Existe privacidade em um mundo cada vez mais tecnológico?

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Em um contexto mundial mais tecnológico, os dispositivos móveis fazem parte da vida das pessoas, os mais comuns são os celulares, tablets, relógios e notebooks. A tecnologia existe para auxiliar o homem nas tarefas do dia-a-dia, e com isso muitas empresas oferecem recursos e serviços que fazem a diferença, por exemplo: o email que se conecta a uma agenda e permite que outros dispositivos sincronizem a mesma agenda entre os demais dispositivos, auxiliando as pessoas a lembrarem das tarefas mais importantes do dia a dia. Contudo, após os casos internacionais de Edward Snowden, Cambridge Analytica e outros, muitas pessoas se deram conta de que os serviços gratuitos não são de graça e que, serviços que não cobram por sua utilização querem algo em troca, algo conhecido como o novo petróleo, também conhecido como dados [1]. Diante de outros acontecimentos, as pessoas começaram a ver a importância dos dados e como eles podem nos auxiliar a encontrar novas respostas ou nos deixar vulneráveis.

Comercialmente, os dados são muito importantes para as empresas, a partir deles é possível entender melhor o ambiente de negócios ou criar novas campanhas de marketing. Entretanto, a coleta de dados como, endereço, CPF e outras informações pessoais, permitem às empresas realizarem ações que impactam diretamente a vida dos clientes, como, os serviços da Google que solicitam informações e, caso as cláusulas de serviços sejam aceitas, o cliente pode fornecer os dados sobre sua localização em tempo real. As empresas, por questões judiciais, precisam oferecer um ambiente seguro de armazenamento dos dados, porém, não há nada que seja totalmente seguro, e caso haja um vazamento de dados, uma pessoa mal intencionada pode utilizar essas informações e invadir a privacidade das pessoas.

Neste contexto de abundância de dados, a privacidade é um tema que vem sendo discutido por diversas vezes em um mundo cada vez mais conectado, e mais tecnológico. À medida que o tempo passa, as tarefas que antes eram consideradas difíceis e complexas, se tornaram simples e práticas com a ajuda dos dispositivos móveis, como fazer cálculos, por exemplo, que para nós seres humanos é algo bem complexo de ser feito, quando em de grandes proporções sem o auxílio de alguma ferramenta. Mas a que custo? É realmente segura? A batalha mundial pelos dados está acontecendo, e as pessoas ou organizações que detém a maior quantidade de dados de outras pessoas exercem maior influência e inferência. Clarissa Véliz em seu livro ‘Privacidade é poder’ analisa as consequências para a sociedade com a exploração de rastros digitais das pessoas [2].

Fonte: Imagem no Freepik

Edward Snowden diz que precisamos de ferramentas que não possam ser violadas [3]. Snowden é ex-funcionário da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global da empresa, e que o país usa para espionar a população americana e vários países da Europa e da América Latina, entre eles o Brasil, inclusive fazendo o monitoramento de conversas da ex-presidente Dilma Rousseff com seus principais assessores [4]. Mas porque seria tão importante dados de outros líderes de outros países ? Dados pessoais podem se tornar uma arma nas mãos de determinadas pessoas e/ou instituições. Snowden ainda disse em entrevista que não podia deixar que o governo dos Estados Unidos destruísse a privacidade, a liberdade da Internet e os direitos básicos de pessoas em todo o mundo em nome de um maciço serviço secreto de vigilância que eles estão desenvolvendo [4].

Outro fator de preocupação é a popularização da Internet das Coisas (Internet of Things – IoT), agora, televisores, geladeiras e outros equipamentos  domésticos produzem dados  e com isso novas discussões sobre a segurança da informação e das pessoas. Problemas sempre existiram, não há produto perfeito, essa tecnologia evoluiu muito nos últimos anos em vários aspectos por causa dos benefícios que podem ser extraídos em muitos cenários [5]. No começo já era esperado a existência de problemas, pois estamos falando de uma tecnologia que estava fora da caixa quando começou, com a crescente demanda da automatização de tarefas juntamente com a disponibilidade de conteúdos gratuitos e reconhecimento do valor das informações geradas por esses sensores ou aparelhos.

O futuro desta tecnologia parece ser bem promissor, com a união do mundo físico com o digital. Grande parte das aplicações destinadas a utilização desse tipo de tecnologia ainda são para as empresas, que buscam baratear a mão de obra e aumentar a sua carga de produção [6]. Talvez a pandemia tenha feito muitas pessoas verem o real potencial de fábricas ou lojas que usam IoT no seu ambiente, de que esse é o próximo passo para uma nova revolução que pode ser temida, mas também muito aguardada [7]. Assim, independentemente, da vontade de uns ou temores de outros, a tendência é que cada vez mais o mundo esteja conectado em vários níveis, desde aplicações simples como ligar o ar-condicionado quando estiver perto de casa ou mais complexas, por exemplo, a utilização na construção civil para prevenir acidentes.

Fonte: Imagem no Freepik

Recentemente Frances Hauguen, ex-funcionária do Facebook, relatou uma série de denúncias para o The Wall Street Journal, provando com documentos internos que os algoritmos do Facebook fomentam intencionalmente a discórdia e que são projetados para causar dependência entre os usuários. Mas por que o Facebook está tão interessado em manter os usuários conectados por um maior tempo possível? Shoshana Zuboff chama de capitalismo de vigilância está coleta de dados. A economia digital se nutre deles. Ela os processa, refina e os serve aos anunciantes para que possam personalizar sua publicidade, ou às empresas, para que planejem novos serviços. Quanto mais detalhes souberem sobre cada usuário da internet, melhor será a estratégia para abordá-los e lhes oferecer um produto [2].

A evolução tecnológica, acentuada pela popularização de diversas ferramentas (software ou hardware), provocou mudanças significativas na sociedade, resultando em consequências positivas e negativas. Positivamente, a tecnologia quebrou paradigmas, por exemplo, profissionais do mundo todo podem compartilhar conhecimento sobre qualquer assunto nas redes sociais; pessoas, com equipamentos minimamente adequados, podem acessar iniciativas globais de educação de qualidade, oferecidas por profissionais de universidades de renome como Harvard ou Oxford. Negativamente, com a popularização das redes sociais, também potencializou discursos polêmicos e o surgimento de movimentos agressivos, como o “cancelamento” de pessoas na internet ou de grupos radicais de diversos espectros políticos. Em todos os contextos, positivos, negativos ou neutros há a geração de dados , cada vez mais precisos, que fornecem o padrão do caminhar de uma pessoa, da digital, do rosto, entre outros.  A geração de dados em si parece ser inevitável, mas com qual finalidade esses dados serão utilizados é que pode produzir consequências positivas ou não, em todo caso, há um longo caminho a percorrer no que tange à conscientização das pessoas sobre esse contexto.

Fonte: Imagem no Freepik

Fontes:

[1]https://bakertillybr.com.br/dados-novo-petroleo/

[2]https://brasil.elpais.com/tecnologia/2021-10-19/ideias-para-salvar-nossa-privacidade-em-meio-a-batalha-mundial-pelos-dados.html

[3]https://www.telesintese.com.br/edward-snowden-precisamos-de-ferramentas-que-nao-possam-ser-violadas/

[4]http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/07/entenda-o-caso-de-edward-snowden-que-revelu-espionagem-dos-eua.html

[5]https://www.mckinsey.com/industries/technology-media-and-telecommunications/our-insight/laying-the-foundation-to-accelerate-the-enterprise-iot-journey

[6]https://www.ibtimes.com/mckinsey-iot-2030-forecast-machinefi-economy-explosion-coming-3339071

[7]https://www.mckinsey.com/business-functions/mckinsey-digital/our-insights/iot-value-set-to-accelerate-through-2030-where-and-how-to-capture-it

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A importância do Dia Mundial da Alimentação no combate a fome e a pobreza mundial

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Celebrado no dia 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da nutrição com uma alimentação adequada. A temática, esse ano, será “As nossas ações são o nosso futuro. Melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor qualidade de vida”. A iniciativa tem como meta relembrar que ainda muitas pessoas passam fome nos quatros cantos no mundo, bem como propor soluções para colocar fim a esta problemática.

Fonte: www.mundodastribos.com

Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), a edição 2021 tem grande impacto por acontecer na pandemia de Covid 19, que desencadeou uma desaceleração da economia mundial e a diminuição da renda familiar, o que afeta justamente a subsistência, ou seja, falta comida na mesa.  A pandemia teve um efeito devastador sobre a segurança alimentar no Brasil.  Segundo a FAO, 50 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar devido ao desperdício de alimentos, bem como as condições inadequadas de colheitas.  A entidade explica que uma alimentação adequada saudável deve ser um direito permanente e sustentável, e para isso acontecer é preciso de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil. No entanto, como mencionado, a pandemia trouxe novamente o retrato da fome no Brasil, que tem como as crianças as mais afetadas.

 De acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), com a pesquisa “Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid 19, no Brasil”, 55,2% das famílias brasileiros encontram-se em insegurança alimentar e 9% convive com a fome total, sendo que menos da metade dos municípios brasileiros, o que equivale a 44,8% tinha em seus moradores a segurança alimentar. Os dados são alarmantes e assustadores, e quem mais sofre com essa crise alimentar é a zona rural, informou a pesquisa, realizada este ano. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas com a pandemia, o que ocasionou um aumento do número de desempregados e endividados.

