Anima Mundi e a desconstrução da separação sujeito/objeto: reflexões sobre a solidão na era do desencantamento

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A mesa redonda virtual “Pensar a Solidão a partir da Anima Mundi”, promovida pelo Instituto do Imaginário e disponível no Youtube, nos convida a refletir sobre a relação do homem com o mundo e a necessidade de pensar em uma psique que considere o pertencimento humano no mundo, pensar a partir de uma perspectiva ampla, considerando a relação com o ambiente em que vivemos. Para isso, antes de mais nada, torna-se essencial um passeio imersivo pela conceituação de Anima Mundi. Esse conceito se refere à ideia de que existe uma alma no mundo, uma energia vital que permeia todas as coisas. Essa concepção se contrapõe à visão materialista que enxerga o mundo como um mero objeto a ser explorado pelo ser humano. A partir desse conceito, a palestra levantou a questão de que não é possível entender a psique humana de forma dissociada do ambiente em que vivemos.

Essa visão se encontra em oposição direta ao pensamento cartesiano-mecanicista, que estabelece uma separação, uma dissociação entre sujeito e objeto, corpo e alma, e que, além de tudo, acabou por promover o processo de desencantamento do mundo, que se deu a partir do monoteísmo patriarcal e da consequente “expulsão dos deuses da Terra”. Essa visão materialista, que acabou por diminuir a importância do homem como parte integrante do todo separa ele da natureza e nega a existência da alma no mundo. Não só nega, como passa a considerar a mera ideia contrária de forma pejorativa (ver a alma na natureza passa a ser considerado primitivo, bárbaro, infantil).

A visão materialista que domina nossa cultura na pós-modernidade tem consequências diretas para a forma como pensamos a psicologia. O sociólogo Émile Durkheim, por exemplo, via o animismo (atribuição de vida e consciência a todos os seres e objetos), como uma forma primitiva e bárbara de entender o mundo. Vale ressaltar que essa visão do mundo (animismo) é comumente encontrada em culturas indígenas e tradicionais, que reconhecem a interconexão entre todos os seres e a importância de respeitar e honrar a natureza. Assim, essa forma tão pejorativa de se tratar a visão Anima Mundi no atual mundo materialista acaba por revelar preconceitos muito antigos e (não) tão velados assim, além de se mostrar prejudicial, especialmente no que se diz respeito à área psicológica.

Imagem: Pixabay

A “psicologia tradicional”, desligada do antropológico, também se mostrou incapaz de dar conta da complexidade da relação do homem com o mundo. Nesse sentido, a palestra ressaltou a importância de adotar uma ótica sistêmica na psicologia, entendendo que não há como fazer qualquer psicologia sem considerar as relações e o contexto em que o ser humano está inserido. A Teoria Geral dos Sistemas (TGS) nos permite entender a interdependência das partes do sistema e como isso é fundamental para o entendimento da psique humana.

Tendo em mente esse pensamento de interdependência e valorização do mundo ao redor, ou seja, passando para uma ótica Anima Mundi, onde não só o ser humano importa, mas todas as outras coisas também, passa a ser preciso questionar o papel da psicologia em relação a um sujeito que destrói as matas, que abusa e bate nas mulheres, que prejudica as crianças e compromete o futuro do mundo. Não seria nosso papel como psicólogos tencionar um pouco esse sujeito a olhar seu papel no mundo? Não seria nosso papel trazer à tona essa reflexão, de quem somos nós como espécie? Como seres? Talvez não necessariamente para mudar os comportamentos, ações e pensamentos desses sujeitos, mas pelo menos em tentativa de tornar (a escolha de manter essas ações) uma escolha consciente.

Nosso papel é sim o de acolher e considerar o sofrimento, mas devemos também sempre pensar e trazer a reflexão do que entendemos por psique, por ser humano e qual o papel disso no planeta em que vivemos. Pensar em que momento da humanidade nosso conceito de ser humano passou a ser tão pobre para que passássemos a pensar em nós mesmos como seres sobrenaturais (acima de tudo e de todas as outras coisas que nos cercam) e também refletir sobre em que momento o “resto” do mundo se tornou um mero pano de fundo, não mais vivo, não mais sagrado, apenas um galpão de suprimentos.

Falta um olhar mais cuidadoso para o campo de relações que ultrapassam o humano, o mundo que nos ultrapassa, do qual somos dependentes. Falta pensar e fazer uma psicologia ecológica, para a vida. Passa a ser necessário pensar em uma abordagem ecocêntrica, decolonial e fenomenológica que considere o mundo como um todo vivo e sagrado e não apenas um pano de fundo sem importância e é sim nosso papel como psicólogos tencionar essas reflexões. Na palestra é mencionada a teoria de Gaia, que postula que a Terra é um organismo vivo e que todos os seres vivos estão conectados, um belo exemplo dessa abordagem animista (que parece carregar em si muito mais o sentido -ou o que deveria ser o sentido- da palavra humano do que o humanismo clássico).

