com um diálogo do personagem com sua esposa, Skyler White (Anna Gunn), que estava preocupada com sua segurança e de sua família:
“Não estou em perigo, Skyler, eu sou o próprio perigo. Se baterem na porta de um homem e derem um tiro nele, vocês irão pensar que eu sou este homem? Não! Eu sou o que bate na porta.” (Episódio 06, Temporada 04).
O personagem nos traz diversas reflexões sociais, algumas interpretadas de forma errônea, mas, para o estudo psicológico, percebe-se não só a mudança comportamental, mas a exposição daquilo que o próprio indivíduo ocultava de seus pares.
Na Psicologia Analítica, semelhante à psicanálise, há subdivisões do inconsciente. Entre elas, há o inconsciente coletivo, no qual pode-se afirmar que “habita” as sombras, pois essa parte representa os instintos e desejos de que todo ser humano tem e que são observados por sonhos, alucinações ou outras manifestações humanas. Esse processo culmina no termo arquétipo, no qual representa uma figura simbólica sobre um dado grupo ou comportamento humano.
Walter White, nos primeiros momentos da série, demonstra e apresenta controle emocional e um contato mínimo do self, como um cidadão americano exemplar em todos os aspectos.
Contudo, no decorrer dos episódios, percebe-se que ele estava aos poucos dominado pela Sombra, apenas vivia a mercê de seus desejos, sem controle ou algum tipo de critério regulador. Isso culminou na manifestação de contravenções, fruto de comportamentos muitas vezes reprimidos e guardados no inconsciente que desafiam leis moras e que perturbam o indivíduo.
Nesse contexto, é possível inferir também que o protagonista vivenciou vários complexos, pois no decorrer da série foi possível observar profundos conflitos entre dilemas morais e desejos reprimidos do inconsciente.
REFERÊNCIAS
NORONHA, Heloisa. Todos temos um “lado sombra” da personalidade: o que é e como lidar com ele. Portal de Divulgação Científica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Publicado em 15 set 2020. Disponível em: < https://sites.usp.br/psicousp/todos-temos-um-lado-sombra-da-personalidade-o-que-e-e-como-lidar-com-ele/>, Acesso em 22 ago 2021.
LEVY Edna G. Sombra. Disponível em: < https://www.jogodeareia.com.br/psicologia-analitica/sombra/>, Acesso Em: 22 ago 2021.
LUIS, Alexandre Fernandes Ogasawara. A sombra na contemporaneidade: o impacto dos conteúdos sombrios no processo criativo na disciplina de Projeto de Produto do curso de Design. São Paulo, 2014. 43p. Monografia (Especialização em Psicologia Junguiana). Faculdade de Ciências da Saúde- FACIS.
PERIPOLLI, Monica Silveira. A química de Walter White: construção do anti-herói na narrativa de Breaking Bad. Universidade Federal de Santa Maria. Centro de Ciências Sociais e Humanas. Departamento de Comunicação Social. 2015. Disponível em < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/1778/Peripolli_Monica_Silveira.pdf?sequence=1&isAllowed=y>, Acesso em 22 ago 2021.
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A psique feminina a partir da Psicologia Junguiana
Os impactos da mudança do matriarcado para o patriarcado
No livro “A Prostituta Sagrada: a face eterna do feminino”, a Autora Nancy Qualls Corbett pontua sobre o paradoxo da prostituta sagrada, onde aspectos como espiritualidade e a sexualidade são colocados em destaque. Diante disso, a deusa do amor pode ser reconhecida como uma imagem arquetípica potente que remete à Europa pré-cristã, e sua energia – negada e reprimida, está interligada a emoções específicas e a padrões de comportamento que precisam ser integrados. A deusa do amor e a prostituta sagrada remete-se ao princípio único, ao princípio de Eros; o princípio em si, porém, é humano e, também, divino.
Corbett explica a analogia por meio da religião cristã referente à dualidade do Pai e do Filho, que são, entretanto, Um em Cristo, o Filho, é a dimensão mais próximo à humanidade; por intermédio dele é que alcançamos o conhecimento do Pai: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. De forma analógica, pode-se amplificar o significado da deusa do amor e entender as implicações psicológicas da imagem, entretanto, por ser arquetípica, ela jamais será plenamente integrada à consciência. Por meio da prostituta sagrada compreende-se os aspectos da deusa do amor. Pode-se, portanto, de modo consciente integrar a essência humana aos significados das suas qualidades características do arquétipo da deusa do amor.
De acordo com a autora, a imagem arquetípica da prostituta tem dois lados, o sagrado e o profano. O lado sombrio manifesta de forma rebaixada em que a sexualidade feminina é utilizada de forma inapropriada. No decorrer do tempo, os aspectos positivos desses arquétipos são poucos conhecidos, pois os elementos sagrados foram separados, elas eram abusadas e aprisionadas.