 A pesquisa foi realizada nos domicílios brasileiros com o intuito de buscar informações sobre a atual situação das famílias com a crise sanitária da Covid 19, para a tomada de decisões públicas e mobilização da sociedade civil e organizada. Nesse sentido que Maria de Fátima de Albuquerque (2009) evidencia que o direito à alimentação adequada irá se concretizar quando homens, mulheres e crianças tiverem acesso físico e econômico, sem interrupção, dos meios para sua obtenção. Em seu ponto de visto, a desigualdade precisa ser combatida para que todos possam usufruir de uma boa alimentação, por meio de ações progressistas e com o apoio do Estado, o qual é responsável pela elaboração de políticas públicas de Estado.

Fonte: Adobe Stock

A Associação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (Abrand) destacou em artigo que para garantir um caminho no avança da segurança alimentar e nutricional, além da soberania alimentar é preciso superar as violações ao Direito Humano da Alimentação.  Para a organização, é preciso que a sociedade civil busca apoderar-se de informações para assim exigir a efetivação dos direitos humanos, consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a promoção da vida, dignidade humana, que passa por uma alimentação nutritiva, ou seja adequada.

Enquanto o mundo ainda passa pela onda da pandemia da Covid 19, é preciso oferecer um olhar acolhedor para as pessoas em situação de vulnerabilidade. A insegurança alimentar, em resumo, é passar fome. Um cenário devastador que assombra inúmeras famílias que não têm o que comer. Por isso, ajude quando puder. Entre em contato com Organizações Não Governamentais (ONGs) que irão direcionar suas doações. Às vezes, pode ser a pessoa que mora ao seu lado.  Juntos podemos construir um mundo melhor.

REFERÊNCIAS

Albuquerque, Maria de Fátima: A segurança alimentar e nutricional e o uso da abordagem de direitos humanos no desenho das políticas públicas para combater a fome e a pobreza1 Disponível https://www.scielo.br/j/rn/a/K8QycNXpRNRs8GxWhFCmDBP/?format=pdf&lang=pt4. Acesso 09 de out, de2021

Associação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (2010). Disponível em  < https://www.redsan-cplp.org/uploads/5/6/8/7/5687387/dhaa_no_contexto_da_san.pdf>. Acesso 09 de out, de 2021.

Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), Disponível em http://olheparaafome.com.br/VIGISAN_Inseguranca_alimentar.pdf.  (2021) Acesso 09 de out, de2021.

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).  Disponível em < http://www.fao.org/brasil/programas-e-projetos/programa/pt/#c356409. Acesso 09 de out, de 2021.

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Violência e opressão – (En)Cena entrevista a psicóloga Ruth Cabral

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“Em tempos de pandemia, ser mulher, é ter escancarado que o risco de violência não se limita aos espaços públicos, mas é ter insegurança, medo ainda que no espaço privado este, que inicialmente foi determinado à mulher. Lugar de sobrecarga, de naturalização da incumbência das tarefas domésticas, dos cuidados com os filhos”.

O Portal (En)Cena conversa com a psicóloga Dra Ruth Cabral, professora do curso de psicologia do Ceulp/Ulbra, Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela PUC-Goiás, para entender sua perspectiva acerca do que significas ser mulher no Brasil durante a pandemia da COVID-19.

A Doutora Ruth Cabral aponta o paralelo entre as restrições sociais decorrentes da pandemia somada à permanência dos homens em casa, com o aumento nos índices de violência doméstica, sexual e de gravidez indesejada. Além disso, a entrevistada aponta o risco de adoecimentos mentais, como estresse e a ansiedade, causados pelo excesso de atividades. Por fim, a professora reconhece seu lugar de fala privilegiado ante a outras formas de experiência a mulheridade e indica como um dos caminhos para oportunizar melhoras no pós-pandemia, a articulação de mulheres em prol do fortalecimento do movimento social para garantir direitos e liberdades a todas.

Figura 1 – Arquivo Pessoal

(En)Cena –  Considerando o seu lugar de fala de: mulher, professora e usuária ativa das redes sociais: o que é ser mulher no Brasil, durante a pandemia da COVID-19?

Dra Ruth Cabral – Começo a refletir a partir da pergunta em questão- em mim ressoa inicialmente o quesito “O que é ser mulher no Brasil?” para então, em uma complementariedade reflexiva discorrer sobre os tempos de Pandemia.  Reconhecer a priori, a existência da desigualdade de gênero e de suas causas, contextualizado à realidade brasileira desperta o resultante de um processo histórico que reafirma o lugar da mulher nesse espaço social frágil- lugar este, que ainda que o registro legal aponte para destituição de toda e qualquer forma de discriminação- não é suficiente para garantir equidade de gênero.

Refletir no ser mulher em tempos de pandemia remonta o pensar nos papéis instituídos desde a formação da sociedade. Em tempos de pandemia, ser mulher, é ter escancarado que o risco de violência não se limita aos espaços públicos- mas é ter insegurança, medo ainda que no espaço privado – este, que inicialmente foi determinado à mulher. Lugar de sobrecarga, de naturalização da incumbência das tarefas domésticas, dos cuidados com os filhos. Ressalto o mito do amor materno, descrito como instintivo demarca às mulheres um lugar de exclusividade do cuidado- com as crianças e  para o trabalho doméstico (modelo esse, calcado no patriarcalismo) que alcança a análise para os dias atuais de pandemia.

Como prova disso, pesquisas em tempos de pandemia (Souza et al, 2020; Macedo, 2020) apontam que paralelo às restrições sociais, os índices de violência doméstica, sexual e de gravidez indesejada aumentaram de forma significativa mediante o maior tempo de permanência dos homens em casa- o que parece responder em parte à questão provocada inicialmente. Sem me distanciar dos meus muitos privilégios, sigo tocada pelo grito daquelas que se encontram, explicitamente oprimidas, violentadas e sob as muitas vulnerabilidades. No contexto de crise econômica, social e política em que o Brasil se encontra, é importante discutir e considerar tais questões, considerando que pandemia da Covid-19 enfatiza ainda mais às narrativas e desigualdades sociais pré-existentes.

Fonte: encurtador.com.br/fjQ15

(En)Cena –  Para você, como a pandemia impacta a saúde mental (sentimentos e emoções) das mulheres?  E qual é o efeito deste impacto em casa e no trabalho?

Dra Ruth Cabral – Embora haja uma naturalização da sobrecarga contínua das mulheres nos diferentes contextos e composições familiares, a circunstância  da Pandemia agrega outros fatores que podem intensificar a fragilização da saúde mental das mulheres: o medo do adoecimento, a necessidade de proteção dos filhos (para aquelas que exercem o papel da maternidade), a sobrecarga dos múltiplos cuidados e assistências- tarefas domésticas, intermediação do ensino-aprendizagem das/dos filhas/filhos, a dedicação às atividades ocupacionais. Tais fatores podem acentuar o estresse e a ansiedade, de modo que, a alteração da rotina, o excesso de atividades pode, na sequência, alterar o sono (parte importante na regulação emocional) formando assim um ciclo que intensifica o dano a saúde mental das mulheres, que já estão, naturalmente mais suscetíveis a alguns processos de adoecimentos.

Fonte: encurtador.com.br/ityHS

(En)Cena – Quais são os maiores desafios e quais são os maiores aprendizados da sua experiência como professora durante a pandemia? 

Dra Ruth Cabral – Acredito que a vivência do estresse, do medo, a sensação de incerteza, o reconhecimento das dificuldades vivenciadas ao longo desse período de distanciamento social propõe o agir com flexibilidade, na cuidadosa busca de se compreender as nuances das dificuldades das mulheres- despertando em mim uma atuação sobressaia a empatia, no reconhecimento das vulnerabilidades- como mulheres que são além de discentes, mães, profissionais, filhas…

Posso ver o esgotamento, o cansaço, o acúmulo de tarefas- na prática, como também percebo a  persistência e a luta.   A mim, como mulher, cabe ter uma postura de escuta, cuidado, e tomada de decisão pautada no reconhecimento dos fatores dificultadores a partir do pensar coletivo, sendo uma forma indireta de um exercício de sororidade.

(En)Cena –  Como você compreende o sofrimento emocional das alunas de psicologia afetadas pela quarentena durante a pandemia?

Dra Ruth Cabral – Vejo que essas alunas do curso de psicologia representam parte do universo que compõe a pluralidade das mulheres como um todo. Ainda que marcadas por alguns privilégios (dentre esses, o acesso à educação), há uma representação das angústias experimentadas pelas mulheres no período de pandemia. Mulheres em múltiplas funções, cansadas, mas empenhadas numa luta muito mais pesada por “uma vida que valha a pena ser vivida”, ou uma vida “com algum sentido”. São mulheres, filhas, mães, algumas distante das famílias, inseguras, com diferentes possibilidades de acessos. Diante disso, como não problematizar as questões de gênero? A sobrecarga é facilmente notada: mulheres que se engajam nas atividades acadêmicas alternando o cuidado com as filhas/ os filhos, com as tarefas domésticas, envolvidas no sustento e ainda respondendo a outros fatores externos- tais como pressão estética voltados ao cuidado com o corpo em uma hierarquização de prioridades impostas socialmente.