Caminhando um pouco mais, um dos tópicos da temática da palestra emergiu: a solidão, sentimento tão profundo e devastador, que chega a níveis físicos de dor. De acordo com nossos maravilhosos palestrantes, a solidão surge quando há falta de integração e desconexão com o mundo. Isso se dá pelo simples fato de que, sob a ótica Anima Mundi, não estamos sozinhos jamais, em nenhum momento, nem se quiséssemos. Se o mundo todo ao nosso redor está vivo e consciente, como é possível estarmos sozinhos? Simples, nesse sentido tão profundo não seria possível. Nós somos todos parte de uma gigantesca rede e não precisamos estar nela, pois nós somos a rede, somos as conexões, somos o inconsciente coletivo, somos a vida. Assim, a falta de conexão com o mundo e com todos esses aspectos pode causar a crise dos vínculos e das relações, o que pode levar à depressão e à ruptura dos laços afetivos. Essa crise dos vínculos e das relações é causada por uma visão distorcida dos humanos, que fazem de tudo objetos, inclusive os outros humanos.

A solidão seria, de acordo com nossos palestrantes, em grande parte, uma defesa contra o risco das relações, uma defesa contra o medo de se machucar ou de estar exposto. Para combater a solidão é necessário resgatar a retomada do animismo e reconhecer que tudo tem consciência. Também seria necessário levar à mente que não temos como escapar de suas garras sem intimidade. Devemos aprender a valorizar as relações que nutrem e que aquecem a alma, que deixam o coração quentinho, abraçando os amigos e valorizando as coisas mais básicas da vida.

Em resumo, é necessário reconhecer a importância da relação do homem com o mundo e com as coisas que nos rodeiam. Devemos adotar uma abordagem ecocêntrica, decolonial e fenomenológica que considere a vida em sua complexidade e interdependência. A retomada do animismo nos permite entender que tudo tem consciência e que a intimidade é a melhor forma de superar a solidão.

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Psicologia participa de evento com Tizuka Yamasaki

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Durante o evento ocorrerá um bate-papo com a Diretora e, ao final, será exibido o filme ‘Encantados’

O curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, através das disciplinas Antropologia e Filosofia – e com a participação de duas turmas institucionais de Sociedade e Contemporaneidade, todas ministradas pelo prof. Me. Sonielson Sousa – participa como parceiro do projeto Telas em Cena, que ocorre nesta quinta, dia 13/09/2018, a partir das 19h15 no Cine Cultura de Palmas – Espaço Cultural. O projeto, em Palmas, é organizado pelo Instituto Social do Tocantins em parceria com a Fundação Cultural de Palmas e Ministério da Cultura, através do edital de Pontos de Cultura de Palmas, e objetiva criar espaços de interação entre importantes diretores e cineastas nacionais com os produtores culturais e de audiovisual local.

Durante o evento ocorrerá um bate-papo e, ao final, será exibido o filme ‘Encantados’. Tizuka Yamasaki se destaca como a primeira mulher de origem japonesa a atuar no cinema brasileiro. Tizuka vai contar um pouco de sua história e do trabalho em produções de televisão, como O Pagador de Promessas e As Brasileiras, de cinema como os filmes de Renato Aragão e Xuxa Meneghel, dentre outros.

Fonte: https://bit.ly/2p82EGN

De acordo coma coordenadora do curso de Psicologia, profa. Dra. Irenides Teixeira, o evento irá proporcionar que os acadêmicos reflitam e problematizem temas contemporâneos a partir das teorias críticas acerca da relação Antropologia, Sociologia e Comunicação Social.

A diretora

Cineasta, neta de imigrantes japoneses, Tizuka Yamasaki nasceu em Porto Alegre-RS, deu seus primeiros passos como assistente de Nelson Pereira dos Santos, e estreou como diretora de longas-metragens com Gaijin, caminhos da liberdade (1980), exibido no Festival de Berlim e na Quinzena de Realizadores no Festival de Cannes. Ligou-se ao núcleo de produção de Cacá Diniz e dirigiu filmes de Renato Aragão e Xuxa Meneghel, sempre com bons resultados de bilheteria. Tem também uma respeitada carreira na televisão, onde dirigiu minisséries e novelas, entre elas, Pantanal e Kananga do Japão, ambas para a TV Manchete.

Fonte: https://bit.ly/2xdbO8S

No cinema

Encantados (2017)

Aparecida, o milagre (2010)

Amazônia Caruana (inédito)

Xuxa em o mistério da feiurinha (2009)

Gaijin – Ama-me como sou (2005). Prêmios de melhor filme, direção, atriz coadjuvante (Aya Ono) e trilha no Festival de Gramado.

Xuxa popstar (2000). Codirigido com Paulo Sérgio Almeida.