No decorrer da obra, Corbett explica em que momento a prostituta sagrada deixou de ser um atributo de estrema importância e atuante na vida de homens e mulheres, e quais foram as repercussões para a sociedade a partir deste rompimento.
Fonte: encurtador.com.br/msKNP
Ao longo do tempo, o sistema matriarcal e matrilinear predominante foi substituído pelo sistema patriarcal e patrilinear. Assim, as sociedades arcaicas iniciaram a agricultura e a religião como principais pontos para a civilização, e passaram a sociedades onde o comércio, a guerra e a expansão se tornaram prioridade. Os motivos dessas mudanças de forma gradual do matriarcado para patriarcado foram estudados por diversos historiadores. Assim, há diversas explicações para esse fato histórico; o homem começou a valorizar a geração de vidas que era só atribuído a ele, e que a mulher só nutria a nova vida em seu corpo, mas a linhagem passou a ser paterna.
Como consequência, o militarismo e o comércio produziram estratificação social. A mulher tornou-se oprimida porque suas novas funções tornaram-se desimportantes aos novos valores; à proporção que criavam estradas de comércio e que tribos guerreiras conquistavam partes de outras civilizações, as culturas de diversas civilizações se mesclaram, dessa forma, os deuses de uma sociedade incorporavam-se às da outra. Até que um Deus Supremo, portanto, veio ser reconhecido. Do ponto de vista da sociedade patriarcal dominante, Deus tem a essência masculina. O homem determinou outras doutrinas religiosas, de acordo com suas convicções na supremacia masculina.
Assim, o amor passou a ser dissociado do corpo para que os seres humanos pudessem alcançar união puramente espiritual com Deus. A Trindade era a do patriarcado; Maria pode ser admirada, entretanto; não adorada, para que não volte os tempos de veneração da deusa. A Igreja não validava características da deusa interligada na natureza sexual da mulher (ou do homem); por conseguinte, uma distância enorme, entre corpo e espiritualidade permaneceu nos ensinamentos religiosos.
Na época da grande caça às bruxas, nos séculos quinze, dezesseis e dezessete, mulheres que mantinham encontros escondidos, frequentemente, com danças ritualística, geralmente pagãs, muito parecidas com o culto da deusa, excelente nos preparos de infusões e medicamentos, se tornaram suspeitas naquele contexto. Essas mulheres iam de encontro ao domínio da Igreja e do Estado e, na maioria das vezes, eram condenadas como feiticeiras. Estima-se que milhares de pessoas tenham sido executadas, nessa época, sendo oitenta e cinco por cento delas mulheres.
Fonte: encurtador.com.br/nwMOV
Como já foi supracitado, as imagens antigas da prostituta sagrada estavam interligadas tanto na essência da sexualidade como na natureza da espiritualidade, assim, no decorrer do tempo, a civilização saiu da estrutura social matriarcal para uma patriarcal. A racionalidade veio dominar os sentimentos e sobre a força e criatividade da natureza, essas transformações geraram repressões.
À proporção que o princípio espiritual masculino se modificou de forma predominante, a reverência da essência feminina instintiva retroagiu para o inconsciente. É essa natureza, tão intrínseca com a imagem da prostituta sagrada, que necessita ser recuperada; uma vez que essa deusa é vital para o movimento em relação à totalidade, tanto do homem quanto da mulher. Um entendimento desse arquétipo, a mulher humana que canalizava as características da deusa do amor, possui a capacidade de conhecimento e respeito a esses atributos femininos. Expressões culturais de modificações dependem da propagação das transformações psicológicas nas atitudes conscientes dos indivíduos. Assim, para restabelecer o desejo é necessário a integração com a deusa do amor plenamente encarnada.
Outro fato que a obra pontua é o sacrifício da Deusa em relação ao seu filho amante e mesmo que lamenta a sua perda; o processo é psicologicamente sadio e lógico. O choro da mulher é uma forma da integração das circunstâncias mudadas; não é possível voltar ao passado. Como um ritual, o choro auxilia nas transformações essenciais para o amadurecimento da vida. Se a mulher não tiver sacrificado a idealização da infância, por exemplo, e vivido um período de choro para aceitar a perda, pode-se continuar em uma prisão de permanente proteção e segurança, desprotegida do risco e do perigo do mundo exterior.
A vitalidade da deusa se baseia na capacidade de desistir daquilo que há de mais essencial, com intuito de garantir amadurecimento e regeneração, as mudanças só acontecem no momento em que atitudes e valores arcaicos são substituídos por novos. Sua força não é rígida e racional, sem emoção; mas sim, ela tem uma percepção das mais profundas emoções e não nega o seu planto.
Fonte: encurtador.com.br/tDK01
A autora explica que a necessidade psicológica personificada pelo matrimônio sagrado é o movimento da psique em direção a totalidade. Em outras palavras, elementos masculino e feminino integram-se na presença de um terceiro, o divino. Psicologicamente, o matrimônio sagrado personifica a união dos opostos. e o princípio masculino e do feminino, a conjugação da consciência e da inconsciência, do espírito e da matéria.
