Como potencializar seus estudos por meio das redes sociais

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Mídias sociais têm sido utilizadas como ferramentas para auxiliar no processo de aprendizagem e de desenvolvimento de novas habilidades.

Quando pensamos em educação e no desenvolvimento de novas habilidades, muitas pessoas associam esses processos a modelos tradicionais de ensino, às vezes sem saber que o mesmo smartphone ou computador que eles usam para a comunicação e entretenimento pode também ser utilizado para potencializar seus estudos e desenvolver novas habilidades. Essa ideia tem sofrido desconstruções nos últimos anos devido ao contexto global de pandemia, quando profissionais da educação e alunos precisaram adaptar-se e transformar o único meio de comunicação viável em ferramenta de estudo e aprendizado: a internet.

Durante a pandemia, uma das ferramentas mais utilizadas para a facilitação do ensino a longa distância foi o Google Classroom, que permite que os professores postem atividades, entrem em contato com seus alunos, além de anexar documentos e outros materiais como vídeos do YouTube, entre outros. Com uma interface intuitiva, o Google Classroom possibilitou que pessoas em diferentes faixas etárias pudessem continuar seus estudos e processos de aprendizagem mesmo em um contexto complexo de pandemia global.

Fonte: Google

Entrando em outros saberes, a plataforma social Twitch oferece o contato entre “streamers” e seu público-alvo. Os streamers são aqueles que iniciam um vídeo ao vivo, e apesar da plataforma ser majoritariamente composta por conteúdos de jogos digitais, muitos streamers focam em passar seus conhecimentos de arte, música, e até gastronomia para seu público. Ao iniciar uma gravação ao vivo, o streamer é capaz de realizar um passo a passo com seu público e ensinando técnicas únicas que foram aprendidas ou desenvolvidas ao longo dos anos, transmitindo seus conhecimentos para iniciantes e aspirantes.

Outras plataformas sociais que têm feito sucesso são aquelas que possuem o objetivo de ensinar outras línguas a partir de conversas em tempo real com pessoas nativas, trazendo uma aproximação de quem aprende para contextos reais e mais possíveis de acontecerem em uma determinada cultura ou população. Algumas das redes sociais mais famosas para tais fins são: Duolingo, Cambly, Tandem, Preply, Open English, entre outras. Além disso, muitos usuários de redes sociais acabam entrando em contato com pessoas de outras nacionalidades e ao fazer amizades virtualmente, praticam suas habilidades de comunicação e idiomas a partir de tal correspondência, trocando experiências e conhecimentos sobre suas culturas, costumes, gírias e idiomas.

Atualmente, o Instagram também tem sido uma grande ferramenta para professores, mentores, e outros profissionais, divulguem e realizem cursos para seu público-alvo. Em sua maioria, o Instagram é uma forma de divulgação, contato inicial e breve introdução ao que será ensinado em seus cursos, e após efetuação de pagamento ou demonstração de interesse, migram para outra plataforma que eles possuem maior habilidade e contato com seu público, passando um filtro em quem de fato quer aprender e os adicionando em grupos de Telegram ou Whatsapp por exemplo para receberem aulas e dicas de forma exclusiva.

Outra ferramenta que tem sido bastante utilizada por professores e alunos, é o ChatGPT, uma plataforma que utiliza inteligência artificial. A ferramenta funciona a partir das interações dos usuários com a I.A., que acumula dados coletados e aprende cada vez mais de forma mais profunda sobre diversos assuntos diferentes, sendo utilizada para corrigir textos e explorar novas ideias, entre outras funções. Ela responde às demandas dos usuários de forma direta e objetiva, otimizando o trabalho de quem a utiliza e aumentando a produtividade.

Finalmente, apesar dos riscos que algumas tecnologias e mídias possam ter e suas influências negativas, também é possível transformar tais plataformas para outras finalidades de fatores positivos para seus usuários.

Referências

AFONSO, Lucas. Novas ferramentas digitais para professores. Disponível em: <link>

FIA, Business School. ChatGPT: o que é, como funciona e dicas para usar a ferramenta. Disponível em :<link>

POLIEDRO, Colégio. Tecnologia na educação: como as ferramentas digitais são utilizadas nas escolas? Disponível em: <link>

KENAN, Jamia. 15 ways to use social media for education. Atlanta-GA. Disponível em: <link>

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Educação sem distância

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As tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem.

Com os avanços da tecnologia, a educação a distância vem ganhando muita força nos últimos anos, se estabelecendo como uma alternativa viável e importante ferramenta de aprendizado, uma vez que colaboraram também para o ensino tradicional. O livro “Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem”, de Romero Tori (2010) oferece insights importantes em relação à evolução da tecnologia nas práticas pedagógicas.

O livro é divido em três partes centrais, “A distância que aproxima”, “Distância e presença na medida certa” e “A presença da tecnologia”, levando seus leitores a refletirem sobre o uso da tecnologia como prática pedagógica, considerando o importante papel para a democratização do acesso à educação e suas possíveis adaptações.

No início do livro, o autor aborda o tema da Educação a Distância (EaD), que historicamente foi tratada como uma abordagem educacional distinta e muitas vezes vista como oposta ao ensino presencial tradicional. O autor destaca como persiste um estigma em relação a essa modalidade de ensino, uma vez que ela teve suas raízes em um período em que a tecnologia era limitada. Até recentemente, era comum que a EaD fosse menosprezada, e os profissionais formados nessa modalidade eram frequentemente julgados em comparação com aqueles que obtiveram uma formação presencial. Tori observa, no entanto, que atualmente não é difícil encontrar graduados da Educação a Distância com desempenho superior a seus pares formados no sistema tradicional.

O livro proporciona uma reflexão importante sobre a educação que vai além das limitações físicas da sala de aula, enfatizando a necessidade de uma conexão entre o aluno e o conteúdo para que ocorra um aprendizado significativo. Também destaca que mesmo no ensino presencial convencional, elementos da educação a distância já estão presentes, sob a forma de “lição de casa” e “trabalho extraclasse”. É totalmente possível que um aluno esteja fisicamente presente em uma aula com um professor, mas, emocionalmente, desconectado do conteúdo apresentado, ao passo que, através da internet, esse mesmo estudante pode estar presente e engajado.