Xuxa requebra (1999)

O noviço rebelde (1997)

Fica comigo (1996)

Lua de Cristal (1990)

Patriamada (1984)

Parahyba, mulher macho (1982)

Gaijin, caminhos da liberdade (1980). Exibido no Festival de Berlim e na Quinzena de Realizadores no Festival de Cannes.

Na televisão

O pagador de promessas (1988) – minissérie

Kananga do Japão (1989) – telenovela

Amazônia (1992) – telenovela

A Madona de Cedro (1994) – minissérie

Metamorphoses (2004) – telenovela

As Brasileiras (2012) – Série

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Professor de Psicologia do CEULP defende seu Mestrado na UFT

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Sonielson Luciano de Sousa ministra as disciplinas de Filosofia e Antropologia no curso de Psicologia do CEULP/ULBRA

O professor Sonielson Luciano de Sousa, do Curso de Psicologia do CEULP defendeu, no dia 24 de agosto, sua dissertação “Mídia e construção de corporalidades masculinas juvenis: um estudo sobre frequentadores de academias de musculação” no programa de Mestrado em Comunicação e Sociedade na Universidade Federal do Tocantins (UFT).  A banca foi composta pela orientadora da pesquisa Profa. Dra. Cynthia Mara Miranda (UFT), a Profa. Dra. Liliam Deisy Ghizoni (UFT) e a Profa. Dra. Irenides Teixeira (CEULP/ULBRA).

Irenides, Cynthia e Liliam Deisy na defesa de mestrado de Sonielson

A pesquisa:

Esta dissertação é calcada em uma pesquisa sobre a construção de ideais de corpo e corporalidades masculinas de homens jovens frequentadores de academias de musculação, e o papel da mídia na construção da subjetividade destes sujeitos. Desta forma, buscou-se promover uma reflexão sobre os impactos que a mídia possui nas dinâmicas de vida, bem como entender qual a dimensão da própria percepção dos participantes acerca do tema, no que se refere ao poder que eles têm sobre suas escolhas, mediante eventuais heranças culturais e arranjos familiares e sociais. Como procedimentos metodológicos optou-se pela realização de Grupo Focal em duas academias de Palmas-TO, e os resultados são analisados a partir da Análise de Conteúdo. No desenvolvimento do trabalho verificou-se que os homens jovens das duas academias têm posicionamentos convergentes sobre os temas propostos, e corroboram as teses levantadas pelo referencial teórico. A pesquisa mostrou que a mídia – a partir, sobretudo, do cinema e de perfis de celebridades nas redes sociais eletrônicas – exerce influência direta na busca de um ideal de corpo masculino.

 Sonielson Luciano de Sousa é docente no curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, bacharel em Comunicação Social (Publicidade – Ceulp/Ulbra – 2004); sócio-fundador de O GIRASSOL (desde 1999), exercendo atualmente a função de editor-executivo. Tem experiência na área de Jornalismo Especializado (Comunitário, Literário), atuando principalmente nos seguintes temas: jornalismo, ideologia, cultura, educação, cinema e filosofia. Na comunicação, já atuou como free-lance de grandes empresas, como a Folha Press. É pós-graduado (latu senso) em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias, com ênfase em Docência Universitária (Unitins/UFBA – 2006). Também é licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (UCB), e coordena o Centro de Estudos Zen Budista de Palmas, ligado ao Daissen-ji de Florianópolis. É personal Coach (pela Sociedade Brasileira de Coachin-SP), editor e colaborador do coletivo (En)Cena, além de colaborador do Portal Educação. É autor do livro “Budismo e Cristianismo: aproximações possíveis” (e-Pub – Amazon).

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Antropologia e Psicologia do trabalho problematizam dinâmica do trabalho

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Ação extensiva irá discutir a relação ambígua dos sujeitos pós-modernos com o mercado de trabalho

Os acadêmicos de Psicologia nas disciplinas de Antropologia e Psicologia do Trabalho, além de toda a comunidade acadêmica e público em geral, contarão com um evento de caráter extensivo (com certificação de 3h) com o tema ‘Trabalho, uma relação de amor e ódio’. O evento ocorre no dia 17/08 próximo, das 9h às 12h, na sala 405.

A ação faz parte dos temas comuns das duas disciplinas, no que se refere aos desafios dos futuros psicólogos quanto à dimensão patologizante do trabalho, quando encarado como excesso. Mediada pelos profs. Sonielson Sousa e Thaís Monteiro, na atividade extensiva serão abordados autores alinhados ideologicamente tanto à direita (Pondé) quanto à esquerda (Marx e Han). O objetivo é instigar os acadêmicos a desenvolverem uma visão crítica acerca das novas relações de trabalho.