Durante o tempo em que a prostituta sagrada coabitou a sociedade, as culturas eram embasadas sobre sistema matriarcal. Matriarcado não no sentido que mulheres comandavam os homens em cargos de autoridade; mas sim, que tanto o homem quanto a mulher tinham suas funções distintas.
Por fim, a obra pontua que prostituta sagrada pode estar distante do mundo contemporâneo; entretanto é uma característica vital e ativa no processo psíquico individual. Percebe-se que a conscientização desse arquétipo possibilita uma nova forma em relação à vida.
FICHA TÉCNICA
A PROSTITUTA SAGRADA: A FACE ETERNA DO FEMININO
Editora: Paulus Gênero: Psicologia e Aconselhamento Saúde e Família Autor: Nancy Qualls-Corbett Ano de lançamento: 1997 Idioma: Português Ano: 2002 Páginas: 224
REFERÊNCIA
CORBETT,N. A prostituta sagrada: A Face Eterna do Feminino. Coleção Amor e Psique. São Paulo 4 edição, 2002.
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O processo de individuação representado na simbologia dos chakras: uma visão analítica
Ao longo de seus anos de estudo e após um vasto investimento financeiro, o psiquiatra Carl Gustav Jung (1875-1961) adquiriu poderoso e extenso conhecimentos antropológicos acerca de uma variedade imensa de culturas espalhadas pelo mundo. Tudo isso contribui para fomentar a base do trabalho de sua vida, que viria a se tornar a Psicologia Analítica. Para além do Inconsciente pessoal Freudiano, Jung (2018a) acreditava que havia uma instância psíquica em comum a todos os seres humanos, em nosso DNA, e que isso trazia a cada indivíduo, embutido no que tange de mais profundo em cada um, resquícios psíquicos simbólicos do passado mais longínquo e primitivo do ser humano.
Ao esmiuçar a prática analítica clínica, é possível constatar como os variados estudos do autor influenciaram sua percepção de mundo. Em seu livro “Jung e o caminho da individuação: Uma Introdução concisa”, Murray Stein (2020) expõe claramente que Jung não propunha apenas mais um tipo de tratamento, mas na verdade uma jornada de autoconhecimento que muitas vezes, a depender da vida pessoal e conflitos do indivíduo que a busca, pode ter proporções homéricas. E o final dessa jornada analítica culmina no que foi denominado pelo autor de Individuação, que é o mais próximo do autoconhecimento máximo que se poderia chegar.
Os povos indianos em sua ancestralidade carregam consigo o conceito da reencarnação natural e cíclica. O hinduísmo acredita que ao morrer a Roda de Samsara te mantém no ciclo quase infinito de nascimento, envelhecimento e morte – e é dito quase porque existe uma maneira de escapar de tal roda, através da Iluminação do espírito; o aprendizado máximo com cada vida vivida (ANDRADE; APOLLONI, 2010).
Essa crença se estende aos Budistas, Hinduístas e Jainistas, e curiosamente viria a ser inspiração para diversas vertentes filosóficas e teóricas, incluindo o próprio Jung. A maneira como a Individuação e a Iluminação se constituem é análoga, e é nesse ponto em comum que a relação de Jung com as mais diversas culturas mostram que sua compreensão acerca do ser humano é única (STEIN, 2020). Sua inserção nas mais variadas culturas e práticas possibilitou adquirir uma visão de homem ser humano plural.
Neste trabalho, outros pontos da cultura indiana estarão frente a frente com aspectos da psicologia analítica – mais especificamente o que diz respeito a meditação e os chakras corporais, outro elemento fundamental na vida do indivíduo que está imerso por essa parte da cultura hindu. A intenção desta dissertação é trazer luz sobre a intersecção adequada entre a psicologia analítica, a prática clínica e seus elementos, com a cultura dos chakras e da meditação.
BREVE CONCEITUAÇÃO SOBRE O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
Uma personalidade unificada e ao mesmo tempo única, a qual parte de um desenvolvimento psíquico, é o que Jung chamaria de processo de individuação (STEIN, 2000). Neste, o indivíduo “torna/realiza o si-mesmo”, ou seja, a porção mais singular, íntima e indivisível de si. O que difere de ser “egoísta” ou “individualista’’, como alguém ensimesmado, onde não há consideração ou interesse em outras pessoas. Pois, na individuação, as qualidades únicas acessadas são, necessariamente, convidadas a serem integradas no mundo externo (JUNG, 2008).
Este processo ocorre de forma inconsciente e espontânea, pois faz parte de um impulso inato do ser humano. Porém, só é concretizado se vivido de maneira consciente e se o indivíduo tiver uma ligação ativa com esse desenvolvimento (FRANZ, 2019). Por isso, é possível e comum não alcançar esse processo. Muitas pessoas, inclusive, aparentam ter uma vida social e profissional de sucesso, porém sem a profundidade e integração que o processo de individuação proporciona (STEIN, 2000).