Para que a aprendizagem ocorra, o autor acredita que deve haver uma proximidade entre o aluno, o conteúdo e o professor. Para alcançar essa proximidade, é essencial superar barreiras e reduzir distâncias, e a tecnologia desempenha um papel fundamental nesse processo educacional. Apesar da importância dos métodos de ensino tradicionais, faz todo o sentido utilizar recursos avançados, ferramentas e métodos disponíveis para enriquecer a experiência educacional, independentemente do ambiente de ensino.

                                                                                                                       AbouYassin/Pixabay  

                                                 A tecnologia como aliada do aprendizado

Ainda nessa parte do livro, o autor traz a discussão sobre como a tecnologia interativa pode beneficiar a aprendizagem virtual e convencional, trazendo a ideia de educação híbrida. As tecnologias interativas estão possibilitando um aumento na sensação de proximidade pelos aprendizes, que seja através de videoconferências e chats. Para Cortelazzo (2000, p. 43), “as novas tecnologias computacionais interativas […] permitem que homens e mulheres desenvolvam colaborações mútuas mesmo estando distantes espacialmente”.

No capítulo intitulado “Distância e Presença na Medida Certa”, o autor aborda o tema da distância e da presença sob uma perspectiva educacional, psicológica e cognitiva, relacionando-os à tecnologia. Tori argumenta que é totalmente viável que os alunos sintam proximidade com o professor e se envolvam no processo de aprendizado, mesmo que não estejam fisicamente próximos.

O autor enfatiza a importância da proximidade com os colegas, pois esse vínculo desempenha um papel crucial na motivação dos estudantes e fornece um suporte valioso para o aprendizado. Nesse capítulo, Tori apresenta uma variedade de conceitos e ilustrações que sustentam a ideia fundamental de “distância” e “proximidade” no contexto educacional, proporcionando uma visão abrangente sobre como esses fatores influenciam a eficácia do processo de ensino e aprendizado.

Seja online ou offline, precisamos compreender o complexo aspecto humano […]. Mais que sistemas, redes são pessoas que anseiam por conversar, se apresentar, compartilhar conhecimentos tácitos, pensamentos críticos, conhecimentos científicos ou se unir para alcançar maior influência. (PASSARELLI, 2009, p. 325).

No último capítulo “A presença da tecnologia” Tori fala sobre a educação baseada em tecnologias interativas, sobre suas características e sobre pontos que precisam de melhores adequação para que haja tecnologias que favorecem uma melhor padronização, armazenamentos de dados e recursos educacionais.

Neste capítulo o autor mostra como os softwares podem auxiliar no ambiente de aprendizagem, tecnologias que podem armazenar dados, criar estatísticas, gerar avaliações, enquetes, fóruns e diversas outras aplicações que podem aumentar a proximidade dos alunos com a instituição, os professores e os colegas, sem que eles precisem está geograficamente próximos.

Ainda nesse capítulo o autor trás a relevância da realidade virtual (RV) como ferramenta de interação e aprendizagem, atuando como um meio de reduzir a distância entre o aluno e o conteúdo, possibilitando uma maior imersão ao conteúdo proposto, logicamente essa experiência não desvalida a interação In loco, no entanto, oferece ao usuário um possibilidade de se aproximar da experiência real, e de resgatar coisas do passado, e cenários como o sistema solar, por exemplo.

                                                                                                                             YohoprashantPixabay

Realidade aumentada

Em um passado não muito distante, a utilização da realidade virtual era predominantemente viável apenas para grandes empresas devido aos custos envolvidos. No entanto, à medida que a tecnologia avançou, tornou-se possível, por meio de um smartphone e um dispositivo de visualização simples, mergulhar nessa experiência, tornando-a cada vez mais acessível e disponível para um público mais amplo. A experiência com a realidade virtual vai além de meras imersões superficiais; atualmente, existem tecnologias capazes de proporcionar aos usuários uma experiência que se assemelha muito à realidade.

Em seu livro, Tori (2016) oferece um exemplo relacionado ao treinamento odontológico. Antes de aplicarem seus conhecimentos em pacientes reais, os estudantes de odontologia costumavam praticar em manequins e objetos de treinamento. No entanto, com a realidade virtual, esses alunos agora podem vivenciar simulações que reproduzem com precisão pacientes, consultórios e diversos instrumentos, permitindo que eles se aproximem muito mais da realidade. A partir deste exemplo, é possível perceber a ampla gama de possibilidades que essa ferramenta oferece, não apenas no campo da odontologia, mas em diversas áreas do conhecimento e da prática profissional.

Consideramos ainda que as discussões trazidas por Tori são muito importantes para que possamos compreender o uso da tecnologia na educação e fazer melhor uso dela, para que possamos ter uma educação que se faz próxima ao aluno, desmistificando alguns conceitos, e estando aberto para as ferramentas de aprendizado que a tecnologia pode contribuir para a educação.

 

 Referências

CORTELAZZO, I. B. C. Colaboração, trabalho em equipe e as tecnologias de comunicação: relações de proximidade em cursos de pós-graduação. 2000. Tese (Doutorado)—Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

PASSARELLI, B. A aprendizagem on-line por meio de comunidades virtuais de aprendizagem. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. (Org.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. V. 1. p. 325–331.

TORI, R. et al. Treinamento odontológico imersivo por meio de realidade virtual. In:

Anais do XXVII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, 2016

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“Mentes Perigosas” – vínculo professor e aluno no processo de aprendizagem

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Uma Professora, seus Alunos e a jornada para transformar  a educação em uma comunidade “marginalizada.”

Lançado em 1995, o drama dirigido por John N. Smith, com roteiro de Ronald Blass narra a história de Louanne Jonhson uma ex-militar da marinha americana que abandonou sua carreira para seguir com o sonho de se tornar professora. O filme apresenta um recorte da década de 1980, especificamente retratando uma turma de alunos taxados pela a instituição de ensino como problemáticos, e a missão dada a  Louanne é ser a nova professora desses alunos.

A chegada de Louanne na instituição se dá por Hal Griffith, um amigo e professor do local, que aparenta descontentamento com o currículo de ensino do local, mas que prefere seguir os planos de ensino orientados. Esse amigo apresenta a oportunidade de estágio para a personagem e então ela vai ao encontro com uma espécie de coordenadora acadêmica. Neste cenário, acabam contratando ela para uma vaga efetiva.