Fonte: encurtador.com.br/ahtZ9

(En)Cena –  Na sua opinião, qual seria o caminho para as mulheres no pós-pandemia?

Dra Ruth Cabral – Pessoalmente, acredito na articulação de mulheres em prol do fortalecimento do movimento- que possa gerar articulação, amparo, tomada de consciência e a não naturalização das violências vivenciadas, cotidianamente, por tantas. A formação de uma rede de apoio tecida por mulheres no reconhecimento das vulnerabilidades e privilégios, na práxis e não apenas em uma teoria sem alcance social, pautado no “fazer acontecer”. A luta por equidade, por acesso a trabalho, por andar sem medo, por ter segurança, esperança e escolhas que se façam sem o medo contínuo- tudo isso em um processo de ressignificação coletiva do que é ser mulher na luta por um protagonismo em um espaço em que nos foi dado o lugar de coadjuvantes.

Referências

MACÊDO, Shirley. (2020). Ser mulher trabalhadora e mãe no contexto da pandemia COVID-19: tecendo sentidos. Revista do NUFEN12(2), 187-204. https://dx.doi.org/10.26823/RevistadoNUFEN.vol12.nº02rex.33

SOUZA, Alex Sandro Rolland; SOUZA, Gustavo Fonseca de Albuquerque; & PRACIANO, Gabriella de Almeida Figueredo. (2020). A saúde mental das mulheres em tempos da COVID-19. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil20(3), 659-661. Epub 30 de outubro de 2020.https://dx.doi.org/10.1590/1806-93042020000300001

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Síndrome da Cabana

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“…Só de pensar em sair de casa você já começa a ficar apavorado, confuso, tenso, angustiado e pode chegar até a sentir seu coração disparar. Mesmo sem ameaças imediatas, você não se sente mais seguro fora do seu lar. Sua casa é o único lugar que lhe proporciona segurança e proteção. Esse medo, após longos períodos de isolamento, é justamente o que define a Síndrome da Cabana”

Talvez você nunca tenha ouvido falar na Síndrome da Cabana. Realmente, este termo, apesar de ter surgido em 1900, não é muito conhecido atualmente. No entanto, você, seu vizinho, sua filha, seu amigo, podem estar passando por esta síndrome neste exato momento sem perceber. Como assim? Afinal, o que é a Síndrome da Cabana?

Imagine que a quarentena terminou. Já existe uma vacina para o Covid-19. Não há mais motivos para temer as ruas. No entanto, só de pensar em sair de casa você já começa a ficar apavorado, confuso, tenso, angustiado e pode chegar até a sentir seu coração disparar. Mesmo sem ameaças imediatas, você não se sente mais seguro fora do seu lar. Sua casa é o único lugar que lhe proporciona segurança e proteção. Esse medo, após longos períodos de isolamento, é justamente o que define a Síndrome da Cabana. Este nome foi dado em função dos trabalhadores norte-americanos que se refugiavam em suas cabanas quando o inverno chegava e, depois, tinham receio de voltar à civilização quando o frio terminava.

O mesmo já está acontecendo atualmente, devido à quarentena que nos confinou em nossos lares desde março deste ano. Hoje, algumas pessoas já estão entrando em desespero com a abertura de shoppings, lojas e relaxamento de alguns com relação ao isolamento. Não querem, de modo algum, que a quarentena termine. Obviamente, esse medo pode vir da possibilidade de serem contaminados. Porém, a Síndrome da cabana, ainda que não aja como fator principal, desempenha um papel importante na resistência em voltar à vida normal.

Fonte: encurtador.com.br/biFU7

Antes da quarentena, antes do Covid-19, já havia pessoas que não saíam mais de casa. Trabalhavam em home office, faziam as compras pela internet e passavam períodos muito longos sem colocar os pés na rua. Nosso cérebro se ajusta à nova rotina e o confinamento passa a ser normal e necessário.

Mesmo prisioneiros, após um longo período encarcerados, podem sentir medo de voltar à civilização e, muitas vezes, podem cometer crimes tão logo saiam da cadeia, para poderem voltar à vida a qual já estavam acostumados. A mudança nos tira da zona de conforto, ainda que, para muitos, aquela zona de conforto pareça uma opção ruim.

Mas o que é o medo mesmo?

O medo é uma sensação provocada pelo cérebro que auxilia o indivíduo em sua sobrevivência e adaptação. Se não sentíssemos medo de nada, não teríamos como nos defender e provavelmente morreríamos rapidamente.

Este mecanismo de sobrevivência ocorre a partir do Sistema Nervoso Central. Por exemplo, quando avistamos uma serpente, esta informação é levada ao SNC e passa pelo hipocampo (sede das memórias) que vai conferir se aquela informação já existe. Em seguida, o hipotálamo vai interpretar o que recebeu e relacioná-lo ao perigo. Ao receber essa interpretação, a amígdala (responsável pelas emoções) alerta o organismo na forma de medo. Imaginem uma criança que nunca viu uma cobra nem ouviu nada sobre ela. Ao se deparar com a serpente, não sentirá medo e provavelmente será picada.

Fonte: encurtador.com.br/fnxMN

Assim, sentir medo é não só normal, como necessário. No entanto, há muito medo. O medo pode ser real, como o medo de um assaltante; o medo pode ser imaginário, ou seja, não há nada acontecendo de fato, mas sentimos medo de alguma coisa que não conseguimos definir; o medo pode ser futuro, como o medo da morte; e o medo pode ser desproporcional ao objeto que o causou.

Quando o medo não é específico e dura longos períodos, então ele passa a ser chamado de ansiedade. A ansiedade não tratada e persistente pode levar ao pavor. A síndrome do pânico, por exemplo, e as fobias, quando atrapalham nossa vida, causam muto sofrimento e precisam de ajuda profissional.

O processo da quarentena

Quando a quarentena começou, sentimos muita dificuldade de adaptação. Nossa rotina mudou. Pais que só conviviam com os filhos nos fins de semana, de repente se sentiram perdidos e muito estressados. Marido e mulher começaram a brigar incessantemente. Chegaram a pensar em divórcio. Viajar? Impossível! Hotéis e passagens aéreas canceladas ou perdidas. Os estudos passaram a ser realizados por computador ou celular. Aplicativos, antes desconhecidos, tornaram-se fundamentais.

Muitos sentiram falta dos almoços de domingo na casa dos familiares. Páscoa, aniversários, qualquer atividade festiva precisou ser feita à distância. Abraços e beijos foram proibidos. Pessoas encheram suas casas de produtos não perecíveis com medo de não ter o que comer no futuro. Trabalhar em home office se tornou um desafio. O cachorro late, a criança chora, o prédio ao lado está em construção (e os trabalhadores não entraram em quarentena), o ônibus passa, o calor se torna insuportável e não se pode abrir a janela por causa do barulho, enfim, um caos.

Fonte: encurtador.com.br/AFHT7

Sem falar nos que têm (ou tinham) negócio próprio. Lojas fecharam, diversos trabalhadores passaram a buscar outras atividades para sobreviver, quem tinha pé de meia começou a ver seu dinheiro indo embora, quem não tinha, precisou contar com a ajuda do governo.

Mas, de repente, tudo começou a entrar nos eixos. Amigos passaram a fazer reuniões semanais por vídeo. Pais começaram a valorizar mais tempo com os filhos. Descobrimos que podemos achar de tudo pela internet. Ganhamos mais tempo para ler, estudar, refletir. O casal conseguiu se entender e agora não pensa mais em se divorciar. Parentes que raramente se viam passam a se ver semanalmente em reuniões da família. O pôr do sol ficou mais bonito sem tanta poluição. Psicólogos e Coachings se viram com mais atendimentos. A lista de filmes para serem vistos um dia começou a diminuir. Enfim, tudo o que era muito difícil no começo, passa a ser o certo, o bom, o confortável. Pelo menos, para grande parte da população.

Agora, com a possibilidade de a quarentena terminar, torna-se necessária uma nova adaptação. Começar tudo de novo. Ainda existe o medo do vírus, mas mesmo que não mais existisse, haveria resistência para voltar à vida anterior. Nosso cérebro passou a entender que somente em casa estamos seguros, protegidos. Fora de casa, estamos na selva, estamos na guerra. São os efeitos da síndrome.

Fonte: encurtador.com.br/ipJOY

Então estamos doentes?

A Síndrome da cabana não é uma doença, é um fenômeno natural, diante das circunstâncias. Apesar do nome, não é um transtorno mental, embora possa precisar dos cuidados de um profissional da mesma forma.

Quem sofre desse fenômeno pode sentir muita angústia, muita ansiedade, perder a concentração, perder a memória, passar a comer muito e a dormir muito, embora possa acontecer de o indivíduo perder o apetite e o sono, e alguns sintomas físicos também podem se manifestar, como taquicardia, sudorese, tonturas.

Os sintomas da síndrome podem lembrar a Síndrome do pânico. A diferença é que esta leva o indivíduo ao isolamento, enquanto na Síndrome da cabana acontece o contrário. O isolamento leva o indivíduo ao pânico.

Fonte: encurtador.com.br/AMXZ1

Como voltar à vida normal

Algumas dicas podem ajudar quem está (ou estará) sofrendo dessa síndrome.