No pior dos casos nesse caminho de tornar-se si-mesmo, o indivíduo conseguirá aceitar sua neurose e encontrar o sentido à partir do sintoma, ou seja, o que adoece contém em si a própria cura, pois o sintoma é uma tentativa inconsciente de mostrar que a pessoa desviou-se do seu processo de individuação (JUNG, 1998). Já a individuação completa carrega o atributo de durabilidade, imortalidade e de atemporalidade. Essa experiência era o que os místicos denominavam como uma experiência com Deus ou com o Divino (JUNG, 2017).
Então, no decorrer desse processo e para que ele ocorra, o arquétipo do Self ou Si-mesmo se manifesta ao ego (SCHWARTZ-SALANT, 1982). O Self é então o centro unificador da personalidade, ele abrange tanto o inconsciente (pessoal e coletivo) quanto o consciente, ou seja, ocupa de forma total a estrutura da psique (SAMUELS; SHORTER; PLAUT, 1988). Esses conteúdos podem despontar no ego de forma organizada e processual como também podem irromper de maneira a desestruturar o centro regulador da consciência (SCHWARTZ-SALANT, 1982).
No entanto, por mais que seja preciso que o ego faça uma aproximação com o Self para que ocorra o processo de individuação, não é possível incorporar por completo este arquétipo, pelo fato de ter conteúdos vastos, os quais a consciência humana não consegue abarcar. Então, essa aproximação e do ego ao Self, ou seja, a tentativa de integrar e reconhecer o Si-mesmo na consciência ocorre de forma contínua, durante uma vida inteira (SAMUELS; SHORTER; PLAUT, 1988).
Para tanto, além da extensão espiritual do Self, este também é presente na matéria, ou seja, no próprio corpo. Assim como Jung (1998) amplia o conceito no Seminário 4 de Zarathustra, o espírito é delimitado pelo corpo e só pode ser expresso por este também. O próprio significado da matéria/corpo é a terra, isto é, aquilo que é palpável e concreto. A pessoa que se distancia do próprio corpo, perde contato com esse “chão” e se perde no espírito. As consequências disso, podem ocasionar em negligências às necessidades corporais e a perda da identidade, uma vez que, um espírito sem delimitações (o corpo), pode ser qualquer coisa. É isso que ocorre, por exemplo, nas “participações místicas” ou efeito de massa, ou seja, quando a pessoa se perde da consciência do próprio corpo e se dissolve no coletivo.
Portanto, a realização do Self e em consequência, do processo de individuação, não ocorre fora do espírito e da matéria. Sendo assim, vê-se necessário ampliar as concepções do cuidado e percepção do corpo na prática clínica, uma vez que, vemos uma grande atenção voltada para o espírito e pouca para a matéria. Posto isso, no próximo tópico trataremos de expandir o entendimento sobre o corpo e seu simbolismo que é muito presente na cultura oriental.
Originada na língua sânscrita, a palavra chakra quer dizer “roda”, estes seriam pontos de concentração e convergência da energia vital nos seres humanos, sendo sete no total. Por meio de muita disciplina, treino intenso e através da meditação o indivíduo seria capaz de dominar o fluxo da energia vital através do seu corpo, canalizando-a nos chakras (COSTA; BASTOS, 2020). Seus nomes e localizações na tradição indiana são:
1 – Muladhara (Final da espinha dorsal, entre o anus e a genitália, na área do períneo), 2 – SvadhistHana (4-6 cm abaixo do umbigo, ao nível do osso púbico), 3 – Manipura (5-7 cm acima do umbigo, plexo solar), 4 – Anahata (no centro do thorax), 5 – Vishuddha (base do pescoço, timo), 6 – Ajna (no centro do cérebro, epífise), 7 – Sahasrara (topo da cabeça, vértex). (PRIYA; RAJESH, 2011, p. 78-79, tradução livre)[1]
Pode-se dizer então que seriam os pontos de concentração do que se entende por energia vital – é o deslocamento, a concentração e a maneira como o indivíduo faz a gestão desta que vai determinar alguns aspectos de sua vida. Essa energia pode ter vários nomes a depender da cultura, “na Índia, esta força tem a designação de prana, na China, de chi; os pitagóricos chamam-lhe luz corporal brilhante; e, na Idade Média, Paracelso falava do illiaster, a força vital” (MARTIN, 2020, p.780). Entretanto, esse conceito de energia é familiar para as psicologias profundas e a Psicanálise.
Tudo isso poderia ser visto como uma metáfora para o inconsciente, observe o caso da Psicologia Analítica em seus apontamentos para com a alquimia. Na concepção do método analítico funciona como uma alegoria no que se refere aos conteúdos psíquicos do alquimista; este que, como o terapeuta no setting, aquece com o fogo transformador o vaso alquímico – representado ali na figura do paciente – e provoca neste a mudança do estado físico do que quer que haja dentro, movimentando assim a libido (JUNG, 2018b).