De acordo com a coordenadora do curso de Psicologia, profa. Dra. Irenides Teixeira, ‘a esfera do trabalho é uma das que geram mais demandas na atuação da Psicologia. Preparar o acadêmico para atuar nesta seara de profundas mudanças, apresentando-lhes o que há de melhor e também de mais desafiador, nesta relação imbricada, é uma tarefa emergente’.

Recomenda-se aos acadêmicos que procurem chegar com uns 10 minutos de antecedência para proceder quanto à inscrição.

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Antropologia e Psicologia do Trabalho fazem ação conjunta

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Disciplinas irão reunir acadêmicos para abordar a crítica ao trabalho pela visão marxista

As disciplinas de Antropologia e Psicologia do Trabalho, ministradas respectivamente pelos professores Sonielson Luciano de Sousa e Thaís Moura Monteiro, irão realizar evento conjunto nesta quarta-feira, dia 28/02/2018, às 9h, no miniauditório 543.

Durante o evento os acadêmicos de ambas as disciplinas irão ter acesso à crítica marxista à esfera do trabalho, notadamente no que se refere às ideias dominantes como balizadoras de estilos de vida. Neste sentido, a hipervalorização do trabalho em relação ao ócio faz parte de uma construção ideológica que rechaça o tempo livre e coopta os trabalhadores em todas as esferas de sua vida. Esta é a principal crítica marxista ao liberalismo e que, para parte da Psicologia, está por trás das psicopatologias contemporâneas relacionadas ao trabalho.

As discussões serão conduzidas pelo professor Sonielson com o apoio da professora Thaís, e contemplarão autores atuais que buscam a interdisciplinaridade entre Antropologia, Filosofia e Psicologia. Dentre estes autores estão o sul-coreano Byung-Chul Han e os brasileiros Joel Birman e Jurandir Freire Costa. Em relação às consequências psicológicas da hipervalorização do trabalho e negligência de outras esferas da vida estão a compulsão à repetição, depressões, transtornos de sono e síndromes como Burnout.

Em relação à crítica marxista, está a luta de classes, a mais valia absoluta e relativa, a reproideologia burguesa e a constante captura do tempo dos trabalhadores por parte dos empregadores.

 

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Miracema do Tocantins sediará Seminário de Políticas Públicas sobre Drogas

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Ocorrerá nos dias 28 e 29 de novembro em Miracema do Tocantins, o Seminário de Políticas Públicas Sobre Drogas com o tema Ampliando a Diversidade, no auditório do Campus da UFT – Miracema.

PROGRAMAÇÃO:

ABERTURA – 28 de novembro às 19h30min.

Mesa inaugural do evento: Cristiane Roque – Cientista Social, mestre em Sociologia. Professora do Colegiado do Curso de Direito da UFT e Coordenadora do CRR/UFT/Centro-sul. Vice-líder do Grupo de Estudos dobre Drogas – GED/UFT/CNpq.

Tema: “A atuação do CRR no Tocantins”.

Palestrante: Hermógenes Moura – Antropólogo, Licenciado e Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Pernambuco. Colegiado de Ciências Sociais Coordenador da Licenciatura em Ciências Sociais PRONERA/UNIVASF. Coordenador do Subprojeto PIBID Interdisciplinar “Drogas na Escola e a Prevenção de Danos”. Pesquisador do Laboratório de Pesquisas Interdisciplinares sobre o uso de Substâncias Psicoativas Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF.

Tema: “Drogas na Escola e a Prevenção de Danos: (des)construção de estigmas”.

Mediador: César Gustavo Moraes Ramos – Psicólogo, Mestre em Ciências Criminais pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Interlocutor do Projeto Redes, Programa Institucional Álcool, Crack e outras drogas FIOCRUZ. Formador no CRR/UFT/Centro-sul.

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29 de novembro de 2016 

 MATUTINO- às 8h30min.

Rafael Leal Matos – Cientista Social e Antropólogo. Mestre em Antropologia Social pela UFRN. Graduado em Ciências Sociais pela UFGC. Professor Substituto na UFT, Campus de Miracema do Tocantins.

Oficina: “O Consumo de Bebidas Alcoólicas na Perspectiva Antropológica”.

.VESPERTINO – às 14h30min.

Bruno Logan Azevedo – Graduado em Psicologia e pós-graduado em Psicopatologia e Dependência Química. Atuou como redutor de danos – Centro de Convivência É de Lei. Atualmente é Redutor de Danos no Projeto Respire, Gerente do Consultório de Rua de Mauá e apresentador do canal do YouTube “RD com Logan”.

Oficina: “Redução de danos: contextos e desfios”. 

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ENCERRAMENTO – 29 de novembro às 19h30min.

Mauricio Fiore – Mestre em Antropologia pela USP e Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp. Pesquisador e Diretor do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e Coordenador científico de Plataforma Brasileira de Política de Drogas. Autor e Organizador de trabalhos sobre diversos aspectos da questão do uso de drogas, entre os quais os livros “Uso de ‘drogas’: controvérsias médicas e o  debate público” e “Drogas e Cultura: novas perspectivas”.