              1 – Respeite o seu tempo. Não se obrigue, não se cobre, não se culpe. Cada um tem um ritmo diferente e o sentimento é totalmente válido. O importante é não desistir.

              2 – Estabeleça uma rotina. Por que isso é importante? Porque na rotina você se sente no controle e se você está no controle, pode controlar os seus pensamentos, portanto, pode controlar seu medo.

              3 – Comece aos poucos, devagar, e recompense cada passo, cada progresso. Por exemplo, no primeiro dia, simplesmente abra a porta de sua casa e fique ali, olhando para fora. Avalie como está se sentindo. Se puder, dê alguns passos. Senão, feche a porta e se recompense pela sua coragem. No dia seguinte, tente dar alguns passos para fora. Continue enquanto se sentir confortável. Senão volte. Continue insistindo todos os dias até conseguir ir até a esquina e voltar. Não tem problema retroceder. Não tem problema dar um tempo. Apenas tente. Acredite que você pode. Mas não force. Aumente as recompensas conforme for progredindo.

              4 – Lembre-se de todas as coisas boas que você tinha e fazia ao sair de casa. Lembre-se de seus familiares, do churrasco na casa dos amigos, do cinema, dos restaurantes, dos parques, da cervejinha gelada no bar, do sol acariciando sua pele, do vento bagunçando seus cabelos, das viagens divertidas, enfim, comece a condicionar seu cérebro para que ele diminua progressivamente a resposta do medo.

              5 – Nada disso está adiantando? Então, procure ajuda de um profissional. Você não precisa sofrer sozinho nem mais do que o necessário. A Síndrome da cabana, quando longa e não monitorada, pode desencadear um quadro depressivo grave.

Fonte: encurtador.com.br/rEP48

Mas a quarentena já acabou?

Não. Ainda é preciso tomar muito cuidado ao sair de casa e, de preferência, não sair. Mas por que já não nos munirmos de todas as informações necessárias para quando essa hora chegar? Quanto maior o nosso conhecimento, mais protegidos e seguros estaremos, agora ou no futuro

Além disso, se pensarmos bem, a tendência é nos isolarmos cada vez mais, com todos trabalhando em home office, lojas físicas se transformando em lojas virtuais e sites de relacionamento indicando que hoje os encontros virtuais são cada vez mais comuns e práticos. Enfim, tudo parece caminhar para que a Síndrome da cabana se torne um fenômeno menos raro e desconhecido.

Portanto, que tal começarmos a praticar desde hoje? Vamos começar desde já a enumerar todas as coisas boas que estão nos esperando lá fora. Vamos escrever todos os dias, mesmo que a informação se repita. Vamos condicionar o nosso cérebro a sentir cada vez mais vontade de sair. Um dia a quarentena acabará. Isso é fato. Então vamos nos preparar para uma nova vida antiga.

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Rotatividade dos profissionais da saúde: uma experiência prática

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A alta rotatividade da equipe do Sistema Único de Saúde (SUS) pode acarretar também em falta de profissionais qualificados, engajados e conhecedores do serviço.

A rotatividade profissional, para Tonelli et al. (2018), é definida como uma permanente entrada e saída de pessoas de uma organização, sendo estas voluntárias ou involuntárias. Dentro das organizações sempre há rotatividade, estas podem ser positivas, desde que sejam de funcionários não essenciais que estejam executando determinada atividade e venham deixar a organização. Portanto, é importante ressaltar que a rotatividade pode acarretar em perdas de pessoas estratégicas para determinada vaga, causando assim o fator de interrupção das atividades e consequentemente prejudicando no desenvolvimento da organização.

A alta rotatividade da equipe do Sistema Único de Saúde (SUS) pode acarretar também em falta de profissionais qualificados, engajados e conhecedores do serviço. Uma vez que o profissional que se encontra pertencente a instituição e conhece todo o funcionamento desta é afastado, a inserção de um novo profissional implicará em todo um processo de adaptação que poderá trazer consequências diversas para o serviço. De acordo com Gil (2006), a rotatividade dos profissionais de saúde resulta na perda de investimentos dos gestores que estão em processo de capacitação e qualificação dos profissionais para desenvolver novas práticas, como cursos de introdução aos princípios organizativos da saúde.

Outro fator que pode estar relacionado ao alto índice de rotatividade dos profissionais de saúde, pode estar interligado com a insatisfação relacionada a política da organização, pois se o profissional não acredita nesta política, o trabalho vai se tornar adoecedor e sem sentido. Para Medeiros et al (2010), os profissionais insatisfeitos com o trabalho podem apresentar maior probabilidade de fazerem parte da taxa de rotatividade. Na medida em que o profissional apresenta falta de realização e pouca motivação, começam a receber pouco reconhecimento no cargo, vivenciar constantes conflitos com a chefia e com os colegas, e ainda experimentam a incapacidade de realizar os objetivos do seu cargo.

Fonte: encurtador.com.br/hvCGR

Com o alto índice de rotatividade dos profissionais da saúde, os usuários do SUS podem apresentar dificuldade em construir novos vínculos e se dedicarem ao tratamento, devido a possibilidade da saída repentina do profissional que, por sua vez, colabora para um sentimento de insegurança. Campos e Malik (2008) acreditam que na saúde, a rotatividade pode gerar alguns impactos, como o comprometimento com os vínculos da equipe com os usuários, que pode afetar também no objetivo dos resultados esperados dentro do serviço, principalmente na Estratégia de Saúde da Família (ESF), pois o seu foco está na atenção à família na comunidade, onde valorizam-se os vínculos estreitos entre família e profissional.

A rotatividade dos profissionais dos SUS pode afetar também o andamento do tratamento do usuário, pois o profissional pode vir a iniciar uma atividade e deixá-la inacabada por conta de sua saída da organização, causando um desamparo no processo até a chegada de outro profissional, que pode ou não dar continuidade a esta atividade. Sendo assim, alguns profissionais optam por não planejar atividades que requeiram um longo período de execução, como demonstra Pialarissi (2017, p. 2)

Comprometendo a relação do sistema com os trabalhadores e prejudicando a qualidade e continuidade dos serviços prestados em razão de consequências tais quais o alto índice de rotatividade dos profissionais e a impossibilidade de se fixar projetos com processos de planejamento de médio e longo prazos

Fonte: encurtador.com.br/mqtGS

Para Guimarães, Oliveira e Yamamoto (2013), um dos aspectos que pode comprometer a continuidade e o andamento das atividades é a rotatividade dos estagiários, pois pode vir a  causar nos usuários um recomeço constante das atividades, além da necessidade de (re)criar novos vínculos entre usuários e estagiários.

Dentro do âmbito de saúde alguns projetos são colocados em prática, mas devido a rotatividade dos profissionais alguns projetos não são finalizados. Segundo Polejack et al. (2015), a descontinuidade das ações planejadas, a frequente rotatividade dos profissionais, a descontinuidade das políticas e da gestão das mesmas, podem acarretar em implicações severas para o serviço e para o papel de cada profissional.

Uma experiência de rotatividade vivenciada na prática

            O estágio em ênfase B se apresenta como um dos campos de estágio que o acadêmico do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra precisa cumprir, como matéria obrigatória para sua formação. Diante das muitas possibilidades de atuação que foram ofertadas, as estagiárias escolheram o campo do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas (CAPS AD 3).

Fonte: encurtador.com.br/LPQZ1

            As atividades no referido espaço foram iniciadas no mês de fevereiro de 2019, sob supervisão da psicóloga da instituição. Esse primeiro mês teve como objetivo principal a integração das acadêmicas ao campo, para que estas entendessem o funcionamento do serviço e acima de tudo pudessem estabelecer um bom vínculo com os usuários e com a equipe profissional.

            Diante da satisfatória integração, as estagiárias assumiram para si funções específicas, sendo: a condução de um grupo terapêutico sobre autoconhecimento, bem como a realização de atendimentos psicoterápicos individuais. Dessa forma, a inserção e atuação no campo começou a tomar forma e engajamento, e assim foi durante os meses de março e abril, até que o fenômeno da rotatividade acontecesse.

            A psicóloga supervisora tomou a decisão de não continuar mais trabalhando na instituição, por motivos específicos e pessoais. Como consequência da saída da Psicóloga, as estagiárias não puderam mais continuar na instituição, uma vez não permitida a permanência de estagiários atuando no campo sem um supervisor. Sendo assim, o abandono do campo ocorreu, e ocorreu de forma dolorosa para todos os envolvidos no processo: acadêmicas, supervisora, equipe e usuários.

            Tal abandono acarretou no desamparo dos usuários, que estavam sendo assistidos pelos grupos e pelos atendimentos individuais que eram conduzidos pelas estagiárias e pela supervisora. Além de implicar bastante nas relações de vinculação que haviam sido estabelecidas, fazendo com que todas experimentassem um sentimento de rompimento muito doloroso.

Fonte: encurtador.com.br/sFUY6

            O romper desse vínculo e suas consequências foram externalizadas na fala de alguns usuários, que ao saberem da saída das profissionais demonstraram inquietação e preocupação, questionando “por quem” e “como” eles seriam assistidos.