Os chakras como pontos de convergência concentram a prana que passa, num movimento ascendente, da base da coluna em direção a parte superior do sistema nervoso central (SNC). Quem medita tem a intenção de se colocar em um estado alterado da consciência (EAC) e estimular a passagem dessa energia por seu corpo; na alegoria hindu para a meditação Kundalini:
é uma deusa serpente que dorme na base da coluna vertebral enrolada 3 vezes ao redor do primeiro chakra, aguardando a expansão. Quando ela é acordada, (…) ela se desenrola e sobe através do centro do corpo, espetando e despertando cada chakra conforme ela sobe. Quando ela alcança o topo, ou o chakra Coronário, então todos os chakras foram abertos e diz-se que a pessoa atingiu a iluminação. (JUDITH, 2004, p.12)
Em ambas as representações podemos notar que em um ponto comum está a movimentação da energia psíquica interna – a libido, em linguagem moderna – se direcionando a um processo que se embasa na autopercepção e no autoconhecimento; para o artífice alquimista, o estado de rubedo, o ouro, o elixir; para o praticante da meditação, a iluminação, representada pela Lótus em imagens ancestrais orientais. Em ambos os casos o indivíduo trabalha seus conteúdos internos de uma maneira a facilitar e promover a sua cura interna, e é aí onde a psicologia pode vir de encontro a sabedoria oriental.
RELAÇÃO DOS CHAKRAS COM O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO E O CORPO NA CLÍNICA ANALÍTICA
Em busca de explicações para sonhos que uma paciente de vivência oriental tinha, Jung passou a se aprofundar na cultura oriental e se deparou com o livro O Poder da Serpente de Arthur Avalon. Este levanta, de forma detalhada, a simbologia dos chakras e seus significados para o oriente. Foi então que Jung percebeu a riqueza de simbolismos e o quanto a teoria do despertar da kundalini, pela ativação dos chakras, se aproximava do seu conceito de processo de individuação (WACKER, 2010).
Este paralelo começa a ser destrinchado pelo primeiro chakra, o Muladhara, ou seja, onde inicia-se o processo para o contato com o transcendente. Neste, contém em si o contato com o ego e a segurança com as causalidades terrestres. O indivíduo que tem a energia concentrada nesse chakra, não expande para além das percepções do ego e se torna submisso ao inconsciente, aos instintos, aos impulsos e à “participação mística” ou comportamento de massa. Ao despertar a energia da Kundalini, que se concentra nesse chakra, o ego tem a oportunidade de começar a se relacionar com o Self, o que dá início ao próprio processo de individuação. Pois, com esse enraizamento pessoal, o ego percebe que há forças ou propósitos dentro de si maiores que seu conhecimento consciente (MEDEIROS,2017).
Se o primeiro chakra é um despertar para uma consciência mais profunda, o segundo – SvadhistHana, para Jung (1996) é a continuidade desse processo através da entrada no inconsciente. Então, nesse chakra que, simbolicamente, representa o elemento água, o autor faz uma comparação com o mar que também é uma representação do inconsciente. Então, o despertar, necessariamente, passa pelo caminho das profundezas da água (ou inconsciente) e, desse batismo, o indivíduo pode ser engolido pelo monstro que ali habita, pode se afogar mas, também pode renascer desse mergulho.
Caso a pessoa passe pelas profundezas e renasça das águas do inconsciente, ela entra no próximo chakra, o Manipura, também chamado de “plexo solar”, o qual representa o elemento fogo, este simboliza a energia criadora da luz solar e também o fogo destruidor. Após o contato com o inconsciente ambienta-se com as características que habitam nesse terceiro chakra, que são: as emoções, desejos, paixões, poder, impulsos e até os demônios internos. O indivíduo, então, passa a conhecer sua “nova” identidade, simbolizando uma mudança de consciência (JUNG, 1996).
Após passar pela intensidade das emoções, o próximo chakra – Anahata – é atingido. Nele, o indivíduo não se identifica mais com as emoções e desejos, o que o leva a um olhar mais apurado, um olhar que consegue enxergar o Eu por de trás da explosão das emoções e dos objetos externos, aqui, se tem mais contato com a realidade interna através da razão, mas também dos sentimentos. Sendo assim, o elemento que o representa é o ar, o qual também simboliza o pensamento. Então, na região do tórax, o que inclui o coração e os pulmões, marca o primeiro encontro com o Self, ou seja, o verdadeiro Eu (JUNG, 1996).