Tema: “Política de drogas: qual o lugar do Estado?”.

Mediadora: Janaina Alexandra Capistrano da Costa – Doutora em Ciências Sociais pela UFRN, Mestre em Sociologia pela UNESP, Especialista em Ciência Política pela UChile, Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela UNESP. Professora do curso de Ciências Sociais na UFT, onde pesquisa cultura política na América Latina, história e memória, interfaces entre religião e política de drogas. Líder do Grupo de Estudo sobre Drogas – GED/UFT/CNpq.

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Inscrições podem ser realizadas pelo link. Para mais informações: crr@uft.edu.br ou PROEX- (63) 3232 8064.

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Amor Líquido e Modernidade Líquida: os relacionamentos na contemporaneidade

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As relações humanas na contemporaneidade estão se tornando cada vez mais líquidas, onde incertezas, dúvidas, insegurança permeiam com frequência nos relacionamentos. Não há solidez e garantia de que se estará ao lado da pessoa escolhida para amar por toda a vida. Bauman (2004) analisa que na modernidade, o sujeito construía sua identidade a partir da comunidade a qual estava inserido. Porém, com o avanço da globalização e tecnologias, a subjetivação passa a ser em nível global, o individuo então, sente-se em conflito, ao ter, ele mesmo, que construir sua identidade, agora não mais fixa na família.

O ser humano está a cada instante mais insatisfeito com o que tem, e por vezes, não consegue identificar o que se quer realmente. Ao se envolver nessa dinâmica do pós-modernismo, onde a rapidez e a velocidade são características marcantes desse período, os relacionamentos familiares, amorosos, profissionais se tornam fragilizados. Segundo Bauman (1998) as principais características da modernidade líquida são os desapegos, a provisoriedade, o acelerado processo da individualização e o conflito entre liberdade e segurança.

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Fonte: http://rotinasinteligentes.blogspot.com.br/2015/09/zygmunt-bauman-amor-liquido-seguranca-e.html

Pessoas são tratadas como produtos, e quando não satisfazem mais os seus desejos e expectativas podem ser descartadas ou trocadas por outra que consideramos que seja o melhor para elas. Saladino (2008) acredita que na pós-modernidade os indivíduos não querem pagar o preço dos antepassados, em manter um relacionamento afetivo, pois, se eles não estão se sentido bem no relacionamento, os mesmos buscam outras pessoas, devido o relacionamento intensivo prejudicar a vida do indivíduo.

O presente ensaio visa analisar os relacionamentos na contemporaneidade, a partir das obras: “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos” e “Modernidade líquida”, do sociólogo Zygmunt Bauman.

O individualismo é bastante discutido na atualiade, pois atuamos num mundo em que as pessoas vivem para si próprias, fazendo com que o interesse individual seja mais importante que o coletivo. A liberdade individual é bem valorizada, podendo ser entendida como “viver da forma que bem desejar”, ter várias opções e ser livre para fazer suas escolhas (CHAVES, 2004).

A sociedade pós-moderna vive uma liberdade falsa, como “marionetes”, pois somos controlados de todos os modos. Segundo Bauman (2001), os indivíduos não tem total liberdade, pois eles não controlam suas próprias vidas.  A liberdade surge de um tipo de sociedade que promove mais liberdade individual e cada vez menos segurança, sendo assim, há menos referência de identidade e projetos futuros sólidos (BAUMAN, 1998).

marionetes

Fonte:https://quaseheroina.wordpress.com/category/mulherzinha/

Nesse mundo repleto de controle, no qual todas as experiências tem um propósito definido para a maioria das pessoas, Bauman (2001) afirma que “esse mundo não tem espaço para o que não tiver uso ou propósito. O não-uso, além disso, seria reconhecido nesse mundo como propósito legítimo” (BAUMAN, 2011, p. 66). Assim, na contemporaneidade a sociedade tem dificuldade nas escolhas objetivas, as quais podem provocar agonia na maioria nas pessoas, devido à exigência de reflexão acerca de tais escolhas.

Guahyba e Magalhães (2001), enfatiza que os jovens precisam escolher uma profissão e construir seu projeto de vida, onde eles devem estar cientes que não vão fazer uma escolha totalmente individual, pois o meio influencia em diversos aspectos, onde está inserido. O capitalismo então, se apropria dessa lógica, pois, o sujeito precisa ter uma identidade flexível para estar sempre pronto pra se inserir no mercado e adapto da moral do consumo.

Sobre essas inconstâncias da modernidade líquida, Fragoso (2011) analisa que:

No caso da experiência dos indivíduos na versão líquida da modernidade, a identidade é continuamente montada e desmontada. E tem de ser assim, visto que a busca fugaz da felicidade exige adaptabilidade e mudança constante, portanto prender-se a uma “identidade” pode ser o desfecho final de um destino infeliz (FRAGOSO, 2011, p. 1112).