Essa turma em especifico é composta por negros, latinos e asiáticos considerados problemáticos, e o filme apresenta o contexto de pobreza, violência e marginalização desses jovens, que agrupados geraram no ambiente escolar um espaço para pegação, uso de drogas e acerto de contas. O primeiro contato da professora com os alunos não foi como a personagem esperava, a resposta dos alunos frente a uma nova docente foi de extrema fúria, intimidação e banalização, tendo em vista que Louanne não era a primeira pessoa a tentar lecionar nessa turma.

                                                                                        Fonte: https://encurtador.com.br/uAEZ3                                                                           Imagem de divulgação

Logo na primeira aula, a professora chega e tenta conduzir a aula de forma convencional e de acordo com as normas e diretrizes da escola, no entanto os alunos se mostraram indisciplinados, e por diversas vezes a ignoraram. Com isso, Louanne sai imediatamente da sala de aula e se vê em um momento de tristeza, se sentindo certa de que não voltaria. Neste momento, seu amigo Hal, vendo a professora em desespero, decide estimulá-la a buscar novos meios de prender a atenção dos alunos.

Ela então passou a utilizar práticas alternativas e que despertam a atenção dos alunos, favorecendo o vínculo com eles. O vínculo entre professor e aluno, neste cenário, se torna um propulsor para a evolução dos discentes. No entanto, a inovação iniciada pela professora não passou despercebida pela direção escolar. Suas ações e práticas práticas foram,  por diversas vezes, questionadas pela a direção da instituição, a despeito do resultado positivo na interação com os alunos. Aqui parte uma crítica em relação a padronização do ensino, podendo ofertar pouco espaço para métodos alternativos que seriam mais coerentes para as diversas necessidades e preferências de pessoas diferentes.

Para despertar o protagonismo dos alunos e ter êxito em ajudá-los, a professora passou a buscar novos caminhos, inovar e buscar uma linguagem que se aproximasse da realidade deles, para que a partir disso eles pudessem enxergar o potencial de aprendizado deles. Estimulando a leitura através de premiações em busca de uma aprendizagem contínua . E aqui podemos fazer outra reflexão acerca do papel do professor para além de um currículo fechado, para de fato um agente de desenvolvimento/aprendizagem.

O filme apresenta o vínculo de professor e aluno como ferramenta importante para o processo de aprendizagem, Louanne chegou a visitar comunidades, conhecer a família de alguns dos seus alunos, e intervir em brigas e discussões, gerando na turma um sentimento que eles não estavam acostumados, levando inclusive ao questionamento do porque ela se importava com o futuro deles, preocupação essa que o filme relata não acontecer no próprio lar dos jovens.

                                                               fonte: https://encurtador.com.br/uAEZ3

Imagem de Divulgação

O filme leva a reflexão mostrando que por um lado havia a rigidez da instituição em não aceitar as estratégias de aprendizagem da professora, pois fugiam da perspectiva tradicional de ensino. Neste cenário, em diversos momentos, a inovação provocada por Louanne  era alvo de desestimulação ou mesmo punição. Por outro lado, o amigo da professora, Hal,  embora discorde da perspectiva de ensino bancária defendida pela escola, prefere manter uma postura de anuência diante das regras instituições, mesmo tendo ciência dos prejuízos delas.

Para Mello e Rubio (2013,  a aprendizagem vai além do ato de ensinar, eles colocam o afeto como característica importante para o papel de educador, auxiliando na tomada de consciência dos seus alunos perante a sociedade. Este meio social  de sentimentos que irá intervir no processo de aprendizagem, são detalhes em um dia escolar que definirá a influência na aprendizagem (MAIA, 2012).

A ideia de um ensino que envolve esse afeto, é por diversas vezes percebidos pelos próprios alunos, um exemplo muito forte é quando um deles se envolvem em uma briga externa que levou a sua morte, Louanne fica abalada pois havia estabelecido um forte vínculo com o aluno e a turma, e então decide abandonar o cargo. No entanto, em conjunto os alunos uniram forças para convencê-la de que eles precisam da continuidade.

E por mais que aplicado aos dias atuais, a postura do sistema educacional pode discordar de diversos métodos escolhidos por ela no decorrer do processo, como usar chocolates como recompensa para estimular o aprendizado. No entanto, a reflexão que o filme produz, nos leva a pensar que mais importante do que aquilo que é feito (como dar ou não chocolate) é o efeito que isso produz sobre o aprendizado e sobre vínculo entre professor e aluno. Neste sentido, faz-se necessária a consideração parcimoniosa e crítica em relação ao método de aprendizagem e ao tipo de relações construídas nos diversos contextos de formação educacional.

Referências:

MELLO,   Tágides;   RUBIO,   Juliana   de   Alcântara   Silveira. A   Importância   da Afetividade na Relação Professor/Aluno no Processo de Ensino/Aprendizagem na  Educação  Infantil.

MAIA, Heber, Necessidades Educacionais Especiais. Adriana Rocha Brito. (et al); Heber Maia (org). Rio de Janeiro: Walk Editora, 2011.

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“Como estrelas na terra”: uma história emocionante para professores, pais e alunos

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No DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a dislexia é um transtorno neurobiológico que afeta a capacidade de leitura, escrita e soletração de palavras.

Toda criança é especial
Capa do filme: Como estrelas na terra

O filme “Como estrelas na terra” conta a história de um garoto de 8 anos chamado Ishaan Awasthi (Darsheel Safary), ele sofre de dislexia, estuda em uma escola normal e repetiu uma vez o terceiro período e está correndo o risco de isso acontecer de novo. O menino diz que as letras dançam em sua frente e não consegue acompanhar as aulas e nem prestar atenção. Seu pai acredita que ele é indisciplinado e o trata com rudez e falta de sensibilidade. Ele enfrenta muitos problemas na escola e é considerado um aluno problemático.

Quando o pai é chamado na escola para conversar com a diretora, ele decide levar o filho a um internato. O menino fica com menos vontade de aprender e de ser uma criança, ele acaba ficando deprimido, sente a falta da mãe, do irmão mais velho e da vida. A filosofia do internato é “Disciplinar Cavalos Selvagens”. De repente aparece um professor substituto de artes, este não era um professor tradicional, não seguia rigorosamente as normas da escola, tem uma metodologia própria.