No quinto chakra, o Vishuddha, é onde começa a ficar mais complexo o entendimento para a cultura oriental, pois ele representa a segurança de se confiar em uma realidade não material. É o ponto onde atinge-se o corte entre as polaridades, ou seja, da realidade interna e externa. Na saída de Anahata para Vishuddha, o indivíduo desaprende que seus pensamentos e emoções devem ter uma base em objetos concretos e passa a entender que eles existem por si sós, que tudo faz parte de uma unidade psíquica, de um todo. Já no sexto chakra, o Ajna, é estar de fato nesse todo, já não existe dualidade, pois os dois lados viraram uma coisa apenas, pode-se dizer que, aqui, a pessoa já age de acordo com a força do Self. E, por fim, o último chakra, o Sahasrara, é o mais alto estado de gratitude, onde atinge-se o nirvana, não é necessário elaborar as questões inconscientes, pois tudo já está integrado (WACKER, 2010).
Jung ao elaborar todo esse estudo comparativo, percebeu que seria perigoso para o mundo Ocidental se apropriar das práticas orientais de iluminação, uma vez que, esta filosofia estava muito distante da vivência e de difícil assimilação para o ocidental. Na sua concepção, o ocidental se aproximaria dessas práticas através do cristianismo, por conter a raiz filosófica desse lado do mundo para o transcendente, sendo assim, Jung, em sua época, não recomendava a prática do Ioga Kundalini para a população Ocidental (JUNG, 2013).
No entanto, principalmente devido a globalização, hoje já é possível o ocidental se aproximar das práticas orientais, sendo mais comum o conhecimento e prática sobre a Ioga e meditação. Pensadores como Wacker (2010) defendem que as ferramentas do Ioga Kundalini podem ajudar o ocidental a acessar partes do seu inconsciente antes inacessadas e iniciá-lo ao seu processo de individuação, a eficácia dependerá de vários fatores como a estrutura do ego, os mecanismos de defesa, os traumas vividos e etc.
Na clínica analítica, o corpo também tem uma dimensão simbólica, onde os sintomas físicos revelam por si mesmos a cura e o mito pessoal que o indivíduo está vivenciando (ROTHENBERG, 2004). Pois, além da base psíquica, o Self tem sua dimensão corporal, então a expressão de complexos, além de dialogarem com a estrutura psíquica, também se expressam no corpo, através de mudanças sutis ou sintomas mais profundos (RAMOS, 2006).
Portanto, pode-se dizer que as doenças e mudanças corporais são sinais do Self de que o indivíduo se distanciou ou está fixado em uma etapa do processo de individuação. Sendo assim, na experiência clínica, também pode ser de preocupação do psicólogo/a o olhar sob o corpo e os sintomas físicos, além de que, pode-se usar de práticas corporais como ferramentas no processo terapêutico e de individuação.
A interpretação de Jung sobre os chakras dentro da filosofia do Ioga Kundalini nos remete a uma interpretação que se assemelha ao processo de individuação e uma possibilidade de pensar o corpo como um agente de transformação. Vale ressaltar, também, a utilidade da psicossomática para inserir o corpo na clínica analítica e das novas visões de autores ocidentais que defendem a aproximação, a certa medida, das práticas orientais como mais uma opção de alcançar a iniciação no processo de individuação.
Referências
ANDRADE, Joachim; APOLLONI, Rodrigo Wolff. Dos ciclos da natureza à roda de Samsara: a geografia na raiz do budismo. Interações: Cultura e Comunidade, v. 5, n. 8, p. 63-78, 2010.
COSTA, Daniel Lula; BASTOS, Rodolpho Alexandre Santos Melo. Usos do passado nos animes japoneses: a presença de imagens míticas das deusas da destruição e do mito dos irmãos, em Naruto Shippuden. Tempos Históricos, v. 24, n. 2, p. 487-510, 2020.
JUNG, Carl Gustav. A Prática da Psicoterapia. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
JUNG, Carl Gustav. O Eu e o Inconsciente. Petrópolis: Editora Vozes, 2008.
JUNG, Carl Gustav. Jung’s Seminar on Nietzsche’s Zarathustra. Estados Unidos: Princeton University Press, 1998.
JUNG, Carl Gustav. Seminários Sobre Análise de Sonhos: notas do seminário dado em 1928-1930 por c.g. jung. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo, Vol. 9/1. Editora Vozes Limitada, 2018a.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia, vol. 12. Editora Vozes Limitada, 2018b.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião oriental 11/5. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.
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JUDITH, Anodea. A Verdade Sobre Chakras. Mauad Editora Ltda, 2004.
MARTIN, Kathleen. O Livro dos Símbolos: Reflexões Sobre Imagens Arquetípicas. Alemanha: Editora Taschen, 2020.
MEDEIROS, Fábio Roberto Gonçalves de Oliveira. A senda de individuação em Carl G. Jung e suas correlações com o budismo Mahayana. 2017. 187 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ciência da Religião, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2017.
STEIN, Murray. Jung e o caminho da individuação: uma introdução concisa. Editora Cultrix, 2020.