Na atualidade vive-se uma ilusão de que a liberdade está sujeita a qualquer situação, tanto nas escolhas profissionais, conjugais, liberdade com seu corpo, em ser livre.

Bauman (2001) afirma que a sociedade contemporânea gosta de pensar que a identidade é algo exclusivamente, sendo sua “produção” de responsabilidade de cada pessoa. Entretanto, na pós-modernidade, o indivíduo não tem controle sobre suas próprias vontades, pois vive sendo influenciado por diversos meios, sem perceber que é levado a consumir o que a mídia impõe a elas. Tafuri (2010) acredita que:

Essa forma vazia, essa promessa de refabricação plástica da identidade reflete a espécie de liberdade oferecida pela sociedade de consumo: uma falsa liberdade, que se resume na escolha entre os diversos modos de vida comercializados, prontos para serem usados e descartados conforme a lógica da moda (TAFURI, 2010 p.12).

Bauman (2008) alerta que na sociedade de consumidores, antes de nos tornarmos sujeitos, somos mercadorias e que, uma vez que a subjetividade é pautada na lógica de mercadoria, esta precisa ser recarregada sempre para ser cumprir com o que é exigido de um produto vendível.

Desta forma, a sociedade contemporânea se torna adoecida pelo consumismo. Ao comprar algo material, não é apenas para se satisfizer, e sim para acompanhar a moda, para reafirmar, através de um produto, a sua subjetividade. Como ressalta Debord (1997), ao comprar um produto, o sujeito acredita que será tão feliz como promete o seu slogan, além disso, este sujeito vive na sociedade do espetáculo, ou seja, inverte o real. Assim, não há espaço para a introspecção ou sentimento, o que torna as relações superficiais.

Segundo Hall (2000) apud Garcia (2012), o consumo está atrelado a forma de como somos vistos pelo mundo, o que muitas vezes por ser identificado de maneira totalmente indispensável torna o ser humano um escravo do mercado de consumo, perdendo-se em sua própria identidade.

O sujeito, então, investe no consumo para se destacar e acredita que assim, irá sair da “massa”. Essa ideia de mercadoria também reflete na forma como nos relacionamos, como ressalta Bauman (2004):

A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço (BAUMAN, 2004. p. 11).

Bauman (2004) analisa que cada vez mais o amor tem sido banalizado. O consumismo e imediatismo, levam o sujeito a acreditar que as habilidades de amar se potencializam com as experiências amorosas, porém, como ressalta o autor, isso gera episódios intensos e curtos, pois sempre se acredita que o próximo relacionamento será mais bem sucedido.

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Fonte: http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FO-desejo-como-antidoto-para-o-querer-na-sociedade-de-consumo%2F4%2F34684

Dessa forma, na pós- modernidade o casamento e as promessas feitas no altar não são mais garantias de segurança, uma vez que a rotatividade nos relacionamentos geram medos e inseguranças, pois, não se sabe se ao final do dia o relacionamento ainda existirá com toda solidez quanto o era na modernidade (BAUMAN, 2001).

Portanto, percebe-se que o grande avanço global e tecnológico, e fomentação da individualidade, imediatismo e consumo na contemporaneidade, cria no sujeito a falsa ideia de liberdade, fazendo com que este invista menos nos valores sólidos e duradouros, em contrapartida, temos como resultado a liquefação dos relacionamentos humanos.

De fato, a evolução que ocorreu e ainda ocorre na pós-modernidade tem seu lado benéfico e maléfico, na qual, temos a tecnologia como um dos fatores, em que ao mesmo tempo em que aproxima pessoas, distancia as mesmas. Fazendo com que as relações se tornam fragmentadas. Usando-se da prerrogativa de liquidez, Bauman (2001) nos apresenta uma sociedade que muda seus hábitos e rotinas de maneira rápida e desconcertante. Os interesses coletivos são deixados para trás, enquanto a satisfação individual é exaltada, não se importando com o bem estar do próximo.

A busca pelo imediatismo se torna cada vez mais comum, e já está impregnado no nosso corpo social. Buscamos atalhos para chegarmos aos objetivos, segundo Bauman (2004) “… numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados.” (BAUMAN, 2004. p. 11). Destarte, temos a liquidez como uma fundamental característica da pós-modernidade, impactando desde os relacionamentos afetivos, até a nossa vida cotidiana, no trabalho, sonhos e objetivos que almejamos alcançar.

 

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Fonte: http://www.materiaincognita.com.br/wp-content/uploads/2016/04/amor-liquido.jpg

 

Referências:

BAUMAN, Z.. Modernidade Líquida, Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2001.