Quando o professor conhece Ishaan, percebe que o menino sofre de dislexia e decide ajudá-lo. Este não era um problema desconhecido pelo educador que decide tirar o garoto do abismo no qual se encontrava. Segundo Fernandes (2015) aponta que a Dislexia é um transtorno específico de aprendizagem, de origem neurológica. Acomete pessoas de todas as origens e nível intelectual e caracteriza-se por dificuldade na precisão (e/ou fluência) no reconhecimento das palavras e baixa capacidade de decodificação e de soletração. Essas dificuldades são resultadas do déficit no processamento fonológico, que normalmente está abaixo do esperado em relação a outras habilidades cognitivas.  

No DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a dislexia é um transtorno neurobiológico que afeta a capacidade de leitura, escrita e soletração de palavras. Há outros como cita cechella (2009) menciona que na Dislexia também apresenta alterações na memória imediata, alterações na memória de séries e sequências (por exemplo: dia da semana, meses do ano e analfabeto) orientação espacial direita-esquerda; linguagem, escrita e matemática.

 O professor de artes Nikumbh, ensinou Ishaan a ler e escrever, a partir desse momento o menino vai superando a opressão da família e suas próprias limitações, passa a ver a dentro da escola, um novo significado. O filme mostra a importância do professor e seu poder de transformação nos alunos. É necessário que o educador tenha sua própria metodologia de ensino, de forma a estimular a compreensão dos alunos, tornando a sala de aula, um lugar agradável e estimulante.

Na escola onde Ishaan estudava, os professores só corrigiam os erros gramaticais dele e não percebiam que ele era uma criança especial, que precisava ser compreendida, e junto com seu professor pudesse ampliar seus conhecimentos, desenvolvendo a habilidade de leitura e escrita.  O filme trata de forma delicada e inspiradora a importância da educação inclusiva que respeita as diferenças e oferece oportunidades para que cada aluno possa desenvolver suas habilidades e potencialidades. A educação inclusiva é fundamental para garantir que todas as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade, independentemente de suas diferenças e limitações. E a dislexia é um exemplo de uma condição que pode afetar o desempenho acadêmico de uma criança, mas que com as estratégias corretas pode ser superada. As crianças com dislexia podem apresentar dificuldades em compreender textos, memorizar palavras e letras, e escrever corretamente. Essas dificuldades podem levar a uma série de problemas escolares, acadêmicos, sociais e emocionais, como baixa autoestima, isolamento e dificuldades de aprendizagem. 

A dislexia é um transtorno genético e hereditário relacionado à linguagem.
Fonte: lourdesnique / pixabay

Nesse contexto, a educação inclusiva segundo Ferreira (2022) é uma abordagem que valoriza a diversidade, e que busca criar ambientes educacionais que sejam acessíveis e acolhedores para todas as crianças, incluindo aquelas com dislexia. Isso envolve o desenvolvimento de estratégias pedagógicas que atendam às necessidades individuais de cada aluno, e que considerem as diferenças cognitivas e emocionais de cada um. Segundo Fernandes (2015) algumas estratégias que podem ser adotadas para ajudar crianças com dislexia na escola incluem o uso de materiais didáticos adaptados, o uso de recursos tecnológicos, como softwares de leitura e escrita, e a oferta de suporte especializado, como sessões de terapia ocupacional e fonoaudiologia. Também é importante oferecer um ambiente de aprendizagem seguro e acolhedor, que permita que a criança se sinta confiante para experimentar e aprender.

Sobretudo, a educação inclusiva é fundamental para garantir que todas as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade, independentemente de suas diferenças e limitações. E no caso da dislexia, é fundamental que sejam adotadas estratégias pedagógicas específicas para ajudar as crianças a superar as dificuldades de aprendizagem e desenvolver suas habilidades e potencialidades. Vale ressaltar que a psicologia escolar desempenha um papel importante na promoção da educação inclusiva, pois ela busca entender as necessidades individuais de cada aluno e desenvolver estratégias pedagógicas que atendam às suas demandas.

E segundo Bock (2013) a psicologia escolar pode contribuir para a educação inclusiva de diversas maneiras. Uma delas é através da avaliação psicológica, que permite identificar possíveis transtornos ou dificuldades de aprendizagem dos alunos, como a dislexia, o déficit de atenção, entre outros. A partir dessa avaliação, o psicólogo pode ajudar a equipe pedagógica a desenvolver estratégias de ensino que sejam adaptadas às necessidades específicas de cada aluno. Outra forma pela qual a psicologia escolar pode contribuir para a educação inclusiva é através do suporte emocional aos alunos, especialmente aqueles que possuem alguma limitação ou transtorno. 

O psicólogo escolar, tem o papel de promover a melhoria no aprendizado e detectar possíveis falhas no processo.
Fonte/pexels

Outro aspecto que merece destaque no filme é a forma como trata a relação entre pais e filhos. A história mostra como a falta de compreensão e a pressão excessiva podem prejudicar a autoestima e o desenvolvimento das crianças, mas também mostra como uma relação baseada em amor, compreensão e diálogo pode ser transformadora. O psicólogo escolar pode ajudar esses alunos a lidar com suas emoções, aumentar sua autoestima e desenvolver habilidades sociais, o que pode ajudá-los a se integrar melhor na comunidade escolar. Como também o psicólogo escolar pode mediar a relação entre pais e filhos nesse contexto e desafios escolares.

Contudo, o filme apresenta de forma muito realista os desafios que crianças com dificuldades de aprendizagem enfrentam, e como muitas vezes a falta de compreensão por parte dos adultos pode agravar ainda mais a situação. A psicologia escolar também pode ajudar a equipe pedagógica a desenvolver programas de prevenção de bullying e discriminação, que são práticas que podem prejudicar a inclusão escolar e a promoção de um ambiente educacional saudável e seguro para todos. O filme, “Como Estrelas na Terra” é emocionante e inspirador que deve ser visto por todos, principalmente por educadores e pais que buscam compreender melhor as dificuldades que as crianças enfrentam na escola e na vida. É uma obra que deve ser assistida por todos que se preocupam com a educação e com o desenvolvimento humano. 

REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association. DSMIV: Manual de  Diagnóstico  e  Estatística  das Perturbações  Mentais.  Lisboa:  Climepsi  Edi-tores; 1996

BOCK, A. M. B. Psicologia da educação: cumplicidade ideológica. Em M. E. M. Meira & M. A. M. Antunes (Orgs.), Psicologia escolar: Teorias críticas (pp.79-103). São Paulo: Casa do Psicólogo. 2003 . Disponível em <: https://www.scielo.br/j/pee/a/kFwV6k4ThTqNSNpp6NYmPft/?lang=pt >. Acessado em 21 março. 2023.

CECHELLA, C.; DEUSCHLE, V. P. O déficit da consciência fonológica e sua relação com a dislexia: diagnóstico e intervenção. Revista CEFAC, v. 11, supl. 2, p. 194-200, 2009. Disponível em <: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/205753/PLLG0755-D.pdf?sequence=-1&isAllowed=y >. Acessado em 21 março. 2023.

FERREIRA, Felipe. Educação inclusiva: quais os pilares e o que a escola precisa fazer?. São Paulo/SP. Disponível em <: https://www.proesc.com/blog/educacao-inclusiva-o-que-a-escola-precisa-fazer/ >. Acessado em 21 março. 2023.

FERNANDES WM, Lima RF, Azoni CAS, Ciasca SM. Neuroimagem e dislexia do desenvolvimento. In: Ciasca SM, Rodrigues SD, Azoni CAS, Lima RF, eds. Transtornos de aprendizagem. Neurociência e Interdisciplinaridade. São Paulo: Book Toy; 2015. p.339-54 

MENEZES, R. P. Intervenção psicopedagógica com uma aluna disléxica. Dissertação. (Mestrado em Educação). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica, 2007. Disponível em <: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/205753/PLLG0755-D.pdf?sequence=-1&isAllowed=y >. Acessado em 21 março. 2023.

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Efeitos da Dificuldade de Aprendizagem

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Tais dificuldades podem influenciar na baixa autoestima da criança e adolescente

São vários os fatores que podem influenciar no processo de Aprendizagem
Fonte: Foto de formulário PxHere

É importante mencionar que quando se fala de dificuldade de aprendizagem, considera-se qualquer fator que pode influenciar no aprendizado de uma criança ou adolescente, às vezes questões sensoriais, auditivas ou até mesmo alteração no comportamento, isso engloba o todo incluindo problemas emocionais que esse indivíduo possa estar sentindo.

Uma das maiores preocupações dos pais e professores é com a alfabetização da criança nas séries iniciais, é muito comum em sala de aula que algumas crianças apresentem dificuldades e nem sempre se trata de um transtorno específico e sim de déficit na aquisição de habilidades necessárias no processo de leitura e escrita. Essas habilidades são adquiridas por meio de estímulos, ou seja, o meio que a criança está inserida influencia muito no processo de aprendizagem de modo geral e é de fundamental importância que esse processo tenha uma parceria entre família e escola.

Existem diferentes metodologias de ensino, não necessariamente uma é melhor que a outra, mas algumas crianças e adolescentes se adaptam melhor a determinada metodologia, é necessário ter esse olhar voltado para o aluno com o intuito de auxiliá-lo a perceber a melhor maneira de absorver conhecimento, pois dependendo da dificuldade que esse indivíduo está se deparando no ambiente escolar, pode de certa forma desencadear problemas emocionais como: Insegurança, desmotivação e baixa autoestima.

Existem crianças que não apresentam dificuldade nenhuma e conseguem aprender com qualquer metodologia, mas vale ressaltar que cada indivíduo é único e apresenta mais facilidade em algumas coisas e outras não, e às vezes a expectativa que os pais projetam no filho, pode contribuir para uma dificuldade ou dissociação do desempenho da criança na expectativa dela e da família. 

Vygotsky fala sobre a importância da interação social no processo de aprendizagem
Fonte: Imagen de Kris en Pixabay

Às vezes a criança não consegue lidar com alguns desafios, dentre aprender a ler e escrever no mesmo ritmo dos demais colegas de sala, e se não for bem entendido por ela, pode se tornar impotente frente a essa situação e começar a desencadear fatores emocionais, influenciando em suas relações e seu desenvolvimento. Para Fonseca, (1995) “o insucesso escolar é, de certa forma, a antevisão da desorganização social. Se falha em qualquer estágio da escolaridade, as hipóteses de sucesso na vida são amplamente diminuídas”.

Por motivos diversos o fracasso escolar pode começar ainda no período de alfabetização, por não conseguir ter sucesso na habilidade de leitura e escrita pode provocar exclusão, timidez, desmotivação, influenciando negativamente na construção da autoestima. Goulart (2007) afirma que a “incapacidade de ler e escrever textos válidos socialmente gera nos alunos sentimentos de incompetência e impotência que reforçam a sua desqualificação social”.

No ambiente escolar o professor deve olhar para cada criança e adolescente como um todo e procurar fortalecer o vínculo entre professor/aluno, pois a aprendizagem é construída com as relações, não está ligada apenas aos aspectos cognitivos inclui aspecto físico, social e emocional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, em seu artigo 22, Parágrafo único, afirma que “são objetivos precípuos da educação básica a alfabetização plena e a formação de leitores, como requisitos essenciais para o cumprimento das finalidades constantes do caput deste artigo”.

É importante enfatizar que a escola tem um papel especial na educação das crianças, mas a família também é peça fundamental nesse processo, pois o hábito de leitura é um comportamento aprendido e quando os pais são modelo e incentivam os filhos, contribui positivamente com a habilidade de ensino/aprendizagem. 

Estudos apontam que na menor parte dos casos de crianças/adolescentes que não são alfabetizados realmente se tem um transtorno de aprendizagem, mas na imensa maioria dos casos se tem algum outro fator externo e por isso é necessário uma investigação pontual para tentar sanar essa dificuldade para este indivíduo desenvolver seu potencial. 

Punições, críticas constantes, comparações de desempenho pode gerar na criança uma baixa autoestima. Ter boa autoestima é fundamental para lidar com os conflitos do cotidiano, ela é sinônimo de confiança, de acreditar que a gente é capaz de encarar determinada situação, de aceitar a si e aos outros.