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VON FRANZ, Marie-Louise. O processo de individuação. In: JUNG, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2019. p. 207-307.
WACKER, Priscilla. A Interpretação Psicológica do Kundalini Yoga – C. G. Jung. 2010. 55 f. Monografia (Especialização) – Curso de Especialização em Formação de Analistas, Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, São Paulo, 2010.
[1] Texto original: 1-Muladhara (Spine ending between anus and genitals, perineum area), 2-Svadhisthana (4-6 cm below the navel, at pubic bone level), 3-Manipura (5-7 cm above the navel, solar plexus), 4-Anahata (thorax centre), 5- Vishuddha (base of neck, thymus), 6-Ajna (the centre of brain, epiphysis), 7-Sahasrara (top of the head, vertex). (PRIYA; RAJESH, 2011, p. 78-79)
Na Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung define como uma função psíquica existente e necessária o pensamento irracional no ser humano. A partir do seu teorizado Inconsciente Coletivo, ele define algumas tendências instintivas que se organizam na sociedade, marcando impulsos comuns no comportamento humano social. “O arquétipo é, na realidade, uma tendência instintiva, tão marcada como o impulso das aves para fazer seu ninho e o das formigas para se organizarem em colônias”. (JUNG C. G. 1964, p. 83)
Esses impulsos, vestem-se em roupagens que, ao longo da história, vão sendo substituídos por novas representações, todavia, sempre mantém os mesmos traços. O inconsciente coletivo, sendo “uma figuração do mundo, representando a um só tempo a sedimentação multimilenar da experiência” (JUNG C. G. 1971, p. 104), ao longo do tempo foi sendo segmentado em diferentes traços, estes são os denominados Arquétipos.
Este texto irá se debruçar sobre o específico arquétipo da Mãe Devoradora, teorizando os diferentes locais dos mitos e folclores onde aparecem, e explicando onde a influência dele aparece no cotidiano das relações sociais.
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O Grande Peixe que engole Jonas
Na passagem bíblica sobre Jonas, quando ele recebe uma tarefa profética do Deus hebraico, foge a navio para o caminho contrário. A divindade então castiga seu navio com uma terrível tempestade. Jonas, envolto de culpa, confessa aos ocupantes do barco ser responsável por aquela tormenta e é atirado ao mar. Aqui, segundo Jung em seu livro “Símbolos da Transformação” (JUNG, 1952), se dá a representação do momento em que o indivíduo, fugindo de seus anseios internos (inconscientes), se afasta e se alheia cada vez mais da vida, e lentamente, submerge no abismo das recordações passadas.
Ao fazer isso, a energia psíquica atinge certa intensidade, que nesse ponto o aparelho psíquico pode encarar como perigosa. Na analogia de Jonas, a proximidade do divino representa isso com clareza. O mergulho na profundeza do mar e o homem ser engolido, pode vir a ser uma metáfora para encontrar “o vaso materno do renascimento, o lugar de germinação, onde a vida pode renovar-se” (JUNG, 1952, p.397). Nessa fuga do mundo atual, Jonas então é engolido pelo Peixe Monstro, representante do arquétipo da mãe devoradora. Ali, como diz Paracelso citado por Jung, viu “enormes mistérios”, conseguimos através do animal ser novamente levados até a costa.
Neste conto, a mãe devoradora internalizada no inconsciente, através da regressão da energia psíquica (voltar-se a si mesmo), mergulha o indivíduo que sofre dentro de uma reintegração com o mundo dos instintos naturais. “Se esta pode ser captada pelo consciente, ela determinará uma reanimação e reordenação” psíquica, representada pela saída de Jonas do corpo da baleia. Mas se o consciente for incapaz de assimilar os conteúdos vindo do inconsciente, cria-se uma situação perigosa na qual os novos conteúdos conservam sua forma original, caótica e arcaica, e com isto rompem a unidade do consciente. O distúrbio mental daí resultante chama-se por isto, caracteristicamente, esquizofrenia, “loucura por cisão”.”
Jonas então volta para terra (mundo da consciência), e assim se reconecta com o Senhor (conexão com a essência interior), cumprindo sua missão requisitada, representando isso como o retorno para a vida atual e seus compromissos.
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O Arquétipo da Mãe Devoradora na função maternal
O arquétipo da mãe devoradora representa aquelas características maternas que anulam a liberdade do filho. Quando as suas necessidades são impostas acima das necessidades dele. Assim, o desenvolvimento da personalidade do filho é desafiada pelo arquétipo, correndo perigo de ainda ser engolido pelas suas vontades.
Pode ser considerada uma identificação com esse arquétipo, as mães superprotetoras, que inevitavelmente, suplantam a liberdade que o filho aos poucos deveria adquirir. O nome “devoradora”, se dá justamente pelo fato alegórico da mãe que considera o filho como uma propriedade sua, portanto parte dela própria, engolindo sua personalidade, instaurando desde muito cedo nele o medo, pelo fato de ser muito dominadora, brava ou mesmo agressiva. Tal comportamento materno demonstra um comportamento egoísta, onde a mãe pensa apenas nela mesma, e faz do filho uma espécie de extensão narcísica dela própria, como se fosse apenas um pertence anexo à ela.