            Contudo, a nova realidade que se apresentava levou as acadêmicas a estagiarem em outro campo, agora a Secretaria Municipal de Saúde de Palmas (SEMUS), especificamente na área de gestão, sob supervisão da psicóloga Isabela Monticelli que se encontrava responsável pelo grupo condutor de Infectologia.

            Diante de todo o exposto, é possível perceber o quanto a rotatividade nos serviços de saúde existe e o quão nocivas elas são, tanto para os usuários dos serviços quanto para os profissionais envolvidos. Dessa forma, para as acadêmicas, ter vivenciado esse processo lhes fizeram perceber que, ao profissional da saúde pública é necessário sempre uma criatividade e expertise no que tange a sua atuação profissional, estando sempre atento para que o processo seja o menos prejudicial possível, para os usuários e para si mesmo.

            Tal expertise e atenção, pode se aplicar numa prática baseada num cuidado comprometido que seja efetivo enquanto o profissional estiver inserido naquele espaço de trabalho, tendo este a consciência de que fez o seu melhor dentro do tempo que lhe foi concedido. Além disso, entender que os usuários do serviço podem, por meio da sua atuação profissional alcançar um nível de autonomia que lhes façam ser os protagonistas de suas vidas, colaborando assim para a dissolução de vínculos de dependência não-saudáveis.

 

REFERÊNCIAS

CAMPOS, Claudia Valentina de Arruda  and  MALIK, Ana Maria. Satisfação no trabalho e rotatividade dos médicos do Programa de Saúde da Família. Rev. Adm. Pública [online]. 2008, vol.42, n.2, pp.347-368. ISSN 0034-7612.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122008000200007.

GIL, C. R. R. Práticas profissionais em saúde da família: expressões de um cotidiano em construção. 2006. 318 f. Tese (Doutorado) – Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro.

Guimarães, S. B., Oliveira, I. F., & Yamamoto, O. H. (2013). As práticas dos psicólogos em ambulatórios de saúde mental. Psicologia & Sociedade, 25(3), 664-673

MEDEIROS, Cássia Regina Gotler et al. A rotatividade de enfermeiros e médicos: um impasse na implementação da Estratégia de Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, Lajeado Rs, v. 15, n. 4, p.1521-1531, jun. 2010.

PIALARISSI, Renata. Precarização do Trabalho. Rev. Adm. Saúde, São Paulo, Vol. 17, Nº 66, Jan. – Mar. 2017.

POLEJACK, Larissa. Psicologia e Políticas Públicas na Saúde: Experiências, Reflexões, Interfaces e Desafios. (2015), Porto Alegre, 1 ed.

TONELLI, Bárbara Quadros et al. Rotatividade de profissionais da Estratégia Saúde da Família no município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Revista da Faculdade de Odontologia – Upf, [s.l.], v. 23, n. 2, p.180-185, 22 out. 2018. UPF Editora. http://dx.doi.org/10.5335/rfo.v23i2.8314.

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A carne mais barata do mercado não pode continuar sendo a carne negra

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Tenho um filho de 19 anos. Ele não é dependente químico, não tem nenhuma doença mental e é extremamente pacífico. Para ter uma ideia, ele nunca provocou situações de violência na vida.

Há um ano, durante o carnaval, enquanto caminhava em Ondina com outro amigo, bem próximo a mim, ele levou um soco de alguém gratuitamente. A pessoa bateu e seguiu.

Ainda no ano passado, voltávamos para casa de minha mãe no fim de um dia comum e paramos numa baiana de acarajé para comprar uns quitutes e degustarmos juntos. Eu estava dirigindo e ele no banco de carona do nosso carro. Estacionei próximo a baiana e abaixei a cabeça para procurar o dinheiro na bolsa, enquanto ele aguardava para poder ir comprar os acarajés.

Levantei a cabeça com uma arma batendo no vidro do nosso carro, determinando que eu o abaixasse os vidros, meu filho abrisse a porta e saísse do carro. De início tomei um susto, pois tinha sido assaltada em situação parecida meses antes.

Abaixei o vidro e então entendi que eram policiais civis em uma busca. O que estava do meu lado pediu para eu ficar calma, enquanto enfiava a cabeça perguntando quem era o rapaz do meu lado. O que estava do lado do carona continuava batendo no vidro, mandando o rapaz sair do carro.

Fonte: https://goo.gl/qQiqCG

Expliquei que morávamos ali e eu só estava procurando dinheiro para MEU FILHO ir comprar acarajé. Tive que repetir diversas vezes que o rapaz ao meu lado era meu filho, tinha 19 anos e que moramos boa parte da vida no bairro. Um dos policiais, então, pediu para que o outro “deixasse” a abordagem para lá.

Foi ai que entendi o que estava acontecendo. Meu filho era um potencial suspeito porque é negro.

Todo dia antes dele sair eu observo como está vestido. Eu recrimino quando ele coloca o boné para trás. Eu pergunto se levou documento. Falo para não sair sem camisa. Eu analiso as tatuagens que quer fazer e alerto para a exposição em algumas partes do corpo. Eu não deixei ele aumentar o diâmetro do alargador na orelha.

Eu busco ele em festas de madrugada. Eu evitei que ele andasse de ônibus durante muito tempo e, mesmo quando começou a andar, monitorava se estava indo, voltando, chegando e, quando possível, ia levar, buscar…como no último carnaval quando eu sai de Vilas e fui em Ondina buscá-lo.

Eu reclamo do corte de cabelo, da calça rasgada, das fotos em que ele coloca o queixo para cima e faz “cara de mau”, das gírias em público e até de como ele fica parado na rua com as mãos no bolso.

Eu oriento a ficar longe da polícia, a responder sempre de forma branda, a atender tranquilamente as abordagens policiais nos coletivos.

Eu não queria fazer nada disso. Eu queria que ele tivesse o corpo livre para usar esteticamente como bem desejasse.

Mas ele é negro e o corpo negro do homem jovem é marcado por estereótipos e identificados pela polícia, seguranças e pelos brancos como permitidos ser violentado, agredido ou morto. E eu não quero meu filho em nenhuma dessas situações.

Fonte: https://goo.gl/7YAsYU

Talvez para você que não tenha um filho jovem negro isso não faça nenhum sentido. Talvez para você que até tenha um filho negro, mas não tenha origem ou não viva em bairros populares ou periféricos, isso pareça mimimi…Pessoas do meu mais profundo afeto já me disseram que é excesso, que eu não preciso me preocupar porque meu filho é maravilhoso. Ele próprio se chateia com meus excessos de orientação e “monitoramento”. Parece que não confio nele e em quem ele é.

Eu confio. Imensamente. E eu sei que ele é maravilhoso. O mais maravilhoso do mundo. E é verdade. O que parece excesso é zelo rotineiro. É medo das estatísticas. Eu quero que ele vá, que saia, que rode, que ande, aprenda, estude, trabalhe e se divirta. Mas quero ainda mais que ele volte sempre. Inteiro. E é dilascerante saber que eu não posso garantir isso e ter a consciência de que ele e a maioria de seus amigos estarão sempre mais vulneráveis.

INFELIZMENTE o país que a gente vive não garante a segurança de meninos como ele. A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. Não é a violência e insegurança. É o racismo. O racismo mata e ele está estruturalmente entranhado na nossa sociedade.

Esse textão é porque eu tô dilacerada com a morte de Pedro Gonzaga de 19 anos. Eu imagino exatamente a dor que a mãe de Pedro está sentindo porque, certamente, ela já sentiu essa dor muitas vezes ao ver seu filho ser violentado simbólica ou fisicamente, como eu.

A dor da mãe de Pedro é a minha dor. A morte de Pedro é a morte também do meu filho porque cada vez que matam um jovem preto, uma mãe preta vai morrendo mais um pouquinho.

Fonte; https://goo.gl/C3mssc

Não quero ver o mundo de vídeo que está circulando. Não tenho estômago. Não quero ouvir nenhuma defesa ou justificativa para o ato do homicida que estava exercendo o papel de segurança de uma propriedade privada e que, portanto, não tinha NENHUMA licença para deter, prender, muito menos matar. Ainda que Pedro tivesse tentado subtrair sua arma, tentado roubar ou cometido QUALQUER ato no local que o tornasse suspeito, seu assassino não poderia ter sequer agredido-o, quanto mais matado-o sufocado.

Eu só queria abraçar a mãe de Pedro, dizer que sinto muito e que está doendo em mim. Queria dizer a ela que as vidas negras importam. Importam muito. Mesmo que toda sociedade queira continuar nos violentando, silenciando e nos matando, nós e nossos filhos não voltaremos para o tronco, para o anonimato e para a marginalidade que insistem em nos jogar.

A morte de Pedro Gonzaga é um assassinato legitimado pelo racismo que nossa sociedade doente insiste em reforçar.

Vamos continuar buscando a estratégias para nos proteger e continuarmos vivos nesse país de falsa liberdade e igualdade. Vamos efetivamente nos dar as mãos e evitar que mais meninos sejam simplesmente mortos.

Não é possível que continuem nos matando…

A carne mais barata do mercado não pode continuar sendo a carne negra.

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Por que há mulheres que votam em Bolsonaro?