A pessoa com boa autoestima tem condições de enfrentar os desafios que a vida lhe apresenta
Fonte: Imagen de Victoria_Watercolor en Pixabay

Para Brander (2000) “autoestima é a confiança na capacidade de pensar, confiança na habilidade de dar conta dos desafios básicos da vida e no direito de vencer e ser feliz”. Portanto valorize as conquistas da criança e adolescente por menor que seja, isso contribui para o senso de dedicação, de querer dá o seu melhor naquilo que faz, pois sabe que seu esforço está sendo notado.  

Referências

BRANDEN, N. Autoestima e seus pilares. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

FONSECA, V. da. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.  

GOULART, C. Processos de letramento na infância: aspectos da Complexidade de processos de ensino aprendizagem da linguagem escrita. In: SCHOLZE e ROSING, Lia Tânia M. K. (Org). Teoria e Práticas de letramento. Brasília: INEP, 2007.

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. – 6. ed. – Brasília, DF: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2022. Disponível em <: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/600653/LDB_6ed.pdf?sequence=1&isAllowed=y >. Acessado em 26 fev. 2023.

VYGOTSKY, L.S. Formação social da mente. Trad.: NETO, J.C. BARRETO L. S. M. AFECHE, S.C. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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(Re) Aprendendo a aprender – Ressignificando as práticas de ensino carterárias

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A educação em si é formada por distintas figuras que, juntas, criam um movimento dinâmico e contínuo. Os estudantes, por exemplo, formam parte desse ambiente dinâmico e interativo.

O ato de aprender carrega singularidades e desafios que devem ser considerados no processo de formação. Aspectos econômicos, sociais, culturais e geográficos são alguns dos elementos que podem estar diretamente associados ao nível de escolaridade alçado e à valorização da formação acadêmica como estratégia de superação da realidade. Fica a pergunta: como se formar em meio a tantos desafios?

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes estudantes, da rede pública e privada para falarem sobre os desafios da formação acadêmica no Brasil. Nesta série de entrevistas eles falam sobre trajetória acadêmica, os aprendizados e os desafios que ainda precisam ser superados. As narrativas nos mostram o cenário atual de precarização não só das estruturas de formação, mas também do baixo índice de criticidade e autonomia dos alunos sobre seu processo de formação. Precisamos (re)aprender a aprender.

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de aprender livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados e das instituições de ensino. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, estudantes da rede pública e privada de nosso país.

O principal objetivo desta série de entrevistas é o de buscar compreender as vivências e as percepções que estudantes carregam do seu processo de formação acadêmica. Dessa forma, buscamos nos aproximarmos da realidade atual para só então questionarmos a respeito das práticas e da constituição do sistema de ensino brasileiro em meios às suas múltiplas determinações. Nossas escolas e professores operam a serviço de quem? Quem e para quem estamos formando nossas crianças, adolescentes e jovens? É possível construir um futuro libertador e democrático por meio da educação? Se sim, quais caminhos devemos trilhar?

Se olharmos com mais acuidade para os métodos e as práticas docentes talvez possamos entender de que forma o ensino pode agregar e impactar a vida dos estudantes.

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Desafios da Docência no Ensino Médio: atuação de professores na rede pública

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O ato de ensinar carrega singularidades e desafios que devem ser levantados, para assim ser possível entender o processo de aprendizagem e o contexto em que ocorre esse movimento. Levando em consideração o mundo volátil em que vivemos, faz-se necessário dar voz àqueles que fazem parte de ambientes escolares e acadêmicos, sendo essa uma forma de fomentar melhorias e constantes reflexões.

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes professores da rede pública de diferentes níveis de ensino (maternal, fundamental, médio e superior) para falarem sobre os desafios de ensinar. Nestes espaços as professoras e os professores puderam relatar suas experiências pessoais e profissionais. As realidades narradas em cada entrevista são um convite para pensarmos sobre a educação, sua constituição, sua disseminação e em como ela pode ser aperfeiçoada para ser significativa a todos e todas:  “O educador se eterniza em cada ser que ele educa” (Paulo Freire)

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de ensinar livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, professores e professoras da educação pública e privada de nosso país.

O convidado de hoje é professor do ensino médio na rede pública e tem 46 anos. Possui um currículo extenso e vasta experiência profissional. Relata certas dificuldades em sua atuação, porém enxerga os pontos positivos de atuar em sua área, sendo esses pontos os reais que o motivam a prosseguir.

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

(En)Cena: Como foi a sua trajetória até se tornar professor? Por que você escolheu a docência?

Resposta: No ensino fundamental eu já apreciava a docência. Decidi cursar Biologia para atuar tanto na área específica e na docência. Comecei a lecionar na cidade de Ouricuri – PE, com 17 anos quando consegui entrar na faculdade e obter um contrato temporário. Escolhi ser docente por achar uma profissão que desperta a essência da sabedoria. A transmissão do conhecimento e suas nuances foi o gatilho para esta minha jornada de 29 anos em sala de aula.

(En)Cena: Qual o seu principal objetivo como professor? Você diria que alcança tal objetivo a cada ano?

Resposta: O meu principal objetivo como professor é poder ajudar algumas pessoas a olharem o mundo de forma diferente e se adaptarem da melhor forma. A cada ano eu alcanço o objetivo, porém, com um número menor de pessoas.

(En)Cena: Levando em consideração que a escola/faculdade é um ambiente repleto de pessoas com características singulares, de que forma você lida com a diversidade subjetiva de cada estudante? Você percebe a escola como um ambiente inclusivo?

Resposta: O modelo de escola pública que trabalho não permite olhar a diversidade da forma adequada. A escola que trabalho possui algumas ações de inclusão, mas longe de um padrão desejado.

(En)Cena: Como é ser professor do ensino superior na rede privada atualmente?

Resposta: Decepcionante. Sem horizontes e pouco estímulo para seguir ou convencer outros a seguirem.

(En)Cena: Como você avalia a escola nesse processo de formação de indivíduos e de que maneira, dentro da sua profissão, você consegue perceber que está contribuindo com esse movimento?

Resposta: A escola atual adota postura quantitativa diante do processo ensino-aprendizagem. O objetivo agora é aprovar alunos sem avaliar a aptidão do mesmo para as séries seguintes.

(En)Cena: Como está a saúde mental dos professores na atualidade?

Resposta: Eu já consegui manter um modelo que permite ser paciente diante das adversidades.