_____O mal-estar da pós-modernidade. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 1998

_____Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2004.

_____Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2008.

CHAVES, J. Contextuais e Pragmáticos: Os relacionamentos amorosos na pós-modernidade. 2004, 212 f. Teses da UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Ed. Contraponto. Rio de Janeiro, 1997.

GARCIA, M. L. As relações de consumo no mundo contemporâneo. Brasilia, 2012. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,as-relacoes-de-consumo-no-mundocontemporaneo,38207.html Acesso em: 03 de setembro de 2016.

GUAHYBA, M.E.G.A; Magalhães, A.S. Escolha profissional na contemporaneidade: projeto individual e projeto familiar, Rev. bras. orientação profissional, vol.12, no.2 São Paulo, 2011.

TAFURI, Rodrigo; Liberdade e identidade na era pós-moderna: conflitos e contradições entre a abertura e a insegurança, Universidade Federal de Juíz de Fora, Juíz de Fora, 2010. Disponível em: <http://www.ufjf.br/graduacaocienciassociais/files/2010/11/Liberdade-e-identidade-na-era-p%C3%B3s-moderna-conflitos-e-contradi%C3%A7%C3%B5es-entre-a-abertura-e-a-inseguran%C3%A7a-parte2.pdf> acesso em: 03 de set. 2016.

SALADINO, Alejandra; Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos – Zigmunt Bauman. Rio de Janeiro, 2008.

TFOUNI, F.L.V e Silva, N; A modernidade líquida: o sujeito e a interface com o fantasma. Rev. Mal  Estar e Subjividade. V 8 n.1 Fortaleza, 2008.

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Os Deuses Devem Estar Loucos: máquinas ou humanos?

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Os deuses devem estar loucos é uma trilogia antiga (primeiro lançamento em 1980) que, através do cômico, levanta questões sociais e culturais pertinentes e reflexivas ainda na atualidade. No presente texto será abordado o primeiro da trilogia, que conta a história de Xixo, um bosquímano do deserto Kalahari, chefe de sua tribo, que ainda não tinha contato com o resto do mundo. A tribo mantem sua sobrevivência graças aos seus conhecimentos sobre a natureza, caça e coleta. Xixo logo enfrentará uma dura escolha, agindo de modo a proteger sua tribo, tal como suas crenças.

Fonte: http://migre.me/vFt1m

O filme inicia mostrando o cotidiano da tribo dos bosquímanos, que até então, está tudo dentro da normalidade para eles. Eis que Xixo avista um pássaro estranho no céu, que voa sem precisar bater as asas. Esse “pássaro”, na verdade, era um avião. O piloto está a tomar um refrigerante, cuja marca é conhecida mundialmente e é um dos maiores representantes do capitalismo (logo, se perceberá a genialidade do filme em usar esse símbolo). Então, o piloto joga a garrafa da Coca-Cola no deserto, vindo essa a cair perto de Xixo.

O bosquímano concebe aquele objeto estranho como um presente dos deuses (é um povo politeísta), pois, até o momento, tudo que ele e sua tribo recebiam dos deuses eram coisas boas, para ajudá-los, assim como a chuva. Isso porque os deuses amavam muito eles. Logo, aquele objeto torna-se atração na tribo, cumprindo funções que atendiam as necessidades de todos.

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Porém, o presente dos deuses logo mostra sua real face: causar discórdia no grupo. É importante ressaltar que a tribo não possui leis, os pais não castigam seus filhos, sendo todos ali livres para agir como queiram, não há o conceito de posse, tudo é de todos, não havendo brigas e disputas por nada. A paz reina entre eles. Mas a presença da garrafa muda isso, pois, “de repente, todos precisavam dela o tempo todo. Algo que nunca haviam tido, tornara-se indispensável” (narração do filme). Assim, os integrantes da tribo, que nunca haviam brigado antes, agora encontram-se em grande querela e violência uns com os outros, disputando pelo objeto mandado pelos deuses.

Xixo percebe que tudo isso está ocorrendo devido ao objeto, que agora passa a ser chamado por eles de coisa má. Depois de enterrar o objeto distante da tribo e ele retornar para lá (uma hiena o desenterra e uma das crianças da tribo o encontra), Xixo imagina que os deuses não querem a coisa má de volta, sendo responsabilidade dele levá-la ao fim do mundo para não causar mais problemas. Conversando com os membros da tribo, eles lhe dizem que o fim do mundo deve ser muito longe, então, sem entender por que os deuses mandaram a coisa má e por que não a queriam de volta, Xixo embarca em uma jornada cheia de novidades, um mundo diferente do que ele conhecia, tudo para dar fim ao objeto causador de discórdia.

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Fazendo parte de uma tribo que sobrevive com o que a natureza oferece e que a única visão de mundo que possuem é o campo desértico do Kalahari, Xixo, em sua jornada, se depara com “animais” nunca vistos por ele (carros de homens que estavam ali em missão, inclusive, esses homens também lhe eram estranhos, devido a sua palidez).