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Um dos grandes feitos de Freud foi entender que aquilo que se manifesta na singularidade de cada sujeito, também pode ser lido no campo da cultura. É nesse sentido que o inconsciente para a psicanálise, não é algo que está nas profundezas da nossa intimidade, o inconsciente está na superfície, pairando sobre nós.

Assim sendo, para compreender nosso caldo social às vésperas da eleição, decidi procurar entender como os possíveis eleitores do Bolsonaro pensam e como justificam o próprio voto. Que propostas ou características do candidato os seduziram? O que esperam do mesmo, caso eleito? Essas foram minhas perguntas básicas e, para respondê-las, me dispus a conversar com alguns de seus potenciais eleitores e os “stalkeei” no Facebook tentando apreender suas ideias. Na verdade, eleitoras; escolhi apenas mulheres.

Fonte: https://bit.ly/2xYXaT4

Desse modo, analisados por minha lupa, as possíveis eleitoras de Bolsonaro que “escutei” são movidas, principalmente, por duas vertentes do discurso do candidato: aquela relacionada à segurança pública: facilitação do porte de arma, redução da maioridade penal e maior rigidez com criminosos. E a que possui apelo moral: dizer não a “ideologia de gênero” (elas realmente acreditam no tal “kit gay”), ou a quaisquer outros modos de exposição da sociedade a temas relacionados à sexualidade.

Ora, podemos extrair desses temas, nada mais do que as duas questões que mais tememos, exatamente pela dificuldade de simbolizá-las, de explicá-las: a morte e o sexo. Morte e sexo são nossos maiores medos, diante deles somos todos desamparados; a psicanálise assim nos ensina. Desse modo, a motivação que leva essas eleitoras em direção à Bolsonaro é, basicamente, medo. Elas se sentem inseguras, desorientadas, fragilizadas e buscam alguém que vá socorrê-las.  E, psicologicamente falando, numa sociedade patriarcal como a nossa, qual é primeiro recurso usado para lidar com o medo e a insegurança? O pai.

Fonte: https://abr.ai/2QgWuQw

Freud dizia que a nostalgia do pai é como uma espécie de cicatriz resultante da fundação da cultura. Em algum momento mítico, foi necessário “matar o pai” para fundar uma sociedade de irmãos.  No entanto, a cicatriz que ficou deste assassinato, sempre nos faz, inconscientemente, mergulhar na nostalgia de um pai que cuide de nós e nos proteja. E em última instância, que nos proteja do sexo e da morte. E vale destacar que, quanto mais adoecida e fragilizada uma sociedade está, mais esta busca por um pai se torna iminente. Diante do desamparo: o pai – nosso recurso mais simples e mais infantil.

Mas, obviamente, que no caso da sociedade brasileira atual, este pai poderia ser evocado de muitos modos. Lula, não por acaso, chamado de “pai dos pobres”, também encarna ou encarnou este pai, tal como Bolsonaro hoje o encarna, para uma determinada parte da população. No entanto, existe uma diferença abissal entre o pai que Lula encarna e o pai que Bolsonaro encarna, vejamos:

Fonte: https://bit.ly/2NQwjTJ

Lula é um pai castrado (tem um dedo amputado, nordestino, de origem humilde), desconstruído, emotivo, um pai que faz a política do diálogo e da negociação. Lula apesar de ser um pai popular, é de longe um pai totalitário ou autoritário, ao contrário. Maquiavel dizia que um líder precisa ser amado ou temido. E se não conseguir ser amado, que seja temido. Lula soube ser amado e isso faz dele, obviamente, um pai mais saudável. Lula é um pai menos macho, mais feminino. Lula é devir-mulher, para usar o termo Deleuzeano.

Bolsonaro, por sua vez, é um pai macho, autoritário, tradicional, que fala o que quer sem medo de ser odiado. Tem fetiche por armas e abomina qualquer atitude ou comportamento feminino. Não por acaso considera a mulher “uma fraquejada” e os homossexuais um erro ser corrigido. Ao contrário de Lula, Bolsonaro precisa exercer sua autoridade pelo medo, para isso, é capaz de ser agressivo com as mulheres e com seus filhos. Reprimir a sexualidade deles, obviamente, também é uma estratégia de poder. Para exercer poder sem amor é preciso incitar medo e controlar o corpo.

Fonte: https://bit.ly/2P2QCKw

Faz algum tempo que nós perdemos o pai que amamos… Perdemos, num primeiro momento, com o fim do seu mandato, e perdemos, num segundo momento, com sua desconstrução simbólica até a prisão, que não conseguiu ser resgatada para disputar as eleições. Além disso, o fracasso político do segundo governo Dilma – contestado logo no dia seguinte do resultado das urnas – seguido do golpe parlamentar, jogou o Brasil num descrédito total em suas instituições, e a uma insegurança política que a sociedade sentiu, obviamente. “Bagunça”, “caos”, “libertinagem”, “confusão”, foram os substantivos mais usados pelas mulheres que justificaram comigo, o voto em Bolsonaro.

E foi assim que nossa política, sustentada nessa versão infantil da necessidade de um pai, e mergulhada no caos político, migrou de um pai amado, para um pai temido, de um pai castrado para um pai castrador. E no consultório de psicanálise, testemunhamos isso a todo tempo com nossos pacientes e suas queixas infantis: melhor um pai a quem eu preciso temer, do que pai nenhum.

Fonte: https://bit.ly/2NTujKH

Todavia, é obvio que sair da infância e da neurose coletiva é aprender a prescindir do pai para seguir adiante. Talvez Bolsonaro seja o último suspiro, a última tentativa de resgatar o pai forte e castrador da sociedade patriarcal. Na iminência da decadência do patriarcado, Bolsonaro é um último espasmo desesperado para resgatar o homem/chefe/ castrador, que mesmo que à custa da saúde mental e da integridade física de mulheres e filhos, promete botar “a casa em ordem”.  Bolsonaro é quase uma caricatura de homem, parece ter chegado do passado em uma máquina do tempo.

Pensando assim, não é por acaso que a força das mulheres tem sido e será fundamental no enfrentamento a Bolsonaro, sobretudo, a todo retrocesso que ele representa.  São as mulheres e os gays com sua castração à mostra que Bolsonaro teme, e com razão. Nós mostramos aquilo que ele não suporta deixar aparecer, daí sua postura sempre arrogante e agressiva, ou usando a autoridade de Deus como se o tivesse a tiracolo. É por isso que, mesmo rasgado e cortado no real do seu corpo, ainda no hospital, ele mostra os dedos em riste, a dizer que a castração não se deu, que ele continua fálico, poderoso e forte.

Fonte: https://bit.ly/2Iq9ctb

Talvez o feminismo nunca tenha sido tão urgente por aqui. Não o feminismo de regras e protocolos de comportamento, mas o feminismo de verdade, que é aquele que diz: “somos todos castrados” – homens e mulheres – portanto, ninguém será adorado ou respeitado simplesmente por erigir um falo, ainda que ele venha travestido de prepotência, promessa de leis mais rígidas ou porte de arma. Afinal, ninguém mais do que as mulheres e os gays sabem o que homems como Bolsonaro podem fazer tendo o poder nas mãos. Não pode haver medo suficiente que nos leve a sustentar um sujeito desses liderando nosso país. E quem sabe nosso voto, dessa vez, amadureça e avance para a escolha de alguém que nos represente, e não de alguém que cuide de nós?

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Amor Líquido em tempos líquidos

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A resenha desenvolvida a seguir, tem como objetivo principal descrever alguns pontos demarcados como preponderantes, bem como trazer reflexão e ao final fazer um apanhado geral, com base no livro Amor Líquido – Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos, de Zygmunt Bauman. Segundo o sociólogo polonês Bauman, vivemos na era da modernidade líquida, que é uma continuidade ou uma fase posterior a chamada modernidade sólida. A modernidade líquida é uma época de fluidez, incerteza e insegurança, onde os indivíduos não possuem mais lugares pré-estabelecidos para se situar no mundo, e com isso devem lutar por si mesmos para se encaixar numa sociedade que está cada vez mais seletiva e propensa a mudar com rapidez e de forma imprevisível.

Fonte: http://zip.net/bmtMZf

No livro Amor Líquido, o autor expõe suas ideias sobre os efeitos da modernidade líquida nas relações humanas, investigando e procurando esclarecer os sentimentos de insegurança inspirados pelo processo de individualização que acabam levando a fragilidade dos vínculos humanos. O relacionamento é o destaque do livro. As relações amorosas, os vínculos familiares e até mesmo os relacionamentos em “redes”, segundo Bauman, estão se tornando cada vez mais flexíveis e volúveis. Nesta obra, Zygmunt Bauman disserta sobre como o amor se tornou apenas mais um objeto de consumo, tal afirmativa é nitidamente explícita no livro, como o próprio autor mesmo define “o consumo está cada vez mais rápido, fácil e descartável”.

Os seres humanos estão dando mais importância a relacionamentos virtuais, que podem ser desmanchados com muita facilidade e a qualquer momento. Essas conexões que são estabelecidas por seres á distância podem ser rompidas muito antes que se comece a detestá-las. Ao contrário dos relacionamentos “reais”, é fácil entrar e sair dos relacionamentos virtuais, atualmente. Nesse contexto, a relação social, pautada em uma responsabilidade mútua entre as partes que se relacionam é trocada por outro tipo de relação que o autor chama de conexão. Ele tira esta palavra das análises de relacionamentos em sites de encontros. Em suas pesquisas ele percebe que a grande vantagem dos sites de encontros está na facilidade de deixar o outro de lado.