(En)Cena: A educação é capaz de mudar vidas? De que forma? Como os professores podem influenciar esse processo?

Resposta: Claro. É por isso que continuo neste processo. Há jovens que buscam algo pela educação. É para este público que nos dobramos mais um pouco. Os professores sozinhos não conseguem mudar o modelo educacional atual. A saída seria uma reformulação principalmente no processo avaliativo.

(En)Cena:  Na sua opinião, para onde a educação está caminhando? O que podemos esperar de nossos jovens no futuro enquanto sociedade e qual o papel da escola na formação dessas crianças/jovens/indivíduos?

Resposta: Está caminhando para se transformar em uma atividade dispensável para os jovens. Nesse modelo atual, não podemos esperar muita coisa vinda dos jovens. A sociedade está evoluindo de maneira assimétrica, tangencial e a deriva.

Autora: Maria Laura Máximo Martins

 

 

 

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Desafios da Docência no Ensino Superior: atuação de professores na rede pública

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O ato de ensinar carrega singularidades e desafios que devem ser levantados, para assim ser possível entender o processo de aprendizagem e o contexto em que ocorre esse movimento. Levando em consideração o mundo volátil em que vivemos, faz-se necessário dar voz àqueles que fazem parte de ambientes escolares e acadêmicos, sendo essa uma forma de fomentar melhorias e constantes reflexões.

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes professores da rede pública de diferentes níveis de ensino (maternal, fundamental, médio e superior) para falarem sobre os desafios de ensinar. Nestes espaços as professoras e os professores puderam relatar suas experiências pessoais e profissionais. As realidades narradas em cada entrevista são um convite para pensarmos sobre a educação, sua constituição, sua disseminação e em como ela pode ser aperfeiçoada para ser significativa a todos e todas: “O educador se eterniza em cada ser que ele educa” (Paulo Freire).

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de ensinar livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, professores e professoras da educação pública e privada de nosso país.

A entrevistada de hoje é com uma professora do Ensino Superior na Rede Pública de nosso país, mais especificamente na região norte. Observamos ao longo da entrevista reflexões a respeito da prática e atuação dessa profissional, suas expectativas e anseios em torno da realidade da educação no Brasil,  e como é importante considerar as singularidades de cada indivíduo que está inserido e dentro do contexto de uma universidade pública.

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

En(Cena): Como foi a sua trajetória até se tornar professor (a)? Por que você escolheu a docência?

Resposta: A minha primeira experiência na docência ocorreu muito cedo, ainda adolescente quando cobri uma licença saúde de uma professora numa turma de alfabetização. Muitos anos depois, já formada e exercendo outra atividade, fui convidada a ministrar disciplinas que guardavam correlação com a minha atuação profissional em uma Universidade, adorei a experiência e  passei a exercer a docência. Por isso afirmo, que a atividade como docente ocorreu de uma forma muito natural, sem que eu planejasse seguir uma carreira como professora. Acredito ter sido escolhida pela docência.

En(Cena):  Qual o seu principal objetivo como professor? Você diria que alcança tal objetivo a cada ano?

Resposta: O meu principal objetivo na docência é buscar estabelecer com os alunos e alunas um processo de troca de aprendizagens e vivências. Difícil afirmar se esse objetivo é alcançado na sua inteireza, mas é muito gratificante a busca para alcançá-lo.

En(Cena):  Levando em consideração que a escola é um ambiente repleto de pessoas com características singulares, de que forma você lida com a diversidade subjetiva de cada estudante? Você percebe a escola como um ambiente inclusivo?

Resposta: Para lidar com a diversidade subjetiva de cada acadêmico e acadêmica busco respeitar as suas singularidades, ou seja, o modo de ser, estar no mundo e relacionar-se de cada pessoa. Percebo que o ambiente universitário se torna cada dia mais inclusivo, apesar de várias barreiras sociais e culturais a serem rompidas.

En(Cena): Como é ser professor (do ensino maternal/ fundamental/ médio/ superior) na (rede pública/rede privada) atualmente?

Resposta: Desafiador, em vários sentidos. Os períodos de pandemia e pós-pandemia trouxeram vários desafios que levaram a repensar práticas, a questionar modelos postos e a alterar o processo de aprendizagem e a relação aluno/professor.

En(Cena): Como você avalia a escola nesse processo de formação de indivíduos e de que maneira, dentro da sua profissão, você consegue perceber que está contribuindo com esse movimento?

Resposta: Acredito que traçar um diagnóstico de como as faculdades influenciam e contribuem na formação profissional do indivíduo esteja muito relacionado com a proposta e os objetivos da instituição para lidar com as diferentes realidades que permeiam o espaço universitário e como as universidades buscam e possibilitam ao universitário o descolamento de barreiras e preconceitos, capacitando-os para um exercício profissional para além do individualismo, mas na consecução do bem comum.

En(Cena): Como está a saúde mental dos professores na atualidade?

Resposta: A atividade docência é uma das únicas que o profissional trabalha antes, durante e depois do horário tido como de trabalho, num ciclo contínuo. Antes, ministrando a aula no planejamento; durante, transmissão do conhecimento durante as aulas; e após, com a correção de trabalhos e avaliações.  Ciclo que requer dedicação e capacidade relacional que podem tanto gerar um sentimento de satisfação com o êxito; como de fracasso e adoecimento nos menores insucessos.

En(Cena): A educação é capaz de mudar vidas? De que forma? Como os professores podem influenciar esse processo?

Resposta: A educação muda vidas na medida em que capacita o sujeito às transformações pessoais e sociais, rompe ciclos e possibilita ao sujeito um desenvolvimento pessoal criativo. Os professores influenciam nesse processo não apenas compartilhando conhecimento, mas principalmente incentivando um pensar crítico, inovador e propositivo.

En(Cena): Na sua opinião, para onde a educação está caminhando? O que podemos esperar de nossas crianças no futuro enquanto sociedade e qual o papel da escola na formação dessas crianças?

Resposta: Difícil apontar a direção em que a educação está caminhando, mas é importante que possibilite às pessoas um desenvolvimento intelectual e criativo. Acredito na nossa juventude e sua capacidade transformadora. Num país como o Brasil, de grande contradições e fortes diferenças sociais, a faculdade tem o importante papel de tornar o processo de conhecimento um espaço de construção e respeito das diferentes subjetividades,  de fomento à liberdade de pensamento que amplifique o contato com a consciência e busque inovações sociais que aproximem as pessoas e diminuam as diferenças.