Mas a pior desventura ocorrida com Xixo se deve ao fato de, por um mal entendido, principalmente linguístico e cultural, ele ter sido preso. Com fome, Xixo avista um rebanho de cabras e tenta abater uma. Como não conhece nada das regras sociais, ele não entende que a cabra não é para todos, que é posse de alguém. Assim, é levado para o mais desconhecido mundo, sem árvores, sem animais, sem deserto, sem sua tribo e o pior, sem sua liberdade, apenas uma vasta solidão e um vazio angustiante guardados entre quatro paredes, onde ele se recusa até mesmo a se alimentar, pois nem isso seguia os padrões ao qual ele estava acostumado.

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A poucas milhas dali, há uma cidade, onde o povo é denominado como civilizado. É um povo que, segundo o narrador do filme, recusou-se a adaptar-se ao seu meio, então, adaptou o meio ao seu modo, construindo cidades, estradas, veículos, máquinas e redes elétricas para realizar seus projetos racionais. O problema é que o homem civilizado não soube quando parar, e o meio ao qual ele adaptou a si tornou-se complicado, tendo o homem que adaptar-se e readaptar-se constantemente ao meio criado por ele para conseguir sobreviver.

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Até então, várias reflexões já se tornam possíveis com o filme. São visíveis dois tipos de sociedade, uma que deixou a naturalidade original do mundo guiar seu modo de viver e outra que recusou isso. Podem ser levantadas questões acerca do capitalismo, desenvolvimento tecnológico, individualismo e como tais vêm influenciando a vida da maioria dos indivíduos.

Na sociedade dita como civilizada, percebe-se que aquilo que não é natural ao meio torna-se algo perigoso para ela, causando brigas, cansaço e mal estar nas pessoas. Fazendo uma correlação com a biologia, pode-se dizer que o meio/mundo é o corpo humano, aquilo que não é natural a ele são os invasores ou corpos estranhos ao organismo, e as brigas e o mal estar são os mecanismos de defesa que o organismo utiliza para expulsar o que não pertence a sua ordem.

Ou seja, percebe-se que as atividades que o homem civilizado passou a executar passaram a causar consequências negativas em suas vidas, como, por exemplo, ele ter que passar horas a fio trabalhando ou estudando como máquinas, esquecendo-se muitas vezes de sua humanidade, de suas relações, de aproveitar melhor o seu tempo, etc. Como reflexo disso, o filme mostra os bosquímanos, que seguem a ordem natural das coisas, sendo interpelados pela garrafa da Coca-Cola. Eis que ocorre uma mesclagem dos aspectos da sociedade civilizada e dos bosquímanos, de modo a enfatizar como a primeira influencia negativamente na segunda.

O objetivo do presente não é criticar o desenvolvimento tecnológico/industrial que o homem alcançou. Longe disso. Até por que é notável grandes avanços e descobertas que se deram graças a esse desenvolvimento. O problema está no fato de, como já foi dito, o homem não saber quando parar e não saber administrar aquilo que ele produz. Dessa forma, enxurradas de produtos são desenvolvidos, talvez sem haver real necessidade, e a humanidade se encontra em um mar de opções e acaba caindo em desespero frenético para obter, obter, obter, consumir, consumir, consumir, trocar, trocar, trocar.

E essa é uma das principais características do que Zygmunt Bauman (2000) chama de modernidade líquida, em livro de mesmo nome. Líquida por que tudo é fluido, tudo se esvai, assim como a água. A era do consumo exacerbado gerou indivíduos ansiosos, desejosos do imediatismo e da possibilidade de trocar produtos (quando não relacionamentos) que já não lhe satisfazem por outro melhor.

O individualismo passa a substituir relacionamentos substanciais. As pessoas passam a enxergar somente o “próprio umbigo” e a conceber os outros como meros coadjuvantes da existência humana, em que cada um se sente como sendo o principal protagonista (Adam Curtis, 2002).

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Levando isso em conta, retoma-se a história de Xixo que, em sua visão simplória da vida,  no momento antes de ser preso, é levado a julgamento e entra na sala sorrindo para as pessoas. Porém, ninguém retribui. No decorrer do filme, oberserva-se várias vezes essa atitude de Xixo, tão simples e bonita, mas tão escassa atualmente. Observa-se, também, ele ajudando pessoas que encontra ao longo de seu caminho, deixando por momentos a própria tarefa a qual ele se responsabilizou.

Talvez essa gentileza nos abraçaria comumente se o homem zelasse mais por sua humanidade e natureza e não permitisse que as máquinas ocupassem o lugar das suas relações.

FICHA TÉCNICA DO FILME

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS

Direção: Jamie Uys
Elenco: N!xau, Jamie Uys, Marius Weyers, Sandra Prinsloo;
Ano: 1980
Países: África do Sul/Botswana
Classificação: Livre

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