O relacionamento se torna frágil, na modernidade líquida, devido à facilidade de não haver responsabilidade de ambas as partes, em não haver pressão entre os parceiros. Ambos ainda podem, sem o menor remorso, trocar seus companheiros por outros melhores, mais “atualizados”. Em uma entrevista realizada a respeito da crescente popularidade do namoro virtual, um jovem de 28 anos apontou a vantagem de se ter uma relação através da internet: “sempre se pode apertar a tecla de deletar”. Tal declaração reforça a ideia da facilidade que se possui do termo ‘conexão’, ou seja, a qualquer momento você pode simplesmente se desconectar e ter a opção de partir, ou não, para outro relacionamento.

Fonte: http://zip.net/bttNPm

Em geral, os relacionamentos estão sendo tratados como mercadorias. Se existe algum defeito, podem ser trocadas por outra, porém, não existe a garantia de que gostem do novo produto. Não gostou? pode trocar, assim ninguém sofre. A sociedade está atualizando sua forma de se relacionar, onde os seres humanos estão cada vez mais fragilizados e desumanos. A confiança no próximo está cada vez mais frágil e próxima de terminar definitivamente.

Bauman fala sobre a dificuldade da humanidade de amar o próximo. No livro é dito que as pessoas só conseguem amar, quando o outro não difere muito do que se acredita que seja o ideal. Mais difícil ainda é amar o próximo do qual não se pode ver evidências de que tenha consideração, e ter certeza de que quando lhe convier não dirá injúrias e difamação pelas costas. Para que aja esse amor, é preciso que mereça de alguma forma. Amar alguém só pelo que ela é não é conveniente.

O amor próprio entra nessa questão, pois para termos, é preciso que sejamos amados primeiro, e é a partir do amor que é oferecido por outros que se constrói o próprio, diferentemente dos animais que não necessariamente necessitam deste, pois não necessitam dele para ensinar que manter-se vivo é a coisa certa a se fazer. O amor próprio pode ser bom, pois nos estimula a passar pelas adversidades da vida, mas também pode ser traiçoeiro quando se acredita que a vida que leva não é o que julga ser merecida.

Amar o próximo inclui aceitá-lo na sua singularidade. Bauman lembra os refugiados que são expulsos de seus países de origem, e sua entrada é recusada em qualquer outro lugar. As pessoas usam justificativas como as de tomadas de emprego para despejarem seus medos e ansiedades em cima destes. O governo fala em flexibilidade de trabalho, mas é o primeiro a condená-los, os confinando em lugares isolados para não os colocar na vida econômica do país.

Os refugiados que não conseguem se transformar em cidadãos são estereotipados, designados a papeis sociais desagradáveis, sendo vistos sempre como um problema e tratados como tal. Depois do ataque do 11 de setembro o preconceito a estes se solidificaram, agora com a justificativa de supostos terroristas. E é assim que as coisas se dão quando não se sabe lidar com as diferenças, nas quais não dão o trabalho de tentar descobrir e entender o “mundo” do outro.

Fonte: http://zip.net/bvtNvX

A tendência deste mundo líquido é sempre desprezar aquele que pensa e age diferente. A cultura, as crenças e os hábitos do outro não cabem neste território, se ele está aqui, tem que seguir as crenças vigentes e abandonar aquelas que um dia foi dele. Apenas uma verdade é absoluta, e não  a do outro que são apenas opiniões. Há uma grande dificuldade de tratar um estranho com humanidade, de ter empatia e entender a situação em que ele se encontra, não apenas falar mais agir de acordo com as palavras.

No livro também fala sobre essa segregação que se faz nas cidades, e ao invés de criar passagens acessíveis e locais de encontro para facilitar a comunicação entre os habitantes, fazem o contrario e dividem, criando a ilusão que precisam defender-se uns dos outros como se fossem adversários. Constroem fortalezas em volta da elite, onde possam apreciar sua independência física e isolamento, longe dos “enclaves extraterritoriais” citado no texto. Portanto segregar fragiliza ainda mais os laços humanos.

Por fim, a partir do sucinto resumo do livro, levando em consideração os pontos mais relevantes a partir do olhar das acadêmicas, e com base em demais artigos lidos para melhor entendimento do tema exposto, é possível adentrar num processo de reflexão mais abrangente e crítico a respeito dessa pós-modernidade denominada por Bauman como Líquida. Possivelmente não seria inusitado que toda essa problemática que o capitalismo trouxe, como por exemplo: a dependência das redes sócias, o consumismo desenfreado, a busca por felicidade insaciável, as propagandas incentivadoras de um corpo ideal, uma vida perfeita, um relacionamento dos sonhos, uma trilha imensa em busca de procurar ser ou ao menos parecer alguém que tanto é colocado como um padrão a seguir.

E isso, é claro causa um efeito devastador e que nem sempre é positivo para a construção e estabilidade emocional de um indivíduo, e que, por conseguinte ocasionaria também impacto na inter-relação dos indivíduos, fomentando também nesse “amor líquido”.A falta/enfraquecimento de autonomia dos indivíduos tem sido causa de grande parte dos conflitos, principalmente ao tocante as relações sociais, pois o indivíduo passa agir de forma impensada, imatura, ou até mesmo influenciada pelas inúmeras contingências ao seu redor, seguindo o que a sociedade coloca como exemplo, atuando diante das situações a partir de um modelo já estereotipado, deixando de lado todo seu contexto histórico e singular.

Fonte: http://zip.net/bntNcw

Redirecionando esse contexto para a psicologia, é possível observar outro lado, que nem sempre esses conflitos vistos como negativos causam dano à vida do indivíduo, pois considera-se que algo só é danoso para determinado indivíduo, quando o mesmo se encontra em estado de sofrimento. Contudo, é de suma importância averiguar sempre o contexto em que as situações ocorrem, para então se respaldar de forma mais plausível e congruente, de forma a compreender a origem de tais comportamentos e assim, poder contribuir ajudando esse indivíduo a encontrar a solução, utilizando-se de estratégias, caso o mesmo esteja sofrendo por essa fluidez líquida.

FICHA TÉCNICA  DO LIVRO

Fonte: http://zip.net/bjtM2P

Título: Amor Líquido
Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Páginas: 192
Ano: 2004

REFERÊNCIAS:

BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Família, sociedade e educação: um ensaio sobre individualismo, amor líquido e cultura pós-moderna. Revista da Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 102, p. 591-610, jan. 2007. ISSN 2318-8235. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67771/70379>. Acesso em: 18 maio de 2017. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2318-8235.v102i0p591-610.

BAUMAN, Z. Amor Líquido: sobre a fragilidade de laços humanos. 1.ed. Zahar,2004.

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Amor Líquido: a empatia corroída

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O que dizer do amor no mundo pós-moderno? A pós-modernidade trouxe consigo a onda do imediatismo, das trocas constantes. Sendo assim, o costume de “concertar” foi substituído pelo de “adquirir um novo”. Vemos isso explicitamente em várias situações do cotidiano, não sendo diferente nas relações “amorosas” atuais. As quais se tornaram tão líquidas que quem troca frequentemente de “amor” são consideradas pessoas habilidosas.

Seguindo essa onda, e com o intuito de aperfeiçoar suas habilidades, as pessoas trocam tão facilmente de relacionamento com o objetivo de adquirir experiência para que possa fazer com que seu próximo relacionamento seja mais emocionante e excitante. De acordo com Bauman (2004, p. 11)

Essa é, contudo, outra ilusão… O conhecimento que se amplia juntamente com a série de eventos amorosos é o conhecimento do “amor” como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados pela consciência a priori de sua própria fragilidade e curta duração”.

É possível ver que tal atitude não é a busca pelo amor em si, pois se assim fosse essa compulsão por experimentar novos amores tornar-se-ia em experiências frustrantes e não em uma forma de prazer.

Segundo Bauman, (2004, p. 12) “o amor é uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável” sendo possível então dizer que, por se tratar de algo tão misterioso e incerto tornou-se líquido, pois o medo exacerbado desse futuro inconstante faz com que as pessoas sejam rasas em seus relacionamentos, com o desejo de não se frustrarem posteriormente.

Outro fator que traz certa aversão a um relacionamento sério e duradouro é o compromisso, que é exigido nesse caso, e a insegurança. Sendo que para manter esse compromisso é necessário abrir mão de várias coisas e ter que adaptar-se a outras, assemelhando-se a um investimento que pode ser cheio de riscos, trazendo incertezas e inseguranças. Estar em um relacionamento traz inúmeras incertezas, o que a solidão por sua vez também traz.

Fonte: https://goo.gl/mcbnm6

Bauman em sua obra compartilha da mesma ideia de Lévi-Strauss em relação ao  sexo, sendo ele o encontro da natureza e da cultura. Contudo o desejo sexual para o autor é incontestavelmente social pois se estende em direção ao outro e necessita dele para não se sentir incompleto. Infelizmente nossa cultura produziu o que o sexólogo Sigusch, chama de ciência sexual, com um olhar frio e distante prometendo tirar o homem sexual de sua miséria, mas apenas o tornando objeto natural de investigação científica.  