Autora: Eliene Alves Resende

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Desafios da Docência no Ensino Superior: atuação de professores na rede privada

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O ato de ensinar carrega singularidades e desafios que devem ser levantados, para assim ser possível entender o processo de aprendizagem e o contexto em que ocorre esse movimento. Levando em consideração o mundo volátil em que vivemos, faz-se necessário dar voz àqueles que fazem parte de ambientes escolares e acadêmicos, sendo essa uma forma de fomentar melhorias e constantes reflexões.

Em prol dessa escuta e da compreensão da realidade atual, o (En)Cena convidou diferentes professores da rede pública de diferentes níveis de ensino (maternal, fundamental, médio e superior) para falarem sobre os desafios de ensinar. Nestes espaços as professoras e os professores puderam relatar suas experiências pessoais e profissionais. As realidades narradas em cada entrevista são um convite para pensarmos sobre a educação, sua constituição, sua disseminação e em como ela pode ser aperfeiçoada para ser significativa a todos e todas:  “O educador se eterniza em cada ser que ele educa” (Paulo Freire)

Visando preservar a identidade de nossos convidados e pensando na potência do ato de ensinar livre de pressões institucionais, optamos por manter em sigilo o nome de todos os entrevistados. Entendemos que suas falas alcançam, contemplam e priorizam, ainda que de modo particular, professores e professoras da educação pública e privada de nosso país.

O entrevistado de hoje atua na área de Educação Física. Há mais de 15 anos está na docência, sendo assim, suas respostas carregam uma imensa bagagem profissional e pessoal, contribuindo ricamente para a série. Apesar de relatar certas dificuldades, seu desejo hoje é continuar trilhando seu caminho como professor e trazendo bastante motivação para confiarmos na força da educação.

Segue a entrevista na íntegra abaixo:

(En)Cena: Como foi a sua trajetória até se tornar professor? Por que você escolheu a docência?

Resposta: Trajetória da maioria da população com renda baixa, ou seja, achava muito distante a possibilidade de frequentar uma faculdade. Mesmo assim, criei oportunidades e fui trabalhar em uma universidade no corpo administrativo, o que me permitiu estudar e trabalhar. O desejo pela docência iniciou no primeiro semestre do curso e de lá para cá, mesmo com altos e baixos, o desejo é dar aula até eu ficar velhinho.

(En)Cena: Qual o seu principal objetivo como professor? Você diria que alcança tal objetivo a cada ano?

Resposta: No primeiro semestre da faculdade esta pergunta me foi realizada e a resposta foi: ” ser referência na área”. Alcancei sim o que desejava, mas ainda não me vejo como referência na área, entretanto, a cada ano os objetivos e metas para este fim são realizados.

(En)Cena: Levando em consideração que a escola/faculdade é um ambiente repleto de pessoas com características singulares, de que forma você lida com a diversidade subjetiva de cada estudante? Você percebe a escola como um ambiente inclusivo?

Resposta: É um trabalho árduo e acredito que, eu alcance o “sonho da inclusão” com menor proporção. Quando me deparo com tal situação, tenho a tendência a ajudar muito e deixar de lado o restante, o que não é bom para ambos os lados. Criar estratégias para um ambiente inclusivo não é fácil, mas precisamos pensar juntos. Ademais, dependendo da diversidade subjetiva é necessário um maior número de profissionais na relação ensino-aprendizagem.

(En)Cena: Como é ser professor do ensino superior na rede privada atualmente?

Resposta: Atualmente grande parte dos professores amam dar aula e com certeza gostariam de continuar ministrando aulas, no entanto, a atual situação do Brasil em geral para o ensino superior está muito complexa, tanto para federais como para as redes privadas. Mudanças intensivas nos “regramentos” para oferta e forma de acesso às vagas fez diversas instituições a serem obrigadas a adequar número de disciplinas, professores e valores. A pandemia trouxe avanços, mas os mesmos impactaram demasiadamente a oferta e qualidade do ensino.

(En)Cena: Como você avalia a escola nesse processo de formação de indivíduos e de que maneira, dentro da sua profissão, você consegue perceber que está contribuindo com esse movimento?

Resposta: Ainda no sentido da discussão das mudanças atuais, acredito que a forma de ensinar está mudando e a escola não está entendendo esta mudança, entretanto, existe um movimento na oferta de capacitações e reflexões aos professores. Percebo também que para a formação houve um aumento da parcela (esforço) individual considerável devido ao crescimento das redes sociais e comportamentos de consumo digital, o que direciona para uma certa independência do aprendizado, ou seja, o professor não é mais o detentor do conhecimento absoluto. Tento acompanhar as mudanças, mas elas estão rápidas e constantes, o que torna para mim o processo de amadurecimento mais lento e consequentemente a abrangência da contribuição menor.

(En)Cena: Como está a saúde mental dos professores na atualidade?

Resposta: Resiliência sempre. Acredito que esteja próxima de um descontrole.

(En)Cena: A educação é capaz de mudar vidas? De que forma? Como os professores podem influenciar esse processo?

Resposta: A educação permite mudar vidas pois possibilita acesso a um universo maior, permite autonomia, capacidade crítica, liberdade de propósito, criatividade, domínio de capacidades e habilidades as quais irão fomentar a cultura, pois a cultura importa. Os professores podem influenciar incentivando por meio de situações reais, aplicar o conhecimento.

(En)Cena:  Na sua opinião, para onde a educação está caminhando? O que podemos esperar de nossos jovens no futuro enquanto sociedade e qual o papel da escola na formação dessas crianças/jovens/indivíduos?

Resposta: A educação está caminhando para uma maior autonomia e a escola precisa proporcionar. Ademais, não deve se entregar a tendência do conhecimento raso e rápido. Várias profissões lidam com vidas e é necessário ética, compromisso, seriedade e excelência, características que são conquistadas com diversidade de experiências, sejam elas atuais ou “velhas”. Sobretudo, vejo que a capacidade crítica como a chave para um futuro melhor. Neste momento, temo pelo futuro por todo panorama que expressei aqui.

 Autora: Maria Laura Máximo Martins

 

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