Junto dessas características, vem também a sua característica dramática, que é mais uma forma de manipulação, criando um clima de angústia e culpa na casa, a fim de se tornar o centro das atenções. Ela tende a ter características negativistas, dando sempre críticas negativas ao filho, suplantando a personalidade dele em nome da sua. As conquistas do filho, vem assim a ser colocadas como advindas da mãe, duvidando sempre das capacidades dele. Tal característica vem a mostrar uma competitividade da mãe para com os filhos, não querendo jamais perder o controle sobre eles.
Ela também tem características dissimuladoras, mais um mecanismo manipulativo; e chantagens emocionais, a fim de gerar culpa no filho, prendendo-o a uma maior dependência. Tal comportamento cria nele a internalização dessa mãe mítica em sua personalidade, podendo mesmo quando distante dela, se sentir rondado pela mãe devoradora, instaurando a culpa em seu dia a dia. Quando se comporta estritamente e radicalmente má, essa mãe acaba também, se identificando com o arquétipo da bruxa, já bem conhecida na história de João e Maria.
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A representação da Mãe Devoradora é identificável em diversas culturas ao longo da história. Voltando às lendas romanas antigas, é possível atestar o caso do herói mitológico Hércules; este que de acordo com o mito, sofreu alguns males devido a natureza de sua relação com a esposa de seu pai divino, a deusa Juno.
(…) como Juno não era sempre hostil aos filhos do marido com mulheres mortais, declarou guerra a Hércules desde o nascimento do menino. A deusa enviou duas serpentes para matá-lo quando estava no berço, mas apareceu as crianças estrangulou as cobras com as próprias mãos (Bulfinch, 2013, p.227).
Esta relação conflituosa resultou em Juno conspirando contra o herói, fazendo com que Hércules fosse submetido a figura de Euristeu, rei de Tirinto e de Micenas. A intenção da deusa era de que o herói encontrasse o seu fim na medida em que realizasse os 12 trabalhos propostos pelo rei. Este fato na verdade resulta no fortalecimento de Hércules; este passa de maneira eficaz por cada uma das 12 provações, que envolviam desde roubar itens místicos até enfrentar criaturas de com sobrenatural e de poderes colossais.
Por fim, Hércules retorna de sua jornada com sabedoria adquirida; dessa maneira Juno, a mãe devoradora neste caso, se frustra em sua tentativa de destruição do herói e acaba por fortalecê-lo em sua jornada devido às suas atitudes. Esse é um exemplo cultural greco-romano da ação do arquétipo, e esse paralelo pode ser feito em mitos de outras culturas de maneira semelhante.
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Na cultura brasileira, nos relatos de seu folclore, encontramos a figura mítica da Cuca. Milanez (2011) descreve esta que seria uma mulher velha, com características reptilianas e sempre associada a prática de bruxaria, seria responsável por raptar crianças que não cumprissem as regras estabelecidas no lar pelos pais, principalmente quanto ao horário de dormir.
Quando a mãe devoradora se torna estritamente má, esta passa a se identificar com o arquétipo da bruxa, baseado nessa associação é que se afirma que a Cuca é um representante desse arquétipo no folclore brasileiro. O caráter punitivo de sua relação com a criança, sua aparência reptiliana e a mística envolvendo sua lenda.
Ao se buscar sobre a origem do mito da Cuca, chegamos ao cerne deste em Portugal. Cordeiro (1886) aponta que nas terras lusitanas, conta-se que um Santo, certa vez lutou contra um dragão que afligia um povo. Este santo era conhecido por São Jorge, o dragão era conhecido como Coca. Os portugueses, junto a colonização, trouxeram relatos e histórias, Coca, se transformou em Cuca; o dragão muda sua representação para um Jacaré, pois para os moradores das terras sul americanas, existem poucas representações de animais reptilianos de grande porte.
REFERÊNCIAS
BULFINCH, Thomas. O livro da mitologia: a idade da fábula. São Paulo: Martins Claret, 2013.
CORDEIRO, A. X. R. & LEAL, J. S. M. Almanach de lembranc̜as Luso-Brazileiro para o anno de 1867. 38. º anno da collecção. Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira, 1887.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião. Obras completas de CG Jung, v. 11, 1971.
JUNG, Carl G. et al. O homem e seus símbolos. 1964.
JUNG, Carl Gustav. Símbolos da transformação vol. 5. 1952.
MILANEZ, Nilton. A Cuca vai pegar! Medidas do corpo no caldeirão discursivo do medo. Acta Scientiarum. Language and Culture, v. 33, n. 2, p. 251-258, 2011.