Atualmente a medicina compete com o homem no papel de reprodução oferecendo catálogos de doadores de esperma atraentes, para que você reproduza sem necessitar do ato sexual, fazendo assim uma separação do sexo e a reprodução. O autor reflete sobre a influência da sociedade consumista e imediatistas, em que filhos deixaram de representar bons investimentos, e pontes entre a mortalidade e  imortalidade (hereditariedade, legado de uma família) e passaram a ser objetos de consumo emocional. Todo objeto a ser consumido tem seu custo, e o custo de ter filhos  tem se tornado cada vez mais alto na líquida modernidade em que vivemos, tanto o custo monetário quanto o custo emocional. Se dar conta de tal compromisso tem causado diversos conflitos até mesmo patologias.  

Este autor assim como afirma a separação do sexo e a reprodução, concorda com a ideia de Erich Fromm, sobre a separação entre o sexo e o amor. Devido esta separação tem se tornado algo frustrante, pois a união dos dois era a única maneira de ter uma fusão genuína. O sexo nos dias atuais tem ganhado cada vez mais sua independência de outros domínios da vida, o que Bauman chama de sexo puro que seria algo sem restrições, consequências, sendo apenas para prazer e alegria. O que ele critica mostrando através do relato do terapeuta  Volkmar que esta pureza nada mais é do que uma falsa felicidade.

Através da liquida racionalidade moderna, os compromissos duradouros tem sido visto como limitadores e opressores, e a única forma deste posicionamento mudar, seria libertar o sexo da soberania da racionalidade do consumidor. A característica principal do consumismo, é usar e logo em seguida descartar, assim abri espaço para algo mais novo e melhor, isto favorece a rotatividade e a leveza. O sexo puro tem se adaptado a esses padrões de compra, garantindo segurança e libertação das restrições, um sexo seguro.  A relação sexual de curta duração, apenas um episódio, seria livre de contágio mais repleto de incertezas.  

As consequências da líquida modernidade não param por aí, a cultura nos nossos dias tem se tornado algo maleável da qual não se pode escapar, mas o que é herdado biologicamente é apenas uma questão de escolha. Coloca o homem em um dilema de qual identidade sexual irá assumir, e na facilidade de se não se sentir satisfeito pode mudar a qualquer momento, digamos o foco principal está na “alterabilidade”. Esta facilidade trás consigo o sentimento de incompletude e irrealização contínua, pois esta ansiedade não tem fim é como um veneno.  

Bauman faz uma crítica ao uso de celulares e redes sociais que se tornaram constantes, mas tem afastado as pessoas do contato real, do compromisso, tornando as conexões breves e banais. As conexões virtuais estabeleceram um padrão para as outras proximidades, agora a proximidade pessoal, face-a-face não parece ser tão vantajosa quanto a virtual. Pois dispensa as habilidades necessárias que uma proximidade pessoal precisa, e o desuso destas fazem que sejam esquecidas. Até namorar é feito de modo virtual, assim a pessoa está livre de remorsos, perdas e sofrimento, pelo fato de poder terminar escolhendo a opção deletar, é o que o autor coloca como a principal vantagem do namoro virtual.  

Fonte: https://goo.gl/tVHk6k

A economia tem imposto padrões sobre os homens que agora para serem aceitos, e reconhecidos tem a obrigação de entrar no jogo do consumismo. Os vínculos passam a ser simples mercadorias deixando de satisfazer a necessidade de convívio, sendo, é claro, controlados pelo mercado. A solidariedade a amizade são vistas hoje como algo a se combater pela economia, pois os seres humanos são vistos como objeto de consumo.

Freud em ‘O mal-estar na civilização’ traz a ideia de que vivemos em uma civilização onde todos estão preocupados com seus próprios interesses e buscam a todo o momento a sua felicidade pessoal. Esse seria o tipo de razão promovida por nossa civilização, que muito contrasta com o conceito de “amar o próximo como a si mesmo”. Pois para algo ser aceito como preceito fundador de uma civilização, tem que fazer sentido, e segundo ele essa concepção que vem da teologia é algo absurdo. Nós só amamos quem por nós é considerado merecedor, e devido considerarmos que no outro a quem amamos, há tantas semelhanças conosco, que acabamos amando neles o ideal de nós mesmos. Dessa forma o que torna ainda mais difícil amar o outro (que pode ser qualquer pessoa, inclusive um estranho) é não identificar nele um sentimento recíproco, ou a mínima consideração por nós. Essa forma de amar é então contrária a natureza humana, portanto é considerado um ato de fé que segundo Bauman “o ser humano rompe a couraça dos impulsos, ímpetos e predileções ‘naturais’”.

Esse salto de fé é o ato fundador da humanidade. Deparamos-nos agora com uma passagem decisiva do instinto de sobrevivência para a moralidade. O amor-próprio é considerado uma questão de sobrevivência, pois nos permite lutarmos para nos mantermos vivos, a “agarrar a vida”, nos torna resistentes. O conceito de amar o próximo com a si mesmo, “torna a sobrevivência humana diferente daquela de qualquer outra criatura viva” segundo Bauman. Mas para desenvolvermos o amor-próprio precisamos ser amados por outros. E quando há uma recusa desse amor gera em nós uma auto-aversão.

Vivemos em uma sociedade que ao longo de toda a sua história houveram muitos episódios de desumanidade, como quando no texto é citado a morte de meio milhão de crianças em função do bloqueio militar imposto pelos Estados Unidos ao Iraque, regado de discursos desumanos onde se tentou justificar um ato horrendo nas palavras da embaixadora norte-americana Madeleine Albright que disse ao ser interrogada acerca do trágico acontecimento: “achamos que era um preço que valia ser pago”. Não existe se quer humanidade’ nesse discurso.

A forma de relacionamento na contemporaneidade é descrita por Anthony Giddens como “relacionamento puro” baseado pelo interesse do que cada um pode ganhar, na condição de poder ser rompido a qualquer momento e só tem uma continuidade se ambas as partes estiverem proporcionando satisfações suficientes. As relações estão se tornando cada vez mais frágeis, sem confiança, sem um compromisso visando um futuro duradouro.

Relações barradas

A liquidez moderna e seus aspectos xenofóbicos moldam a sociedade a um longo período, porém tal modelagem na atualidade atua como um vulcão em erupção. Totalmente em vigência a discriminação dos povos imigrantes ganha cada vez mais páginas de jornais e noticiários, tais povos tornam-se notícia a todo instante.

Diante toda divulgação da calamidade ocorrente estão os olhos atentos dos espectadores, leitores, internautas que recebem a notícia e em algumas ocasiões demonstram espanto, choque (tais sentimentos que denotam susto estão cada vez mais escassos, atribuição está à continuidade sucessiva dos acontecimentos), porém voltam a sua rotina comum. Quem está tomando o café da manhã no primeiro momento ao abrir a página do jornal experimenta a sensação de engasgo, nó na garganta, mas alguns instantes depois continuam a se deliciar com seu desjejum e aquelas pessoas de histórias impactantes, deprimentes se tornam insignificantes durante o decorrer do dia, são esquecidas, é como se nunca tivessem existido, oferecer ajuda se torna fora de cogitação.

Fonte: https://goo.gl/kQ226P

São pessoas frágeis, desgastadas, violentadas que experimentam o ódio mortal de toda uma nação.  Perambulam buscando alento, a esperança de um dia obter um país, uma cidade, um lar se torna cada vez mais uma utopia. Não possuem uma terra, na busca da fuga do sofrimento se submetem a todo tipo de situação, são renegadas pelos seus, o local de partida já não às querem mais, o local de destino repugnam sua presença. E assim tais povos vagam em uma imensidão de desalento demarcada por lonas e barracas que podem ser desmontadas a todo o momento, os campos de refugiados.

Afirmar que há um sentimento repugnante perante os imigrantes talvez seja um termo forte demais, porém não é.  Cada vez mais a culpa de toda desgraça ocorrida em um continente, território, país recai sobre os refugiados. Ninguém ousa recebê-los, pois seria como receber uma doença contagiosa mortal. O poder público por sua vez desempenha o papel de exclusão com excelência, tirando o máximo de proveito possível, consegue eleição, reeleição com o discurso xenofóbico de ataque. “ O poder de excluir não seria um marco da soberania se o poder não tivesse primeiro se unido ao território.” (BAUMAN, 2004). Os governantes desviam o foco de toda calamidade existente em seu próprio governo, atribuindo a culpa de todos os males aos recém-chegados.

E se todo esse investimento contra a entrada e permanência fosse revestido em políticas de ajuda, se todo recurso financeiro direcionado para construção do muro entre fronteiras, por exemplo, fosse remanejado para construção dessa população sem perspectiva. Talvez assim não só o país seria grande novamente, o ser humano teria a chance de entrar em estado de evolução.

Vivencia-se atualmente um estado de urgência, onde a chama que busca por mudanças queima ardentemente. A falta de humanidade é uma problemática real vivenciada cotidianamente. A onda do individualismo, a globalização, acabou corroendo a empatia pelo próximo, evidenciando assim que a fase atual é uma das mais críticas e lamentáveis das fases já vividas no decorrer do trajeto da vida humana.

REFERÊNCIA:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

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